XV Seminário dos Bispos referenciais para o laicato e as CEBs

2º dia, Iluminar a realidade: Encantar a Política à luz do Magistério da Igreja.

Assim foi a acolhida, no estilo de sentir-se em casa, onde cada um que adentrava na sala, acolhia e partilhava a alegria do encontro, de maneira singular e carismática, até relembrando momentos vivenciados no primeiro dia do Seminário com descontração e entusiasmo.

Para oração inicial foi proposto a espiritualidade do Ofício Divino das Comunidades conduzida por Vanda – CNLB, no momento da Recordação da Vida foram citadas: a 40ª Assembleia Geral dos Leigos, a Romaria dos Mártires na Jornada ampliada das CEBs, a criação de novas comissões Justiça e Paz, a mais nova comissão Regional Nordeste 4 (Piauí), as novas Escolas de Fé e Política com a Escola Ir. Dorothy Stang de Campos- RJ. As falas orantes trouxeram inspirações para que reconheçamos que não é possível uma sociedade justa e fraterna, se não houver a participação na política e da política, que possamos encantar-nos pelo bem viver, pelo bem comum, nessa fraternidade e nessa entrega aos mais empobrecidos. E qual o problema nosso, nesta caminhada? Falta-nos organizar as pequenas comunidades, formar as nossas lideranças, parafraseando Frei Beto.

Iluminar para encantar-se

Dom Geovane deu boas-vindas, trazendo a análise de que “eu preciso respeitar o outro, a liberdade e reconhecer que posso estar errado em minha leitura, devemos vivenciar o ensino social da Igreja”.

Sônia: enfatizou que “o caderno Encantar a Política não é só um caderno para eleições 2022, mas um Projeto pensado em 2020, com quatro Comissões e Organismos”. E neste processo, recordou a fala de Dom Roberto sobre as Sementes Crioulas, ao afirmar que “o Projeto Encantar a Política é uma semente crioula, quer ter a vasta gama, e nunca vende suas sementes, mas troca as sementes”, à luz da Doutrina Social da Igreja e do que o Papa Francisco nos inspira, devemos buscar ser esse espaço de “troca de sementes”. Assim fez a apresentação do Assessor.

Pedro iniciou sua fala com um questionamento: porque é preciso “encantar a política”? Porque a Igreja Católica perdeu essa voz? Assim discorre sua análise, que não temos dentro da história republicana “uma política boa”, trazendo referencias do final da Guerra Fria, a vitória do mundo capitalista, neoliberal, globalizado, onde a economia vai se tornar o mundo, aludindo o pensamento a partir dos anos 90 para gestores administradores, e fazer o mínimo de administração, isso não é tomar “decisão política”.

A mudança cultural que visa o individualismo, ou seja, o princípio de que a sociedade não existe, existe o individuo e sua família. Assim, na prática, significa comprar uma liberdade individual, o estado surge como o garantidor dos direitos individuais, por exemplo: a vacina, “eu não vou vacinar”. O Neoliberalismo tem a pauta moral, assim as igrejas cristãs foram facilmente aderindo, como, por exemplo: “salva a tua alma”, ou seja, cada um com ideia individualista, esquecendo que o Reino é para todos. Na perspectiva de como são feitas as escolhas dos representantes, enfatiza-se que são através de “Propagandas Eleitorais, os Marqueteiros, que surgem para lapidar a escolha popular”.

Diante de tudo isso, surge o que chamou de voz profética, Papa Francisco, vem reforçar que somos todos irmãos e irmãs, a revolução da solidariedade (ser solidário entre nós), incluindo a irmã Terra, estamos todos no mesmo barco. Encantar a Política é uma proposta de mudança cultural, quando o Papa nos chama a atenção para universalização do amor cristão, trazendo a parábola do Samaritano: quem é meu próximo? Aquele que precisa de nós, todos que estão com a vida ameaçada, isso é Ensino Social, buscar o essencial e ir adaptando.

Posso ajudar uma pessoa a atravessar um rio, mas para que todos possam atravessar é necessário um ponte. E, para construir pontes é preciso da política, as grandes causas do Evangelho são justiça e paz, e onde houverem essas causas, haverá o sinal do Reino de Deus, lembra então o Grito pela Terra, o cuidar da Casa Comum. Além disso, ressalta que o momento político, o imperativo da política é unir o País, precisamos da democracia, de maneira participativa, e tendo os critérios éticos, e como fazer? Fazendo ecoar e deixar repercutir as falas de Francisco.

Processo de escuta e falas

Sérgio refletiu que mesmo a ciência, não é uniforme na identificação da realidade, deve ter o cuidado para não desvaliar os valores; Aroldo Braga perguntou: como encantar-nos pela política, com esse grande esforço para desencantar o cidadão pela política? Denilson Mariano, recordando que na Campanha da Fraternidade de 1996, onde o período estava mais tranquilo, diante dessa polarização, da violência em marcha, como podemos ajudar nossas comunidades neste momento eleitoral? Maria Rosa refletiu sobre a importância da vida em sua integralidade: educação e saúde, com a urgência da holística ao bem comum, e o desafio lançado em 2020, saúde para todos, onde as Políticas Públicas são fundamentais para garantir esses direitos; Marilza Shuína lembrou a bênção do Papa Francisco para a alta cúpula da Igreja em consonância a fala de Dom Helder Câmara “Quando dou comida aos pobres me chamam se santo. Quando pergunto por quê eles são pobres, me chamam de comunista”; Iarley ressaltou que o grande desafio é o testemunho cristão, estamos perdendo a capacidade de escutar as pessoas, e perceber até mesmo os que pensam diferente de nós; Pe. Ernanne Pinheiro indagou sobre qual o papel das religiões nesse contexto novo da política. Antônio Félix citou o diálogo entre dois vendedores ambulantes, discutindo sobre a corrupção das instancias que deveriam dar o exemplo, então como encantar a grande massa? Dom Roberto trouxe o aspecto religioso, a idolatria ao dinheiro, teologia da prosperidade; Dom Dirceu manifestou que pior que a polarização é a fragmentação. Lembrou os discursos binários e ressaltou o caminho que a CNBB vem seguindo no fortalecimento das instituições de estado e sociedade civil e de denunciar certas pautas sociais que não combinam com o Evangelho; Cidinha Longo,pergunta se está sendo sugerido que se siga a esquerda?

Diante das falas, Pedro refletiu que a ideia é levar a tona os diversos questionamentos, que nossa espiritualidade é terrestre, Madre Tereza atendeu aos pobres, uma espiritualidade do cuidado, devemos encantar-nos com a espiritualidade política, o que espanta é a falta de conhecimento, o medo, por exemplo, do “comunismo” que acabou há 30 anos, quando acabou a revolução soviética. O que sobrou dele (Cuba e Coreia do Norte) não ameaça ninguém. Precisamos que nossas igrejas sejam espaços de diálogo, citando a referência do livro de Josué, que é texto base do mês da Bíblia, sobre saber trabalhar para sair de uma linguagem individualista para, por exemplo uma linguagem de reforma agrária, onde se diga de todos e para todos. Chama para a necessidade de se posicionar, estar ao lado dos mais fracos, ao lado de Jesus, ao lado que perdeu para evitar maiores perdas. Para que haja um pouco mais de paz de justiça de fraternidade, saúde e educação para todos.

Caminhar juntos para Encantar a Política

Cada Organismo apresentou como estão caminhando, na perspectiva do Encantar a Política.

Patrícia Cabral, do CNLB, falou sobre os materiais, o hot site e seu amplo conteúdo, construído em coletividade e unidade.

Sérgio, do CARIS, destacou a Formação que visa três públicos: Academia, Líderes e Vocacionados, Populares: sobre a conscientização do voto… Destacou a parceria com a Canção Nova que proporcionou encontro com Juízes e Promotores; diálogo sobre os tipos de Servidor Público: Eleito, Convidado e Concursado.

Salete, da Ampliada Nacional das CEBs, enfatizou os quatros pilares que estão alicerçados: Palavra de Deus; Oração e vivencia em Comunidade; Eucaristia; Compromisso Social; destacando que estão inseridos na 6ª Semana Social Brasileira, Grito dos Excluídos, Romaria do(a) Trabalhador(a), nos Conselhos de Direitos.

Pe. Paulo Adolfo, do CEFEP, destacou as Lives e Encontros virtuais e presenciais com as temáticas que o caderno aponta; o envio de exemplares para as escolas; confecção dos cards etc. Explanou que o papel da Igreja não é apontar partido, mas formar para a visão crítica e iluminar a consciência, destacando três pontos do Encantar a Política: o caderno vai além do momento eleitoral, ele aponta uma política maior; o desafio é dar continuidade, continuar o Projeto pensando nas Eleições em 2024 e o acompanhamento dos que foram eleitos ou não; o curso de planejamento eleitoral, juntamente com a PUC.

Sônia retomou a questão da política partidária e a importância do apoio e incentivo ao laicato na política, os 60 mil exemplares do caderno Encantar a Política e o hot site, enfatizou: “que maravilha perceber e ver o caminho que estamos percorrendo”.

Dom Geovane: destacou alguns pontos: primeiro a importância das parcerias, a prova disso é a diversidade de iniciativas em âmbito nacional, segundo; o texto se insere na linha dos Documentos e a realidade da Igreja e seu posicionamento; terceiro, fato de o projeto ser construído por várias mãos, agradecendo aqueles e aquelas que estão com as mãos mais próximas, diretamente.

Após os avisos a oração foi conduzida por Dom Gabriel, que refletiu sobre colocar as mãos à obra, o grande louvor a Deus é o ser humano vivo, nossa paixão deve ser a paixão de Jesus por esse mundo. Nosso compromisso nos ajude a conhecer a verdade não das coisas, mas das pessoas, finalizando com a oração final do Papa Francisco na Fratelli Tutti.

Por: Érica Maria de Araújo Carvalho – CNLB – RN1