“Pois eu estava com fome, e me destes de comer; eu estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em sua casa; estava nu e me vestistes; doente e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me.”
Mateus 25, 35-36
“(…) a opção pelos pobres “envolve tanto à cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos” (EG, 188); passa não só pelos gestos pessoais e comunitários de solidariedade, mas também pela luta pela transformação das estruturas da sociedade.”
Prof. pe. Francisco de Aquino Júnior
Pastoral do Povo da Rua: uma pastoral a serviço da vida!
A Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, criada em 1987, acontece em articulação com o Vicariato episcopal para ação social, política e ambiental – VEASPAM e com a Pastoral Nacional do Povo da Rua.
Sua missão? Ser presença libertadora e solidária junto à população em situação de rua e catadores de material reciclável, reconhecer os sinais de Deus presentes em sua história e desenvolver ações que transformem a situação de exclusão em projeto de vida para todos.
Em sua prática diária esta pastoral é comprometida com a educação para a cidadania, com a luta por direitos, contribuindo na inclusão social, promoção e respeito à dignidade de toda pessoa humana e na transformação da sociedade.
Rompendo com práticas assistencialistas e apostando no protagonismo, organização e promoção das pessoas, ao longo das últimas três décadas, a equipe da Pastoral de Rua vem incentivando e apoiando a mobilização de diferentes grupos para que conquistem seu espaço e lugar na sociedade. A organização dos catadores de material reciclável e da população em situação de rua, em torno da luta por direitos é uma das suas principais contribuições. Além disso, procura contribuir diretamente com a proposição, conquista e implementação de serviços públicos para que se tornem referência para a concretização de políticas públicas direcionadas para esse público em todo o nosso país.
O ideal humanitário de respeito às diferenças, de promoção da vida ameaçada e do protagonismo dos sujeitos de direitos orientam a ação cotidiana na relação de compromisso com a luta e organização desta população. Através de uma mística encarnada e profética, comprometida com a de defesa e promoção da vida. Enquanto uma Pastoral Social atua em articulação com a Pastoral Nacional do Povo da Rua e tem sua metodologia fundamentada nas seguintes dimensões:
- Humana: Reconhecimento e respeito à dignidade;
- Social: Metodologia que resgata o protagonismo, defende direitos constitucionais e promove projetos de inclusão;
- Política: Denuncia os mecanismos de exclusão e morte e procura participar ativamente na proposição e na elaboração de políticas públicas;
- Eclesial: Interlocução e sensibilização da Igreja com a realidade vivida nas ruas e promoção de espaço para vivência da mística cristã.
Nossos princípios estruturantes:
- Centralidade do reinado de Deus;
- Humanização da vida e das relações;
- Protagonismo do povo da rua e dos catadores de material reciclável;
- Participação na construção de projeto de sociedade: Mobilização e organização Social;
- Ecumenismo e diálogo inter-religioso;
- Construção de uma nova sociedade – civilização do bem viver e bem conviver.
Nossas diretrizes decisivas:
- Criar comunidades de fé e vida entre os catadores e a população em situação de rua;
- Fortalecer a organização e participação dos catadores e da população em situação de rua em vista à transformação social;
- Contribuir para elaboração e implementação de políticas públicas e exercer o controle social;
- Articular e sensibilizar a sociedade e a Igreja para a garantia dos direitos do povo da rua;
- Fortalecer a organicidade, identidade e a comunicação social da pastoral.
A Pastoral de Rua realiza suas atividades buscando promover o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida e a superação da situação de vida nas ruas. O dinamismo de suas ações é desenvolvido a partir de metodologia participativa que torna possível reconstruir laços humanos e sociais e estruturar a luta efetiva por direitos sociais.
Atua na promoção e defesa de diretos por meio de diversas linhas de ação:
- Humanização, cuidado e transformação: a partir da acolhida, atendimento, rodas de conversas, oficinas, atividades diversas na Comunidade Amigos de Rua e realização de encaminhamentos sociais. Promove também formação, cultura do cuidado e vivência da mística e espiritualidade com o Povo da rua e com os agentes de pastoral;
- Ser presença no habitat e defesa de direitos humanos: visitas sistemáticas junto à população em situação de rua com escuta atenta e amiga, rodas de conversas, diagnóstico participativo, encaminhamentos sociais, apoio na defesa e garantia de direitos;
- Apoio à organização e luta por moradia da população em situação de rua: por meio de apoio à “Associação de Luta por Moradia Para Todos”, à “Ocupação Anita Santos”, à “Ocupação Ir. Fortunata”, à articulação e mobilização política e, de modo especial, o acompanhamento de pessoas em processo de saída das ruas;
- Ações articuladas: com universidades, colégios, ONG’s e da própria sociedade em geral, seja por meio da implementação de projetos, como os organizados pela extensão da PUC Minas, da Faculdade Arnaldo, mas também em parcerias com entidades e órgãos diversos de defesa de direitos, tais como a “Rede socioassistencial e políticas diversas”;
- Mobilização social e incidência em espaços de controle social: apoio ao “Movimento Nacional do Povo da Rura – MNPR”, organização e participação no “Fórum Municipal e População de Rua”, participação no “Comitê Municipal de Assessoramento e Monitoramento da Política para as pessoas em situação de rua”, capacitação e apoio à pessoas em situação de rua para sua participação em conselhos de direitos, conferências, audiências, entre outros;
- Apoio às iniciativas de geração de trabalho e renda: trabalho articulado com a Pastoral Nacional do Povo da Rua para o desenvolvimento do “Programa Empreendendo Vidas” que acontece a partir de grupos de Economia Solidária: Cozinheiros de Rua, plantação, mãos seletas, operações e logística, industrianato;
- Articulação pastoral/ eclesial: Com o Vicariato episcopal social, político e ambiental – Veaspam, da Arquidiocese de Belo Horizonte, e a Pastoral Nacional do Povo da Rua, concretizamos presença e apoio em grupos, comunidades, paróquias, foranias, regiões que atuam junto à pessoas em situação de rua.
Alguns resultados que celebramos:
- Humanização da vida e das relações;
- Protagonismo, aumento da autoestima e respeito pela própria vida e a do outro;
- Criação de vínculos e identidades;
- Transformação social pela conquista e garantia de direitos;
- Conquista da cidadania;
- Articulação e mobilização.
Mapa da presença da Igreja junto da população em situação de rua na arquidiocese de BH:
Atuação da Pastoral de Rua durante a pandemia:
Com o fechamento da cidade e de diversos serviços de atendimento à população em situação de rua, a equipe da Pastoral manteve atendimento diário de forma articulada com a equipe da Acolhida Solidária D. Luciano de Almeida, na sede do Vicariato episcopal social, político e ambiental. Ao longo desse período, o número de pessoas que procurou por atendimento aumentou significativamente.
Em vista de assegurar os cuidados necessários, orientações e normas sanitárias, inicialmente o acesso acontecia em pequenos grupos, mediante higienização das mãos e manutenção de distanciamento entre as pessoas, com entrega diária de lanche. Com o aumento dos casos da COVID-19 e a dificuldade de manter o distanciamento entre os atendidos definimos por suspender os atendimentos na comunidade e passamos a fazer de forma individual no espaço da Pastoral com escuta e atendimento de demandas diversas vinculadas à solicitação de informação à cerca do benefício emergencial, documentação, entre outros.
Desde o início da pandemia, a Pastoral, em conjunto com a Pastoral Nacional do Povo da Rua e Vicariato Episcopal para Ação Social, Ambiental e Político iniciou uma nova frente de ação por meio da articulação e mobilização de órgãos de Defesa de direitos, serviços públicos e entidades filantrópicas no intuito de construir um plano de contingenciamento voltado para o atendimento à população em situação de Rua de Belo Horizonte.
Entre as quais destacamos:
- Preparação e entregar de 4.000 refeições e lanche no primeiro final de semana de fechamento do comércio e serviços diversos (21 e 22/04/2020);
- Criação de uma central para recebimento de doações na quadra do colégio Santo Antônio com recebimento e entrega de kits lanche, kits higiene, copos de água, cestas básicas e gêneros alimentícios diversos;
- Articulação política junto ao legislativo, executivo, Ministério Público, entre outros;
- Articulação de ais de 50 grupos de doação de alimentação com entrega de 115.818 marmitex.
As ações realizadas pela sociedade civil ganharam visibilidade e reconhecimento por parte de alguns grupos da iniciativa privada, como o Instituto Unibanco que em maio de 2020 iniciou contato com a equipe da Pastoral no intuito de viabilizar apoio financeiro, para fortalecer e ampliar ações desenvolvidas pela rede já articulada. Além de doações diversas de gêneros alimentícios, produtos de higiene, máscaras, água realizadas por pessoas diversas, setores da iniciativa privada e grupos diversos. O que culminou na criação de uma Frente Humanitária que ampliou e qualificou significativamente a capacidade de atendimento.
O escopo aprovado para implementação da Frente humanitária, em consonância com articulação política diversas possibilitou a estruturação e montagem de espaço físico na Serraria Souza Pinto, onde passou a funcionar o Canto da Rua Emergencial com os seguintes eixos de atendimento:
- Direito à dignidade e saúde: Avaliação básica de saúde, orientações para cuidados e prevenção; distribuição de kits lanche na Serraria Souza Pinto; guarda volumes; banho; sanitários; lavagem e troca de roupas;
- Direito civil à assistência: Escuta e atendimento social; articulação e encaminhamento para rede sócio assistencial; atendimento a violações de direitos; apoio para acesso ao auxílio emergencial e aquisição de documentação;
- Direito à proteção, segurança e moradia: Distribuição kits inverno; hospedagem e acompanhamento a grupos de risco da população em situação de rua; distribuição de café da manhã – sábados e domingos em diversas regionais;
- Direito ao trabalho e renda: Inclusão de trabalhadores com trajetória de rua na estrutura operacional da ação; promoção de grupos de economia solidária na estruturação; fomento do trabalho e renda nas hospedagens;
- Direito à informação: Registro e publicização das ações; geração de conteúdos sobre direitos da população em situação de rua; geração de conteúdos transversais às ações principais; visibilidade e interlocução institucional e gestão de chancelaria.
O atendimento no espaço da Serraria Souza Pinto iniciou em 13/06/20 com financiamento do Instituto Unibanco durante 3 meses e, posteriormente, assumido por mais três meses com aporte financeiro por parte da Secretaria Municipal de Assistência Social. O que foi possível, graças à visibilidade e importância que o espaço com todos os serviços ofertados passou a fazer no cotidiano da população em situação de rua.
Os números de atendimentos nos diversos serviços até a primeira quinzena de novembro são bastante expressivos.
- Números de acessos na Serraria: 56.596;
- Atendimento sócioassistencial: 8.620;
- Atendimento de saúde: 634;
- Ministério Público: 344;
- Defensoria pública: 430;
- Centro de Defesa: 26;
- Recivil: 383;
- Distribuição de roupas: 8.961;
- Lavanderia: 1.852;
- Banhos e sanitários: 26.1280;
- Atendimento de Pets: 1.583,
- Kit lanche: 79.400;
- Distribuição de copos de água: 570.100;
- Atendimento OdontoSesc: 824;
- Entrega de 31.200 cafés da manhã nas diversas regionais da cidades;
- Entrega de 1.500 kits invernos.
- Como forma de assegurar local de proteção e cuidado, foram hospedadas 162 pessoas idosas e doentes em situação de rua.
Nesse tempo tudo foi e tem sido feito com uma intensidade inimaginável sem a força do Deus da da vida a nos impulsionar. Assim como o povo da rua, continuamos dispostas/os a prosseguirmos no caminho “(…)ameaçado de esperança, por mais que essa esperança possa ser ilutada.” Caminhamos na teimosia dessa teia do encontro com o outro, que nos interpela como “Militantes da vida, pois vimos, viemos, sentimos, compadecemos e nos comprometemos com a luta e a labuta do povo da rua por uma vida digna com direitos assegurados”.
Para melhor conhecer o nosso trabalho de evangelização
Os interessados em acompanhar as atividades e participar da Pastoral da Rua pode encontrar mais informações da pastoral nos seguintes endereços eletrônicos:
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Fones: (31) 3428-8366 / 3428-8002 / 988193052
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Sandra Regina de Sousa
Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte
Claudenice Rodrigues
Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte
Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães
Membro da equipe do Observatório da Evangelização