E se a ferida é na alma
E o sofrimento é oceânico
E o coração não encontra consolo?
Encharcadas por lágrimas de dor
Há tantas famílias enlutadas
Irmanados no sangue derramado
Há tantos corpos feridos ou sem vida
Amontoados em gigantescas periferias
Carentes das políticas públicas básicas
Estamos embarcados num país à deriva.
No entanto, não desistimos das lutas
Nossa utopia esperançada se agiganta
Nosso sonho teimoso renasce no horizonte
Em defesa inquebrantável da dignidade da vida
Das novas senzalas e porões das cidades
Os tambores não param de tocar
E os pobres não se cansam de dançar
Do mais profundo e de forma lancinante
Brota nas gargantas um grito lamento
Que pela indignação se faz Canto Novo
Canto de amor subversivo e compartilhado
Que renova as fontes e inspira para a páscoa
Páscoa das lágrimas e do luto às lutas decisivas,
Ainda em plena noite escura seguimos em travessia
E gritamos juntos, em coro, com coragem de libertados:
– “Ninguém solta a mão de ninguém!”
O que está em jogo, nessa grande peleja,
É o que dá sentido e gosto de vinho ao nosso viver
Tratas-e de um desejo forte de ver
Aquele “outro amanhã possível” alvorecer.
O amor continuará, acreditem
Ainda que frágil como a chama ao vento
A animar por dentro nossa coletiva construção
Venceremos a empáfia dos poderosos desse mundo
E ainda que continuem a exibir o poder de suas armas
A intimidar ampliando o arrocho dos já crucificados
A derramar o sangue inocente dos profetas e profetisas
A difamar com fakenews de ódio os puros de coração
E os que ousam andar de mãos dadas na contramão
Como Jesus crucificado continuaremos, acreditem
Por fidelidade de Deus, a ser ressuscitados
Nas lutas históricas infindas dos pobres e excluídos
Por justiça, comida no prato e vacina para todos
Por educação e terra-teto-trabalho…
Queremos compartilhar e comer juntos
O pão que sacia da libertação.
Poesia inspirada no poema Canto Novo de Paulo Gabriel: GABRIEL, Paulo. Poemas para iluminar a noite. Belo Horizonte: Mazza, 2020, p. 29.