sociedade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Apr 2024 18:39:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 sociedade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Que mundo queremos? Ensinamentos de Francisco. https://observatoriodaevangelizacao.com/qual-mundo-queremos-ensinamentos-de-francisco/ Sat, 05 Nov 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46399 [Leia mais...]]]> Estamos vivenciando um momento crucial no Ocidente. Apesar de tentativas totalitárias e ditatoriais do século XX, a democracia prevaleceu. Nesse período, diversos direitos e avanços sociais foram notados (direitos fundamentais, como a liberdade). No entanto, diante de um mundo cada vez mais complexo, seja pelas trocas incessantes de informações, pelas desinformações e pelas conexões, onde as emoções e os afetos definem ações e pensamentos, há uma sensação de que os problemas não estão resolvidos pelas vias do diálogo e do jogo democrático e que, mesmo diante de atos que suprimem a liberdade, seria válido um caminho mais “duro”, repressor e violento. Nada mais equivocado!

O fato é que, toda vez que a humanidade busca soluções fáceis para resolver problemas complexos, cria-se um falso, provisório e catastrófico caminho (lembremos do nazismo). Com a democracia criamos ambientes favoráveis ao desenvolvimento, à inclusão, à diversidade, à justiça. A partir desses valores, podemos construir vias mais acessíveis e promissoras de inovação, tanto em seus vieses científicos, quanto tecnológicos e culturais. Para criar é preciso liberdade e equidade, justa oportunidade.

Qual mundo queremos? Até a primeira metade do século XX, o mundo pensava que poderia resolver todos os seus problemas pelo caminho do progresso. Era, na verdade, um mito do progresso. Acreditava-se que, por exemplo, poderiam ser ignorados os recursos naturais e que eles seriam eternos. A natureza existiria para nós e estaria sempre ao nosso dispor. Poderíamos ter uma atitude predatória! Hoje, devido à racionalidade e ao avanço democrático da segunda metade do século XX, chegamos ao pensamento ecológico e à economia verde. O Brasil pode voltar a ser uma referência nesse quesito e ainda atrair investimentos gigantescos em “green economy” (agora que os EUA estão nesse bom caminho). Parceiros comerciais como EUA e União Europeia não devem ser negligenciados. Em outro contexto europeu, normalmente de inovação, qualidade e vanguarda, na Suíça, por exemplo, até 2030 todos os carros serão elétricos e a matriz energética será majoritariamente limpa. Além de uma melhor qualidade de vida para a população, uma economia verde permite redução de custos e, com isso, maior possibilidade de investimento de maneira equilibrada.

O Papa Francisco, desde a Encíclica de 2015, Laudato Sì, enfatiza a importância de uma virada ecológica contemporânea, em direção a uma Ecologia Integral. Em vídeo de lançamento da Plataforma de Ação Laudato Sì, em maio de 2021, o pontífice afirmou:

“Que mundo queremos deixar às nossas crianças e aos nossos jovens? O nosso egoísmo, a nossa indiferença e os nossos estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos nossos jovens! Assim, renovo o meu apelo: cuidemos da nossa mãe Terra, superemos a tentação do egoísmo que nos faz predadores de recursos, cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade finalmente ecossustentável: temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto” (FRANCISCO, 2021).

“Dividir o pão”, aumentar o acesso de classes desfavorecidas foi o grande segredo da criação de sociedade justa e desenvolvida pelos países europeus hoje avançados. Sobre esse aspecto, nos explica o sociólogo e doutor pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), Jessé Souza: “Nosso passado intocado até hoje, precisamente por seu esquecimento, é o do escravismo. Do escravismo nós herdamos o desprezo e o ódio covarde pelas classes populares, que tornaram impossível uma sociedade minimamente igualitária como a europeia” (Souza, Jesse. A Elite do atraso, p. 151).

Ora, esse ódio e desprezo pelas classes populares, negros e pessoas das periferias é presenciado no cotidiano, por vezes de forma sutil (como em falas “eles querem tomar nosso lugar com as cotas”) ou mais explicitamente como foi o episódio em que o humorista Eddy Jr sofreu nas últimas semanas. Qual seu crime? Nenhum, apenas o ódio foi alimentado pelo fato de ser um homem negro, proveniente da periferia, que estava agora em um condomínio de classe média alta, fazendo sucesso nas mídias sociais.

Todo processo de escravidão impõe humilhação e desconstrução de humanidade do escravo. Como estaria nesse cenário sua autoestima? Muitos não teriam mesmo mais vontade de viver. O ex-escravo é jogado dentro de uma ordem social competitiva e para qual ele não havia sido preparado. Esse processo é verificado sobretudo em São Paulo, com a vinda dos imigrantes. Ora, em décadas de negligência e ausência de estímulo escolar, como podemos dizer que existe justiça em nossa sociedade? E depois queremos resolver o problema da criminalidade reduzindo a maioridade penal. Nada mais hipócrita!

Precisamos construir uma sociedade mais justa e igualitária, somente assim poderemos resolver nossos problemas. Não podemos esquecer nossa história horrenda e nosso passado macabro. Sim, existiu escravidão e temos as suas consequências aí. É preciso analisar a consequência de nossas ideias. É urgente e central! Nunca encontrei um alemão que dissesse, por exemplo, que o nazismo foi um fato irrelevante na história de seu país.

Mais uma vez, Papa Francisco afirma, em sua Encíclica Fratelli Tutti, a importância do exercício da memória como caminho de libertação:

“Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos” (FT, 13).

Cada vez mais o mundo estará afetado pela tecnologia. O cenário que vemos hoje de ódio, violência, intolerância, por um lado, e ansiedade, depressão e suicídio, por outro, será ainda mais intenso, infelizmente. É responsável, considerando isso, armar a população? Não tenho dúvidas, como psicanalista, que teríamos um aumento do número de suicídios, pois tirar a vida não é fácil, é trágico, mas quando a pessoa encontra o meio e a ideação, é mais provável.

Queremos um mundo onde as pessoas que pensam e vivem de forma diferente de nós em sua sexualidade, condição financeira, gênero sejam vítimas de preconceitos que produzem violência (inclusive física) por causa de nossas ideias homofóbicas, racistas, machistas?

A verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade. Hoje, porém, tudo se pode produzir, dissimular, modificar. Isto faz com que o encontro direto com as limitações da realidade se torne insuportável. Em consequência, implementa-se um mecanismo de «seleção», criando-se o hábito de separar imediatamente o que gosto daquilo que não gosto, as coisas atraentes das desagradáveis. A mesma lógica preside à escolha das pessoas com quem se decide partilhar o mundo. Assim, as pessoas ou situações que feriam a nossa sensibilidade ou nos causavam aversão, hoje são simplesmente eliminadas nas redes virtuais, construindo um círculo virtual que nos isola do mundo em que vivemos (FT, 47).

É católico leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

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Juventude, busca por sentido e espiritualidade https://observatoriodaevangelizacao.com/juventude-busca-por-sentido-e-espiritualidade/ Mon, 04 Jul 2022 19:39:05 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45338 [Leia mais...]]]> A busca por sentido

A juventude contemporânea vive uma insistente angústia, originada pelo fantasma da ausência de sentido; uma angústia fundante, de ser ou não ser, existir significativamente no mundo ou não. Nesse cenário, o jovem busca encontrar sentidos e, para isso, vive em “estado de experimentação”, tentando encontrá-los na incessante experiência, que em última instância, se mostra como uma “experimentação de si mesmo”. Esse panorama atual significa para a juventude ainda mais fluidez, o que pode ser bom, por um lado, pois está livre de fundamentos arcaicos, ilusórios e, muitas vezes, violentos. No entanto, porta um profundo vazio. Está o jovem fadado a viver um constante “abismo”? De fato, há um índice crescente de depressão entre jovens, bem como automutilação e suicídio. A religião poderá “salvá-los”?

Parece que as religiões não são mais fontes de construção de sentido real (mesmo que, em muitas situações, porta ideais longínquos), sobretudo pensada como autoridade e obediência. Não vivemos mais uma sociedade vertical, mas horizontal, as relações são construídas e não impostas. Por outro lado, há um medo de se sentir desconectado neste mundo altamente conectado; “o medo de morrer cedo e de maneira violenta. É nesse tempo de incerteza que boa parcela da juventude amplia seu repertório das trajetórias religiosas possíveis” (FERNANDES, 2018).

Fica uma questão: a religião então serviria como fuga de vazios provenientes do medo? Dessa maneira, estaria verdadeiramente preenchendo sua função de “religare” e libertação?

Jovens que viveram um “narcisismo negativo”

O investimento narcísico do jovem de hoje foi pequeno. Os pais foram ausentes (pelo menos uma grande parcela), delegaram, em grande medida, à escola a educação e o afeto. O ambiente escolar passou a ser o lugar de formação da personalidade e da relação edípica (pai-mãe-bebê). O sentimento de ausência, no entanto, é existente. Um vazio impera. Um aspecto importante na relação entre pais e filhos é o de responsabilidade. O filho necessita perceber, com clareza, que alguém se responsabiliza por ele. Quem é essa figura hoje? A escola? Os pais? Os amigos virtuais? As Igrejas?

A família não é mais o lugar do afeto inicial. Vivemos, na sociedade atual, uma desconstrução da família nuclear, de um modelo de patriarcado (esse último aspecto é libertador!). Criamos instituições para fazer o trabalho do afeto infantil, aquilo que o sociólogo Pierre Bourdieu chama de “socialização primária”. A socialização secundária, que seria justamente função das instituições, passou a vir antes. A escola substituiu a família. Há um grande dilema aqui, pois a produção subjetividade veio como “desinvestimento da criança”. Presenciamos uma espécie de “narcisismo negativo” (BIRMAN, 2021). Se a modernidade foi caracterizada por excesso de narcisismo, hoje vivemos em uma sociedade narcísica justamente porque fomos pouco investidos. Por isso, se analisarmos as formas psicopatológicas do nosso tempo, encontramos características de sofrimento a partir de ausências, advindo de seres pouco investidos, próximos à melancolia e à fuga do mundo: drogas, anorexia, depressão, compulsões, borderline (personalidades que flertam com os limites) (BIRMAN, 2021).

O que acontece com a juventude de hoje na medida em que não há um reconhecimento simbólico, é uma perda de identidade, de fronteira. A violência é uma forma de manter sua posição, seu território. Em algum sentido, é uma forma de fuga da melancolia. Violência pode aparecer como automutilação, palavras fortes contra aqueles que cruzam seu caminho e mesmo fechamento em seu mundo absoluto. Lacan mostra que o estádio do espelho é o primeiro momento de formação da personalidade que nos diferencia do outro. Na medida em que me reconheço enquanto corpo que vejo, percebo as diferenças, as alteridades, o que sou e o que não sou. Nesse momento, é necessário a vivência de permanências iniciais. Quando não há essa vivência, apenas nos resta viver de forma experimental (BIRMAN, 2021).

Ao mesmo tempo, vivemos na era do individualismo, estamos “conectados na desconexão”. Nos últimos anos aumentou significativamente a oferta de produtos customizados. Na pandemia essa tendência não se apagou ou diminuiu, pois o virtual a preencheu. Interessante inclusive verificar a maior exposição de cenas e imagens mais banais no período da quarentena. O singular tem que ser imposto a todos. Estar sozinho, não aceitar vincular sua vida aos outros, é uma tendência. Há uma necessidade de que a vida gire em torno do meu gozo, por isso mesmo muitas vezes os sujeitos contemporâneos não mantêm relações. Deveríamos talvez reconstruir a ideia de união e desunião. A união poderia ser mais qualificada, refletida. A relação é uma aliança inconsciente com o outro. Há conflitos, mas não pode ter um horizonte narcísico.

Como se configura a espiritualidade dos jovens contemporâneos?

Segundo a socióloga Sílvia Fernandes (2018), em primeiro lugar, o jovem sem religião se apresenta multifacetado, podendo agregar em uma única identidade um posicionamento crítico e, ao mesmo tempo, flexível em relação às denominações religiosas. Daí a explicação para o número crescente de jovens que se declaram “sem religião” e sustentam espiritualidades plurais e sincréticas.

A antropóloga Regina Novaes (2018), afirma que juventude contemporânea vive um tempo em que as religiões não são mais as principais fontes distribuidoras de sentido e imagens estáveis da vida entregues de geração a geração pelas autoridades religiosas, reconhecidas como tal, o que corrobora a característica de fluidez que apontamos anteriormente.

Dessa maneira, as posições mais fundamentalistas ganham espaço, pois transmitem ideias objetivas e que dão a ilusão de preenchimento de vazio. Há uma preocupação em reproduzir suas crenças de forma incisiva, afastando qualquer possibilidade de autocrítica.  Nesse momento, ficam de lado a subjetividade e a singularidade do sujeito, para dar espaço ao moralismo, à objetividade e à rigidez. A diversidade e o diferente assustam, ameaçam. “Os sincretismos religiosos, cada vez mais frequentes num contexto de mundo globalizado, em que todos são convidados a se abrir para o diferente, pagam o preço, muitas vezes caro, do risco de expor as suas premissas, incorrendo na possibilidade de que sejam esvaziadas” (JOBIM, 2018).

É importante afirmar que existe uma geração de jovens que não conheceu outro caminho de espiritualidade daquele apresentado por grupos atuantes, através de mídias eficientes. O medo de perda de sentido trouxe adesão, mas pode portar também exclusão e ilusões a respeito de si e do outro, sustentando um mudo distante de dimensões do real.

            O grande paradoxo da juventude contemporânea é: ela vivenciou pouco investimento narcísico, mas vive em uma cultura narcisista, repleta pela moral do individualismo. Nessa cultura, cada um existe por si e por suas ideias, vendo o outro, o diverso, como inimigo.

Qual mundo queremos? Um mundo-da-vida, da esperança, do real? Ou um mundo da morte, da violência e das ilusões? Como nos ensina o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e Reitor da PUC-MINAS na apresentação do livro O Novo Humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco: “Ousamos supor que um novo humanismo é necessário e possível: que as bases importantes desse humanismo estão sendo iluminadas pelo Papa Francisco; que vivemos, portanto, uma histórica oportunidade de fazer uma revisão da rota percorrida, nos últimos séculos, no Ocidente. Ousamos com Francisco ter a esperança de que a morte ainda não tenha tido a palavra final: é possível restaurar nossa casa comum; estabelecer relações mais igualitárias e equitativas; estender a todos, mulheres e homens em sua diversidade, o respeito ao Estado de direitos” (DOM MOL, 2022,

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Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

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Seminário de Formação sobre Tráfico Humano: um crime invisibilizado que “crucifica milhões de pessoas em todo o Planeta” https://observatoriodaevangelizacao.com/seminario-de-formacao-sobre-trafico-humano-um-crime-invisibilizado-que-crucifica-milhoes-de-pessoas-em-todo-o-planeta/ Fri, 01 Apr 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44644 [Leia mais...]]]> Mais de 90 lideranças de todas as regiões do Brasil estiveram reunidas nos dias 24 e 25 de março para participar do Seminário Nacional (online) de Formação para o Enfrentamento ao Tráfico Humano. O evento contou com a organização da Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Acompanhe a análise feita por Luís Miguel Modino:

O Enfrentamento ao tráfico de pessoas

O Seminário foi aberto com uma Audiência Pública, onde em uma mesa de diálogo, que teve como tema “O papel da Igreja, da Sociedade, do Estado no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”, representantes da Comissão dos Direitos Humanos do legislativo, Ministério Público do Trabalho e organizações da Sociedade Civil tem debatido, em um olhar amplo, aprofundando as realidades que promovem o tráfico de pessoas, os mecanismos de acompanhamento e a construção concreta de articulação e formação nas bases.

Estamos diante de um tema difícil, pois ele é “invisibilizado pela sociedade”, segundo Dom Evaristo Spengler. O Presidente da Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB lembrava a Campanha da Fraternidade de 2014, que abordou essa temática, que levou as paróquias, as comunidades a se perguntar se o tráfico de pessoas ainda é um problema. Cabe lembrar, segundo o bispo da Prelazia de Marajó, que a escravidão foi legal no Brasil até pouco mais de 100 anos atrás, e que “essa mentalidade ainda persiste em muitas pessoas ainda, e talvez na sociedade como um todo”.

O bispo falava de uma realidade que trata as pessoas como mercadoria e de como o tráfico de pessoas se reinventou com a pandemia, usando muito as redes sociais, buscando aumentar o lucro para pessoas gananciosas e sem escrúpulos. Nessa conjuntura em que o lucro domina, a pessoa vira um objeto, algo que se faz realidade de uma forma muito sutil. Dom Evaristo lembrou as palavras do Papa Francisco, em que diz que “o mundo não terá paz enquanto não houver uma cultura do cuidado”.

Frente a isso, ele falou da cultura da guerra, que começa pela competição, a concorrência, o fato de querer mais, educando para o vale tudo, o que demanda uma nova mentalidade de solidariedade, de cooperação, da cultura da paz que nos fala o Papa Francisco. O presidente da Comissão chamou a todos a contribuir, também a Igreja, segundo nos lembram os documentos do Concílio Vaticano II, algo que tem sido assumido pela Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB. A mesma atitude deve estar presente na sociedade e no Estado, em um trabalho em rede que leve a fazer realidade uma vida digna para todos.

Não podemos ficar indiferentes

Os desafios para o combate ao tráfico humano no Brasil foram abordados por Natália Suzuki da Organização Repórter Brasil. A jornalista partiu da ideia de que estamos diante de uma questão que impacta a sociedade como um todo. Essa é uma realidade que “deve nos incomodar profundamente, deve nos provocar todos os dias a nos indignar e a lutarmos contra”. De fato, estamos diante de uma temática nova na Agenda Pública, que até poucos anos atrás era só abordado por grupos específicos. Aos poucos tem entrado dentro das políticas públicas, algo que ainda não é algo simples, segundo Suzuki.

Estamos diante de um crime que vem camuflado com outras coisas, dificultando os diagnósticos. Isso deve nos levar a entender que “o tráfico de pessoas, quase sempre está relacionado com alguma outra prática criminosa”, como algo que ajuda a entender onde está o problema, afirmou a jornalista. A isso se junta a escassez de recursos do Poder Público, o que demanda o envolvimento da sociedade civil e da Igreja, para ajudar a mudar o contexto, para mudar a vulnerabilidade dos indivíduos e reduzir a desigualdade. Para isso se torna de grande importância a incidência em nível local, trabalhar em rede, superar o que já sabemos e fazer diagnósticos novos que levem a uma política de combate ao tráfico de pessoas.

Diferentes modalidades de trabalho escravo

Uma expressão do tráfico de pessoas é o trabalho escravo, uma temática que foi abordada pelo Procurador Italvar Filipe de Costa Medina do Ministério Público do Trabalho, que começou sua fala definindo o trabalho escravo como um crime, segundo recolhe a legislação brasileira. No Brasil existem trabalhadores que são “tratados como uma coisa, desprovidos da sua dignidade”, segundo o Procurador. Ele mostrou as diferentes modalidades de trabalho escravo: trabalho forçado, jornada exaustiva, mostrando exemplos de como isso se torna realidade no país, recordando também os passos dados nas últimas décadas no combate ao trabalho escravo, onde a Igreja católica teve um papel decisivo.

A legislação brasileira recolhe os fatos que determinam o que constitui trabalho escravo, sendo reclamadas pelo Procurador políticas públicas que enxerguem essa realidade. Nesse sentido, relatou alguns dos passos que já foram dados e as atuações que estão sendo realizadas desde o Ministério Público e a Polícia Federal, insistindo na importância de que as pessoas sejam conscientes que essa realidade existe e que “as denúncias sejam levadas aos órgãos competentes para que o trabalho escravo seja combatido e definitivamente erradicado no país”.

Construir redes para evitar e combater o tráfico de pessoas

O papel do Governo Federal no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi abordado pela deputada Erika Kokay, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O Brasil participa de uma história que “é permeada por um povo escravizado, são milhões de pessoas que foram arrancadas da sua própria existência e foram escravizadas aqui no Brasil”, segundo a deputada, que refletia sobre a coisificação e desumanização vivida por essas pessoas, algo que foi “carregado no corpo e na alma”.

Em suas palavras refletiu sobre a condição de sujeito e a liberdade como algo que determina a humanidade da pessoa, o que rompe o tráfico de pessoas, que promove a visão da pessoa como mercadoria. No Brasil desaparecem 226 pessoas por dia, muitas delas submetidas ao tráfico de pessoas, segundo a deputada, que também refletiu sobre a discriminação como causa da exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela chamou a fazer um grande movimento no conjunto da sociedade, a construir redes, buscando condições de cuidado para todos e todas, e fomentar o protagonismo para evitar o tráfico de pessoas.

Tráfico humano: “uma chaga na carne de Cristo”

O papel da Sociedade Civil no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi a questão abordada pela Irmã Eurides Alves de Oliveira, ICM. A religiosa começou lembrado as palavras do Papa Francisco que afirma que “O tráfico de pessoas continua sendo uma ferida no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo”. A membro da Comissão Episcopal de Enfrentamento ao tráfico de Pessoas e da Rede Um Grito pela Vida vê o enfretamento do tráfico de pessoas como um desafio urgente e necessário, um crime invisibilizado que “crucifica milhões de pessoas em todo o Planeta”.

A erradicação é missão de todos e todas, “que acreditamos na possibilidade de um outro mundo possível”, segundo a religiosa. Para isso se faz necessário a superação da indiferença e da alienação, reclamando o papel do Estado, inoperante, indiferente e totalmente silenciado nos últimos anos em relação com o tráfico de pessoas, inclusive em retrocesso, denunciou a Ir. Eurides.

A religiosa foi relatando os passos dados pela sociedade civil e pela Igreja, “presente onde o Estado não está ou não quer estar”, enfatizando a importância do trabalho de base e de incidência política. Nesse sentido destacou a missão da Rede um Grito pela Vida, da Comissão Pastoral da Terra, da Comissão Justiça e Paz, da Pastoral da Mulher Marginalizada, da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, Infância e Juventude. Por isso, a Ir. Eurides insistiu em que “precisamos continuar incansavelmente dando visibilidade a isso em todos os espaços”, para denunciar as causas, capacitando pessoas e não recuando na dimensão profética, ainda mais diante de uma conjuntura que fez com que aumentasse e se diversificasse o tráfico de pessoas.

Os participantes da Mesa de Diálogo, desde as diferentes realidades onde cada um vive, foram acrescentando a reflexão dos palestrantes, denunciando situações de tráfico humano presentes no Brasil afora. Uma dinâmica que vai estar presente ao longo do Seminário, que abordará em diferentes painéis ao longo dos dois dias as Estruturas que geram o tráfico de pessoas, como agir no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, e o Compromisso Pastoral no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

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pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Guerras e armas são satânicas https://observatoriodaevangelizacao.com/guerras-e-armas-sao-satanicas/ https://observatoriodaevangelizacao.com/guerras-e-armas-sao-satanicas/#comments Sun, 27 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44584 [Leia mais...]]]> A guerra não é um monstro do passado. O conflito entre Rússia e Ucrânia ocupa as manchetes dos principais veículos de comunicação em todo o mundo. Centenas de inocentes, civis, crianças e idosos já morreram! Cerca de 4 milhões podem deixar suas casas e o país para escapar da morte. O mundo já tem mais de 82 milhões de deslocados (Acnur-Agência das Nações Unidas para refugiados).

A Ucrânia vive uma tragédia humanitária. Os bombardeios aéreos na Síria e no Iraque provocaram a morte de milhares de civis. Contudo, há milhares de mortos e muito sofrimento em dezenas de conflitos em outras regiões do mundo. Mais de 28 países estão em guerra por territórios, por independência, por questões religiosas, por recursos naturais, etc. (Para ver outros conflitos em meio à guerra na Ucrânia, acesse mixvale.com.br)

Fome, destruição de cidades, miséria, doenças, desemprego. Os prejuízos humanos, econômicos e sociais são incalculáveis. Não há justificativa moral para a guerra. A defesa da paz exige a condenação da guerra. Quem está ganhando com as guerras? A indústria armamentista. Os fabricantes de armas aumentaram suas vendas. As maiores são dos Estados Unidos.

Enquanto líderes mundiais enviam jovens para morte, Francisco quer ouvir suas aflições, frustrações e, principalmente, suas soluções para problemas reais. O Papa acredita que a missão dos jovens é deixar, para as próximas gerações, um mundo melhor do que aquele que encontraram: “que as perguntas que a vida nos faz, que a cultura nos pede, que os problemas humanos nos pedem, sejam recebidos com a mente e com o coração, e que as respostas também sejam inteligentes, cordiais com o coração e pragmáticas com as mãos” disse o papa a estudantes católicos. “Essa é a vocação dos cristãos, construir pontes”!

Sim! Construir Pontes! O diálogo é um dos principais legados dos nove anos de pontificados de Jorge Bergoglio, completados em 13 de março. Quando se tornou o primeiro Papa jesuíta e latino-americano, recebeu uma difícil herança: escândalos de pedofilia no clero, dívidas, corrupção e tráfico de influência, e divisões na Igreja. Aos poucos, Francisco está conseguindo modificar algumas situações. Com seu olhar atento, e o desejo de promover a paz, enfrenta os grandes desafios das diversas realidades promovendo a cultura do encontro: “Somente esta cultura pode levar a uma justiça sustentável e à paz para todos, bem como a um autêntico cuidado por nossa casa comum.”

Argentino filho de imigrante italianos, é carismático e acessível, porém discreto. Mantem hábitos simples, carregando a alegria do Evangelho. Firme defensor da ecologia e da dignidade dos pobres, descartados e discriminados, Papa Francisco não escapa às críticas de conservadores e progressistas. Quer fazer da Igreja uma comunidade participativa através da sinodalidade, onde “todos são protagonistas”. É preciso deixar-se mover pelo Espírito Santo para “descobrir a geografia da salvação divina, abrindo portas e janelas, derrubando muros, rompendo correntes, libertando fronteiras”.

Em Fratelli tutti, Francisco ressalta a importância de se restaurar a fraternidade entre os povos. Para que haja paz e respeito, é fundamental a democracia, a liberdade e a justiça. O documento afirma que “somos todos chamados a estar próximos uns dos outros, superando preconceitos e interesses pessoais. O amor constrói pontes e nós somos feitos para o amor”. “A melhor política” é aquela que se traduz na caridade e no amor social a serviço do bem comum.

A guerra é a pior das políticas. Francisco é promotor incansável da paz. A verdadeira paz “só se pode alcançar quando lutamos pela justiça através do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo”. Para ele, “a guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contato com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos” (Fratelli tutti, 261).

Em meio a tantas guerras, Papa Francisco levanta sua voz: “Ouça o grito de quem sofre, e se ponha fim aos bombardeios e aos ataques…parem este massacre!” … “Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo os interesses de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E se distancia das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito – pessoas comuns – são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele”.

Desejemos a paz. Lutemos pela paz todos os dias. O diálogo é a única forma racional para a paz. Que o dinheiro usado em armas seja revertido para acabar de vez com a fome no mundo.

“Nunca mais a guerra!”

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pe. Élio Gasda, SJ
É jesuíta, doutor em Teologia, autor, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). 

Fonte: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/guerras-e-armas-sao-satanicas-papa-nicolau/

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Reflexões sobre a Educação no contexto da CF 2022 https://observatoriodaevangelizacao.com/reflexoes-sobre-a-educacao-no-contexto-da-cf-2022/ Fri, 25 Mar 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44530 [Leia mais...]]]> Em 2022, a Igreja Católica no Brasil, por meio da CNBB, promove a Campanha da Fraternidade, um dos maiores projetos de evangelização, que, pela terceira vez, envolve a temática da Educação: 1982, 1998 e agora 2022. Isso revela a importância da Educação na vida humana. Diante do tema Fraternidade e Educação, profundamente enraizado na nossa realidade, faz-se necessário refletir o que representa a Educação no contexto brasileiro e como ela está sendo tratada. A CNBB escolhe temáticas urgentes que precisam ser refletidas e transformadas pela sociedade e suas instituições políticas.

 O discurso sobre a necessidade de se valorizar a Educação é corrente em várias instâncias da sociedade, principalmente em campanhas eleitorais. Se reconhece que a Educação é um instrumento fundamental para a transformação da sociedade. A importância da Educação se acentuou, isto é, o reconhecimento da sociedade se tronou mais nítido, no momento em que o mundo se encontrou diante da pandemia da covid-19. Muitas crianças e jovens interromperam a sua ida presencial a escola, passando a entrar no regime das aulas remotas. Com isso, se agravou problemas existentes, tais como a falta de infraestrutura nos domicílios que possibilite um aprendizado, a escassez de recursos tecnológicos e a dificuldade no acesso à internet e a sinais de televisão (para aqueles que assistiam às aulas remotas). Com a pandemia, também se observou problemas familiares, sendo alguns novos, como a convivência em tempo integral do grupo familiar dentro de casa, aumentando o estresse e não permitindo os momentos de lazer que muitas crianças e jovens tinham fora de casa. Também os problemas velhos que eram ignoradas, como a violência doméstica que se agravou mais ainda no momento de isolamento sanitário.

Em vários discursos, a escola foi citada como um serviço essencial que não poderia parar, pois a mesma é responsável pelo processo de socialização e a formação das crianças e dos jovens. Diante de grande comoção e reconhecimento se esperava uma nova postura governamental, nas suas várias esferas (municipal, estadual e federal) visando maiores recursos, investimentos, reconhecimento salarial e capacitação humana. É notório que houve exemplos nesse sentido, mas são casos pontuais em relação à realidade brasileira, pois houve graves cortes de recursos na Educação e de fomentos em pesquisas científicas.

Além do aspecto institucional, da realidade da sociedade brasileira, especialmente das crianças, adolescentes e jovens, a Educação deve ser pensada a partir dos seus profissionais: professoras e professores, pedagogas e pedagogos, assistentes de serviços básicos,  secretárias e secretários, direção, ou seja, todo o corpo docente e técnico que ajuda a pensar, dinamizar, cuidar e manter a instituição escolar. Pessoas fundamentais que, coletivamente, contribuem para o funcionamento da escola e para o processo de ensino-aprendizagem. Mas como são tratados pela sociedade, pelo poder público e pela comunidade escolar?

Na realidade prática, muitos pais, mães e outras pessoas responsáveis não aceitam e nem apoiam quando profissionais da Educação reivindicam melhores condições de trabalho e salário. É preciso indagar: que tipo de Educação esperam para suas filhas e filhos? Como interpretam o papel da escola? Várias podem ser as possibilidades de respostas, mas quais posturas podem ser esperadas daquelas pessoas que se posicionam como cristãs?

A situação concreta e o cotidiano de nossas escolas e as condições de trabalho dos profissionais da educação, geralmente, não são mostradas adequadamente pelos meios de comunicação social, não despertam o zelo do poder público responsável em cuidar e não são conhecidas, com profundidade, e acompanhadas pela sociedade brasileira.

A Campanha da Fraternidade de 2022, cujo tema é Fraternidade e Educação, tem um lema muito significativo e belo retirado do livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26). A Educação, mesmo diante de um projeto político que é caracterizado por muitos como de sucateamento, mostra que muitos profissionais, apesar dos pesares, continuam a ensinar com sabedoria, amor e dedicação. Todas as profissões dependem da Educação e, geralmente, é decisivo a qualidade da instituição escolar. É um serviço de entrega ao outro, tornando o ato de ensinar, assim como o amor, um verbo intransitivo, isto é, um lado se entrega sem esperar a resposta do outro. Mas, enquanto seres humanos, queremos que a nossa entrega seja reconhecida, que nossos estudantes aproveitem o que é ensinado e que o amor doado seja reconhecido e valorizado. Que seja uma valorização material coerente com as necessidades diárias dessas pessoas.

É importante que cristãs e cristãos, católicos ou não, sejam os primeiros a conhecer a realidade da Educação em nosso país, a refletir sobres seus desafios e urgências, a apoiar as lutas por uma educação de qualidade, refletida nos investimentos materiais e humanos, na infraestrutura, no salário e na valorização dos profissionais da Educação. Que esta Campanha da Fraternidade seja uma oportunidade singular de conversão ao Deus da vida e ao seu projeto salvífico que nos responsabiliza e a Jesus que veio para que todos tenham vida.

 

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Paulo Vinícius Faria Pereira
É teólogo católico leigo. Professor de Sociologia na rede pública de ensino. Mestrando em Ciências da Religião pela PUC Minas, possui bacharelado em Teologia e licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É licenciado em Pedagogia (Claretiano) e membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais.

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“Para ser ouvida, a Igreja precisa mudar de método.” Entrevista com Jean-Claude Hollerich, relator do próximo Sínodo. https://observatoriodaevangelizacao.com/para-ser-ouvida-a-igreja-precisa-mudar-de-metodo-entrevista-com-jean-claude-hollerich-relator-do-proximo-sinodo/ Mon, 28 Feb 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44036 [Leia mais...]]]>

O jesuíta, Jean-Claude Hollerich, cardeal responsável por ser o relator do próximo sínodo. mostra-se uma figura de abertura e diálogo com os principais temas da contemporaneidade. Numa entrevista permeada pela franqueza e a humildade de um homem experimentado pela missão e por um olhar agudo às mudanças de nosso tempo, o cardeal oferece um panorama de possibilidades e reflexões que devem iluminar a Igreja em um processo de verdadeira conversão institucional. A entrevista foi conduzida por Loup Besmond de Senneville, da revista La Croix, e traduzida por Moisés Sbardelotto, do IHU. Leia a seguir:

♦ O senhor foi missionário no Japão, é jesuíta, arcebispo de Luxemburgo, cardeal… Sempre buscou a Deus do mesmo modo?

Quando eu cheguei ao Japão como jovem padre, foi um grande choque. Na época, eu era um jovem impregnado do catolicismo popular de Luxemburgo. Com outros jesuítas, cada um proveniente de um ambiente católico diferente, vimos muito cedo que os nossos modelos de catolicismo não correspondiam à expectativa do Japão. Para mim, isso foi uma crise. Eu tive que me abstrair de todas as devoções que até então constituíam as riquezas da minha fé, renunciar às formas que eu amava. Fui confrontado com uma escolha: ou renunciava à minha fé porque não encontrava as formas que eu conhecia, ou iniciava uma jornada interior. Eu escolhi a segunda opção. Antes que pudesse proclamá-la, eu tive que me tornar um buscador de Deus. Eu dizia insistentemente: “Deus, onde estás? Onde estás na cultura tradicional e na cultura do Japão pós-moderno?”. De volta à Europa depois de 10 anos, eu tive que recomeçar. Achei que encontraria ali o catolicismo que eu havia deixado na minha juventude. Mas aquele mundo não existia mais… Hoje, nesta Europa secularizada, tenho que fazer o mesmo exercício: buscar a Deus.

♦ A Europa hoje voltou a ser uma terra de missão?

Sim. Há muito tempo. O Luxemburgo da minha juventude se assemelhava um pouco à Irlanda, com grandes procissões, uma forte piedade popular… Quando eu era pequeno, todas as crianças iam à igreja. Meus pais não iam, mas me mandavam, porque era normal fazer isso. Lembro que na escola uma criança da minha turma não tinha feito a primeira comunhão, e foi um escândalo. Agora, o que provoca escândalo, em vez disso, é que uma criança a faça. Mas, refletindo, dou-me conta de que aquele passado não era tão glorioso. Evidentemente, eu não percebia isso quando era criança, mas percebo hoje que, já naquela época, havia muitas fissuras e muita hipocrisia naquela sociedade. No fundo, as pessoas não acreditavam mais do que acreditam hoje, mesmo que fossem à igreja. Elas tinham uma espécie de prática dominical cultural, mas sem que isso se inspirasse na morte e ressurreição de Cristo.

♦ Na sua opinião, essa prática cultural do catolicismo acabou?

Ainda não totalmente. Isso varia de acordo com as regiões do mundo. Mas estou convencido de que a Covid vai acelerar esse processo. Em Luxemburgo, temos um terço de praticantes a menos. Tenho certeza de que não vão voltar. Entre eles, encontram-se pessoas de uma certa idade que acharão difícil e cansativo retomar a prática religiosa, deslocar-se para ir à igreja. Mas há também aqueles católicos para os quais a missa dominical se resumia a um rito importante, que assegurava uma estabilidade na sua vida. Para muitos, dizer-se católico ainda é uma espécie de hábito ligado a uma moral geral. Segundo eles, isso contribui para dar uma certa solidez à sociedade, para ser “bons cristãos”, mas sem definir verdadeiramente o que isso significa. Mas essa época tem que acabar. Agora, temos que construir uma Igreja sobre a fé. Já sabemos que somos e seremos uma minoria. Não devemos nem nos surpreender nem lamentar. Tenho a doce certeza de que o Senhor está presente na Europa atual.

♦ Não tem dúvidas sobre isso?

Não, nenhuma. Essa não é mais uma questão que me obceca. Quando eu era mais jovem, eu tinha medo de não o encontrar, eu era meio que obcecado por esse temor. Eu tinha que o descobrir ou afundaria. Agora estou muito mais tranquilo.

♦ É a sabedoria da idade?

Não sei se existe uma sabedoria da idade (risos). Eu ficaria feliz se ela existisse! Mas, no fundo, sempre fazemos as mesmas tolices e esbarramos sempre no mesmo muro. Pelo menos, sabemos que o muro está lá e que vai doer. Também já sei que não sou nada mais do que um instrumento do Senhor. Existem muitos outros. Essa consciência me leva a ter sempre um pouco de desconfiança em relação a todos aqueles que dizem ter a receita certa para anunciar Deus.

♦ Não existe uma receita mágica?

Não, há apenas a humildade do Evangelho.

♦ E, quando era mais jovem, o senhor acreditava em receitas mágicas?

Sim, claro, eu acreditava. Mas é um pecado da juventude. Evidencia o entusiasmo dos jovens…

♦ A mensagem do cristianismo continua sendo pertinente hoje?

Sim, porque o ser humano não mudou depois de 2.000 anos. Está sempre em busca da felicidade e não a encontra. Está sempre sedento de infinito e se depara com seus próprios limites. Comete injustiças que têm graves consequências para outras pessoas, o que nós chamamos de pecado. Mas agora vivemos em uma cultura que tende a reprimir o que é humano. Essa cultura do consumismo promete satisfazer os desejos do ser humano, mas não consegue. No entanto, nos momentos de crise, de choque, as pessoas se dão conta de que muitíssimas questões dormem no fundo dos seus corações. A mensagem do Evangelho é de um frescor excepcional para responder a essa busca de sentido e de felicidade. A mensagem é sempre pertinente, mas os mensageiros às vezes aparecem em uma veste de tempos passados, e esse não é o melhor serviço prestado à própria mensagem… Por esse motivo, devemos nos adaptar. Não para mudar a mensagem, evidentemente, mas para que ela possa ser compreendida, mesmo que sejamos nós que a anunciamos. O mundo está sempre em busca, mas não vem mais ao nosso encontro para procurar, e isso dói. Devemos apresentar a mensagem do Evangelho de modo que as pessoas possam se orientar para Cristo.

♦ Precisamente por isso, o Papa Francisco lançou em outubro passado um Sínodo sobre a sinodalidade, do qual o senhor é uma referência geral. O senhor afirmou recentemente que não sabe o que vai escrever no relatório…

Eu devo ser aquele que deve escutar. Se eu fizer muitas propostas, isso desencorajará as pessoas que têm outro ponto de vista. Então, são as pessoas que devem “encher” a minha cabeça e as páginas. O Sínodo é isso. Ele deve ser aberto. Como diz o papa, o “mestre de obras” é o Espírito Santo. Portanto, nós devemos lhe dar espaço. Se esse método é importante é porque hoje não podemos mais nos contentar em dar ordens de cima para baixo. Em todas as sociedades, na política, nas empresas, o que importa agora é fazer rede. Essa mudança na tomada de decisões anda de mãos dadas com uma verdadeira mudança de civilização que devemos enfrentar. E a Igreja, como sempre fez ao longo da história, deve se adaptar a ela. A diferença é que, desta vez, a mudança de civilização tem uma força inédita. Temos uma teologia que ninguém mais compreenderá daqui a 20 ou 30 anos. Essa civilização passará. É por isso que precisamos de uma nova linguagem que deve se fundamentar no Evangelho. E toda a Igreja deve participar no desenvolvimento dessa nova linguagem: esse é o sentido do Sínodo.

♦ Como presidente da Comece [Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia], o senhor participou no início de outubro de uma reunião com os partidos europeus de direita e de centro-direita em Roma. Ao sair, o cardeal Parolin encorajou a não considerar o cristianismo como um supermercado no qual apenas alguns valores podem ser escolhidos. É uma tentação presente nos políticos?

Sim, é claro. A direita toma os símbolos cristãos, mostra terços e crucifixos, mas nem sempre em relação com o mistério de Cristo. Fazem isso em relação à nossa cultura europeia do passado. Querem fazer referência a uma cultura para conservá-la. É um mau uso da religião. Na esquerda, eu também conheço políticos e políticas que se dizem cristãos convictos, que lutam contra as mudanças climáticas, mas votam no Parlamento Europeu para que o aborto seja um direito fundamental e para que a liberdade de consciência dos médicos seja limitada. Isso também é confundir a religião com um supermercado. É possível ser democrata-cristão, socialista, ecologista… e ao mesmo tempo ser cristão. Essa diversidade de formações políticas, além disso, é algo bom para a sociedade. Mas os responsáveis políticos tendem a encerrar as suas preferências religiosas no âmbito privado. Nesse caso, não é mais uma religião, mas uma convicção pessoal. A religião requer um espaço público para se expressar.

♦ Mas assim não é mais difícil para os cristãos se engajarem na política?

Em primeiro lugar, é verdade que há menos cristãos. Além disso, é verdade que eles estão cada vez menos engajados na política. É possível ver isso depois de cada eleição. Além disso, é evidente que a mensagem dos bispos não chega mais à sociedade. Vocês experimentam isso na França há vários anos. Essa experiência é a consequência da nossa minoridade. Para fazermos com que se compreenda aquilo que queremos, devemos iniciar um longo diálogo com aqueles que não são mais cristãos ou que o são apenas marginalmente. Se temos certas posições, não é porque somos conservadores, mas porque pensamos que a vida e a pessoa humana devem estar no centro. Para poder dizer isso, eu acho que devemos estabelecer diálogos e amizades com os tomadores de decisão e os responsáveis políticos que pensam diferente. Mesmo que não sejam cristãos, nós compartilhamos com eles uma preocupação honesta de colaborar para o bem da sociedade. Se não queremos viver em uma sociedade fragmentada, precisamos ser capazes de escutar o pensamento de uns e de outros.

♦ Isso significa que a Igreja deve renunciar a defender as suas ideias?

Não, não se trata disso. É preciso tentar compreender o outro, para estabelecer pontes com a sociedade. Para falar da antropologia cristã, devemos nos basear na experiência humana do nosso interlocutor. Mesmo que a antropologia cristã seja maravilhosa, logo ela não será mais compreendida, se não mudarmos o método. E de que adiantaria tomarmos a palavra se não somos ouvidos? Falamos para nós mesmos, para nos assegurar de que estamos do lado certo? Para tranquilizar os nossos próprios fiéis? Ou falamos para sermos entendidos?

♦ Quais são as condições para sermos ouvidos?

Em primeiro lugar, a humildade. Acho que, mesmo que não seja necessariamente consciente disso, a Igreja passa a imagem de uma instituição que sabe tudo melhor do que os outros. Portanto, ela precisa de uma grande humildade, sem a qual não pode entrar em um diálogo. Isso também significa que precisamos mostrar que queremos aprender com os outros. Um exemplo: sou absolutamente contrário ao aborto. E, como cristão, não posso ter uma posição diferente. Mas também compreendo que há uma preocupação com a dignidade das mulheres, e que o discurso que tínhamos no passado para nos opormos à lei do aborto não é mais audível hoje. Nesse ponto, que outra medida podemos tomar para defender a vida? Quando um discurso não se sustenta mais, não devemos nos obstinar, mas procurar outros caminhos.

♦ Na França, muitos acreditam que a Igreja perdeu uma grande parte da sua credibilidade devido aos crimes sexuais cometidos em seu interior. Como o senhor encara essa crise?

Em primeiro lugar, quero dizer que esses abusos são um escândalo. E, quando vemos os dados do relatório Sauvé, fica claro que não se trata de um erro de alguns. Há uma falha sistêmica em algum lugar, que deve ser detectada. Não devemos ter medo das feridas que isso pode nos infligir, que, aliás, não são absolutamente nada em comparação com as das vítimas. Consequentemente, devemos demonstrar uma enorme honestidade e estar prontos para receber ataques. Algumas semanas atrás, eu estive em Portugal e estava celebrando a missa. Havia ali um menino que estava servindo a missa e me olhava como se eu fosse o bom Deus. Eu percebia que ele via em mim um representante de Deus, o que, aliás, eu era na liturgia.

Abusar de tais crianças é um verdadeiro crime. É uma culpa muito mais grave do que a de um professor ou de um treinador esportivo que comete esses atos. O fato de que isso tenha sido tolerado para proteger a Igreja é muito ruim. Nós fechamos os olhos! É quase irreparável. Agora, eu respondo à sua pergunta. Alguns perderam a confiança. Para reconquistá-la, quando possível, é preciso ter uma grande humildade. Quando se acompanha uma comunidade ou uma pessoa, é preciso ter sempre em mente o princípio do respeito absoluto por quem é acompanhado. Eu não posso dispor de uma pessoa. Parece-me evidente que essas questões estarão na cabeça e no coração de todos durante o processo do Sínodo. Devemos fazer mudanças.

♦ Se há uma culpa sistêmica, na sua opinião, são necessárias mudanças sistêmicas?

Sim. Evidentemente, na minha diocese, como em muitas outras, temos uma “carta” de boa conduta que deve ser assinada por todos, padres e leigos que trabalham para a Igreja. Antes da ordenação, também submetemos os seminaristas a oito sessões psicológicas destinadas a detectar a pedofilia. Fazemos tudo o que podemos, mas não é o suficiente. Precisamos de uma Igreja estruturada de tal maneira que essas coisas não sejam mais possíveis.

♦ Ou seja…

Se déssemos mais voz às mulheres e aos jovens, essas coisas teriam sido descobertas muito antes. É preciso parar de agir como se as mulheres fossem um grupo marginal na Igreja. Elas não estão na periferia da Igreja, estão no centro. E, se não dermos a palavra a quem está no centro da Igreja, teremos um grande problema. Não quero ser mais preciso: essa questão certamente será levantada no Sínodo em diferentes culturas, em diferentes contextos. Mas as mulheres foram ignoradas demais. É preciso ouvi-las, assim como o restante do povo de Deus. Os bispos devem ser como pastores que estão à escuta do seu povo. Isso não significa que eles devam dizer simplesmente: “Sim, eu ouvi, mas isso não me interessa”. Eles devem estar no meio do rebanho.

♦ Que outras mudanças precisam ser feitas?

A formação do clero deve mudar. Ela não deve se centrar unicamente na liturgia, embora eu entenda que os seminaristas lhe atribuem uma grande importância. É preciso que os leigos e as mulheres possam dar a sua opinião na formação dos padres. Formar padres é um dever da Igreja inteira, e, portanto, é preciso que a Igreja inteira acompanhe essa etapa, com homens e mulheres casados e celibatários.

Uma segunda coisa é que devemos mudar o nosso modo de considerar a sexualidade. Até hoje temos uma visão bastante reprimida da sexualidade. Evidentemente, não se trata de dizer às pessoas que elas podem fazer qualquer coisa ou de abolir a moral, mas acho que devemos dizer que a sexualidade é um dom de Deus. Nós sabemos disso, mas o dizemos? Não tenho certeza disso.

Alguns atribuem a multiplicação dos abusos à revolução sexual. Eu penso exatamente o contrário: na minha opinião, os casos mais horríveis ocorreram antes dos anos 1970. Nesse âmbito, é preciso que os padres também possam falar sobre a sua sexualidade e que possam ser ouvidos se tiverem dificuldades em viver o celibato. Eles devem poder falar sobre isso livremente, sem medo de serem repreendidos pelo seu bispo.

Quanto aos padres homossexuais, eles são muitos, e seria bom que pudessem falar disso com o seu bispo, sem que ele os condene.

No que concerne ao celibato, na vida sacerdotal, perguntemo-nos francamente se um padre deve necessariamente ser celibatário. Eu tenho uma opinião muito elevada sobre o celibato, mas ele é indispensável? Na minha diocese, eu tenho diáconos casados que exercem o seu diaconato de forma maravilhosa, que fazem homilias que tocam as pessoas muito mais profundamente do que nós que somos celibatários. Por que não ter também padres casados? E, mesmo que um padre não possa mais viver essa solidão, é preciso compreendê-lo, e não o condenar. Agora eu já estou velho, isso diz menos respeito a mim…

♦ O senhor sentiu essa dificuldade de viver essa solidão?

Sim, certamente. Em certos momentos da minha vida, isso foi muito claro. E também é evidente que todo padre se apaixona de vez em quando. Então, a questão é saber compreender como ele se comporta nesse caso. Acima de tudo, é preciso ter a honestidade de admitir isso a si mesmo e depois agir de tal modo que seja possível viver o próprio sacerdócio.

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Cardeal Jean-Claude Hollerich
Primeiro luxemburguês criado cardeal é o atual presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE).  É membro da Congregação para a Educação Católica e do Pontifício Conselho para Cultura. É jesuíta, tendo vivido muitos anos no Japão onde fez, inclusive, seus votos solenes na Companhia de Jesus. 
 

Loup Besmond de Senneville
É jornalista do La Croix desde 2011 e correspondente permanente no Vaticano desde 2020. Anteriormente chefiou a seção de bioética sediada em Paris e escreveu diversos livros. Graduou-se pela Escola de Jornalismo da Universidade de Estrasburgo onde leciona desde 2015  

Moisés Sbardelotto
É jornalista, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com estágio doutoral (bolsa PDSE/Capes) na Università di Roma “La Sapienza”, na Itália. É palestrante, tradutor, escritor e consultor em Comunicação para diversos órgãos e instituições civis e religiosas.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/616073-para-ser-ouvida-a-igreja-precisa-mudar-de-metodo-entrevista-com-jean-claude-hollerich-relator-do-proximo-sinodo

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Assembleia Eclesial: oportunidade para “escutar a polissemia do Povo de Deus” https://observatoriodaevangelizacao.com/assembleia-eclesial-oportunidade-para-escutar-a-polissemia-do-povo-de-deus/ Sun, 27 Feb 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44028 [Leia mais...]]]> Reflexionar sobre os desafios e perspectivas da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foi o propósito da Aula inaugural do Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), que está completando 50 anos de caminhada. O palestrante foi Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte que vê na Assembleia Eclesial uma oportunidade de escutar o povo de Deus na sua totalidade e variedade. Acompanhe a matéria de Luis Miguel Modino:

Não se instalar na comodidade

O bispo partiu do contexto da Assembleia Eclesial, convocada pelo Papa Francisco em 24 de janeiro de 2021, com o tema “Somos todos discípulos missionários em saída”, inspirada na eclesiologia do Concílio Vaticano II e na Conferência de Aparecida.

A assembleia aconteceu em formato híbrido, virtual e presencial, com um pequeno grupo na sede da Conferência Episcopal Mexicana, de 21 a 28 de novembro de 2021, com uma presença aproximada de mil pessoas, a maioria homens, membros da hierarquia. Dom Vicente vê a Assembleia Eclesial como uma oportunidade para “escutar a polissemia do Povo de Deus em nosso Continente, em suas alegrias e preocupações”, que antecedeu o Sínodo sobre a Sinodalidade que acontecerá em 2023.

O tema nos leva a refletir sobre o número 383 do Documento de Aparecida, que afirma que “a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente”. Daí que o bispo auxiliar de Belo Horizonte considere a Assembleia Eclesial como “o desejo de transbordar a caminhada já feita, avançando em pontos importantes”.

Após apresentar a metodologia da Assembleia, com palestras, testemunhos, celebrações e reuniões em grupos, e os 12 desafios ou perspectivas surgidos da Assembleia, o bispo refletiu sobre questões emergentes para a Evangelização em nosso continente, uma abordagem feita desde duas perspectivas, a conjuntura socioambiental e eclesial.

Subserviência ou soberania?

Na análise socioambiental Dom Vicente de Paula Ferreira refletia sobre aquilo que considera uma clara expressão do capitalismo neoliberal: um por cento da população domina a terra, até o ponto que uma dezena de pessoas controlam riquezas equivalentes ao que possuem outros 50%. O modo de dominar é pela violência em relação aos povos e territórios, “um cenário reforçado por emergências de grupos radicais de extrema direita que estão a serviço desse discurso autoritário capitalista”, segundo o bispo.

Diante dessa realidade, o continente Latino-americano e Caribenho busca, segundo o bispo auxiliar de Belo Horizonte, “sua sobrevivência na grande tensão: ou continuar subserviente ao Norte mundial ou assumir caminhos de soberania”. Diante da destruição dos direitos humanos e ambientais no Brasil, o bispo advertiu do perigo da barbárie fascista. Frente a isso disse sonhar com uma contra hegemonia, nascida dos movimentos sociais e de reações democráticas.

Cisma latente

Em relação à Igreja, Dom Vicente de Paula falou das três conversões profetizadas pelo Papa Francisco: Eclesiológica (Evangelii Gaudium), Ecológica (Laudato Sì) e Cultural (Fratelli Tutti), afirmando existir pessoas, grupos, redes que se empenham nessa direção, citando exemplos disso. Mas também relatava a existência de grupos fechados, centrados no culto, alienados da vida, com uma fé sem a dimensão política, uma espiritualidade da prosperidade, reprodutora do sistema de consumo, o que tem como resultado um cristianismo de consumo.

O bispo chegou a falar de uma perseguição aos que buscam uma Espiritualidade socio-ambiental-transformadora, imagem do Reino de Deus. Isso se manifesta em um “cisma latente entre nós”. Existem, segundo Dom Vicente de Paula, “tribunais da fé representados por grupos ou influencers do ‘verdadeiro sagrado’, que se julgam legítimos defensores de Deus, da Pátria e da família”.

Igreja com rosto Latino Americano e Caribenho

Finalmente apontou o que ele considera algumas questões cruciais para a eclesiologia do futuro. Dentre outros colocou o protagonismo de todo batizado como ruptura do clericalismo; o fortalecimento de uma Igreja com rosto Latino Americano e Caribenho decolonial, que ele definiu como indígena, preta e feminina; uma Comunicação Popular Libertadora, com cidadania eclesial de todos, como confronto à manipulação das narrativas espiritualistas de muitos meios de comunicação, verdadeiros promotores de influencers digitais sagrados; investimento nas comunidades eclesiais de base como superação do cristianismo de massa.

Junto com isso, uma Teologia da Libertação Renovada como promoção de uma Igreja socioambiental transformadora, com a ecologia integral como elemento transversal; a ministerialidade das mulheres como urgente superação do machismo; a inclusão das reivindicações LGBTQIA+ como forma de superação da homofobia eclesial; a recepção da Amoris Laetitia, que leve a refletir sobre a segunda união matrimonial e a ordenação de homens casados.   

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pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Não olhe para cima https://observatoriodaevangelizacao.com/nao-olhe-para-cima/ Mon, 21 Feb 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43764 [Leia mais...]]]> A arte, embora vítima também dos processos de massificação contemporâneos, continua a ser um importante instrumento de crítica e despertar social. Neste artigo, escrito pelo atual reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, padre Elton Vitoriano, a realidade ilustrada pelo filme “Não olhe pra cima”, de Adam McKay, suscita interrogações fundamentais para o momento político em que vivemos. Leia o artigo:

Pode a realidade superar a fantasia? Certamente essa pergunta já foi feita por muita gente ao assistir, por exemplo, uma peça de teatro, uma novela ou um filme. Certas situações são classificadas como absurdas ou ridículas e nos levam a pensar: isso nunca poderia acontecer. Esse poderia ser o caso do filme da Netflix Don’t look Up – Não olhe para cima, de dezembro de 2021. Até agora um dos filmes mais vistos da plataforma, Não olhe para cima despertou na internet muita discussão. Classificado como uma comédia pela plataforma, o filme conta a história de dois cientistas que descobrem um cometa vindo rapidamente em direção à terra. Como era de se esperar, eles tentam alertar a humanidade, mas ninguém está muito interessado no que eles dizem.

A discussão em torno do filme, especialmente entre admiradores e detratores, toca em muitos aspectos interessantes. Claro, nestas discussões da internet ninguém chega a nenhum acordo sobre nada, mas produzem muitas perguntas: O filme é uma metáfora das mudanças climáticas que vivemos? É um grito de denúncia da confusão contemporânea? É uma crítica da situação política de muitos países com seus governadores insensíveis? Apresenta a futilidade de muitos programas de televisão que diariamente inundam nossos lares? Mostra explicitamente o negacionismo e a descrença na ciência atual? Reproduz a violência física e verbal das nossas cidades? A verdade é que o filme quer chamar a atenção pelo absurdo e, gostemos ou não dele, ficamos com a estranha sensação de certa familiaridade com tudo o que acontece na tela.

Não vou entrar nessas discussões sobre o filme, seu conteúdo e seu valor cinematográfico. Apenas destaco um ponto dessa comédia satírica que, cheia de ironia e sarcasmo, quer ser (como anunciam no site da plataforma) provocante, excêntrica, irreverente e espirituosa. O ponto é: a política contemporânea está se transformando num espetáculo cada vez mais midiático, preocupado, obsessivamente, com as pesquisas e os likes? Vivemos, politicamente, numa sociedade de espetáculos?

Filosoficamente, a política pode ser compreendida como toda atividade humana orientada para o controle e o uso do poder na organização e no gerenciamento da sociedade. A política relaciona-se com tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos, ao governo das cidades, aos negócios públicos, ou seja, todas as relações que os seres humanos como animais políticos vivem em sociedade. As formas de poder político e as condições em que esse poder é exercido, as constituições, os sistemas de governo, a natureza, a validade e a justificação das decisões políticas, todos estes tópicos são objetos de análise da filosofia política. Também, o estudo da natureza, validade e justificação das instituições coercitivas que compõem as sociedades desde as mais elementares como a família até as mais complexas como é o caso do estado nação entram na reflexão sobre a política.

Por exemplo, o filósofo brasileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz (Padre Vaz), nos diz que a política “nasce com a tarefa de desvincular o exercício do poder como força ou como violência, assumindo esta tarefa na esfera legitimadora da lei e do direito ”. A partir dessa tarefa, a política deverá buscar um projeto de existência consensual em torno do mais justo que, por definição, será também o melhor para a sociedade. Na argumentação de Padre Vaz: “A arte da política, à luz da virtude intelectual da prudência, empenha-se na difícil e delicada tarefa de conciliar o possível com o melhor”. Essa perspectiva interpreta a tarefa política de forma dialética, articulando tanto a visão grega quanto a moderna. A grega que interpretava a política como uma atividade de caráter moral, como arte da conciliação e do acordo consensual, criando um espaço racional de busca do melhor possível. A compreensão moderna, mais pragmática, onde a política é entendida como lugar da razão calculadora na arte de governar, voltada por sua vez, para a conquista e a conservação do poder.

Neste ano teremos eleições e, por isso mesmo, muita discussão política em todos os âmbitos da nossa sociedade brasileira. E se a nossa política, como o filme sugere, se transformar num grande espetáculo, barulhento e vazio? E se a nossa política for povoada por likes e views das redes sociais, inundadas de haters (odiadores), fofocas e Fake News?  E se a discussão perder espaço para a sedução fácil de salvadores autoritários? E se os grandes temas das políticas econômicas, públicas e sociais forem silenciados? E se as reformas, especialmente as que favorecem os mais pobres, forem negligenciadas nos debates? E se não tocarmos na gritante desigualdade social em que vivemos e nos meios para superá-la? E se o espetáculo substituir a discussão séria, sensata e propositiva? Ora, se isso acontecer, talvez o melhor mesmo seja não olhar para cima. Não olhar porque já estaremos embasbacados pela sociedade do curtir, nosso amém digital. Ou, talvez não! Talvez seja ainda tempo de acreditar que a luta continua e que a política é a melhor forma de lutar por uma sociedade mais justa e solidária. 

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pe. Elton Vitoriano Ribeiro, SJ
É reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e TEologia (FAJE), professor e pesquisador do departamento de Filosofia da mesma instituição. 

Fonte: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/nao-olhe-para-cima/

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35 anos do martírio de Romero https://observatoriodaevangelizacao.com/oscar-arnulfo-romero/ Mon, 23 Mar 2015 19:26:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=727 [Leia mais...]]]> b_1oyg4uyaav2x3
Amanhã celebraremos o 35º aniversário do martírio de Romero, pastor dos pobres. Às vésperas de seu assassinato, Oscar Arnulfo Romero, arcebispo de El Salvador, dirigia-se aos militares em uma homilia dizendo que “nenhum soldado está obrigado a matar”, a ir contra o mandamento maior: “Não matarás!” Dizia: “Obedeçam antes a sua consciência que à ordem do pecado.”
Em nosso contexto latino-americano de tamanhas injustiças sociais, fazer memória desse martírio é encontrar forças para lutar contra toda e qualquer opressão. Romero colocou seu coração junto aos simples e humildes, como o Mestre de Nazaré um dia o fizera.
Em 03 de fevereiro último, Papa Francisco desbloqueou o processo de beatificação de Dom Oscar Romero, que estava paralisado há anos. Sua beatificação trará um alento a mais para quem crê e luta por dignidade, justiça e vida. Exemplo de coragem e radicalidade na vivência do seguimento a Jesus Cristo,Romero inspira a todos nós.

http://www.youtube.com/watch?v=XS0yf_Je1Xw

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A urgente Reforma Política em pauta https://observatoriodaevangelizacao.com/a-urgente-reforma-politica-em-pauta/ Fri, 12 Sep 2014 14:13:59 +0000 http://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=124 [Leia mais...]]]> 10645040_10204556129605568_7949123821214235330_n

No dia 04 de setembro de 2014, durante a Semana do ANIMA PUC Minas – Sistema Avançado de Formação – aconteceu a mesa redonda “Reforma Política: múltiplos enfoques”. Presidida pelo prof. Carlos Frederico, coordenador do ANIMA, contou com a entusiasmada presença do Reitor da PUC Minas, prof. Dom Joaquim Mol, prof. Robson Sávio, do Núcleo de Estudos Sociopolíticos e prof. Edward Guimarães, do Observatório da Evangelização. Com o auditório do Museu de História Natural tomado por estudantes, professores, funcionários da PUC Minas, além de outros participantes da cidade, a tônica da noite foi uníssona: compromisso e participação ativa na campanha pela Reforma Política e Eleições Limpas. Para aprofundar a temática assista o vídeo:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=UzKZhlCwisg&w=640&h=390]

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