Sínodo para a Amazônia dia 15/10/2019 – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 17 Oct 2019 00:56:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Sínodo para a Amazônia dia 15/10/2019 – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 12ª Congregação do Sínodo: “Uma Igreja chamada a ouvir e denunciar o grito do povo amazônico crucificado e da terra” https://observatoriodaevangelizacao.com/12a-congregacao-do-sinodo-uma-igreja-chamada-a-ouvir-e-denunciar-o-grito-do-povo-amazonico-crucificado-e-da-terra/ Thu, 17 Oct 2019 00:56:11 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32420 [Leia mais...]]]> O Sínodo dos Bispos para a Amazônia prosseguiu na tarde de terça-feira, 15/10/2019, com a 12° Congregação Geral. Os padres sinodais presentes na Sala com o Papa Francisco eram 173. A partir de amanhã, se realizará um novo ciclo de Círculos menores, cujos relatórios serão apresentados à assembleia na tarde de quinta-feira, 17 de outubro de 2019.

O mundo amazônico quer uma Igreja que seja sua aliada. Não se pode falar de pobres esquecendo o povo crucificado. Seria um pecado de indiferença ou de omissão. A Igreja é chamada a voltar a denunciar o grito do povo e da terra, partindo do Evangelho. Somente assim assumirá um rosto samaritano e missionário, em defesa dos últimos, sem ter medo da dimensão do martírio, porque “é melhor morrer pela vida do que viver pela morte”.

O Sínodo continua o seu caminho e, em alguns pronunciamentos, foi pedido um ímpeto que deixe espaço à superabundância do Espírito, sem se fechar em soluções funcionais.

Não à vitimização, mais corresponsabilidade

Em algumas regiões mais vulneráveis da Amazônia, o povo muitas vezes se define abandonado, como, por exemplo, os meninos de rua. A Igreja é chamada a ajudá-los, a reforçar a sua autoestima evitando que caiam na vitimização, um risco que não resolve os problemas. É inegável que a região é vítima de abusos e ataques, mas é preciso ajudar os povos a se sentirem corresponsáveis pela construção do seu destino. Os fiéis, portanto, devem exigir direitos e assumir deveres para viver com simplicidade e esperança em caminho rumo ao Reino prometido por Deus aos seus filhos.

A fundamental contribuição da ciência para a proteção da Criação

O pedido de ajuda por parte do povo e da terra interpela todos. Os fiéis são chamados a reconhecer o valor de todas as criaturas. A vocação cristã, com efeito, impulsiona a cuidar da Casa Comum. Deve-se agir individual, comunitária e globalmente. Não é possível se desinteressar do futuro das próximas gerações. Proteger a Amazônia da destruição provocada pelos seres humanos é uma responsabilidade de toda a humanidade.

Foi invocada uma resposta global também diante dos riscos que derivam das mudanças climáticas. Foi sugerida a criação de uma coordenação de cientistas e estudiosos de nível global que inclua também a contribuição da Pontifícia Academia das Ciências.

Além disso, foi auspiciado um maior trabalho no âmbito da educação a fim de sensibilizar para o cuidado da Casa Comum.

Também foi proposto um novo cânone – um cânone ecológico – dentro do Código de Direito Canônico relativo aos deveres dos cristãos em relação ao meio ambiente.

Tomar o largo rumo a uma profunda conversão ecológica

O apelo à Igreja é para tomar o largo, acolhendo o chamado a uma profunda conversão ecológica, sinodal e integral a Cristo e ao seu Evangelho.

O convite é para caminhar unidos como uma família universal, na convicção de que a Amazônia não pertence aos Estados ou aos governos. Estes são os administradores e deverão prestar contas de sua atuação. É através do dom de si mesmo no cotidiano, por parte de leigos, consagrados e casados, que se forma uma verdadeira Igreja amazônica “sacramento” da presença de Cristo nesta região.

Sente-se a exigência de uma espiritualidade e de uma teologia dos sacramentos capazes de se deixar interpelar por aquilo que as comunidades vivem e reconhecer os dons que estas receberam. A propósito, foi encorajado uma coordenação entre as igrejas locais, tomando como exemplo o trabalho desenvolvido pela Repam.

Foi evidenciada ainda a exigência de um diálogo intercultural inspirado pelo Espírito de Pentecostes. O convite é para sair de uma atitude de imposição ou de apropriação, abraçando uma “simetria de relações”. A humildade deve ser uma atitude de um diálogo fundado na convicção comum de ser corresponsáveis no cuidado da Casa Comum. Isto é, de que sozinhos é impossível, somente juntos. É urgente a construção de um “nós” inclusivo em que todas as pessoas, mesmo na diferença, são necessárias.

Foi proposta a criação de processos de formação para um diálogo intercultural, em que as contribuições teóricas sejam corroboradas pela prática e pela reflexões.

O drama das comunidades sem presbíteros

É importante olhar com realismo para o drama das muitas comunidades da Amazônia, cerca de 70%, visitadas por um presbítero somente um ou duas vezes por ano. Estas são privadas dos sacramentos, da Palavra, das celebrações centrais para o cristianismo, como a Páscoa, Pentecostes e Natal. Há quem decide aderir a outras confissões para não ficar na condição de ovelha sem pastor. A Igreja não pode permanecer indiferente. Evocam-se escolhas corajosas, abertas ao Senhor, para que mande operários para a messe. É a Deus que se deve pedir soluções.

Missionariedade em saída, nos passos de Jesus

Todavia, resulta que hoje a paixão pela missão nas regiões mais remotas parece menos entusiasmante. Em várias zonas, a depredação é terrível, com grandes projetos minerários não sustentáveis que provocam doenças, narcotráfico, perda de identidade e doenças muitas vezes incuráveis.

É preciso exortar a comunidade internacional a não investir em projetos industriais nocivos à saúde da região. A Amazônia precisa de missionários, os únicos sobre os quais os povos ainda depositam sua plena confiança. É preciosa a contribuição dada pelas equipes missionárias itinerantes inspiradas pelo estilo de Jesus, que levava a sua Palavra de vilarejo em vilarejo, sem parar, sem encontrar morada.

Pede-se à Igreja que seja “em saída”, passando de uma pastoral de manutenção a uma pastoral criativa: com efeito, existem estruturas já superadas, que necessitam de atualizações: sejam estas animadas por uma consciência ecológica.  Tudo isso abre a novas formas ministeriais, em que o serviço de mulheres e jovens é fundamental. Não se pode ser “obsoletos” enquanto o mundo avança. O Evangelho, de fato, tem sempre algo de novo a dizer.

Migrantes nas cidades, retirados de seus territórios

A Igreja, de modo colegial e sinodal, é chamada a entrar no cotidiano do homem. Foi reproposto o tema dos migrantes, obrigados a abandonar suas comunidades de proveniência e estabelecidos nas cidades. Ali, local de contrastes políticos, econômicos, do vazio existencial e do individualismo exasperado, o indígena é um sobrevivente. Estar presente com o Evangelho é um dever. Portanto, a cidade é também local de missão e santificação.

A recomendação é promover uma pastoral específica que considere os indígenas protagonistas. Levando em consideração a importância dada à terra na Bíblia, é preciso reiterar a gravidade de desarraigar um povo do próprio território. A defesa dos territórios é a pedra miliar para o bioma da Amazônia e dos estilos de vida dos povos tradicionais. Neste sentido, foi recomendada uma “defesa intransigente” dos povos indígenas. O direito à sua cultura, à sua teologia e à sua religião é uma riqueza a ser preservada no interesse de toda a humanidade.

Por fim, foi evidenciado o problema da alimentação. A Amazônia, com as suas águas benéficas, poderia contribuir a reduzir a fome no mundo. 26% das águas do planeta, com efeito, provêm desta região. Eis então o convite a encorajar projetos sustentáveis.

Também durante a 12° Congregação Geral, na segunda parte dedicada aos pronunciamentos livres, o papa Francisco tomou a palavra. Aos padres sinodais foi exibido um vídeo sobre a iniciativa “Barco Hospital Papa Francisco”, inaugurada no mês de agosto e idealizada com a finalidade de levar o Evangelho e a assistência de saúde a centenas de milhares de habitantes no Estado do Pará, que vivem ao longo do Rio Amazonas e acessíveis somente por via fluvial.

Fonte:

www.sinodoamazonico.va

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11ª Congregação do Sínodo: “Criação de um Organismo episcopal pan-amazônico e de um Observatório dos direitos humanos e de proteção da Amazônia” https://observatoriodaevangelizacao.com/11a-congregacao-do-sinodo-criacao-de-um-organismo-episcopal-pan-amazonico-e-de-um-observatorio-dos-direitos-humanos-e-de-protecao-da-amazonia/ Wed, 16 Oct 2019 12:29:14 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32411 [Leia mais...]]]> Foi sugerido a criação de um Observatório permanente de direitos humanos e de proteção da Amazônia. O grito da terra e dos povos amazônicos deve ser ouvido dando voz sobretudo aos jovens, porque é questão de justiça entre as gerações“.

180 Padres Sinodais presentes, junto com o papa Francisco, na 11ª Congregação Geral, na manhã de terça-feira (15/10/2019), da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos dedicada à Região Pan-Amazônica, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, em andamento no Vaticano até o dia 27 de outubro.

Vatican News – Cidade do Vaticano

Criar urgentemente um Organismo episcopal permanente e representativo, coordenado pela Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica) para promover a sinodalidade na Amazônia. Essa foi uma das fortes sugestões apresentadas na manhã desta terça-feira (15/10) na 11ª Congregação Geral do Sínodo Especial para a região.

Esse organismo, integrado ao Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano), deverá ajudar a implementar a fisionomia da Igreja na Amazônia, na ótica de uma pastoral comum mais eficaz, concretizando também aquelas indicações que o papa Francisco quererá eventualmente dar após o Sínodo, e trabalhando em defesa dos direitos dos povos indígenas, a formação integral dos agentes pastorais e a criação de seminários amazônicos.

Tal ação pastoral conjunta, elaborada de modo sinodal por todas as circunscrições eclesiásticas pan-amazônicas, numa relação orgânica com o Celam, será útil para enfrentar problemas comuns, como a exploração do território, a delinquência, o narcotráfico, o tráfico e a prostituição.

Observatório para direitos humanos e proteção da Amazônia

Em seguida, a Sala do Sínodo voltou a olhar para os povos indígenas detendo-se sobre os problemas oriundos da colonização, migração interna e avanço de modelos econômicos predatórios e colonialistas, que frequentemente matam.

Isso comporta expropriações e expulsões das comunidades originárias de seus territórios, obrigadas a migrar contra a própria vontade.

As populações indígenas em mobilidade devem ser compreendidas em sua peculiaridade mediante uma Pastoral específica, a fim de que sejam sempre asseguradas seus direitos humanos e ambientais, em particular o direito a ser consultadas e informadas antes de toda e qualquer ação em seus respectivos territórios.

Foi sugerido, a esse propósito, um Observatório permanente de direitos humanos e de proteção da Amazônia. O grito da terra e dos povos amazônicos deve ser ouvido – reiterou-se – dando voz sobretudo aos jovens, porque é questão de justiça entre as gerações.

Inculturação e educação

Foi também central na 11ª Congregação Geral, a questão da inculturação, modo de ser da Igreja aberta a descobrir novos caminhos na rica diversidade das culturas amazônicas, de modo a torná-la uma Igreja mais discípula e irmã, mais que Mestra e Mãe, numa atitude de escuta, serviço, solidariedade, respeito, justiça e reconciliação.

Unido ao tema da inculturação, voltou à tona o da educação dos povos indígenas amazônicos, uma educação infelizmente caracterizada por má qualidade e grande precariedade. Portanto, o que a Igreja pode fazer, vez que é uma das instituições mais qualificadas e fortes no setor da formação?

Foi sugerido um trabalho de maior coordenação com outros organismos para oferecer serviços melhores aos povos indígenas: por exemplo, as Universidades católicas podem fazer uma opção preferencial pela educação das populações autóctones, ou mesmo gerar estratégias solidárias para sustentar economicamente as Instituições de educação indígenas, como o Nopok, no Peru, a fim de que o direito à identidade cultural seja tutelado e a sabedoria ancestral dos povos originários amazônicos seja salvaguardada, em nome do diálogo e do intercâmbio de culturas, sensibilidades, linguagens e visões.

O compromisso missionário e o testemunho dos mártires

Os padres sinodais refletiram, em seguida, sobre as violências: a Amazônia é como uma mulher violentada de quem se ouve o grito, ressaltou-se na Sala do Sínodo, porque somente assim se desperta a evangelização. O anúncio eficaz do Evangelho se dá, efetivamente, somente em contato com a dor do mundo que espera ser redimido pelo amor de Cristo, graças a uma teologia da vida.

Foi premente, em seguida, a evocação ao precioso exemplo dos missionários mártires da região, como o bispo capuchinho dom Alejandro Labaka, a religiosa terciária capuchinha Inés Arango, Irmã Dorothy Stang, que doaram a vida em nome da causa dos povos amazônicos indefesos e pela salvaguarda do território.

A obra missionária na Amazônia deve ser mais apoiada – foi dito na Sala do Sínodo – e para tal se reflete sobre a criação de um fundo financeiro, quer nacional, quer internacional, para reforçar a missão na região, especialmente para as despesas de transporte e de formação dos próprios missionários.

O desafio ecumênico

Sem esquecer que o compromisso missionário deve ser levado adiante também numa ótica ecumênica porque uma Igreja missionária é também uma Igreja ecumênica. Esse desafio diz respeito também à Amazônia: distante de todo e qualquer tipo de proselitismo ou de colonialismo intra-cristão, a evangelização cristã é o convite livre, dirigido à liberdade do outro, a entrar em comunicação e empreender um diálogo vivificante. Uma evangelização atraente será a prova de um ecumenismo crível.

Outro ponto de reflexão foi oferecido pela música, linguagem comum compreensível por todos que leva a refletir sobre a comunicação da fé: ela não deve renegar a doutrina, mas deve fazer compreendê-la através da sensibilidade humana, explicaram os padres sinodais.

Desse modo, a Boa Nova será atraente para todos, indo ao encontro daquele renascimento do sagrado que se vive também nas zonas mais selvagens da Amazônia.

A resposta da Eucaristia

Diante das difíceis situações vividas na Amazônia, chegam respostas importantes da Eucaristia, através da qual passa a graça de Deus, e de uma ministerialidade difusa, que comece também das mulheres, protagonistas indiscutíveis quando se trata de transmitir o sentido radical da vida. Talvez seja necessário perguntar-se se não é o caso de repensar o ministério.

Efetivamente, muitas comunidades têm dificuldade de celebrar a Eucaristia por causa da falta de sacerdotes: por conseguinte, sugere-se que se mudem os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados a administrar tal sacramento, a fim de que não seja destinado somente a poucos.

O ministério feminino, à exemplo da antiguidade

São necessários novos caminhos para tradições antigas, afirmam ainda os padres sinodais. Foram recordadas, entre as intervenções na Sala do Sínodo, as práticas da antiguidade que tinha ministérios relacionados às mulheres, e se refletiu sobre a possibilidade de se restabelecer análogos ministérios, em particular para o leitorado e o acolitato.

Houve quem se deteve sobre a faculdade de dispensar o celibato, de modo a poder ordenar “ministros” homens casados que, sob a supervisão de um presbítero responsável, possam exercer a atividade ministerial em comunidade eclesiais espalhadas no território.

Ao mesmo tempo, foi sugerida a instituição de um fundo para financiar a formação dos leigos no âmbito bíblico, teológico e pastoral, a fim de que possam contribuir sempre melhor para a ação evangelizadora da Igreja.

Por fim, nesse âmbito, foi evocada também a importância das Comunidades eclesiais de base (CEBs) e da vida consagrada, que é profecia e envio às fronteiras do mundo.

Fonte:

www.vaticannews.va

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11ª Congregação do Sínodo: “o desafio é convivermos com a consciência do dom de sermos todos filhos amados de Deus” https://observatoriodaevangelizacao.com/11a-congregacao-do-sinodo-o-desafio-e-convivermos-com-a-consciencia-do-dom-de-sermos-todos-filhos-amados-de-deus/ Wed, 16 Oct 2019 11:47:38 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32405 [Leia mais...]]]> A 11ª Congregação Geral do Sínodo dos Bispos dedicado à região Pan-Amazônica teve início às 9h da manhã de terça-feira (15/10/2019), na Sala sinodal, no Vaticano, com rico momento de oração na presença do papa Francisco. Os trabalhos deste dia são guiados pelo presidente Delegado, o cardeal brasileiro, dom João Braz de Aviz.

Sivonei José – Cidade do Vaticano

Como ocorre todos os dias os trabalhos sinodais têm inicio com a oração comum e com uma reflexão proposta por um dos padres sinodais. Nesta terça-feira, dia 15/10/2019, a meditação foi proposta pelo arcebispo metropolitanto de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

Com o título “Chamados filhos de Deus”, dom Walmor iniciou a sua reflexão com uma pergunta:

Como pode o amor de Deus permanecer nele? Esta é a interpelante pergunta respondida por São João no terceiro capítulo de sua primeira carta. A resposta a esta pergunta é a questão central na construção da autenticidade no seguimento de Jesus. O discípulo e a discípula são remetidos a uma verificação do tecido que configura o núcleo mais íntimo de seu ser. A referência ao coração, a estação da interioridade, muito além de qualquer possível e arriscado intimismo, é pôr-se em corajoso exercício de análise e levantamentos a respeito da constituição misericordiosa de si mesmo O coração do discípulo é visceralmente constituído dos sentimentos norteadores da competência de ver o outro e a ele não se fechar, mas sobre ele debruçar-se, comovendo-se, para atender-lhes demandas à luz do conhecimento de suas necessidades e carências”.

Falando da compaixão, afirmou que a mesma:

A compaixão é o selo, único e insubstituível selo de autenticidade, cujas raízes de exemplaridade se encontram no modo de ser do mestre Jesus, aquele que tem compaixão dos seus, ovelhas sem pastor, consciente de sua missão de ungido e enviado para anunciar a boa nova dos pobres, anunciar-lhes o ano da graça, em vez de cinzas, o óleo da alegria”.

Ao discípulo é indicado o caminho da resposta à inquietante interrogação, “como pode o amor de Deus permanecer nele?” Uma interrogação que há de ser o mais significativo incômodo existencial no processo diário de qualificação discipular.

Põe-se em questão uma indispensável envergadura que é projeto divino em nós:

“O princípio é lembrado em 1 Jo 3,1: ‘Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos’. Esta é a moldura da interpelação existencial posta pela Palavra de Deus agora proclamada.

Dom Walmor continuou afirmando que

Um holofote aceso iluminando a consciência humana interpela à percepção e impacto de sua condição, filho de Deus, considerado o presente grande dado pelo Pai: somos chamados filhos de Deus. E nós o somos… Esta condição gratuita e amorosa se impulsiona pelo princípio do amor cuja lógica há de ser considerada como condição de fomentar o novo em lugar do velho que corrompe (1 Jo 4, 10-11) ‘Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecadosPois esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns dos outros.’ Só esta é a escolha possível. Não há outra. A outra opção possível é o pecado. Ora, aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. (1 Jo 3,10-13)… Nisto se revela quem é filho de Deus e quem é filho do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como também não é de Deus quem não ama o seu irmão. Pois esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que, sendo do Maligno, matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do seu irmão eram justas.

E sublinhou o presidente da CNBB:

Clareia o horizonte interpelativo diário para nos incomodar e, amparados e fecundados pela graça de Deus, darmos conta do que nos compete, exatamente na contramão do possuir riquezas neste mundo e vê o seu irmão passar necessidade, mas diante dele fechar o seu coração. Somos desafiados a uma finesse relacional de modo que não amemos só com palavras e de boca, mas por ações e na verdade. A verdade de Cristo é sua compaixão, suas entranhas de misericórdia. E sempre exigente, porque diária e de todo momento, a tarefa de conseguir estar, existencialmente, dentro do princípio da qualificada filiação divina: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou. Não há outra alternativa senão amar de verdade, correndo sempre o risco de ser dada por descontada, por justificações ou comodidades, por incompetência relacional ou entupimentos humano afetivos, por estreitezas ou por mesquinhez. Nenhuma condição humana, com as circunstâncias que a configuram, está isenta do distanciamento do amor de verdade.” 

O arcebispo de Belo Horizonte também recordou o dia em que a Igreja faz memória de Santa Teresa, virgem e doutora da Igreja:

Parece oportuno reportar-nos ao que ela indica como exercício vivencial diário, o que constitui a dinâmica da primeira morada do Castelo Interior/Moradas, uma de suas obras clássicas: Ela descreve a primeira morada com a indicação de duas dinâmicas sempre e permanentemente fundamentais na conquista e manutenção da qualificação da condição de filhos e filhas de Deus, discípulos e discípulas de Jesus, para a competência de amar de verdade: Conhece te a ti mesmo e a humildade... Ela lembra que mesmo tendo alcançado, permanente ou momentaneamente, o matrimônio espiritual, intimidade fecunda no amor de Deus, por limitação do humano, escorregamos e caímos no estágio sempre primeiro que requer exercitar a humildade e o conhecimento de si mesmo. Ninguém pode alimentar a pretensão de ter ultrapassado o estágio deste exercício espiritual diário sob pena de ilusão, endurecimento que entope e produz a dureza de coração que prejudica os pobres, faz sombra à razão, faz gostar de títulos, privilégios e dos primeiros lugares, se deixando levar pela disputa ou tomado por indiferenças, incapacitando para o alcance de percepções para gestos concretos de solidariedade, desapego, simplicidade. Ao contrário, alimentando à semelhança do coração dos fariseus um coração duro, o gosto pelas filacterias, amigos do dinheiro, distanciados também da misericórdia, da justiça e da verdade.

E, concluiu dom Walmor:

Santa Madre Teresa nos indica este fecundo caminho, como exercício espiritual e existencial permanente, conhecer-se a si mesmo e a humildade para qualificar nossa cidadania e nos oportunizar, fecundados pela graça de Deus, a conquistar a envergadura de verdadeiros filhos e filhas de Deus, dando tecido bom à nossa cidadania, com força de testemunho transformador e profética atuação no mundo testemunhando o Reino”. 

Fonte:

www.vaticannews.va

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