sínodo da juventude – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 03 Apr 2019 01:02:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 sínodo da juventude – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Exortação “Cristo vive”: Jovens desejam «uma Igreja que escute mais»… https://observatoriodaevangelizacao.com/exortacao-cristo-vive-jovens-desejam-uma-igreja-que-escute-mais/ Wed, 03 Apr 2019 01:02:03 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=30235 [Leia mais...]]]> «Os jovens reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe a vida a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, nem tampouco que esteja sempre em guerra por dois ou três temas que são para ela uma obsessão», assinala Francisco na exortação apostólica “Cristo vive”, divulgada hoje pelo Vaticano.

Francisco defende que «para ser credível frente aos jovens, [a Igreja] por vezes, precisa de recuperar a humildade e simplesmente escutar, reconhecer, naquilo que os outros dizem, alguma luz que a ajude a descobrir melhor o Evangelho». 

«Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite que a ponham em questão, perde a juventude e converte-se num museu. Como poderá acolher, desse modo, os sonhos dos jovens?», questiona, antes de observar: «Mesmo que detenha a verdade do Evangelho, isso não significa que a tenha compreendido plenamente; pelo contrário, deve crescer continuamente na compreensão desse tesouro inesgotável».

No documento dirigido aos «jovens cristãos» e «a todo o Povo de Deus», porque a reflexão sobre a juventude «convoca e estimula a todos», o papa declara que se deixou «inspirar pela riqueza das reflexões e dos diálogos do Sínodo do ano passado», que de 3 a 28 de outubro debateu, no Vaticano, o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade»

«A minha palavra estará carregada de milhares de vozes de crentes do mundo inteiro que fizeram chegar as suas opiniões ao Sínodo. Mesmo os jovens não-crentes, que quiseram participar com as suas reflexões, apresentaram questões que suscitaram em mim novas interrogações», assinala. 

O texto, que seguramente inspirará a próxima Jornada Mundial da Juventude, que Lisboa vai acolher em 2022, é composto por 299 números, divididos em nove capítulos:

  • 1. O que diz a Palavra de Deus sobre os jovens?
  • 2. Jesus Cristo sempre jovem
  • 3. Vós sois o agora de Deus
  • 4. O grande anúncio para todos os jovens
  • 5. Caminhos de juventude
  • 6. Jovens com raízes»
  • 7. A Pastoral dos Jovens
  • 8. A vocação
  • 9. O discernimento

O «ambiente digital», «os migrantes» e o imperativo de «pôr termo a todo o tipo de abusos», com a convicção de que a «praga do clericalismo» é «o terreno fértil» para todas as «abominações», são questões especialmente desenvolvidas na exortação. 

São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade. Eles podem conferir à Igreja a beleza da juventude quando estimulam a sua capacidade de se alegrarem com aquilo que começa, de se darem sem recompensa, de se renovarem e de partirem de novo para novas conquistas», acentua.

Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?

Francisco revela que no Sínodo «foi reconhecido que um número consistente de jovens, por razões muito distintas, não pedem nada à Igreja porque não a consideram significativa para a sua existência», o que em parte de deve

  • «aos escândalos sexuais e econômicos»;
  • à «falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem captar adequadamente a sensibilidade dos jovens»;
  • ao «pouco cuidado na preparação da homilia e na explicação da Palavra de Deus»;
  • ao «papel passivo atribuído aos jovens dentro da comunidade cristã»;
  • à «dificuldade da Igreja em dar razão das suas posições doutrinais e éticas à sociedade contemporânea».

A mãe de Jesus, Maria, S. Sebastião, S. Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, Beato Andrés Phû Yên, Santa Catarina Tekakwitha, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, Beato Zeferino Namuncurá, Beato Isidoro Bakanja, Beato Pier Giorgio Frassati, Beato Marcel Callo e a Beata Chiara Badano, originários de vários continentes, são apontados como exemplos de santidade entre os jovens. 

Estas figuras mostram que, no seu tempo como agora e para sempre, o entusiasmo pela «vida comunitária» incentiva «grandes sacrifícios pelos outros», e, pelo contrário, o «isolamento» enfraquece e expõe o ser humano «aos piores males».

O documento recorda que «a Igreja sempre quis desenvolver espaços para a melhor cultura dos jovens» e confirma que «não deve renunciar a fazê-lo, porque os jovens têm direito a ela». E acrescenta: «Hoje em dia, sobretudo, o direito à cultura significa proteger a sabedoria, quer dizer, um saber humano que humaniza».

A exortação reconhece a existência de «uma pluralidade de mundos jovens» e pede aos católicos que não se acostumem aos «dramas» da juventude, «porque quem não sabe chorar não é mãe».

Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te!

«Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?», interroga. 

Se és jovem de idade, mas te sentes débil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove. Com Ele, não falta a esperança. O mesmo podes fazer se te sentes submergido nos vícios, nos maus costumes, no egoísmo ou na comodidade doentia. Jesus, cheio de vida, quer ajudar-te para que ser jovem valha a pena. Assim não privarás o mundo daquele contributo que só tu lhe podes dar, sendo único e irrepetível como és. 

Com efeito, a «primeira verdade» a anunciar é esta: «Deus ama-te. Se já o escutaste, não importa, eu quero recordar-te: Deus ama-te. Nunca o duvides, suceda o que te suceder na vida. Em qualquer circunstância, tu és infinitamente amado».

«Procuras paixão? Como diz aquele belo poema: Enamora-te! (ou deixa-te enamorar), porque nada pode ser mais importante do que encontrar Deus. Quer dizer, enamorar-se dele de uma forma definitiva e absoluta. Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te! Permanece no amor! E tudo será diferente», desafia Francisco. 

O papa conclui a exortação com uma certeza e um pedido: «A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegamos, tende paciência para esperar por nós».


Rui Jorge Martins 
Fonte: “Cristo vive”, ed. Paulinas Editora
Imagem: D.R. 
Publicado em 02.04.2019

Fonte:

www.snpcultura.org

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Sínodo: Dar a volta a uma Igreja em «débito de escuta» https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-dar-a-volta-a-uma-igreja-em-debito-de-escuta/ Fri, 05 Oct 2018 10:00:20 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29097 [Leia mais...]]]> sinodo-1200x762_c.jpg

«Comprometamo-nos por isso (…) a fazer sair deste sínodo não só um documento – que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos –, mas sobretudo propósitos pastorais concretos.»

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Foi assim que o papa abriu esta quarta-feira à tarde, no Vaticano, a primeira congregação geral da 25ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos, sobre “jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Perante os 267 padres sinodais que terminarão os trabalhos a 28 de outubro, Francisco agradeceu antes de tudo aos jovens «por terem querido apostar que vale a pena sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela».

Vale a pena, prosseguiu, tê-la «como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz, apesar das fragilidades humanas e as dificuldades, de brilhar e transmitir a perene mensagem de Cristo». «A nossa responsabilidade aqui, no sínodo, é de não os desmentir, antes, demonstrar que têm razão em apostar.»

O papa recordou aos presentes o que é e como pode decorrer o sínodo. Primeiro: é «viver um momento de partilha», onde «à coragem de falar deve corresponder a humildade do escutar». O sínodo «deve ser um exercício de diálogo, primeiro que tudo entre quantos nele participam», pelo que é preciso «acolher e compreender os outros», assim como «mudar as nossas convicções e posições», sinal «de grande maturidade humana e espiritual».

A seguir sublinhou que o sínodo é «um exercício eclesial de discernimento». Com efeito, apontou, «o discernimento não é um slogan publicitário, não é uma técnica organizativa, e muito menos uma moda deste pontificado, mas uma atitude interior que se radica num ato de fé».

Esta certeza funda-se na «convicção de que Deus opera na história do mundo, nos acontecimentos da vida, nas pessoas que encontro e que me falam. Por isso somos chamados a colocarmo-nos à escuta daquilo que o Espírito nos sugere, com modalidades e em direções muitas vezes imprevisíveis».

E porque a atenção à interioridade é a «chave para realizar o percurso do reconhecer, interpretar e optar», o papa determinou que durante os trabalhos se observe um momento de silêncio de cerca de três minutos a cada cinco intervenções. E se se quer ser sinal de uma Igreja «em escuta e a caminho», a atitude da escuta não poderá limitar-se às palavras que se trocarão durante os trabalhos.

A preparação para o sínodo «evidenciou uma Igreja em débito de escuta inclusive em relação aos jovens, que muitas vezes não se sentem compreendidos na sua originalidade e portanto não acolhidos por aquilo que são verdadeiramente e por vezes até repelidos por parte da Igreja», assinalou Francisco.

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Por isso, o sínodo «tem a oportunidade, a tarefa e o dever de ser sinal da Igreja que se coloca verdadeiramente à escuta, que se deixa interpelar pelas instâncias daqueles que encontra, que não tem sempre uma resposta pré-confecionada já pronta». Chegar a este fim significa «sair de preconceitos e estereótipos relativamente ao mundo juvenil» e deixar de o «descarregar, fechá-lo em reservas isoladas ou esnobá-lo».

Para o papa é preciso, por um lado, superar com decisão a chaga do clericalismo, «perversão e raiz de muitos males da Igreja de que temos de pedir perdão»: porque a escuta e a saída dos estereótipos são também um poderoso antídoto contra o risco do clericalismo, a que uma assembleia como a sinodal está inevitavelmente exposta, para além das intenções de cada participante. Por outro lado é preciso «curar o vírus da autossuficiência».

E se «gerar esperança, criar um imaginário positivo que ilumine as mentes e inspire aos jovens a visão de um futuro repleto da alegria do Evangelho» é o fim, para Francisco é preciso «não deixar-se tentar pelas “profecias da desgraça”, não gastar energias para contabilizar falhanços ou remoer amarguras», mas «ter fixo olhar no bem que muitas vezes não faz ruído, não é tema dos blogues nem chega às primeiras páginas», e nem sequer ficar atemorizado «perante as feridas da carne de Cristo, sempre infligidas pelo pecado, e não raro pelos filhos da Igreja».

(Os grifos e destaques são nossos.)
Stefania Falasca
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Masson/Bigstock.com
Publicado em 04.10.2018
Fonte:
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Sínodo 2018: « Deixemos para trás preconceitos e estereótipos» – Papa Francisco https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-2018-deixemos-para-tras-preconceitos-e-estereotipos-papa-francisco/ Thu, 04 Oct 2018 15:19:07 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29088 [Leia mais...]]]> Primeira reunião geral da assembleia sobre os jovens marcada por apelo à escuta e ao debate

Cidade do Vaticano, 03 out 2018 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que a nova assembleia sinodal, agora iniciada, deve apresentar um novo discurso em relação aos jovens e aos futuro, com atenção à realidade concreta, para superar “estereótipos”.

“Deixemos para trás preconceitos e estereótipos. Um primeiro passo rumo à escuta é libertar as nossas mentes e os nossos corações de preconceitos e estereótipos: quando pensamos já saber quem é o outro e o que quer, então teremos verdadeiramente dificuldade em escutá-lo seriamente”, apelou, na abertura da primeira reunião geral do Sínodo dos Bispos 2018, dedicado às novas gerações.

Francisco sublinhou o trabalho dos últimos dois anos, na preparação para esta assembleia sinodal, e agradeceu a participação dos jovens, convidando-os a acreditar na Igreja Católica.

A assembleia sinodal conta com 267 representantes dos episcopados católicos, além de especialistas e convidados, entre eles 34 jovens, com idades dos 18 aos 29 anos.

“O caminho de preparação para o Sínodo ensinou-nos que o universo juvenil é tão variado que não pode estar aqui totalmente representado, mas vós sois seguramente um sinal importante daquele. A vossa participação enche-nos de alegria e esperança”, disse o Papa.

O pontífice renovou o seu apelo a um debate sinodal sem medo, com diálogo e abertura à crítica honesta, “ao contrário das bisbilhotices inúteis, das murmurações, das ilações ou dos preconceitos”.

O Sínodo deve ser um exercício de diálogo, antes de mais nada entre os que participam nele. E o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à novidade, estar pronto a mudar a sua opinião face àquilo que ouviu dos outros”.

Francisco destacou a necessidade do “discernimento” – rejeitando que esta seja “uma moda deste pontificado” – como sinal de uma Igreja “à escuta e em caminho”, que se deixa interpelar pelos jovens e a sua realidade.

O Papa apelou ao diálogo entre gerações e disse que é preciso superar, na Igreja, “o flagelo do clericalismo” e o “vírus da autossuficiência e das conclusões precipitadas de muitos jovens”.

“Repudiar e rejeitar tudo o que foi transmitido ao longo dos séculos leva apenas àquele perigoso extravio que está, infelizmente, a ameaçar a nossa humanidade; leva ao estado de desilusão que invadiu os corações de gerações inteiras”, advertiu.

Francisco convidou a viver sem medo do futuro, desejando que o Sínodo produza não só um documento – “que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos”, lamentou -, mas sobretudo” propósitos pastorais concretos, capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões”.

A 15ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, decorre de hoje a 28 de outubro, por decisão do Papa Francisco.

O encontro conta pela primeira vez com a presença de dois bispos católicos da China, após o acordo provisório entre a Santa Sé e Pequim que visa regularizar a situação da comunidade eclesial no país asiático.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelos presidentes das Comissões que acompanham Pastoral Juvenil e Vocações: D. Joaquim Mendes – bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família – e D. António Augusto Azevedo – bispo auxiliar do Porto e presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios.

OC

Fonte:

agencia.ecclesia.pt

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Em busca de perspectivas para o Sínodo das Juventudes: que jovem? que sociedade? que Igreja? https://observatoriodaevangelizacao.com/em-busca-de-perspectivas-para-o-sinodo-das-juventudes-que-jovem-que-sociedade-que-igreja/ Thu, 04 Oct 2018 10:00:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29021 [Leia mais...]]]> Por uma Igreja libertadora e juventudes revolucionárias

 

Por   Glaucon Durães

O desafio das juventudes tem sido uma temática central e recorrente na dinâmica do pontificado do papa Francisco. De um modo mais contundente, agora, ele mobilizou toda a Igreja para acolher, ouvir e refletir sobre os anseios das juventudes cristãs católicas, em nível mundial, e os novos rumos que a Igreja deve tomar para ser fiel em sua missão. A Igreja, há quase um ano, se prepara para a realização da XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que acontecerá em outubro de 2018 e que traz como eixo norteador a fé e o discernimento vocacional dos jovens.

Mas, primeiramente, teçamos um olhar, ainda que panorâmico, para a história da Igreja. Que marcos significativos podem nos ajudar na compreensão da relação da Igreja com as juventudes?

 

São Luiz Gonzaga, padroeiro da juventude

Em 1726, o papa Bento XIII canonizou o jovem italiano Luiz Gonzaga (1568-1591) e proclamou-o padroeiro da juventude. Em 1926, o papa Pio XI realizou uma audiência, com cerca de 5000 jovens de todo o mundo, e reafirmou, por meio de uma Carta Apostólica, o título concedido a São Luiz Gonzaga dois séculos antes. É possível identificar duas perspectivas, ou melhor, duas construções imagéticas de jovem para a Igreja da época: o de razões eternas e o de razões temporais. O primeiro é dotado de virtude, doçura, alegria, inocência, pureza e que,  em meio à degeneração do mundo, espelha-se em São Luiz Gonzaga como “modelo ideal de todas as virtudes” e procura compor o “forte exército de paz da Sé Apostólica” para a reforma de um mundo em decadência. O segundo é aquele que não está aberto, ou que perdeu, ou ainda, que não tem a “dignidade e o mais belo ornamento da juventude, isto é, a ‘inocência da moral e castidade’”. Nessa perspectiva normativa e classificatória, São Luiz Gonzaga é apresentado como o tipo ideal de jovem de razões eternas. Porém, até este, não está livre de um sentimento de culpa advindo da indignidade humana, uma vez que, segundo o papa Pio XI:

ele não ignora a fraqueza natural de força humana e, especialmente cauteloso em si mesmo, ele tentou contar com a ajuda de Deus, rezando dia e noite por muitas horas sem interrupção, e para obter a misericórdia divina recorreu ao patrocínio da Virgem Mãe de Deus, de quem ele foi um dos devotos mais dedicados”.

Como se pode deduzir, o papa Pio XI apresentou uma visão dualista da realidade humana a partir de um olhar normativo que classifica e julga desde uma lógica singular. Com isso, é possível concluir que não se trata da humildade de um ser humano reconhecendo suas limitações humanas, mas sim, uma negação do humano respaldada na figura imagética de um jovem Santo que frente a sua suposta fraqueza humana natural, reza freneticamente, amedrontado e arrependido, pela misericórdia divina. E como se não bastasse sua reza incansável, recorre a um trunfo maior, a uma advogada que é a própria mãe do juiz.

 

O Concílio Vaticano II e o processo de renovação eclesial

Na década de 1960, a Igreja passou por extraordinário processo de renovação, cujo marco simbólico é reconhecido pelo evento Concílio Vaticano II (1962 a 1965): a abertura da Igreja para o mundo moderno. E novamente aí, ela voltou sua atenção para a juventude, isto é, para uma importante parcela da sociedade que vinha conquistado lugar em diversas instituições e espaços, mundo afora. Isso pode ser notado nos movimentos políticos e culturais, seja contra as drásticas consequências provocadas pela II Guerra Mundial (1939 a 1945), seja contra os impactos negativos promovidos pela globalização do sistema capitalista. Os jovens se tornaram atores sociais e políticos de tamanha relevância no cenário internacional, que a última mensagem do papa Paulo VI, em Concílio, foi destinada aos mesmos:

A Igreja, durante quatro anos, tem estado a trabalhar para um rejuvenescimento do seu rosto, para melhor responder à intenção do seu fundador, […] o Cristo eternamente jovem. E no termo desta importante «revisão de vida», volta-se para vós. É para vós, os jovens, especialmente para vós, que ela acaba de acender, pelo seu Concílio, uma luz: luz que iluminará o futuro, o vosso futuro. (Paulo VI, 08/12/ 1965)

Apesar do Concílio Vaticano II ter promovido uma mudança positiva na Igreja como um todo, a visão da Santa Sé em relação à juventude preservou muito dos antigos discursos dicotômicos e apaixonados dos papas sobre este setor da sociedade. Permanece em alguns pontífices, um olhar que se pretende universalista e inclusivo, tendo como referência um tipo ideal de jovem, mas que acaba por isso mesmo, por ser nivelador, gerando não reconhecimento de muitos, bem como exclusão, segregação, marginalização, estigmatização, preconceito e violência simbólica.

 

Do Concílio Vaticano II ao Sínodo da juventude em 2018

É possível identificar, no entanto, ao menos três momentos relacionais distintos entre a Igreja e a juventude após o Concilio Vaticano II até este Sínodo de 2018. O primeiro engloba o papado de Paulo VI (1963 a 1978), o concretizador do Concílio inaugurado por João XXIII; O segundo compreende o longo período do pontificado de João Paulo II (1978 a 2005) e o de Bento XVI (2005 a 2013); e o terceiro, ainda em andamento, é o inusitado do ministério do papa Francisco (2013 -).

 

a) Primeiro momento

Com Paulo VI, a Igreja se apresenta preocupada com o crescimento da influência, sobre os jovens, de filosofias que questionavam simultaneamente o poder infalível e imperial da Igreja e à exploração econômica e social do modelo de produção capitalista. Tendo este último, impulsionado o desencadeamento de várias crises internacionais e guerras no período.

Esta preocupação fica evidente na mensagem final do Concílio, em que o pontífice se dirige aos jovens sem reconhecer as responsabilidades da Igreja no desenrolar do processo histórico mundial, mas apontando incisivamente para os resultados negativos de práticas filosóficas emergentes no ocidente da época, caracterizando-as como geradoras de egoísmo e vazio. Isso, segundo o papa, a partir da centralização da cultura do prazer e da disseminação do ódio pela violência:

Tem confiança que vós encontrareis uma força e uma alegria tais que não chegareis a ser tentados, como alguns dos vossos antepassados, a ceder à sedução das filosofias do egoísmo e do prazer, ou às do desespero e do nada, e que perante o ateísmo, fenômeno de cansaço e de velhice, vós sabereis afirmar a vossa fé na vida e no que dá um sentido à vida: a certeza da existência de um Deus justo e bom. (Paulo VI, 08/12/ 1965).

E neste combate entra a Igreja de Roma e os movimentos sociopolíticos que lutavam pelos excluídos, ambas as partes jogaram pela janela, a água com a bacia e o bebê, não sendo capazes de se unirem e de se auto criticarem, como ocorreu na bem sucedida experiência da América Latina, em prol daqueles que eram da preferência de Jesus, de São Luiz Gonzaga e dos revolucionários: as pessoas excluídas, exploradas e estigmatizadas.

 

b) Segundo momento

Durante o pontificado de João Paulo II (1978 a 2005), a Igreja amplia suas redes de aproximação aos jovens do mundo inteiro, sobretudo com a criação das Jornadas Mundiais da Juventude, a partir de 20 de dezembro de 1985. João Paulo II corporifica a imagem do papa Pop, do papa para a juventude e do papa peregrino, a partir de sua história de vida, suas várias mensagens a juventude e suas viagens a diversas nações.

No entanto, este papado, expandido pelo de Bento XVI, inovam de forma conservadora, a imagem do jovem para a Igreja. A velha e cansada figura barroca de São Luiz Gonzaga perde a batina preta e branca de acólito europeu para ser revestida com a modernizante ideia de teor ideológico neoliberal, de que: “Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.”.

Esta ideia de jovens como santos modernos, se pretende novamente inclusiva, mas apresenta igualmente um olhar normativo e nivelador, estabelecendo um estereótipo de jovem que reflete, sobretudo, o “sonho americano” incisivamente vendido pelas campanhas publicitárias capitalistas internacionais, de viés neoliberal: o jovem high school musical; alegre, animado, descolado, com popularidade e que influencia os demais jovens de sua geração. Ou seja, é a nova figura do jovem ideal, eficiente para ir e fazer “discípulos em todas as nações”. Os jovens das massas que arrebata multidões.

O que se percebe em todos os discursos papais até aqui abordados, é a ideia de um jovem padrão a ser imitado e um jovem padrão com capacidade de influenciar e reproduzir seus padrões joviais de religiosidade conservadora. Isso é perceptível, por exemplo, pelo fato de não haver, nos mesmos discursos, uma valorização da figura de São Luiz Gonzaga como um nobre jovem que subverteu a ordem social da qual vivia, renegando as riquezas herdadas de sua família, para ir medicar doentes em situação de miséria. Há portanto, a construção da imagem de um jovem santo que tem mais valor por ter morrido virgem, do que por ter morrido doente, solitário e pobre, em meio ao que ele próprio escolheu como sentido missionário de sua vida: tratar de doenças de pessoas pobres, nas ruas italianas do século XIV.

As duas figuras de jovens, construídas pela Igreja ao longo do século, uma antiga e europeia e outra moderna e estadunidense, cumprem uma função colonialista e imperialista, nivelando a pluralidade dos jeitos de ser jovem, dos jovens das nações periféricas ao jovem ideal das nações centrais, e nivelando as juventudes periféricas das nações centrais ao jovem de classe média e alta das mesmas nações.

Nesse sentido, falta reciprocidade na relação entre Igreja e juventude, uma vez que a diversidade da juventude, isto é, as juventudes, são negadas em detrimento de uma única, tida como ideal. Ou seja, o jovem colocado como ideal para se transmitir uma experiência de fé pouco reflexiva, moldada em preconceitos, fundamentalismo, controle e vigilância. Uma experiência de fé alienadora e unilateral em suas compreensões a respeito da verdade transcendental.

 

c) Terceiro momento

Entretanto a XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos (2018) traz uma concepção de juventude que se pode considerar revolucionária dentro do contexto histórico da Igreja. Foi justamente da boca de um papa latino-americano, “do fim do mundo”, como Francisco se auto denominou no dia de sua posse, que o mundo inteiro ouviu:

Não! O Sínodo é o Sínodo para e de todos os jovens! Os jovens são protagonistas. Mas também os jovens que se sentem agnósticos? Sim. Mesmo os jovens que tem uma fé tépida? Sim. Também os jovens que se sentem distantes da igreja? Sim. Também os jovens que, não sei se há algum, mesmo que exista algum, os jovens que se sentem ateus? Sim.

(Papa Francisco).

Nesta fala, a Igreja enfim conseguiu ser acolhedora, inclusiva, não normativa, não niveladora, não colonizadora e imperialista, não preconceituosa, não juíza e não punitiva, pois além de colocar os jovens como protagonistas do Sínodo e não apenas como receptáculos de discursos elaborados por bispos, reconhece também as diversidades e as singularidades das diversas juventudes católicas e não católicas de todo o mundo.

O Sínodo pede mais, pede ações concretas das juventudes perante a vida e o mundo líquido, concretiza como vocação e vocação como ações que refletem os sinais do Amor Transcendental em cada ser. Amor este que impulsiona todos jovens a lutar pela promoção da dignidade humana de cada pessoa, pela libertação dos marginalizados e explorados, pelo cuidado amoroso com a nossa casa comum, o planeta Terra, em todas as suas dimensões biológicas-naturais e socioculturais.

Por fim, este Sínodo representa uma das maiores expressões do nascimento de uma nova Igreja, desde o Concílio Vaticano II. Uma Igreja mãe e não juíza arbitrária, uma Igreja libertadora e não alienadora, uma Igreja que se compadeça das dores das juventudes, sobretudo as excluídas e estigmatizadas, e enxergue nelas, a face ferida do Cristo que sofreu nas mãos de tiranos e opressores, à miséria e a vaidade humana.

Que o Reino de Deus se cumpra também aqui neste mundo concreto, com pessoas de carne e osso que concretizam uma caminhada, com altos e baixos, acertos e erros. Que tenhamos sabedoria para ajudar os jovens, e os povos da Terra inteira, a se libertarem das alienações e explorações e avançarem passos concretos na conquista de uma vida que valha a pena e em busca do amor e da alegria de compartilhar a fé e a vida em comunidades fraternas, acolhedoras e inclusivas.

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Glaucon Durães

Formado em Ciências Sociais pela PUC Minas

Membro da equipe de colaboradores jovens do Observatório da Evangelização

 

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Um sério alerta para o Sínodo dos jovens https://observatoriodaevangelizacao.com/um-serio-alerta-para-o-sinodo-dos-jovens/ Mon, 01 Oct 2018 15:41:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=29056 [Leia mais...]]]> Sínodo: existe uma proposta para os jovens?

 

A leitura do mundo juvenil pressupunha uma leitura dolorosa, mas real – como o Papa Francisco insiste muitas vezes – do mundo atual”.

 

A opinião é de Vinicio Albanesi, padre e professor do Instituto Teologico Marchigiano, presidente da Comunidade de Capodarco desde 1994 e fundador da agência jornalística Redattore Sociale e, junto com o Pe. Luigi Ciotti, da Coordenação Nacional das Comunidades de Acolhida (CNCA) da Itália.

(O artigo foi publicado em Settimana News, 30/09/2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.)

Com experiência limitada aos jovens “difíceis” (toxicodependentes, migrantes, mulheres solitárias, crianças abandonadas…), a minha leitura dos documentos preparatórios do Sínodo não desperta nem alegria nem curiosidade.

Lendo o documento preparatório e o Instrumentum laboris, as sensações são ambivalentes. 

O esforço, depois da Evangelii gaudium do papa Francisco e dos dois sínodos sobre a família, de se ocupar com os jovens certamente é louvável. Os jovens fazem parte do futuro e, mesmo que hoje tenham responsabilidades limitadas, proporcionais à sua idade, o futuro depende deles; quando se tornarem adultos, terão que enfrentar a vida e também… os jovens que sobreviverem. Portanto, era justo que um Sínodo da Igreja universal se ocupasse deles.

 

Dialogar sobre coisas concretas

O esforço de leitura da condição juvenil é completo e correto. O único limite é que parece uma leitura anônima; também científica, como o evento Sínodo permite; infelizmente, o diálogo com os jovens assim estabelecido nunca funcionará: isso não significa que a reflexão sobre a idade juvenil não ajude os adultos e toda a Igreja. O diálogo pressupõe a relação. Nesse caso, por um lado, o solene aparato da Igreja Católica e, por outro, o imenso grupo de jovens que habitam o mundo.

Descrever esse mundo não é suficiente; no máximo, uma atenção “devida”, mesmo que apreciada para alguns.

Não se pode falar de outros sem um feeling mínimo com os interlocutores, construído com humildade e disponibilidade: prevendo também a rejeição.

Os adultos do Sínodo nunca falam de si mesmos. São descritas as condições de dificuldade daqueles que devem enfrentar a vida, sem uma referência de responsabilidade àqueles que prepararam esse mundo difícil para elesOs jovens estão em linha direta com aqueles que os fizeram nascer, cuidaram deles e lhes prepararam o mundo que conhecemos. Eu acredito que seja correto pedir perdão por aquilo que não foi feito ou foi feito mal. É um passo indispensável para quem deve enfrentar a vida.

Os âmbitos são muitos: da família à escola, da cidade à nação, do próprio país ao mundo inteiro. Menciona-se nos documentos a internet.

  • Como um jovem conectado da África ou do Extremo Oriente pode aceitar que, na nossa Europa, exista um bloqueio das entradas?

Esse/a jovem busca um futuro melhor que lhe é negado por aqueles que – tendo-se declarado cristãos – fazem de tudo, até mesmo às custas de vê-lo/a morrer, para não ajudá-lo/a.

  • Que dor sofre um/a jovem que vê os próprios pais se separando, quando precisam de apoio e de proximidade?
  • Como é possível aceitar a evolução do último iPhone de mais de mil euros, diante de pobrezas extremas até a morte?

A leitura do mundo juvenil pressupunha uma leitura dolorosa, mas real – como o papa Francisco insiste muitas vezes – do mundo atual.

A subestimação dos escândalos dentro da Igreja, pouco mencionados, não predispõe ao diálogo jovens-adultos. O jovem, precisamente pelo seu jeito de viver as coisas, quer clareza, distinguindo claramente entre o bem e o mal.

 

Faltam propostas

Na segunda parte, dedicada à fé e ao discernimento vocacional.

Não se pode responder citando Santo Irineu de Lyon, Jeremias ou o Livro dos Provérbios. Não é um ultraje à doutrina ou à Sagrada Escritura: é apenas situar mal referências que estão ao alcance apenas de alguns milhares de rapazes e moças orientados à vida religiosa.

A observação nua e crua é que a Igreja atual não tem propostas precisas. Reconhece-se isso nos documentos. Quando alguém falou de “Jesus jovem”? A preocupação teológica é orientada por sínteses antropológicas já relegadas entre os “adeptos aos trabalhos”.

Jesus é sacerdote, profeta e rei. Essas abordagens são simplesmente desconhecidas para as gerações mais jovens, porque a linguagem verdadeira e autêntica da tradição cristã foi elaborada em contextos hoje inexistentes. Basta pensar no conceito de pessoa utilizado para o mistério da Trindade.

O medo (e a preguiça) da proposta de fé, adequada ao mundo que muda, impediu a leitura vital do grande sonho do cristianismo.

 

Amar a Deus e aos outros

Por fim, a proposta.

Acredito que se deva recomeçar a partir das virtudes esquecidas ou contrapostas à cultura dominante. Afinal, o cristianismo é uma religião única porque não propõe nenhum mandamento. Ele faz uma proposta: amar a Deus e aos outros.

O Deus cristão é um pai amoroso, paciente e benigno. Criou o mundo como uma maravilha, embora limitado. Doou dois dons infinitos: a dignidade de cada criatura e a liberdade: do universo à terra, das plantas aos animais, oferecendo ao homem e à mulher o cuidado da vida, deles e daqueles que estão ao seu redor.

Em relação às outras criaturas humanas, ele recomendou que se comportassem como cada um espera para si mesmo: ser escutado, acolhido, ajudado, com mansidão, gratuidade, reconhecimento, perdão. Afinal, ele ditou regras de uma convivência pacífica e justa.

Descobrir esse rosto dá sentido ao porquê as pessoas se comportam de outro modo. Nesse ponto, é possível falar de Jesus, da história que o precedeu e da Igreja que se inspira na sua mensagem. É um sonho porque as contradições são infinitas, embora acompanhadas de heroísmos e de testemunhas exemplares.

Que o Sínodo seja uma oportunidade para todos, cristãos ou não, para prometer que não se percam as indicações do grande Mestre, convocando aqueles que desejam o bem da humanidade.

Seria bonito, ao término do Sínodo, um apelo sincero e leal, indicando temas que são caros às gerações mais jovens: o ambiente, a paridade, os recursos para todos, o respeito recíproco.

Um último detalhe: se se quer falar com os jovens, é preciso se adequar ao seu esquema mental e às suas linguagens. A preocupação da completude e da ortodoxia não deve prevalecer sobre uma abordagem amorosa e benevolente.

Que a mudança de estilo e de conteúdos não seja apenas para os jovens interlocutores do Sínodo, mas também para todos os cristãos.

Afinal, somos os únicos – apesar das contradições – a querer agir gratuitamente pelo bem-estar de qualquer um. Não é pouca coisa em um mundo globalizado e mercantilizado que deixa pouco espaço para as emoções e as afetividades.

 

Fonte:

IHU

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Sínodo dos jovens: sete palavras-chave do Instrumento de trabalho https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-dos-jovens-sete-palavras-chave-do-instrumento-de-trabalho/ https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-dos-jovens-sete-palavras-chave-do-instrumento-de-trabalho/#comments Wed, 20 Jun 2018 10:00:32 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28462 [Leia mais...]]]> Publicado o Documento de trabalho da XV Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos, programado no Vaticano de 3 a 28 de outubro, sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Isabella Piro – Cidade do Vaticano

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Um bilhão e 800 mil pessoas entre 16 e 29 anos, isto é, ¼ da humanidade, são os jovens do mundo. No Instrumento de Trabalho do próximo Sínodo sobre a juventude, publicado esta terça-feira (19/06), os padres sinodais poderão encontrar a descrição de sua variedade, suas esperanças e dificuldades.

O Instrumentum Laboris é o momento de convergência da escuta de todos os componentes da Igreja e também de vozes que não pertencem a ela.

Estruturado em três partes – reconhecer, interpretar e escolher – o Documento busca oferecer as chaves de leitura da realidade juvenil, baseando-se em diferentes fontes, entre as quais um Questionário on line que reuniu as respostas de mais de 100 mil jovens.

Que querem os jovens da Igreja

Portanto, o que querem os jovens de hoje? Sobretudo, o que buscam na Igreja? Em primeiro lugar, desejam uma “Igreja autêntica”, que brilhe por “exemplaridade, competência, corresponsabilidade e solidez cultural”, uma Igreja que compartilhe “sua situação de vida à luz do Evangelho ao invés de fazer pregações”, uma Igreja que seja “transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa, acessível, alegre e interativa”. Enfim: uma Igreja “menos institucional e mais relacional, capaz de acolher sem julgar previamente, amiga e próxima, acolhedora e misericordiosa”.

Tolerância zero

Mas há também quem não pede nada à Igreja ou pede que seja deixado em paz, considerando-a um interlocutor não significativo ou uma presença que “incomoda e irrita”. Um motivo para essa atitude está nos casos de escândalos sexuais e econômicos, sobre os quais os jovens pedem à Igreja que “reforce sua política de tolerância zero”.

Outro motivo está no despreparo dos ministros ordenados e na dificuldade da Igreja em explicar o motivo das próprias posições doutrinais e éticas diante da sociedade contemporânea.

 

Sete palavras

Tudo isso se articula em sete palavras que o Istrumentum Laboris assim classificou:

  1. Escuta: os jovens querem ser ouvidos com empatia;
  2. Acompanhamento: espiritual, psicológico, formativo, familiar e vocacional;
  3. Conversão: seja de tipo religioso, sistêmico, ecológico e cultural;
  4. Discernimento: uma das palavras mais usadas no Documento, seja no sentido de uma “Igreja em saída” para responder às exigências dos jovens, seja como dinâmica espiritual;
  5. Desafios: discriminações religiosas, racismo, precariedade no trabalho, pobreza, dependência de drogas e álcool, bullying, exploração sexual, corrupção, tráfico de pessoas, educação e solidão;
  6. Vocação: repensar a pastoral juvenil;
  7. Santidade: o Documento sinodal se concluiu com uma reflexão sobre a santidade, “porque a juventude é um tempo para a santidade”. Que a vida dos santos inspire os jovens de hoje a “cultivar a esperança” para que – como escreve o Papa Francisco na oração final do Documento – os jovens, “com coragem, tomem as rédeas de sua vida, almejem as coisas mais belas e mais profundas e mantenham sempre um coração livre”.

 

Fonte:

Vaticanews

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https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodo-dos-jovens-sete-palavras-chave-do-instrumento-de-trabalho/feed/ 1 28462
Vem aí: Sínodo dos Jovens! https://observatoriodaevangelizacao.com/vem-ai-sinodo-para-a-juventude/ Mon, 20 Nov 2017 03:51:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=26778 [Leia mais...]]]> “A estratégia levada à frente por Francisco é de confirmação de uma Igreja sinodal. Uma Igreja que está atenta a perceber os sinais de Deus na história e, neste caso, na vida da Juventude, com a participação de todos. As consultas não serão só aos jovens que estão nas comunidades eclesiais católicas; mas também àqueles que se dizem ateus, aos que estão nas periferias, grandes centros, nas outras comunidades cristãs, nas outras religiões e assim por diante. É tempo indispensável de escuta da Juventude.”

 

Opção Preferencial pelos Jovens

Pe. Matias Soares

A Igreja prepara-se para celebrar o Sínodo para a Juventude (10/2018), com o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Há que ser destacado, contudo, que a opção preferencial pelos jovens já fora assumida pela III Conferência Episcopal Latino-Americana, em Puebla (1979). Posteriormente, com as Jornadas Mundiais da Juventude, São João Paulo II sinalizou essa atenção urgente que a Igreja devia dar aos jovens. Entretanto, a ação ficou na grande mobilização. Sempre houve o questionamento de como as Igrejas Particulares, e aqui as dioceses, assumiriam essa opção, no continente latino-americano e nas demais realidades. Há falas contundentes do Papa Francisco em incentivar à Juventude a assumir o seu protagonismo e capacidade de transformação das situações, à luz do Evangelho.

Ainda sobre a Conferência de Puebla, no México, a Instrução acerca de Alguns Aspectos da Teologia da Libertação, em (1984), assinala: “Lembremos que a opção preferencial, definida em Puebla é dupla: pelos Pobres e pelos Jovens. É significativo que a opção pela Juventude seja de maneira geral, totalmente silenciada” (VI, 6). Essa constatação é sintomática e nos leva a repensar seriamente sobre as práticas pastorais que tivemos no passado e o porquê do “silêncio” na atenção que deveria ter sido dada à Juventude.

Em pesquisa que saiu recentemente sobre a procura de jovens pelas comunidades protestantes, alguns questionamentos sobre tal fenômeno deveriam nos chamar à atenção. O que podemos constatar é que a Juventude deseja participar da experiência de comunidade, como os demais seres humanos. Essa dimensão antropológica é importante para que não estigmatizemos os jovens com preconceitos que não dizem nada sobre o anseio que eles têm de preencher sua busca pelo sentido da existência, pessoal e comunitário.

A convocação do Sínodo é uma atitude querida pelo Papa Francisco, que nos trará questões fundamentais para toda a vida pastoral da Igreja, nesta opção que a mesma Igreja é agora universalmente chamada a assumir. Não será um evento sem perspectivas; mas, ao contrário, nos trará incentivos e possibilidades de amadurecimento na ação missionária junto à Juventude. O empenho de todos os que compõem o povo de Deus é condição sem a qual essa atenção, maternal e acolhedora, não terá o êxito querido pelo Santo Padre.

A estratégia levada à frente por Francisco é de confirmação de uma Igreja sinodal. Uma Igreja que está atenta a perceber os sinais de Deus na história e, neste caso, na vida da Juventude, com a participação de todos. As consultas não serão só aos jovens que estão nas comunidades eclesiais católicas; mas também àqueles que se dizem ateus, aos que estão nas periferias, grandes centros, nas outras comunidades cristãs, nas outras religiões e assim por diante. É tempo indispensável de escuta da Juventude. É tempo de ouvir o que essa maravilhosa Juventude, portadora da esperança, tem a dizer à Igreja e ao Mundo, com coragem, determinação e consciência do próprio protagonismo. A Igreja e as demais Instituições precisam ter clareza de que o que está em jogo é o futuro da própria sociedade e o bem dos jovens.

Por fim, vamos fazer esse caminho juntos. Jovens e demais homens e mulheres de boa vontade, que sabem e acreditam na força dos jovens. Nunca é em vão dizer para essa amada Juventude: Nós confiamos em vocês, digam neste momento da História o que vocês esperam e o que desejam ser no presente e no futuro; invadam a Igreja e sejam senhores deste Mundo que precisa de tudo o que vocês têm de melhor, que é a sua alegria, esperança, força e desejo de amar e ser amados. Assim o seja!

Nosso colaborador Matias Soares, mestrando em Teologia MoralIMG_8630 na Universidade Gregoriana, em Roma, é presbítero da Arquidiocese de Natal / RN.

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