Sínodalidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 26 Apr 2024 18:16:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Sínodalidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Uma Igreja sinodal em missão https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-igreja-sinodal-em-missao/ Fri, 26 Apr 2024 18:16:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49834 [Leia mais...]]]>

Uma Igreja Sinodal em Missão – Cartilha

Conheça a Cartilha “Igreja Sinodal em Missão” organizada pelo CNLB, Caritas Brasileira e CCB Jesuítas – Uma reflexão sobre a sinodalidade!

O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a Caritas Brasileira e o Centro Cultural de Brasília (Jesuítas – Companhia de Jesus) lançaram a cartilha “UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO”. É possível fazer o download na versão digital bem como na versão para impressão, no site do CNLB.

A presidente do CNLB lembrou que a ideia de fazer uma cartilha para rezar e estudar o documento síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade surgiu em uma reunião do CNLB. “O Colegiado Deliberativo do Conselho fez a indicação de procurarmos a Caritas Brasileira e os Jesuíta para construção desse instrumento de oração, estudo e reflexão”, enfatizou Sônia Gomes.

Padre Miguel Martins, jesuíta, tem a expectativa de que, de modo especial, os cristãos leigos e leigas, possam se utilizar dessa cartilha se apropriar dos conteúdos do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “O processo sinodal não é um evento. É um modo de ser Igreja que inclusive nós aqui no Brasil já vivemos. Mas precisamos reavivar isso, esse modo de ser igreja, que é um modo de participação de todos, para que todos tenham voz e vez”, destacou o jesuíta.

Marilza Schuina da Comissão de Assessoria Permanente (CAP) do CNLB lembra que a cartilha quer ajudar a aprofundar as questões que o Sínodo sobre Sinodalidade aponta a partir da realidade em que vivemos. “Nossa expectativa é que esta cartilha favoreça que os cristãos leigos e leigas, nas comunidades, movimentos e pastorais possam refletir sobre os temas apresentados no relatório síntese da primeira sessão sinodal”, finalizou Schuina.

 

O porquê da Cartilha “Uma Igreja Sinodal em Missão” …

Este subsídio deve ajudar as pessoas por meio da leitura orante, dos círculos bíblicos, textos, cantos e outros instrumento para uma reflexão orante do relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade. “Aproximar aqueles e aquelas dos mais distantes lugares para refletir e ler o relatório síntese, entender o que é uma Igreja sinodal e assim ajudar a viver esse jeito de ser Igreja na prática”, destacou Sônia Gomes.

Já Marilza Schuina reforça que o objetivo da Cartilha não é apenas responder as questões do relatório, mas refletir e debater como podemos ser uma Igreja verdadeiramente Sinodal na sua essência, uma Igreja povo de Deus, de comunhão, participação e missão.

Como utilizar a Cartilha?

A Cartilha tem linguagem de fácil entendimento e muito simples de utilizar. Assim sendo, o jesuíta Miguel Martins, nos lembra que esse instrumento pode ser usado nos encontros dos grupos de jovens, das pastorais, dos movimentos, das CEBs. São 20 capítulos com temas ligados ao relatório síntese da 1ª Sessão do Sínodo da Sinodalidade. “Os animadores de comunidades, lideranças das pastorais, organismos, serviços, movimentos e demais forças vivas da Igreja são sujeitos eclesiais que podem liderar essa reflexão em seus espaços e assim ajudar na espiritualidade sinodal, nosso jeito de viver a fé”, reforçou padre Miguel.

Sônia Gomes nos lembra que a Cartilha pode ser usada em todos os espaços que participamos inclusive nos novos areópagos como a internet. “A cartilha pode inclusive ser usada em nossas reuniões virtuais para reflexão da Igreja Sinodal em comunhão com o Sínodo da Sinodalidade”, finalizou a presidente do CNLB.

Fonte: Conselho Nacional do Laicato do Brasil

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Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-experiencia-sinodal-na-igreja-do-brasil-2/ Thu, 25 Apr 2024 18:10:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49792 [Leia mais...]]]> Neste texto, Neuza Mafra nos apresenta “Uma experiência sinodal na Igreja do Brasil”. Trata-se do Sínodo da Diocese de Tubarão, que foi uma proposta “gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral”, com a missão de transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II”. Não é exatamente isso que o papa Francisco vem impulsionando com o seu projeto de reforma da Igreja, de modo especial, com o Sínodo sobre a sinodalidade? 

Este é um texto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, que publica quinzenalmente em diversas mídias católicas textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

 

UMA EXPERIÊNCIA SINODAL NA IGREJA DO BRASIL

 “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro milênio!” 

Papa Francisco

Por Neuza Mafra

Capa do Documento de Trabalho do Sínodo da Diocese de Tubarão.

O papa Francisco tem afirmado que a sinodalidade é uma dimensão constitutiva na vida da Igreja. Ou seja, é da sua natureza, o “caminhar juntos” dos irmãos e irmãs que acolhem o chamado de fazer parte do Povo de Deus e participar de sua missão. Daí a necessidade de realizar “sínodos” ao longo da caminhada, através de Assembleias Eclesiais para discernir, à luz da Palavra de Deus, questões pastorais, litúrgicas, doutrinais, que expressem o “modus vivendi et operandi da Igreja povo de Deus”. Esses são momentos específicos para tratar de determinados assuntos significativos para a caminhada, para tomadas de decisões conjuntamente. Evidencia, portanto, que a prática sinodal é recorrente na caminhada histórica da Igreja, inspirada na vivência das Primeiras Comunidades Cristãs, manifestações significativas inspiradas e referenciais da vida eclesial dos primeiros séculos. Não é uma invenção do papado de Francisco. Ele apenas deseja recuperar o que o próprio Concílio Vaticano II propôs.

Na caminhada recente da Igreja do Brasil, inúmeros eventos sinalizam essa prática: as Assembleias do Povo de Deus, as Conferências Episcopais, os Sínodos Diocesanos…

Voltemos em meados dos anos de 1984-1986, na Diocese de Tubarão, sul de Santa Catarina, onde se realizou o Sínodo Diocesano de Planejamento Participativo. Ele nasceu sob as inspirações do Concílio Vaticano II (1962-1965), das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979) e da organização da CNBB, no contexto da busca de uma pastoral de conjunto, como resposta ao cenário que naquele momento se apresentava na esfera eclesial. Uma experiência sinodal muito significativa que pode servir de inspiração profética para o nosso tempo. Vejamos.

 

Cenário eclesial da Diocese de Tubarão

O Sínodo da Diocese de Tubarão está situado no contexto histórico, social e eclesial dos anos de 1980. Passados vinte anos do Concílio Vaticano II, discernia-se que era chegado o momento da Igreja de Tubarão alinhar-se às perspectivas do grande Concílio. Isso porque, até então, as suas propostas e definições pastorais para a Igreja haviam chegado muito pouco à Diocese de Tubarão.

Mesmo com a reforma litúrgica e a catequese renovada, e embora já houvesse uma estrutura organizativa na Diocese de Tubarão, como o Secretariado Diocesano de Pastoral, a elaboração de planos de pastoral de conjunto, uma coordenação diocesana colegiada e também muitos setores de pastoral, a atividade eclesial ainda era desenvolvida numa perspectiva ad intra, a pastoral continuava centralizada nos padres e nas paróquias, em torno da sacramentalização e da Igreja-matriz, com a “pastoral de conservação”. Os movimentos eclesiais cresciam e multiplicavam-se, e mesmo tendo vida própria e participando pouco dos espaços de comunhão da Diocese, tinham a bênção do poder central da Igreja. Há que se considerar que houve um esforço na superação dessas práticas pré-conciliares, mas os resultados eram pequenos e estavam longe de caminhar numa perspectiva mais libertadora, voltada para a opção preferencial pelos pobres e com atuação no meio popular.

Da parte dos leigos e leigas, era nítido o desejo de pertencer a uma Igreja “Povo de Deus”, toda ministerial, servidora e comprometida com a vida e com os pobres, em diálogo com o mundo e, consciente de sua dimensão histórica. Contudo, estes ainda não se compreendiam como sujeitos eclesiais.

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs se apresentavam como uma promessa de renovação eclesial: fomentava-se Grupos de Reflexão em torno na Palavra de Deus, como sementeiras a fazer surgir novas lideranças, organização de projetos e lutas em defesa da vida, e futuras Comunidades Eclesiais de Base. Essa imagem de uma Igreja que emerge das bases, de baixo para cima, das periferias, era o horizonte desejado pelo Sínodo de Planejamento Participativo da Diocese de Tubarão.

 

A tomada de decisão 

A proposta de um Sínodo na Diocese foi gestada aos poucos no Conselho Diocesano de Pastoral, amparada pelas comarcas (regiões pastorais), paróquias, comunidades e pastorais, através de consultas, sendo assumida concretamente por todos numa Assembleia Diocesana de Pastoral (cf.: ASDT, 1985, v. 1, f.70).

 

O lema e os objetivos do Sínodo

A consulta feita às bases resultou num acúmulo de 50 sugestões vindas de toda a Diocese que apontavam para um lema: “Igreja, Povo a caminho da libertação” (ASDT, 1985, v. 2, f.14). Como dissemos, havia a preocupação em transformar a realidade social/eclesial à luz do Concílio Vaticano II.

Para fazer isso implicava olhar, profunda e atentamente, a realidade, suscitar pessoas, nos mais diferentes ambientes e situações, que assumissem um compromisso, ou seja, multiplicar lideranças. Para isso, foram assumidos os seguintes objetivos para o Sínodo:

  • 1º Elaborar um plano de pastoral;
  • 2º Tentar adaptar a Igreja aos novos tempos;
  • 3º Dar mais voz e vez aos leigos/as na Igreja;
  • 4º Conhecer a realidade global;
  • 5º Fazer um planejamento participativo e orgânico;
  • 6º Fazer do planejar um evangelizar. (DF, 75, 1983, p.2-7).

O número de participantes no Sínodo teve um tom de legitimidade: “será uma convocação de todas as pessoas, grupos e comunidades das cinquenta e três (53) paróquias que compõem a Diocese” (ASDT, 1985, v. 1, f. 7).

 

O que o Sínodo fortaleceu

Durante seu processo, a formação para a sinodalidade fervilhava por todos os lugares. Era comum ver leigos/as participando de formações lideradas pelos padres, e também os padres participando de formações lideradas pelos leigos/as.

O processo de planejamento participativo, com a metodologia assumida no Sínodo da Diocese de Tubarão, apontava os novos caminhos para a Igreja diocesana, firmando a eclesiologia do “Povo de Deus”.

Essa prática fortaleceu as instâncias de comunhão, participação e missão que estavam no bojo de todo o processo sinodal, tais como:

  • os Conselhos de Pastoral, em todas as instâncias, com a descentralização do poder nas tomadas de decisões e encaminhamentos;
  • as Assembleias em todas as instâncias, como órgãos máximos de tomada de decisão;
  • Conselho de Leigos/as;
  • Associação dos Presbíteros;
  • Escola de Teologia para Leigos e Leigas;
  • os Cursos de Capacitação;
  • bem como, outras forças vivas.

O Sínodo constituiu-se num processo vivo e criativo de renovação. Por meio dele algumas conquistas foram reafirmadas e passos concretos foram dados. A busca por respostas novas foi marcada por momentos de tensões, de incertezas e de conflitos, o que exigiu uma conversão pessoal e pastoral. E sempre exigirá.

Entre a implementação do processo do Sínodo, a organização, a realização e o pós-sínodo, enquanto momento próprio para a sua recepção na vida e no dinamismo concreto da Igreja, há uma caminhada de muitos passos. Exige espaço e tempo de reflexão, aprofundamento, abertura e paciência histórica, conflitos e discernimento de novos desafios que se apresentam. Não podemos esquecer que a Igreja é Povo de Deus que caminha rumo a libertação. E da caminhada da Igreja, como nos ensina o Concílio, se exige dupla fidelidade: primeiro, ao Evangelho e a Tradição da Igreja, segundo, ao tempo de hoje.

Talvez esteja na hora da Diocese de Tubarão realizar um novo sínodo!

Bibliografia:

  1. Compêndio dos Documentos do Sínodo de Planejamento Participativo 1984-1986;
  2. Anotações da Tese de Doutorado de Pe. Pedro Paulo das Neves;

(Os grifos são nossos.)

Neuza Mafra é pedagoga, com pós-graduação em Doutrina Social da Igreja. Trabalha na Cáritas, faz parte da Ampliada das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e é colunista do Portal das CEBs.
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Dom Luis Marín: Sinodalidade, um processo espiritual e eclesial onde ninguém é excluído. https://observatoriodaevangelizacao.com/dom-luis-marin-sinodalidade-um-processo-espiritual-e-eclesial-onde-ninguem-e-excluido/ Thu, 03 Nov 2022 22:19:24 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46375 [Leia mais...]]]> No Angelus de 16 de outubro, o Papa Francisco anunciou que a Assembleia Sinodal para os Bispos do Sínodo sobre a Sinodalidade acontecerá em duas etapas, a já marcada para outubro de 2023, de 4 a 29, e uma segunda em outubro de 2024. Não é o Sínodo da Igreja como tal que foi  estendido, mas a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, de acordo com Dom Luis Marín de San Martín.

O Sínodo já está em andamento

O bispo agostiniano sublinha que “o Papa não ampliou o Sínodo, porque não precisa ampliá-lo, pois é a Igreja, a Igreja inteira, que é sinodal. Para perceber isso, basta ler os Padres e estudar a história, desde os primeiros tempos do cristianismo até o Concílio Vaticano II”. Portanto, se a Igreja é sempre e toda sinodal, “não é possível identificar o sínodo ou a sinodalidade somente com os bispos”. O processo em andamento está orientado “para fortalecer a realidade sinodal da Igreja e o que ela implica para todos os batizados. Já estamos no Sínodo, não em sua preparação”.

Neste sentido, Dom Marín de San Martín sublinha que “o que o Papa ampliou de fato foi o tempo da Assembleia do Sínodo dos Bispos”, mais um elemento, “muito importante, mas mais um elemento, em uma Igreja que é constitutivamente sinodal”. E especifica que “não haverá duas assembleias diferentes, como foi o caso do Sínodo da Família (uma extraordinária e outra ordinária), mas uma única Assembleia, a mesma Assembleia, em duas sessões”.

As razões para uma extensão

Esta iniciativa foi tomada pelo Papa Francisco, diz o subsecretário do Sínodo, “considerando a importância do desenvolvimento da sinodalidade e o quanto é essencial realizar um discernimento calmo, profundo e sereno, ouvindo o Espírito”. O objetivo é tornar o lema do Sínodo uma realidade: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Não é uma questão de “manter o dossiê”, diz ele. “O Papa quer cuidar da qualidade deste processo”, porque “a pressa é sempre um mau conselheiro.  Algo importante precisa de tempo. Não podemos ir a um ritmo rápido, com etapas de queima às vezes em períodos muito curtos”. Neste sentido, é fundamental “ter paz e tranquilidade e tempo para discernir juntos, ouvir a voz do Espírito, escutar uns aos outros, ver quais realidades precisam ser fortalecidas, quais outras precisam ser mudadas, quais precisam ser vividas de uma maneira diferente. E, desta forma, tomar decisões”.

Buscamos “coerência, sempre em unidade com Cristo e com nossos irmãos e irmãs. A partir disto deve fluir um claro impulso evangelizador”. O prelado agostiniano considera muito importante “não nos fecharmos em nossos títulos, mas, ao contrário, sairmos para evangelizar, como fizeram os primeiros cristãos: com palavra, testemunho e vida. Envolvendo a todos, respeitando os diferentes carismas e vocações, curando as feridas. Passando de uma perspectiva estática e defensiva para uma perspectiva dinâmica e integradora”.

Dom Luis Marín de San Martín é claro em dizer que “A verdade não é uma ideia, mas uma pessoa, um amor encarnado, que triunfa sobre a morte, sobre tudo o que é morte na sociedade, na cultura, nas relações internacionais e econômicas, no mundo”.  A resposta urgente que nos compromete é a sinodalidade, “que implica estarmos unidos no Cristo Ressuscitado, inseparáveis de seu corpo, que é a Igreja, de nossos irmãos e irmãs. Significa caminhar ao lado deles e com eles. O cristianismo não é uma religião de elites”.

Um desafio de extraordinária beleza

O subsecretário do Sínodo acolhe com alegria esta decisão do Papa, “o que nos faz perceber a importância deste processo e, acima de tudo, a oportunidade que temos. É uma possibilidade que nos é oferecida pelo Espírito Santo, um kairos, um tempo de graça, um verdadeiro presente de Deus”. Isto o leva a assinalar que “é o Senhor quem bate à porta e nos encoraja a viver nossa fé com coerência, a ser uma Igreja santa e evangelizadora”. Ele insiste que estamos em um momento crucial na história da Igreja.

É por isso que o subsecretário do Sínodo lamenta que alguns cristãos, especialmente alguns padres, tenham medo ou desconfiem deste processo e assumam uma postura passiva, se não mesmo obstrutiva. “Por que pensamos que o Sínodo pode subverter a moralidade ou destruir a Igreja? Será porque não confiamos no Espírito Santo e perdemos a dimensão orante e espiritual; a experiência de Cristo, em quem vivemos, nos movemos e existimos? Ou talvez seja irritante que nos tire de nossa zona de conforto e nos obrigue a mudar atitudes e caminhos profundamente enraizados? Nossa única segurança é o Senhor e nosso ministério é o serviço. Sem anulá-lo ou traí-lo, mas inserindo-o na Igreja”. É por isso que ele insiste que “cada um de nós deve responder a Deus: eu tenho sido um canal de graça ou tenho bloqueado a ação do Espírito? É uma grande responsabilidade”.

A “civilização do amor” não cumprida

Na linha de São Paulo VI, quando ele falou da “civilização do amor”, para Dom Marín de San Martín é necessário passar da cultura do confronto para a cultura da fraternidade, na qual a unidade pluriforme da Igreja é assumida e expressa. “O outro, mesmo que pense diferente, é meu irmão, não meu inimigo. Se houver diferenças de qualquer tipo, oremos, procuremos juntos a luz do Espírito. Mas como irmãos. Só assim poderemos celebrar a Eucaristia de forma coerente e rezar sinceramente o Pai Nosso”. O subsecretário do Sínodo pede a participação como forma de fortalecer o sentido de comunidade. “Não deixemos o processo sinodal para grupos de pressão, ou limitado a setores fortemente ideologizados de uma forma ou de outra. É um processo espiritual e eclesial, no qual ninguém (e eu sublinho “ninguém”) é excluído”. É um convite “a toda a Igreja, a todos os cristãos: em Cristo e com Cristo. A toda a Família de Deus, porque a Igreja é uma família, um lar e não uma trincheira”.

Dom Luis Marín de San Martín vê isso claramente como um processo de autenticidade, “de renovação radical”, e considera necessário que “assumamos com confiança e coragem o risco da reforma à qual ela nos conduz. O Espírito Santo não é nosso funcionário. Ele lidera, ele guia”.

Depois da fase diocesana, o que segue?

O subsecretário do Sínodo teve a oportunidade de explicar aos bispos e aos referentes do Sínodo que “a síntese elaborada pela respectiva Conferência Episcopal nunca deve ser um ponto de chegada, um documento a ser colocado na prateleira ou guardado no armário. É um ponto de partida, um instrumento para continuar a caminhar com ele”.

Em uma primeira linha de ação, o prelado agostiniano incentiva as dioceses e as conferências episcopais a desenvolver estes documentos, estas sínteses, que ele considera “verdadeiramente preciosas, de grande riqueza, onde as luzes e as sombras de nosso tempo se refletem”. Por esta razão, ele os chama a aceitar “como a voz do Povo de Deus, com suas deficiências e limitações, com sua grandeza e suas possibilidades”. Estas sínteses “podem ajudar a estabelecer planos pastorais”. A fase diocesana “concluiu, mas não o processo que gerou, ou seja, o processo de escuta e participação em uma Igreja viva”. Por esta razão, ele insiste que “as decisões devem agora ser tomadas em nível local, diocesano e de conferência episcopal”.

Os desafios da etapa continental

A segunda e muito importante linha de ação é aquela que corresponde à etapa continental, que agora está começando. O subsecretário do Sínodo nos lembra que “estas não são fases fechadas em si mesmas que seguem uma após a outra como eventos; é um processo que está se desdobrando, progredindo, se desenvolvendo”. Para levar adiante esta etapa, no dia 27 de outubro será apresentado um Documento de Trabalho, que “não é um texto teológico, nem um documento magisterial, mas foi elaborado com base nas sínteses que nos foram enviadas pelas Conferências Episcopais, a Cúria Romana, a vida consagrada, os movimentos leigos, o continente digital”.

Com tudo isso, a Secretaria do Sínodo oferece agora “um documento que nos ajuda a continuar ouvindo, dialogando e discernindo, permitindo que o Povo de Deus fale”. Ele considera que, “de certa forma, é uma restituição em um processo circular. Recebemos a voz do Povo de Deus e agora a estamos enviando de volta às dioceses através deste documento que terá que ser aprofundado em todos os níveis”.

A particularidade desta etapa é que “a reflexão e o discernimento levarão em conta as particularidades, os desafios e a realidade de cada continente”. São sete: América do Norte, América Latina e Caribe, Europa, África, Ásia, Oceania e as Igrejas do Oriente Médio. Talvez o chamado “continente digital” deva ser incluído. Segundo Dom Marín, “cada um tem suas próprias características”, e a proposta agora é “escutar e refletir para discernir que desenvolvimentos são necessários em cada um desses continentes para conseguir um testemunho vivo e alegre da fé, levando em conta a diversidade de cultura, tradição e história”. E o que pode ser contribuído para a Igreja universal de cada continente”.

O subsecretário do Sínodo sugere “uma leitura orante do documento e a escuta do Espírito. Em seguida, podemos nos perguntar: Que insights ou inovações ajudam a realidade eclesial em meu continente? Que desafios eles nos colocam? Que propostas concretas devemos fazer ao Sínodo dos Bispos para o bem de toda a Igreja?”

Os passos de um caminho

A etapa continental se estende do final de outubro de 2022 até 31 de março de 2023. A responsabilidade de organizá-la, em ligação com a Secretaria Geral do Sínodo, cabe à respectiva Conferência Episcopal continental. Em cada um dos continentes “será convocada uma assembleia no final (fevereiro ou março) na qual participarão representantes do Povo de Deus, em suas diferentes vocações e realidades”. A isto se seguirá uma reunião continental de bispos, “que são os pastores e que devem fazer seu próprio discernimento depois de escutar o resto do Povo de Deus”.

Cada Conferência Episcopal continental elaborará um documento, de cerca de vinte páginas, a ser enviado à Secretaria do Sínodo até 31 de março. Dom Marín comenta que “a partir dos 7 documentos recebidos, a Secretaria redigirá o Instrumentum laboris, que será apresentado em junho de 2023, para trabalhar na primeira etapa da Assembleia do Sínodo dos Bispos, de 4 a 29 de outubro”. A Secretaria do Sínodo montou uma equipe de coordenação de 3 pessoas. As Conferências Episcopais Continentais também foram convidadas a nomear sua própria equipe para que possam se inter-relacionar e ajudar “este horizonte de esperança a dar muitos frutos na Igreja, com a colaboração de todos”.

Dom Luis Marín de San Martín conclui expressando sua disponibilidade e a da Secretaria do Sínodo para resolver dúvidas e ajudar no que for necessário. “Queremos realmente ser companheiros ao longo do caminho”.

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Bispos convidam Igreja do Brasil a trilhar caminho sinodal em vista das novas diretrizes gerais da ação evangelizadora https://observatoriodaevangelizacao.com/bispos-convidam-igreja-do-brasil-a-trilhar-caminho-sinodal-em-vista-das-novas-diretrizes-gerais-da-acao-evangelizadora/ Tue, 06 Sep 2022 21:41:16 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45851 [Leia mais...]]]> A presidência da CNBB e a secretaria geral divulgaram, no dia 02 de setembro, uma carta em que, em nome de todos os bispos da Conferência, convidam todo o povo de Deus a participar de um processo de escuta, oração e discernimento sinodal que culminará na constituição das novas diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja do Brasil.

As atuais diretrizes, previstas para o período de 2019-2023, foram reconfirmadas pelo episcopado até que este novo processo possa ser concluído em 2025, por ocasião da 62ª Assembleia Geral da CNBB e do Jubileu Ordinário.

O itinerário proposto pelos bispos prevê “prolongar o exercício da escuta, acolhendo a síntese das respostas ao sínodo sobre a Igreja Sinodal apresentadas pelas dioceses”, bem como as reflexões produzidas pela 59ª assembleia geral; viver, em 2023, um período de discernimento dos conceitos, metodologias e indicações pastorais das atuais diretrizes; recepcionar e aprofundar as indicações finais do sínodo em 2024; finalmente, apresentar uma nova redação das diretrizes por ocasião da assembleia geral de 2025.

Cabe destacar que a Conferência abriu um canal de consulta aos leigos e leigas, presbíteros, diáconos e consagrados(as) para que, através da Comissão do Tema Central, possam colaborar no discernimento a partir da resposta à seguinte provocação: “Diante do atual contexto social e eclesial, o que devemos considerar na elaboração das próximas diretrizes?”. As contribuições podem ser enviadas até 31 de julho de 2023 para o e-mail temacentral@cnbb.org.br

O convite à construção coletiva das diretrizes já é um importante fruto dos movimentos propostos pelo papa Francisco em torno da dinâmica da sinodalidade. Com ele, os bispos do Brasil dão um claro sinal daquilo que afirmam logo no início do comunicado: “entre nós, não há espaços para retrocessos.”

Para ler a carta completa clique aqui: Carta à Igreja no Brasil sobre o caminho sinodal para as diretrizes gerais da ação evangelizadora 

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Matheus Cedric Godinho
É professor de Filosofia e Ensino Religioso e autor de material didático para Educação Básica nas mesmas áreas. Leigo católico, cofundador da Oficina de Nazaré e membro do Conselho Editorial da Revista de Pastoral da ANEC. Atualmente coordena o Observatório da Evangelização PUC Minas.

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Francisco e a sinodalidade: caminhar juntos para as periferias https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-e-a-sinodalidade-caminhar-juntos-para-as-periferias/ https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-e-a-sinodalidade-caminhar-juntos-para-as-periferias/#comments Wed, 24 Aug 2022 19:58:48 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45715 [Leia mais...]]]> Este texto, do jovem teólogo Joaquim Jocélio de Souza Costa, “Francisco e a sinodalidade. Caminhar juntos para as periferias”, no qual analisa o sentido novo e profundo da reflexão sobre sinodalidade no atual contexto da Igreja Católica e que considera como “um tempo de darmos novos passos“, é o quarto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, de publicar quinzenalmente textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco. O Observatório da Evangelização PUC Minas acolheu o convite de participar desta importante iniciativa.

Como afirma Joaquim, “O papa Francisco propôs um caminho sinodal querendo que a Igreja dê novos passos na sua renovação eclesial para ser cada vez menos uma Igreja autorreferencial (EG 94-95) e cada vez mais uma Igreja em saída para as periferias (EG 20, 30, 49)… A sinodalidade não é um caminhar juntos para qualquer lugar. É saída para onde fundamentalmente Deus está, e como nos recorda Francisco (2021a), ao Senhor “não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver”. Logo, a sinodalidade não pode ser entendida fora desse caminhar em saída para as periferias.” 

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

Francisco e a sinodalidade. Caminhar juntos para as periferias

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa

A palavra sinodalidade, que até bem pouco tempo não era muito usada em nosso vocabulário teológico, é agora tema principal das nossas reflexões e debates pastorais. Ela vem da palavra “sínodo” e significa “caminhar juntos”. “A sinodalidade expressa a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão” (FRANCISCO, 2021b). Por isso seu sentido não é propriamente novo, embora precise ser constantemente redescoberto e assumido criativamente, pois afinal, muitas vezes as estruturas eclesiais mais dificultam que ajudam o caminhar juntos do povo de Deus.

O papa Francisco propôs um caminho sinodal querendo que a Igreja dê novos passos na sua renovação eclesial para ser cada vez menos uma Igreja autorreferencial (EG 94-95) e cada vez mais uma Igreja em saída para as periferias (EG 20, 30, 49). Assumiu um organismo que já havia recebido novo vigor com o Concílio (o Sínodo) e deu-lhe outro formato. Essa assembleia para pensar a caminhada da Igreja, começou dessa vez fundamentalmente a partir das bases, através de uma grande escuta ao povo de Deus de todas as dioceses do mundo, incluindo pessoas de outras Igrejas, outras religiões e até pessoas sem vinculação religiosa. Francisco assume assim que o Espírito age não só em qualquer grupo ou pessoa que se abre a Ele, como através delas o Espírito tem uma palavra para a Igreja.

Um ponto importante a destacar é que os primeiros a serem escutados devem ser os pobres, pois “estes têm muito para nos ensinar. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja” (EG 198). Por isso, a sinodalidade não é um caminhar juntos para qualquer lugar. É saída para onde fundamentalmente Deus está, e como nos recorda Francisco (2021a), ao Senhor “não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver”. Logo, a sinodalidade não pode ser entendida fora desse caminhar em saída para as periferias. 

E nesse sentido, a Igreja da América Latina tem profundas e avançadas experiências sinodais intimamente ligadas à vida dos pobres. As Conferências do Episcopado Latino-Americano expressam bem isso. Inclusive, recentemente, Francisco (2022) afirmou que a “‘comunhão’ e a ‘participação’ foram as categorias-chave para a compreensão e implementação da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Puebla” e afirmou ainda que “além dos documentos, é a própria realidade pastoral da Igreja Latino-Americana que me incentiva a pensar nela como uma experiência na qual a sinodalidade há muito se enraizou”. De fato, foram muito frutuosas as experiências sinodais em nosso chão: CEBs, leitura popular da Bíblia, conselhos pastorais, teologias da libertação, Assembleia dos Organismos do Povo de Deus, envolvimento nas lutas sociais, maior participação dos leigos (especialmente das mulheres) etc.

Mas esse é o tempo de darmos novos passos. Não se trata de criar algo totalmente novo nem muito menos simplesmente repetir as experiências frutuosas. É bem mais aprender com elas para criativamente, a partir do que o Espírito semeia na história, nos renovarmos como seguidores de Jesus para sermos mais fiéis ao Evangelho e melhor servir na construção do Reino de Deus. Precisamos assumir os novos meios de comunicação para contribuir com uma evangelização mais sólida do nosso povo; investir mais na formação dos agentes de pastoral; promover a dimensão profética das devoções populares; insistir sempre que “cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização” (EG 120).

De qualquer modo, o caminho evangelicamente seguro para isso é sempre começar a partir dos pobres. Como já foi dito, suas vidas têm muito a nos ensinar. Sua alegria sempre contagiante, apesar de tantos desafios e sofrimentos; sua solidariedade mesmo tendo tão pouco; sua determinação mesmo diante de tantos “nãos” e tantas portas fechadas; sua vida oprimida que sabe muito bem o que é a força da centralização, do autoritarismo e dos mecanismos de exclusão; sua sabedoria para viver com tão pouco e ainda afirmar que vale a pena viver e lutar. Tudo isso nos ajuda a sermos uma Igreja de autêntica comunhão e participação, onde reine o amor de irmãos e irmãs, a partilha, a simplicidade, estilos de vida austeros, a alegria; uma Igreja que vença os moralismos e rigorismos. Só a partir dos últimos seremos uma Igreja verdadeiramente sinodal. É isso que nos ensina Francisco (2015): “Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo [sic], limpador, reciclador… artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular… Camponesa, indígena, pescador?… Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos… Não se acanhem!”. 

Referências 

FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (EG). São Paulo: Paulinas, 2013.

FRANCISCO, Papa. Discurso no II Encontro Internacional com os Movimentos Populares. 09 de julho de 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/ 2015/july/documents/papa-francesco_20150709_bolivia-movimenti-popolari.html. Acesso em 15 de abril de 2021.

FRANCISCO, Papa. V Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres. 13 de junho de 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20 210613-messaggio-v-giornatamondiale-poveri-2021.html. Acesso em 28 de maio de 2021a.

FRANCISCO, Papa. Discurso aos fiéis da Diocese de Roma. 18 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/september/documents/20210918-fedeli-diocesiroma.html. Acesso em 07 de outubro 2021b.

FRANCISCO, Papa. Mensagem de vídeo por ocasião da plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, 26 de maio de 2022. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-05/papa-francisco-pcal-sinodalidade-comunhao-eclesial.html. Acesso em 28 de maio de 2022.

Joaquim Jocélio de Sousa Costa

Joaquim Jocélio de Sousa Costa é graduado em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza e graduando em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza.

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XV Seminário dos Bispos referenciais para o laicato e as CEBs https://observatoriodaevangelizacao.com/xv-seminario-dos-bispos-referenciais-para-o-laicato-e-as-cebs/ Wed, 03 Aug 2022 11:44:20 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45530 [Leia mais...]]]> 1º dia, ver a realidade: Análise de conjuntura.

O Seminário teve início com uma acolhida feita por alguns bispos referenciais em cuja fala inicial prenuncia o anseio pela articulação entre fé e vida a serviço do Reino, na busca de uma sociedade justa e solidária, por meio do encantamento com a boa política.

Uma acolhida comprometida e profética:

Dom Giovane Pereira de Melo, citando Dom Walmor, lembrou que o tema deste seminário: “Encantar a Política” visa reunir pessoas e buscar meios para esse mutirão em defesa da vida e da democracia conforme já sustentado nos documentos do Magistério do Papa Francisco;

Dom Gabriel Marchesi manifestou a importância do diálogo para aprofundar as temáticas do momento político e social que vivemos, para que possamos ajudar o país numa reflexão pacífica;

Dom Roberto Francisco lembrou que estamos numa encruzilhada da história e que não sabemos o que virá. O Papa Francisco acena para a reconstrução do mundo por meio da “melhor política” e que é necessário, defender a democracia e não “cair no canto da sereia”;

Dom José Mário, reforçou a necessidade de interpretar os “Sinais dos Tempos” que vivemos. A crise da pandemia e a guerra envolvem o mundo todo. Jesus nos desafia a ser “sal e luz” diante dos novos desafios, na busca de uma sociedade justa e solidária;

Dom Francisco, que nosso país seja bem governado para o bem do povo brasileiro;

Dom Walmor de Oliveira (em vídeo mensagem enviada), precisamos firmar nosso compromisso, nosso dever cristão, diante das graves crises éticas e morais e não perder a esperança, inclusive no mundo da política. E isso exigirá vigor e participação de cada um/a, de modo coerente com o Evangelho para “Encantar a política”. Neste ano eleitoral, não agir com indiferença, mas ajudar a definir o voto para uma sociedade justa e solidária e rogou a bênção sobre todos os participantes e atividades a serem desenvolvidas neste seminário.

“O Caminho é este, é por aqui que vocês devem ir”

A oração de abertura foi motivada a partir da canção “Ruah”, composta pelo missionário verbita, Cireneu Kuhn, após o falecimento de Dom Pedro Casaldáliga e pelo Evangelho do dia (Mt 14,22-36), ela foi conduzida por Pe. Paulo Adolfo, do CEFEP, destacando que quando estamos perto de Jesus não temos medo e que precisamos manter viva a chama da esperança: “esperançar…” e para isso é preciso “encantar a política”.

Após a oração inicial seguiu-se a apresentação rápida de cada um dos presentes e passou-se a um breve testemunho do Laudelino, como leigo cristão, destacando o que o levou a abraçar a ação política e até a assumir um cargo político.

Ele enfatizou a insistência de alguns documentos do Magistério no tocante à participação política ativa: Os cristãos como cidadãos do mundo têm uma missão irrenunciável no mundo da política porque aí se realiza o Reino de Deus (cf. Doc. CNBB, Catequese Renovada, n. 300); Para animar cristamente a ordem temporal de servir e pensar a sociedade os fiéis leigos não podem abdicar de sua missão na política… (cf. Christifidelis Laici, nº 42); Os católicos versados em política, alicerçados na fé cristã, não recusem cargos públicos… abram caminho para o Evangelho (cf. Apostolicam Actuositatem, nº 14); E ainda citou Bento XI no tocante à necessidade de explicitar a ligação entre o mistério eucarístico e a justiça social e que, só da eucaristia brotará a civilização do amor (cf. Sacramentum Caritatis). Por fim enfatizou que o projeto “Encantar a Política” é baseado nas Escrituras e no Magistério Eclesiástico. E finalizou com o destaque para o lema da 40ª Assembleia Nacional do Laicato: “O Caminho é este, é por aqui que vocês devem ir” (Is 30,21), mas que é preciso ter cuidado com o fermento dos fariseus e dos Herodes, conforme recomendado por Jesus.

Crise de mudança de época

Depois deste momento inicial de falas, oração, apresentação e testemunho, a palavra foi passada a Chico Botelho, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) para ajudar os presentes a tomar pé da realidade atual por meio de uma análise de conjuntura.

Destacou que a realidade é complexa, o que não significa que seja complicada, mas indica que todas as partes interagem entre si e com o meio, ou seja, “tudo está interligado”. Ele se propôs a fazer um “recorte” no amplo contexto para dedicar-se a dois eixos: o que acontece no mundo também se configura no Brasil? e Eleições 2022.

Sinalizou que as tendências internacionais apontam uma mudança de época, algo estrutural e profundo. O mundo forjado no pós II Guerra Mundial, caracterizado por forças bipolares (EUA e URSS) entrou em crise. A ascensão da China rouba a hegemonia Americana, a guerra na Ucrânia sinaliza para mundo multipolar. Isso se verifica ainda pela crise ambiental sem precedentes; o aquecimento global; a crise da globalização da economia, pelo retorno à economia nacionalista; pela política neoliberal que defende estado mínimo e faz aumentar as desigualdades sociais; por sua vez, a crise da financeirização que transfere as riquezas do setor produtivo para os bancos, uma “economia de papel” fictícia, frágil, resultando que muitos países não conseguem sair da crise e aumentam as desigualdades, a migração, a fome, o desemprego e a precarização das relações de trabalho.

Outro indicativo são os fenômenos emergentes do nazifacismo, uma onda de extrema direita mundial que começaram a ganhar as eleições em várias partes do planeta. Verdadeiro projeto de destruição dos oponentes verificados a partir de 2014 nas eleições da Áustria, na Alemanha, na França, com políticas de ódio, de divisão e contrários à migração. Essa onda começou a ser contida a partir da pandemia, (frente ao negacionismo à ciência). É o que se verifica em países como Espanha, Portugal, Alemanha, França, Chile, México, Peru e Colômbia. Os processos eleitorais apontam para o crescimento de outra esquerda, não tão radical.

Há uma crise de projetos e diante destas sombras, o Papa Francisco, com suas ações e Encíclicas, vêm tocando os principais problemas: crise ambiental, migração, caminho para a paz no mundo, uma nova economia (de Francisco e Clara) e um novo pacto educativo global. O Papa Francisco revela uma presença decisiva para o mundo neste tempo de crise.

Brasil e Eleições 2022

O cenário mundial se reflete em nosso Brasil. Estamos diante de uma crise econômica e social profundas, sem precedentes, com aumento da inflação, dos combustíveis, da fome, dos moradores de rua, que atingem sobretudo os setores mais pobres. Crescimento do emprego informal, queda da renda real e do poder aquisitivo do salário mínimo. E se pode dizer na situação do país: “há um Paraná inteiro de desempregados e uma Minas Gerais inteira de famintos”. Por outro lado, cresce a violência em geral e a violência político/eleitoral, que vai desde os assassinatos a ameaças de todas as formas. Como ponto positivo vemos aflorar os Movimentos Sociais, de estudantes, os coletivos de hip hop, funk, Movimento de Mulheres, Movimentos LGBTQI+, Movimento Negro, Movimento Indígena, Movimento dos Sem-Terra e Sem-Teto.

Por sua vez o cenário eleitoral parece consolidar-se em duas frentes: uma de Centro-Esquerda e outra de Extrema Direita. Não existem perspectivas reais para uma 3ª Via. Isso aponta para uma clara divisão da sociedade e cheia de incertezas. Grupos extremamente autoritários, com utilização do fundamentalismo religioso sob um moralismo conservador e carregado de hipocrisia, como a “marcha para Jesus” com ícone de um enorme revólver na passeata. Outro fator, a ameaça constante de golpe sinalizado nos ataques à democracia, e às urnas eletrônicas, como claro elemento de não reconhecimento dos resultados eleitorais. O resultado disso vai depender muito da reação dos militares diante dos acontecimentos eleitorais.

Vale ressaltar o posicionamento contrário dos EUA que não apoiam o golpe e os ataques à democracia no Brasil. Também o manifesto democrático da USP assinado por mais de 700 mil pessoas. O processo de eleição no Brasil tem que  ser repensado não como defesa dos nossos direitos, mas como processo de renovação, de eleição de parlamentares que façam a diferença e não do tipo atual que retiram os direitos do povo votam leis de favorecem o armamento da população.

Depois de sua fala, surgiram vários posicionamentos e questões, retomados por Chico Botelho. Ele finalizou ressaltando que sua análise não brota de uma ideologia, mas se fundamenta em dados reais, do Branco Central, de informações do Estado Nacional e de analistas sérios que comparam as várias pesquisas de intenção de voto para chegar a um parecer mais técnico e confiável que indique a tendência atual. E sinalizou que os fenômenos que se repetem em várias partes do mundo nos ajudam a entender a realidade e que precisamos buscar boas fontes, fontes confiáveis e encontrar meios de descobrir os sites e redes sociais que divulgam fake news, há ferramentas para isso. O seminário ainda terá mais dois dias de encontro, 03 e 04 de agosto de 2022.

 

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* Doutor em teologia, membro do grupo de pesquisa de Teologia Pastoral (FAJE) e da SOTER- Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. Redator da Revista O Lutador, Integrante do MOBON – Movimento da Boa Nova. Membro do Observatório de Evangelização – PUC Minas.

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CNBB 70 anos: Campanha da Fraternidade e Perspectivas Pastorais https://observatoriodaevangelizacao.com/cnbb-70-anos-campanha-da-fraternidade-e-perspectivas-pastorais/ Fri, 29 Jul 2022 00:33:30 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45517 [Leia mais...]]]> Seminário 70 anos da CNBB, 3º dia.

O Seminário 70 anos da CNBB, depois de trabalhar o enfoque histórico recuperando o nascimento da CNBB e sua contribuição ao Brasil, no contexto da realização do Vaticano II, em um regime de exceção – 1º dia –, buscou a contribuição da CNBB à democracia em nosso país – 2º dia –, ficando para o 3º dia a tarefa de levantar perspectivas pastorais a partir da Campanha da Fraternidade e da missão da CNBB no contexto atual. O que se deu, logo após à oração inicial e acolhida dos conferencistas e demais participantes.

“Ser um remédio diferente para o mundo cheio de tanta injustiça”

Dom Walmor, Arcebispo de Belo Horizonte e atual presidente da CNBB, abriu a sequência das falas com premissas e eixos importantes para o horizonte de ação da CNBB e da Igreja do Brasil. Ele iniciou apontando três premissas:

1ª A CNBB não é um órgão de governo da Igreja do Brasil, mas uma instituição de comunhão eclesial que reúne os bispos, os primeiros servidores do povo de Deus, com força profética e presença atuante na sociedade. Não se trata de simples afinidade entre as pessoas, mas de um ideal de comunhão evangélica e de compromisso profético, de efetivação de uma Igreja promotora da vida e servidora do Reino de Deus;

2ª A fé como experiência, como princípio fundante. Somos Igreja não porque somos uma ONG, mas porque somos seguidores de Cristo. Nosso ponto de partida é a fé, somente pela fé é possível, por exemplo, fazer desabrochar o martírio;

Espírito Sinodal. É preciso recuperar nossas raízes: a sinodalidade. Pensar a Igreja não a partir dos bispos, mas em comunhão com todos os cristãos, leigos e leigas em busca de respostas adequadas. Não puramente organização e eficácia, mas experiência mística que gere comunhão, participação e fortaleça a missão.

Depois de destacar estas premissas, Dom Walmor trabalhou três eixos importantes para pensar a ação evangelizadora da Igreja do Brasil, o que não é um receituário, mas um anseio de comunhão:

1º Formação integral. Estamos acostumados à formação acadêmica, à conscientização, mas é preciso considerar o cuidado com a saúde, superando todo tabu. Olhar como o nosso povo vive e nos debruçar sobre os seus problemas, em busca de novas respostas. A pastoral deve ser pensada não como um calendário de eventos, mas voltada para a integralidade da vida do povo. Uma pastoral que toque o nosso jeito de ser, de agir e de conviver;

2º Comunicação e diálogo com a sociedade. O que não diz respeito apenas aos meios, trata-se de pensar as redes sociais como o universo para uma ação evangelizadora eficaz. Um mundo de possibilidades e desafios que exigem novas respostas. É preciso superar o “analfabetismo digital” para que surja um novo dinamismo na evangelização. Em uma sociedade plural, injusta, na “contramão” do Reino, somos desafiados a anunciar o Evangelho fecundado por um “novo humanismo” (Papa Francisco). O mundo não é o mundo da Igreja, ele não se reduz a ela. Mas o mundo precisa da Igreja, precisa da CNBB, para que seja mais justo e solidário, para consolidar a construção da democracia, neste momento extremamente difícil, para a promoção da paz e do bem.

3º Gestão Pastoral. Não reduzida às questões de organização, mas de sustentabilidade, tudo o que se desdobra no horizonte da Ecologia Integral, sobre o nosso modo de viver em nossa “Casa Comum”, que implica nossa vida no dia a dia, no uso dos bens etc. Aprender técnicas novas e novos modos de planejamento para superar a atual sociedade injusta e corrupta.

Essas premisas, afirmou Dom Walmor, são fundamentais, precisamos nos deixar desafiar, em solidariedade com todos os que sofrem, que passam fome e vivem na penúria. Firmar o diálogo com sociedade nesse tempo novo, a partir do Evangelho de Jesus Cristo. Ser um remédio diferente para o mundo cheio de tanta injustiça e de modo rápido, incisivo, urgente, a serviço do Reino definitivo.

Uma sinodalidade a partir de baixo, a partir das comunidades

Na sequência, Dom Joel Portela Amado, Secretário Geral da CNBB, apontou três aspectos ad intra, indispensáveis para a Igreja do Brasil nos próximos anos: o desaparecimento da cristandade para outra forma sociocultural de Igreja; a prioridade única das Comunidades Eclesiais Missionárias e a Sinodalidade.

1º A Pós Cristandade. Já não podemos pensar o cristianismo como uma religião única, hegemônica – pesquisas revelam uma enorme mobilidade religiosa –. Vivemos outro contexto que exige discernimento sobre a forma de presença da Igreja na atualidade. A fé já não pode ser dada como pressuposta, por isso não basta uma pastoral de preservação e a sacramentalização. A Iniciação à Vida Cristã constitui uma primeira e principal preocupação, sem a qual, o agir evangelizador é mutilado. Na Pós Cristandade, é exigida outra forma de presença e/ou mediação da Igreja, outra forma de apresentar a pessoa de Jesus Cristo e de levar as pessoas a fazerem a sua experiência de fé na comunidade eclesial.

2º Comunidades Eclesiais Missionárias (CEMs). Estas são a única prioridade das últimas Diretrizes Gerais de Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil. Expressão objetiva que nos leva a preservar a característica de toda a Igreja. Elas não foram criadas para substituir as CEBs, nem representam uma estratégia para o esvaziamento delas. Trata-se de uma nova forma de organização, um salto necessário para o contexto de Pós Cristandade. Também não são uma forma de organização ao lado dos novos movimentos eclesiais e das novas comunidades, ressaltando que “nenhuma comunidade detém o monopólio do Espírito”. Há incompreensões semânticas que precisam ser aprofundadas e para isso é preciso voltar às afirmações das últimas Diretrizes de Ação Evangelizadora. Uma visão não centrípeda onde tudo conflui para a matriz, mas centrífuga, em um número grande de comunidades de todos os tipos, como “Igreja em saída”, não excluindo as CEBs nem subjugando-as, mas como comunhão, como “rede de comunidades”. Estas CEMs remetem e contribuem à sinodalidade, por sua vez, carregada de desafios.

3º Sinodalidade. A relação entre sinodalidade, CEMs e Pós Cristandade é marcada pelo convívio e pela partilha de vida. Pequenas comunidades geram escuta e participação, geram busca de um “novo humanismo”, não é sinodalidade de cima para baixo, mas de baixo para cima, que favorece o processo sinodal em toda a Igreja. “As CEMs podem ser a grande contribuição da Igreja ao momento contemporâneo sinodal”.

Dom Joel concluiu sua fala sinalizando a necessidade de assumir esses três aspectos, pois, se um mundo acabou e outro começou, é necessário buscar outras alternativas: “não dá para continuar maquiando defuntos”.

Campanhas da Fraternidade e o diálogo com a sociedade

A terceira a usar da palavra foi a  Dra. Nísia Trindade Lima, presidente da FIOCRUZ. Ela enfatizou que pensar as Campanhas da Fraternidade (CFs) é pensar o papel da Igreja católica diante das grandes questões sociais do Brasil. A CF teve seu início no bojo de uma transformação eclesial na América Latina num cenário de profundos desafios, desigualdade e pobreza. Neste sentido, recuperar a história é fundamental para situar os desafios e captar aqueles que permanecem atuais. E, é impossível pensar os desafios contemporâneos sem o diálogo com outras igrejas e religiões. Não é possível sobreviver sem a ciência, a tecnologia e a democracia. E ressaltou: a CNBB tem dado uma importante contribuição.

A CF lançada nacionalmente em 1964, com o tema: “Você também é Igreja” e a CF 2022, “Fraternidade e Educação” são de uma pertinência atual. Com a Pandemia de 2019, verificamos retrocesso na agenda da ONU para 2030 e, no Brasil, esse retrocesso tem maior intensidade. A CF 1975 “Repartir o Pão” e a CF 1985 “Pão para quem tem fome” voltam em 2023 com o tema: “A Fraternidade e a Fome”. Tema da maior pertinência diante da gravidade da insegurança alimentar de milhões de brasileiros. A expressão de Josué de Castro em seu livro “A Geografia da Fome” é atual: “Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come.” E essa fome tem gênero, tem raça, tem classe social. Temos a necessidade de unir todos aqueles/as que se orientam na busca de caminhos de esperança para a segurança alimentar. Esse é o papel da Igreja a serviço da vida diante dos desafios da sociedade, caminhar juntos, procurando envolver toda a sociedade.

Remédio que cura os corações e ilumina o olhar

Irmã Márian, ex presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB – em uma comunicação testemunhal, destacou como os religiosos/as acompanham os processos históricos da CNBB e o fez resumindo na palavra “Aliança”. Citou várias ações de comunhão e de parceria entre a CNBB e os/as religiosos/as, com destaque especial para os Projetos: “Timor Leste”; “Haiti” e “Igrejas Irmãs”. E salientou que a mudança da sede da CRB para a Capital Federal como uma forma de maior proximidade para reforçar a Aliança nas prioridades afirmadas. E concluiu numa prece: “Que Deus nos conduza numa mesma direção”.

Depois destas participações, aconteceram várias manifestações dos participantes com perguntas e destaques relativos aos assuntos tratados, e depois retomados pelos conferencistas em suas falas conclusivas, mas cujo relato estenderia por demais estas linhas.

Por fim, Dom Antônio Luis Castelan Ferreira da PUC-Rio, instituiu uma mesa de convidados para o encerramento do Seminário dos 70 anos da CNBB: comunhão, participação e missão:

Cardeal Dom Paulo Costa, na mesa formada para encerramento dos trabalhos, salientou que a memória nos compromete (Metz), os tempos mudaram, são muitas as contradições, faz-se necessário “ler os sinais dos tempos” (GS 4), este é o grande desafio da CNBB. O Papa Francisco nos encoraja a não ter medo de entrar no tempo escuro de nossa história. O caminho da sinodalidade é o nosso grande desafio nesta sociedade pluralista. Escutar o que o Espírito diz hoje à Igreja do Brasil.

Cardeal Dom Orani João Tempesta, Grão Chanceler da PUC-Rio retomou a celebração da primeira Conferência do CELAM no Rio de Janeiro em 1955, ressaltou a vitalidade da Igreja na América Latina após o fim do Padroado e destacou que, com o nascimento da CNBB, a Igreja vai assumindo a sua responsabilidade diante das situações adversas ao Evangelho, como por exemplo o trabalho análogo à escravidão. E destacou a importância da CNBB para a Igreja.

Dom Walmor de Oliveira Azevedo, Presidente da CNBB, concluiu sinalizando Gratidão, o remédio que cura os corações e nos ilumina para olhar a história para sermos fieis ao projeto de Jesus. Há homens e mulheres nos instando à profecia, à cidadania eclesial e civil. E finalizou o Seminário dos 70 anos da CNBB pedindo a bênção e proteção da Mãe Aparecida, padroeira do Brasil.

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* Doutor em teologia, membro do grupo de pesquisa de Teologia Pastoral (FAJE) e da SOTER- Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. Redator da Revista O Lutador, Integrante do MOBON – Movimento da Boa Nova. Membro do Observatório de Evangelização – PUC Minas.

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Encontros Eclesiais Regionais: “Identificar como os desafios estão chegando ao coração do continente” https://observatoriodaevangelizacao.com/encontros-eclesiais-regionais-identificar-como-os-desafios-estao-chegando-ao-coracao-do-continente/ Sat, 21 May 2022 21:30:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45041 [Leia mais...]]]> A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe é algo que continua, e como mais um passo nessa caminhada, durante esta semana estão acontecendo os encontros virtuais eclesiais por regiões, um para cada uma das quatro grandes regiões nas quais o CELAM está dividido. Acompanhe o relato deste evento por Luis Miguel Modino.

O primeiro encontro reuniu aqueles que vivem sua fé na Região CAMEX, que inclui o México e a América Central. O objetivo era ser uma oportunidade para continuar aprofundando todos os desafios que a Assembleia Eclesial nos deixou. Mais um passo após a Assembleia Eclesial de novembro de 2021 e o Encontro Eclesial de março passado, como destacou Paola Calderón, do Centro para a Comunicação do CELAM, e o Secretário Geral Adjunto da entidade, Padre David Jasso, que vê neste momento uma oportunidade “de poder identificar como os desafios estão chegando ao coração do continente”.

Compartilhando experiências, trocando conceitos, levantando preocupações, e fazendo isso no contexto da celebração do 15º aniversário de Aparecida, comemorado na semana passada na casa da Padroeira do Brasil, onde o CELAM esteve presente, mas também no caminho para o Sínodo sobre a Sinodalidade.

“Reviver essa experiência de caminho em comum”

É assim que vê Dom Jorge Eduardo Lozano esses encontros, onde “estão presentes diferentes vocações do povo de Deus, também de diferentes realidades eclesiais, culturais e sociais”, destacou o Secretário Geral do CELAM. Ele também recordou a presença daqueles que “se dedicam à catequese, aqueles que se dedicam à missão, ao cuidado dos doentes, à pregação da Palavra, a cada um dos ministérios e serviços de nossa Igreja”.

Dom Jorge Lozano lembrou a Assembleia Eclesial realizada em novembro, que “nos levou a um discernimento sobre os novos desafios que temos como Igreja no continente”, vendo o encontro deste dia como um momento para “retomarmos juntos o caminho, para compartilharmos juntos também a alegria da fé”.

Após um momento de oração, inspirado em Aparecida, quando nos fala da vida, a nova vida da Páscoa, foi retomado o que foi vivido há 15 anos em Aparecida, que fez um chamado a assumir o fato de sermos discípulos missionários, e foram apresentados alguns dos objetos utilizados na V Conferência, assim como imagens daquele importante evento eclesial. Entre estas imagens, algumas em que o Cardeal Bergoglio disse que “Aparecida termina com um grande empurrão que nos envia em missão”.

Para renascer e fazer crescer a esperança

Susana Nuin, que fez parte da equipe de comunicação da V Conferência CELAM, destacou a importância dos diferentes pontos de vista presentes nesta equipe, afirmando que “um bom processo, bem vivido, é capaz de superar as fissuras”. A comunicação em Aparecida possibilitou que os bispos participantes obtivessem feedback do que a imprensa publicou. Ela também destacou o impacto positivo que Aparecida teve sobre a mídia, tanto secular quanto eclesial, com muitas repercussões de comunicação no retorno dos bispos às suas respectivas dioceses.

Um dos bispos participantes de Aparecida foi Dom Ángel Garachana, que começou seu testemunho dizendo que “fui a Aparecida preparado, participei com empenho e voltei entusiasmado”. O bispo de São Pedro Sula (Honduras) destacou três aspectos da V Conferência CELAM: um evento eclesial intensamente vivido; um documento que nos convida a superar rotinas, o desencanto, faz renascer e crescer a esperança; uma realização, uma colocação em prática, que continua a dar ímpeto à ação evangelizadora da Igreja. Por esta razão, ele insistiu que “Aparecida continua a nos inspirar, motivar e orientar”.

A partir do Centro de Pesquisa do Conhecimento, seu diretor Guillermo Sandoval refletiu sobre o que Aparecida, passando pela experiência da Assembleia Eclesial, nos mostra hoje. Depois de explicar o trabalho que este centro realiza, ele insistiu que “Aparecida tem sido uma contribuição da Igreja latino-americana para a Igreja universal”.

“Pelo batismo somos todos discípulos missionários”

Do ponto de vista teológico pastoral, o teólogo brasileiro Agenor Brighenti lembrou elementos de Aparecida que poderiam ajudar na reflexão dos grupos de diálogo. Ele começou lembrando a importância da Assembleia Eclesial, que “a pedido do Papa Francisco propôs reviver Aparecida”. É por isso que ele chamou 15 anos depois para ver até que ponto sua proposta desafiadora está encarnada nos processos pastorais e “se Aparecida pode continuar sendo um caminho e uma bússola para nossa Igreja”.

O Padre Brighenti destacou sete aspectos de Aparecida, convidando os participantes do encontro a questionar até que ponto eles estão presentes na vida das Igrejas locais do continente e quais ainda estão pendentes. Em primeiro lugar, ele falou do fundo e do espírito, destacando como uma grande contribuição de Aparecida “ter resgatado a contribuição do Concílio Vaticano II e a recepção criativa em nosso continente”, algo que é retomado no Documento, fazendo referência a algumas situações que o tornaram difícil, como o clericalismo.

Um segundo elemento a destacar é que “pelo batismo somos todos discípulos missionários”, vendo o discipulado como um chamado a seguir Jesus Cristo em sua Igreja, algo importante diante do crescimento dos cristãos sem inserção nas comunidades eclesiais. Em terceiro lugar, ele refletiu sobre o estado permanente de missão da Igreja, insistindo na missão como algo próprio de ser cristão e de comunidades eclesiais. Para realizar esta missão é necessária a conversão pastoral, em atitudes e estruturas eclesiais, algo que ele considera o quarto elemento a ser destacado, resgatando uma proposta de Santo Domingo, que é central para o pontificado do Papa Francisco.

“Um centro poderoso de irradiação do Reino da Vida”

O quinto aspecto a destacar é que “cada comunidade eclesial precisa ser um centro poderoso de irradiação do Reino da Vida”, segundo o membro da Equipe Teológica do CELAM, que vê essa irradiação como algo que aponta para uma Igreja em saída, superando uma Igreja autorreferencial, buscando a encarnação como base da evangelização, que leva à humanização. Junto com isto, uma Igreja samaritana e profética, defensora dos pobres, sexto ponto a destacar, uma Igreja que deve sempre defender os pobres, porque “a opção pelos pobres está implícita na fé cristológica”, como disse o Papa Bento XVI.

Finalmente, o sétimo aspecto é a promoção de um itinerário de discipulado missionário, que é realizado em quatro etapas: experiência pessoal de fé, vida comunitária, formação teológico-bíblica, compromisso missionário da comunidade como um todo. Estes são aspectos que em grande parte já estão presentes 15 anos depois, mas ainda há muito a ser feito, de acordo com o Padre Brighenti.

No diálogo em grupo, os participantes compartilharam como os frutos da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foram recebidos em cada um dos países. Para isso, discutiram se os desafios pastorais eram conhecidos, se houve encontros ou análises aprofundadas, se os desafios correspondiam às realidades nacionais vividas em cada país e os testemunhos ou histórias a serem contadas a respeito da experiência da Assembleia Eclesial. Também as dificuldades em relação à recepção ou assimilação dos frutos e como eles têm sido capazes de enfrentá-los.

Caminhar juntos, em sinodalidade

Depois de trabalhar em grupos, os participantes compartilharam o que haviam experimentado nesta reunião, destacando alguns dos aspectos sobre os quais haviam refletido e a importância disso para caminharem juntos em sinodalidade. Um processo vivido em comunidade a partir das diferentes realidades, que gera otimismo para continuar contribuindo para a missão evangelizadora, vivido como um processo, que ajudou a refletir sobre questões importantes para a vida da Igreja continental e universal, o que é de grande importância na fase de consulta do processo sinodal.

A Assembleia Eclesial tem sido um processo que tem dado força e esperança, mas é necessário avançar na concretização dos desafios da Assembleia, na articulação dos diversos processos que a Igreja está vivendo, na criação de pontes entre a Assembleia Eclesial e o Sínodo, insistindo na importância da comunicação nesta caminhada. É uma caminhada do povo de Deus, que está gerando algo que levará tempo para ser digerido, pois necessita de uma mudança de atitudes que possibilite uma maior participação dos jovens, mulheres e leigos.

Para este fim, foram solicitadas ações concretas em nível pastoral para ajudar a avançar o processo de sinodalidade, assumindo os desafios da Assembleia a partir desta forma de ser sinodal. É nisso que o CELAM está tentando avançar com um plano de ação a ser realizado nos próximos meses, para o qual estão sendo criados recursos para ajudar a avançar neste caminho, como prova de que o trabalho continua, de que não se pode permitir que a chama se apague, algo que depende de cada um e de todos.

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Pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Canais de inspiração católica exibem o programa Igreja Sinodal https://observatoriodaevangelizacao.com/canais-de-inspiracao-catolica-exibem-o-programa-igreja-sinodal/ Sat, 26 Mar 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44575 [Leia mais...]]]> A primeira Assembleia Eclesial Latino Americana e Caribenha representa um marco para a caminhada da Igreja. Um acontecimento que precisa ser retomado e aprofundado afim de que possamos avançar rumo à sinodalidade eclesial. Neste anseio nasceu um grupo que se põe a serviço da teologia e pastoral procurando fazer com que as questões eclesiais “furem as bolhas” restritas aos especialistas e estudados e cheguem à maior parte dos fieis através de linguagem e meios acessíveis. Uma destas estratégias recentes é o programa Igreja Sinodal. Saiba mais no artigo:

Estreiou, neste mês de março, o programa Igreja Sinodal, uma iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, com o objetivo de repercutir assuntos ligados à primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe e aprofundar as reflexões do Sínodo sobre Sinodalidade. A data de estreia do programa recordou os 9 anos de eleição do Papa Francisco, em 13 de março de 2013.

Com exibição inédita pela TV Horizonte todos os sábados, às 8h30, o programa também será veiculado pela TV Pai Eterno todos os sábados, às 14h30. A TV Aparecida exibe-o todas as terças-feiras, às 22h30 e a Rádio América, de Belo Horizonte, às quartas-feiras, às 20h30.

O programa tem duração total de 30 minutos e é conduzido pelo coordenador-geral da PASCOM Brasil e membro da equipe de comunicação do Anima PUC Minas, Marcus Tullius. No programa de estreia, o comunicador conversou com o presbítero da diocese de Limoeiro do Norte (CE) e doutor em Teologia, padre Francisco de Aquino Junior, sobre a inspiração do nome do programa Igreja Sinodal e com a doutora em Teologia e professora da PUC-RIO, Maria Clara Bingemer, sobre os 9 anos de pontificado do Papa Francisco.

Serviço teológico-pastoral

O Serviço Teológico-Pastoral é um grupo de trabalho atento às questões pastorais na realidade latino-americana e ao magistério do Papa Francisco. Segundo o membro do grupo, professor da Faculdade Jesuíta (FAJE) e doutor em Teologia, Padre Geraldo Luiz De Mori, um grupo de teólogos e pastoralistas, provocados pela Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, começou a se reunir para pensar juntos como participar do processo de recepção da Assembleia na Igreja do Brasil, contribuindo com isso à “reforma” eclesial querida pelo Papa Francisco e aos processos sinodais que ele tem implementado na Igreja.

“O grupo organizou um seminário com alguns dos representantes do Brasil na Assembleia e vem se reunindo todas as semanas para pensar não só a divulgação dos resultados da Assembleia, mas também as questões que ela levanta ao conjunto da Igreja”, afirmou.

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Sinodalidade: um chamado à profecia coletiva! https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodalidade-um-chamado-a-profecia-coletiva/ https://observatoriodaevangelizacao.com/sinodalidade-um-chamado-a-profecia-coletiva/#comments Wed, 16 Feb 2022 12:44:59 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43419 [Leia mais...]]]> “A proposta do papa Francisco, de que não realizemos apenas mais um Sínodo, enquanto evento, mas que assumamos, em todas as igrejas locais e espaços onde habitamos, o modelo de uma Igreja Sinodal, em sua forma, estilo, missão, é um eloquente chamado à Profecia coletiva! Uma profecia comunitária de irmãs e irmãos que caminham juntas/os e assumem a radicalidade de sua vocação de discípulas/os missionárias/a numa igreja em saída. Uma igreja de irmãs e irmãos que caminham juntas/os. Uma Igreja da escuta, do encontro, da comunhão e da participação ativa, onde todos são protagonistas… Uma oportunidade de revitalizar a vivência do evangelho de Jesus de Nazaré, das primeiras comunidades cristãs e da eclesiologia da Igreja Povo de Deus, cunhada pelo Concilio Vaticano II e assumida de forma tão peculiar pela Igreja Latino Americana nas Conferencias Episcopais, nas CEBs, Pastorais sociais e outras iniciativas coletivas e sociotransformadoras, como um caminho de mística e profecia a serviço da vidaComo você, sua comunidade, sua pastoral ou organismo se sente diante desta convocação à sinodalidade profética?”

Confira a reflexão de Ir. Eurides Alves de Oliveira, ICM:

Papa Francisco de mãos dadas com os representantes dos movimentos populares, em 2016. @Servizio Fotografico – L’Osservatore Romano

Sinodalidade: um chamado à profecia coletiva!

Estamos todas e todos esperançosas e esperançosos com a primaveril Boa Nova da sinodalidade proposta pelo papa Francisco, como uma oportunidade de revitalizar a vivência do evangelho de Jesus de Nazaré, das primeiras comunidades cristãs e da eclesiologia da Igreja Povo de Deus, cunhada pelo Concilio Vaticano II e assumida de forma tão peculiar pela Igreja Latino Americana nas Conferencias Episcopais, nas CEBs, Pastorais sociais e outras iniciativas coletivas e sociotransformadoras, como um caminho de mística e profecia a serviço da vida, nestes mais de 50 anos pós-Concílio. Uma eclesiologia de comunhão e participação, de fé e compromisso, permeada de avanços e recuos, luzes e sombras, lutas e resistências, realismo e utopias.  

A proposta do papa Francisco, de que não realizemos apenas mais um Sínodo, enquanto evento, mas que assumamos, em todas as igrejas locais e espaços onde habitamos, o modelo de uma Igreja Sinodal, em sua forma, estilo, missão, é um eloquente chamado à Profecia coletiva!

Nas últimas décadas, essa eclesiologia arrefeceu-se, cedendo lugar ao eclesiocentrismo hierárquico, à autorreferencialidade e ao espiritualismo fundamentalista. Uma tríade de vírus, que tem adoecido a Igreja, colocando em risco sua identidade-raiz: a missão profética

Neste cenário eclesial e com a humanidade imersa em uma pandemia global, o Brasil e o mundo são afetados por uma das maiores crises econômicas e convulsão política e social da história contemporânea. Um palco de guerra híbrida onde as violências, as fomes de pão e de direitos, as injustiças, a corrupção, as “fake news”, intolerâncias e perseguições; o genocídio dos pobres, das mulheres, do povo negro e indígenas é planejado por uma “necropolitica” estatal, a democracia é reduzida aos interesses das elites dominantes e a religião é instrumentalizada para incitar ao ódio, ao extremismo e ao fanatismo cego nas massas.

Encontro das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs em Taiobeiras-MG.

Uma profecia comunitária de irmãs e irmãos que caminham juntas/os e assumem a radicalidade de sua vocação de discípulas/os missionárias/a numa igreja em saída. Uma igreja de irmãs e irmãos que caminham juntas/os. Uma Igreja da escuta, do encontro, da comunhão e da participação ativa, onde todos são protagonistas.

A proposta do papa Francisco, de que não realizemos apenas mais um Sínodo, enquanto evento, mas que assumamos, em todas as igrejas locais e espaços onde habitamos, o modelo de uma Igreja Sinodal, em sua forma, estilo, missão, é um eloquente chamado à Profecia coletiva! Uma profecia comunitária de irmãs e irmãos que caminham juntas/os e assumem a radicalidade de sua vocação de discípulas/os missionárias/a numa igreja em saída. Uma igreja de irmãs e irmãos que caminham juntas/os. Uma Igreja da escuta, do encontro, da comunhão e da participação ativa, onde todos são protagonistas.

Uma profecia que faz das ‘”alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles/as que sofrem, as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos/as de Jesus Cristo,(…) numa Igreja que sente-se real e intimamente ligada á humanidade e à sua história” (cf. GS). Uma igreja que se dispõe a ouvir, acolher e deixar-se converter pelos clamores e vivências do povo, se envolve em suas lutas em prol da vida e da justiça social, pronunciando sempre uma palavra de esperança e tendo um posicionamento lúcido e firme diante das injustiças sociais e dos projetos de morte, mesmo que isto provoque reação e perseguições.

Momento de escuta em preparação para o Sínodo.

Uma igreja que se dispõe a ouvir, acolher e deixar-se converter pelos clamores e vivências do povo, se envolve em suas lutas em prol da vida e da justiça social, pronunciando sempre uma palavra de esperança e tendo um posicionamento lúcido e firme diante das injustiças sociais e dos projetos de morte, mesmo que isso provoque reações e perseguições.

Neste horizonte da sinodalidade como profecia coletiva, neste amplo processo de escuta e consulta a todo o povo de Deus, proposto pelo papa Francisco para o processo sinodal de 2021-2023, somos corresponsáveis em fazê-lo acontecer em nossas igrejas particulares, comunidades, pastorais e organismos diversos: devemos fomentar e participar ativamente das reflexões e iniciativas, sem medo do debate, contribuindo para o discernimento e acreditando nas possibilidades de mudança  e na gestação de práticas renovadas de comunhão e participação.

No atual contexto histórico, à luz da Doutrina social da Igreja e da tradição latino-americana de uma Igreja sempre atuante na sociedade, assumindo as bandeiras de lutas do povo por vida, paz, justiça social e democracia e direitos, a prática da sinodalidade pede de nós, cristãs e cristãos, um pouco mais de ousadia, criatividade e coragem, invita-nos  a ultrapassar os limites dos espaços eclesiais e interpela-nos a caminharmos juntas/os com as forças vivas de resistência, a sermos “verdadeiros poetas e poetizas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”.(cf. Papa Francisco aos MP).

Encontro Mundial dos Movimentos Populares com o papa Francisco, em 2015.

A sinodalidade enquanto profecia coletiva na Igreja e no mundo de hoje, particularmente no Brasil, neste cenário sistêmico de múltiplas pandemias e polarização política e religiosa, inclui como imperativo a articulação de todas as forças vivas do bem em prol de um novo projeto de sociedade que seja sinal do Reino de Deus

Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três Ts que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho. Espero que esse momento de perigo nos tire do piloto automático, sacuda nossas consciências adormecidas e permita uma conversão humanística e ecológica que termine com a idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro .

Papa Francisco aos Movimentos Populares

Nesta missão, as CEBs são convidadas a recuperar seu papel polinizador da sinodalidade profética no interior de toda a igreja, lembrando-lhe  que a revitalização de sua identidade de Igreja Povo de Deus, em diálogo com o mundo de hoje, é o modo autêntico dela ser a Igreja de Jesus, a Igreja dos pobres, a Igreja do Reino de Deus, página viva do Evangelho na história, memória perigosa dos profetas e profetizas de ontem e hoje.

Como você, sua comunidade, sua pastoral ou organismo se sente diante desta convocação à sinodalidade profética?

(Grifos e adaptação para o Observatório da Evangelização, Edward Guimarães)

Irmã Eurides Alves de Oliveira, ICM

Irmã Eurides Alves de Oliveira é natural de Aparecida de Goiânia-GO, é religiosa da Congregação do Imaculado Coração de Maria, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, mestra em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo -UMESP e especialista em Gestão Social pela UNISSINOS/RS. Integrante da Rede Um Grito pela vida, núcleo de São Paulo, é membro da Comissão Especial Pastoral de Enfrentamento ao Tráfico de pessoas da CNBB – CEPHETH e articuladora do GT de Formação da Ampliada Nacional das CEBs do Brasil.
Atualmente residente em São Paulo – SP.

Fonte:

www.portaldascebs.org.br

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