Saúde – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sat, 02 Apr 2022 13:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Saúde – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Mercúrio: a ameaça que mata aos poucos a população da Amazônia https://observatoriodaevangelizacao.com/mercurio-a-ameaca-que-mata-aos-poucos-a-populacao-da-amazonia/ Sat, 02 Apr 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44681 [Leia mais...]]]> A contaminação por mercúrio dos rios da Amazônia tem se tornado manchete nas últimas semanas, mas na verdade estamos falando de uma problemática que vem de longe. Além disso, a contaminação das águas é só a ponta do iceberg dentre as consequências da mineração ilegal de ouro, que afeta às populações tradicionais de diferente maneira. Acompanhe a matéria de Luis Miguel Modino:

Muito além do desastre ambiental

“Os problemas começam com a devastação da floresta, afugentando a caça, com escassez de alimentos para as populações tradicionais, também de plantas que são utilizadas como medicamentos, provoca um desequilíbrio do ecossistema local, altera a população de mosquitos com aumento da malária, inclusive em suas variantes mais letais, e outras doenças transmitidas por mosquitos”, afirma Paulo Cesar Basta.

A chegada de trabalhadores estranhos ao local do garimpo provoca o desequilíbrio da organização social, segundo o pesquisador da Fiocruz. “O garimpo coopta as comunidades pagando para se manter presente no território, e coopta homens jovens que deixam suas famílias e vão em busca de dinheiro fácil”, provocando desassistência das famílias.

Estamos diante de uma realidade sem regulamentação ambiental, nem regulamentação trabalhista, onde acaba se criando regimes de trabalho análogos à escravidão. Junto com isso tudo o que está em volta: alimentos enlatados de baixa qualidade, álcool, droga, redes de prostituição, violência sexual contra mulheres, contra crianças, disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, uma rede de problemas associados ao garimpo, insiste o epidemiologista.

A perigosa contaminação pelo mercúrio

O mercúrio é utilizado desde a antiguidade, uma técnica simples e relativamente barata. Mesmo no garimpo mecanizado, o mercúrio continua sendo usado. Quanto mais rudimentar mais desperdício de mercúrio, sendo usado entre dois e oito quilos de mercúrio por cada quilo de ouro, que posteriormente é queimado até virar vapor, provocando uma pneumonites química e outras graves lesões em diferentes partes do corpo. O mercúrio excedente é jogado no leito do rio sem nenhum cuidado.

“Sendo mais pesado do que a água sedimenta no leito do rio onde passa por um processo de transformação mediado por microrganismos e se transforma em metil mercúrio ou mercúrio orgânico, que entra na cadeia alimentar, contaminando todos os animais do rio e todos os que se alimentam de produtos do rio, também o ser humano”, segundo Paulo Basta. Isso faz com que a ingestão de peixe, principal fonte de proteína alimentar na Amazônia, contamine as pessoas, ficando no corpo por muito tempo, podendo provocar lesões graves.

Recentemente a mídia informou que 75% da população de Santarém está contaminada por mercúrio, algo que Paulo Basta, que participou da pesquisa considera exagerado. Na verdade, foi um estudo onde foram avaliadas 472 pessoas, das quais 75% apresentaram elevados índices de contaminação. Isso mostra que o problema da contaminação da população da Amazônia pelo mercúrio não se restringe a povos indígenas e povos tradicionais, mas atinge a todos aqueles que consomem do pescado, que vem de áreas atingidas pelo garimpo.

Os malefícios causados pelo mercúrio

No meio ambiente, o mercúrio fica até cem anos, segundo pesquisador, provocando doenças em adultos e crianças, ainda mais graves. No caso dos adultos pode provocar alucinação, convulsões, perder a sensibilidade das mãos, dos pés, ter dificuldades para caminhar, passar a depender de cadeira de rodas, perder a visão, a audição. Além desses sintomas graves, existem outros que podem se confundir com qualquer uma outra doença, como dor de cabeça crónica, zumbido no ouvido, dificuldade para enxergar, sentir gosto metálico permanente na boca, ansiedade, dificuldades para dormir.

Com as crianças as doenças podem começar no feto, com casos em que a criança morre durante a gestação, ter paralisia cerebral, malformação congênita. Também manifestações subclínicas, que não são de fácil detecção, e podem comprometer a criança para o resto da vida. Quando a criança é submetida a altos índices de mercúrio durante a gestação, pode ter dificuldade em seu desenvolvimento, demorando para se sentar, engatinhar, dar os primeiros passos, falar, não brinca da mesma maneira, tem dificuldade de aprendizado na escola. Isso vai arrastar para toda sua vida, dadas as limitações cognitivas, que são atribuídas ao mercúrio. Tudo isso leva a perpetuar o ciclo de pobreza, de miséria, de desigualdade, insiste Paulo Basta. 

A contaminação por mercúrio pode chegar a atingir 90% da população

Desde a realidade local, Valdeci Oliveira, do Conselho Pastoral de Pescadores da Arquidiocese de Santarém, afirma que os impactos são evidentes, sobretudo no município de Aveiro, no Rio Tapajós, próximo da região de garimpo, com mudança na coloração da água e impactos na saúde dos moradores.

Ela participou da pesquisa realizada em Santarém, afirmando que nas comunidades indígenas e ribeirinhas a contaminação por mercúrio pode chegar a atingir 90% da população. Diante disso, ela mostra preocupação por como as pessoas vão sobreviver em relação a essa realidade. Isso vai atingindo a saúde das pessoas, inclusive psicologicamente. Diante disso, a Pastoral dos Pescadores está acompanhando o povo, especialmente os mais idosos, que tem o peixe como um alimento saudável e recomendável, como fonte de proteína, e agora veem essa realidade mudada.

Também estão sendo promovidos encontros com o Ministério Público tentando buscar alternativas,” mas só falar e não ter uma resposta dos governantes, o que é de direito, é algo que não muda a realidade”, insiste Valdeci Oliveira. Ela relata que é comum ver dragas passando em frente de Santarém rumo a Itaituba e nada é feito, mesmo com o sofrimento que está sendo provocado.

Cuidar do povo, daqueles que cuidam do povo, é importante neste momento, trabalhar com as lideranças para que possam ser multiplicadores nas bases, afirma a membro do Conselho Pastoral de Pescadores. Ela vê necessário “tentar um debate maior, num seminário, para tratar dessas mazelas que estão acontecendo e tentar cobrar do poder público e dos órgãos ambientais o cumprimento da lei”. Por isso, “não pode se esperar uma grande tragedia em forma de uma doença coletiva, algo que por outra parte já está acontecendo”.

Junto com isso destaca a presença no Conselho Municipal de Saúde, buscando implementar nas Unidades Básicas de Saúde esse cuidado maior e esse acompanhamento a toda a população. Também buscar como trabalhar com as pessoas que estão contaminadas, como é que a gestão municipal toma condução dessa situação. Finalmente vê necessário tomar um posicionamento como Conselho Pastoral dos Pescadores, buscar um debate com o poder municipal e a Secretaria de Saúde.

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pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Reconstruir a Vida e a Sociedade com Saúde para todas as pessoas https://observatoriodaevangelizacao.com/reconstruir-a-vida-e-a-sociedade-com-saude-para-todas-as-pessoas/ Sat, 08 Jan 2022 18:15:10 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43295 [Leia mais...]]]> O Curso de Verão do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP), tem se tornado uma referência no Brasil. Em 2022 acontecerá em modo online, “para não colocar em risco a vida de voluntários e participantes”, a 35ª edição, de 6 a 15 de janeiro, com o tema “Reconstruir a Vida e a Sociedade com Saúde para Todas as Pessoas”, e mais uma vez com a coordenação do padre Oscar Beozzo e Cecília Bernardete Franco.

Compartilhar alternativas para o mundo atual

Diante dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, o 35º Curso de Verão pretende descobrir e compartilhar “as saídas construídas por comunidades, movimentos sociais, ambientais, culturais e políticos, entidades científicas e pessoas conscientes e comprometidas, aqui e ao redor do mundo”.

Segundo os organizadores do Curso, “a situação é complexa, difícil, por vezes desesperadora, como vivenciam dolorosamente nossas famílias e instituições e como apontam os estudos e vozes abalizadas”. Recolhendo as palavras da Mensagem da 58ª. Assembleia Geral da conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao povo brasileiro, em 16 de abril de 2021, “o Brasil experimenta o aprofundamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia, que nos desafia, expondo a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira. Embora todos sofram com a pandemia, suas consequências são mais devastadoras na vida dos pobres e fragilizados”.

Nesta conjuntura, marcada pela crise global, são destacados três aspectos, que serão tratados pelo Curso de Verão nos próximos três anos: saúde, tema abordado neste ano, tentando responder à pandemia e à morte; Educação, em 2023, frente ao obscurantismo e ao negacionismo; trabalho, em 2024, frente à fome e ao desemprego.

Temos muito a aprender

O propósito, se afirma desde o Curso de Verão, “é de se construir nova sociedade, com saúde, educação e trabalho para todas as pessoas, dentro de um projeto ambientalmente sustentável, economicamente justo e socialmente igualitário, acolhedor da rica diversidade étnica, cultural, linguística e religiosa de nosso país, no respeito às diferenças todas e no socorro imediato aos mais vulneráveis”.

Para isso colocam os povos originários como fonte de aprendizado, afirmando que “eles trazem do seu passado e de sua resistência milenar um modo diferente de se organizar e de conviver harmonicamente entre si e com a natureza”, insistindo em que “temos muito o que aprender com eles e com a sabedoria popular”.

O curso vai iniciar analisando “a realidade e os fundamentos que justificam escolhas entre distintos projetos de sociedade”. Num segundo momento, partindo da Bíblia e os conhecimentos das tradições de religiões não cristãs, serão discernidos “compromissos frente às mudanças necessárias, para que todas as pessoas vivam dignamente”. O 35º Curso de Verão será oportunidade para “a troca de experiências concretas de pessoas, grupos, comunidades e igrejas, sobre as formas de sobrevivência em relação à saúde neste tempo de pandemia”.

Sob os pilares do Ecumenismo e do diálogo inter-religioso

Como é tradição no Curso de Verão, “a metodologia do curso seguirá os princípios da Educação Popular, com destaque para a troca de saberes e de experiências como ponto de partida; para o aprofundamento de conteúdos e compromisso ao retornar às práticas locais”. Junto com isso, o Curso de Verão “tem como pilares estruturantes o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, a arte, o cuidado com as pessoas e com nossa Casa comum e o mutirão”.

Junto com a apresentação de conteúdos, haverá momentos de vivência de mística e de arte, bem como a possibilidade de reflexão dos conteúdos em pequenos grupos, nas Rodas de Conversa. Também será dedicado um tempo para a partilha de projetos e experiências acerca de diferentes maneiras de se cuidar da saúde.

Se trata de um curso oferecido a lideranças de comunidades e movimentos sociais, com prioridade para jovens e leigos, e propõe que as pessoas se organizem em seus locais de origem, para acompanhar o curso em grupos, de modo que os temas e experiências sejam acessíveis ao maior número possível de pessoas das comunidades, grupos religiosos e movimentos sociais.

Luis Miguel Modino – Regional Norte 1 – Missionário na Igreja da Amazônia e corresponde de vários periódicos no Brasil e exterior.

Visite a página do Curso de Verão

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