São Francisco de Assis – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 05 Oct 2020 01:43:56 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 São Francisco de Assis – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Um homem”, com a palavra Frei Betto https://observatoriodaevangelizacao.com/um-homem-com-a-palavra-frei-betto/ Mon, 05 Oct 2020 01:43:56 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35883 [Leia mais...]]]> Houve um homem que se enchia de inefável gozo ao sentir-se abraçado pelo Sol e vigiado pela Lua, aos quais chamava de Irmão e de Irmã. Seus olhos reluziam perante a vastidão silenciosa das estrelas e o coração transbordava ao aspirar a fragrância das flores. Ao encontrar plantas e frutos, ajoelhava-se reverente como quem se curva junto a uma criança. Falava com a relva, conversava com as árvores, segredava às pedras, deixava-se acariciar pelo vento e parecia aplacar o vigor das chamas quando evocava seu parentesco cósmico com o fogo.

Este homem nunca estudou astrofísica e jamais soube que nas águas dos rios lateja o mesmo oxigênio, expirado pelas estrelas, que flui em nossa corrente sanguínea, bombeando-nos vida. Porém, havia nele uma conatural empatia com toda a Criação. Apaixonado por Deus, sabia-se em comunhão com o Cosmo. Andarilho, o sabor do mel era, ao seu paladar, um dom tão precioso quanto a escuridão da noite para seus olhos e o lamento famélico dos lobos para seus ouvidos. Tudo evocava a maravilha do Criador: o canto das cigarras, a sinuosidade rastejante dos répteis, o rugir dos trovões, o pó das estradas.

Ele nasceu num povoado italiano há cerca de 800 anos. Sonhou ser rico como o pai, cavaleiro como os jovens de sua geração, monge como os que renunciavam ao mundo. Embebido do Evangelho de Jesus, evitou as três possibilidades. Despiu-se da roupa tecida na manufatura de seu pai, pioneiro do capitalismo, e abraçou a vida despojada das primeiras vítimas coletivas do novo modo de produção: os pobres. Como ele mesmo disse, Deus o destinara a ser “louco no mundo”. Loucura que o levava a comer do mesmo prato dos doentes, a preterir armas e cavalos em favor da ternura e da pregação itinerante. Seu mosteiro eram os caminhos e as vilas, os bosques e as montanhas. Companheiro de Clara, tudo nele era fé e festa, expressão indelével do eros, ágape místico. Cantava a dor e o riso e referia-se à morte como irmã.

Seu pai batizou-lhe Francisco, “aquele que vem da França”, em homenagem à metrópole europeia da época. Mas ele preferiu trocar os privilégios pelas efusões do Espírito, que sopra onde quer e como quer. A 4 de outubro, os cristãos comemoram a sua festa, recordando que, em 45 anos de vida, Francisco de Assis deixou-nos um testemunho de liberdade que ainda ressoa como paradigma de futuro.

Ele foi o que não somos e o que, no fundo, gostaríamos de ser.

Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. Site e livraria virtual: www.freibetto.org

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