santidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Apr 2024 18:42:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 santidade – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Beata Benigna: “defensora da dignidade da mulher, ícone contra o abuso sexual de crianças e adolescentes” https://observatoriodaevangelizacao.com/beata-benigna-defensora-da-dignidade-da-mulher-icone-contra-o-abuso-sexual-de-criancas-e-adolescentes/ Fri, 04 Nov 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46388 [Leia mais...]]]> No dia em que se completou 81 anos de seu martírio, a cidade do Crato (CE) acolheu a cerimônia de beatificação de Benigna Cardoso da Silva, a menina de 13 anos assassinada a facadas ao defender-se do assédio sexual de um jovem, algo que já tinha acontecido repetidas vezes, enquanto ia buscar água numa cacimba próxima do lugar onde morava. Uma adolescente que é considerada símbolo da luta contra o feminicídio e o abuso sexual de crianças e adolescentes.

Uma menina que mostra o valor da mulher e o amor a Jesus

Nascida em Santana do Cariri (CE) aos 15 de outubro de 1928, órfã de pai e mãe com um ano de idade, os poucos dados biográficos conhecidos dizem que ela era fiel assídua às missas na Igreja Matriz da cidade. Seu assassinato causou grande comoção e no local do crime logo foi construída uma pequena capela e assim como seu sepulcro se tornou ponto de visitação.

O representante do Papa Francisco na cerimônia de beatificação, concelebrada por mais ou menos 20 bispos e centenas de padres,  além da presença de milhares de devotos da nova beata, foi o Cardeal Leonardo Steiner, que se mostrou surpreendido pela nomeação. O Arcebispo de Manaus, que disse estar muito feliz em poder presidir uma celebração importante para o Ceará e para a Igreja no Brasil, definiu a nova beata como “uma menina que mostra o valor da mulher, a dignidade da mulher, mas mostra também o grande amor a Jesus”.

“Mártir do cuidado”

O Arcebispo de Manaus destacou o amor da Beata Benigna pela Palavra de Deus, pelas histórias da Sagrada Escritura. Também o fato dela cuidar das tias que a adotaram junto com seus irmãos e o fato de não sair do local onde morava, mesmo diante dos conselhos para fazer isso, para continuar cuidando das tias. Nesse sentido, ele disse poder considerar a nova beata como “a mártir do cuidado”.

Em sua homilia, lembrando as circunstâncias da morte e a passagem do Evangelho lida na celebração, onde relata o encontro de Jesus com a Samaritana no poço de Siquem, o Arcebispo de Manaus definiu a fonte como o lugar “onde se encontra a água que preserva e concede vida, sacia a sede de todos”, enxergando na nova beata “a mulher-menina que vai ao poço em busca de água que a fez percorrer o caminho do serviço, da dignidade, da santidade”. Alguém que “foi à fonte, em busca de água”, para quem o “lugar da água, da vida, tornou-se lugar da agressão, da violência, torna-se lugar da morte. Lugar da morte, fonte de resistência, de transparência, de fortaleza, de dignidade. Junto à fonte, Benigna oferece a sua vida na fidelidade a Jesus”.

Em Benigna, Dom Leonardo destacou que “desde cedo a Palavra e a Eucaristia foram bebida e alimento! Dessa fonte recebeu forças para perseverar, resistir, temperar-se, permanecer fiel aos desejos do seu coração”. Também que no fato de participar da comunidade e no cuidado das tias doentes, “cresceu na bondade, na generosidade, no cuidado das pessoas idosas, aprendeu na infância a amar Jesus! O seu amor, a sua misericórdia, a levou ao martírio”.

Nela, o Cardeal Steiner vê, seguindo o Livro do Cântico dos Cânticos, “um amor fiel, límpido, puro, virginal”, insistindo em que “o amor vence a morte. Na morte vemos e percebemos a grandeza transparente e forte do amor benigno, a suavidade, a ternura de Deus”. Um amor que “na morte supera transparentemente as paixões e deixa nascer e ver o amor puro e casto”, seguindo as palavras de São Paulo, que ressoam “diante da brutalidade, mesmo dos nossos dias em relação às crianças abusadas e o feminicídio”.

O arrependimento do malfeitor

Um elemento destacado pelo Arcebispo de Manaus foi o arrependimento do homem que levou Benigna à morte. Segundo ele, “a pureza e a força conduzem o jovem à reconciliação, à conversão. O admirável que ele a busque como intercessora e é atendido”, insistindo em que “não há vingança, indiferença, rejeição, mas acolhimento de um homem arrependido”.

Uma Bem-aventurada que Dom Leonardo vê como “indicadora e defensora da dignidade da mulher”. Benigna é “exemplo de não subjugação das mulheres, defensora da própria força e valor, da dignidade e da beleza, da sexualidade e da maternidade, do vigor e da ternura. Preferiu a morte que a paixão, preferiu a morte que romper com a sua dignidade”. Alguém que “hoje contemplamos e invocamos a bem-gerada da Palavra de Deus, da Eucaristia, do cuidado às pessoas necessitadas, como defensora da dignidade de mulher, como ícone contra o abuso sexual de crianças e adolescentes, como a menina da misericordiosa no cuidado para com as pessoas idosas, como indicadora do caminho da pureza, da liberdade, da santidade”.

Ajuda-nos a superar o sofrimento dos abusos sexuais e do feminicídio

A ela pediu o Cardeal Steiner que proteja e interceda por nossas crianças e adolescentes, que “as nossas crianças sejam cuidadas e amadas, as nossas adolescentes, respeitadas e maturadas. Ajuda-nos a superar o sofrimento dos abusos sexuais e do feminicídio. O teu nascimento no martírio, a tua presença transparente, ó Bem-aventurada nos desperte para a dignidade da mulher e a superação do abuso das crianças e adolescentes!”.

Uma beatificação que já está rendendo frutos, pois no mesmo dia em que ela aconteceu “é sinal de esperança a instalação do Juizado de Violência Doméstica e familiar contra a Mulher na Comarca de Crato. Tudo para a celeridade na tramitação dos feitos e também para garantir os direitos fundamentais das mulheres nas relações domésticas e familiares”, lembrou o cardeal.

Segundo ele, “Benigna nos anima a criar um ambiente familiar e social de cuidado, respeito e dignidade entre nós”, uma necessidade no Brasil, onde o crime do feminicídio e dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes são comuns e muitas vezes ficam ocultos ou são esquecidos pela justiça. Uma menina que em palavras de Dom Leonardo nos diz que “a inocência, a pureza, abrirá o caminho celebrarmos a Padre Cícero Bem-aventurado e depois santo”, o que despertou aplausos na multidão presente. Aquele que é considerado, ainda ser reconhecido pela Igreja, como um santo pelo povo nordestino, lhe pediu que “nos ajude a ser perseverantes e não abandonemos a fé em Jesus”.

Finalmente, Dom Leonardo implorou a intercessão da Bem-aventurada Benigna: “Olha as nossas crianças, nossas jovens, nossos jovens, sintam-se amadas e cuidadas. As mulheres sejam respeitadas na sua dignidade, na sua maternidade. Ajuda-nos a contar as histórias de Jesus, ensina-nos a amar e viver a Palavra de Deus, a Eucaristia”.

FONTE: Adaptado de IHU

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ANALFABETOS ECLESIAIS: UM NOVO RADICALISMO https://observatoriodaevangelizacao.com/analfabetos-eclesiais-um-novo-radicalismo/ Fri, 13 Apr 2018 17:56:07 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27819 [Leia mais...]]]> Por: Pe. Matias Soares

A intenção desta reflexão é situar uma nova categoria que – devido à falta de conhecimento do pensamento da Igreja a partir das suas fontes genuínas e autênticas, que são a Sagrada Escritura e a Tradição Eclesial Viva, com a interpretação do seu magistério – tem assumido um radicalismo violento, irresponsável e imaturo na concepção e modo de proceder do seu “sentir contra a Igreja” e não “com a Igreja”.

radicalismo 2

Quando penso sobre o significado de radicalismo, o diferencio de radicalidade evangélica, no seguinte:

1. A radicalidade: esta é fruto da nossa conversão diária e permanente, que nos torna dóceis ao chamamento do Senhor. É fruto da nossa fé e confiança na ação gratuita, misericordiosa e amorosa de Deus-Pai. Por ela, somos chamados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ela não exclui, não mata, nem promove a injustiça e a desunião… Ela nos torna sinais da presença do Reino de Deus, já aqui e agora.

2. O radicalismo: esse nos faz preconceituosos e excludentes. Leva-nos ao fundamentalismo, ou é fruto deste. Não é sinal do amor de Deus. Não brota do coração que ama, mas da hipocrisia. Não gera a vida, e sim a morte. Não permite que haja compaixão e misericórdia. Nos tenta a querer tomar o lugar de Deus. Torna-nos autorreferenciais e não seguidores autênticos de Jesus Cristo, que anunciou e testemunho o Reino de Deus, fazendo a vontade do Pai-Nosso.

Em outra consideração, já havia abordado essa questão. A radicalidade evangélica é própria da santidade cristã. Sobre o fundamento da mesma, assim ensina o Papa Francisco na sua Exortação: “Sobre a essência da santidade, pode haver muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Uma reflexão do gênero poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre como fazer para chegar a ser um bom cristão, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida”. (Cf. GE, n. 63). Para ser cristã e viver a sequela de Cristo, o que é essencial é a vivência do Evangelho. Quando percebemos a diferença entre radicalismo e radicalidade, podemos ter um termômetro das condições, às quais estão a delimitar e sufocar o essencial espírito do que é o Reino de Deus.

Existe um “analfabetismo eclesial e evangélico” das novas gerações de milhares de membros de comunidades eclesiais, que renegam constantemente a essência do Cristianismo. Esta está configurada e qualificada pela vida e obra de Jesus de Nazaré, o Ressuscitado e nosso único Salvador. Para muitos, que se dizem cristãos, mas que não entram na lógica universal e necessária do Evangelho, o Cristianismo não está sendo verdadeiramente assumido. . Esse fenômeno da superficialidade da vida cristã fez com que, em séculos anteriores, os mestres da suspeita (segundo expressão de Paul Ricoeur) Freud, Nietzsche e Marx, percebessem, sim, as lacunas da “religião cristã”. Isso porque muitos que se diziam cristãos se esqueceram de testemunhar com a própria vida a fé, à qual se converteram. A grande ânsia do mundo contemporâneo sobre a credibilidade de quem é o “cristão” passa pela santidade de vida. Neste aspecto está o porquê da exortação do Papa Francisco: o testemunho. Ser radicalmente seguidor de Jesus de Nazaré é viver o que se professa no dia a dia da história, em cada estado de vida e consagração que são assumidos pelo fiel batizado, que testemunha o que é-lhe próprio como cristão.

Os Analfabetos Eclesiais, deste modo, não são ignorantes só do que a Igreja ensina, como também não conhecem o que o próprio Evangelho ensina. Há um “Analfabetismo Evangélico”. Os paladinos do secundário, que não recordam do essencial, estão assumindo novas formas de contraposições ao significado da dinâmica cristã. O Pontífice os descreve com simplicidade e muita clareza, sem deixar a profundidade teológica, na sua Exortação sobre a Santidade:
a) O gnosticismo: “supõe uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos” (cf. GE, n. 36).
b) O pelagianismo: “o gnosticismo deu lugar a outra heresia antiga, que está presente também hoje. Com o passar do tempo, muitos começaram a reconhecer que não é o conhecimento que nos torna melhores ou santos, mas a vida que levamos. O problema é que isto foi sutilmente degenerando, de modo que o mesmo erro dos gnósticos foi simplesmente transformado, mas não superado. Com efeito, o poder que os gnósticos atribuíam à inteligência, alguns começaram a atribui-lo à vontade humana, ao esforço pessoal” (cf. GE, n. 47-48).

Essa ideologização, que degenera a beleza do Evangelho está obscurecendo a consciência de muitos batizados. O ódio, a intolerância, a falta de caridade, que é o pior dos pecados do discípulo de Jesus, na hierarquia das virtudes, foi e continua a ser fonte de divisão e perversão da Igreja do Senhor (cf. Mc 3,24; Jo 17,21). A polarização política, que tem como parâmetro a divisão para o domínio, tornou-se mais penetrante do que a comunhão das e nas diferenças, que é própria da comunidade cristã. Pois, “a comunhão é o sacramento da comunidade” (R. Guardini).

Penso que um redescobrimento da importância da espiritualidade eclesial é urgente na vida da Igreja. Isso é indispensável para o fortalecimento e testemunho do que a Igreja deve e precisa ser para o Mundo e, muito especialmente, para o povo brasileiro. Tudo que contribui para que não se dê o testemunho de unidade é uma chaga aberta no corpo eclesial. Conversão ao Evangelho e à identidade da Igreja. Que o Espírito Santo nos fortaleça nessa busca que é o grande desafio da fé da comunidade eclesial para os tempos de hoje. Nisto consiste também a nossa santidade. Assim o seja!

 

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