Romaria dos Mártires 2016 – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Aug 2016 19:16:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Romaria dos Mártires 2016 – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Profetas do Reino, um relato apaixonado da Romaria dos Mártires https://observatoriodaevangelizacao.com/profetas-do-reino-um-relato-apaixonado-da-romaria-dos-martires/ Thu, 25 Aug 2016 19:16:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=9981 [Leia mais...]]]> 13781762_1071437372938815_5674023002416850792_n

 

Estive em Ribeirão Cascalheiras-MT para participar da Romaria dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, nos dias 16 e 17 de julho de 2016. Fui no ônibus das CEB’S da Arquidiocese de São Paulo. Uma galera divertidíssima. Foram 30 horas para ir e 30 horas para voltar, fomos tocando violão e cantando aquelas que ninguém toca e canta mais…mas… cheguei inteiro.

Pessoas de todos os cantos do Brasil, da América Latina e Caribe, do outro lado do Atlântico, estavam chegando à São Félix do Araguaia, para participarem pela primeira vez da grande Romaria dos Mártires. Outros já estavam repetindo a dose para retomar as forças. Já tinha gente hospedada próximo ao local desde a sexta-feira; outras pessoas já haviam se deslocado para o local a quase um mês para ajudarem a preparar, a organizar tudo para celebrarem juntos a bendita Romaria. E Deus viu que tudo era bom.

Eram 8 horas da manhã quando o ônibus parou na praça da Igreja São João Batista, onde todos os romeiros iriam chegar e se reunir.

 Foi muito legal rever amigos e amigas.

Depois de um café com pão e margarina, as pessoas foram enviadas para os hotéis, casas de família e escolas onde ficariam hospedadas. Foram descansar da viagem, outras visitaram o Santuário dos Mártires, outros, ficaram por ali, conversando e matando a saudade.

Foram dias de oração, de luta e troca de experiências. Que não caberiam neste breve relato que faço, e que tento ser muito fiel. Meus olhos viram, meu coração sentiu…muitas coisas…peço a Deus que me ajude enquanto escrevo algumas palavras daqueles dias naquela Terra Santa. Como explicar algo inexplicável?

Meus pés ficaram cobertos com a terra vermelha.

Em minha cabeça, as palavras de Deus para o profeta Moisés: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa”.

Conversei com muita gente que nestes 40 anos viveram uma espiritualidade pé no chão, que resistiram a muitas tempestades. Aqueles que vinham da grande tribulação. Em tempos primaveris de Francisco, muita coisa precisa mudar para a Igreja avançar para águas mais profundas.

Abracei muitas pessoas, e fui abraçado. Me emocionei com o carinho de tantas pessoas.

Abracei o índio Guarani Kaiowá, que traz em seu peito uma “bala” alojada do lado do seu coração, e que passa imensas necessidades com sua família…que não consegue andar direito, que não pode fazer operação para tirar a “bala”, que está ameaçado de morte por defender o seu povo, e que me ensinou que o importante da vida é lutar por ela, para viver com dignidade.

Conversei com os Xavantes, ouvi o clamor que brota do coração deste povo guerreiro. Me emocionei novamente pois reencontrei um dos índios que me recebeu na aldeia deles quando ali estive em 2003.

Revi os amigos e irmãos de caminhada Zeca Terra e o Chico Machado…profetas da esperança.

13715994_1072726626143223_968940017985838903_n
Foto de Gildean Farias

Conheci jovens de todo o Brasil e também do exterior que foram visitar a barraquinha da Identidade Pejoteira que vendia seus produtos e também o meu mais novo livro. Que satisfação abraçar, autografar e tirar fotos com a galera ali presente. Que lindo ouvir de suas bocas: nossa…que camisas bonitas…

Depois participei da roda de conversa e também de um momento da Pastoral da Juventude onde pude rever muita gente querida…os abraços foram inúmeros.

Nem parecia que já havia se passado tanto tempo. Amizade sincera supera a distância e o silêncio. Fui apresentado a muita gente nova, que estavam ali pela primeira vez, cheios de alegrias e lágrimas de felicidade nos olhos, pareciam ter descoberto um tesouro escondido.

13775916_1072026776213208_4607540220989349696_n

À noite ao redor da fogueira e com as velas acesas, vi, emocionado, meu querido amigo e irmão Pedro Casaldáliga, em sua cadeira de rodas se aproximar para a oração.

Não tirei nenhuma foto, pois já o tinha visto na casa paroquial…nada falamos um para o outro…apenas nos olhamos…e segurei nas suas mãos…tudo o que precisava ser dito…foi dito e guardado no coração.

13697224_10209580993382585_6943101476549417553_n

Em caminhada cantei com Zé Vicente e outros camaradas que animavam a romaria: “Vidas pela Vida…Vidas pelo Reino…Todas as nossas vidas…”.

Dizem que tinha quase 15 mil pessoas…em meu coração eu sentia muito mais. E como cantaram bonitas aquelas vozes todas. Em sintonia com a causa dos pobres e do Reino.

Caminhamos pela estrada que leva ao Santuário dos Mártires, cruzes estavam no caminho, nos lembrando que com o sangue dos mártires não podemos brincar…chorei ao rever a capelinha da cruz do padre mártir João Bosco. E Deus viu que tudo era muito bom.

13710045_1071437192938833_4647112623321889730_n
Foto de Emerson Sbardelotti

No domingo, celebramos juntos a vida dos Profetas do Reino. Me lembrei de pessoas queridas que estão passando por momentos difíceis…essa celebração foi para vocês. O Pedro estava lá…sufocado pelos curiosos e fãs que não paravam de tirar fotos, apesar dos apelos do padre Mirim. Brasileiro sempre quer levar para casa uma lembrança. Quando ele passou por mim, me deu um tchau, me viu, sorriu, isso valeu…não precisei tirar foto nenhuma.

Marcante e em conexão com tudo que estava sendo vivido ali e que me recordo com imensa emoção a frase de D. Sebastião Gameleira – bispo anglicano: “Adorar a Deus fora da luta do povo, da defesa da vida do povo, é idolatria”.

As causas de Pedro Casaldáliga são maiores do que ele. Tenho muito orgulho de ser seu amigo e irmão de caminhada. Infelizmente há pessoas, que se dizem católicas, que não conhecem a sua vocação, não conhecem a sua vida, não conhecem as opções que Pedro assumiu e as viveu até as últimas consequências…são as mesmas que o próprio Jesus de Nazaré assumiu.

E TODO O RESTO ACONTECE…

Passados alguns dias da Romaria e olhando as fotos que tiraram de D. Pedro Casaldáliga, e que postam nas redes sociais, fiquei tocado, como estou agora, enquanto escrevo estas rápidas palavras, por causa de sua fragilidade teimosa e de sua estética evangélica (estar no meio daquele povo todo); porém, como já disse antes, eu não tirei nenhuma com ele, nem dele, mas guardo vivo na memória e no meu coração (que batia mais acelerado do que o normal) e para o resto da minha vida, o nosso encontro na casa paroquial, ele me reconheceu; em seu olhar me chamou pelo apelido carinhoso que me deu quando eu era ainda jovem militante da PJ: Divino Impaciente; Pedro é assim, quando ama alguém ele apelida. Em nosso aperto de mão, não falamos nada, apenas nos olhamos e tudo foi dito, tudo foi conversado, colegialmente combinado.

Há muito a se fazer pela defesa da vida!

Naquele aperto e naquele olhar amoroso de avô, pai, irmão, amigo e companheiro de caminhada, ouvi em meu coração ele dizer: “Ser amável com todos é mais fácil, mais cômodo, que ser honestamente profético com todos. Amar é também incomodar”. Ninguém ouviu, só eu e ele.

Me levantei, sorri e me retirei, com o coração cheio de nomes e os olhos cheios de lágrimas de alegria, teimosia e fiel esperança.

13707563_582820655221030_4576991720168100613_n
Foto de Douglas Mansur

Ser Profeta do Reino, ser Poeta da Gente é gritar com os olhos…e todo o resto acontece…

E sozinho comecei a cantar um antigo poema que Pedro compôs e frei Mingos musicou:

“Somos um povo de gente, somos o povo de Deus. Queremos terra na terra, já temos terra nos céus…

Queremos plantar a roça onde plantamos o amor. Lavrador, a terra é nossa, de um afã e um só Senhor…

Retirantes, chega o dia de assentar o pé no chão: com fé em Deus e teimosia e na força da união…

Temos braços e esperança, somos gente, hoje, aqui! Se a pobreza é nossa herança, na justiça está o porvir…

Conhecemos a verdade e sabemos ver e amar. E exigimos liberdade pra viver e melhorar…

Conhecemos a verdade e o direito de ser mais. E exigimos igualdade, terra e casa, mesa e paz…

Lavradores, vida nova! Gente unida em mutirão! Gente unida a toda prova, de uma fé um coração…

Essas matas pra lavoura, água clara, puro o ar. Mão na enxada e pé na espora e um bom céu para esperar…”.

Retornei para São Paulo com a certeza que temos muito o que fazer pelas causas do Reino da Vida. Todos que ali estiveram, acredito, vivem esta mesma certeza e sabem que sem a fiel teimosia e a fiel esperança não vamos muito longe, juntos, somando forças vencemos o medo. “O perigo é ter medo do medo”.

 Em meu coração não esqueci de nenhum nome que amo.

13432198_1050594961689723_8472192352743798515_n

Emerson Sbardelotti

Mestre em Teologia pela PUC-SP

Agente de Pastoral Leigo

Colaborador do Observatório da Evangelização

]]>
9981
Romaria dos mártires da caminhada 2016 https://observatoriodaevangelizacao.com/romaria-dos-martires-da-caminhada-2016/ Tue, 02 Aug 2016 20:29:39 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=8620 [Leia mais...]]]> O testemunho de uma catequista

(22 de Julho de 2016)

Romaria dos Mártires.png
Cartaz da Romaria

Conhecia a Romaria dos Mártires da Caminhada por comentários, artigos e fotos. No segundo semestre de 2009, recebi o convite para a Romaria dos Mártires da Caminhada de 2011. Eu e meu esposo aceitamos o convite e durante dois anos nos preparamos,  economizando para as despesas da longa viagem, participando de encontros para rezar, cantar e celebrar a vida e o compromisso com o seguimento de Jesus Cristo, mártir primeiro pela causa do Reino de Deus.

Para a Romaria de 2016 foram também dois anos de preparação com algumas pessoas da Irmandade dos Mártires de nossa região. Alguns grupos de romeiros podem organizar de forma diferente a preparação para a Romaria, elaborando um planejamento de longo, médio e curto prazo.  Este ano a CEBs, junto com a Irmandade dos Mártires da Caminhada de nossa região e a Pastoral da Juventude uniram-se e fretaram um ônibus.

A 1
Roda de Conversa: “Cerrado, berço da águas. Comunidades afetadas por agrotóxicos e conflitos no Araguaia”  (sábado 16-07-2016 ). Foto Maria Matsutacke.

Participar da Romaria dos Mártires da Caminhada é diferente de participar de uma excursão turística religiosa. Pode-se simplesmente estar na Romaria dos Mártires da Caminhada ou vivenciá-la. Temos aqueles poucos que, por simples curiosidade, vão para a Romaria e entre estes alguns retornam com muito mais do que levaram. Trazem algo que lhes deu um sentido novo para a vida.  Isso é algo que testemunhei em 2011 e também nesta Romaria de 2016.

Este ano a Romaria dos Mártires nos levou a refletir o texto das Bem Aventuranças. “Bem-aventurados/as as/os que são perseguidos/as por causa da justiça, porque deles/delas é o Reino do Céu”. (Cf. Mateus 5,10).

Celebramos a memória dos mártires da caminhada e em particular, este ano, os 40 anos do martírio do Pe. João Bosco Penido Burnier, Pe. Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo.

A2
Caminhada Martirial. (sábado 16-07-2016). Foto Maria Matsutacke.

O tema da romaria de 2016 foi: “PROFETAS DO REINO”. Tratou-se das três funções que  caracterizam a profecia: anuncio, denuncia e consolo. A profecia anuncia a Boa Nova: ela é evangelizadora por definição. A profecia denuncia o anti-reino: denuncia a má noticia de todos os sistemas e atitudes de morte. A profecia consola: É o pedido do próprio Deus, “consola o meu povo”. Opta pelos pobres, excluídos, marginalizados. A profecia que consola é misericordiosa, solidária, cuidante, luta pela justiça e pela paz, é amorosa.

(Cf. Carta de Dom Pedro Casaldáliga enviada aos romeiros).

Entre os romeiros e romeiras da Romaria dos Mártires da Caminhada encontram-se pessoas de diversos países, de outras denominações religiosas, a maioria é cristã com uma experiência de ação pastoral ou de movimentos eclesiais. Ativistas de várias causas sociais, pessoas juradas de morte com um preço pela sua vida e que sobrevivem aos atentados ou os testemunharam reforçam o coro que entoa em uníssono: PRESENTE NA CAMINHADA!

Independente de religião, da opção política partidária ou de etnia, todos e todas se irmanam por uma causa comum, uma utopia possível: crer na justiça que constrói a paz e gera vida para todos. A romaria reúne pessoas revelando a unidade na diversidade. Na Romaria dos Mártires da Caminhada estamos como membros da mesma família que habita a casa comum e sentam-se à mesa para dialogar, partilhar e conviver. Vivemos e celebramos, reconhecendo e respeitando nossa individualidade e liberdade. O dialogo ecumênico e inter-religioso é vivenciado. Em nosso meio não há espaço para conflitos ou extremismos seja por religião, política ou etnia. O que nos difere é o que nos enriquece como pessoas únicas. Isso foi o que testemunhei, experimentei e vivenciei em 2011 e em 2016.

A3
Missa em Memória dos Mártires da Caminhada. Dom Pedro Casaldáliga (88 anos) (Domingo17-07-2017). Foto Maria Matsutacke.

Todos são bem vindos à Romaria e se, para algumas pessoas, conviver com as diferenças é um obstáculo, estas vão limitar-se à simplesmente estar na romaria por simples curiosidade religiosa ou turística e, por causa de seus muros e pré-conceitos enraizados terá dificuldades para permitir-se viver a experiência, de ver profeticamente, o alvorecer de um mundo melhor e possível. No entanto, acredito na força do testemunho, pois que o que se ouve e se vê na Romaria sempre queimará por dentro, no fundo da consciência…

Por que tantas pessoas deram a vida para que outros tenham vida? Quantas ainda precisam morrer para tirar o véu da indiferença e da inércia da nossa consciência? Ao longo da história da humanidade quantas vidas plantadas como semente no chão e regadas com o suor e o sangue de tantos outros.  Para nós cristãos estas vidas são marcadas pela causa do Reino de Deus, pela fidelidade a sua Palavra e por viver a radicalidade do evangelho no seguimento de Jesus Cristo. Mas a Romaria dos Mártires não celebra a memória somente dos mártires cristãos, pois temos também homens e mulheres mártires na história e que não são cristãos, pessoas que ousaram levantar a voz e contradizer o sistema que cega, cala, anestesia, oprime, fere e nega a dignidade de pessoa humana.

A4.jpg
Missa em memória dos Mártires da Caminhada. (Domingo17-07-2017). Foto Maria Matsutacke.

O pecado social, tão presente em nosso mundo e gerador da cultura de corrupção e morte, exige mais que uma conversão, eu costumo dizer que é necessário um exorcismo.

A minha experiência pessoal com a Romaria dos Mártires da Caminhada desde 2011 veio corroborar o que eu já intuía e sentia em meu ser por muito tempo. Sempre questionei a incoerência entre o discurso e a prática, o divórcio entre a fé e a vida. Faltava testemunhar com meus olhos e ouvidos e com todos os outros sentidos que a esperança é teimosa e sua força nos transcende.  Posso dizer que é uma experiência de reencontro com Jesus Cristo vivo que muda o modo como vejo os conflitos deste mundo e a minha práxis cristã.

Como catequista de uma Paróquia de periferia urbana na cidade de Jacareí – SP, Diocese de São José dos Campos, convivendo dia-a-dia com a intolerância religiosa, a exclusão e criminalização de pessoas não batizadas ou batizadas e não evangelizadas, com o tráfico de drogas, a violência e extermínio de jovens, as disputas políticas e eclesiais, o desemprego, a falta de atendimento na saúde e educação, e tantas outras situações que nós brasileiros já conhecemos. A Romaria dos Mártires da Caminhada renova a esperança, o compromisso batismal e dá sentido para a paz inquieta, para o fogo que arde e impulsiona, para a indignação que consome lágrimas e não aceita ficar inerte no conformismo de uma fé sem ação.  A mistagogia que anima tudo isso é alimentada pela Palavra de Deus, cultivada no silêncio da oração. Minha vocação cristã, minha vida como mulher, esposa e cidadã, membro da família que habita a casa comum, não me permite ficar alheia, pecar por omissão ou comodismo.

A Romaria dos Mártires da Caminhada que acontece a cada quatro ou cinco anos em Ribeirão Cascalheira – MT,  tem uma história de 40 anos. Para conhecer um pouco mais faça uma pesquisa sobre a vida dos mártires e sobre os Bispos, padres, religiosos/as e leigos/as ameaçados de morte no Brasil e em outros países, sobre quem foi o Padre João Bosco Penido Burnier ou sobre a Romaria dos Mártires nos sites:

http://irmandadedosmartires.blogspot.com.br/

– http://martiresal.blogspot.com.br/p/pe-joao-bosco.html 

http://irmandadedosmartires.blogspot.com.br/2013/01/anotacoes-sobre-o-conceito-de-martirio.html

http://irmandadedosmartires.blogspot.com.br/2013/01/irmandade-dos-martires-da-caminhada-o.html

Como bibliografia vou sugerir a Agenda-Livro Latino Americana pesquise sobre no site: http://latinoamericana.org/Brasil/

A5

 

Roseli de Carvalho Moraes de Miranda

Catequista na Paróquia São José Operário de Jacareí

Diocese de São José dos Campos.

]]>
8620