Rede de Animação Litúrgica – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 26 Feb 2018 15:00:56 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Rede de Animação Litúrgica – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Ofício Divino das Comunidades: a versão brasileira da Liturgia das Horas https://observatoriodaevangelizacao.com/oficio-divino-das-comunidades-a-versao-brasileira-da-liturgia-das-horas/ Mon, 26 Feb 2018 15:00:56 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27434 [Leia mais...]]]>

Todo gesto de amor é um ofício divino, mas como seres humanos temos necessidade de expressar em linguagem simbólica e ritual o que somos, cremos e fazemos. É uma oração preferencialmente comunitária, de louvor e intercessão que organiza de modo peculiar elementos comuns a toda celebração cristã, tais como: leituras bíblicas, salmos, hinos de meditação, orações, músicas e tempos de silêncio, gestos e símbolos, tudo isso em determinadas horas do dia, levando em conta a semana e o tempo litúrgico.

O ofício divino das comunidades cristãs tem sua origem nas comunidades judaicas que fazem suas orações cotidianas três vezes ao dia: de manhã, à tarde e ao meio dia. Por exemplo, de manhã, “antecipar-se ao sol para agradecer e adorar o Senhor” (Sb 16,28); de tarde, a ação de graças a Deus que transformou o caos primitivo e fez surgir a manhã depois de cada noite. Mas vem também da prática de Jesus que orava como judeu e que ensinou ser preciso vigiar e orar sempre com perseverança (Lc 18,1).

Nas primeiras comunidades cristãs (I século), os seguidores de Jesus colocaram os ensinamentos do mestre como ideal. Como encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos, eles às nove horas (hora terceira) (cf. Atos 2,1.15) faziam a oração da manhã; depois, às três horas (hora nona) (cf. Atos 3,1-2) faziam a oração da tarde; e, por fim, faziam também a vigília noturna, na comunidade de Jerusalém (cf. At 12,12,5.12), na prisão em Filipos (cf. At 16,25), em Trôade, a liturgia habitual do domingo (cf. At 20,7-11).

Nas comunidades cristãs do II século podemos testemunhar o apelo para o orar sem cessar: ao levantar-se, às nove horas, ao meio dia, às três da tarde, ao cair da tarde e à noite, em particular e também em comunidade, fazer uma oração de louvor a Deus e intercessão por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. At 3,16). A cada hora um sentido em memória da paixão e ressurreição de Jesus. Há gestos simbólicos: voltar-se para o oriente; mãos levantadas; lucernário.

Nas comunidades do IV século reconhecemos a prática de assembléias cotidianas, com o povo (crianças), especialmente de manhã e à tarde, com salmos, antífonas, hinos e orações… Associavam o mistério pascal à hora, tempo… Atuação de ministros… O rito do lucernário. Além disso, vigílias noturnas cotidianas e ocasionais (páscoa, natal, pentecostes, e do domingo).

Aos poucos a prática deixa de ser feita pelo povo e passa a ser feita, apenas, pelo clero, quase sempre de forma recitada, individual, sem a presença do povo e sem qualquer relação com as horas. Alguns fatores contribuíram criar uma barreira entre ofício divino e o povo. Primeiramente, a fixação da liturgia em latim; Em segundo lugar, uma sobrecarga de conteúdos, pela multiplicação de livros e ofícios. Em terceiro lugar, a recitação individual pelo clero sem povo e desligado da hora. Com o tempo, o povo entregou-se às devoções: o Ângelus, três vezes ao dia; o rosário, com 150 ave-Marias;  e o  ofício de Nossa Senhora com hinos da liturgia oficial. Mas a tradição de celebrar em comum foi preservada pelas comunidades monásticas.

Um pouco antes do Concílio Vaticano II, surgiu o movimento litúrgico consciente da necessidade de voltar às fontes da experiência cristã. Esse movimento fará a redescoberta da liturgia das horas. Como exemplo, merece destaque a experiência ecumênica concretizada pela Comunidade de Taizé que resgatou a prática das orações das horas com multidões.

O Concílio Ecumênico Vaticano II valorizará e oficializará, no documento Sacrosanctum Concilium, o resgate da liturgia das horas ou ofício divino. Assim, em 1971, acontece a publicação da primeira versão reformada da Liturgia das Horas e, logo depois, da Instrução Geral à Liturgia das Horas (IGLH), explicitando os princípios teológicos e pastorais.

Fica claro que o específico do Ofício Divino = Liturgia das Horas é fazer memória da páscoa nas horas do dia especialmente manhã, tarde e noite. Nas horas do relógio recordamos as horas de Deus na vida de Jesus e em nossa vida. A interrupção do trabalho pela oração, regularmente, é salutar, liberta o tempo, para que não seja preenchido apenas com o trabalho Somos lembrados/as pelas horas que todo o tempo pertence a Deus. Voltando nossa atenção ao mistério de cada hora, associada às horas de Jesus, permitimos que a vida se ordene segundo os passos de Jesus:

  • De tarde, com o sol poente, fazemos memória da Páscoa de Cristo na ceia e na cruz. Ofício de Ação de graças. Rendemos graças pelas vitórias conquistadas e intercedemos pelas necessidades do mundo.
  • De manhã, com o sol nascente, fazemos memória de Jesus Cristo em sua ressurreição. Ofício de Louvor. Dirigimos a Deus nossa prece de louvor pela luz do novo dia… Renovamos nossa adesão ao Cristo assumindo nossas responsabilidades na preservação do mundo.

O Ofício divino, como todas as ações litúrgicas da Igreja, é memória da Páscoa de Cristo e da páscoa do povo. Ao fazer memória participamos “da mesma piedade do unigênito do Pai, daquela oração que ele dirigiu durante a sua vida terrena e que agora continua, sem interrupção, em toda Igreja e em cada um de seus membros, em nome e pela salvação da humanidade” (IGLH 7).

O Ofício Divino é oração do Povo de Deus: de toda comunidade cristã (cf. IGLH 270). Não é algo reservado aos clérigos e monges, mas pertence a cada comunidade, ou um pequeno grupo, ou mesmo uma pessoa, o faz como Igreja, em nome de Jesus, pela humanidade (IGLH 7). É fonte de piedade e alimento da oração pessoal (cf. SC 90 e 14)

A Reforma da Igreja promovida pelo Concílio Vaticano II tem dimensões teológica, pastoral e espiritual. Suscita, portanto, uma reorganização dos diversos elementos que compõem o rito, que tem como finalidade levar o povo de Deus a participar do mistério pascal de Cristo, nas horas do dia. A Sacrosactum Concilium fala de uma participação: ativa; interna e externa; consciente; plena e frutuosa.

A Sacrosanctum Concilium deixa claro que a Igreja não deseja e nem pretende impor uma forma rígida e única de liturgia (cf. SC 37-40) devido a necessidade da inculturação. Aplicando este princípio ao Ofício Divino: foi elaborado na Igreja da América Latina o Ofício Divino das Comunidades levando em conta três referências:

  1. A TRADIÇÃO DA IGREJA, de celebrar em determinadas horas, uma oração de louvor e intercessão, com salmos, leituras bíblicas, hinos e orações.
  2. A REALIDADE DA AMÉRICA LATINA que, sobretudo a partir de Medellín, forjou um novo jeito de ser Igreja pelas Comunidades Eclesiais de Base, ligando de forma inseparável liturgia e vida.
  3. A PIEDADE POPULAR, buscando realizar a “mútua fecundação” entre liturgia e piedade do povo, correspondendo “aos anseios de oração e de vida cristã”.

O ponto de partida para a elaboração do Ofício Divino das Comunidades foi a experiência da Comunidade de Ponte dos Carvalhos em Pernambuco, por iniciativa de um padre diocesano, Geraldo Leite, compositor, artista e, acima de tudo, pastor.

Fonte:

Rede Celebra

]]>
27434
A quaresma como itinerário pascal https://observatoriodaevangelizacao.com/a-quaresma-como-itinerario-pascal/ Mon, 26 Feb 2018 10:00:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27444 [Leia mais...]]]> Ano Litúrgico: itinerário pedagógico da fé

Uma das atribuições da Igreja é fazer com que seus fiéis se aproximem da graça salvadora de Cristo. Os fiéis fazem isso toda semana, no Domingo, justamente denominado Dia do Senhor, celebrando a ressurreição de Cristo, também de maneira mais especial no período do Tríduo Pascal. Logo, quem participa das ações litúrgicas, entra em contato com a riqueza das virtudes e méritos de Jesus Cristo, por isso o mistério de Cristo anunciado e vivido ao longo de um ano possibilita a quem crê a plenitude da graça da salvação.

Toda ação de Cristo operando em prol de sua comunidade de fé, orante e reunida em assembleia, ocasião em que toma contato com a pregação, a vivência e o anúncio do Reino de Deus feito por Jesus, é um itinerário pedagógico, o qual chamamos de Ano Litúrgico.

O Ano Litúrgico, vivido como sinal sacramental da atuação do Cristo que se mostra com toda a sua força atuante, alimenta a piedade dos fiéis. Ele possui força sacramental, segundo o dizer do papa Paulo VI. É em torno desse mistério da nossa fé que também aguardamos a feliz vinda do Cristo, no reino futuro. Enquanto ele não vem, nós o aguardamos nas nossas ações do cotidiano, também celebrando o mistério pascal nas nossas liturgias. Portanto, podemos dizer que no Ano Litúrgico vivemos o sacramento da espera, unindo nosso cotidiano na oferta do próprio Cristo, até que um dia, por Cristo, com Cristo e em Cristo, Deus venha a ser tudo em todos.

Nesse sentido, os ritos contemplados na ação litúrgica nos dão a possibilidade de vivermos o mistério pascal, não como estranhos ou simples expectadores, mas como participantes conscientes, piedosos e ativos. É esta a natureza frutificadora da ação litúrgica, ela tem a preocupação de colocar o ser humano em relação com o mistério pascal da morte e da ressurreição de Cristo, em quase todas as ocasiões da vida, pois do mistério pascal derivam a graça e força pelas quais se santificam os fiéis bem dispostos, diz a Sacrosanctum Concilium.

Mas, não basta apenas isso. Para que a liturgia exerça realmente sua força de contato com o mistério pascal, é necessário que todos os que desejam manifestar o louvor a Deus e também se santificar, tenham possibilidade de participar ativa, plena, frutuosa e conscientemente.

 

A ação litúrgica é tornar célebre um acontecimento, perpetuando-o

Sempre que recordamos um acontecimento, nós o fazemos através de lembranças deste mesmo acontecimento. Por isso a celebração, que deriva da palavra ‘célebre’, é o meio eficaz de fazermos isso. Tudo feito por meio das ações simbólico-sacramentais, isto é, celebramos com ritos, preces, símbolos e ações gestuais para fazer memória do evento mistério pascal de Cristo, o acontecimento mais importante do cristianismo.

Todo domingo, na celebração eucarística, por força dos ritos e das preces, das orações e das louvações, nós tornamos célebres aqueles gestos de Jesus realizados na última ceia: sua entrega pascal, realizada de forma ritual na noite da quinta-feira santa e sua entrega sacrificial, seu corpo crucificado e morto na sexta-feira da paixão, além de contemplarmos o vazio no sábado da sepultura e comemorarmos a ressurreição, na madrugada do domingo. Repetindo os ritos, aprofundamos seu sentido, ou seja, aquilo que eles mesmos expressam, a nossa fé. Desta forma, a liturgia cristã, na qual fazemos memória pascal, passa por esse prisma, ela mesma representa esses fatos, de uma forma ritual, e, revivendo-os, fazendo memória, nós a tornamos viva e a qualificamos de forma perene.

 

A força pedagógica do período Quaresmal

O Ano Litúrgico nos oferece o tempo da Quaresma como uma oportunidade de fazer memória do nosso batismo, ocasião em que nós recordamos aquela graça, pela qual fomos inseridos um dia, mergulhando na água do Espírito, renascendo para uma vida nova.

Por sua força sacramental, o tempo quaresmal nos coloca em prontidão para a escuta da Palavra e a oração, elementos essenciais que devem ser vividos também ao longo de todo Ano Litúrgico, mas que a Igreja chama para uma atenção particular e mais atenta neste tempo. Então, a ação memorial do batismo, nós a realizamos escutando a Palavra, orando em comunidade e celebrando na mesa comum a memória pascal do próprio Cristo.

Nas comunidades primitivas era também ocasião em que os catecúmenos, aqueles que eram iniciados na fé, podiam ser preparados para receber o sacramento do batismo, um dos que fazem parte dos chamados ‘sacramentos da iniciação à vida cristã’. No período quaresmal, os catecúmenos viviam o tempo chamado de ‘purificação’ e ‘iluminação’, o que os consagrava a preparar-se mais intensamente o espírito e o coração, examinando suas consciências e com atitudes penitenciais para a vivência sacramental.

Na Quaresma, os fiéis já batizados, assim como os catecúmenos, se dispõem para a celebração do mistério pascal, a cada domingo, ao mesmo tempo, visualizando e tendo como meta a grande celebração do tríduo pascal.

O sentido próprio de cada celebração, se bem vivido, nos proporciona uma real adesão à fé, fazendo com que apreendamos aquilo que é essencial na Igreja, com sua força pedagógica. Cada gesto, cada ação ritual, comporta um sentido teológico, no qual deve ser aprofundado com conhecimento de causa, mediante a qualidade com que se é realizada e celebrada, até provocar no celebrante (todos nós somos os agentes da celebração, por isso somos todos celebrantes) uma atitude interior e espiritual, abrindo-se para o compromisso com a vida.

 

O sentido do itinerário pedagógico para a nossa vida

Se o itinerário pedagógico da fé pode ser vivido no tempo quaresmal, que, com seu sentido próprio, ao longo do Ano Litúrgico pode ser contemplado com uma atitude interior e espiritual, a Quaresma traz em seu bojo duas características que podem nos ajudar a bem vivermos esse tempo: o desejo de conversão e de mudança de vida, e a penitência, elementos principais contidos nas leituras bíblicas e no conjunto da ação litúrgica deste tempo.

Da consciência de nossa incapacidade de vivermos o projeto do Reino surge o desejo da conversão e da mudança interior, por isso um sinal externo nos é apontado como que sendo uma força que impulsiona a direção da mudança.

Na comunidade primitiva a conversão então é tida como um estado penitencial em que aqueles que estivessem aptos para o batismo se comprometiam a refletir sobre a consciência do pecado, tido como ofensa a Deus. Daí nascia o compromisso de não mais pecar, vivido por um estado de contínua conversão. De fato, a penitência só tem sentido se praticarmos as boas obras, tendo em vista o bem maior, seja para mim, seja para em função do próximo.

A Carta Preparatória para as Festas Pascais, de janeiro de 1988 explicita melhor o sentido da virtude e a prática da penitência, como “partes necessárias da preparação pascal: da conversão do coração deve brotar a prática externa da penitência, quer para os cristãos individualmente, quer para a comunidade inteira; prática penitencial que, embora adaptada às circunstâncias e condições próprias do nosso tempo, deve, porém, estar sempre impregnada do espírito evangélico de penitência e orientada para o bem dos irmãos e irmãs”.

A Igreja, da mesma forma que convoca cada um e cada uma a fazer penitência, ela mesma se coloca nesta ação, rezando e intercedendo por aqueles que ainda não aderiram a este processo de conversão, também convocando os seus para a prática da penitência e o retorno ao sacramento do perdão.

Segundo a Encíclica Dives in Misericórdia (Rico em Misericórdia), de João Paulo II, a Igreja também anuncia que Deus é todo misericordioso, e, aconselhando a consciência, baseando-se na Escritura, aponta sinais de melhorias, ou seja, o ser humano não é capaz de se salvar a si por sua própria capacidade, por isso ele precisa contar com Deus. A Igreja vê e dá testemunho da misericórdia de Deus, pelo Cristo anunciado no Evangelho ela encoraja o ser humano e o introduz no seio da misericórdia de Deus, professando-a em toda a sua verdade, apoiada na Revelação. Deus penetra no íntimo do coração do homem e da mulher para transformá-lo/a, assim como fez com o filho pródigo.

 

Tempo de caridade mais intensa e de renúncia dos desejos

Outro aspecto do tempo quaresmal é visibilizado pelo jejum e pela caridade, sinais externos mais recomendados pela Igreja, sobretudo se vividos por um período anterior de oração e por um período posterior de justiça (sentido de entrega a uma causa).

São Leão Magno, papa e doutor da Igreja do século V, fala de um agente externo que quer nos impulsiona ao pecado, fazendo-nos esquecer da fonte do perdão, o próprio mistério pascal, celebrado e vivido com mais intensidade por ocasião do tríduo pascal. Por isso também recomenda que ‘entremos na Quaresma com uma fidelidade maior ao serviço do Senhor’, nesse sentido, o jejum e a caridade são sinais externos para se vencer o mal, que cada vez mais quer se sobressair em nós.

No Brasil, a Campanha da Fraternidade, também vivido como um sinal externo de penitência, é um excelente auxilio para bem vivermos a Quaresma, diz a introdução do seu texto-base.

O Missal Romano diz que a Quaresma é um tempo de teste para nossa fidelidade na resposta ao plano de Deus. Pode acontecer que, depois de ter recebido o batismo, nós percamos essa confiança, por isso esse tempo é propício para renovar e reavivar em nossos corações as disposições com que, durante a Vigília Pascal, pronunciaremos de novo com as promessas do nosso batismo. As leituras que ouviremos durante esse tempo nos recordam que somos seres batismais.

 

Tempo de amar profundamente, raiz da nossa condição batismal

Enfim, viver a Quaresma é saborear o difícil itinerário da passagem da morte para a vida. Sabemos que passamos da morte à vida se amamos os irmãos, diz São João em sua primeira carta (1Jo 3,14).

Sobretudo, devemos lembrar que somos discípulos/as de Jesus, que superou o fracasso humano da cruz com um amor que vence a morte, e que, de nossa parte, o jejum e a caridade, traduzidos na solidariedade fraterna em favor do/a outro/a, do mundo, do planeta e do cosmos, nos colocam nesse mesmo patamar de Jesus, que, intensificando seu desejo de amar até o fim, passou pelo mal, vencendo-o.

Juntemos o nosso desejo ao de Jesus. Assim, como diz a regra de São Bento, com a alegria do Espírito Santo e cheios do desejo espiritual, esperemos a santa Páscoa.

21150474_1387684874661563_3377767955128008974_nEurivaldo Silva Ferreira: Mestre em Teologia pela PUC/SP, com concentração em Liturgia. Especialista em Liturgia, pelo IFITEG-GO. Formado em Teologia, pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC/SP. Membro da Rede Celebra de Animação Litúrgica.

 

Fonte:

http://caminhosdeformacao.blogspot.com.br/2016/02/a-quaresma-como-itinerario-pascal.html

]]>
27444
Você conhece a “CELEBRA – Rede de Animação Litúrgica” das Comunidades? (3ª parte) https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-conhece-a-celebra-rede-de-animacao-liturgica-das-comunidades-3a-parte/ Sun, 18 Feb 2018 10:00:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27349 [Leia mais...]]]>

bg-celebra4REAFIRMANDO NOSSA IDENTIDADE, VISLUMBRAMOS NOVOS CAMINHOS

29. À luz da Assembleia comemorativa dos 20 anos da Rede Celebra, ocorrida em julho de 2015, reafirmamos um estilo de vida simples que privilegia relações horizontais e leveza em sua configuração organizativa. Reafirmamos também, nossa disposição a serviço de uma liturgia memorial da páscoa que seja fonte de espiritualidade e que esteja enraizada na Bíblia e na vida. Desejamos cada vez mais que a Rede Celebra se situe como parte da Igreja segundo o modelo das Comunidades Eclesiais de Base, que tem como sujeitos os pobres da América Latina e do Caribe, uma “Igreja em saída”, segundo o papa Francisco, que interaja com os movimentos e pastorais eclesiais e sociais e que tenha diante de si as grandes causas da humanidade: “pensar globalmente e agir localmente”. [Esta frase marcou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED/Rio-92, com a Agenda 21.]

A contribuição específica da Rede Celebra é a liturgia, por isso, consideramos importante crescer na arte de celebrar, seja na comunidade, seja nas casas ou em outros espaços, e fazê-lo, também, ecumenicamente com outras Igrejas. Assim, buscamos cultivar o profetismo em comunhão com toda a Igreja, oportunizando o diálogo com bispos, presbíteros e diáconos, transitórios ou permanentes.

30. No que diz respeito à formação, priorizamos uma pedagogia que parte do rito para chegar à teologia e à espiritualidade, uma formação intelectual, interdisciplinar e afetiva em todos os níveis e modalidades. Nesse sentido, insistimos na importância da formação permanente dos membros da Rede, a começar pelos núcleos e regiões, valorizando o “Curso de Capacitação, Extensão e Especialização”, promovido pelo núcleo de Goiânia (GO). No âmbito nacional, nos empenhamos para garantir a continuidade do encontro de formação a cada ano, incluindo, a cada três anos, a Assembleia da Rede Celebra.

Comprometemo-nos a produzir um subsídio que reúna os princípios metodológicos da Rede Celebra e dê orientações práticas quanto a sua pedagogia. Além disso, a cooperar, onde atuamos, com o processo da catequese em estilo catecumenal, seja interagindo com as/os catequistas de iniciação cristã, seja contribuindo mediante as escolas de liturgia, destinadas a adultos, jovens e adolescentes, visando, sobretudo, a participação, e promovendo, também, a celebração do Ofício Divino da juventude e o de adolescentes e crianças.

31. Desde o início, a vida da Rede Celebra dependeu, antes de tudo, da articulação e da caminhada dos núcleos locais. Por isso, além da permanência de uma Equipe Nacional de Articulação e Apoio, nos moldes como tem funcionado nestes 20 anos de caminhada, não queremos multiplicar estruturas. Reconhecemos, no entanto, a necessidade de certa configuração jurídica, exigida pelo crescimento dos núcleos, a fim de viabilizar a organização financeira. Com relação à manutenção dos serviços (reuniões, infraestrutura dos encontros nacionais, assessorias de pessoas não pertencentes à Rede), definimos uma contribuição anual: pessoal, no valor de 3% do salário mínimo e, como núcleo, de acordo com as possibilidades (de preferência no mês de abril, para facilitar o planejamento).

 

ATIVIDADES PREVISTAS

32. Fazer contato com pessoas, grupos e comunidades que se identifiquem com a proposta da Rede CELEBRA. Essas aproximações devem se dar em âmbito local, regional e nacional.

33. Promover encontros onde se efetive a troca de experiências e a reflexão de acordo com a metodologia da Rede CELEBRA.

34. Dar especial atenção à preparação dos Intereclesiais de CEBs, nos níveis local, regional e nacional.

35. Produzir subsídios litúrgicos conforme as necessidades e eventuais solicitações.

36. Garantir a articulação em nível nacional através de uma equipe composta para esse fim.

37. Manter um boletim em nível nacional, como veículo de comunicação e de informações, para troca de experiências etc.

 

QUEM PARTICIPA OU COMO SE ENTRA NA REDE

38. Pode participar da Rede CELEBRA toda pessoa, grupo ou comunidade que se identifica com os pontos de partida e propostas apresentados acima. As relações pessoais devem prevalecer sobre as institucionais.

39. Para entrar, basta fazer contato com alguém da Rede e começar a participar dos núcleos no âmbito local e regional.

40. Cada participante contribuirá com uma taxa anual para manter o boletim nacional e colaborar nos gastos com outras atividades.

 

ANEXO 1

Carta dos participantes da assembleia comemorativa dos 10 anos

“Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é quem vem!

É Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!”

Aos nossos núcleos da Rede CELEBRA espalhados pelo Brasil e às pessoas e grupos em comunhão conosco.

Reunidos(as) em Hidrolândia (GO), nos dias 1º a 4 de dezembro de 2005, vindos dos estados: DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SP, TO, somando 66 participantes para a assembleia comemorativa dos 10 anos da Rede – Memória, Identidade, Compromisso –, temos a alegria de partilhar com vocês um pouco do que refletimos, vivenciamos e propomos.

Nesses dias, fizemos memória a partir da realidade dos núcleos, revelada nas respostas aos questionários, e ficamos encantados(as) ao perceber que a maioria deles se encontra regularmente para celebrar, partilhar a vida e as experiências, bem como para estudar e animar a vida litúrgica das comunidades. O espírito da Rede está se alastrando e iluminando a caminhada dos pobres em busca de libertação.

O Ofício Divino das Comunidades, um jeito de celebrar comunitário, orante, profético, inculturado, ligando liturgia e vida, marca a identidade da Rede e nos dá força e ânimo em meio aos desafios sociais, políticos, econômicos e eclesiais que se apresentam.

Celebramos a memória de Jesus procurando assumir suas atitudes no compromisso com a transformação pascal da realidade, resgatando a dignidade do ser humano como filho e filha de Deus que é, e, ao mesmo tempo, promovendo um mutirão na construção do Brasil que queremos, a partir da relação fraterna e comunitária entre as pessoas e culturas, superando a desigualdade social e respeitando as diversidades.

Reafirmamos, durante a assembleia, que a “CELEBRA é uma rede formada por pessoas, grupos e comunidades, aberta a diálogo ecumênico, comprometida com uma liturgia cristã, fonte de espiritualidade, inculturada na caminhada, solidária com os pobres” (Carta de Princípios, nº 07).

A CELEBRA tem como prioridade para os próximos anos a Formação (em nível nacional e local), considerando a realidade e necessidade de cada núcleo. Também comunicamos com alegria que a Equipe de Articulação eleita pela assembleia, para os três anos seguintes, é composta por:

  • Maria de Lourdes Zavarez;
  • Laudimiro de Jesus (Mirim);
  • Marcelino Sivinski.

No caminho percorrido nestes dez anos da Rede CELEBRA, temos a certeza de que é preciso continuar tecendo uma liturgia ministerial e missionária que testemunhe e celebre a presença do Mistério Pascal nas comunidades, como ensina Concílio Vaticano II.

Com muito axé, aguardamos a manifestação do Deus conosco que muda o chão duro de nossas vidas em água pura.

Hidrolândia/GO, 04 de dezembro de 2005.

Participantes da Assembleia Comemorativa dos 10 anos da Celebra, Rede de Animação Litúrgica.

 

ANEXO 2

Carta participantes da assembleia comemorativa dos 20 anos

Aos irmãos e irmãs de nossos núcleos da Rede Celebra espalhados pelo Brasil e às pessoas e grupos em comunhão conosco.

Reunidos(as) em Brasília (DF), nos dias 22 a 26 de julho de 2015, vindos dos estados de AM, BA, DF, CE, ES, GO, MA, MG, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RS, SC, SP, somando 92 participantes para a Assembleia Comemorativa dos 20 anos da Rede Celebra – Releitura da Carta de Princípios no atual contexto sócio-cultural-eclesial, aprofundando e ressignificando os traços da identidade da Rede, como serviço à formação litúrgica -, temos a alegria de partilhar com vocês um pouco do que refletimos, vivenciamos, reafirmamos e vislumbramos para o futuro.

Nestes dias, retomamos a caminhada dos núcleos, revelada nas respostas aos questionários enviados. Que riqueza! Encanta-nos constatar que, mesmo diante das dificuldades, tais núcleos continuam se encontrando para partilhar a vida, estudar e animar a liturgia das comunidades. Fizemos memória dos 20 anos de caminhada da Rede Celebra: o processo de surgimento, o encontro de fundação, os encontros anuais, a organização dos núcleos, a herança recebida das Comunidades Eclesiais e dos Intereclesiais, o protagonismo das mulheres, as publicações, as escolas de liturgia para juventude, o aperfeiçoamento, a metodologia e pedagogia, as intuições sobre a música litúrgica… Procuramos compreender, também, a atual conjuntura eclesial e social. Retomamos e aprofundamos o significado de REDE, de ANIMAÇÃO, de LITURGIA, elementos que constituem a nossa identidade. Reafirmamos a importância do Ofício Divino das Comunidades, versão inculturada da oração da Igreja, com jeito orante e profético, ligando liturgia e vida.

Passados 10 anos desde a última revisão da Carta de Princípios (Hidrolândia (GO), dezembro de 2005), encaminhamos uma revisão da mesma; recolhemos as contribuições vindas dos núcleos e, a partir delas, deliberamos sobre as adaptações e complementações, procurando levar em conta a nova realidade social e eclesial, particularmente marcada pelas atitudes e provocações do Papa Francisco. Reassumimos compromissos anteriores e vislumbramos novos, referentes à identidade da Rede, sua estrutura e o processo de formação.

Agradecemos à Equipe de articulação dos últimos três anos:

  • Étel Teixeira de Jesus;
  • Sued Henrique de Carvalho Vasques;
  • Maria do Carmo de Oliveira;
  • Maria de Lourdes Zavarez.

Destacamos a presença e a dedicação de Maria de Lourdes Zavarez e Maria do Carmo de Oliveira à frente desse serviço nestes 20 anos. Também comunicamos, com alegria, que a Equipe de Articulação eleita pela assembleia para os três anos 2015-2018 é composta por

  • Ivani Brito;
  • Alberto Reani;
  • Danilo Alves.

Queremos, enfim, agradecer a presença de Dom Edmar Peron, bispo de Paranaguá (PR), membro da Rede CELEBRA, e de Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, por celebrar conosco a Eucaristia e por suas palavras de incentivo à caminhada da Rede e ao seu compromisso com a formação litúrgica em nossas comunidades.

Brasília (DF), 26 de julho de 2015.

Participantes da Assembleia Comemorativa dos 20 anos da Celebra – Rede de Animação Litúrgica

Contato:

www.rececelebra.com.br

celebranacional@gmail.com

 

(Os grifos são nossos)

Fonte:

www.redecelebra.com.br

]]>
27349
Você conhece a “CELEBRA – Rede de Animação Litúrgica” das Comunidades? (2ª parte) https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-conhece-a-celebra-rede-de-animacao-liturgica-das-comunidades-2a-parte/ Sat, 17 Feb 2018 09:00:32 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27346 [Leia mais...]]]>

bg-celebra3

O QUE É

7. CELEBRA é uma rede formada de pessoas e núcleos, comprometida com uma liturgia cristã enraizada na vida pessoal e comunitária, fonte de espiritualidade, inculturada na caminhada solidária dos pobres, na perspectiva da ecologia integral. A Rede coloca-se a serviço da animação litúrgica nas comunidades, aberta ao ecumenismo e em diálogo com o mundo.

 

NOSSOS PONTOS DE PARTIDA

8. Boa parte da vida das comunidades cristãs, sobretudo as de tradição católica, consiste em reunir-se para celebrar. São exemplos disso, não só os presbíteros, que se desdobram em presidir a Eucaristia e ser presença nos demais sacramentos e sacramentais, como também, no meio do povo, a multiplicação de Celebrações da Palavra, louvores, vigílias, novenas, bênçãos, procissões, romarias, missões populares, terços, vias-sacras etc. Dessa forma, investe-se muito em recursos humanos e materiais, tempo, talento e energia no celebrar, o que é mais do que suficiente para justificar nosso cuidado com as celebrações.

9. Uma leitura das Sagradas Escrituras, especialmente dos Evangelhos, mostra que, para Jesus e para as comunidades cristãs primitivas, a experiência essencial da relação com Deus, da religião, da adoração verdadeira, acontece na vida, no dia a dia das pessoas. A liturgia de Cristo e dos cristãos consiste, antes de tudo, na experiência do Deus libertador e, como consequência, num serviço a este Deus, passando, necessária e prioritariamente, pelo serviço ao próximo, pela solidariedade com os excluídos, pela entrega da vida aos irmãos (Lc 10,25-37; Mt 25,31-46). Esse culto existencial é a adoração que o Pai espera de nós, que é fruto do Espírito (Jo 4) e que se realiza plenamente no mistério pascal de Cristo e dos cristãos (Hb 10,5-10; 1Jo 3,14-18; Rm 12,1-2; 1Pd 2,4- 10).

10. Por isso, ao nos ocuparmos com a celebração, nosso olhar se volta, antes de tudo, para a vida das pessoas e para a casa da humanidade. Isso nos torna capazes de perceber o mistério pascal de Cristo acontecendo na vida, seja nos gestos mais simples e cotidianos de amor fraterno, seja nas práticas mais abrangentes da solidariedade e do exercício da cidadania.

E é desse olhar de fé, provocado pelo anúncio e acolhida do Evangelho, que brota a celebração autêntica da nossa vida em Cristo, do seu mistério pascal em nós. Somente uma celebração a partir da realidade existencial se tornará uma fonte de renovada energia, capaz de dar novo impulso ao nosso viver para Deus, em Cristo, na força do Espírito, comprometendo-nos sempre mais com o bem dos irmãos e das irmãs, com a causa da vida. Só assim a liturgia celebrada será verdadeiramente cume e fonte da vida da Igreja (SC n.10).

Há, portanto, uma necessidade urgente de se superar um certo idealismo litúrgico, característico de tantas de nossas celebrações, vistosas e pomposas, mas sem raiz na vida real das pessoas e das comunidades e que, por isso mesmo, se tornam ilusórias e alienantes. Precisamos cultivar um sadio realismo que, antes de qualquer outra preocupação, nos coloque frente à nossa existência à luz do mistério de Cristo, o qual, para ser reconhecido na celebração, precisa ser reconhecido na realidade da vida.

11. É uma alegria constatar que um número expressivo de comunidades, tanto no meio rural quanto no urbano, se reúne no Dia do Senhor em celebrações animadas e criativas, enraizadas numa caminhada de fé e de luta. Causa preocupação, no entanto, a abundância das celebrações, sobretudo da Eucaristia, lá onde pouco ou nada se investe num trabalho de evangelização que permita às pessoas despertarem para a fé ao revisarem seriamente suas vidas à luz do Evangelho. Essa inflação de celebrações ilude as pessoas e desvaloriza os sacramentos, os quais, para serem válidos, têm de ser, antes de tudo, sacramentos da fé. Nunca é demais lembrar o que ocorreu na comunidade de Corinto, em que a falta do espírito de partilha e solidariedade levou Paulo a questionar a validade da ceia por ela celebrada (1Cor 11,17-34).

12. A comunidade de fé é o lugar mesmo da presença real de Cristo (Mt 18,19-20). Pela tradição eclesial, recebe o mandato de repetir seus gestos e palavras “em sua memória” (Lc 22,19). O Espírito suscita nelas carismas e ministérios necessários à plenitude da vida cristã e ao pleno exercício de sua missão. Não é possível que se mantenha a multiplicação de celebrações sacramentais desvinculadas da vida. É inadmissível que, devido à disciplina do celibato e ao patriarcalismo injustificável, muitas comunidades sejam privadas do direito de terem ministros e ministras capazes de reuni-las para participarem plenamente da Páscoa do Senhor, especialmente na Santa Ceia. Essa defasagem ministerial, ou encontrará uma solução coerente e rápida por parte da hierarquia, ou levará o povo cristão a buscar suas soluções emergenciais. Para celebrar a libertação em Cristo, é preciso libertar a liturgia de todo tipo de dominação e afirmar o caráter sacerdotal do povo de Deus.

13. A maioria das pessoas que animam as celebrações nas comunidades são mulheres. É uma graça de Deus para seu povo, um dom do Espírito que vem enriquecer as comunidades. As mulheres têm um jeito diferente de ser e celebrar: dão mais importância ao corpo (gestos, movimentos, procissões, danças, vestes); preocupam-se, naturalmente, com a qualidade do acolhimento e com a participação das pessoas, principalmente dos mais fracos; têm a tendência de assumir os ministérios colegialmente, em equipe, repartindo serviços. O tempo é sentido por elas como cíclico, favorecendo o amadurecer lento de semana em semana, de ano para ano, como uma gestação. Esse jeito próprio das mulheres vem completar, equilibrar, “casar” com o jeito dos companheiros, para que a imagem de Deus, que se manifesta na comunidade e na liturgia, seja experienciada por inteiro, com sua dimensão feminina e masculina.

14.  A partir da encarnação do Verbo, o Reino de Deus, o mistério pascal de Cristo, acontece na vida das pessoas e dos grupos em contextos culturais bem diversificados, o que, necessariamente, vai refletir na maneira de celebrar. Por isso, é necessário cultivar uma prática celebrativa na qual a pluralidade cultural seja levada em conta e na qual, também, toda língua celebre, a seu modo, sua fé no Autor da vida, Jesus Cristo.

15. É a pessoa toda que celebra, com seu corpo e sua mente, com seu coração. A mente acompanha o que o corpo faz, e o coração sente. Uma liturgia fria, sem envolvimento afetivo, sem coração, não satisfaz nem a pessoa humana nem as exigências da aliança com o Deus dos nossos pais, que se apresenta como um Deus amoroso, compassivo, que se une a nós num amor eterno e exclusivo. As comunidades estão sedentas de celebrações proféticas, enraizadas nas realidades duras da vida e, ao mesmo tempo, orantes e cheias da ternura do nosso Deus, o que favorece o encontro e o diálogo entre as pessoas, bem como a relação pessoal e comunitária com Deus.

16. As comunidades estão redescobrindo que não se faz celebração só com palavras. Liturgia é encontro, festa, ação, movimento, gestos, música e dança. O Batismo, a Santa Ceia, a Celebração da Palavra, o Ofício Divino, as vias-sacras, as procissões, as romarias são ações simbólicas, que nos permitem expressar, em linguagem humana, a presença escondida do Deus que se fez ‘carne’, humano com os humanos (1Jo 1,1-4). Esses gestos são a linguagem da nossa adoração e da nossa comunhão com ele na intimidade do seu amor. O fruto que colhemos na liturgia, a graça de Deus que dela nos vem para o nosso crescimento na fé, passa pela expressividade da ação litúrgica. Por isso, é incoerente continuar com gestos mal feitos, com orações recitadas às pressas, com textos bíblicos lidos sem eloquência, com ações sacramentais inexpressivas. Conhecemos os exemplos: banho batismal reduzido a minguadas gotas d’água, pão eucarístico impossível de ser reconhecido como pão, bênçãos feitas mecanicamente, celebrações com muitos textos e discursos, espaço celebrativo inadequado, uso do folheto, excessos de ministérios em detrimento da participação da assembleia.

17. Urge corresponder ao apelo insistente que nos chega do Senhor, em sua oração sacerdotal (Jo 17), e do apóstolo Paulo, em sua Carta aos Efésios (4,4-6): a unidade na fé entre os cristãos exige unidade na oração e na celebração. Cabe cultivar o espírito de abertura, de acolhida, de diálogo ecumênico, como testemunhas do amor de Deus por toda a humanidade. Nosso olhar será um olhar amoroso, de respeito e acolhimento para com as várias tradições litúrgicas, capaz de nos fazer vibrar com tudo quanto de bom e de belo se encontre nos demais, procurando superar qualquer tentação de sectarismo, na esperança do dia em que não precisaremos mais celebrar na divisão o sacramento da unidade: a Eucaristia.

18. Nossa comunicação com o Deus da vida, expressa na liturgia, passa necessariamente pela relação respeitosa, cuidadosa e comprometida com todo o cosmos. Liturgia tem a ver também com ecologia.

NOSSAS PROPOSTAS

Partindo dessas convicções, queremos criar espaços para:

19. Observar a prática celebrativa das comunidades e estabelecer critérios comuns para analisá-la e avaliá-la à luz das tradições litúrgicas, das culturas e das lutas pela vida.

20. Apoiar as iniciativas de reapropriação da liturgia feitas pelas comunidades como povo sacerdotal.

21. Libertar, progressivamente, a prática celebrativa dos esquemas de dominação, para chegarmos a um jeito de celebrar que manifeste o caráter igualitário e participativo da comunidade eclesial.

22. Contribuir com a formação litúrgica das equipes de liturgia.

23. Promover o florescimento dos ministérios necessários à caminhada do povo de Deus, com especial atenção à formação adequada dos ministros e ministras, a serviço da comunidade.

24. Desenvolver uma metodologia coerente de formação litúrgica com as seguintes características:

a) organizar os momentos de formação combinando reflexão e experiência celebrativa;

b) usar técnicas adequadas, como “laboratórios litúrgicos” e outras;

c) explicitar as expressões litúrgicas em uso nas comunidades e aprofundar seu sentido bíblico-teológico;

d) conhecer as tradições litúrgicas;

e) conhecer as propostas oficiais das várias igrejas;

f) compreender as formas rituais e os sentidos teológicos das várias tradições religiosas populares.

25. Enraizar a prática celebrativa na vida das pessoas e grupos humanos, na sua existência concreta, nos seus sonhos e nas suas lutas, contemplados à luz do mistério pascal, com a ajuda do Espírito, de modo a termos celebrações cheias de vida e impulsionadoras do compromisso cristão.

26. Integrar a prática celebrativa num processo de evangelização, de forma que as celebrações venham acompanhadas de uma prática constante de revisão de vida.

27. Buscar uma forma de celebrar que reflita as peculiaridades culturais de cada região, de cada grupo humano, de tal maneira que as pessoas encontrem a sua identidade na celebração e celebrem com prazer e criatividade sua vida em Cristo.

28. Valorizar a capacidade de acolhimento litúrgico das comunidades populares. Ao mesmo tempo, manter-nos abertos ao diálogo interconfessional e inter-religioso, inclusive aproveitando as oportunidades de celebrarmos juntos.

(Os grifos são nossos)

 

Fonte:

www.redecelebra.com.br

]]>
27346
Você conhece a “CELEBRA – Rede de Animação Litúrgica” das Comunidades? (1ª parte) https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-conhece-a-celebra-rede-de-animacao-liturgica-das-comunidades-1a-parte/ Fri, 16 Feb 2018 02:45:45 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27342 [Leia mais...]]]> bg-celebra4

COMO NASCEU?

1. A ideia da Rede CELEBRA surgiu em 1988, em São Paulo (SP), no reencontro dos participantes dos cursos de Atualização em Liturgia, que ocorreu por ocasião do seu décimo aniversário e que eram organizados pelo Centro de Liturgia. Marcelo Barros assessorava o evento e chamava a atenção do grupo para a necessidade de criar algo novo em nível popular, uma espécie de rede de solidariedade litúrgica, com um método comum que partisse das experiências celebrativas das comunidades. Assim se evitaria a multiplicação de cursos de liturgia sem a devida continuidade e acompanhamento da prática.

2. A ideia voltou em 1989 quando, depois do 7° Encontro Intereclesial de CEBs, em Duque de Caxias (RJ), se constatava a riqueza das celebrações dos Intereclesiais e, ao mesmo tempo, se afirmava a importância do aprofundamento, revisão e preparação de tais celebrações e de sua continuidade nas bases. Para retomar a questão, no final de 1991, foi feita, na forma do artigo “Preparando a Liturgia do 8º Intereclesial”, uma carta aberta às comunidades, assinada por Ione Buyst, Marcelo Barros e Marcelo Guimarães [Irineu] e publicada na Revista de Liturgia (n. 109).

3. Esta carta foi o ponto de partida dos trabalhos [estudo, laboratórios, treinamentos] para qualificar a equipe ampliada de liturgia do 8° Intereclesial, ocorrido em Santa Maria (RS), em 1992. Todo esse processo foi gestando o desejo de manter, após os Intereclesiais, o intercâmbio de experiências e reflexões em torno da vida litúrgica.

4. Nesse mesmo período, a equipe de revisão da 7ª edição do Ofício Divino das Comunidades, numa de suas reuniões, escreveu uma segunda carta, “liturgia em mutirão”, também publicada na Revista de Liturgia (n.119), em que reforçava a importância de se pensar uma espécie de “CEBI da Liturgia” e que tivesse, em nível nacional, a função de sustentar, nas comunidades, a busca de um novo caminho na pastoral litúrgica.

Houve respostas de várias pessoas que se alegraram com a ideia e deram sugestões. Uma delas foi a de Carlos Mesters, amigo de caminhada, que apoiou a iniciativa e até sugeriu um nome: CELEBRA.

5. Em fevereiro de 1995, durante um curso sobre o Ofício Divino das Comunidades, em São Paulo, alguns participantes resolveram retomar a ideia e propor uma data para se começar a pensar concretamente na criação dessa rede de articulação.

6. Então, entre os dias 11 e 15 de dezembro de 1995, no Centro de Treinamento da Diocese de Goiás, reuniram-se dezesseis pessoas provindas de várias regiões do país para realizarem o primeiro encontro em que foi assumido o nome “CELEBRA − Rede de Animação Litúrgica”. Assim, partilhando experiências, preocupações e anseios, foi elaborada, também, uma “Carta de Princípios” para nortear o caminho. No breve momento em que esteve com o grupo, nessa ocasião, Dom Tomás Balduíno, bispo da Diocese de Goiás (GO), reforçou a importância da animação litúrgica nas comunidades, pedindo atenção especial à Celebração do Dia do Senhor.

Passados dez anos, nos dias 01 a 04 de dezembro de 2005, na Assembleia comemorativa do primeiro decênio da CELEBRA, os participantes, reunidos em Hidrolândia (GO), fizeram memória da caminhada dos núcleos e firmaram o seu compromisso com a vida litúrgica no espírito da Rede. Nesse momento de retomada da trajetória e de seu significado, o Ofício Divino das Comunidades apareceu como marca da identidade da Rede, e a formação litúrgica, como prioridade. A “Carta de Princípios” foi revisada e editada em sua 2ª versão.

Na Assembleia comemorativa dos 20 anos, que aconteceu em Brasília (DF), nos dias 22 a 26 de julho de 2015, foi feita nova releitura do texto da “Carta” , levando em conta o atual contexto sócio-cultural-eclesial e, ao mesmo tempo, aprofundando e ressignificando a identidade da REDE como serviço de ANIMAÇÃO LITÚRGICA. Dessa assembleia resultou esta 3ª edição da nossa “Carta de Princípios”, concluída no Encontro Nacional, realizado em julho de 2016, em Jundiaí (SP).

(Os grifos são nossos)

Fonte:

www.redecelebra.com.br

]]>
27342