Rede Celebra – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 13 Mar 2018 01:12:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Rede Celebra – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O louvor de Deus na boca do povo  https://observatoriodaevangelizacao.com/o-louvor-de-deus-na-boca-do-povo/ Tue, 13 Mar 2018 01:12:57 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27573 [Leia mais...]]]> O Ofício Divino das Comunidades a partir da Sacrosanctum Concilium

Por Penha Carpanedo

Em dezembro de 1988, foi publicado no Brasil o Ofício Divino das Comunidades, uma versão popular da Liturgia das Horas para as comunidades cristãs. Agora, quase 30 anos depois de sua primeira edição, já é bem conhecido em várias regiões do país, em comunidades rurais e de periferia, catedrais e igrejas de centros urbanos, comunidades religiosas inseridas, pastoral da juventude e comunidades do povo da rua. Com o Ofício Divino das Comunidades o povo pode de novo beber da fonte onde bebeu o povo de Israel, onde beberam Jesus e as primeiras comunidades cristãs. Depois de séculos, os salmos voltam a ser uma referência para a espiritualidade cristã, uma escola de oração, como diziam os antigos. O Ofício Divino das Comunidades é uma resposta concreta à grande intuição do Concílio Vaticano II que propôs a reforma do Ofício Divino e pediu que ele voltasse a ser celebrado pelo povo de Deus como era nos inícios das comunidades cristãs.

1. BROTO DE UMA ANTIGA RAIZ

Nos três primeiros séculos, os cristãos rezavam regularmente, em particular e em comunidade. As orações eram constituídas de louvor a Deus por meio dos salmos, hinos e cânticos espirituais, associadas às horas do dia. Do IV século do cristianismo, temos diversos testemunhos de uma liturgia organizada em diferentes Igrejas, composta de salmos, hinos e orações, tendo como eixo o mistério pascal associado às horas do dia. Eram liturgias populares, nas quais o povo participava, sobretudo de manhã e de tarde.

Esse costume cristão de celebrar nas horas do dia é uma herança que vem das comunidades judaicas. Seria impossível imaginar o Ofício Divino sem os pressupostos da liturgia judaica, com sua sinagoga, os salmos e com o seu costume de prestar reverência a Deus em determinadas horas do dia, com uma liturgia de escuta, louvor e intercessão.

Na tradição judaica, a oração da manhã (shahrit), privilegiada pelo povo de Israel, é tempo, por excelência, de orar. “É a hora de Deus se compadecer dos humanos (Ex 16,7s; Sl 4,4; 17,11). As orações da manhã são liturgias de adoração e louvor a Deus que renova, no início do novo dia, a luz da natureza e as forças dos crentes para o seu serviço. A comunidade entrega ao Senhor o dia, para que todas as ocupações sejam abençoadas por ele. Pelo entardecer, ofereciam-se no Templo o sacrifício vespertino e o sacrifício de incenso. Soava a hora em que terminava a impureza legal, se por acaso alguém tivesse incorrido durante o dia, e findava o jejum quando era prescrito. A oração da tarde simboliza o fim do sofrimento e das provações que sobrevêm ao justo (Is 17,14)”.

As comunidades cristãs, assumindo os mesmos horários dos judeus, foram imprimindo-lhe sentido e características próprias, a partir da revelação de Deus na pessoa e na missão de Jesus Cristo, no mistério de sua morte-ressurreição. Viram na luz do sol que nasce e se põe símbolo da ressurreição ao redor do qual organizaram os ofícios da manhã e da tarde, acrescentando as vigílias, sobretudo aos domingos e nas grandes festas. Outras horas foram estabelecidas como tempo de oração: as nove horas, ao meio dia, as três da tarde. Com a consagração de determinadas horas à oração, a Igreja entendia traduzir, de forma concreta, o ensinamento de Jesus sobre a oração contínua.

 

2. A REFORMA DO CONCÍLIO VATICANO II

A Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium (SC), sobre a liturgia, dedicou o capítulo IV ao Ofício Divino, afirmando os fundamentos teológicos e pastorais, propondo uma reforma que servisse de base para devolver ao povo o que lhe pertencia.

As decisões conciliares deram lugar, depois do Concílio, à reforma da Liturgia das Horas que durou cerca de oito anos. Antes da primeira publicação definitiva, uma parte do Ofício foi concedida em via experimental aos países de língua francesa, e depois aos de língua inglesa, alemã e portuguesa. A aceitação foi surpreendentemente favorável.

Em 1971, foi publicada a Introdução Geral à Liturgia das Horas (IGLH), documento que oferece a chave de interpretação da Liturgia das Horas renovada. É, ao mesmo tempo, um texto doutrinal, pastoral e disciplinar, uma síntese completa que visa a compreensão das linhas da reforma, do sentido do Ofício, de cada hora e dos diversos elementos, bem como a sua celebração.

A primeira frase dessa Introdução exprime claramente o novo enfoque que se tentou dar ao Ofício Divino: “Oração pública e comum do povo de Deus” (IGLH 1). A “Liturgia das Horas” veio à luz, em edição típica latina, no advento do mesmo ano com o primeiro volume e, sucessivamente, em 1972, com os outros três volumes, todos traduzidos para o Brasil.

 

2.1 O Ofício Divino ação de Cristo e do Espírito

A peculiaridade da “oração litúrgica” está no fato de ser sacramento da oração de Cristo através da assembléia litúrgica, sinal sensível da sua presença e do seu corpo que é toda a Igreja. A assembléia litúrgica é sacramento da Igreja, porque nela Cristo está ativamente presente com seu Espírito (Cf. SC 7; Mt 18,20).

A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium expressou com palavras poéticas e densas a presença de Cristo no Ofício Divino: “O Sumo Sacerdote da nova e eterna aliança, Jesus Cristo, ao assumir a natureza humana, trouxe para este exílio da terra aquele hino que se canta por toda a eternidade na celeste morada. Ele une a si toda a humanidade e associa-a a este cântico divino de louvor” (SC 83).

Esse hino é expressão da reverência filial do próprio Verbo de Deus, em diálogo de amor com o Pai desde o princípio, e que manifestou-se na plenitude dos tempos. “Encarnando-se, o Filho não interrompe o seu hino, mas o introduz em nossa terra e a ele associa a Igreja”.

A prece de Jesus que a Igreja continua não é apenas a que se canta nas moradas do céu, mas também a prece que ressoa de dentro de sua vida cotidiana e da sua atividade missionária (cf. IGLH 4 e 5); nas noites que Jesus passava em oração (cf. Mt 14,23.25; Mc 6,46.48), na oração dirigida a Deus antes de curar um doente, no grito da cruz, na grande oração sacerdotal antes da sua morte (cf. Jo 17). “Durante a sua vida terrena, Jesus ofereceu orações e súplicas com grande clamor e lágrimas àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido por sua obediência (Hb 5,7).

Jesus, antes de passar deste mundo ao Pai, confiou à Igreja, não somente a memória da ceia, mas também a sua oração, pois ele não pode mais separar-se do seu corpo que é a Igreja. De tal maneira formamos uma única realidade com Cristo, que quando a Igreja ora e salmodia, é o Cristo orando na voz da Igreja (cf. SC 7). A sua oração, como o seu sacrifício, prolonga-se na Igreja. Cristo continua em nós, povo sacerdotal que somos, sua atitude de gratidão, de contemplação, de louvor ao Pai, na exultação do Espírito Santo. É o Espírito que nos faz entrar na relação filial de Jesus com o Pai, porque “Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu filho que clama: Abba, Pai!” (Gl 4,6). “O Espírito socorre a nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).

 

2.2 Ofício Divino, ação da Igreja

A Sacrosanctum Concilium afirma que “Cristo continua a sua missão sacerdotal por meio da Igreja que louva o Senhor sem cessar e intercede pela salvação do mundo, não só com a celebração da Eucaristia, mas de vários outros modos, especialmente pela recitação do Ofício Divino (SC 83).

Há na Sacrosanctum Concilium uma insistência para que o Ofício seja feito em comum, ao menos em parte (cf. SC 99), que a oração comunitária seja preferível à oração individual (cf. IGLH 33). A Introdução Geral aplica à Liturgia das Horas a determinação conciliar que afirma ser as ações litúrgicas não ações privadas, mas celebrações da Igreja (…), ações que pertencem a todo o corpo da Igreja (cf. SC 26; IGLH 20) e que, por isso, não pode ficar “reservada” a alguns. Por isso, a Sacrosanctum Concilium recomendou que “também os leigos recitem o Ofício Divino” (SC 100).

A expressão oração da Igreja “tinha, num passado recente, um sentido prioritariamente jurídico. O Ofício era a oração da Igreja porque era organizado e regulamentado pela Igreja, reconhecido oficialmente e confiado como obrigação a alguns delegados para isso, os quais oravam “em nome da Igreja”. No entanto, com a renovação conciliar, devolve-se o Ofício Divino ao povo de Deus, à comunidade dos batizados. É da Igreja porque a Igreja realiza a ação. Parte-se do mistério da Igreja, povo sacerdotal pelo batismo, animado pelo Espírito Santo, com direito e obrigação de celebrar (cf. SC 14 e cf. IGLH n. 6-7)), de formar “assembléia para louvar a Deus…” (SC 10). O caráter eclesial da Liturgia das Horas é garantido, quando é realizada pela comunidade com seus ministros ou mesmo por uma pequena assembléia formada por leigos (cf. IGLH 27) ou por religiosas que “representam a Igreja orante” (IGLH 24).

O sacerdócio de Jesus, chave de compreensão do seu ministério, participado por todos os cristãos mediante o batismo, confere fundamento, razão e valor à prece dos filhos e filhas de Deus. Temos na teologia do sacerdócio dos fiéis, e em sua consequente habilitação para o culto divino, fundamento do direito e da obrigação de todos os fiéis de participarem da prece da Igreja. Não se trata de delegação exterior e de caráter apenas jurídico. Trata-se de habilitação teologal. Todo fiel e qualquer pequena comunidade pode converter sua oração eclesial em autêntica liturgia das horas, sem necessidade de qualquer outro título externo que se possa acrescentar.

 

2.3 A memória da páscoa associada à hora

Embora a Liturgia das Horas leve em conta o ciclo anual e o ciclo semanal do ano litúrgico, ela se inscreve fundamentalmente no ritmo diário. A Introdução Geral à Liturgia das Horas, assumindo o que diz a Sacrosanctum Concilium de “consagrar, pelo louvor, o curso diurno e noturno do tempo” (cf. SC 84), define como finalidade da Liturgia das Horas a santificação do dia e de toda a atividade humana (cf. IGLH 10-11).

Para que todos possam celebrar melhor e mais perfeitamente o Ofício Divino nas circunstâncias atuais, o Concílio estabeleceu dois momentos principais: laudes (manhã) e vésperas (tarde), “tidas como os dois pólos do ofício cotidiano, consideradas como as horas principais” (SC 89). Recomendou também que sejam mais solenemente celebrados, principalmente aos domingos e festas, que sejam cantados (cf. SC 99) e que a eles os fiéis sejam mais especialmente convidados (cf. SC 100). Teve-se o cuidado de torná-los populares, colocando neles as “preces”, a recitação comum do Pai-nosso e evitando atribuir-lhes salmos muito difíceis.

 

Fonte:

Revista de Liturgia, publicado no blog do pe. Luis Renato, SJ, Caminhos de formação

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Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades – Pe. Danilo César https://observatoriodaevangelizacao.com/conversas-sobre-o-oficio-divino-das-comunidades/ Wed, 07 Mar 2018 10:00:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27513 [Leia mais...]]]>  

Ação do Povo

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Pe. Danilo César

Nossa conversa volta a atenção para o Pe Danilo César, da Arquidiocese de Belo Horizonte e membro da Rede Celebra. A dissertação de mestrado do Pe Danilo, “A sacramentalidade e o caráter celebrativo do Ofício Divino das Comunidades no Brasil”, é sobre o Oficio Divino das Comunidades, na qual aborda a sacramentalidade e o caráter celebrativo dessa experiência inculturada do Brasil. Pe. Danilo compartilha conosco algumas de suas descobertas.

Entrevista com o Pe. Danilo César

1. Como foi feita a escolha de pesquisar o tema: “A sacramentalidade e o caráter celebrativo do Ofício Divino das Comunidades (ODC) no Brasil”?

Danilo: Inicialmente, meu projeto de pesquisa era sobre a incidência eclesial da Liturgia sobre a eclesiologia, no sentido de demonstrar que as celebrações influenciam, e muito, o ser Igreja. A proposta foi discutida com o Prof. Pe. José Manuel G. Cordeiro, junto com uma sugestão de investigar a sacramentalidade do ODC no Brasil. Em comum acordo, optamos pelo ODC. As razões são simples: o ODC desperta muito interesse e curiosidade fora do Brasil, porque ele realiza o que a reforma conciliar não alcançou: devolver ao povo de Deus essa forma de oração que nasceu com a Igreja e que conta com um mandamento expresso pelo Cristo: “Orai sem cessar”. Além disso, o ODC tem um forte caráter celebrativo que supera o que eu chamaria de “mentalidade recitativa” da Liturgia das Horas (LH). A tese visa demonstrar que essa experiência é legítima e capaz de expressar o mistério de Cristo.

2. A quais conclusões você chegou?

Danilo: O ODC goza de “força sacramental”, porque ele foi elaborado com a preocupação de ser uma versão inculturada da LH para o povo de Deus, mantendo a mesma teologia da oração oficial da Igreja. E conseguiu. Para isso foi necessário pesquisar historicamente o ODC: sua gênese em paralelo com o surgimento da nova LH. O texto oficial da Igreja, em seu percurso de elaboração e de tradução teve um público alvo: os clérigos e os religiosos. A linguagem escolhida foi a erudita e a estrutura levou em conta o estilo monástico. Um exemplo são as antífonas, tratadas como abertura e conclusão dos salmos. Muito embora a Instrução Geral da Liturgia das Horas dê bastante liberdade para o uso diversificado das antífonas, a prática reafirma a recitação direta.

O ODC teve outro público alvo: os fiéis. Aproxima-se mais da antiga tradição dos ofícios de catedral, ou de paróquia, que se perdeu na Igreja do ocidente. Usando o mesmo exemplo, o ODC traz antífonas que se aproximam muito do “canto antifonal”, onde a alternância tinha um caráter popular, dramático e envolvente. No ODC, as antífonas são os refrãos de muitos salmos que mudam conforme o tempo litúrgico e a festa. Além disso, o ODC realizou o que o número 13 da Sacrossantum Concilium nos propõe: uma aproximação fecunda entre a liturgia e a piedade popular. Grande exemplo disso temos nas aberturas que assimilam a mesma estrutura dos ofícios de Nossa Senhora. A linguagem poética dos salmos do ODC é muito próxima da linguagem do nosso povo. Os textos do ODC recuperam muitos elementos da antiga tradição cristã: hinos antiquíssimos e veneráveis, antífonas tiradas dos antifonários da Igreja. Trazem também novas composições, da tradição que se criou por aqui e que exprimem com exatidão e profundidade o mistério celebrado.

3. Em que sentido o ODC goza de força sacramental?

Danilo: Toda a Liturgia goza de sacramentalidade, isto é, a natureza e o “funcionamento” de uma celebração da Palavra, ou do ano litúrgico, ou do Ofício Divino são análogos aos sacramentos da Igreja: uma realidade sensível que revela uma invisível (expressão significativa) do mistério da Páscoa de Cristo, acessível pelos gestos e sinais (fato valorizado) e uma comunidade de fé, incorporada ao seu Senhor, que continua as suas ações como corpo animado pelo Espírito e como presença de Cristo no mundo (inter-comunhão solidária).

No caso do ODC, que assimilou a mesma teologia da LH, a oração é ação de Cristo em seu corpo, a Igreja. Parafraseando Agostinho, nas celebrações do ofício, Cristo continua a orar na voz da Igreja, como sua cabeça. Ele apresenta essas preces ao Pai como nosso Sacerdote. Ele escuta essas mesmas preces como nosso Deus. A comunidade, rezando o salmo no Ofício, continua a oração de seu Senhor.

4. O ODC tem algum ponto a ser revisto? A pesquisa aponta alguma fragilidade?

Danilo: Não foi esse o foco da investigação. Não obstante encontramos elementos que precisam ser revistos, como por exemplo, a adaptação dos salmos que encontramos no ODC. Não apenas no sentido de rever essa adaptação, mas também no sentido de compreender bem o que foi feito. Diga-se de passagem, algo de muito valor. Traduzir, é bem mais que verter fielmente um texto para outra língua segundo seus originais. Também não é trair. É, segundo os antigos textos rabinos, deixar que a vitalidade da Palavra, sempre viva e atuante, opere a revelação hoje. Isso acontece no ODC. Mas esse aspecto precisa ser mais aprofundado. Quem sabe numa outra tese, ou num mutirão de reflexão que ajude a entender o que se processou…

Outros aspectos, mais litúrgicos, seriam aqueles de configurar mais e mais o ODC com os Ofícios de Catedral (ou de paróquia), para que seja mais das Comunidades, do povo de Deus e ao mesmo tempo fiel às fontes da Liturgia. Por exemplo: a execução direta dos salmos já começa a acontecer no ODC. Isso o distancia do modo antifonal de execução e consequentemente dos ofícios de catedral. Devemos insistir no valor dos refrãos, da execução dialogada e antifonal no sentido mais antigo, nas expressões da piedade popular e na inculturação. É esse o diferencial do ODC.

5. Como pensar a relação do ODC com a LH: oposição ou mútua fecundação?

Danilo: Mútua fecundação, sem dúvida. O ODC tem a LH como uma de suas fontes e isso vai sempre ajudar o ODC a aprofundar o caminho. Mas quem reza a LH já percebe a necessidade de celebrá-la, por ver isso acontecer com o ODC. Alguns grupos fazem intercâmbio de elementos do ODC com a LH e vice-versa. A linguagem dos textos na LH é notoriamente erudita, isso já causa certa dificuldade também entre clérigos e religiosos. Precisa ser revista.

Outro aspecto: um religioso, clérigo que passa o dia inteiro lendo, estudando, ou em trabalhos que exigem esforço mental, na hora de rezar ele vai deparar-se de novo com um livro, um texto, uma leitura… Isso cansa e não ajuda a oração. Nesta hora, falta o elemento celebrativo. Cantar, acender uma vela, oferecer um incenso pode transportar para uma outra dimensão menos mental, mais lúdica, afetiva, profunda e integral do ser. O Ofício me ensinou isso, mesmo quando rezo a LH esses elementos me ajudam a entrar na dinâmica do Reino (cf. Mc 10,13-16). Quem pensa em oposição entre o ODC e a LH perde a grande oportunidade de ver as duas formas, que são irmãs, se enriquecerem e serem um caminho seguro de oração e fonte para a espiritualidade de todos os cristãos.

Fonte: Revista de Liturgia – 221 – Ano 37, entrevista organizada e publicada pelo Pe. Renato, SJ, em seu blog Caminhos de Formação.

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Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades – Ir. Bruno da Comunidade de Taizé https://observatoriodaevangelizacao.com/conversas-sobre-o-oficio-divino-das-comunidades-ir-bruno-da-comunidade-de-taize/ Mon, 05 Mar 2018 18:23:40 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27495 [Leia mais...]]]> A contribuição da Comunidade de Taizé

Nossa conversa sobre o Oficio Divino das Comunidades vai agora focar a atenção sobre a experiência de Taizé, comunidade ecumênica que tem participação fundamental na sua elaboração. As primeiras experiências de um ofício popular, realizadas no Brasil, pelo Pe. Geraldo Leite, teve nela sua inspiração. Pe. Geraldo passou nove meses convivendo com a simplicidade e a beleza dos ofícios na comunidade de Taizé (França), e foi esta experiência que o animou a começar, no Brasil, precisamente em Ponte dos Carvalhos, um Ofício Divino com o povo.

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O Irmão Michel da Comunidade de Taizé, que viveu no Brasil e fundou uma comunidade, em Alagoinhas (BA), com sua longa trajetória de celebrar o ofício com o povo, participou do processo de elaboração do Ofício Divino das Comunidades, dando sua colaboração bem precisa e muito valiosa. Ambos já fizeram sua páscoa e participam do incessante louvor na casa do Pai, mas suas contribuições continuam vivas no Ofício Divino das Comunidades e são transmitidas, agora, pelo Irmão Bruno, da mesma comunidade de Alagoinhas. De modo muito sincero, ele diz: “não falo muito”. Mas suas respostas curtas dão o que pensar… Ousamos, comentá-las, para aprofundarmos a contribuição que ele oferece neste bate-papo. Em nossos comentários não queremos repetir simplesmente o que ele diz em suas breves respostas, mas refletir com ele alguns aspectos importantes sobre a prática do Ofício Divino das Comunidades.

(Para fins de distinção, transcrevemos as respostas de Irmão Bruno, seguida pelo comentário, em itálico).

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Irmão Bruno, da comunidade de Taizé de Alagoinhas – BA

1. Qual a contribuição da liturgia de Taizé na elaboração do Ofício Divino das Comunidades (ODC)?

Irmão Bruno: Como toda liturgia, o Ofício Divino é um corpo vivo. Veicula verdades perenes e circunstanciais. Necessita adaptar gênero literário e vocabulário para que as mentalidades do tempo presente possam se situar como realidade viva, corpo orante. Ir. Michel passou esta intuição.

— A intuição do Irmão Michel, segundo as palavras de Irmão Bruno, não se refere a um livro apenas, e ao que ele contém. Está falando da celebração, dos cantos, dos gestos, dos símbolos como o incenso, a música e o espaço com todos os elementos. Está falando das pessoas: as histórias que elas carregam, as situações que vivem, os sonhos que nutrem. O Ofício Divino das Comunidades como corpo vivo tem a ver com a Igreja, que é Corpo orante de Cristo ressuscitado, o vivente, que continua o seu louvor nas expressões particulares do Brasil com sua diversidade regional e traz para a celebração as suas feições mais próprias. Por sua qualidade de corpo, está ligado ao restante dos membros (ao nosso país com toda sua riqueza humana e à Igreja universal que abraça tudo o que traduz a fé).

2. Os refrãos meditativos no Ofício Divino das Comunidades são amplamente utilizados. Como você avalia esta utilização?

Irmão Bruno: O Ofício Divino das Comunidades existe em várias versões: há a edição básica e edições menores também para jovens, adolescentes e crianças, nas quais os mantras são muito valorizados… Estes refrãos meditativos cantados são da ordem da oração do coração. A contribuição de Taizé virou patrimônio de toda a Igreja. Taizé escolheu letras da Bíblia ou dos santos. Taizé não tem primazia, porém tem grande aceitação.

— “A ordem do coração” sobressai no texto do Irmão Bruno… Os mantras talvez exprimam esse segredo da comunidade de Taizé: pequenos textos cantados repetidamente, sem o muito falar das nossas celebrações. A circularidade do canto, a cadência, a palavra ressoada e o clima orante que se estabelece, conduz o corpo-Igreja para o coração do Mistério e para o íntimo das pessoas, fazendo todos e cada um experimentar a verdade da fé, na comunhão dos irmãos e irmãs e na própria experiência de Deus. Taizé aponta a direção do coração, lá onde os segredos se escondem e o mistério faz livre e gratuita morada. A ordem do coração supera as lógicas do raciocínio, da presunção, da oração orgulhosa que não agrada a Deus. A ordem do coração permanece na soleira do templo, onde o humilde se esvazia de si mesmo diante do mistério (Lc 18,9-14). A lógica do coração admite a ritualidade dos humildes, as palavras dos santos, pequenos trechos da Bíblia, em busca da “serena alegria”… É patrimônio da Igreja! Taizé deu ao Ofício Divino das Comunidades o que tinha de melhor: mais que os mantras e os seus cantos, deu o espírito de gratuidade na oração.

3. Quais as semelhanças e diferenças entre os ofícios de Taizé e as celebrações do Ofício Divino das Comunidades?

Irmão Bruno: Pela sua natureza ecumênica, ladainhas e introduções, os dois ofícios são reflexo de catolicidade. Embora a estrutura seja, grosso modo, a mesma, Taizé não coloca a memória do dia, porque salienta mais o lado da contemplação. Taizé privilegia o silêncio após a Palavra.

— Irmão Bruno indica outra maneira de entender a catolicidade: universalidade. O que é universal é de todos e não é propriedade de ninguém. No Ofício Divino das Comunidades, assim como nos ofícios de Taizé, o componente ecumênico da oração abraça o que é universal e o que escapa dos rótulos e partidarismos. As ladainhas e introduções (aberturas), por sua repetição e popularidade são acessíveis e encantam muito! O silêncio após a Palavra tem a primazia: espaço para deixar falar Aquele que é inominável. A memória do dia cede lugar à contemplação, com ênfase na oração pessoal dentro da oração comunitária. Não nega a importância da recordação da vida, tão valorizada no Ofício Divino das Comunidades, mas talvez mostra um lado desconhecido e temido pela nossa mentalidade religiosa ocidental. Em tempos de pós-modernidade, que tanto valoriza o sentir e o experimentar, é preciso redescobrir o caminho certo da experiência subjetiva como oportunidade de conduzir ao mistério de Cristo, enquanto experiência objetiva da fé.

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Irmão Bruno

4. Qual a contribuição do ODC para a Igreja do Brasil

Irmão Bruno: Após o Concílio Vaticano II e a redescoberta da participação ativa do povo de Deus na liturgia, vejo o Ofício Divino das Comunidades como a resposta mais ajustada, principalmente pelos salmos e músicas (mérito de Jocy Rodrigues, Geraldo Leite, Reginaldo Veloso e outros).

— A participação dos fiéis, fruto do Movimento litúrgico que se afirma no Concílio, rompeu com séculos de separação e distanciamento entre o povo e a liturgia da Igreja. Embora estejamos longe de mensurar o seu alcance, poder participar das ações litúrgicas, ativamente e com conhecimento de causa, representa grande avanço. No Ofício Divino das Comunidades todos(as) cantam, todos(as) se elevam a Deus, todos(as) têm acesso à liturgia, o que faz dele uma resposta mais ajustada ao nosso mundo plural e com tanta diversidade…

5. Quais elementos ecumênicos você destaca no ODC?

Irmão Bruno: O Ofício Divino das Comunidades não cuidou apenas dos aspectos ecumênicos, mas incorporou elementos que se referem ao macro-ecumenismo, como por exemplo, preces de outras tradições e religiões.

— De fato, no Ofício Divino das Comunidades os elementos ecumênicos se fazem presentes: a oração do Senhor em versão ecumênica, o sentido cristológico, trinitário e bíblico da oração, a inclusão de hinos de outras tradições cristãs e denominações, o cuidado e a opção pela linguagem inclusiva e popular. O Irmão Bruno volta a atenção para o aspecto macro-ecumênico, também chamado hoje de “inter-religioso”. O Ofício Divino das Comunidades incorpora elementos religiosos de outras tradições; basta tomarmos como exemplo os ofícios para circunstâncias especiais, quando, diante de situações de fronteira e de limite, falam menos as diferenças e mais a busca pela vida, pela paz e pela sobrevivência. Tudo isso depõe a favor do Ofício Divino das Comunidades como oração de todos(as) e aberta a todos(as).

6. A tradição monástica contribuiu para a liturgia do Ofício Divino das Comunidades? Como?

Irmão Bruno: As comunidades monásticas foram guardiãs desta tradição da Igreja ao longo dos séculos e mantiveram a forma mais primitiva da oração comunitária. O Ofício Divino das Comunidades não propõe ao povo todos os ofícios dos monges, mas as duas horas principais, como acontecia nas comunidades eclesiais dos primeiros séculos.

— O Irmão Bruno nos remete aos primórdios dos ofícios da Igreja: os ofícios monásticos e os ofícios de catedral. Os primeiros, com suas diversas horas, organizados para as comunidades de homens e mulheres com a vida dedicada e consagrada à oração. A segunda forma, os ofícios de catedral ou de paróquia, eram especialmente marcada pela oração da manhã e da tarde, com a presença de todo o povo de Deus: famílias, jovens e crianças, também os monges e monjas, presbíteros e bispo… Infelizmente, o segundo modelo praticamente se perdeu na Igreja ocidental, mas está renascendo com iniciativas como as de Taizé, desde o movimento litúrgico, e a Liturgia das Horas do Concílio Vaticano II, que em nossas comunidades chega na forma do Ofício Divino das Comunidades, onde o povo toma parte na oração em momentos especiais do dia, do ano litúrgico e de circunstâncias especiais.

Fonte: Revista de Liturgia – 220 – Ano 37, entrevista organizada e publicada pelo Pe. Renato, SJ, em seu blog Caminhos de Formação.

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Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades – Ione Buyst https://observatoriodaevangelizacao.com/conversas-sobre-o-oficio-divino-das-comunidades-com-ione-buyst/ Fri, 02 Mar 2018 10:00:23 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27466 [Leia mais...]]]> Ação memorial

Nossa entrevistada desta vez é Ione Buyst. Tendo participado do processo de elaboração do Oficio das Comunidades deste os inícios e tendo contribuído com a reflexão teológica a partir de sua prática, ela enfatiza o Oficio Divino enquanto ação litúrgica, com sua dimensão simbólico-sacramental, como fonte de vida espiritual.

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Ione Buyst

1. O Oficio Divino das Comunidades (ODC) é uma rica experiência da Liturgia das Horas no Brasil. Esta experiência certamente é uma contribuição ímpar para a reforma da Liturgia. Quais aspectos você aponta como ganhos nesta caminhada?

Ione: O Concílio Vaticano II fez a chamada revolução copernicana da liturgia, em termos de eclesiologia, reafirmando claramente que as ações litúrgicas são ações da Igreja, povo santo e sacerdotal. Toda, a reforma conciliar tem este objetivo: possibilitar e facilitar a participação do povo na liturgia. Finalmente, toda a liturgia, também a liturgia das horas, seria devolvida ao povo de Deus, para que através dela pudesse mergulhar no mistério de Cristo, viver na comunhão do Pai e do Filho e do Espírito Santo, como fermento, como sacramento de união de toda a humanidade. Então, o primeiro ganho que o Oficio Divino das Comunidades oferece à reforma da liturgia é de contribuir com uma liturgia das horas inculturada, mais próxima e ao alcance do povo brasileiro; desta forma possibilita que se realize a proposta do Vaticano II de restaurar a liturgia das horas como oração do povo de Deus, e não apenas do clero e de membros de congregações religiosas.

 

2. Muitas pessoas alegam que o povo se alimenta das devoções e, por isso, não teria necessidade do ofício divino. O que pensar sobre isso?

Ione: De fato, a vida de oração do povo brasileiro continua sendo forjada e alimentada por inúmeras devoções mais do que pela Palavra de Deus e pelas celebrações litúrgicas: novenas, vias-sacras, terço, procissões, romarias, cumprimento de promessas, adoração do Santíssimo, orações aos santos e santas…, porque foi isso que, desde a evangelização do nosso Continente, foi proposto e divulgado. A maioria dos católicos nunca ouviu falar de liturgia das horas, ou de ofício divino, como até algumas décadas atrás também não tinha acesso à Bíblia. No entanto, o povo de Deus tem direito a conhecer o oficio divino, como herança deixada por Jesus e pelas primeiras comunidades cristãs. Tem direito de se alimentar deste oficio que é pura palavra de Deus escutada e meditada.

Mas é preciso garantir que o ofício divino não venha a ser engolido ou absorvido na tendência devocional de se usar as práticas religiosas para obter de Deus bênçãos, curas e outros benefícios. Até mesmo a celebração eucarística corre este risco de ser vivida como devoção mais do que como sacramento. Daí a necessidade de uma boa formação bíblica, teológico-litúrgica e espiritual juntamente com a introdução pedagógica da prática do ofício, para que leve a uma participação consciente no mistério celebrado.

 

3. É possível falar de sacramentalidade do ODC? Em que sentido?

Ione: Sem dúvida. Como liturgia das horas  inculturada, o Ofício Divino das Comunidades é ação memorial, celebração da aliança de Deus com o seu povo, no ritmo antropológico de alternância entre o dia e a noite, que marca profundamente nossa existência. O sol que morre e ressuscita a cada dia torna-se no ofício divino símbolo de Cristo morto e ressuscitado, Sol da justiça, Sol que não tem ocaso, Luz do mundo, que orienta e ilumina diariamente nossa vida pessoal e social com seus altos e baixos, com seus êxitos e fracassos, com suas esperanças e desilusões, na saúde e na doença, nos momentos de alegria e de tristeza. O ofício acompanha também o ano litúrgico com a celebração de todos os mistérios do Senhor. Fazendo memória de Cristo, de sua morte e ressurreição, somos atingidos pela força transformadora de sua páscoa. Somos levados a fazer de nossa vida uma experiência pascal, a trazer sempre em nosso corpo a morte de Jesus para que também sua vida se manifeste em nossa carne mortal (SC 12, referindo-se a 2Cor 4,10-11), na expectativa do Dia sem fim, do Reino de Deus realizado em plenitude. E é bom lembrar que aí está a fonte da espiritualidade cristã: na participação no mistério de Cristo, a partir da participação na liturgia, a partir da experiência ritual.

4. Poderíamos dizer que a espiritualidade tem forte relação também com a ritualidade?

Ione: Como toda a liturgia, o ofício divino é uma ação ritual e deve ser vivido como tal; não pode ficar reduzido a uma recitação rotineira e enfadonha de textos. A regra básica da Sacrosanctum Concilium vale também para a celebração do ofício divino: é preciso participar ativa, consciente, plena e frutuosamente. Costumamos falar de celebrar na inteireza do ser e realizar as ações rituais com a plena atenção de meu corpo, de minha mente, de minha afetividade…, numa relação de comunhão com Deus, deixando que o Espírito atue em mim. E preciso aprender este jeito de celebrar que conjuga ritualidade e espiritualidade, oração pessoal e comunitária, tradição bíblico-litúrgica e piedade popular, num clima afetivo de comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs…, tão distante do formalismo e da sisudez de muitas liturgias realizadas com pressa, sem sabor e aparentemente sem amor.

A Constituição do Concílio Vaticano II sobre a liturgia propôs a troca da recitação do breviário pela celebração da liturgia das horas. Porém, fora as comunidades monásticas e algumas congregações religiosas, seminários e casas de formação, a maioria dos usuários da liturgia das horas continua o estilo do breviário: faz simplesmente uma leitura de textos, e não uma celebração litúrgica. O Oficio Divino das Comunidades abre um caminho para superar esta grave limitação.

5. Os elementos da Liturgia das Horas têm os salmos e cânticos como centro gravitacional. No Oficio Divino das Comunidades, como esses elementos são considerados?

Ione: O Oficio Divino das Comunidades oferece 110 salmos e 52 cânticos bíblicos do Primeiro e do Segundo Testamento, em linguagem poética e musical popular. São colocados no início do livro, deixando a cada comunidade ou grupo a liberdade de escolha, de acordo com o tempo disponível e o conhecimento da melodia; o livro oferece ao mesmo tempo indicações de salmos adequados a cada ofício e ainda uma tabela dos salmos seguindo a divisão do saltério em quatro semanas, conforme a liturgia das horas. Cada salmo e cântico vem introduzido por uma frase do Primeiro Testamento que ajuda a ligar o salmo com a experiência de Jesus e um pequeno texto que procura atualizar o salmo ou cântico (Cf. Introdução do livro, p. 12). Alguns salmos e cânticos trazem antífonas ou refrãos. O canto costuma ser acompanhado por instrumentos musicais: violão, pandeiro, tambor, atabaque, flauta, violino, teclado… de acordo com a possibilidade de cada grupo. Introduzimos o hábito de deixar um silêncio após cada salmo ou cântico para meditação pessoal ou para revolver no coração um ou outro verso que tocou mais; no final, várias pessoas dizem esta frase em voz alta, criando assim uma partilha espiritual. Um ou outro grupo aprendeu a fazer oração sálmica, mas o livro não oferece textos para isso. Nos encontros de formação, muitos grupos introduzem lectio divina (leitura orante) com um ou outro salmo ou cântico, para que se tornem mais conhecidos e possam ser saboreados e cantados com mais proveito espiritual.

Merece um destaque o salmo invitatorial inserido na abertura do ofício, que é feita em forma de repetição, facilitando a participação de todos e todas, sem ter necessidade de acompanhar no livro, o que deixa também a mente mais livre para a meditação. O cântico de Zacarias e o cântico de Maria vem muitas vezes acompanhados de leves movimentos de dança, reforçando seu teor festivo.

6. Gostaria de lembrar outros elementos rituais importantes no Ofício Divino das Comunidades?

Ione: Os ofícios começam com um refrão meditativo (dos cantos de Taizé, ou outros do mesmo estilo), repetido várias vezes, e desembocando em silêncio, facilitando assim a concentração espiritual dos participantes.

Um outro elemento ritual novo, que vem logo depois da abertura, é a recordação da vida. Quem quiser poderá lembrar algum fato importante acontecido na cidade, na região, no mundo… Desta forma nossa oração fica conectada com a realidade, enquanto procuramos discernir nela os sinais dos tempos, sinais do Reino, sinais de morte e ressurreição, sinais do mistério pascal de Jesus Cristo acontecendo na história atual, nos fatos, nos acontecimentos pessoais e sociais. Esta relação da liturgia com a realidade expressa a dimensão profética da liturgia; une luta e louvor; culto e misericórdia; anuncia o mundo que há- de-vir; denuncia e exorciza o espírito do mundo. Expressa a Aliança com o Deus que faz opção pelos pobres e excluídos. É bem de acordo com a prática eclesial latino-americana; vem expressa nos documentos do magistério latino-americano (Medellín, Puebla, Santo Domingo, Aparecida) e a encontramos resumida numa frase lapidar no documento 43 da CNBB: ‘Páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo’. (item 300).

Os fatos citados no início do ofício nos acompanham como pano de fundo durante o canto do hino, dos salmos e cânticos bíblicos, durante a leitura bíblica… e podem ser retomados nas preces, como participação na intercessão de Cristo que acompanha com atenção a vida de todas as pessoas, de todos os povos, principalmente dos mais pobres. No ofício da tarde ou da noite, é proposta uma revisão de vida do dia que passou: onde vimos a salvação acontecer? onde impedimos a passagem de Deus no meio do povo?…

7. Existem muitas publicações que acompanham o Ofício Divino. Nestas publicações, alguns elementos novos aparecem e outros são revistos, o que nos leva a pensar que o ODC está em processo evolutivo, ou de amadurecimento de sua proposta. Existem elementos a serem revistos?

Ione: O Ofício Divino das Comunidades não é uma proposta fechada. Na medida em que se espalha pelo Brasil afora, vai dialogando com a riqueza das muitas tradições e grupos culturais do norte e do sul, do leste e do oeste, dos indígenas e afrodescendentes, de comunidades religiosas, de moradores de rua e de ribeirinhos, de jovens, adolescentes e crianças, grupos de catequese… Assim vão surgindo símbolos, gestos, vestes, novas melodias para as aberturas, para os hinos, salmos e cânticos… Costuma-se adaptar o tamanho do ofício às possibilidades e sensibilidades de cada grupo: mais curto ou mais ampliado. Há ainda a adaptação do ofício para determinadas ocasiões ou circunstâncias especiais, algumas já previstas no livro, outras surgindo de necessidades locais: encontros pastorais, romarias, colheitas, mutirões, bênção de uma casa, ocupações, encerramento da festa do padroeiro ou padroeira, celebração com enfermos… Certos grupos, na medida em que vão amadurecendo, procuram inserir outros elementos da liturgia das horas que não foram inicialmente previstos no Ofício Divino das Comunidades: mais antífonas e responsos, oração sálmica, leituras hagiográficas e patrísticas.

Fonte: Revista de Liturgia – Ano 37 – 219, entrevista organizada e publicada pelo Pe. Renato, SJ, em seu blog Caminhos de Formação.

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Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades – Sônia Rios https://observatoriodaevangelizacao.com/ii-conversas-sobre-o-oficio-divino-das-comunidades/ Thu, 01 Mar 2018 10:00:23 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27453 [Leia mais...]]]>  

Continuando a série «Conversas sobre o ODC”, com a palavra a agente de pastoral mineira, Sônia Rios. Ela foi coordenadora da Comunidade do Divino Espírito Santo, membro da equipe de liturgia e participa da Rede Celebra, em Belo Horizonte. Sônia nos relata a primeira experiência do ODC na Arquidiocese e seu testemunho ressoa o que muitas comunidades que celebram o Oficio experimentam.

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Sônia Rios

Uma experiência em Belo Horizonte – MG

 

1. Quando foi que a Comunidade do Divino Espírito Santo começou a celebrar o ODC?

Sônia: Nossa Comunidade pertencia à Paróquia São Francisco, mas a distância era longa e tínhamos um obstáculo que era uma movimentada avenida de Belo Horizonte. Ela nos separava do restante da paróquia. O povo sentia muita falta de se reunir para celebrar a fé. De vez em quando, algum padre vinha celebrar conosco, mas ainda assim buscávamos um caminho… O ODC começou a ser celebrado em nossa comunidade no ano de 1992. Com a chegada das irmãzinhas de Jesus, de Foucault, começamos a reunir para a reza do oficio. Ele foi fundamental para assegurarmos nosso jeito próprio de celebrar e de viver a fé. O jeito de celebrar o Ofício influenciava inclusive nossas celebrações da Palavra e da Eucaristia: os cantos, a partilha, as preces, os serviços… Na época celebrávamos nas casas, pois ainda não tínhamos igreja. Tudo era muito familiar e informal. As pessoas pediam que fôssemos rezar em suas casas, tínhamos ensaios semanais para o Oficio e para o Dia do Senhor. Por ocasião de alguma necessidade como enterros, mutirões, bênçãos de casa e nas visitas aos doentes sempre fazíamos o oficio.

 

2. Existe algum acontecimento especial que marca esta experiência do ODC em sua comunidade?

Sônia: Uma coisa bonita foi quando fizemos a filmagem do vídeo da Rede Celebra. Naquela ocasião descobrimos que mais gente rezava o Ofício. Nos reunimos com o pessoal da paróquia São Francisco das Chagas e dos Sagrados Corações de um outro bairro. Preparamo-nos para os trabalhos de filmagem com ensaios e formação. Muita gente animada e comprometida se empenhou bastante, pois sabiam que era uma forma de ajudar outros a conhecer e a praticar a oração das horas. Uma trazia o forro mais bonito que tinha em casa para enfeitar a mesa. Outra trazia o antigo ferro à brasa para servir de braseiro do incenso. Tinha também quem trazia as flores, o incenso e as velas. Era tudo muito participado. Foi também um momento de parada para escutar o que o ODC significava na vida das pessoas: a reza em família, o encontro com a fé celebrada de forma viva na própria cultura, a força que brota da oração dos salmos nos momentos difíceis. A Palavra de Deus estava sendo cantada nos salmos, do jeito que a Igreja ensina e como a gente entende e gosta. Era a nossa música, os nossos gestos, os nossos símbolos. Essas coisas vieram à tona quando nos reunimos para fazer aquela gravação. O resultado foi aquele vídeo bonito que está espalhado pelo Brasil afora.

 

3. Houve também dificuldades no percurso?

Sônia: Muitas! Às vezes, depois que construímos nossa Igreja, o pessoal nem sempre a encontrava aberta para a celebração. Na indecisão de saber para onde ir, por causa das distâncias, do horário e outros inconvenientes, as pessoas se assentavam no passeio e rezavam. Nada impedia a turma de fazer o Ofício. Era ao mesmo tempo um prazer e um compromisso. Era uma vez por semana, mas era feito com gosto e com responsabilidade. Às vezes tinha só três pessoas. Mas elas não deixavam de rezar por isso. Outra dificuldade era lidar com pessoas que chegavam e não entendiam a importância de se rezar  conforme o ODC nos propunha. Queriam inserir outros cantos, escolher salmos à revelia, inventar gestos. O pessoal resistiu muito a isso. Não por fechamento, mas por entender que o caminho era outro. Sem saber formular, a gente intuía que a questão era rezar com a Igreja, conforme a Tradição ensinou. Obedecer ao esquema do Ofício tinha o sentido de ouvir a voz de Jesus, na voz da comunidade. Por isso, as nossas preferências importavam menos. Eu interpreto assim… Quando faltava o violeiro, Sr. Jonas, o pessoal também ficava meio desanimado. Mas um padre, amigo nosso, disse que não tinha problema, pois ainda tínhamos o principal instrumento: a nossa voz. Tem também dificuldades econômicas. O livro está caro para as pessoas mais pobres. Nos aniversários a gente procura presentear com o Oficio, mas isso resolve pouco. Para ser mais das comunidades, precisaria também ser mais barato.

 

4. Você disse que o ODC influenciou as celebrações da Comunidade do Divino? Como você percebe isso?

Sônia: De muitos modos. Primeiro, a gente passou a perceber que nem tudo precisa ser missa. Todos gostam da missa e a gente sabe que não se pode viver sem ela. A questão é que outras formas de celebrar da liturgia ficam obscurecidas e a missa, que deveria ser o ponto alto das nossas ações, inclusive litúrgicas, fica desvalorizada. Um exemplo são os tríduos da festa do Divino (Pentecostes). A gente introduziu em algum dos dias o Ofício. Isso já foi uma mudança significativa. Outra coisa importante que percebo é a valorização da Palavra de Deus. As pessoas escutam mais, aprendem que Deus está falando com a gente, mesmo na celebração da Palavra ou na missa dominical. Eu acho que isto é fruto do Ofício! Tem também os símbolos e os ritos. As pessoas gostam do incenso, dos gestos de se inclinar e levantar as mãos no “Glória ao Pai”, cumprimentar os irmãos e irmãs no convite da abertura. Também a novena da Arquidiocese, já por três anos, traz o esquema completo do Ofício da Novena de Natal. Já não é mais uma coisa estranha para nós, mas uma confirmação de que estamos no caminho certo.

 

5. Existe alguma dificuldade entre a oração pessoal e a reza do Ofício?

Sônia: Nenhuma dificuldade. No ofício a gente começa com oração pessoal, rezando em silêncio, para se preparar para a celebração. Muitos membros da comunidade rezam o Ofício em casa, antes de dormir, ou no amanhecer. Dona Odete rezava com suas netas. As crianças adoravam… Ela já faleceu, mas deixou a semente do Ofício no coração da sua família. Tem também o momento das preces. Nelas encontramos preces prontas que expressam o que a gente quer dizer, ou então o pessoal faz as suas próprias preces no espaço dado às intenções particulares. Além disso, é muito bom sermos socorridos com as palavras do salmo quando a gente não sabe o que rezar. Eles ficam impregnados na gente. Sem querer a gente acaba colocando isso para fora quando conversa com Deus. Num curso que fizemos sobre o Ofício, isso foi falado a respeito de Jesus. Ele rezava os salmos como um bom judeu. Por isso, respondia com salmos, na cruz rezou um salmo… Acho que está acontecendo a mesma coisa com a gente. Entramos na escola de oração de Jesus. Dona Odete costumava dizer: “O que mais gosto do Ofício é o Salmo, pois aí, na mesma hora que a gente fala, Deus responde com as próprias palavras do Salmo”.

 

6. O Ofício tem a ver com o sacerdócio dos cristãos?

Sônia: Lembro-me que a gente canta no final da abertura: “povo de sacerdotes, a Deus louvação”. Fico pensando que se trata do sacerdócio de Jesus do qual a gente participa como fiel e batizado. O que se chama por aí de sacerdócio comum dos fiéis. Não se trata do sacerdócio dos padres, mas de todo o povo. O nosso louvor se torna serviço sacerdotal porque se une à oração de Jesus, o único sacerdote. A gente se volta para o Pai na pessoa de Jesus, em louvor e adoração, nos unindo a ele na ressurreição e no seu sacrifício, que entre nós se faz louvor. O culto da vida não fica sem o amparo do culto da Comunidade. As mães e os pais de família, os jovens e as crianças, vão entendendo que no seu dia-a-dia tem de agradar a Deus como no Oficio rezado na Igreja. E na comunidade reunida, a gente entende que a labuta da semana, as coisas da vida, precisam ser oferecidas a Deus, para se tornarem santas, do jeito que Ele gosta. Eu penso que o sacerdócio é assim…

 Fonte: Revista de Liturgia Ano 37 – 218, organizada e publicada pelo Pe. Renato, SJ, em seu blog Caminhos de Formação.

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Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades – Penha Carpanedo https://observatoriodaevangelizacao.com/i-conversas-sobre-o-oficio-divino-das-comunidades/ Wed, 28 Feb 2018 13:00:54 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27448 [Leia mais...]]]> Apresentaremos uma série de entrevistas denominadas “Conversas sobre o Oficio Divino das Comunidades“. Em cada postagem, uma pessoa nos dará um testemunho ou uma reflexão em torno deste assunto. A intenção dessa produção é trazer à tona a experiência da Liturgia das Horas na forma do Oficio Divino das Comunidades, cuja prática oferece importantes elementos para a teologia e espiritualidade da Liturgia das Horas e para a sua inculturação.

Com a palavra à Penha Carpanedo, que fez parte da equipe que elaborou o Oficio Divino das Comunidades (ODC), e apresentou dissertação de mestrado sobre a sua inculturação. Ela partilha conosco o resultado do seu encontro, com grupos e comunidades, celebrando e aprofundando a teologia e a espiritualidade do Oficio Divino das Comunidades.

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Penha Carpanedo, da Rede Celebra

Versão inculturada da oração da Igreja

Por Penha Carpanedo

1. Desde o surgimento do Oficio Divino das Comunidades (ODC), até agora, como você sente evoluir a inculturação da Liturgia das Horas no Brasil?

Penha: O Oficio Divino das Comunidades possibilita uma oração cotidiana conforme a tradição da Igreja, de rezar com salmos e outros cânticos bíblicos, no ritmo das horas e dos tempos do ano litúrgico, com uma linguagem acessível às nossas comunidades. Depois de 20 anos desde a primeira edição, tornou-se uma referência reconhecida nas comunidades eclesiais do nosso país. E de certa forma ele cresceu com a prática das comunidades.

2. Quais elementos destacaria na proposta ritual do ODC como inculturadas?

Penha: Destaco dois elementos que me parecem fundamentais. O primeiro é a preocupação de adequar a linguagem dos textos, os ritos e o estilo da celebração ao modelo eclesial (teologia e prática) assumido por nossas comunidades a partir do Concílio Vaticano II e de Medellin. Parte-se do princípio que a inculturação da liturgia não é uma tarefa isolada, mas tem a ver com a inserção da Igreja no mundo, com a sua missão. Como bem formulou o liturgista filipino, Anscar Chupungco, a inculturação “não é apenas problema antropológico, mas também teológico, pois tange tudo o que toca o relacionamento entre Deus e o seu povo”. Esta preocupação perpassa todo o Oficio. Aparece nos hinos, nas orações, nas preces, nas introduções aos salmos etc. Aparece especialmente na Recordação da vida, introduzida para explicitar a relação entre o mistério pascal vivido no dia a dia e a celebração litúrgica. Outro importante destaque é a inclusão de elementos da piedade popular, realizando concretamente a ‘mútua fecundação’ entre liturgia e religião popular. E não apenas incorporando elementos externos, mas procurando corresponder à piedade e ao “fervor espiritual” do povo; aos “anseios de oração e de vida cristã”, tão característicos da piedade popular.

3. Poderia dar exemplos de repercussões da piedade popular no ODC?

Penha: As repercussões da piedade popular podem ser percebidas no próprio estilo do oficio. A ritualidade e a singeleza da celebração, com seu tom coloquial, sem muitas palavras explicativas, centrada no mistério pascal de Jesus, com seus salmos, hinos e orações em linguagem acessível, encontra eco na piedade do povo, com sua capacidade contemplativa e sua atitude de confiança em Jesus. Além disso, um exemplo concreto são as aberturas: com seu conteúdo bíblico e estrutura dos benditos populares em formato de repetição, traduzem com muita propriedade o sentido teológico do invitatório.

Respeitando sua forma responsorial, possibilita o diálogo e conduz à oração. A repetição foi bastante valorizada na elaboração dos diversos elementos que compõem o ODC, libertando a oração do papel e dando razão ao aspecto oral da piedade popular. É um dos elementos que mais agrada o povo e realmente convida a entrar na oração. Outro exemplo são os hinos – “cai a tarde o sol se esconde”, “pecador agora é tempo” e outros mais — tomados do repertório popular. Poderíamos ainda falar da dimensão relacional, de aliança, que cria um clima orante, comum à liturgia e à piedade popular.

4. Em que medida esta ritualidade tão presente na prática celebrativa do ODC responde à exigência de inculturação.

Penha: Sendo o Oficio Divino uma ação litúrgica como as demais celebrações da Igreja, tem dimensão comunitária e sacramental, pois se compreende como ação simbólica que expressa a salvação de Deus (oficio divino), mediante sinais sensíveis, que significam e que realizam o que significam (cf. SC 7). E quando é que um sinal é sensível? Quando atinge a pessoa em sua corporeidade, culturalmente situada. No ODC não há muitas indicações e detalhes a respeito dos gestos, símbolos e ritos. Entretanto, na prática, foi nascendo um estilo de celebração coerente com o jeito de celebrar de nossas comunidades, como resultado da relação entre liturgia e modelo eclesial e da ‘mútua fecundação’ entre liturgia e religiosidade popular.

Nas celebrações do ODC se valoriza a gestualidade, o movimento, o cuidado com o espaço e com os diversos elementos que o compõem, o bom desempenho dos ministérios (presidência, leitores/as, cantores/as, acólitos/as…) A verdade dos sinais tem como exigência, entre outras coisas, a incultaração, para que o povo possa se reconhecer na oração e de fato possa acompanhar as palavras com a mente atenta e participar com consciência, ativa e frutuosamente (cf. SC 11).

5. A inculturação leva a situar o ODC numa cultura e num tempo, isso não limita a experiência litúrgica?

Penha: O Concílio Vaticano II estabeleceu princípios teológicos e pastorais que estão na base de toda a reforma da Igreja e da Liturgia. Um destes princípios é o da adaptação aos tempos modernos e às culturas de cada povo. Compreendeu que para ser universal precisa ser capaz de adequar-se ao particular, naturalmente sem perder a referência da tradição. O ODC reproduz de maneira simples e inculturada, acessível ao povo de nossas comunidades, os mesmos elementos e estrutura da Liturgia das Horas, a mesma teologia e espiritualidade.

O ganho é imenso: a oração da Igreja se torna popular, e a oração do povo se enriquece com a herança da tradição bíblica e eclesial. Pensemos por exemplo na música. Grande parte das músicas tem sua inspiração nas raízes melódicas da nossa cultura. Muitas foram recolhidas do repertório musical produzido a partir da reforma do Concílio Vaticano II, que representa grande conquista em busca da música ritual em ritmo e estilo brasileiros. O próprio Geraldo Leite, um dos autores das músicas do ODC, escreveu: “Nossa música é toda uma mistura de melancolia e esperança, de ritmos e saudades, de alegria e de dores, de África e de Brasil”. As composições não estão sujeitas aos modismos, pois são de grande qualidade melódica e textual, permanecendo válidas pela sua autenticidade. Portanto, a inculturação não representa limitação, mas enriquecimento mútuo, pois descobre na cultura local o que existe de mais precioso e valoroso.

6. Como a experiência inculturada da Liturgia das Horas pode colaborar na vivência espiritual do mistério de Cristo em nossas comunidades?

Penha: Com séculos de separação entre espiritualidade e liturgia é preciso aprender de novo a viver a liturgia como fonte de espiritualidade (cf. SC 14); é preciso aprender a participar, prestando atenção nas palavras ditas ou cantadas, nas palavras que acompanham as ações simbólicas; é preciso aprender de novo a guardar no coração o que recebemos de Deus na assembléia litúrgica para viver existencialmente em nosso cotidiano. Ao mesmo tempo vamos redescobrindo que a liturgia, para além da razão, vai misteriosamente moldando e transformando o coração das pessoas e a vida de comunidade.

Não tenho dúvida de que o ODC caminha nesta direção. Reproduzindo a Liturgia das Horas, valendo-se da linguagem do nosso universo simbólico, o ODC constitui uma experiência vital do mistério pascal, e desta maneira torna-se alimento da oração e da devoção pessoal conforme pedia a Constituição sobre a liturgia (Cf. SC 90) e como recomendou Paulo VI, na Constituição Apostólica Laudis Canticum: que a celebração do Oficio pudesse “adaptar-se, quanto possível, às necessidades de uma oração viva e pessoal” (cf. n. 8).

Fonte: Revista de Liturgia – 217 – Janeiro/Fevereiro de 2010, organizada e publicada pelo Pe. Renato, SJ, em seu blog Caminhos de Formação.

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Ofício Divino das Comunidades: a versão brasileira da Liturgia das Horas https://observatoriodaevangelizacao.com/oficio-divino-das-comunidades-a-versao-brasileira-da-liturgia-das-horas/ Mon, 26 Feb 2018 15:00:56 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27434 [Leia mais...]]]>

Todo gesto de amor é um ofício divino, mas como seres humanos temos necessidade de expressar em linguagem simbólica e ritual o que somos, cremos e fazemos. É uma oração preferencialmente comunitária, de louvor e intercessão que organiza de modo peculiar elementos comuns a toda celebração cristã, tais como: leituras bíblicas, salmos, hinos de meditação, orações, músicas e tempos de silêncio, gestos e símbolos, tudo isso em determinadas horas do dia, levando em conta a semana e o tempo litúrgico.

O ofício divino das comunidades cristãs tem sua origem nas comunidades judaicas que fazem suas orações cotidianas três vezes ao dia: de manhã, à tarde e ao meio dia. Por exemplo, de manhã, “antecipar-se ao sol para agradecer e adorar o Senhor” (Sb 16,28); de tarde, a ação de graças a Deus que transformou o caos primitivo e fez surgir a manhã depois de cada noite. Mas vem também da prática de Jesus que orava como judeu e que ensinou ser preciso vigiar e orar sempre com perseverança (Lc 18,1).

Nas primeiras comunidades cristãs (I século), os seguidores de Jesus colocaram os ensinamentos do mestre como ideal. Como encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos, eles às nove horas (hora terceira) (cf. Atos 2,1.15) faziam a oração da manhã; depois, às três horas (hora nona) (cf. Atos 3,1-2) faziam a oração da tarde; e, por fim, faziam também a vigília noturna, na comunidade de Jerusalém (cf. At 12,12,5.12), na prisão em Filipos (cf. At 16,25), em Trôade, a liturgia habitual do domingo (cf. At 20,7-11).

Nas comunidades cristãs do II século podemos testemunhar o apelo para o orar sem cessar: ao levantar-se, às nove horas, ao meio dia, às três da tarde, ao cair da tarde e à noite, em particular e também em comunidade, fazer uma oração de louvor a Deus e intercessão por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. At 3,16). A cada hora um sentido em memória da paixão e ressurreição de Jesus. Há gestos simbólicos: voltar-se para o oriente; mãos levantadas; lucernário.

Nas comunidades do IV século reconhecemos a prática de assembléias cotidianas, com o povo (crianças), especialmente de manhã e à tarde, com salmos, antífonas, hinos e orações… Associavam o mistério pascal à hora, tempo… Atuação de ministros… O rito do lucernário. Além disso, vigílias noturnas cotidianas e ocasionais (páscoa, natal, pentecostes, e do domingo).

Aos poucos a prática deixa de ser feita pelo povo e passa a ser feita, apenas, pelo clero, quase sempre de forma recitada, individual, sem a presença do povo e sem qualquer relação com as horas. Alguns fatores contribuíram criar uma barreira entre ofício divino e o povo. Primeiramente, a fixação da liturgia em latim; Em segundo lugar, uma sobrecarga de conteúdos, pela multiplicação de livros e ofícios. Em terceiro lugar, a recitação individual pelo clero sem povo e desligado da hora. Com o tempo, o povo entregou-se às devoções: o Ângelus, três vezes ao dia; o rosário, com 150 ave-Marias;  e o  ofício de Nossa Senhora com hinos da liturgia oficial. Mas a tradição de celebrar em comum foi preservada pelas comunidades monásticas.

Um pouco antes do Concílio Vaticano II, surgiu o movimento litúrgico consciente da necessidade de voltar às fontes da experiência cristã. Esse movimento fará a redescoberta da liturgia das horas. Como exemplo, merece destaque a experiência ecumênica concretizada pela Comunidade de Taizé que resgatou a prática das orações das horas com multidões.

O Concílio Ecumênico Vaticano II valorizará e oficializará, no documento Sacrosanctum Concilium, o resgate da liturgia das horas ou ofício divino. Assim, em 1971, acontece a publicação da primeira versão reformada da Liturgia das Horas e, logo depois, da Instrução Geral à Liturgia das Horas (IGLH), explicitando os princípios teológicos e pastorais.

Fica claro que o específico do Ofício Divino = Liturgia das Horas é fazer memória da páscoa nas horas do dia especialmente manhã, tarde e noite. Nas horas do relógio recordamos as horas de Deus na vida de Jesus e em nossa vida. A interrupção do trabalho pela oração, regularmente, é salutar, liberta o tempo, para que não seja preenchido apenas com o trabalho Somos lembrados/as pelas horas que todo o tempo pertence a Deus. Voltando nossa atenção ao mistério de cada hora, associada às horas de Jesus, permitimos que a vida se ordene segundo os passos de Jesus:

  • De tarde, com o sol poente, fazemos memória da Páscoa de Cristo na ceia e na cruz. Ofício de Ação de graças. Rendemos graças pelas vitórias conquistadas e intercedemos pelas necessidades do mundo.
  • De manhã, com o sol nascente, fazemos memória de Jesus Cristo em sua ressurreição. Ofício de Louvor. Dirigimos a Deus nossa prece de louvor pela luz do novo dia… Renovamos nossa adesão ao Cristo assumindo nossas responsabilidades na preservação do mundo.

O Ofício divino, como todas as ações litúrgicas da Igreja, é memória da Páscoa de Cristo e da páscoa do povo. Ao fazer memória participamos “da mesma piedade do unigênito do Pai, daquela oração que ele dirigiu durante a sua vida terrena e que agora continua, sem interrupção, em toda Igreja e em cada um de seus membros, em nome e pela salvação da humanidade” (IGLH 7).

O Ofício Divino é oração do Povo de Deus: de toda comunidade cristã (cf. IGLH 270). Não é algo reservado aos clérigos e monges, mas pertence a cada comunidade, ou um pequeno grupo, ou mesmo uma pessoa, o faz como Igreja, em nome de Jesus, pela humanidade (IGLH 7). É fonte de piedade e alimento da oração pessoal (cf. SC 90 e 14)

A Reforma da Igreja promovida pelo Concílio Vaticano II tem dimensões teológica, pastoral e espiritual. Suscita, portanto, uma reorganização dos diversos elementos que compõem o rito, que tem como finalidade levar o povo de Deus a participar do mistério pascal de Cristo, nas horas do dia. A Sacrosactum Concilium fala de uma participação: ativa; interna e externa; consciente; plena e frutuosa.

A Sacrosanctum Concilium deixa claro que a Igreja não deseja e nem pretende impor uma forma rígida e única de liturgia (cf. SC 37-40) devido a necessidade da inculturação. Aplicando este princípio ao Ofício Divino: foi elaborado na Igreja da América Latina o Ofício Divino das Comunidades levando em conta três referências:

  1. A TRADIÇÃO DA IGREJA, de celebrar em determinadas horas, uma oração de louvor e intercessão, com salmos, leituras bíblicas, hinos e orações.
  2. A REALIDADE DA AMÉRICA LATINA que, sobretudo a partir de Medellín, forjou um novo jeito de ser Igreja pelas Comunidades Eclesiais de Base, ligando de forma inseparável liturgia e vida.
  3. A PIEDADE POPULAR, buscando realizar a “mútua fecundação” entre liturgia e piedade do povo, correspondendo “aos anseios de oração e de vida cristã”.

O ponto de partida para a elaboração do Ofício Divino das Comunidades foi a experiência da Comunidade de Ponte dos Carvalhos em Pernambuco, por iniciativa de um padre diocesano, Geraldo Leite, compositor, artista e, acima de tudo, pastor.

Fonte:

Rede Celebra

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A quaresma como itinerário pascal https://observatoriodaevangelizacao.com/a-quaresma-como-itinerario-pascal/ Mon, 26 Feb 2018 10:00:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27444 [Leia mais...]]]> Ano Litúrgico: itinerário pedagógico da fé

Uma das atribuições da Igreja é fazer com que seus fiéis se aproximem da graça salvadora de Cristo. Os fiéis fazem isso toda semana, no Domingo, justamente denominado Dia do Senhor, celebrando a ressurreição de Cristo, também de maneira mais especial no período do Tríduo Pascal. Logo, quem participa das ações litúrgicas, entra em contato com a riqueza das virtudes e méritos de Jesus Cristo, por isso o mistério de Cristo anunciado e vivido ao longo de um ano possibilita a quem crê a plenitude da graça da salvação.

Toda ação de Cristo operando em prol de sua comunidade de fé, orante e reunida em assembleia, ocasião em que toma contato com a pregação, a vivência e o anúncio do Reino de Deus feito por Jesus, é um itinerário pedagógico, o qual chamamos de Ano Litúrgico.

O Ano Litúrgico, vivido como sinal sacramental da atuação do Cristo que se mostra com toda a sua força atuante, alimenta a piedade dos fiéis. Ele possui força sacramental, segundo o dizer do papa Paulo VI. É em torno desse mistério da nossa fé que também aguardamos a feliz vinda do Cristo, no reino futuro. Enquanto ele não vem, nós o aguardamos nas nossas ações do cotidiano, também celebrando o mistério pascal nas nossas liturgias. Portanto, podemos dizer que no Ano Litúrgico vivemos o sacramento da espera, unindo nosso cotidiano na oferta do próprio Cristo, até que um dia, por Cristo, com Cristo e em Cristo, Deus venha a ser tudo em todos.

Nesse sentido, os ritos contemplados na ação litúrgica nos dão a possibilidade de vivermos o mistério pascal, não como estranhos ou simples expectadores, mas como participantes conscientes, piedosos e ativos. É esta a natureza frutificadora da ação litúrgica, ela tem a preocupação de colocar o ser humano em relação com o mistério pascal da morte e da ressurreição de Cristo, em quase todas as ocasiões da vida, pois do mistério pascal derivam a graça e força pelas quais se santificam os fiéis bem dispostos, diz a Sacrosanctum Concilium.

Mas, não basta apenas isso. Para que a liturgia exerça realmente sua força de contato com o mistério pascal, é necessário que todos os que desejam manifestar o louvor a Deus e também se santificar, tenham possibilidade de participar ativa, plena, frutuosa e conscientemente.

 

A ação litúrgica é tornar célebre um acontecimento, perpetuando-o

Sempre que recordamos um acontecimento, nós o fazemos através de lembranças deste mesmo acontecimento. Por isso a celebração, que deriva da palavra ‘célebre’, é o meio eficaz de fazermos isso. Tudo feito por meio das ações simbólico-sacramentais, isto é, celebramos com ritos, preces, símbolos e ações gestuais para fazer memória do evento mistério pascal de Cristo, o acontecimento mais importante do cristianismo.

Todo domingo, na celebração eucarística, por força dos ritos e das preces, das orações e das louvações, nós tornamos célebres aqueles gestos de Jesus realizados na última ceia: sua entrega pascal, realizada de forma ritual na noite da quinta-feira santa e sua entrega sacrificial, seu corpo crucificado e morto na sexta-feira da paixão, além de contemplarmos o vazio no sábado da sepultura e comemorarmos a ressurreição, na madrugada do domingo. Repetindo os ritos, aprofundamos seu sentido, ou seja, aquilo que eles mesmos expressam, a nossa fé. Desta forma, a liturgia cristã, na qual fazemos memória pascal, passa por esse prisma, ela mesma representa esses fatos, de uma forma ritual, e, revivendo-os, fazendo memória, nós a tornamos viva e a qualificamos de forma perene.

 

A força pedagógica do período Quaresmal

O Ano Litúrgico nos oferece o tempo da Quaresma como uma oportunidade de fazer memória do nosso batismo, ocasião em que nós recordamos aquela graça, pela qual fomos inseridos um dia, mergulhando na água do Espírito, renascendo para uma vida nova.

Por sua força sacramental, o tempo quaresmal nos coloca em prontidão para a escuta da Palavra e a oração, elementos essenciais que devem ser vividos também ao longo de todo Ano Litúrgico, mas que a Igreja chama para uma atenção particular e mais atenta neste tempo. Então, a ação memorial do batismo, nós a realizamos escutando a Palavra, orando em comunidade e celebrando na mesa comum a memória pascal do próprio Cristo.

Nas comunidades primitivas era também ocasião em que os catecúmenos, aqueles que eram iniciados na fé, podiam ser preparados para receber o sacramento do batismo, um dos que fazem parte dos chamados ‘sacramentos da iniciação à vida cristã’. No período quaresmal, os catecúmenos viviam o tempo chamado de ‘purificação’ e ‘iluminação’, o que os consagrava a preparar-se mais intensamente o espírito e o coração, examinando suas consciências e com atitudes penitenciais para a vivência sacramental.

Na Quaresma, os fiéis já batizados, assim como os catecúmenos, se dispõem para a celebração do mistério pascal, a cada domingo, ao mesmo tempo, visualizando e tendo como meta a grande celebração do tríduo pascal.

O sentido próprio de cada celebração, se bem vivido, nos proporciona uma real adesão à fé, fazendo com que apreendamos aquilo que é essencial na Igreja, com sua força pedagógica. Cada gesto, cada ação ritual, comporta um sentido teológico, no qual deve ser aprofundado com conhecimento de causa, mediante a qualidade com que se é realizada e celebrada, até provocar no celebrante (todos nós somos os agentes da celebração, por isso somos todos celebrantes) uma atitude interior e espiritual, abrindo-se para o compromisso com a vida.

 

O sentido do itinerário pedagógico para a nossa vida

Se o itinerário pedagógico da fé pode ser vivido no tempo quaresmal, que, com seu sentido próprio, ao longo do Ano Litúrgico pode ser contemplado com uma atitude interior e espiritual, a Quaresma traz em seu bojo duas características que podem nos ajudar a bem vivermos esse tempo: o desejo de conversão e de mudança de vida, e a penitência, elementos principais contidos nas leituras bíblicas e no conjunto da ação litúrgica deste tempo.

Da consciência de nossa incapacidade de vivermos o projeto do Reino surge o desejo da conversão e da mudança interior, por isso um sinal externo nos é apontado como que sendo uma força que impulsiona a direção da mudança.

Na comunidade primitiva a conversão então é tida como um estado penitencial em que aqueles que estivessem aptos para o batismo se comprometiam a refletir sobre a consciência do pecado, tido como ofensa a Deus. Daí nascia o compromisso de não mais pecar, vivido por um estado de contínua conversão. De fato, a penitência só tem sentido se praticarmos as boas obras, tendo em vista o bem maior, seja para mim, seja para em função do próximo.

A Carta Preparatória para as Festas Pascais, de janeiro de 1988 explicita melhor o sentido da virtude e a prática da penitência, como “partes necessárias da preparação pascal: da conversão do coração deve brotar a prática externa da penitência, quer para os cristãos individualmente, quer para a comunidade inteira; prática penitencial que, embora adaptada às circunstâncias e condições próprias do nosso tempo, deve, porém, estar sempre impregnada do espírito evangélico de penitência e orientada para o bem dos irmãos e irmãs”.

A Igreja, da mesma forma que convoca cada um e cada uma a fazer penitência, ela mesma se coloca nesta ação, rezando e intercedendo por aqueles que ainda não aderiram a este processo de conversão, também convocando os seus para a prática da penitência e o retorno ao sacramento do perdão.

Segundo a Encíclica Dives in Misericórdia (Rico em Misericórdia), de João Paulo II, a Igreja também anuncia que Deus é todo misericordioso, e, aconselhando a consciência, baseando-se na Escritura, aponta sinais de melhorias, ou seja, o ser humano não é capaz de se salvar a si por sua própria capacidade, por isso ele precisa contar com Deus. A Igreja vê e dá testemunho da misericórdia de Deus, pelo Cristo anunciado no Evangelho ela encoraja o ser humano e o introduz no seio da misericórdia de Deus, professando-a em toda a sua verdade, apoiada na Revelação. Deus penetra no íntimo do coração do homem e da mulher para transformá-lo/a, assim como fez com o filho pródigo.

 

Tempo de caridade mais intensa e de renúncia dos desejos

Outro aspecto do tempo quaresmal é visibilizado pelo jejum e pela caridade, sinais externos mais recomendados pela Igreja, sobretudo se vividos por um período anterior de oração e por um período posterior de justiça (sentido de entrega a uma causa).

São Leão Magno, papa e doutor da Igreja do século V, fala de um agente externo que quer nos impulsiona ao pecado, fazendo-nos esquecer da fonte do perdão, o próprio mistério pascal, celebrado e vivido com mais intensidade por ocasião do tríduo pascal. Por isso também recomenda que ‘entremos na Quaresma com uma fidelidade maior ao serviço do Senhor’, nesse sentido, o jejum e a caridade são sinais externos para se vencer o mal, que cada vez mais quer se sobressair em nós.

No Brasil, a Campanha da Fraternidade, também vivido como um sinal externo de penitência, é um excelente auxilio para bem vivermos a Quaresma, diz a introdução do seu texto-base.

O Missal Romano diz que a Quaresma é um tempo de teste para nossa fidelidade na resposta ao plano de Deus. Pode acontecer que, depois de ter recebido o batismo, nós percamos essa confiança, por isso esse tempo é propício para renovar e reavivar em nossos corações as disposições com que, durante a Vigília Pascal, pronunciaremos de novo com as promessas do nosso batismo. As leituras que ouviremos durante esse tempo nos recordam que somos seres batismais.

 

Tempo de amar profundamente, raiz da nossa condição batismal

Enfim, viver a Quaresma é saborear o difícil itinerário da passagem da morte para a vida. Sabemos que passamos da morte à vida se amamos os irmãos, diz São João em sua primeira carta (1Jo 3,14).

Sobretudo, devemos lembrar que somos discípulos/as de Jesus, que superou o fracasso humano da cruz com um amor que vence a morte, e que, de nossa parte, o jejum e a caridade, traduzidos na solidariedade fraterna em favor do/a outro/a, do mundo, do planeta e do cosmos, nos colocam nesse mesmo patamar de Jesus, que, intensificando seu desejo de amar até o fim, passou pelo mal, vencendo-o.

Juntemos o nosso desejo ao de Jesus. Assim, como diz a regra de São Bento, com a alegria do Espírito Santo e cheios do desejo espiritual, esperemos a santa Páscoa.

21150474_1387684874661563_3377767955128008974_nEurivaldo Silva Ferreira: Mestre em Teologia pela PUC/SP, com concentração em Liturgia. Especialista em Liturgia, pelo IFITEG-GO. Formado em Teologia, pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC/SP. Membro da Rede Celebra de Animação Litúrgica.

 

Fonte:

http://caminhosdeformacao.blogspot.com.br/2016/02/a-quaresma-como-itinerario-pascal.html

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Uma palavra sobre Ofício Divino das Comunidades https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-palavra-sobre-oficio-divino-das-comunidades/ Sun, 25 Feb 2018 19:50:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27435 [Leia mais...]]]> Por Penha Carpanedo
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Penha Carpanedo, da CELEBRA – Rede de Animação Litúrgica, fala sobre o Ofício Divino das Comunidades

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs valorizam as celebrações como momentos de louvor a Deus em Jesus Cristo e no Espírito, no meio da caminhada da vida e das lutas. Dão testemunho de um louvor que nasce da pobreza e do sofrimento sem deixar de ser amoroso, bonito e cheio de esperança.

No esforço por uma liturgia fiel à tradição, mas com o rosto de nossas raças, têm reconhecido no Ofício Divino das Comunidades (ODC) importante referência de oração. De fato, o Ofício das Comunidades é uma herança que abraça a tradição antiga da Igreja e a espiritualidade latino-americana. É uma fonte onde beberam Jesus e as primeiras comunidades cristãs, e onde buscam água ainda hoje muitas pessoas que gostam de orar com salmos à luz da Páscoa de Jesus: as CEBs do campo e da cidade, as pastorais da juventude, o povo da rua, os círculos bíblicos, os grupos de novena do natal etc.

O Ofício Divino é uma celebração comunitária da fé, uma liturgia. Por meio dela continuamos a oração de Jesus ao Pai, fazendo memória da sua Páscoa nas horas do dia e nas horas da vida, intercedendo com ele, por toda a humanidade, e em comunhão com todos e todas que crêem.

Qualquer celebração comunitária precisa de um mínimo de estrutura. Em todas as religiões há ritos para expressar as suas crenças. No Ofício Divino das Comunidades a estrutura de cada celebração (ofício) é bem simples:

  • inicia-se com uma invocação de Deus através de versos de um salmo;
  • abre-se para a recordação da vida;
  • propõe-se o hino que explicita o sentido do mistério celebrado;
  • depois vem o salmo;
  • uma leitura bíblica, meditação e partilha;
  • cântico evangélico;
  • preces, Pai nosso e oração;
  • a bênção final.

Cada um destes elementos mudam de acordo com a hora do dia, o tempo litúrgico e as circunstâncias da vida.

1. O sentido de cada elemento do rito

A Chegada é o momento de preparação imediata que tem como finalidade criar o silêncio para a oração pessoal. Responde à necessidade de cada pessoa “reunir o coração” para que se possa constituir a assembléia em oração… Pode ajudar neste momento: iluminação reduzida, música ambiente, toques de atabaque que leve à concentração, um refrão contemplativo…

A Abertura é o começo do ofício com versos bíblicos de invocação de Deus, sem qualquer comentário. Expressa a gratuidade da oração e a iniciativa de Deus.

A Recordação da vida é o momento em que afirmamos a relação entre a celebração e a vida, entre a paixão e morte do Senhor e a paixão e morte do povo. Em toda a celebração, a vida está como que “latente”, mas na recordação da vida explicitamos mais claramente fatos de alcance e impacto nacional, situações e experiências trazidas pelos participantes, memória dos mártires que serão depois retomados no salmo, na meditação, nas preces.

O Hino é um canto diferente do salmo, cantos que nasceram da experiência da Igreja de ontem ou de hoje. Tem como finalidade expressar a oração da assembléia, a partir do mistério celebrado de acordo com a hora do dia e hora da vida.

O Salmo é um dos elementos centrais no Ofício Divino. São poemas, cânticos, preces… que acompanharam o povo de Deus a caminho da terra prometida e são ainda hoje muito importantes na espiritualidade judaica. Por um lado, eles são símbolos de tudo o que o ser humano carrega em seu coração: alegrias e sofrimentos, angústias e esperanças, docilidade e indignação, amor e ódio… Por outro lado, eles são símbolo que revelam o próprio Deus, atento ao grito dos pobres, pronto a manifestar seu amor e sua compaixão.

Os salmos foram a oração de Jesus, de Maria, das primeiras comunidades cristãs. Por isso, na tradição das Igrejas cristãs, um salmo é sempre rezado a partir de Jesus e da sua vitória pascal. Com essa chave, somos convidados a entrar na oração do salmo fazendo dele a nossa própria oração. Depois de cada salmo há um tempo de silêncio e de repetição de alguma palavra que nos tocou. Isso nos permite curtir e saborear a palavra de Deus e deixar que ela se torne a palavra da nossa oração.

Além dos salmos, escutamos uma leitura bíblica que pode ser dos evangelhos ou de outro livro do antigo ou do novo testamento. Em geral, as comunidades seguem as leituras indicadas na liturgia diária da missa. Se for evangelho é precedido por uma aclamação. Se for outra leitura é seguida de versos bíblicos de meditação. “Deve ser lida e ouvida como verdadeira proclamação da Palavra de Deus.” (IGLH n. 45).

Faz em parte do roteiro do ofício divino os três Cânticos Evangélicos, tirados do evangelho de Lucas:

  • No ofício da manhã, canta-se o Cântico de Zacarias ao raiar o sol; evoca a memória de Jesus o sol nascente;
  • À tarde, ao findar o dia, entoa-se o Cântico de Maria nos faz agradecer a Deus pela salvação;
  • À noite é a vez do Cântico de Simeão, que proclama a força da luz que brilha para todos os povos. É o ponto alto do ofício, por isso podemos dar ênfase a este momento: com passos de dança acompanhando o ritmo, com incenso…

Nas Preces unindo-nos à oração de Jesus, exercemos nossa vocação de povo sacerdotal, louvando, agradecendo e intercedendo pelas necessidades da humanidade e urgências do mundo.

O ofício termina com a invocação da bênção de Deus sobre a assembléia convidada a prolongar o louvor no ofício que deve continuar em todo o tempo e lugar, em cada gesto de amor e de serviço. Por fim, um refrão que funcione como “saideira”, prolongando a bênção.

2. Símbolos e ministérios

Sabemos o quanto o espaço bem arrumado e harmonioso é decisivo para o bom êxito de uma celebração. O espaço de celebração das CEBs é símbolo da sua identidade profética, expressão de uma Igreja povo de Deus, pobre e servidora do reino. Queremos cuidar para que nossos espaços sejam bonitos, ao mesmo tempo simples, refletindo a cultura local, bem coerente com a sua finalidade de abrigar uma assembléia de irmãos e irmãs para fazer memória da páscoa do Senhor.

Faz parte do espaço: a mesa para a santa ceia, a estante da Palavra, o suporte para a vela (menorá), a cruz, toalhas e o lugar da assembléia (de preferência em círculo). A mesa permanece no local, em todas as celebrações e não só quando há eucaristia. É um sinal permanente da entrega do Senhor.

Símbolos importantes no Ofício: o sol que nasce e se põe; o acendimento das velas especialmente no ofício de vigília do domingo e festas; a reunião da assembléia; elementos cósmicos (jarro com água, bacia com terra, sementes, flores, pedras…)

Uma palavra sobre os gestos.

  • Todos participam de pé, durante a abertura, o hino, o cântico evangélico, as preces, o Pai-nosso e a oração conclusiva (IGLH, n. 263).
  • Todos participam sentados na proclamação das leituras (exceto o Evangelho), dos salmos e demais cânticos com suas antífonas (IGLH, nn. 264-265).
  • Faz-se o sinal da cruz sobre os lábios no verso da abertura da manhã: “Estes lábios meus vem abrir Senhor”. O sinal da cruz sobre o corpo, acompanha o verso da abertura da tarde:  “Vem, ó Deus da vida…” e o início dos cânticos evangélicos.
  • Quem desempenha o ofício de leitor, proclamará em pé, do lugar apropriado, as leituras longas ou breves (IGLH,n. 259).

Os ministérios no ofício são a coordenação (uma ou mais pessoas), os leitores e os cantores. Quem coordena dá início ao ofício com o verso introdutório; introduz as preces (cf. IGLH n. 190) e a oração do Senhor; profere a oração conclusiva, a bênção e a saudação (cf. IGLH n. 256) e indica em cada caso a página do livro, quando for o caso. Cabe aos leitores cabe proclamar as leituras bíblicas e aos cantores entoar os refrões, salmos e demais cantos (cf. IGLH n. 260). Outros serviços: acender o círio no início; entrar com o estandarte, apresentar os fatos na recordação da vida etc.

Para aprofundar:

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CARPANEDO, Penha. Oficio Divino das Comunidades. Uma Introdução. São Paulo: Paulinas, 2015.

 

 

Fonte:

Rede Celebra

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Você conhece a “CELEBRA – Rede de Animação Litúrgica” das Comunidades? (3ª parte) https://observatoriodaevangelizacao.com/voce-conhece-a-celebra-rede-de-animacao-liturgica-das-comunidades-3a-parte/ Sun, 18 Feb 2018 10:00:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27349 [Leia mais...]]]>

bg-celebra4REAFIRMANDO NOSSA IDENTIDADE, VISLUMBRAMOS NOVOS CAMINHOS

29. À luz da Assembleia comemorativa dos 20 anos da Rede Celebra, ocorrida em julho de 2015, reafirmamos um estilo de vida simples que privilegia relações horizontais e leveza em sua configuração organizativa. Reafirmamos também, nossa disposição a serviço de uma liturgia memorial da páscoa que seja fonte de espiritualidade e que esteja enraizada na Bíblia e na vida. Desejamos cada vez mais que a Rede Celebra se situe como parte da Igreja segundo o modelo das Comunidades Eclesiais de Base, que tem como sujeitos os pobres da América Latina e do Caribe, uma “Igreja em saída”, segundo o papa Francisco, que interaja com os movimentos e pastorais eclesiais e sociais e que tenha diante de si as grandes causas da humanidade: “pensar globalmente e agir localmente”. [Esta frase marcou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED/Rio-92, com a Agenda 21.]

A contribuição específica da Rede Celebra é a liturgia, por isso, consideramos importante crescer na arte de celebrar, seja na comunidade, seja nas casas ou em outros espaços, e fazê-lo, também, ecumenicamente com outras Igrejas. Assim, buscamos cultivar o profetismo em comunhão com toda a Igreja, oportunizando o diálogo com bispos, presbíteros e diáconos, transitórios ou permanentes.

30. No que diz respeito à formação, priorizamos uma pedagogia que parte do rito para chegar à teologia e à espiritualidade, uma formação intelectual, interdisciplinar e afetiva em todos os níveis e modalidades. Nesse sentido, insistimos na importância da formação permanente dos membros da Rede, a começar pelos núcleos e regiões, valorizando o “Curso de Capacitação, Extensão e Especialização”, promovido pelo núcleo de Goiânia (GO). No âmbito nacional, nos empenhamos para garantir a continuidade do encontro de formação a cada ano, incluindo, a cada três anos, a Assembleia da Rede Celebra.

Comprometemo-nos a produzir um subsídio que reúna os princípios metodológicos da Rede Celebra e dê orientações práticas quanto a sua pedagogia. Além disso, a cooperar, onde atuamos, com o processo da catequese em estilo catecumenal, seja interagindo com as/os catequistas de iniciação cristã, seja contribuindo mediante as escolas de liturgia, destinadas a adultos, jovens e adolescentes, visando, sobretudo, a participação, e promovendo, também, a celebração do Ofício Divino da juventude e o de adolescentes e crianças.

31. Desde o início, a vida da Rede Celebra dependeu, antes de tudo, da articulação e da caminhada dos núcleos locais. Por isso, além da permanência de uma Equipe Nacional de Articulação e Apoio, nos moldes como tem funcionado nestes 20 anos de caminhada, não queremos multiplicar estruturas. Reconhecemos, no entanto, a necessidade de certa configuração jurídica, exigida pelo crescimento dos núcleos, a fim de viabilizar a organização financeira. Com relação à manutenção dos serviços (reuniões, infraestrutura dos encontros nacionais, assessorias de pessoas não pertencentes à Rede), definimos uma contribuição anual: pessoal, no valor de 3% do salário mínimo e, como núcleo, de acordo com as possibilidades (de preferência no mês de abril, para facilitar o planejamento).

 

ATIVIDADES PREVISTAS

32. Fazer contato com pessoas, grupos e comunidades que se identifiquem com a proposta da Rede CELEBRA. Essas aproximações devem se dar em âmbito local, regional e nacional.

33. Promover encontros onde se efetive a troca de experiências e a reflexão de acordo com a metodologia da Rede CELEBRA.

34. Dar especial atenção à preparação dos Intereclesiais de CEBs, nos níveis local, regional e nacional.

35. Produzir subsídios litúrgicos conforme as necessidades e eventuais solicitações.

36. Garantir a articulação em nível nacional através de uma equipe composta para esse fim.

37. Manter um boletim em nível nacional, como veículo de comunicação e de informações, para troca de experiências etc.

 

QUEM PARTICIPA OU COMO SE ENTRA NA REDE

38. Pode participar da Rede CELEBRA toda pessoa, grupo ou comunidade que se identifica com os pontos de partida e propostas apresentados acima. As relações pessoais devem prevalecer sobre as institucionais.

39. Para entrar, basta fazer contato com alguém da Rede e começar a participar dos núcleos no âmbito local e regional.

40. Cada participante contribuirá com uma taxa anual para manter o boletim nacional e colaborar nos gastos com outras atividades.

 

ANEXO 1

Carta dos participantes da assembleia comemorativa dos 10 anos

“Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é quem vem!

É Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!”

Aos nossos núcleos da Rede CELEBRA espalhados pelo Brasil e às pessoas e grupos em comunhão conosco.

Reunidos(as) em Hidrolândia (GO), nos dias 1º a 4 de dezembro de 2005, vindos dos estados: DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SP, TO, somando 66 participantes para a assembleia comemorativa dos 10 anos da Rede – Memória, Identidade, Compromisso –, temos a alegria de partilhar com vocês um pouco do que refletimos, vivenciamos e propomos.

Nesses dias, fizemos memória a partir da realidade dos núcleos, revelada nas respostas aos questionários, e ficamos encantados(as) ao perceber que a maioria deles se encontra regularmente para celebrar, partilhar a vida e as experiências, bem como para estudar e animar a vida litúrgica das comunidades. O espírito da Rede está se alastrando e iluminando a caminhada dos pobres em busca de libertação.

O Ofício Divino das Comunidades, um jeito de celebrar comunitário, orante, profético, inculturado, ligando liturgia e vida, marca a identidade da Rede e nos dá força e ânimo em meio aos desafios sociais, políticos, econômicos e eclesiais que se apresentam.

Celebramos a memória de Jesus procurando assumir suas atitudes no compromisso com a transformação pascal da realidade, resgatando a dignidade do ser humano como filho e filha de Deus que é, e, ao mesmo tempo, promovendo um mutirão na construção do Brasil que queremos, a partir da relação fraterna e comunitária entre as pessoas e culturas, superando a desigualdade social e respeitando as diversidades.

Reafirmamos, durante a assembleia, que a “CELEBRA é uma rede formada por pessoas, grupos e comunidades, aberta a diálogo ecumênico, comprometida com uma liturgia cristã, fonte de espiritualidade, inculturada na caminhada, solidária com os pobres” (Carta de Princípios, nº 07).

A CELEBRA tem como prioridade para os próximos anos a Formação (em nível nacional e local), considerando a realidade e necessidade de cada núcleo. Também comunicamos com alegria que a Equipe de Articulação eleita pela assembleia, para os três anos seguintes, é composta por:

  • Maria de Lourdes Zavarez;
  • Laudimiro de Jesus (Mirim);
  • Marcelino Sivinski.

No caminho percorrido nestes dez anos da Rede CELEBRA, temos a certeza de que é preciso continuar tecendo uma liturgia ministerial e missionária que testemunhe e celebre a presença do Mistério Pascal nas comunidades, como ensina Concílio Vaticano II.

Com muito axé, aguardamos a manifestação do Deus conosco que muda o chão duro de nossas vidas em água pura.

Hidrolândia/GO, 04 de dezembro de 2005.

Participantes da Assembleia Comemorativa dos 10 anos da Celebra, Rede de Animação Litúrgica.

 

ANEXO 2

Carta participantes da assembleia comemorativa dos 20 anos

Aos irmãos e irmãs de nossos núcleos da Rede Celebra espalhados pelo Brasil e às pessoas e grupos em comunhão conosco.

Reunidos(as) em Brasília (DF), nos dias 22 a 26 de julho de 2015, vindos dos estados de AM, BA, DF, CE, ES, GO, MA, MG, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RS, SC, SP, somando 92 participantes para a Assembleia Comemorativa dos 20 anos da Rede Celebra – Releitura da Carta de Princípios no atual contexto sócio-cultural-eclesial, aprofundando e ressignificando os traços da identidade da Rede, como serviço à formação litúrgica -, temos a alegria de partilhar com vocês um pouco do que refletimos, vivenciamos, reafirmamos e vislumbramos para o futuro.

Nestes dias, retomamos a caminhada dos núcleos, revelada nas respostas aos questionários enviados. Que riqueza! Encanta-nos constatar que, mesmo diante das dificuldades, tais núcleos continuam se encontrando para partilhar a vida, estudar e animar a liturgia das comunidades. Fizemos memória dos 20 anos de caminhada da Rede Celebra: o processo de surgimento, o encontro de fundação, os encontros anuais, a organização dos núcleos, a herança recebida das Comunidades Eclesiais e dos Intereclesiais, o protagonismo das mulheres, as publicações, as escolas de liturgia para juventude, o aperfeiçoamento, a metodologia e pedagogia, as intuições sobre a música litúrgica… Procuramos compreender, também, a atual conjuntura eclesial e social. Retomamos e aprofundamos o significado de REDE, de ANIMAÇÃO, de LITURGIA, elementos que constituem a nossa identidade. Reafirmamos a importância do Ofício Divino das Comunidades, versão inculturada da oração da Igreja, com jeito orante e profético, ligando liturgia e vida.

Passados 10 anos desde a última revisão da Carta de Princípios (Hidrolândia (GO), dezembro de 2005), encaminhamos uma revisão da mesma; recolhemos as contribuições vindas dos núcleos e, a partir delas, deliberamos sobre as adaptações e complementações, procurando levar em conta a nova realidade social e eclesial, particularmente marcada pelas atitudes e provocações do Papa Francisco. Reassumimos compromissos anteriores e vislumbramos novos, referentes à identidade da Rede, sua estrutura e o processo de formação.

Agradecemos à Equipe de articulação dos últimos três anos:

  • Étel Teixeira de Jesus;
  • Sued Henrique de Carvalho Vasques;
  • Maria do Carmo de Oliveira;
  • Maria de Lourdes Zavarez.

Destacamos a presença e a dedicação de Maria de Lourdes Zavarez e Maria do Carmo de Oliveira à frente desse serviço nestes 20 anos. Também comunicamos, com alegria, que a Equipe de Articulação eleita pela assembleia para os três anos 2015-2018 é composta por

  • Ivani Brito;
  • Alberto Reani;
  • Danilo Alves.

Queremos, enfim, agradecer a presença de Dom Edmar Peron, bispo de Paranaguá (PR), membro da Rede CELEBRA, e de Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, por celebrar conosco a Eucaristia e por suas palavras de incentivo à caminhada da Rede e ao seu compromisso com a formação litúrgica em nossas comunidades.

Brasília (DF), 26 de julho de 2015.

Participantes da Assembleia Comemorativa dos 20 anos da Celebra – Rede de Animação Litúrgica

Contato:

www.rececelebra.com.br

celebranacional@gmail.com

 

(Os grifos são nossos)

Fonte:

www.redecelebra.com.br

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