quaresma – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 25 Mar 2022 12:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 quaresma – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Reflexões sobre a Educação no contexto da CF 2022 https://observatoriodaevangelizacao.com/reflexoes-sobre-a-educacao-no-contexto-da-cf-2022/ Fri, 25 Mar 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44530 [Leia mais...]]]> Em 2022, a Igreja Católica no Brasil, por meio da CNBB, promove a Campanha da Fraternidade, um dos maiores projetos de evangelização, que, pela terceira vez, envolve a temática da Educação: 1982, 1998 e agora 2022. Isso revela a importância da Educação na vida humana. Diante do tema Fraternidade e Educação, profundamente enraizado na nossa realidade, faz-se necessário refletir o que representa a Educação no contexto brasileiro e como ela está sendo tratada. A CNBB escolhe temáticas urgentes que precisam ser refletidas e transformadas pela sociedade e suas instituições políticas.

 O discurso sobre a necessidade de se valorizar a Educação é corrente em várias instâncias da sociedade, principalmente em campanhas eleitorais. Se reconhece que a Educação é um instrumento fundamental para a transformação da sociedade. A importância da Educação se acentuou, isto é, o reconhecimento da sociedade se tronou mais nítido, no momento em que o mundo se encontrou diante da pandemia da covid-19. Muitas crianças e jovens interromperam a sua ida presencial a escola, passando a entrar no regime das aulas remotas. Com isso, se agravou problemas existentes, tais como a falta de infraestrutura nos domicílios que possibilite um aprendizado, a escassez de recursos tecnológicos e a dificuldade no acesso à internet e a sinais de televisão (para aqueles que assistiam às aulas remotas). Com a pandemia, também se observou problemas familiares, sendo alguns novos, como a convivência em tempo integral do grupo familiar dentro de casa, aumentando o estresse e não permitindo os momentos de lazer que muitas crianças e jovens tinham fora de casa. Também os problemas velhos que eram ignoradas, como a violência doméstica que se agravou mais ainda no momento de isolamento sanitário.

Em vários discursos, a escola foi citada como um serviço essencial que não poderia parar, pois a mesma é responsável pelo processo de socialização e a formação das crianças e dos jovens. Diante de grande comoção e reconhecimento se esperava uma nova postura governamental, nas suas várias esferas (municipal, estadual e federal) visando maiores recursos, investimentos, reconhecimento salarial e capacitação humana. É notório que houve exemplos nesse sentido, mas são casos pontuais em relação à realidade brasileira, pois houve graves cortes de recursos na Educação e de fomentos em pesquisas científicas.

Além do aspecto institucional, da realidade da sociedade brasileira, especialmente das crianças, adolescentes e jovens, a Educação deve ser pensada a partir dos seus profissionais: professoras e professores, pedagogas e pedagogos, assistentes de serviços básicos,  secretárias e secretários, direção, ou seja, todo o corpo docente e técnico que ajuda a pensar, dinamizar, cuidar e manter a instituição escolar. Pessoas fundamentais que, coletivamente, contribuem para o funcionamento da escola e para o processo de ensino-aprendizagem. Mas como são tratados pela sociedade, pelo poder público e pela comunidade escolar?

Na realidade prática, muitos pais, mães e outras pessoas responsáveis não aceitam e nem apoiam quando profissionais da Educação reivindicam melhores condições de trabalho e salário. É preciso indagar: que tipo de Educação esperam para suas filhas e filhos? Como interpretam o papel da escola? Várias podem ser as possibilidades de respostas, mas quais posturas podem ser esperadas daquelas pessoas que se posicionam como cristãs?

A situação concreta e o cotidiano de nossas escolas e as condições de trabalho dos profissionais da educação, geralmente, não são mostradas adequadamente pelos meios de comunicação social, não despertam o zelo do poder público responsável em cuidar e não são conhecidas, com profundidade, e acompanhadas pela sociedade brasileira.

A Campanha da Fraternidade de 2022, cujo tema é Fraternidade e Educação, tem um lema muito significativo e belo retirado do livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26). A Educação, mesmo diante de um projeto político que é caracterizado por muitos como de sucateamento, mostra que muitos profissionais, apesar dos pesares, continuam a ensinar com sabedoria, amor e dedicação. Todas as profissões dependem da Educação e, geralmente, é decisivo a qualidade da instituição escolar. É um serviço de entrega ao outro, tornando o ato de ensinar, assim como o amor, um verbo intransitivo, isto é, um lado se entrega sem esperar a resposta do outro. Mas, enquanto seres humanos, queremos que a nossa entrega seja reconhecida, que nossos estudantes aproveitem o que é ensinado e que o amor doado seja reconhecido e valorizado. Que seja uma valorização material coerente com as necessidades diárias dessas pessoas.

É importante que cristãs e cristãos, católicos ou não, sejam os primeiros a conhecer a realidade da Educação em nosso país, a refletir sobres seus desafios e urgências, a apoiar as lutas por uma educação de qualidade, refletida nos investimentos materiais e humanos, na infraestrutura, no salário e na valorização dos profissionais da Educação. Que esta Campanha da Fraternidade seja uma oportunidade singular de conversão ao Deus da vida e ao seu projeto salvífico que nos responsabiliza e a Jesus que veio para que todos tenham vida.

 

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Paulo Vinícius Faria Pereira
É teólogo católico leigo. Professor de Sociologia na rede pública de ensino. Mestrando em Ciências da Religião pela PUC Minas, possui bacharelado em Teologia e licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É licenciado em Pedagogia (Claretiano) e membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais.

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Sentidos da exposição das Dores de Maria em Santa Luzia https://observatoriodaevangelizacao.com/sentidos-da-exposicao-das-dores-de-maria-em-santa-luzia/ Thu, 24 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44518 [Leia mais...]]]>

O Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia está realizando neste mês de março de 2022, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a exposição “Entre vestes e costumes: A devoção luziense a Nossa Senhora das Dores”. Tratasse de uma atividade comemorativa do centenário da arquidiocese de Belo Horizonte, que oportuniza a toda comunidade, conhecer mais sobre o rico acervo de arte sacra barroca da Matriz de Santa Luzia e sobre a devoção centenária de Nossa Senhora das Dores na cidade e, principalmente, convida a meditarmos sobre as 7 dores de Nossa Senhora, refletidas nas inúmeras dores da humanidade no mundo contemporâneo.

A bela imagem de Nossa Senhora das Dores da Matriz de Santa Luzia foi confeccionada em madeira policromada no século XVIII por escultor desconhecido. É uma Santa de Roca, ou seja, possui cabeça, braços, mãos, pés articulados em uma armação de madeira no lugar do tronco e das pernas. Os seus atributos são: um resplendor de prata com 7 estrelas representando as dores de Maria, uma adaga de prata cravada ao peito representando a profecia de Simeão (Lc 2, 22-35), o lenço branco nas mãos representando as lágrimas de Maria, o véu sobre a cabeça representando a pureza e virgindade e o manto sobre os ombros, representando a sua realeza. (SANTUÁRIO ARQUIDIOCESANO DE SANTA LUZIA, 2021)[1].

    O conjunto dos referidos atributos não se limitam a uma pura e simples beleza ornamental estética. Os seus significados simbólicos são a grande riqueza ética da Igreja. É preciso lembrar que Maria foi uma judia pobre, nascida no difícil contexto da dominação do Império Romano sobre Israel. Além disso, Maria engravidou antes do casamento e por pouco não foi apedrejada em público como ordenava a Lei do seu povo. Posteriormente, já velha e viúva de José, Maria acompanha, de “mãos atadas”, o martírio e crucificação do seu filho primogênito, pelo exército romano. Uma mulher naquele contexto era considerada como propriedade do seu marido, assim como os objetos e os animais de criação. Imaginem a situação deplorável na qual Maria – uma mulher velha e viúva – ficou após a crucificação do seu filho primogênito. Miserere nobis!

A vida e a morte de Jesus tem um simbolismo muito forte. Trata-se de um homem judeu e pobre que rompeu com todas as notas distintivas do povo hebreu de sua época, quais sejam: Descendência (Gn 17.2-7); Terra (Gn 15.18-21; 17.8); Nação (Gn 12.2; 17.4); Proteção e bênção (Gn 12.3). Não obstante, Jesus, até onde sabemos, não deixou descendência, não foi senhor de terras e era considerado como um louco por peregrinar pelas estradas da Galileia descumprindo as Leis de Moisés. Como consequência, morreu jovem, aos 33 anos de idade. E pior, morreu como um criminoso, entre dois ladrões, pelas mãos do exército de um outro povo. Miserere nobis!

É muito simbólico também que a exposição “Entre vestes e costumes: A devoção luziense a Nossa Senhora das Dores” esteja acontecendo na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro histórico de Santa Luzia. É uma igreja do século XVIII, construída pelos negros escravizados e que por décadas, entre os séculos XIX e XX, como nos conta Japhet Dolabella (1984, p. 207)[2], foi interditada pelo Arcebispo devido à compreensão preconceituosa de que o Congado é uma festa supersticiosa e pagã. Felizmente, com a Graça de Deus, neste Centenário da Arquidiocese de Belo Horizonte, o entendimento sobre o Congado é outro. A Igreja tem acolhido as dores dos povos negros porque esta é a postura coerente com a vida de Jesus, relatada nos Evangelhos e ensinada pelo magistério da Igreja desde os primeiros séculos.

Ademais, as 7 dores de Maria nos fazem refletir as dores das mães brasileiras nesse país que violenta e mata a sua juventude negra, os transexuais, as mulheres, os povos indígenas e agora, no contexto da sindemia da Covid-19, mata por negligências do governo frente à obrigação constitucional de assegurar ao povo brasileiro o direito à saúde pública e de qualidade. Miserere, Miserere, Miserere nobis!

Mas não fiquemos temerosos, após a sexta-feira da paixão, sempre insurge o Domingo de Páscoa. Trocaremos as roupas roxas de Nossa Senhora das Dores pelas vestes brancas. Jesus há de ressuscitar e o reino de Deus há de se cumprir neste mundo e no outro. A nossa esperança é escatológica, porque Deus é Deus conosco e junto a nós, com a nossa luta de cada dia, dispensará os poderosos e opressores e exaltará os humildes.


[1] In: https://www.youtube.com/watch?v=ILIRh-ZB4Xs Acesso em: 24/03/2022.

[2] DOLABELLA, Japhet. Santa Luzia nasceu do rio… Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1984.

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Glaucon Durães da Silva Santos
É católico leigo da paróquia Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, Santa Luzia/MG, doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas, professor de Sociologia, membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais e colaborador jovem do Observatório da Evangelização da PUC Minas. Desenvolve pesquisa nas áreas da Sociologia da Religião e da Sociologia Política
Atualmente é representante da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte (Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia) no Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Santa Luzia.

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Quaresma e Guerra https://observatoriodaevangelizacao.com/quaresma-e-guerra/ Mon, 21 Mar 2022 22:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44454 [Leia mais...]]]> Com sensibilidade humana e pastoral, o Arcebispo de Uberaba nos leva a refletir sobre o drama da guerra e as exigências de conversão quaresmal. O apelo de um pastor para que a humanidade levante os olhos, acorde para a realidade e compreenda a insensatez das guerras, muitas delas por motivações religiosas. Confira, vale a pena! E deixe-se tomar pela fraternidade e compaixão que brotam do sincero encontro com Deus.

Parece ser um contrassenso o que acontece nestas duas realidades: a Quaresma reflete sobre a fraternidade, espiritualidade, conversão, mudança de vida; a guerra revela a insensibilidade do ser humano ao provocar um cenário de destruição e desumanidade. Está visível esta realidade nesse confronto entre a Rússia e a Ucrânia. Os autoritários não medem as consequências de uma guerra.

A humanidade passa por momentos ímpares de destruição. A pandemia mexeu com todo mundo, seja rico ou pobre. O cenário da ecologia integral está em baixa e revela um descontrole da natureza, ocasionando desastres letais em vários espaços geográficos, com enchentes, deslizamento de terra, destruição de pontes. Queremos entender que alguma coisa precisa ser mudada e recuperada.

Está na hora da humanidade levantar os olhos para o céu, como fez Abrão diante da proposta e do convite de Deus (cf. 15,5-6). Esse é o caminho indicado pelos quarenta dias de reflexão na Quaresma, como tempo de restauração das motivações para defesa da vida e superação do que fere a dignidade das pessoas. Não pode ser um caminho de guerra, de insanidade e de autodestruição.

A proposta de Jesus tem o envolvimento da cruz, e muitos são inimigos da cruz. A tendência moderna é de descarte de tudo que exige sacrifício, mas acaba provocando consequências de sofrimento e perdição. Nas guerras, as autoridades não conseguem sacrificar os próprios interesses, sejam econômicos, políticos e religiosos. É inconcebível que a maioria das guerras tem motivação religiosa.

Não é louvável ter prazer somente em relação às coisas terrenas, aos interesses egoístas e escusos, desviando a atenção para o sobrenatural. Na maioria das vezes, isto acontece numa guerra, onde as decisões são recheadas de competição, destruição e morte. Falta sensibilidade para o divino presente no mundo, na natureza e, de modo especial, na pessoa humana, principalmente inocente.

A compaixão é uma virtude que pode intermediar as duas realidades: quaresma e guerra. Quem arma guerras diz não eliminar vidas inocentes, mas não vive a compaixão, o reconhecer que todas as pessoas têm direito a vida, à sua história e a seus patrimônios. É triste ver tanques de guerra apavorando a população e ceifando vidas. A quaresma provoca a compaixão e a fraternidade.

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Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo da Arquidiocese de Uberaba e bispo referencial das CEBs e Pastoral da Criança do Regional Leste 2 da CNBB.

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Conversão: do moralismo à liberdade https://observatoriodaevangelizacao.com/conversao-do-moralismo-a-liberdade/ https://observatoriodaevangelizacao.com/conversao-do-moralismo-a-liberdade/#comments Sat, 12 Mar 2022 21:51:33 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44279 [Leia mais...]]]>

Alguns símbolos e palavras acabam perdendo seu sentido original e sendo cooptados por movimentos que lhes roubam o brilho, deixando sobre eles um ranço reacionário. As bandeiras e cores nacionais, por exemplo, frequentemente adquirem um sentido supremacista e xenófobo na ascensão dos fascismos (mesmo que com ares tropicais e futebolísticos, como é o caso brasileiro).

Nessa ordem, a palavra “conversão” não passou imune ao moralismo cristão. Soa-nos hoje como um enunciado de julgamento, mais do que uma possibilidade de libertação e de felicidade. O “convertido” é aquele que, ao repudiar seus comportamentos pregressos (em especial aqueles mais diretamente relacionados à dimensão do prazer) agora segue aos rígidos preceitos da cristandade, apresentada sempre em uma face austera, severa e, não poucas vezes, excludente.

Mas a verdade é que converter-se é uma necessidade humana e um movimento quase que espontâneo do amadurecimento ético e afetivo. Para além de qualquer moralismo, o exercício pessoal de autocrítica e reavaliação dos valores e atitudes que nos constituem, é um hábito não somente saudável, mas absolutamente imperativo para a realização pessoal. Um projeto de vida que não esteja aberto à conversão está fadado ao fracasso ou então, à inadequação atroz que os rígidos costumam experimentar diante da realidade mutável da vida.

Um projeto de vida que não esteja aberto à conversão está fadado ao fracasso ou então, à inadequação atroz que os rígidos costumam experimentar diante da realidade mutável da vida.

Frente aos desafios das nossas relações, dos limites do nosso temperamento e daquilo que não podemos mudar em nós e no outro, é preciso converter-se. Diante da crise ecológica, política e ética em que nossa sociedade se afunda, é preciso converter-se. Em oposição ao negacionismo, ao fundamentalismo e à desinformação intencional e perigosa que ameaça a integridade das consciências, é preciso converter-se.

Mas a crítica inicial a um cristianismo de preceitos não pretende fazer deste um texto de simples apologia de uma visão laica da conversão (embora esta seja também possível). Ao contrário, as tradições religiosas, quando bem vividas, podem nos oferecer caminhos valiosos para essa “mudança de rumo”. Afastando-nos de qualquer resquício negativo de uma religiosidade mais orientada por normas do que pela experiência iluminadora da fé, podemos encontrar nos ritos e orações seu sentido primeiro e mais profundo: um espaço frutífero para a transformação interior.

Na tradição judaico-cristã, o profeta Ezequiel coloca na boca de Deus a seguinte promessa: “Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez. 36, 26) A conversão, aqui, expressa-se como um dom de abertura à novidade e à humanização do coração, muitas vezes petrificado em preconceitos, rancores e concepções perversas de mundo e de ser humano, que nos prendem a uma cultura do descarte e da morte.

A conversão expressa-se como um dom de abertura à novidade e à humanização do coração, muitas vezes petrificado em preconceitos, rancores e concepções perversas de mundo e de ser humano.

Ter um coração de carne nos permite evitar o engessamento inflexível e, ao contrário, abrir-se à maleabilidade da vida em suas nuances e possibilidades diversas. Converter-se, então, deixa de ser uma formatação compulsória a um estilo pré-determinado de ser, para se tornar um exercício de liberdade interior que nos reposiciona diante do mundo, do outro, de nós mesmos e de Deus. O convertido, mais que “um homem novo”, é alguém aberto ao novo: livre, tolerante, compassivo e criativo, como só os grandes homens e mulheres conseguiram ser.

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Matheus Cedric Godinho
É professor de Filosofia e Ensino Religioso e autor e editor de material didático para Educação Básica nas mesmas áreas. Leigo católico, cofundador da Oficina de Nazaré e membro do Conselho Editorial da Revista de Pastoral da ANEC. Atualmente é estudante de Teologia na PUC Minas, onde também trabalha como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização.

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Agir: iniciar, promover processos https://observatoriodaevangelizacao.com/agir-iniciar-promover-processos/ Sat, 05 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44116 [Leia mais...]]]> A Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) segue os passos do método ver-julgar-agir em nova roupagem, explicitada pelo Papa Francisco como escutar, discernir, agir. Depois de tratar do eixo da escuta e do discernir, seguimos com dimensão do agir. A Campanha nos permite olhar para Jesus como quem inicia e promove a missão no mundo.

Iniciar, promover processos

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, nº 222, nos apresenta um princípio que ilumina o agir desta CF 2022: “O tempo é superior ao espaço”. Com este princípio ele nos aponta que iniciar é promover processos é mais fecundo e transformador que uma decisão pontual tomada de cima para baixo. “Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos […] é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. […] Trata-se de privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes. Sem ansiedade, mas com convicções claras e tenazes” (EG 222).

Neste sentido, retomando a iluminação bíblica, logo após a ressurreição, Jesus se encontra com os discípulos na Galileia, lugar em que tinha iniciado sua caminhada educativa com os discípulos (cf. Mt 28,16-20). A pedagogia de reconduzir os discípulos à Galileia é indicativa de iniciar um novo processo missionário. Os discípulos, com a força do Ressuscitado, são feitos continuadores da missão de Jesus. Isto não está isento de dificuldades, veja que, mesmo na presença de Jesus, alguns duvidam, têm medo… (Mt 28,17). No entanto, Jesus mantém a sua aposta nos discípulos, se aproxima e, com autoridade, lhes confia a missão de fazer novos discípulos, por meio do batismo, ou seja do ser e viver em comunidade e do colocar em prática, viver, o que Ele ensinou. E lhes garante que eles não estariam sozinhos nesta missão.

Os discípulos tiveram de se decidir missionariamente. Isto revela que seguir Jesus, não é apenas aprender algo bonito sobre Ele, seguimento implica recriar seu jeito de ser e de agir e decidir-se a formar novos missionários. A Campanha da Fraternidade nos convida a discernir os desafios da realidade educativa para encontrarmos propostas capazes de superar as dificuldades que enfraquecem a qualidade da educação em todos os âmbitos, como nos mostra o Texto Base desta CF 2022 (TB 141). Somos convocados pela Igreja a discernir o caminho para uma educação que nos conduza ao humanismo solidário. Recuperar o melhor do ser humano na busca da de viver a solidariedade em todos os campos de nossa vida (TB 142).

Família e escola, eixos do processo educativo

A família é o primeiro espaço para a formação de discípulos missionários. É o primeiro lugar da educação para a fé e da iniciação à vida cristã, na Igreja doméstica (LG, n. 11). O espaço familiar se estende para a comunidade eclesial que é “família de famílias”. “Assim, a convivência familiar se torna o lugar do maior aprendizado que toca o profundo do nosso ser: experimentamos a cruz de Cristo nas crises mais profundas em nossos lares, mas também a graça da sua redenção quando o amor de Cristo renova uma família através da reconciliação, do perdão e da vida eclesial” (TB 181).

Mas isso não dispensa a presença nas escolas: “Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente. O desenvolvimento afetivo e ético de uma pessoa requer uma experiência fundamental: crer que os próprios pais são dignos de confiança” (Amoris Laetitia, 24; TB 182). É na família que se projeta a virtude de perseverar nos bons propósitos em vista do cuidado das futuras gerações: “A promoção de uma autêntica e madura comunhão de pessoas na família torna-se a primeira e insubstituível escola de sociabilidade, exemplo e estímulo para as mais amplas relações comunitárias na mira do respeito, da justiça, do diálogo, do amor” (TB 185).

Não podemos esquecer que a educação é o caminho que nos permite amadurecer de forma integral, que nos humaniza e nos abre caminhos para a fraternidade universal. A Igreja compreende a educação como um direito universal, seja na infância, na juventude ou na vida adulta, afim de que a pessoa humana possa desenvolver suas capacidades e possa melhor colaborar para o bem da sociedade: “Ao direito inalienável a uma educação digna, corresponde, da parte da sociedade, uma obrigação, também fundamental, de propiciar os meios necessários para que tal direito democrático seja concretizado para todos”. Nesse sentido, “o Estado, administrador dos recursos que recebe da sociedade, deve providenciar, de modo equitativo, a distribuição dos meios que possam garantir o maior rendimento para a efetivação do direito de todos ao acesso à educação” (TB 187).

A família é a primeira responsável no processo educativo, mas não é a única “Uma educação para todos requer que todos – família, escola, sociedade – estejam pactuados para oferecer os melhores esforços para formar pessoas maduras e com responsabilidade na construção do bem comum.” (TB 190). E ainda, “as famílias constituem-se como sujeito fundamental da ação missionária da Igreja, lugar da iniciação à vida cristã” (TB 201).

Critérios para uma educação cristã

O Papa Francisco atualiza os critérios para uma educação autenticamente cristã por meio dos compromissos indicados no Pacto Educativo Global: 1º colocar no centro de cada processo educativo – formal e informal – a pessoa; 2º ouvir a voz das crianças, dos adolescentes e jovens; 3º favorecer a plena participação das meninas e dos jovens na instrução; 4º ver na família o primeiro e indispensável sujeito educador; 5º educar e educarmo-nos para o acolhimento; 6º empenhar-nos no estudo para encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, na perspectiva de uma ecologia integral; 7 º guardar e cultivar a nossa casa comum protegendo-a da exploração de seus recursos.

O Texto Base (nº 256 a 267) aponta uma serie de iniciativas que podem iluminar ou dar pistas para o agir concreto a partir desta CF 2022. Esta CF vem em boa hora, aponta muitas pistas, pede a colaboração e o empenho de cada um de nós, há muito a ser feito, mãos à obra, com muita sabedoria e amor.

Para aprofundamento: Qual o gesto concreto que vamos assumir a partir desta CF 2022?

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Denilson Mariano
É religioso missionário sacramentino, Mestre e Doutor em Teologia (FAJE), Licenciado em Filosofia (PUC Minas), presidente do Movimento Boa Nova (MOBON) e agente da formação de cristãos leigos e leigas.  É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), apoiador da Animação Bíblica da Pastoral no Regional Leste II da CNBB e membro da Equipe Executiva do Observatório da Evangelização. 

Faça download do texto base da Campanha da Fraternidade aqui!

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Discernir: Jesus mestre e educador https://observatoriodaevangelizacao.com/discernir-jesus-mestre-e-educador/ Fri, 04 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44106 [Leia mais...]]]> A Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) segue os passos do método ver-julgar-agir em nova roupagem, explicitada pelo Papa Francisco como escutar, discernir, agir. Depois de tratar do eixo da escuta, seguimos com dimensão do discernir. A Campanha nos permite olhar para Jesus como grande mestre e educador.

Um jeito novo de educar

No tempo de Jesus, a sinagoga era o lugar de escuta e de estudo das Escrituras Sagradas e de debater os problemas e desafios da comunidade judaica. Jesus ensinava nas sinagogas (cf. Lucas 4,14-30) e, no conjunto dos evangelhos, vemos como Jesus aproxima as Escrituras da realidade da vida. O povo percebia que suas palavras não eram vazias (simples retórica), mas ensinava com autoridade, não como os doutores da lei (Mt 7,29).

O conteúdo do ensinamento de Jesus é profundamente comprometido com a vida e o futuro de seu povo. Ele escolhe no livro de Isaías o texto em que o profeta assume a missão de libertar os pobres, os presos, os oprimidos, de abrir os olhos dos cegos e anunciar o ano da remissão, em que as dívidas eram perdoadas e era dada uma nova oportunidade de refazer a vida com dignidade. Jesus assume esta missão e a atualiza em sua vida: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura” (Lc 4,21). Jesus coloca a palavra em ação, traduz a Escritura em atos e atitudes a favor da vida e dos mais vulneráveis, daí vem sua autoridade, como nos apresenta o Texto Base da CF 2022 (TB 149).

Jesus é um “mestre” que se coloca a serviço da vida do povo, um educador que abre os olhos, que leva a pensar de maneira crítica, relendo os acontecimentos, com novos olhos, sempre com misericórdia (TB 151). Jesus usa a Escritura como luz para discernir a falta de fé do povo de seu tempo. É o que ele deixa claro ao retomar a ação de Deus a favor da viúva estrangeira no tempo de Elias e a favor da cura do leproso, também estrangeiro, no tempo de Eliseu. Com visão clara, Jesus denuncia a falta de fé do povo da sinagoga de Nazaré. E mesmo com um ensinamento correto, fiel às Escrituras e de olhos abertos aos acontecimentos da história, Jesus foi rejeitado, expulso da cidade e ameaçado de morte, pelos seus irmãos de fé.

Porém, animado pelo Espírito, Jesus não perdeu o rumo ou a direção de seu projeto educativo-libertador: “passando no meio deles, continuou o seu caminho” (Lc 4,30). O conjunto dos Evangelhos nos revela que a pedagogia de Jesus liberta as diversas categorias de cativos: os pecadores (Lc 15,7-10), os cobradores de impostos (Lc 15,1-2; 19,7), os que são economicamente oprimidos (Lc 16,19-31), os possuídos pelos demônios (Lc 11,14), os doentes (Lc 13,10-17), os samaritanos (Lc 17,11-19) e os gentios (Lc 13,28-20)…

Educar um processo contínuo

A CF 2022 nos aponta a necessidade de um “modelo de educação que priorize o encorajamento ao aprendizado e à construção de conhecimentos significativos, que permitam a todos os atores do processo educativo abrirem-se à aprendizagem como tarefa que nos acompanha pela vida afora” (TB 112). Uma educação que não apenas garanta o acesso à escola, ao colégio, à faculdade, mas que esteja alinhada com a garantia de melhores condições de vida, pois sem a devida preparação para o exercício de uma profissão, cresce ainda mais o muro de separação entre ricos e pobres (TB 113). É preciso que o processo ensino-aprendizagem não seja apenas eficiente, mas que seja eficaz, de olhos abertos para a realidade unindo teoria e prática (TB 116). 

A pandemia também escancarou uma realidade de exclusão social quanto ao acesso às ferramentas digitais. As aulas podiam ser acompanhadas por meio de computadores, tablets e celulares, porém muitos não tinham acesso a essas ferramentas e outros, mesmo tendo os aparelhos, não tinham acesso à rede de internet com capacidade para participar das aulas. Importa lembrar que “as tecnologias podem muito, mas não podem tudo.” Quando ofertadas de maneira desigual, reforçam a exclusão que se espera superar (TB 118).

A valorização dos trabalhadores na educação é outro desafio a ser levado a serio. A polarização de opiniões se acirrou, aumentou a intolerância e desinibiu os violentos. Como resultado, há casos de agressões, abusos e violência dentro e fora da escola (TB 120). Somos chamados a trabalhar por uma educação que promova a vida em primeiro lugar, que resgate a dignidade da pessoa humana e eduque para a fraternidade e solidariedade, que valorize, em todos os sentidos os profissionais da educação. Onde também a escola se converta em uma comunidade sempre aberta a aprender. 

Abrir-se à acolhida

Educar e educar-nos para acolher, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados. Num mundo globalizado, a igualdade geral não foi alcançada, mas se acentuaram muitas formas de desequilíbrios sociais, econômicos e culturais. Ao lado dos cidadãos que obtêm os meios apropriados para o desenvolvimento pessoal e familiar, muitos são “não cidadãos”, “semi-cidadãos” ou “sobras urbanas”, excluídos (cf. Evangelii Gaudium, n. 74).

A educação deve, portanto, ajudar a viver o valor do respeito, deve ensinar “o amor capaz de aceitar todas as diferenças, a prioridade da dignidade de cada ser humano em relação a qualquer uma de suas ideias, sentimentos, práticas” (Fratelli Tutti 191). Jesus Cristo é o modelo maior de mestre e educador e nossa missão é sermos discípulos missionários educadores, continuadores de sua missão no mundo (TB 155). Neste sentido é muito feliz o refrão do hino da CF 2022: E quem fala com sabedoria, é aquele que ensina com amor. Sua vida em total maestria, é pra nós luz, caminho, vigor”.

A educação é um caminho para o exercício da caridade cristã, a serviço de uma sociedade mais fraterna e justa (TB 156). E, é na vivência comunitária, na construção de relações fraternas, na qual vamos nos educando, nos humanizando, na medida em que procuramos colocar em prática o que Jesus viveu e ensinou. Somos chamados a formar a pessoa humana em todas as suas dimensões, criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), nossa missão é colaborar para que as pessoas sejam um retrato vivo de Deus na atualidade. E isto devemos começar a partir de nós mesmos e das pessoas que convivem conosco, cultivemos em nosso ser e agir o falar com sabedoria e ensinar com amor (cf. Pr 31,26).

Para aprofundamento: Nosso modo de ser, de agir e educar estão, cada vez, mais próximos ou distantes do jeito de Jesus? Por quê? Em que precisamos melhorar?

/*! elementor – v3.5.6 – 28-02-2022 */
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Denilson Mariano
É religioso missionário sacramentino, Mestre e Doutor em Teologia (FAJE), Licenciado em Filosofia (PUC Minas), presidente do Movimento Boa Nova (MOBON) e agente da formação de cristãos leigos e leigas.  É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), apoiador da Animação Bíblica da Pastoral no Regional Leste II da CNBB e membro da Equipe Executiva do Observatório da Evangelização. 

Faça download do texto base da Campanha da Fraternidade aqui!

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Escutar: antes de ensinar, aprender https://observatoriodaevangelizacao.com/escutar-antes-de-ensinar-aprender/ Thu, 03 Mar 2022 22:05:55 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44098 [Leia mais...]]]> A Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) segue os passos do método ver-julgar-agir em nova roupagem, explicitada pelo Papa Francisco como escutar, discernir, agir. A Campanha  apresenta uma grande sintonia com o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco para todo o mundo. Traz em seu eixo uma educação que coloque a pessoa no centro, que gere compromisso comunitário, que seja comprometida com o Diálogo e a Paz, que promova uma Economia Solidária e seja comprometida com a Ecologia Integral. Em um conjunto que procura desenvolver os três passos citados acima, abaixo o primeiro deles: escutar.

Escutar é mais que ouvir

O texto chave que conduz a reflexão desta CF 2022 é João 8,1-11, o exercício da misericórdia, trabalhada com amor e sabedoria, que recupera a pessoa para além de sua culpa. Nele, é interessante perceber que depois de ter ido ao monte das Oliveiras, provavelmente para rezar e escutar o Pai, Jesus desce para o Templo de Jerusalém, lugar de peregrinações, de estudo Palavra e de culto a Deus. Jesus, antes de ensinar, escuta o Pai, aprende com Ele, por isso tem outro olhar sobre os fatos e acontecimentos. Escutar é mais que ouvir, é o ponto de partida para acolher, compreender e transformar a realidade como nos apresenta o Texto Base da CF 2022 (TB n. 26).

Os doutores da Lei trouxeram uma mulher “pega em adultério” e, com as mãos cheias de pedras, colocaram Jesus à prova. Porém, os doutores faziam uma leitura distorcida da Lei. Segundo as Escrituras, ambos os envolvidos no adultério, o homem e a mulher, deviam ser punidos (cf. Dt 22,22; Lv 20,10). Se Jesus fosse favorável à mulher, seria acusado de violar a Lei de Moisés. Se fosse favorável à Lei, confirmaria as atitudes preconceituosa e distorcida dos doutores da Lei. A Lei que deveria ser uma pedagoga, uma educadora, estava sendo desviada do seu sentido maior: a escuta de Deus.

Diante do acontecimento, Jesus se abaixa, à semelhança dos escribas que curvavam diante dos textos sagrados (TB 13) e começa a escrever no chão, como que perguntando: “O que de fato está escrito na Lei?” e, ao mesmo tempo escreve um ensinamento novo que coloca a vida acima da Lei. E como que aprendendo com aquela situação exclama: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra.” (Jo 8,7b). A escuta de Deus nos desarma e nos abre para a misericórdia que recupera a dignidade e a vida.

Depois Jesus abre um diálogo educativo com a mulher: “ninguém te condenou?”. Com isso dá a ela o direito de se expressar em público: “ninguém Senhor”. Depois vem o perdão que permite a reparação do erro “Eu também não te condeno” e enfim a misericórdia cria condições para um novo começo: “Vai e não peques mais” (Jo 8,11).

Educar é mais aprender que ensinar

O ato educativo está primeiramente no aprender e não tanto no ensinar. Educação não é adestramento ou simples transmissão de conteúdos, é ajudar a pessoa a tomar a própria vida em suas mãos, ser sujeito de seus pensamentos, sentimentos e ações (TB n. 22).

Escutar a realidade significa o esforço de compreender seus gritos e silêncios, seus excessos e ausências. A escuta, na esteira da pedagogia de Jesus, não orienta os ouvidos somente para os sons que nos interessam. É uma escuta integral, com o ouvido e com o coração (TB n. 29). A pandemia agravou muitas situações em nosso país. Seus reflexos são visíveis nas relações sociais, na situação econômica, na dura realidade do aumento da pobreza, da fome, da carestia, dos subempregos. A indiferença se apossou de muitas pessoas, a necessidade de fechar-se nas casas, fechou também mentes e corações.

Muitos se encheram de seu pequeno mundo pessoal, familiar e se desconectaram da realidade social mais ampla em que tudo está interligado. A Campanha da Fraternidade quer nos ajudar a compreender duas lições sobre o ato de educar: a primeira diz respeito ao valor da pessoa como princípio da educação. A segunda se refere ao ato de correção, que é conduzir ao caminho reto (TB n. 25). O que podemos aprender com tudo o que vivenciamos nesta pandemia? Escutar a realidade é uma condição para construir e reconstruir o projeto de humanidade a partir dos sinais de Deus na nossa história (TB n. 32).

Educar é humanizar

A CF 2022 nos aponta que educar é ajudar cada pessoa a buscar o que há de melhor dentro dela. Educar é humanizar, é “vestir-se de força e dignidade e sorrir para o futuro” (Pr 31,25). Educar é um ato comunitário, que implica uma comunidade inteira, ninguém se educa sozinho: “Os pais são os primeiros, mas não os únicos, educadores de seus filhos”. Educar é tarefa de uma “aldeia inteira”. Entretanto, no século XXI, essa aldeia é formada por uma imensa rede social, que tem abrangência global e plasma um novo jeito de ser e de viver (TB 60). A CF 2022 defende que “Uma educação pública inclusiva e de qualidade é condição da justiça social que ainda carecemos no Brasil. Quando não priorizamos a educação pública, construímos uma dupla defasagem: não enfrentamos uma dívida social histórica e prolongamos essa situação de injustiça para as próximas gerações” (TB 74).

A CF 2022 vê na família o primeiro e indispensável sujeito educador. A família é “a primeira escola de virtudes sociais, que todas as sociedades precisam. […] Especialmente na família cristã… os filhos desde cedo devem ser educados para perceber o sentido de Deus e venerá-lo e amar os outros”. Guiando-se pelos seguinte valores: 1. Prioridade da família na educação dos filhos; 2. Participação de representantes dos pais em órgãos colegiais de decisão; 3. Aumento de políticas a favor das famílias, em especial dos socioeconomicamente mais desfavorecidos.

Para aprofundamento: O que aprendemos sobre nós mesmos com a pandemia da Covid-19? Estamos saindo dela mais humanizados, com um projeto de sociedade para todos?

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Denilson Mariano
É religioso missionário sacramentino, Mestre e Doutor em Teologia (FAJE), Licenciado em Filosofia (PUC Minas), presidente do Movimento Boa Nova (MOBON) e agente da formação de cristãos leigos e leigas.  É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), apoiador da Animação Bíblica da Pastoral no Regional Leste II da CNBB e membro da Equipe Executiva do Observatório da Evangelização. 

Faça download do texto base da Campanha da Fraternidade aqui!

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“Falar com sabedoria e ensinar com amor”: uma tarefa para todos nós. https://observatoriodaevangelizacao.com/falar-com-sabedoria-e-ensinar-com-amor-uma-tarefa-para-todos-nos/ Wed, 02 Mar 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43956 [Leia mais...]]]>

Com o avanço da vacinação, aos poucos vamos podendo retornar a algumas atividades que foram suspensas por causa da pandemia do coronavírus. No entanto, a realidade que nos rodeia já não é a mesma de antes. Muitas situações sociais, econômicas, políticas, climáticas e religiosas foram agravadas com a pandemia. Isso leva a certo sentimento de impotência e medo do futuro.

Neste ano de 2022, os bispos do Brasil nos convidam para, à luz da fé, refletir sobre a educação em nosso país, certos de que ela é indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno. Somos convidados a não ser indiferentes à nova e desafiante realidade que se abre à nossa frente. O objetivo principal desta Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) é: Promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

O tema desta campanha é: Fraternidade e Educação. O lema que a ilumina e guia é tirado do livro dos provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). O Texto Base (TB) preparado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem como pano de fundo a realidade atual agravada pela pandemia e a proposta do Papa Francisco do Pacto Educativo Global que foi lançado no dia 14 de maio de 2020, em Roma e no dia 31 de janeiro de 2021, no Brasil.

A situação da educação, com o aumento do êxodo escolar e do déficit na aprendizagem, nos questiona e exige profunda conversão de todos nós. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de caminhos que promovam o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna em comunidade e para o exercício pleno da cidadania.

A Igreja do Brasil nos aponta que refletir e atuar a favor da educação é uma forma de viver a nossa penitência quaresmal. Olhando para Jesus, mestre e educador, reconhecemos que Ele passou a vida “falando com sabedoria e ensinando com amor”, até à sua doação total na cruz para a vida do mundo. Por meio d´Ele, reconhecemos que algo pode e deve mudar em nossa sociedade, em nosso país, principalmente, em nossas relações.

Neste sentido, o Papa convida a cuidar das fragilidades do povo e do mundo em que vivemos. Um convite que não é dirigido apenas aos cristãos, mas a todos os homens e mulheres da terra, a todas as pessoas de boa vontade. Para esse cuidado, a educação e a formação tornam-se prioritárias, pois nos ajudam a nos converter em verdadeiros sujeitos na Igreja e na sociedade, construtores do bem comum e da paz.

Esta CF 2022 faz eco à proposta do Papa Francisco no Pacto Educativo Global para que se alinhem, num esforço conjunto, família-escola-sociedade em um único objetivo de educar para além dos pensamentos simplistas e reducionistas de uma educação voltada apenas para aprender conteúdos. Trata-se de compreender e fazer da educação um processo de construção da cidadania global. Nessa empreitada, cada um tem o seu papel particular e o compromisso comunitário de formar um ambiente que eduque para a vida.

Estamos diante de um exercício concreto de fraternidade, que nos envolve, desde às atitudes mais pessoais e familiares, passando por nossa presença no ambiente de trabalho e de convivência social, para “falarmos com sabedoria e ensinar com amor”.

O Texto Base da CF 2022 (disponível para download aqui) segue os passos do método ver-julgar-agir em nova roupagem, explicitada pelo Papa Francisco como escutar, discernir, agir. Isso nos faz alargar nossa compreensão e aprofundar ainda mais nossa sensibilidade diante da situação das pessoas em relação à educação: uma educação que coloque a pessoa no centro, que gere compromisso comunitário, que seja comprometida com o diálogo e a paz, que promova uma economia solidária e seja comprometida com a ecologia integral. Falar com sabedoria e ensinar com amor é uma tarefa para todos nós.

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Denilson Mariano
É religioso missionário sacramentino, Mestre e Doutor em Teologia (FAJE), Licenciado em Filosofia (PUC Minas), presidente do Movimento Boa Nova (MOBON) e agente da formação de cristãos leigos e leigas.  É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) e apoiador da Animação Bíblica da Pastoral no Regional Leste II da CNBB.

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