Professora Tânia Jordão – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sun, 24 Dec 2017 02:24:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Professora Tânia Jordão – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Alberto Antoniazzi: vida em doação https://observatoriodaevangelizacao.com/alberto-antoniazzi-vida-em-doacao/ Sun, 24 Dec 2017 02:24:51 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27160 [Leia mais...]]]>  

 

Ao pensar em padre Alberto, penso imediatamente no sentido da doação. Doação de uma vida inteira à Igreja e doação aos mais pobres. Durante os 40 anos de presença na Arquidiocese de Belo Horizonte, mostrou-se sempre disponível e pronto para colaborar naquilo em que fosse chamado. Padre Alberto jamais me negou qualquer coisa, qualquer de meus pedidos e solicitações. Recentemente descobri que padre Alberto nunca negou nada a ninguém, especialmente aos mais pobres. Tudo que ele ganhava dividia com os pobres. E isso quase ninguém sabia.

Vejo sua partida, no dia de Natal, como um gesto de ternura de Deus. Assim como o Pai presenteou o mundo com seu Filho, no Natal, assim também, padre Alberto, que sempre foi só doação, foi o presente de Natal que o mundo devolveu a Deus.

                                                                Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo  Arcebispo Emérito de Belo Horizonte

Sabedoria, humildade e caridade são as características que mais se destacavam na personalidade de Alberto Antoniazzi, conforme relata monsenhor Éder Amantéa. Na terceira parte de seu depoimento ao Observatório da Evangelização, este presbítero recorda, com admiração, o amigo que partiu no dia de Natal, em 2004.

Sabedoria é um dom claramente perceptível tanto nos escritos de Antoniazzi quanto foi em sua dinamização pastoral, em que a espiritualidade profunda se abraçou à arguta capacidade de obter consensos. Humildade, mesmo para quem não teve o prazer de conhecê-lo, pode, por exemplo, ser percebida pelo fato de muitos de seus escritos terem sua autoria apagada, já que figuram como documentos eclesiais, seja de nossa arquidiocese, seja da CNBB. Caridade, tanto para atender aos seus superiores, quando quer que necessitassem de seus serviços, quanto pela prontidão em repartir aquilo que recebia por seus trabalhos com os menores dos irmãos.

Assim nos é apresentado padre Alberto, cuja memória celebramos neste Natal do Senhor. Sendo o Natal a festa da VIDA que toca a nossa pequenina vida, torna-se também, nesse homem de Deus, a possibilidade da pequena vida se irradiar VIDA. É que Deus não se deixa vencer em generosidade…

Professora Tânia Jordão.

 

 

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Alberto Antoniazzi: vida em missão https://observatoriodaevangelizacao.com/alberto-antoniazzi-vida-em-missao/ Fri, 22 Dec 2017 02:42:59 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27154 [Leia mais...]]]>  

Padre Alberto desempenhou um papel fundamental na formação e atualização sacerdotal, tanto na Igreja de Belo Horizonte quanto em nível nacional. Era presença constante nos Encontros Nacionais de Presbíteros. Sempre morou no seminário arquidiocesano e foi braço direito dos reitores. Desde 1990 esteve inteiramente dedicado ao Projeto Pastoral Construir a Esperança. Eu diria, na verdade, que padre Alberto foi a mente e o coração do PPCE.

                                                           Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo  Arcebispo Emérito de Belo Horizonte

 

Se o próprio Dom Serafim afirma que Alberto Antoniazzi “foi a mente e o coração do PPCE”, monsenhor Éder Amantéa, na segunda parte da entrevista a nós concedida, irá narrar a gênese da I Assembleia do Povo de Deus (I APD), que emerge justamente como consequência do Projeto Pastoral Construir a Esperança (PPCE). Ao ouvir sua narrativa compreende-se porque tantos declaram que padre Alberto Antoniazzi era um homem de Igreja e para a Igreja.

Antoniazzi foi um sacerdote atento aos apelos de renovação eclesial do Concílio Ecumênico Vaticano II. Por isso mesmo, percebia que a presença da Igreja na sociedade precisava se dar a partir de sua missão enquanto Povo de Deus. Isso mudava completamente a eclesiologia piramidal anterior, pois todo o Povo de Deus – não só o clero – experimenta-se, então, com uma mesma missão e dignidade pelo Batismo. Refletia assim sobre o ministério ordenado e sobre o laicado tanto na perspectiva intra-eclesial quanto na importância da atuação cristã para a transformação social.

O PPCE foi a forma encontrada por padre Alberto para dinamizar a vida da Igreja na arquidiocese de Belo Horizonte. Incentivar e fortalecer o protagonismo laical; criar equipes para fazer da pastoral catequética de BH uma referência nacional; apoiar a reforma litúrgica… “o que aconteceu de pastoral no episcopado de Dom Serafim, foi iniciativa do padre Alberto”, segundo o depoimento de seu grande amigo, monsenhor Éder.

Além desse testemunho entusiasmado, Éder Amantéa contextualiza os fatos narrados e assevera: “O Concílio chegou com toda a força. Toda a Igreja estava esperando a reforma, mas depois de 50 anos de Concílio, muitas reformas não foram implementadas ainda. Há muita coisa pra mudar…” Vale a pena conferir!

Professora Tânia Jordão.

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Preparemo-nos: Ele está para chegar! https://observatoriodaevangelizacao.com/preparemo-nos-ele-esta-para-chegar/ Sat, 09 Dec 2017 12:44:41 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27084 [Leia mais...]]]> Viver plenamente esse tempo de graça e esperança, que é o Advento, é possível quando alimentamos a espiritualidade, profundamente. A espiritualidade é o que nos dá vida e dinamismo. O que nos anima. O Espírito é o próprio Sopro de Deus!

Há diferentes formas de cultivar a espiritualidade, no entanto, certamente poderemos reconhecer se o Espírito que a move é o de Jesus se a fé se torna ação libertadora, pois assim foi o Peregrino de Nazaré: livre e libertador! A espiritualidade genuinamente centrada em Jesus suscita nosso comprometimento com a transformação de nossa realidade injusta, desumana, desigual, sem ética e sem compaixão em outra que se molda pelos valores evangélicos. Será pautada nos valores do Reino se for libertadora. Entretanto, ao contemplarmos Jesus de Nazaré observamos que antes de Ele agir há muitas pausas para oração a fim de se manter continuamente em sintonia com o Abba. Assim se fortalecia para a jornada.

Nossa realidade demanda que não nos acomodemos. Preparar-nos para o Natal não se trata, certamente, de alimentar o mercado de consumo e descarte; mas suster o espírito. É necessário, sim, nutrir-nos do maior dos alimentos para prosseguir na missão a nos confiada. Um belo instrumento a nos oferecido e que poderá (e muito!) nos auxiliar a viver melhor este tempo de preparação para o Natal de Jesus é o cultivo da  mística e espiritualidade com as canções meditativas de Taizé.

Na sua comunidade, antes de cada encontro celebrativo, é possível criar um ambiente de silêncio e reflexão, de acolhida e oração com refrãos meditativos como aqueles de Taizé.

Ânimo, portanto. Preparemos a casa do coração porque Ele está pra chegar…

Tânia Jordão

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=k95tnMUvwVY

 

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Extremismo x Ecumenismo https://observatoriodaevangelizacao.com/extremismo-x-ecumenismo/ Thu, 07 Dec 2017 01:59:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27058 [Leia mais...]]]> Em tempo de tantas polarizações, chama a atenção uma comunidade que foi fundada justamente para romper com qualquer extremismo: Taizé é uma comunidade ecumênica, com representantes tanto católicos quanto de várias igrejas protestantes, das mais diversas nacionalidades, que inclue em suas orações ícones e cânticos da tradição ortodoxa oriental  e que se dedica justamente à reconciliação.

A questão é: por que jovens de todo mundo visitam Taizé, incorporando-se à vida de oração daquela comunidade em encontros que duram uma semana? São milhares de pessoas, sobretudo jovens, em grupos que chegam a seis mil pessoas por semana, peregrinando à Taizé, na França. Algo move essa busca pela meditação, através da harmonia da música e da repetição de frases tão simples… Algo, que a experiência do silêncio faz germinar… Nossa sociedade do excesso, do descarte, da agitação não nutre a busca mais íntima. Nossa realidade de defesas de verdades excludentes não oferece uma resposta satisfatória ao anseio mais profundo!

Enquanto outros grupos ou movimentos eclesiais procuram adeptos, Taizé envia o jovem que vive aquela experiência de volta a sua Igreja local a fim de partilhar com outros sua vivência e realizar o que o fundador da comunidade, Irmão Roger, cunhou como sendo a peregrinação de confiança na terra. Quem se encanta pela experiência quer partilhá-la. É uma paixão que contagia, por sua simplicidade e força evangélica. Tanto o jovem quanto qualquer pessoa que viva isso já não entenderá o ecumenismo da mesma forma.

É bonito perceber, sobretudo, como a experiência da oração fortalece a ação solitária. A verdadeira oração cristã necessariamente nos abre ao outro, porém – enquanto determinadas expressões religiosas são intimistas – o que é possível atestar é que o compromisso social se torna um dos pilares de quem experimenta profundamente que Deus é Amor. Um sinal disso são as postagens do blog Taizé BH, alimentado pelo CEBI.

«Penso que, desde a minha juventude, nunca perdi a intuição de que uma vida em comunidade pode ser um sinal de que Deus é amor; só amor. Pouco a pouco crescia em mim a convicção de que era essencial criar uma comunidade de homens decididos a dar toda a sua vida, e que procurassem sempre compreender-se mutuamente e reconciliar-se: uma comunidade onde a bondade do coração e a simplicidade estivessem no centro de tudo.»

(Irmão Roger)

A quem deseja conhecer a Oração de Taizé, o site da comunidade oferece vários subsídios, além de informações variadas. Inclusive poderá pesquisar acerca das comunidades dos irmãos de Taizé no Brasil. Em BH, quem quiser alimentar a espiritualidade nesse estilo, poderá participar, por exemplo, da oração na Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia, na última sexta de cada mês, a partir das 20 horas.

taizé advento

Observar essa experiência contribui para, ternamente, favorecer nossa abertura dialogal. E então perceberemos que o Outro, o Diferente, nem é tão diverso assim… é por isso que podemos alegremente nos chamar de irmãs e irmãos. E comprometidos com a construção de um outro mundo – que sabemos possível! – cantar: Vem, Senhor Jesus!

Professora Tânia Jordão

]]> 27058 Por que um Dia Mundial dos Pobres? https://observatoriodaevangelizacao.com/por-que-um-dia-mundial-dos-pobres/ Sat, 18 Nov 2017 03:00:45 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=26922 [Leia mais...]]]>

Dentro e fora da Igreja percebe-se um desconforto com este “Dia Mundial dos Pobres”. Por um lado, incomodam-se pessoas engajadíssimas em lutas sociais e que admiram profundamente as palavras e ações do atual Bispo de Roma, das quais se ouve expressões de estranhamento em relação à criação de “um dia” destinado àqueles que devem ser foco de nossas atenções cotidianas. Por outro, exasperam-se aquelas que querem distância de tudo o que lembra o excluído, que não desejam refletir sobre a realidade circundante, e, menos ainda, que o Papa provoque, novamente, reflexões de cunho sócio-político-econômico sobre o papel do cristão.

Desde o início de seu pontificado, Francisco tem buscado se aproximar de todo tipo de excluído.

Há cerca de um ano, em Roma, no Festival da Alegria, novamente Francisco se encontrou com os pobres e percebeu que havia necessidade de momentos específicos para esse “estar com” que faz bem aos dois lados. Tocar de perto a fragilidade dos irmãos nos humaniza, percebeu o Papa, que questiona o fato de haver mais quem queira ser a voz dos que não têm voz do quê pessoas que, de fato, os escute e lhes conceda o lugar que têm direito a ter: “protagonistas dos seus próprios projetos de vida”. Há que se contribuir para combater “a indiferença em relação àqueles a quem chamam descartáveis da sociedade atual” e promover a “cultura do encontro”.

No encerramento do Jubileu da Misericórdia, pois, Francisco instituiu O Dia Mundial dos Pobres, com o desejo que a Igreja fomente encontros verdadeiros em cada realidade entre os diferentes tipos de pessoa e, a partir de então, as pessoas possam forjar a mudança do estilo de vida comum aos nossos tempos: de famílias fechadas, pessoas individualistas, passemos a nos abrir ao encontro com o diferente, à partilha, “prova da autenticidade evangélica”.

Há outra data mundial, criada pelas Nações Unidas, que proporciona a ponderação acerca das causas da pobreza, suas consequências e modos de erradicá-la. Trata-se do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, 17 de outubro.  Estar com os pobres, como pede o Papa aos cristãos não-pobres, propicia a criação de uma nova consciência pela possibilidade da mudança de lugar; do colocar-se “no lugar” do outro, ao se familiarizar com ele. As datas se somam. A uma Igreja em saída o que se pede é não só refletir sobre a pobreza. Estar com os pobres é olhar nos olhos do outro e deixar-se tocar, internamente, pela realidade do outro. Mas isso não significa absolutamente assistencialismo cômodo.

Francisco nos ensina pelo exemplo: ele próprio busca estar com os empobrecidos, ouvi-los, senti-los, mas também denuncia em alto e bom tom as causas da injustiça social, como fez, por exemplo, na Bolívia*, quando bradou contra “a imposição de medidas de austeridade que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres” e, ainda, contra “o colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros fornecedores de matéria prima e mão de obra barata, engendra violência, miséria, migrações forçadas”. Contundentemente, fez-se ouvir:

Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum.

Essa voz profética não é a de quem engendra um “Dia Mundial dos Pobres” para apaziguar consciências, mas a de quem, humilde e corajosamente, assume um pontificado com resistências inimagináveis dentro da própria Igreja por buscar, radicalmente, ser fiel ao Evangelho de Jesus Cristo. E por isso pode-se posicionar dizendo: “Peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas também pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América”. É profética a voz que pede “terra, teto e trabalho” para todos: “São direitos sagrados. É preciso lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja ouvido na América Latina e em toda a Terra”.

Além da profética denúncia, também anuncia que um novo mundo é, sim, possível. E anima à multidão que ouve sua voz e reconhece nela a de seu amado Pastor:

Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos trabalhistas? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado?

Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas?

Muito! Podem fazer muito. Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podem e fazem muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas suas mãos, na sua capacidade de se organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na sua participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem.

Por que um “Dia Mundial dos Pobres”? Porque “necessitamos de uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança redentora.” E convivendo com os pobres, sentindo seu corpo, seu cheiro, sua voz, talvez possamos nos dar conta que o Peregrino de Nazaré, de fato, escolheu vir como um pobre e é no mais pequenino que Ele se faz presente. Diz ainda o nosso Papa: “Necessitamos de uma mudança real. Esse sistema já não se sustenta. E os mais humildes, os explorados, podem fazer muito. O futuro da humanidade está em suas mãos”.

Professora Tânia Jordão.
 *Papa Francisco – Discurso no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Bolívia, 2015.
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Reconstruindo a catolicidade em ambiente digital https://observatoriodaevangelizacao.com/reconstruindo-a-catolicidade-em-ambiente-digital/ Tue, 03 Oct 2017 18:28:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=25217 [Leia mais...]]]> Moisés Sbardelotto, em palestra na PUC Minas na última sexta-feira (29/09), compara a reforma digital àquela realizada por Lutero, 500 anos atrás, por perceber que essa revolução sociocultural está desencadeando uma revolução religiosa. Ele percorre a história recente para demonstrar que um Papa assinar um twitter altera por completo sua forma de presença no mundo. O twitter está em um ambiente não-religioso; não-protegido; em um contexto plural. O Papa, ao utilizá-lo, coloca-se no meio da praça pública, acessível a todos.

Pope Benedict XVI posts his first tweet using an iPad tablet after his Wednesday general audience in Paul VI's Hall at the Vatican

Essas reflexões aparecem na obra: “E o Verbo se fez rede”, fruto de seu doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Para realizar sua pesquisa, Sbardelotto transitou pelos corredores do Vaticano, entrevistou membros do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, teve acesso a diversos setores da Santa Sé. Tendo já se debruçado sobre a forma como a religiosidade católica aparece nos portais, aqui, o autor busca compreender o percurso de inclusão digital dos pontífices Bento XVI e Francisco.

Foi em 2011, quando a imagem da Igreja aparecia arrasada na grande mídia, devido às muitas denúncias de pedofilia do clero, que Bento XVI, na tentativa de melhorar a imagem do Vaticano, envia o primeiro tweet. Com dificuldade diante dos meios eletrônicos, o Papa não sabe o que fazer, onde clicar, e tudo isso é documentado, comprovando um imenso choque de mentalidades e culturas. Ao abrir o portal news.va o papa é protagonista de toda uma liturgia que se repetirá em 2012 quando, ao assinar de próprio punho o twitter, tentará mostrar que a tradição busca se aproximar de novas linguagens.

Três meses antes de sua renúncia, na qual explicita que a igreja precisa de um novo pontífice que dialogue com um mundo sujeito a rápidas mudanças, Bento XVI aponta para uma transição para novas linguagens e novas formas de tradução da tradição.

papa-francisco digital

O Papa Francisco se confronta com essa realidade ao assumir dar continuidade a isso. Não só utiliza o twitter, como há um aplicativo com suas mensagens e está no Instagram. Lança todos os meses um “vídeo do Papa” e, com esse formato de interação vai construindo nova teia social de sentidos sobre a fé católica, no mundo midiático. Esse trabalho de reconstrução do catolicismo utilizando-se de símbolos vinculados a outros símbolos, recriações discursivas do encontro, por exemplo, entre o protocolo do Papa com o protocolo do twitter, gera contratos de leitura próprios. O Papa, autoridade máxima, traduzir o catolicismo para a mídia digital provoca uma suprainstitucionalidade católica, presente numa rede social.

A partir de então, grupos católicos diversos ganham legitimidade para se posicionar na mídia, o que provoca crescimento do embate entre grupos opostos, negando construções de sentido contrárias à própria. Assim o dado “religioso” explode em múltiplas racionalidades locais e a existência social do catolicismo vai se tornando cada vez mais o resultado da interação comunicacional enquanto reconstruído, ressignificado, pois não pode ser possuído, apropriado pela Igreja. É construído como im-próprio pelas comunidades eclesiais digitais. Assim se dá o sensus fidelis digitalis, a voz viva do Povo de Deus em rede.

Professora Tânia Jordão

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