Presbíteros – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sat, 27 Apr 2024 13:54:33 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Presbíteros – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O presbítero, homem de coração dilatado https://observatoriodaevangelizacao.com/o-presbitero-homem-de-coracao-dilatado/ Sat, 27 Apr 2024 13:54:33 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49842 [Leia mais...]]]> Segundo Matias Soares, “os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos… Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação… Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência… Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades… Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados.

Confira o provocante artigo do pe. Matias Soares que nos convida a um outro olhar para os presbíteros, a grande parcela dos ministros ordenados na Igreja Católica. O mesmo olhar pode ser feito para os bispos e diáconos, e também para pastores e pastoras das outras igrejas cristãs.

 

Arquidiocese de Fortaleza volta a celebrar caminhada penitencial; confira  data | Ceará | G1
             Registro da caminhada penitencial em Fortaleza, em 2023.

 

O presbítero, homem de coração dilatado

O papa Francisco, recentemente, num discurso feito aos participantes de um congresso realizado em Roma, sobre a formação permanente dos presbíteros, assim admoestou aos presentes:

A graça pressupõe sempre a natureza, e por isso temos necessidade duma formação humana integral. Na verdade, ser discípulo do Senhor não é um revestimento religioso, mas um estilo de vida e por conseguinte requer o cuidado da nossa humanidade. O contrário disto é o padre ‘mundano’. Quando a mundanidade entra no coração do padre, estraga-se tudo. Peço-vos para investir o melhor das vossas energias e recursos neste aspeto: o cuidado da formação humana. E também o cuidado por viver de maneira humana”.

O presbítero não pode ser alguém que tenha medo de sua humanidade. Sua história, seus afetos, anseios existenciais e sonhos de realização pessoal devem ser cuidados e ordenados por uma capacidade humana e evangélica de amar. A vocação deve estar situada numa condição humana integral e integrativa.

Os desafios que estão sendo postos à Igreja, que precisam ser enfrentados, têm sido causa de escândalo e muita tristeza, principalmente na dimensão humano-afetiva dos ministros ordenados. A atenção dada à formação humana é mais do que indispensável. É urgente. Essa dimensão da existência sacerdotal foi tratada com desconfiança por séculos. A teologia que tinha suas bases no neoplatonismo penetrou na espiritualidade cristã e, ainda mais, no ordenamento formativo dos ministros ordenados. O tratamento dado aos sacerdotes, como homens do sagrado, principalmente depois do Concílio de Trento (1545-1563), mesmo com seus avanços para a época, pouco a pouco foi sendo superado e surgindo novas necessidades e demandas de atualizações. Envolvidos pela mística da ascese e do sacrifício, como sinal da mortificação das pulsões humanas, o sacerdote do antes do Vaticano II é o homem que deve ter como marcas distintivas: a sabedoria, a saúde e a santidade. Essa integração, nem sempre foi tratada com tanta clarividência e contando com as possibilidades ofertadas pelas ciências humanas, especialmente a psicanálise. Depois de Sigmund Freud (1856-1939), Carl Gustav Jung (1875-1961) e outros mestres da psicologia do profundo, novos questionamentos surgem acerca dos dramas existentes na formação da identidade da pessoa, marcada na sua história por alegrias e tristezas. A Igreja tentará assumir caminhos novos. O humanismo integral e o personalismo serão a base antropológica do Concílio Vaticano II e, com estes, a atenção que será dada à subjetividade humana, colocando a pessoa no centro, como protagonista da própria formação.

Um novo cenário se nos é posto. Na atualidade, estamos a falar de pós-humanismo, inteligência artificial, pós-secularismo e, depois da pandemia, questões na área de doenças mentais, que colocam desafios novos à própria formação permanente dos presbíteros. A Igreja volta o seu olhar para esta urgência. Um novo humanismo pode ser elaborado. Com o neotomismo, tão em voga ainda nas proposições conciliares, a pessoa ainda era tida como realidade integral, que precisava ser integrada. Na nossa hipermodernidade, o humano é definitivamente apresentado como fragmentado e com possibilidades de ser transumanizado, buscando novas formas de ser e agir, a partir de suas subjetividades. Com a determinação de ‘ser no tempo e instantaneamente’, com a confirmação dos pressupostos heiddegerianos. Isso está visível nas novas manifestações do ‘Ser’. Esse (Dasein) é o homem contemporâneo, tão simplesmente, com suas escolhas e autodeterminações.

Nessa conjuntura do estilo de ser e estar no tempo, encontra-se a Igreja que ainda não encontrou um método equilibrado de se relacionar com essas subjetividades. Pois sempre foi aquela que, basicamente dos séculos IV ao XIX, impôs, e não propôs o modo de agir da cultura ocidental. Na formação dos futuros presbíteros e para a formação permanente dos atuais, como nos encontramos numa mudança de época e numa época de mudanças, os métodos precisam ser ressignificados e mudados. A formação, como os ensina o papa Francisco, também precisa absorver a perspectiva da ‘sinodalidade’. Com menos disciplinamento e mais autoconsciência.

Ouso a dizer que a pedra de toque desse modo de ‘ser Igreja’ é o acolhimento das diferenças, por meio da capacidade de escuta de todos. É o respeito e reconhecimento dos sujeitos que são envolvidos no processo formativo. O que é de interesse de todos deve ser participado por todos. Mais confiança que gera responsabilidade e promove a adesão consciente e personalizada do processo formativo. Basta a percepção dos sinais, que estão aí, na maioria dos que são ordenados atualmente. A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’.

 

A vida de oração está sendo substituída pelas mídias, os livros estão sendo trocados pelos smartphones e vaidades nas vestimentas, que refletem mais o anseio de autoafirmação, na maioria dos casos, a comunhão presbiteral é distorcida pelos lobbies e, ainda, a proximidade ao povo fiel de Deus, especialmente com os que estão nas periferias geográficas e existenciais, que é trocada pelas relações de conveniências. Esses sinais são fenômenos que dizem muito das motivações e problemáticas humanas dos ministros ordenados e de como as nossas estruturas formativas não estão preenchendo os hiatos existentes nos variados perfis individuais. Está faltando paixão presbiteral e missionária. Uma grande parcela está se tornando despreparada e agindo como simples ‘funcionários do sagrado’

 

O presbítero dos nossos dias, considerando estas manifestações, precisa ser um ‘homem com um coração dilatado para o amor’. E num horizonte de fé, isso só pode acontecer a partir de uma profunda experiência de Deus. Algumas indagações precisam ser respondidas pelos ambientes formativos e demais casas religiosas da Igreja, a saber:

  • Estamos formando homens e mulheres de Deus?
  • Percebemos pessoas performadas segundo o Espírito?
  • Há mais preocupação com o que é mundano nas casas de formação, do que com o que é próprio da ação missionária?
  • Existe desejo de conversão permanente, com a abertura ao que é proposto pelo Evangelho?
  • Quais as motivações que estão levando as pessoas a buscarem as nossas casas de formação?
  • Por que e para que estamos formando padres, religiosos e religiosas?
  • Os formandos e formandas, como também os que já estão ordenados e consagrados, estão inseridos, sendo sal e luz, pastores com cheiro das ovelhas, na vida e na história do povo fiel de Deus?
  • Os nossos métodos formativos estão servindo para que o discernimento evangélico e espiritual aconteça neste processo de maturidade humana e vocacional? Etc…

Os fechamentos ao que pode ser aprofundado é, talvez, a principal dificuldade que temos para avançarmos. Enquanto não nos confrontarmos com a nossa verdade, inclusive enquanto instituição, não conseguiremos falar e agir com ‘parresia’, ou seja, com coragem de encarar a verdade no encontro com nossas fragilidades internas e diferenças externas. Por isso, o fechamento em bolhas e a grande dificuldade de dialogar e agir neste mundo hipermoderno que nos desafia e desacredita constantemente. Na Igreja, ainda temos muito medo da verdade; por isso, não conseguimos ser livres. Com frequência, nos esqueçamos que só ela pode nos dar a liberdade (cf. Jo 8,32). Ou ela é endógena a vida da Igreja e, para isso, precisa ‘acontecer’ na existência de cada um de nós, ou teremos a impressão de que somos uma composição, ou uma simples instituição, na qual muitos ainda não viveram o encontro pessoal com Jesus Cristo e, desta forma, ainda não se tornaram cristãos. A seguinte afirmação do papa Bento XVI sintetiza bem essa reflexão à qual me proponho neste momento:

Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. ‘Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: ‘Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna’” (cf. DCE 1).  

 

Papa Francisco, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas caminham juntos no Sínodo para a Amazônia.

 

Enfim, instigados a formar um coração dilatado ao amor, sem jaulas e correntes, verdadeiros e sinceros, ternos e misericordiosos, podemos amadurecer. O papa Francisco tem nos provocado positivamente. Para os que ainda vivem no ‘país das maravilhas’, com uma mentalidade pré-moderna e com odor de cristandade, se chega a afirmar que “este Papa não gosta dos ministros ordenados”. Penso que esta não seja a questão! Ele denuncia a mentalidade clericalista e mundana de muitos de nós, que estamos ainda protegidos pela força de uma instituição que vem sendo desafiada a repensar seu modo de ser no mundo de hoje. Numa realidade na qual todos estamos “desnudados”. Numa sociedade do cansaço e do digital (cf. Byung-Chul Han), na qual tudo é visto e todos se veem sem conhecimento profundo e personalizado. Nós estamos inseridos neste tempo e nessa história. Temos que sair das nossas casinhas e construções oníricas. Só conseguiremos ser fortes e perseverantes, como ministros ordenados e consagrados, se tivermos corações dilatados para amar e ser amados. Assim o seja!

 

Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, Natal-RN

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Mais de 500 padres se reúnem em Aparecida para o 18º Encontro Nacional de Presbíteros https://observatoriodaevangelizacao.com/mais-de-500-padres-se-reunem-em-aparecida-para-o-18o-encontro-nacional-de-presbiteros/ Fri, 13 May 2022 21:30:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44980 [Leia mais...]]]> Aparecida vive nesta semana dois momentos importantes para a Igreja do Brasil e da América Latina. Hoje, dia 13 de maio, completam-se 15 anos da abertura da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, celebrada de 13 a 31 de maio de 2007 aos pés da padroeira do Brasil. Também de 9 a 14 do mesmo mês, acontece o 18º Encontro Nacional dos Presbíteros (ENP) com o tema: “Presbítero, comunhão e missão”, e o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt. 23,8). Acompanhe a matéria de Luis Miguel Modino:

Um momento de graça

Segundo Dom Joel Portela, assessor do 18º ENP, “foi muito interessante perceber a relação de datas entre o 18º Encontro Nacional de Presbíteros e a celebração dos 15 anos da Conferência de Aparecida”. O Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse que “os presbíteros estão refletindo sobre o atual momento da sua história, da sua vida, um momento marcado por incertezas, por perplexidades tanto pastorais quanto pessoais”.

“No âmbito pastoral, e em certo modo no âmbito pessoal também, Aparecida, 15 anos atrás, 2007, já indicava, já apresentava, em torno da figura do discípulo missionário, um caminho que é importante para qualquer cristão batizado, batizada, também, por tanto para os presbíteros”, destacou Dom Joel.

Um encontro que é visto como um momento de graça “depois de dois anos de pandemia, de muita angustia, sofrimento, mas também de espera, de esperança, de confiança, e de gratidão por estarmos aqui reunidos com mais de 500 presbíteros e vários bispos dos diversos regionais”, segundo o Padre José Adelson da Silva Rodrigues. Para o presidente da Comissão Nacional dos Presbíteros, o tema e lema do encontro “vai nos dar essa esperança que sairemos daqui muito mais animados, mais fortalecidos, encorajados, para continuarmos a missão”.

Vale a pena atender o chamado

Segundo o presbítero da Arquidiocese de Natal (RN), “a missão é longa, árdua, mas vale a pena ser padre, vale a pena ser missionário, vale a pena atender o chamado de Deus e corresponder aquilo que é vontade do Pai”. Ele destaca a necessidade viver o ministério presbiteral “com uma perspectiva de muita alegria, de muito entusiasmo, de muita esperança, de viver cada vez mais a nossa vocação sacerdotal”.

Um encontro em que “estamos celebrando o ministério dos nossos padres”, afirma Dom José Albuquerque de Araújo. O Bispo Auxiliar de Manaus lembra que são 26 mil presbíteros espalhados por todo o país. Neste encontro participam 37 padres da Região Norte do Brasil, “que vieram de diversas cidades, diversos municípios e estamos aqui participando deste momento tão bonito, de uma comunhão eclesial”. O membro da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, insiste em que “no caminho sinodal que nós estamos trilhando, é importante também, nós escutar os nossos padres”.

Segundo Dom José, “os encontros nacionais, eles são importantes e necessários, para poder fortalecer a fraternidade presbiteral, para poder conhecer a nossa realidade tão diversificada. Cada padre traz a sua história, a sua experiência”. O bispo destaca “o entrosamento e a troca de experiências que acontece, entre as duas gerações, os padres mais jovens, participando junto com os padres mais experientes”.

Memória dos vitimados pela pandemia

O Bispo Auxiliar de Manaus destaca a importância do 18º ENP “nesta retomada que estamos fazendo após a pandemia, que ainda não terminou, mas nós sabemos que precisamos fazer memória daqueles padres que sucumbiram à pandemia”. Ele lembra que “foram dezenas de padres no nosso país, que faleceram, infelizmente, vítimas de Covid, e nas celebrações litúrgicas que estamos aqui vivenciando, nós lembramos, fazendo memórias desses nossos irmãos que partiram”.

Dom José Albuquerque de Araújo coloca que “esses encontros, eles nos ajudam também a gente perceber que os padres precisam para poder cuidar daqueles que Deus os confiou, é preciso também que eles se cuidem, que a gente precisa fortalecer a pastoral presbiteral em nossas Igrejas locais”. Finalmente, afirma que “certamente, quem participa desses encontros, volta para suas dioceses, mais animado, mais entusiasmado, mais esperançoso, até para poder dar a sua contribuição àqueles que já estão no ministério, e também que possamos ajudar aqueles que estão na formação, os nossos futuros presbíteros”.

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pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Os princípios e teologia da Iniciação à Vida Cristã https://observatoriodaevangelizacao.com/os-principios-e-teologia-da-iniciacao-a-vida-crista/ Wed, 06 Apr 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44748 [Leia mais...]]]> Organizado pela Comissão Episcopal de Animação Bíblico-Catequética da CNBB, teve início hoje, 5 de abril, e se estende até o dia 7, o Seminário Nacional de Iniciação à Vida Cristã (IVC), voltado para Presbíteros de todo o Brasil, realizado totalmente on-line. Padre Jânison, assessor da Comissão, salientou que o seminário visa animar e motivar todos os presbíteros para que possam assumir sempre mais o projeto da Iniciação à Vida Cristã em suas comunidades.

O mundo mudou e a fé já não se transmite naturalmente

Dom Joel Portella Amado, Secretário Geral da CNBB, deu abertura ao Seminário acolhendo a todos os presentes, manifestou desejo de bons frutos nesta iniciativa e destacou que permanece a urgência da IVC. O mundo mudou não estamos na cristandade, desapareceu o chamado “catecumenato social”. As grandes instituições sociais, entre elas a família, já não transmitem a fé. Nas mãos dos presbíteros está, em grande parte, os rumos da ação evangelizadora. São séculos de uma pastoral de conservação e é difícil fazer diferente. Somos afetados por um jeito de fazer pastoral, mas o momento agora é diferente, exige ir além, buscar novos caminhos para a IVC.

Dom Waldemar Passini (da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética) bispo de Louisiânia, salientou que muitas de nossas comunidades já não manifestam sua vitalidade pelo número de fieis, mas pela capacidade de gerar. Não temos um “catecumenato social”, esta tarefa é dos cristãos católicos, missão de transmitir a tradição viva que nos alcançou: o encontro com Jesus Cristo que dá um novo horizonte para a vida. Como os discípulos de Emaús, a partir do encontro com Jesus voltar para anunciar a experiência da vida nova que nos alcançou. Com ardor, com entusiasmo para iniciar novos irmãos nesta vida, com discípulos missionários. Isso é iniciar na vida cristã.

Dom João Francisco Salm, Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, insistiu em três pontos importantes para a IVC. 1. Uma advertência, pois nossa maior ameaça: “tudo vai degenerando em mesquinhez” (Bento XVI); bem como o “desabafo” de Francisco: a pior descriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual, há uma abertura à fé. Neste sentido, a Opção Preferencial pelos Pobres deve traduzir-se em zelo pastoral. 2 Sobre definição de IVC. Processo a ser vivido é bonito, mas exigente. “Ou seremos místicos ou não seremos cristãos” (K. Rahner), exige uma mudança existencial, uma nova vida, uma nova identidade. A pessoa precisa ser iniciada de forma que a pessoa se sinta realmente tocada em profundidade, o que torna essencial a comunidade e a missão dos pastores. Por fim, Mais que entrar na Igreja, os fieis devem ser acolhidas nelas. A comunidade toda é responsável pela IVC. Uma urgência que precisa ser assumida com decisão, coragem e determinação. Não podemos delegar a terceiros essa missão, temos de abraçar, ajudar a fazer das comunidades ambientes que acolham.

A Iniciação à Vida Cristã à luz do Documento 107.

Pe. Abimar Moraes, da PUC-Rio, iniciou ressaltando que vivemos uma mudança de tempo, mudanças culturais, mudanças que exigem pensar e repensar a transmissão da fé. A inspiração catecumenal da catequese é o caminho para a IVC, apresentada, eleita pela CNBB para a Igreja do Brasil. Foi o tema central da 55ª Assembleia Geral da CNBB (2017), com a publicação do Doc. 107. “Iniciação à Vida Cristã: itinerário para a formação de discípulos missionários”. O texto procura mostrar o caminho que a Igreja do Brasil vem fazendo e as orientações para a IVC.

Qual a contribuição dos presbíteros para o processo de IVC neste processo catecumenal? A IVC é modelo e paradigma inspirador para a vida da comunidade eclesial missionária. Nesta mudança de época que afeta o modo de ser e de compreender das pessoas, exige também mudanças no modo de transmissão da fé. Ninguém nasce cristão ou entra na vida cristã por uma herança cultural, mas torna-se cristã por um processo de IVC que acontece dentro da catequese. Um “mergulho no mistério de Deus e da Igreja”.

Qual a proposta da Iniciação à Vida Cristã? Inspirada em Aparecida, trata-se de uma ação de toda a comunidade que ao assumi-la, renova a vida interna e desperta seu caráter missionário (DAp. 291). Um dos caminhos de conversão pastoral na vida da Igreja. Trata-se de repensar a comunidade e a Igreja internamente para que possa abrir-se mais para a dimensão missionária. Trata-se de um “nascer para a Igreja” a partir dos conceitos de comunhão, participação e missão eclesial. Para a CNBB a IVC tem relação com situações que nos transformam em pessoas novas e por isso exige preparação.

Por fim ressaltou o que é a inspiração catecumenal? Mais que um método, uma dinâmica, uma pedagogia, é uma mística, um momento de entrada (sem fim) progressiva na busca de Deus para a fé cristã, “mergulhar” no mistério profundo de Deus. Não é um modo novo (método, ou pedagogia) de fazer catequese. Trata-se de pensar o modo de introduzir, acolher o novo membro de fé na comunidade católica. Propiciar meios para que a comunidade seja capaz de reconhecer sua missão de gerar novos filhos(as) na experiência de fé.

A teologia da Iniciação à Vida Cristã

Dom Antônio Luiz Catelan Ferreira, iniciou  a abordagem desse tema destacando que há uma fragmentação, já constatada pela CNBB, entre os sacramentos da IVC e os sete sacramentos como um todo, também uma fragmentação entre sacramentos e evangelização e entre fé e vida. Superar essa fragmentação já era um dos anseios do Documento Catequese Renovada, há 39 anos atrás.

O Documento 107, da CNBB, n. 123, indica que há um nexo profundo entre os sacramentos de iniciação e o processo de IVC. “Há um nexo profundo entre a realidade dos sacramentos da iniciação e o itinerário catecumenal que a eles conduz. Em determinados períodos da história da Igreja foram até chamados conjuntamente de “o sacramento da iniciação”, para expressar sua profunda interação. Isso é importante para que superemos a atual fragmentação existente entre os três sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.” Mas na prática ainda há uma grande luta para superar essa fragmentação, conforme no número 128 deste Doc. 107: “Em nossa prática pastoral, por motivos históricos e culturais, os três sacramentos da Iniciação à Vida Cristã estão, em geral, desconectados”.

Fruto de variados acontecimentos históricos, a perda da unidade, entre Palavra, Sacramento e Caridade, desembocou na consequente perda da unidade do Kerigma. O desafio é superar a fragmentação dos sacramentos da IVC e entre catequese e ritualidade. Unidade entre o que se crê, ora e vive.

De maneira rica e bem fundamentada, procurou destacar a unidade dos sacramentos entre si e o processo catecumenal como um todo. E por fim destacou o n. 124 do Doc. 107 da CNBB como caminho para constante alimentar-se de Cristo que se transforma numa amizade feliz que dá sentido à vida: “Os processos iniciáticos, que culminam nos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã, introduzem o crente no mistério de Cristo e da Igreja. Neste sentido, a expressão “Iniciação à Vida Cristã”, se refere tanto ao caminho catequético catecumenal de preparação aos sacramentos, quanto aos próprios sacramentos que marcam a iniciação e a vida nova que deles nasce”.

Terminou salientando a unidade dos sacramentos em geral e em especial da unidade dos sacramentos da Iniciação à vida Cristã por meio do vinculo com a Trindade: No Batismo o vínculo com o Pai, do qual somos filhos; na Crisma, o vínculo com o Espírito que nos reveste de seus dons, na Eucaristia, vínculo com Cristo que nos alimenta.

O segundo dia será dedicado ao Kerigma e mistagogia na IVC e ao caminho de implementação da IVC.

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Denilson Mariano
É religioso missionário sacramentino, Mestre e Doutor em Teologia (FAJE), Licenciado em Filosofia (PUC Minas), presidente do Movimento Boa Nova (MOBON) e agente da formação de cristãos leigos e leigas.  É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), apoiador da Animação Bíblica da Pastoral no Regional Leste II da CNBB e membro da Equipe Executiva do Observatório da Evangelização. 

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Um desafio para a Igreja: que formação oferecer aos futuros padres? https://observatoriodaevangelizacao.com/um-desafio-para-a-igreja-que-formacao-oferecer-aos-futuros-padres/ Mon, 28 Aug 2017 20:19:56 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=23793 [Leia mais...]]]>

Quais os maiores desafios e urgências para a atual formação para ser padre?

Pessoas implicadas e diretamente envolvidas na temática em questão, respondem. Vale a pena ler e deixar-se provocar. Muito se tem escrito sobre a necessidade de profundas transformações na formação oferecida ao clero. E você, o que pensa sobre isso?

A equipe do OE PUC Minas publica reflexões sobre os desafios de ser padre na contemporaneidade. Essa segunda reportagem também nos vem do contexto europeu e diz respeito à formação oferecida nos seminários. Acompanhe-nos e contribua com sua reflexão crítica sobre esta importante questão diretamente envolvida na ação evangelizadora da Igreja.

Reflexões sobre a formação proposta nos seminários

 

Domingo, 25 de junho, o semanal diocesano de Vicenza (La Você dei Berici) e de Pádua (La Difesa del Popolo) chegavam às bancas com um mesmo artigo intitulado “Padres: qual a formação ideal?“. Uma pluralidade de vozes respondia a esta pergunta através de artigos, depoimentos e entrevistas.

O ponto de partida é uma constatação. Em 31 de dezembro de 2014, havia na Itália 2.439 seminaristas. Dez anos antes (2004), eram 3.145. Em dez anos, o declínio foi de 12%. As Igrejas do Triveneto contam 284 seminaristas. Há um alarme no sentido numérico quanto aos sacerdotes, mas há também uma profunda reformulação sobre a formação que recebem nos seminários para lidar com um mundo em rápida mudança.

O debate nos dois semanários foi iniciado por um artigo do jesuíta Hans Zollner, presidente do Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana. Padre Zollner recorda que a formação dos futuros sacerdotes está ocorrendo enquanto testemunhamos a grandes mudanças na sociedade e na cultura. Basta olhar como hoje se estrutura a família italiana

“unidades cada vez menores, cada vez mais instáveis e com relações patchwork (de composições variadas)”.

E basta pensar da revolução da informática

“os seminaristas de hoje também são em sua maioria nativos digitais, ou seja, cresceram e se acostumaram a estar constantemente conectados com seus seguidores ou amigos nas várias plataformas das redes sociais”.

Será necessário educar o seminarista “para o silêncio e para ficar ‘conectado’ com a realidade divina”.

Além disso, aqueles que entram no seminário são, às vezes, desconhecedores dos fundamentos da prática religiosa: catequese, liturgia, Escritura, história e tradições da Igreja etc. Portanto, é imprescindível “uma fase preliminar de introdução para os ritos, os temas fundamentais e a prática de uma vida cristã”.

Entre os aspectos positivos encontrados naqueles que entram para o seminário, pode se destacar – de acordo com o padre Zollner – certa sensibilidade espiritual, uma boa motivação vocacional e muitas vezes (devido ao ingresso para o seminário em idade relativamente adulta) também uma rica experiência humana. Por outro lado, há uma tendência a “uma vida fragmentada” (uma vez cumprido meu dever como padre, faço o que eu quero da minha vida), uma não clara identidade sexual e uma hesitação em assumir laços duradouros e comprometidos.

O sacerdócio – conclui o padre Zollner – é uma bela vocação, e quando é vivida “com autenticidade e proximidade com as pessoas, é muito admirada e procurada”. Mas “apenas se forem suficientemente maduros em termos de vida humana, espiritual e acadêmica, os seminaristas poderão ser eficazes pastoralmente”.

Homens de Deus e homens de relação

O objetivo do seminário?

“Formar um padre que seja um homem de Deus e um homem de relações”. Evangelho, oração e recolhimento visam cultivar o primeiro aspecto. Vida comunitária, experiência pastoral e diálogo educacional têm como alvo o segundo.

Assim respondeu dom Giampaolo Dianin, há oito anos reitor do seminário de Pádua e responsável pela Comissão dos seminários da Conferência Episcopal do Triveneto.  Para atingir esses objetivos,

O seminário precisa colocar “uma atenção realista para o amadurecimento humano”, deve fornecer a “capacidade para discernir dentro das imensas mudanças sociais e pastorais” e deve formar “personalidades flexíveis, porque tudo muda em velocidades muito rápidas”.

A comunidade e a família não são mais um “recurso educacional”, como eram antigamente, os percursos de formação “estão cada vez mais personalizados nos tempos e nas etapas” e os tempos das escolhas definitivas “alongaram-se”. Mas – segundo dom Dianin – não é possível “fazer concessões.” Alguns “pontos-chave” devem ser obrigatoriamente salvaguardados.

Não é apenas uma “forte vigilância sobre o mundo afetivo”, é preciso cultivar outras virtudes essenciais, tais como “a docilidade e a disponibilidade, a capacidade relacional e de colaboração, um estilo de vida evangélico”. Também é preciso evitar que o seminarista se resuma a tratar as pequenas coisas da vida, esquecendo os problemas do mundo e os desafios diários.

Para a pergunta “que tipo de padres forma, hoje, o seminário?”, dom Dianin respondeu:

“Gostaríamos de conseguir formar personalidades sólidas, com fortes raízes em Deus e com disponibilidade à doação de si mesmo. Homens capazes de estar no mundo sem ser do mundo. Crentes capazes de discernir, de pensar e de planejar”.

O atual tipo de seminário precisa ser alterado

Também para dom André Peruffo, padre de Vicenza, diplomado em psicologia, consultor de psico-diagnóstico no seminário de Vicenza, foram dirigidas algumas perguntas. Ao entrevistador que o questionava sobre as diferenças entre padres jovens e idosos, dom André ressaltou a sua base comum,

“o desejo de se envolver com as pessoas, o entusiasmo para viver seu ministério”. A diferença está na carga de trabalho. As paróquias atualmente estão organizadas em “unidades pastorais cada vez maiores. E isso é uma fonte de preocupação para muitos sacerdotes jovens.

O ponto nodal continua sendo a formação:

entre a formação recebida no seminário e aquela (permanente) que deve acompanhar o sacerdote por toda a sua vida, deve haver “uma relação muito estreita”. “A vida – declara dom Peruffo – deve ser vivida numa perspectiva de ‘formação’ em que nos permitimos mudar, sermos transformados pela própria vida”.

Que características um sacerdote precisa ter, hoje, para enfrentar uma realidade em constante movimento?

“No passado – responde dom André – procurava-se homens capazes de suportar a solidão. Hoje, no entanto, precisamos de pessoas capazes de desenvolver competências sociais para processos colaborativos, como pedir ajuda, gerenciar conflitos, valorizar os indivíduos, trabalhar em grupos etc.”

O seminário prepara para essas competências? A resposta de dom Peruffo é seca:

“Na forma atual, não”. A instituição seminário pode ainda ser mantida, “mas é preciso mudar a formação para o ministério”.

Da mesma opinião, e com sua franqueza habitual, a teóloga Stella Morra afirma:

“Os padres de hoje ainda são aqueles do modelo tridentino a quem cabe gerenciar a fase pós-conciliar e pós-moderna”. Deve ser radicalmente repensada a figura do sacerdote, porque “se não for repensada esta, também não serão repensados os seminários”.

 

Sacerdotes e leigos

Que tipo de relação entre sacerdotes e leigos importa nos tempos de hoje?

Nós escolhemos duas vozes, um homem e uma mulher, para responder a esta pergunta.

A) Interessante o que afirma Marco Tuggia, pedagogo e docente no seminário de Vicenza.

Em sua opinião, o processo de formação dos novos padres deveria incluir três áreas.

1. O sacerdote precisa aprender a “deslocar-se do centro do palco”, porque é fundamental que ele “aprenda a construir em conjunto com os outros as decisões a serem tomadas”. O povo de Deus, de fato, não é desprovido de experiência e de saberes. O padre é chamado a “facilitar os processos de colaboração e co-projeto”.

2.  Competências necessárias para trabalhar concretamente em grupo: O sacerdote deve “saber se posicionar dentro de uma dimensão compartilhada”, tanto com outros sacerdotes como com os leigos.

3. Capacidade de ouvir as pessoas: “O sacerdote deveria saber ouvir realmente, por estar livre da preocupação de ter que dar soluções”. Mas isso vai exigir uma profunda transformação, porque ele “não seria mais obrigado a estar um passo à frente das pessoas da sua comunidade, mas, finalmente, ao seu lado”.

B) Da mesma opinião é Gina Zordan, vice-presidente do setor de adultos da Ação Católica de Vicenza:

“Os sacerdotes deveriam ser capazes de ouvir a vida dos leigos que estão em contato direto com a realidade”, preenchendo assim aquela lacuna que às vezes é criada entre as noções adquiridas e a vida real.

Pelo que ouvimos, pode-se deduzir que o seminário é hoje um problema sério e que a formação que proporciona é um campo em reestruturação. Desses seminários saem os sacerdotes que orientarão as comunidades cristãs do amanhã. Abertos à modernidade, mas ancorados a determinados, irrenunciáveis “pontos fixos”.

(A reportagem é de Bruno Scapin,  publicado por Settimana News, 17-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini. Os grifos são nossos.)

Fonte

IHU

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