Política – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 28 Sep 2022 20:13:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Política – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 A Democracia, os Afetos e o Bem Comum: lições de Francisco aos nossos tempos https://observatoriodaevangelizacao.com/a-democracia-os-afetos-e-o-bem-comum-licoes-de-francisco-aos-nossos-tempos/ Wed, 28 Sep 2022 20:13:52 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46052 [Leia mais...]]]> A Democracia, apesar de todos os seus desafios, permite a construção de um horizonte de sociedade mais plural, que atesta as singularidades, as vulnerabilidades e propõe um caminho de construção social em direção aos valores humanos mais fundamentais, pois são os mais coletivos e, portanto, humanistas: a liberdade e a igualdade.

Devido ao fato de as sociedades serem obrigadas a lidar com complexidades do mundo contemporâneo, a sensação de muitos é de que a democracia se mostra esgotada ou insuficiente. Nesses momentos, é urgente a tarefa de lembrarmos da História. O século XX se mostrou sangrento, com feridas éticas profundas, sobretudo propiciadas pelos seus maiores totalitarismos: o nazismo e o fascismo. A solução para os problemas sociais não está em uma atitude ideológica que se sustenta em um pensamento que propõe verdades absolutas. A História mostrou que verdades absolutas produzem sangue, mortes e exclusão. É por isso que em todo discurso totalitário existe a imputação de culpa pelas mazelas sociais em algum grupo, por exemplo, nos imigrantes (como acontece agora na Itália, lamentavelmente, pois mostra que parte daquele povo não realizou bem o exercício da memória). Comumente também o ódio gera homofobia, machismo, racismo, aporofobia (aversão aos pobres). Ou seja, o real sentido da Política (prática que significa, em sua concepção mais genuína, a busca pelo Bem Comum) fica esvaziado em qualquer postura totalitária e antidemocrática. Em um mundo cada vez mais complexo, seja devido aos desafios das novas tecnologias, seja pela urgência ecológica, é ingênuo (mas também perverso) imaginar que todos os problemas poderão ser solucionados seguindo um rito pré-estabelecido. Na Democracia, é possível encontrarmos caminhos de revisão, de novas narrativas e novos rumos, atestando os erros. Por isso mesmo, em um sistema totalitário não está muito presente a dimensão humana do perdão, mas do ódio e da vingança. Por isso, os afetos mais associados à democracia são a esperança e a reconciliação. Já aqueles associados aos totalitarismos são do medo e do ressentimento. O medo é o que leva as pessoas a aceitarem soluções (aparentemente) rápidas e fáceis, mesmo que represente exclusão daqueles que são diferentes de nosso horizonte de existência. Comum em nossa época, como num livro de autoajuda, mitologicamente. O afeto mais ressaltado é o individualismo, egoísmo e, assim, o bem comum não interessa mais, pois o narcisismo impera. Por isso tais tendências buscam tantos mitos, ídolos. Imaginam que todos os problemas estarão resolvidos, a violência diminuirá, os que incomodam estarão distantes e a paz reinará. Devemos manter as utopias e superar as ideologias, como diria o filósofo Paul Ricoeur. A utopia indica um horizonte de mundo, com direitos fundamentais em seu foco. Um horizonte pode reencontrar caminhos, imaginar novos e rever outros. Na ideologia, há a promessa de um fim da história, se seguirmos um trajeto definido, alcançaremos a paz. Dentro do ideal democrático, necessitamos de utopias e não de ideologias.

É comum também que esses discursos conservadores (de valores que mantem sua posição de privilégio) afirmem que o passado era melhor (pois algum grupo está contribuindo para a desconstrução daquela sociedade) ou se fundamentem em discursos de uma ordem metafísica ou natural. No primeiro, é comum dizerem, por exemplo, que décadas atrás eram melhores no Brasil, pois havia menos violência, mais respeito aos pais e a educação era melhor. Ora, a violência era comum nas famílias (pais que usavam a violência contra filhos, deixando diversos traumas), o “respeito” existia pelo medo e a educação era apenas para uma elite. Apenas a partir da nossa constituição democrática é alcançamos a universalidade educacional nesse país. Não há dúvida que em três décadas avançamos, para todos, mesmo que tenhamos ainda desafios diversos. O segundo discurso é de natureza mais perversa ainda, é aquele que afirma, por exemplo, que a mulher deve permanecer fiel à sua “missão” necessária de mãe, do lar, sem lutar pelos seus objetivos, pela sua vida, livre. Ambos os discursos são cínicos, ignorantes e perversos. Há consequência em suas afirmações. Assim, os discursos totalitários criam mundos paranoicos, irreais e que buscam manutenção de lugares privilegiados. Na Democracia, podemos buscar entender o real, encontrarmos soluções para o bem comum. Não é possível pensarmos democraticamente sem diversidade, pluralismo e buscando, incessantemente, o bem comum, não apenas o bem de seus negócios, de sua vida privada ou de sua família. A Democracia pressupõe uma racionalidade discursiva, inserida em diálogo, que gere entendimento mútuo real. Por isso, os discursos de tecnocratas apenas impedem o alcance e a efetivação de um horizonte democrático genuíno. As técnicas (como visões de mundo a partir de uma área do conhecimento) não podem ofuscar as alteridades em sua diversidade e realidade. A política deve ser o diálogo incessante em direção ao bem comum.

Como afirma a filósofa Hannah Arendt, sem a dimensão da vida compartilhada, um autêntico sensus communis, não seria possível ao homem saber-se real, ou seja, ele não poderia confiar em seus sentidos sensoriais. Não poderia distinguir se existe ou se não passa de um sonho, tal como relata Primo Levi ao falar sobre os reflexos que o regime de segregação criado pelas leis fascistas impôs a si por ser judeu, já que ele teria sido condenado a “viver num mundo só meu, um tanto apartado da realidade, povoado de racionais fantasmas cartesianos” (LEVI, 1988, p.11). Assim, podemos também afirmar que a ação política não é meio para atingir qualquer fim, sendo sinônimo necessário de liberdade. A liberdade constitui o humano. Aqui podemos ressaltar, a liberdade acrescida às atestações das vulnerabilidades expostas. A Democracia real pode estar próxima aos ideais sinceramente cristãos, pois entende que Deus está entre nós. Aqui podemos lembrar e escutar o Papa Francisco.

Francisco nos alertou, recentemente, sobre as “injustiças e discriminações contra os pobres” de todo o mundo em uma missa para encerrar o 27º Congresso Eucarístico Nacional da Itália. “As injustiças, as disparidades, os recursos da terra distribuídos de forma desigual, os abusos dos poderosos contra os fracos, a indiferença ao clamor dos pobres, o abismo que cavamos todos os dias, gerando marginalização, todas estas coisas não nos podem deixar indiferentes”. Segundo o Pontífice, uma Igreja “eucarística” é feita “de homens e mulheres que se partem como pão para todos aqueles que mastigam a solidão e a pobreza, para aqueles que têm fome de ternura e compaixão”. “Deus pede então uma conversão eficaz: da indiferença à compaixão, do desperdício à partilha, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade”, acrescentou.

Do individualismo à fraterno podemos encontrar um horizonte de perdão, lembrando Dom Vicente Ferreira (2020, p. 21): “Assumir a palavra perdão diante de um cenário de tragédia é também colher a possibilidade de outra linguagem que não aquela do reparo, da devolução, da reconstrução, somente. A paixão de Jesus desvela a violência de uma estrutura, de um sistema que promove os grandes e exclui os pequenos”.

Referências

  • LEVI, Primo. É isto um Homem? Trad. Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
  • ARENDT, Hannah. The Promise of Politics. New York: Schocken Books, 2005.
  • ______   O Que é Política? Trad. Reinaldo Guarany. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
  • RICOEUR, Paul. L´Idéologie et L´Utopie. Paris: Seuil, 1984.
  • FERREIRA, Dom Vicente e DENTZ, René. Horizontes de Perdão. São Paulo: Ideias e Letras, 2020.
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Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista semanal da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

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A Arquidiocese de Belo Horizonte e a luta contra o Rodoanel https://observatoriodaevangelizacao.com/a-arquidiocese-de-belo-horizonte-e-a-luta-contra-o-rodoanel/ Thu, 12 May 2022 21:30:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44956 [Leia mais...]]]> A luta contra o Rodoanel de Belo Horizonte é, sobretudo, em defesa da nossa Casa Comum e está em plena sintonia com os princípios ecoteológicos e humanísticos das cartas Encíclica Laudato Si’ e Fratelli Tutti, da Economia de Francisco e Clara, do Pacto Educativo Global, bem como do documento final do Sínodo para a Amazônia.

A Arquidiocese de Belo Horizonte, cujo território episcopal poderá ser intensamente impactado pela referida obra viária, tem contribuído na defesa do meio ambiente e das comunidades tradicionais, contra o Rodoanel, por meio do Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental, da Academia dos Juristas Católicos Humanistas de Belo Horizonte e da Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz.

No dia 4 de maio de 2022, os movimento socioambientais Salve Santa Luzia e SOS Vargem das Flores, protocolaram na Procuradoria-Geral do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, uma Manifestação de Apoio da Academia dos Juristas Católicos Humanistas de Belo Horizonte e da Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte, à Representação dos deputados Rogério Correia (PT) e Beatriz Cerqueira (PT) sobre os impactos socioambientais e étnico-culturais do Rodoanel sobre as cidades metropolitanas[1].

O Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte

O Rodoanel se apresenta como uma rodovia de trânsito rápido destinada, especialmente, ao escoamento interestadual de carga pesada e de baixo valor agregado como o minério de ferro. Possuirá de 200m à 500m de largura por 100,6Km de extensão, os quais perpassarão mais de 10 municípios da RMBH entre a BR381 em Sabará e a BR040, na saída para o Rio de Janeiro. A obra custará R$4,5 bilhões, dos quais R$3,5 bilhões advém do acordo de compensação entre a mineradora Vale e o Estado de Minas Gerais, pelo crime do rompimento da barragem B1, Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, em 2019, que vitimou mais de 200 pessoas. Não obstante, a Parceria Público Privada do Rodoanel prevê um contrato de concessão de 30 anos, bem como a cobrança de pedágios entre R$0,28 à R$0,32 por Km rodado e uma estimativa de arrecadação de R$6,4 bilhões pela concessionária. O projeto estabelece que os estudos de impacto da obra só serão realizados pela empresa contratada após o leilão. A mesma empresa terá a autonomia para modificar o traçado do Rodoanel segundo o seu interesse econômico.

A luta popular contra o Rodoanel

 Desde 2021, vários movimentos sociais, ambientais e pastorais da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), como a Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, o Serra Sempre Viva de Ibirité, o SOS Vargem das Flores de Contagem e o Salve Santa Luzia de Santa Luzia, tem defendido a ideia de que o Rodoanel Metropolitano é uma obra que gera destruição socioambiental local e contribui para a crise climática regional e planetária.

Os referidos movimentos participaram de todas as Audiências Públicas e do Seminário realizados pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) do Governo de Minas, para discutir o projeto do Rodoanel. Destarte, constatou-se que os protocolos de divulgação do projeto, bem como os das consultas públicas e da promoção da participação popular, adotados pela Seinfra, resultaram em notória desinformação por parte dos munícipes das cidades da RMBH.

As Audiências Públicas foram recorrentemente, marcadas às pressas, em horário comercial, em localidades de difícil acesso para a população das cidades da RMBH e sem um protocolo de divulgação social eficiente. Tratou-se de reuniões esvaziadas em que os gestores do referido projeto fizeram proselitismo impositivo do Rodoanel, não apresentaram pesquisas que esclarecessem a população sobre os impactos do empreendimento nas cidades, nem estudos que comprovassem a efetividade dos objetivos da obra e ignoraram completamente as preocupações e anseios apresentados pelos movimentos sociais, ambientais e pastorais.

Os vários problemas e inconsistências da condução do projeto do Rodoanel, constatados durante 20° Reunião Especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, à 26 de novembro de 2021, resultaram no pedido, do presidente da casa legislativa Agostinho Patrus (PSD), de suspenção dos trâmites do projeto para a realização de auditoria pelos deputados. Não obstante, à 21 de janeiro de 2022, o governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Seinfra, publicou o Edital n°001/2022 de licitação e concorrência internacional do Rodoanel, sem diálogo com a população, com as prefeituras municipais e com a Assembleia Legislativa. E recentemente foi marcado o leilão do Rodoanel na Bolsa de Valores de São Paulo para o dia 28 de julho.

Frente as várias irregularidades identificadas no projeto do Rodoanel, bem como o seu grande potencial poluidor e degradador, afetando o meio ambiente, comunidades quilombolas, sítios arqueológicos e bairros urbanos periféricos, o deputado federal Rogério Correia (PT) e a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) protocolaram uma Representação na Procuradoria-Geral do Ministério Público de Minas Gerais

Leia abaixo o documento escrito pela Academia dos Juristas Católicos Humanistas de Belo Horizonte e a Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz:

 

EXMO. SENHOR PROCURADOR GERAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

A Academia dos Juristas Católicos Humanistas de Belo Horizonte (AJUCH/ABH) e a Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte (CAJP), ambos órgãos ligados à Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte, vêm, em nome de seus representantes e membros, apresentar MANIFESTAÇÃO DE APOIO aos pedidos apresentados na Representação protocolada sob o número 20220019191 perante ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais, quais sejam:

a)Instauração de inquérito civil público para apurar as potenciais irregularidades e ameaças às comunidades quilombolas referidas, bem como e à integridade do patrimônio histórico inerentes às referidas comunidades;

b)Requerer os estudos preliminares de impacto junto ao Poder Público Estadual proponente;

c)Acompanhar as alterações eventuais no traçado projetado para o Rodoanel e seu impacto nas comunidades objetos desta representação;

d)Oitiva de especialistas, entidades e organizações da sociedade civil de defesa das comunidades quilombolas e do patrimônio histórico;

e)Adoção de medidas judiciais obstando assegurar a preservação das comunidades, do patrimônio histórico e do patrimônio público.

Os manifestantes reafirmam a importância constitucional de ouvir formalmente os setores da sociedade civil com o fito de evitar a violação de direitos coletivos de suma importância para toda à sociedade. A Representação protocolada chama a atenção deste importante Órgão Público para as diversas irregularidades que podem ser constatadas com a construção do Rodoanel. Impactos na flora, fauna, rios e nos povos quilombolas merecem a investigação e apuração pelo parquet.

Os representantes denunciam irregularidades que violam diretamente importantes dispositivos constitucionais. Ora, não se pode deixar de averiguar as informações trazidas pelos Movimentos Sociais, uma vez que são estes sofrem diretamente os impactos da obra em comento. Destaca-se o trecho em que se coloca em evidência irregularidades que merecem ser verificadas pelo MP, vejamos:

Os documentos integrantes do projeto do Rodoanel evidenciam uma série de irregularidades e ilegalidades que atingem áreas de preservação ambiental, ameaça a bacias hidrográficas imprescindíveis ao abastecimento humano e demais usos razão do traçado apresentado, bem como ordenamento urbano dos municípios.

De igual forma, o referido o traçado proposto originariamente afeta direta ou indiretamente as comunidades quilombolas indicadas anteriormente, bem como o patrimônio histórico, sendo que a maioria destas comunidades também estão associadas ao culto religioso de matriz africana, devendo, pois ser preservadas e protegidas.

Ocorre que, não se identifica dentre os projetos os estudos prévios de impacto da obra de grande magnitude, notadamente em relação ao meio ambiente, organização urbana, nem tampouco os efeitos do empreendimento em relação às comunidades quilombolas e religiosas indicadas, constituindo ameaça real desconsiderada pelo Poder Público Estadual, devendo, pois, ser objeto da atuação dos órgãos de controle e de proteção da sociedade e patrimônio público, em particular o Ministério Público Federal.

Nesse diapasão, em atenção aos direitos constitucionais e coletivos apresentados na representação, a AJUCH/ABH e a CAJP vêm, em nome de todos os seus membros e dirigentes, manifestar apoio à causa apresentada ao Ministério Público de Minas Gerais, bem como requerer que sejam apuradas as denúncias apresentadas.

Belo Horizonte, 05 de abril de 2022.

Professor Marciano Seabra de Godoi – Presidente da AJUCH/ABH
Academia dos Juristas Católicos Humanistas da Arquidiocese de Belo Horizonte

Professor José Luiz Quadros de Magalhães – Presidente da CAJP
Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte


[1] Vídeo do Ato em frente ao Ministério Público de Minas Gerias na entrega da Manifestação de Apoio: https://www.facebook.com/100003188967630/videos/385201936834528/

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Glaucon Durães da Silva Santos
Católico leigo da paróquia Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, Santa Luzia/MG, doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas, professor de Sociologia, membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais e colaborador jovem do Observatório da Evangelização da PUC Minas. Desenvolve pesquisa nas áreas da Sociologia da Religião e da Sociologia Política
Atualmente é representante da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte (Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia) no Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Santa Luzia.

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Sabedoria, amor e paz: fraternidade e alteridade. https://observatoriodaevangelizacao.com/sabedoria-amor-e-paz-fraternidade-e-alteridade/ https://observatoriodaevangelizacao.com/sabedoria-amor-e-paz-fraternidade-e-alteridade/#comments Wed, 16 Mar 2022 19:15:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44292 [Leia mais...]]]>

Em momentos de guerra, não tem como não ficarmos espantados pelas cenas de horror e barbárie de sofrimento, destruição e genocídios que estamos vendo na Ucrânia. O povo sofre, os refugiados se multiplicam. Em pleno século XXI, não acreditamos ser possível presenciarmos um conflito que pode tomar proporção enorme ser concretizado pela falta de habilidade democrática das nossas instituições, além do contraste de pensamento de parte do mundo, que não se situa dentro de um horizonte de democracia e pluralidade.

Após a segunda guerra mundial, diversos filósofos se perguntavam sobre o porquê do holocausto, da ascensão de regimes sangrentos e totalitários e, sobretudo, o que teríamos aprendido com a História e como poderíamos evitar novos eventos do tipo. É verdade que a criação da ONU e a consolidação de tratados de direitos humanos e avanços no direito internacional e humanitário propiciaram um fortalecimento da democracia e do consequente diálogo. Por outro lado, em diversos momentos e contextos regimes democráticos são atacados pela via das decisões não-racionais, pelos afetos, sobretudo pelo medo e pelo ódio. A xenofobia é um exemplo disso. A falência das democracias europeias, em sua maioria, que lidam bem com a liberdade, mas não com a fraternidade.

Qualquer ato contra a vida, inserido em ideologias, religiões ou políticas totalitárias ou democráticas exemplifica a barbárie e o fracasso da humanidade. Quando o Estado (mínimo) permite a existência de pessoas vivendo com o mínimo necessário à sua dignidade, sem moradia, comida, educação, aí está a barbárie! Também quando um regime fuzila pessoas que se colocam politicamente contrárias ao seu regime, também está aí a barbárie!

Theodor Adorno, filósofo alemão contemporâneo, afirmou que o mais urgente de pensarmos é uma educação que, de todas as maneiras, evite um novo holocausto, novo Auschwitz. Como fazer isso em termos globais hoje? Certamente não será por uma via de isolamento e ausência de diálogo. Todo movimento contrário à democracia, à ciência e a uma globalização efetiva não se colocam como vias eficazes. Logicamente, democracia e globalização devem andar juntas, de forma que os problemas globais sejam enfrentados de forma real, efetiva e verdadeiramente conjunta. A economia global, empresas, agentes financeiros, não podem ignorar os problemas sociais, as feridas à democracia e à vida. Um regime que tire a vida de forma banal não deve ser considerado da mesma maneira em negociações. É preciso limitar as hipocrisias. Temos que condenar todos os sistemas totalitários, sejam aqueles motivados por critérios fundamentalistas religiosos, sejam aqueles baseados em ideologias.

O problema não é a globalização em si, mas sim o fato dela ser motivada apenas pela esfera econômica. Nacionalismos, extremismos, xenofobia devem ser constantemente desconstruídos. O sentimento proveniente da existência do Estado-Nação deve dar lugar àquele originado de uma solidariedade universal.

Paul Ricoeur, filósofo francês, afirma que, diante de situações-limites, nos aproximamos. É a partir do testemunho de Lucie Hacpille, médica de cuidados paliativos, que essa distinção se opera claramente para o filósofo. De acordo com a médica, os doentes prestes a morrer não têm a percepção de si mesmos enquanto “moribundos”, isto é, como quem vai morrer daí a pouco, mas antes como “ainda vivos”, ainda que não mais estejam que a alguns minutos do seu falecimento. Para o “agonizante”, “ainda estar vivo” significa a emergência da mobilização dos recursos mais profundos da vida, que lhe permitem ainda se afirmar. Ela é, por assim dizer, o “Essencial” na trama do tempo da agonia. Esse “Essencial” que é, em certo sentido, o religioso, ou o religioso em comum, o qual transgride as limitações consubstanciais ao religioso confessional e confessado no limiar da morte. Em momentos de sofrimento dos povos, nos aproximamos em Espírito. Esse momento de mobilização é um momento de graça interior. Ele remete para a aparição da “coragem de estar vivo até à morte” quando a vida se escreve, face à morte, com um V maiúsculo. Contudo, pensar esse momento e a sua força, é também correr o risco de resvalar para a literatura sobre as experiências místicas: por isso mesmo, é preciso saber simultaneamente dar mostras de alguma desconfiança, enquanto se acolhe a graça interior de um determinado morrer.

Ricœur atesta o “olhar” da “compaixão” daqueles que lutam juntamente ao agonizante e os que o acompanham até à morte (Ricoeur 2007, 41). Esse “olhar” diferencia-se daquele que vê o agonizante como um moribundo que em breve deixará de viver. Não é também o do espectador que já se adianta à morte: esse “olhar” também vê o agonizante como “ainda vivo”. Também ele faz um apelo aos recursos mais profundos da vida, como se fosse levado pela emergência do “Essencial” na sua vivência de ainda-vivente. A “compaixão” não significa aqui somente o “sofrer-com”, mas também o “lutar-com” e o “acompanhamento” (Ibid.). Ela torna possível a partilha de um movimento de transcendência íntima. Ricœur desenvolve, de forma bastante fina, o “acompanhamento” do “agonizante” como “amizade no morrer acompanhado”.

É o que estamos presenciando na Ucrânia. O Papa Francisco enfatizou o drama e a realidade do conflito: “Rios de sangue e lágrimas correm na Ucrânia, não se trata apenas de uma operação militar, e sim de uma guerra que que semeia morte, destruição e miséria” (Angelus, 06/03/2022). Como não se comover com famílias sendo separadas? Hospitais sendo bombardeados? Número crescente de refugiados, pessoas tentando desesperadamente sair do país, deixando suas casas, suas vidas, suas lutas diárias? Não, a Rússia e seu sistema totalitário, bem como os que a apoiam, não encontram em lugar algum justificativa plausível às atrocidades. Assim como não encontram o sistema totalitário sírio, saudita, dos Emirados Árabes (que bombardeiam o Iêmen incessantemente, gerando destruição, morte, fome, caos…) ou da China que oprime a minoria muçulmana que vive em seu território. Sistemas que impedem a liberdade ou não permitem a igualdade, são fracassados… Sim, são muitos os exemplos, nesses casos. O mundo fracassa, mas não é uma condição natural, é possível a mudança. Um outro mundo é possível!

A educação deve contribuir para a efetivação desse processo. Por mais filosofia e menos educação “moral” e cívica. Por mais crítica, reflexão, humanismo e menos tecnicismos limitados. Alteridade deve ser a palavra-chave da educação no século XXI.

Se há relações se inaugura o rompimento da totalidade da guerra, significa interromper a guerra e inaugura-se o novo, o escatológico. Assim, surge uma relação originária com o ser, no interior da experiência. Escapa-se, assim, do ser impessoal que propôs Heidegger. Lévinas propõe aqui a Escatologia da Paz Messiânica, na ordem da experiência, da linguagem, da política e totalitarismos. Dentro da ontologia é possível verificar uma relação entre os sujeitos que, ao falarem, aniquilam as diferenças. Assim, nosso pensador está em um caminho oposto a Hegel, que supõem um caminho do conceito e da consciência rumo a uma totalidade e a um fim. No Estado os sujeitos são “impessoalizados”. É preciso se voltar para o encontro com o outro, acontecendo uma acolhida. O Eschaton vem justamente do encontro com o outro.

O Infinito ou Deus não se comunica de maneira imediata, mas sim mediata, no face a face com o outro. Não foi a expressão “face a face” herdada da linguagem bíblica? Mas na Bíblia trata-se do face a face com Deus. Face a face vivido por Moisés (Ex 33, 11: “O Senhor falava com Moisés, face a face, como se fala a uma pessoa”), desejado pelo salmista (Sl 13, 2; 17; 15), mas na maior parte das vezes recusado: “não podes ver minha face pois o humano não pode me ver e continuar em vida” (Ex 33,20; 33,23). Esse face a face com Deus é transposto por Lévinas como face a face com o outro. O rosto do outro não é da ordem do visível, nem mesmo do ver. Ele não é a figura cujos traços da boca ou dos olhos eu possa detalhar. Ter acesso ao rosto não é observá-lo, contemplá-lo, subtrair-lhe o rosto. O rosto é da ordem da palavra. Ele significa não como uma figura sobre um fundo, mas sem contexto, independentemente de seus contextos social, racial, cultural ou religioso, independentemente de sua carteira de identidade ou de seu passaporte. Ele enuncia um mandamento: “não matarás” ou “não cometerás assassinato”.

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René Dentz
É católico leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

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Não olhe para cima https://observatoriodaevangelizacao.com/nao-olhe-para-cima/ Mon, 21 Feb 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43764 [Leia mais...]]]> A arte, embora vítima também dos processos de massificação contemporâneos, continua a ser um importante instrumento de crítica e despertar social. Neste artigo, escrito pelo atual reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, padre Elton Vitoriano, a realidade ilustrada pelo filme “Não olhe pra cima”, de Adam McKay, suscita interrogações fundamentais para o momento político em que vivemos. Leia o artigo:

Pode a realidade superar a fantasia? Certamente essa pergunta já foi feita por muita gente ao assistir, por exemplo, uma peça de teatro, uma novela ou um filme. Certas situações são classificadas como absurdas ou ridículas e nos levam a pensar: isso nunca poderia acontecer. Esse poderia ser o caso do filme da Netflix Don’t look Up – Não olhe para cima, de dezembro de 2021. Até agora um dos filmes mais vistos da plataforma, Não olhe para cima despertou na internet muita discussão. Classificado como uma comédia pela plataforma, o filme conta a história de dois cientistas que descobrem um cometa vindo rapidamente em direção à terra. Como era de se esperar, eles tentam alertar a humanidade, mas ninguém está muito interessado no que eles dizem.

A discussão em torno do filme, especialmente entre admiradores e detratores, toca em muitos aspectos interessantes. Claro, nestas discussões da internet ninguém chega a nenhum acordo sobre nada, mas produzem muitas perguntas: O filme é uma metáfora das mudanças climáticas que vivemos? É um grito de denúncia da confusão contemporânea? É uma crítica da situação política de muitos países com seus governadores insensíveis? Apresenta a futilidade de muitos programas de televisão que diariamente inundam nossos lares? Mostra explicitamente o negacionismo e a descrença na ciência atual? Reproduz a violência física e verbal das nossas cidades? A verdade é que o filme quer chamar a atenção pelo absurdo e, gostemos ou não dele, ficamos com a estranha sensação de certa familiaridade com tudo o que acontece na tela.

Não vou entrar nessas discussões sobre o filme, seu conteúdo e seu valor cinematográfico. Apenas destaco um ponto dessa comédia satírica que, cheia de ironia e sarcasmo, quer ser (como anunciam no site da plataforma) provocante, excêntrica, irreverente e espirituosa. O ponto é: a política contemporânea está se transformando num espetáculo cada vez mais midiático, preocupado, obsessivamente, com as pesquisas e os likes? Vivemos, politicamente, numa sociedade de espetáculos?

Filosoficamente, a política pode ser compreendida como toda atividade humana orientada para o controle e o uso do poder na organização e no gerenciamento da sociedade. A política relaciona-se com tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos, ao governo das cidades, aos negócios públicos, ou seja, todas as relações que os seres humanos como animais políticos vivem em sociedade. As formas de poder político e as condições em que esse poder é exercido, as constituições, os sistemas de governo, a natureza, a validade e a justificação das decisões políticas, todos estes tópicos são objetos de análise da filosofia política. Também, o estudo da natureza, validade e justificação das instituições coercitivas que compõem as sociedades desde as mais elementares como a família até as mais complexas como é o caso do estado nação entram na reflexão sobre a política.

Por exemplo, o filósofo brasileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz (Padre Vaz), nos diz que a política “nasce com a tarefa de desvincular o exercício do poder como força ou como violência, assumindo esta tarefa na esfera legitimadora da lei e do direito ”. A partir dessa tarefa, a política deverá buscar um projeto de existência consensual em torno do mais justo que, por definição, será também o melhor para a sociedade. Na argumentação de Padre Vaz: “A arte da política, à luz da virtude intelectual da prudência, empenha-se na difícil e delicada tarefa de conciliar o possível com o melhor”. Essa perspectiva interpreta a tarefa política de forma dialética, articulando tanto a visão grega quanto a moderna. A grega que interpretava a política como uma atividade de caráter moral, como arte da conciliação e do acordo consensual, criando um espaço racional de busca do melhor possível. A compreensão moderna, mais pragmática, onde a política é entendida como lugar da razão calculadora na arte de governar, voltada por sua vez, para a conquista e a conservação do poder.

Neste ano teremos eleições e, por isso mesmo, muita discussão política em todos os âmbitos da nossa sociedade brasileira. E se a nossa política, como o filme sugere, se transformar num grande espetáculo, barulhento e vazio? E se a nossa política for povoada por likes e views das redes sociais, inundadas de haters (odiadores), fofocas e Fake News?  E se a discussão perder espaço para a sedução fácil de salvadores autoritários? E se os grandes temas das políticas econômicas, públicas e sociais forem silenciados? E se as reformas, especialmente as que favorecem os mais pobres, forem negligenciadas nos debates? E se não tocarmos na gritante desigualdade social em que vivemos e nos meios para superá-la? E se o espetáculo substituir a discussão séria, sensata e propositiva? Ora, se isso acontecer, talvez o melhor mesmo seja não olhar para cima. Não olhar porque já estaremos embasbacados pela sociedade do curtir, nosso amém digital. Ou, talvez não! Talvez seja ainda tempo de acreditar que a luta continua e que a política é a melhor forma de lutar por uma sociedade mais justa e solidária. 

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pe. Elton Vitoriano Ribeiro, SJ
É reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e TEologia (FAJE), professor e pesquisador do departamento de Filosofia da mesma instituição. 

Fonte: https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/nao-olhe-para-cima/

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A urgente Reforma Política em pauta https://observatoriodaevangelizacao.com/a-urgente-reforma-politica-em-pauta/ Fri, 12 Sep 2014 14:13:59 +0000 http://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=124 [Leia mais...]]]> 10645040_10204556129605568_7949123821214235330_n

No dia 04 de setembro de 2014, durante a Semana do ANIMA PUC Minas – Sistema Avançado de Formação – aconteceu a mesa redonda “Reforma Política: múltiplos enfoques”. Presidida pelo prof. Carlos Frederico, coordenador do ANIMA, contou com a entusiasmada presença do Reitor da PUC Minas, prof. Dom Joaquim Mol, prof. Robson Sávio, do Núcleo de Estudos Sociopolíticos e prof. Edward Guimarães, do Observatório da Evangelização. Com o auditório do Museu de História Natural tomado por estudantes, professores, funcionários da PUC Minas, além de outros participantes da cidade, a tônica da noite foi uníssona: compromisso e participação ativa na campanha pela Reforma Política e Eleições Limpas. Para aprofundar a temática assista o vídeo:

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