Poesia engajada – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 13 Aug 2021 20:42:35 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Poesia engajada – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Profecia extrema, poema de Pedro Casaldáliga https://observatoriodaevangelizacao.com/profecia-extrema-poema-de-pedro-casaldaliga/ Fri, 13 Aug 2021 20:42:35 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40138 [Leia mais...]]]>
Pedro Casaldáliga (1928-2020)

Há uma definição de profecia que diz: “profecia é a encarnação visível e coerente da vontade de Deus, por meio de palavras, gestos de entrega e posturas de compromisso com a vida, em determinada situação e que, geralmente, provoca uma interpelação ao amor, à partilha, à justiça e à defesa da vida do pobre e excluído.” A vida de Pedro Casaldáliga foi, de fato, uma profecia extrema do Deus da vida no meio de nós.

Profecia extrema

Eu morrerei de pé como as árvores.

Me matarão de pé.

O sol, como testemunha maior, porá seu lacre

sobre meu corpo duplamente ungido.

E os rios e o mar

serão caminho

de todos meus desejos,

enquanto a selva amada sacudirá, de júbilo, suas cúpulas.

Eu direi a minhas palavras:

– Não mentia ao gritar-vos.

Deus dirá a meus amigos:

– Certifico

que viveu com vocês esperando este dia.

De golpe, com a morte,

minha vida se fará verdade.

Por fim terei amado!

Fonte:

CASALDÁLIGA, Pedro. Versos adversos. Antologia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006, p. 22.

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Teimosamente, entoamos um canto novo https://observatoriodaevangelizacao.com/teimosamente-entoamos-um-canto-novo/ Thu, 05 Aug 2021 12:14:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40071 [Leia mais...]]]>

E se a ferida é na alma

E o sofrimento é oceânico

E o coração não encontra consolo?

Encharcadas por lágrimas de dor

Há tantas famílias enlutadas

Irmanados no sangue derramado

Há tantos corpos feridos ou sem vida

Amontoados em gigantescas periferias

Carentes das políticas públicas básicas

Estamos embarcados num país à deriva.

No entanto, não desistimos das lutas

Nossa utopia esperançada se agiganta

Nosso sonho teimoso renasce no horizonte

Em defesa inquebrantável da dignidade da vida

Das novas senzalas e porões das cidades

Os tambores não param de tocar

E os pobres não se cansam de dançar

Do mais profundo e de forma lancinante

Brota nas gargantas um grito lamento

Que pela indignação se faz Canto Novo

Canto de amor subversivo e compartilhado

Que renova as fontes e inspira para a páscoa

Páscoa das lágrimas e do luto às lutas decisivas,

Ainda em plena noite escura seguimos em travessia

E gritamos juntos, em coro, com coragem de libertados:

– “Ninguém solta a mão de ninguém!”

O que está em jogo, nessa grande peleja,

É o que dá sentido e gosto de vinho ao nosso viver

Tratas-e de um desejo forte de ver

Aquele “outro amanhã possível” alvorecer.

O amor continuará, acreditem

Ainda que frágil como a chama ao vento

A animar por dentro nossa coletiva construção

Venceremos a empáfia dos poderosos desse mundo

E ainda que continuem a exibir o poder de suas armas

A intimidar ampliando o arrocho dos já crucificados

A derramar o sangue inocente dos profetas e profetisas

A difamar com fakenews de ódio os puros de coração

E os que ousam andar de mãos dadas na contramão

Como Jesus crucificado continuaremos, acreditem

Por fidelidade de Deus, a ser ressuscitados

Nas lutas históricas infindas dos pobres e excluídos

Por justiça, comida no prato e vacina para todos

Por educação e terra-teto-trabalho…

Queremos compartilhar e comer juntos

O pão que sacia da libertação.

                                                                        

Poesia inspirada no poema Canto Novo de Paulo Gabriel: GABRIEL, Paulo. Poemas para iluminar a noite. Belo Horizonte: Mazza, 2020, p. 29.

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