Pentecostalismo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 05 Sep 2022 23:43:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pentecostalismo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Bispos reunidos em assembleia refletiram sobre pentecostalismo no Brasil https://observatoriodaevangelizacao.com/bispos-reunidos-em-assembleia-refletiram-sobre-pentecostalismo-no-brasil/ https://observatoriodaevangelizacao.com/bispos-reunidos-em-assembleia-refletiram-sobre-pentecostalismo-no-brasil/#comments Mon, 05 Sep 2022 23:43:52 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45831 [Leia mais...]]]> Reunidos durante a 59ª assembleia geral da CNBB, encerrada na sexta-feira passada (02/09), os bispos do Brasil refletiram sobre “Pentecostalismo e Evangelização” através de uma análise de conjuntura eclesial elaborada pelos membros da INAPAZ (Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi) e sistematizada pelo teólogo pe. Geraldo De Mori, SJ (FAJE).

A reflexão, apresentada em três etapas (diagnóstico, análise e prospecção), foi introduzida por uma nota prévia de autoria do pe. Marcial Maçaneiro (PUCPR) em que se explicitou, com maior detalhamento, o que se entende por pentecostalismo e quais suas manifestações eclesiais, seja em comunidades de tradição protestante, seja dentro da própria Igreja Católica, como é o caso do movimento da Renovação Carismática Católica (RCC).

Para um diagnóstico mais sistêmico, o INAPAZ tomou, além da RCC, também as igrejas do Evangelho Quadrangular e Assembleias de Deus como referências para a análise dos principais aspectos positivos e dificuldades, desafios e oportunidades do pentecostalismo católico e evangélico no Brasil. Foram levados em conta nestas leituras os atores de cada instituição, suas metodologias, subsídios e dinâmicas pastorais, bem como os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, ambientais e tecnológicos que as constituem e afetam.  

Dentre os pontos fortes mencionados, merecem destaque três características que se verificam, mesmo que com particularidades locais, em todas as expressões analisadas: a marcante autonomia e presença do laicato nos processos de evangelização, o dinamismo e simplicidade na comunicação da fé (especialmente nas redes sociais) e os fortes laços entre os fiéis, resultantes de processos de suporte mútuo e de relacionamentos interpessoais contínuos. Quanto aos pontos fracos, podem-se resumir em: fundamentalismos e frágil formação teológica; religiosidade alienante das questões sociopolíticas e, mais frequentemente, filiada a grupos políticos ultraconservadores e da extrema direita. O próprio documento, no entanto, ressalta que “o fenômeno pentecostal é muito diverso e complexo” e que o diagnóstico não chegou a abarcar as igrejas “da terceira onda, identificadas como neopentecostais, que tiveram grande expansão nas últimas décadas”.       

Do ponto de vista dos desafios do pentecostalismo para a evangelização na Igreja católica, o documento destaca tendências de “fragmentação no tecido eclesial” atestada pela “proliferação de alguns grupos e comunidades que, ao invés da lógica da comunhão e da busca de unidade dada pelo Espírito, segue a dos interesses pessoais dos fundadores, tornados novos gurus ou vendilhões do templo a explorar a fé simples dos mais pobres.” Além disso, nota-se em tendências do neopentecostalismo uma certa “afinidade eletiva com os princípios do neoliberalismo” que abre espaço para as teologias da prosperidade e do domínio e que facilmente descambam para religiosidades de tipo “mágico e devocional, e a da autoajuda, utilizando-se da linguagem do coaching, ambas com forte tendência individualista”. Essas concepções favorecem uma cosmovisão em que “os problemas da sociedade são de ordem espiritual, sem nenhuma origem social econômica ou política.” Tendo em vista a presença massiva dos grupos pentecostais e neopentecostais nos meios populares, essas tendências preocupam, especialmente, por não favorecem entre as comunidades uma consciência crítica que as ajude a lutar por direitos e cidadania, papel social também importante da religião.

Particularmente, no mundo pentecostal católico, o documento destaca com preocupação o crescimento do uso das mídias sociais e da ação de influenciadores na difusão de ideologias neotradicionalistas que, não raramente, se opõem frontalmente às orientações da CNBB e do Papa Francisco, no que muitos teólogos tem chamado de verdadeiro “cisma”, que, “embora não seja de fato e de direito declarado, o é nos sentimentos e na ruptura real com as orientações do conjunto do magistério”.

A análise, no entanto, não teve como escopo a demonização do pentecostalismo (como em outros momentos históricos), ao contrário, apontou valores e perspectivas fundamentais dessas manifestações tais quais a “capacidade de tocar o afeto do indivíduo pós-moderno, fragmentado, fortemente marcado pelo mundo tecnológico”, “a resposta comunitária à tendência individualista” e a expertise no uso das mídias sociais no processo evangelizador. Sobretudo, apontou-se para o provocador chamado à conversão que o movimento pentecostal sugere às estruturas hierárquicas e institucionais da Igreja católica no que diz respeito à uma maior abertura ao protagonismo laical e uma renovada aproximação das periferias urbanas, onde a expressão evangélica do pentecostalismo é decididamente presente.

O documento salientou ainda os avanços observados no diálogo ecumênico entre o pentecostalismo e o catolicismo, alimentando um importante horizonte de contribuição no “discernimento das leituras conflitantes que hoje permeiam a sociedade e a Igreja do Brasil, como também o movimento carismático católico”.

Para ler o estudo na íntegra, clique aqui: Pentecostalismo e Evangelização.  

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Matheus Cedric Godinho

É professor de Filosofia e Ensino Religioso e autor de material didático para Educação Básica nas mesmas áreas. Leigo católico, cofundador da Oficina de Nazaré e membro do Conselho Editorial da Revista de Pastoral da ANEC. Atualmente coordena o Observatório da Evangelização PUC Minas.

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“As raízes do verdadeiro preconceito contra evangélicos pentecostais”, com a palavra a teóloga Angélica Tostes https://observatoriodaevangelizacao.com/as-raizes-do-verdadeiro-preconceito-contra-evangelicos-pentecostais-com-a-palavra-a-teologa-angelica-tostes/ Thu, 21 Oct 2021 21:06:49 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=42196 [Leia mais...]]]> Quando falamos do movimento pentecostal é preciso ter em mente que ele é plural e multifacetado, com contornos contextuais dos territórios que está presente… Para o pastor e teólogo Kenner Terra, esse movimento foi profético pois dignificou pessoas marginalizadas em meio às tensões socioeconômicas e raciais que aconteciam naquele período e promoveu igualdade de gênero em sua liderança… Muitos pesquisadores e pesquisadoras têm apontado que o preconceito contra evangélicos pentecostais está assentado em um racismo estrutural e na aporofobia – preconceito contra os pobres… muitas interpretações sobre o cristianismo, há muitas visões sobre a fé, Cristo, Bíblia… O que nos une é a luta cotidiana por dignidade e vida! Entretanto, se queremos que mais e mais pessoas se unam a nós, que nossas periferias estejam nas mesmas trincheiras, é necessário compreender que a fé, a Bíblia, o louvor são forças que impulsionam muitos a continuar.

Confira o artigo da teóloga Angélica Tostes

DIÁLOGOS DA FÉ
As raízes do verdadeiro preconceito contra evangélicos pentecostais…

(FOTO: ISTOCK)

Quando falamos do movimento pentecostal é preciso ter em mente que ele é plural e multifacetado, com contornos contextuais dos territórios que está presente. Um de seus elementos comuns, porém, é a experiência com o Espírito Santo.

Experiência é uma palavra escorregadia, com muitos significados. E muito questionada por não se tratar de conhecimento empírico. É inegável porém, que a experiência produz saberes que, por vezes, desafiam lógicas hegemônicas, mas não sem contradições. 

Essa fé experiência questiona a racionalidade estabelecida, e apresenta uma visão que vai além da intelectualidade. No Reavivamento, famoso movimento foi iniciado pelo pastor afro-americano William J. Seymour na Rua Azusa, em Los Angeles, em 1906, um grupo de fiéis (em sua grande maioria negros e negras) vivenciou o avivamento espiritual. Para o pastor e teólogo Kenner Terra, esse movimento foi profético pois dignificou pessoas marginalizadas em meio às tensões socioeconômicas e raciais que aconteciam naquele período e promoveu igualdade de gênero em sua liderança.

A experiência do Pentecostes bíblico, reproduzida nesse microcosmo na Rua Azusa e posteriormente se multiplicando, foi influenciada pela cultura africana, deslocando assim a ordem de culto e litúrgica estabelecida por igrejas tradicionais.  A africanidade litúrgica trouxe a herança dos rituais praticados pelos escravizados africanos: ring shout, as danças, palmas, devoção, com as experiências de glossolalia e a emoção que transborda nas celebrações e louvores.

É impossível andar pelos bairros dos grandes centros urbanos e não ouvir os louvores, em alto e bom som, em lojas, casas ou igrejas. A musicalidade evangélica é um elemento crucial para essa transcendência espiritual, esse êxtase que transgride a religiosidade cristã racionalista, etnocentrista e branca.

Para além do aspecto religioso, o momento dessa mística é o espaço para os fiéis extravasarem seus problemas e dilemas, visto que grande parte das letras dos louvores pentecostais trazem temas como superação, liberdade, vitória e ser digno do amor de Deus.

Como conta Helena, fiel da Assembleia de Deus e acampada do MST em Goiás, em entrevista ao Instituto Tricontinental de Pesquisa Social: “(…) gosto muito de louvar, sinto uma alegria no coração, assim, quando tá cantando assim… Sabe, aquela tristeza sai, se tiver que chorar e é muito bom, não tem nem explicação”.

Muitas das pessoas nas periferias, aliás, têm acesso aos instrumentos musicais, canto, conhecimento de música através das igrejas nos territórios. E são nas igrejinhas que aprendem a tocar, a ter esse espaço de partilha da arte, de expressar sua voz.

Claro que a contradição existe. A pastora e teóloga Nancy Cardoso aponta: “Com a música, o louvor e a dança, o que fazem é criar um clima de liberdade e gozo, mas depois o controlam e o administram.” Portanto, ao mesmo tempo que o corpo é capaz de vivenciar o divino, é necessário controlar suas paixões e sexualidades.  O cristianismo, é uma “fonte amarga” para a comunidade negra, como diria a teóloga Cleusa Caldeira, pois seu livro, a Bíblia, foi utilizada para legitimar a escravidão e amaldiçoar o povo negro.

Porém, apesar de toda dor, Cleusa afirma que

a comunidade negra hoje se aproxima da Bíblia porque acredita que ela pode ser também uma fonte de alegria e prazer, quando negras e negros tornam-se sujeitos na leitura bíblica. É uma reivindicação legítima o enegrecimento da teologia […] reflexão teológica deve partir da mulher negra e do homem negro, uma vez que uma teologia vinda de fora é susceptível de ser colonizadora.”

Cleusa Caldeira

Muitos pesquisadores e pesquisadoras têm apontado que o preconceito contra evangélicos pentecostais está assentado em um racismo estrutural e na aporofobia – preconceito contra os pobres. Essa racionalidade pautada na experiência é questionada não só por cristãos de outras vertentes, mas também por setores progressistas que infantilizam e zombam das experiências e práticas de fé vividas pelos pentecostais. O que, para os setores fundamentalistas, serve de arsenal para acusações da chamada “cristofobia”, que sabemos que não existe no contexto brasileiro, mas antes é uma forma de distanciar pautas progressistas de esquerda dos setores evangélicos.

Há muitas interpretações sobre o cristianismo, há muitas visões sobre a fé, Cristo, Bíblia… Como Magali Cunha pontuou em seu último artigo aqui na coluna Diálogos da Fé: ninguém representa ou fala pelos evangélicos como um todo! Para os pentecostais, a teologia, a busca por compreender mais sobre Deus, Bíblia, louvores e fé se dá na própria vivência. Como já bem disse o teólogo e ativista negro Ronilso Pacheco, em seu livro Teologia Negra: o sopro antirracista do Espírito (2019): “a fé é uma interpretação. A fé do povo é dinâmica a ponto de não sistematizar teologias, mas de teologizar realidades”. Realidades lamacentas de fome, desemprego, feminicídio, racismo, LGBTfobia… que atingem a todos, inclusive os evangélicos e evangélicas. 

O que nos une é a luta cotidiana por dignidade e vida! Entretanto, se queremos que mais e mais pessoas se unam a nós, que nossas periferias estejam nas mesmas trincheiras, é necessário compreender que a fé, a Bíblia, o louvor são forças que impulsionam muitos a continuar. Novamente digo, com muitas contradições. Mas são nas fissuras que apresentamos outras visões de cristianismos libertadores, como a teologia negra!

Sobre a autora:

Angélica Tostes

Angélica Tostes é teóloga, mestra em Ciências da Religião, professora e pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.

Fonte:

As raízes do verdadeiro preconceito contra evangélicos pentecostais

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