Pedagogia dialógica participativa corresponsabilidade e ação pastoral – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sun, 10 Oct 2021 02:39:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pedagogia dialógica participativa corresponsabilidade e ação pastoral – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Fortalecendo as relações de gênero. Para a Igreja, um terreno árido que pode se transformar em jardim.”, com a palavra Vânia de Fátima Fonseca Pinto https://observatoriodaevangelizacao.com/fortalecendo-as-relacoes-de-genero-para-a-igreja-um-terreno-arido-que-pode-se-transformar-em-jardim-com-a-palavra-vania-de-fatima-fonseca-pinto/ https://observatoriodaevangelizacao.com/fortalecendo-as-relacoes-de-genero-para-a-igreja-um-terreno-arido-que-pode-se-transformar-em-jardim-com-a-palavra-vania-de-fatima-fonseca-pinto/#comments Sun, 10 Oct 2021 02:39:41 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=41923 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pela aluna Vânia de Fátima Fonseca Pinto para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães no curso de pós-gradução em Teologia Pastoral da PUC Minas.

Confira:

FORTALECENDO AS RELAÇÕES DE GÊNERO. Para a Igreja, um terreno árido que pode se transformar em jardim

“Separados somos fracos, juntos somos fortes,

unidos e unidas somos uma avalanche de amor, um tsunami de amor”.

(Dito popular do Haiti)

A todas as mulheres que com coragem, ousadia, não se amedrontaram em arriscar novos traçados e levantar a voz contra todo tipo de opressão, exploração e exclusão!

INTRODUÇÃO

A marginalização do feminino é um processo que infelizmente também tem se sustentado por meio da interpretação fundamentalista e ahistórica de determinados escritos bíblicos. Estes são utilizados anacronicamente como justificadores de uma sociedade patriarcal. No contexto bíblico e ainda hoje suprime-se a imagem da igual dignidade da mulher.

Muitas mulheres inteligentes, articuladoras, estrategistas e com grande capacidade de liderança foram e continuam a ser marginalizadas, deturpadas ou invisibilizadas não conseguindo colocar em evidência o seu protagonismo no meio social e eclesial. Sofreram e continuam a sofrer todos os tipos de violência: física, psicológica, patrimonial, moral, ante as persistentes desigualdades de gênero, marcadas nas relações sociais que se estabelecem.

No entanto, segundo diversos textos bíblicos, no Segundo Testamento encontramos mulheres que foram valorizadas, respeitadas e fizeram parte do Movimento de Jesus. Não somente seguiram Jesus como foram verdadeiras discípulas que percorreram o caminho da Galiléia até Jerusalém. Isso quer dizer que: seguiram, foram solidárias e fiéis a Jesus, acompanhando-o ao longo da missão e, inclusive, na sua paixão, morte e ressureição. Enquanto que a maioria dos apóstolos, por medo, não seguiram Jesus nessa travessia.

Jesus inicia o seu mistério público através de uma mulher, Maria, sua mãe, quando ela o instiga a resolver um problema: a falta de vinho em uma festa em Caná da Galiléia (Jo 2, 1-12). Jesus dialoga teologicamente e se revela como Messias a uma mulher estrangeira, uma samaritana (Jo 4, 4-42) e Maria, irmã de Marta, escuta atentamente os seus ensinamentos (Lc 10, 38-42).

Não se encontra nenhum texto bíblico com atitude ou palavra de Jesus de Nazaré contrária a dignidade da mulher, questionando suas capacidades ou limitando sua atuação. Jesus quebra todos os tabus e preconceitos de sua época. Ao contrário, Jesus atribuía grande valor às mulheres. Algumas citações bíblicas explicitam o relacionamento de Jesus com mulheres, tais como: Lc 7, 36-50; 8, 2-3; Mc 10, 2-12. Elas são, inclusive, as primeiras testemunhas da Ressurreição (Mc 16, 9-11; Lc 24, 9-11; Jo 20, 1-3.11-18; Mt 28, 1-10).

Também o apóstolo Paulo, com todos os limites culturais de seu tempo, de certa forma, segue a mesma “linha” de Jesus. Ele respeitou as mulheres que eram lideranças nas comunidades com atribuições de diáconas, colaboradoras, trabalhadoras, apóstolas e as considerava parceiras na evangelização (Cf. Rm 16).

A intuição dessa reflexão é a de despertar o olhar crítico da Igreja que não escuta e ignora os sinais dos tempos frente a realidade da exclusão das mulheres. As transformações desejadas para a sociedade, começam nas comunidades eclesiais e estruturas internas, portanto, não cabe a Igreja paralisar pelo medo e se contradizer mantendo padrões tradicionalistas, conceitos e paradigmas retrógrados. Isso é uma ameaça para que não aconteça uma autêntica ação evangelizadora pautada na promoção e defesa da vida. 

Fundamentada na proposta do apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 3, 28), novas relações de gênero – Não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus -, e no conteúdo da entrevista da Teóloga luterana Wanda Deifelt ao Instituto Humanistas Unisinos, em 17 de julho de 2016, elaborada por João Vitor Santos intitulada: “Maria Madalena e as discípulas de Jesus. Protagonistas que resistem a um apagamento.”, apresentaremos uma espécie de subsídio para o desenvolvimento do tema que aqui nos propomos: uma reflexão sobre a questão de gênero na Igreja.

DESENVOLVIMENTO

Não se faz uma leitura bíblica sem conhecer o contexto e o pretexto em que foi escrito, por isso, vamos percorrer um pequeno caminho histórico.

No mundo greco-romano, as mulheres não eram respeitadas como cidadãs. Grande parte delas eram escravizadas; as mulheres da classe dominante eram mães, esposas e filhas de cidadãos. Do ponto de vista da lei, elas estavam submetidas ao pai de família. Enquanto as mulheres gregas ficavam reclusas em suas casas, as romanas até podiam acompanhar seus maridos em banquetes e festas, mas não muito mais do que isso.

Na Grécia, de um modo geral, as mulheres não tinham acesso ao mundo intelectual. Entretanto, havia tendências filosóficas, como o epicurismo e o cinismo, que eram abertas à participação das mulheres. No mundo das religiões, elas tinham participação ativa, de modo especial nos cultos às deusas, seja nas casas seja nos templos. Exerciam o papel de profetisas e sacerdotisas, especialmente nos ritos ligados ao nascimento e à morte. Nas religiões romanas, as mulheres tinham bem menos participação que no mundo grego.

Enquanto os homens tinham acesso ao poder e à glória – eles eram os políticos, os guerreiros e comerciantes – as mulheres tinham uma vida de submissão aos homens. Elas sempre ficavam sob a tutela de um membro da família do sexo masculino, fossem eles seus pais, maridos ou filhos, caso ficassem viúvas.

As “igrejas domésticas” helenistas rompem com o modelo patriarcal, com a ordem hierárquica da casa greco-romana, vivendo relações de igualdade de direitos.

Nas relações de gênero, Paulo divulga relações de parceria, de complementaridade, de respeito às diferenças. No contexto da Carta aos Gálatas, judeus, gregos, homens e mulheres estão subjugados à dominação do Império romano e a propostas religiosas opressivas. Paulo traz a possibilidade de solidariedade, promove a igualdade.

No Brasil, há algumas décadas, as mulheres eram reduzidas à função de formar famílias (procriação) e cuidar dos filhos e do marido. Basta revermos as fotografias antigas das famílias, rodeadas por muitos filhos e netos. Época em que as mulheres ainda estão no espaço doméstico compreendido pelo capitalismo como extensão da fábrica. O Estado e os homens se apropriam de seus corpos sob a aparente proteção e generoso acolhimento tutelar. As mulheres são forçadas a funcionar como um meio de acumulação de capital e reprodução do trabalho. Elas eram exploradas no cotidiano como imposição sumária, no espaço do lar e não eram assalariadas. Eram contribuintes e ajudavam a sustentar o sistema capitalista, enquanto que o homem tinha o privilégio de trabalhar fora do espaço doméstico e tinha o seu salário, o que ocasionava desequilíbrio do sistema produtivo de bens e serviços e restringia a emancipação feminina. Esta era entendida como uma ameaça à estabilidade familiar. As mulheres em constante dominação são as verdadeiras vítimas e não as culpadas, como querem imprimir o patriarcado.

O apóstolo Paulo apóstolo entende que pelo batismo somos “UM SÓ” em Cristo, o que se torna uma proposta de inclusão estabelecida pelo batismo em Cristo Jesus. Esse batismo não se adequa ao ritualismo de purificação e, sim, à confirmação de que revestidos em Cristo, somos novas criaturas.

De fato todos vocês são filhos de Deus, por meio da fé em Cristo Jesus. Pois todos vocês já foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vocês são UM só em Cristo Jesus” .

Gl 3, 26-28

O longo processo histórico de desigualdade de gênero, não impediu a luta das mulheres em defesa de sua dignidade e nem o surgimento uma grande aliada: a Teologia Feminista. Esta anuncia um novo conceito no fortalecimento das relações de gênero, encarrega de ser representante do rosto, da voz e do corpo do feminino, resgata o protagonismo de personagens bíblicos e históricos que resistiram e resistem a invisibilidade no palco da vida.

Quando se trata de discutir temáticas relacionadas à emancipação da mulher para dentro das casas, das igrejas e das comunidades, infelizmente, as mentes, os corações e as portas se fecham. Não há espaço livre para o diálogo. A Teologia Feminista passa a ser considerada por muitos como uma “aberração” na definição da supremacia androcêntrica e machista. É um trabalho árduo desmistificar a imagem criada e imposta ao feminino para definir o papel da mulher no meio em que vive – sedutora, pecadora, dona de casa, esposa e mãe.

Maria Madalena é apenas um exemplo conhecido das muitas mulheres difamadas. Ela foi injustamente retratada na Igreja Católica pelo papa Gregório, “o grande” (540-604) como pecadora e prostituta.

Em 2016,

“o papa Francisco fez justiça e elevou Maria Madalena ao status de apóstola, não mais como a sua imagem estigmatizada como prostituta, mas como parte integral da comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus e modelo de libertação para os coletivos femininos, que estão dentro e fora da Igreja Católica”.

https://domtotal.com/noticia/1385901/2019/09/papa-confirma-maria-madalena-foi-apostola/

A Teologia Feminista busca libertar tais estigmas e outros termos desqualificados expressos por misóginos. Contudo, fica mais complicado quando essas instituições dominantes instigam a uma leitura fundamentalista. “Está escrito na Bíblia”, alegam, tentando bloquear qualquer reflexão. Como parceira das mulheres, mesmo não sendo reconhecida e aceita por muitas delas, a Teologia Feminista faz provocações no sentido de revelar que muitos dos textos bíblicos contribuem para legitimar o patriarcado social. Neste, o homem entende ser o estereótipo, exclusivo na representação coletiva. No ambiente eclesiástico, por meio da alegada sucessão apostólica, no caso da Igreja Católica Apostólica Romana, pelo sacramento da Ordem, todos os bispos (homens) legitimamente consagrados, em comunhão com o papa (o sucessor de Pedro), são todos sucessores dos doze.

Se somente os homens são detentores da sucessão apostólica, como fica a questão de obter o sacramento da Ordem para as mulheres? Como se define a legitimidade da mulher consagrada e da leiga?

Fica evidente que por todos os lados os principais postos de poder e de decisões são ocupados pelo sexo masculino. Esse é o retrato da sociedade patriarcal, machista, onde a mulher fica submissa ao pai, aos irmãos, ao marido, aos teólogos da religião, aos governantes. É preciso dar um basta a toda e qualquer discriminação!

De acordo com a tradição, Maria Madalena foi chamada de “apóstola dos apóstolos”. Foi ela a primeira anunciadora e testemunha da Ressurreição de Jesus Cristo. É necessário usar a perspicácia para compreender como os homens, com poder opressivo, transformaram e reduziram, ao longo da história, esta mulher de coragem e sabedoria a uma pecadora arrependida, prostituta e possuidora de sete espíritos maus. Essa criminalização de Maria Madalena só interessa a reprodução do machismo e do patriarcalismo. Maria Madalena foi uma das discípulas mais destacadas da Galiléia.

Cabe aqui discernir que ser discípulo ou discípula não é apenas ser seguidor(a) de ideias, mas cuidar das vidas que sofrem desmedidamente. É expressar, na prática, a palavra de Jesus que, mais tarde, vai aparecer escrita no Evangelho do Discípulo Amado; “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Nas últimas três décadas, os estudos bíblicos e as teologias críticas feministas demostraram que Miriam de Magdala não foi uma pecadora ou mulher decaída, mas uma liderança do movimento judaico que recebeu o nome de Jesus (Movimento de Jesus). Chamada pela Sabedoria Divina, Maria Madalena buscou viver e modelar uma comunidade de iguais voltada para o discipulado. Pode-se concluir que Maria de Magdala é espelho para a luta feminista, ícone da Teologia Feminista.

PARA REFLETIR…

Muitas perguntas e inquietações surgem sem respostas. Jesus fazia mais perguntas do que dava respostas (Mc 8,17-21). Vejamos:

  1. Como a Igreja hoje pode abrir-se a discussão da questão de gênero e promover a construção de novas relações de gênero distintas das práticas patriarcais?
  2. Como e quando a mulher leiga ou consagrada fará parte da toma de decisões que afetam a vida das comunidades cristãs?

CONCLUSÃO  

Trilhar novos caminhos, questionar e analisar de forma racional e inteligente é um grande passo, desalienar e perceber que se a Bíblia pode ser instrumento de dominação pela parte masculina, também pode ser instrumento de inclusão para a parte feminina e lhes conferir autoridade, liberdade e equidade.

Nós mulheres queremos igualdade de direitos, uma caminhada integral na dança do amor que se desagua na plenitude da vida. Para que uma transformação aconteça é imprescindível que haja uma profunda mudança de mentalidade, de ideias, de pensamento: “metanóia”. Somente assim poderemos entender que homens e mulheres são portadores do Espírito, que este não se detém diante das diferenças de sexo. Juntos somos chamados a construir um projeto de vida que seja voltado para o humanismo inclusivo, inspirado na prática libertadora de Jesus.

Os membros do clero são convidados a perceber a influência do patriarcalismo, a rever seus conceitos, atitudes e ações diante de um sistema cultural que fere, exclui, escraviza e, muitas vezes, mata. Descer do pedestal do triunfalismo e pisar no “terreno árido” das relações humanas que se encontram desgastadas pelo sistema patriarcal.

A utopia ativa nos faz voar, sonhar, acreditar em uma Igreja acolhedora, cuidadora, inclusiva, aberta, dialogal, de escuta. Como nos anunciou o grande profeta Dom Helder Câmara: Que tua mão ajude a voar, mas que jamais ela tome o lugar das asas”.

Jesus ensinava que os problemas humanos são mais urgentes, e que discussões teóricas (Leis) e ritos não são tão necessários quanto resgatar a dignidade humana e as suas relações fraternais. Essa é uma das propostas de Jesus para atingir a justiça. 

O terreno é árido, mas abre-se possibilidades: caminhos e oportunidades de cultivar um grande jardim. Na singeleza da minha experiência de vida, concordo plenamente com as questões abordadas pela teóloga luterana Wanda Deifelt. Sonhamos juntas um “lugar ao sol” para as mulheres, lugar que reconhece a sua igual dignidade humana, na sociedade e na Igreja.

Que a Divina Ruah, com o seu dinamismo, ternura, cuidado, amorosidade e sabedoria possa romper barreiras e construir pontes que conduzam a uma ação evangelizadora criadora e transformadora em defesa da vida.

Quero terminar esta reflexão com um poema que fiz para expressar esta utopia:

Maria Flor, leveza da mulher!

Por Vânia de Fátima Fonseca Pinto

Sou mulher,

Jovem ou idosa,

Branca ou negra,

Sou o que eu quiser.

Cobiçada pelo sexo, carente de amor,

o meu corpo não convida,

mas isso nunca adiantou.

Meu país? Intermitente!

Muita política que ninguém entende.

Muita coisa privada que deveria ser pública.

Muita coisa pública que deveria ser privada.

Sou mulher,

O Sistema não me adotou!

Sou de uma religião sem nome,

Caracterizada pela expressão do Amor,

É forte e grita: 

Serei amada e respeitada!

Sou mulher,

Sou o que eu quiser!

Meu poder foi conquistado.

Meu valor ainda é negado,

Mesmo sendo ilegal!

Não sou melhor,

também não sou pior.

Só quero ser igual.

Sou mulher,

Sou o que eu quiser!

Quando Deus me criou,

no céu, a lua cheia brilhava,

nos campos, as flores desabrochavam nas mais vivas cores,

o frescor da brisa assoviava perto da cachoeira,

grandiosa e fluida,

que desaguava em duras rochas,

fortes e resistentes.

Nessa paisagem, Deus se inspirou!

E hoje perfeita sou:

lua, flor, brisa, cachoeira, rocha e mulher.

Sou o que eu quiser!

Salve Maria Flor!

Todas somos Marias na vida,

Como dizia o poeta,

“Maria, uma mulher

que deve viver e amar

como outra qualquer do planeta”.

Mas nunca deixemos de ser Flor!

Viver é amar, sorrir, sonhar, realizar, desejar!

REFERÊNCIAS

BOHN, Ildo Gass. As Primeiras Comunidades – Novo Testamento. Módulo 10. Curso de Bíblia por Correspondência: CEBI, 2003, p. 77-79.

PEREIRA, Sandra Regina. As mulheres e o Patriarcado nas Comunidades Paulinas, PNV 329, São Leopoldo: CEBI, 2015.

BENCKE, Romi Márcia. Ecumenismo e Feminismo, Parcerias da casa comum, PNV 298 CEBI – São Leopoldo/RS, 2012, p. 39.

FIORENZA, Elisabeth Schüssler. Caminhos da Sabedoria. Uma Introdução à Interpretação Bíblica Feminista. São Bernardo do Campo: Nhanduti Editora, 2009.

SCHOTTROFF, Luise; SCHROER, Silvia; WACKER, Marie-Theres. Exegese feminista: resultados de pesquisas bíblicas a partir da perspectiva de mulheres. São Leopoldo: Sinodal/Faculdades EST/CEBI; São Paulo: ASTE, 2008, p. 185.

MUSSKOPF, André; BLASI, Marcia (Orgs). Ainda feminismo e gênero. Histórias, gênero e sexualidade, sexismo, violência e políticas públicas, religião e teologia, São Leopoldo/RS: CEBI, 2014.

IHU ON LINE. “Maria Madalena e as discípulas de Jesus. Protagonistas que resistem a um apagamento”. Entrevista com a teóloga luterana Wanda Deifelt, em 17 de julho de 2016. Elaborada por João Vitor Santos. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/557752-maria-madalena-e-as-discipulas-de-jesus-protagonistas-que-resistem-a-um-apagamento-entrevista-especial-com-wanda-deifelt>. Acesso em: set 2021.

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“Vislumbrando o ministério feminino: Um discipulado de iguais”, com a palavra Vera Lúcia Nogueira https://observatoriodaevangelizacao.com/vislumbrando-o-ministerio-feminino-um-discipulado-de-iguais-com-a-palavra-vania-lucia-nogueira/ Fri, 17 Sep 2021 10:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40973 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pela aluna Vera Lúcia Nogueira para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães no curso de pós-gradução em Teologia Pastoral da PUC Minas.

Confira:

Vislumbrando o ministério feminino:

Um discipulado de iguais

RESUMO

O princípio norteador deste trabalho é o de buscar compreender a dinâmica pedagógica da fé e a contribuição das mulheres nesta caminhada do conhecimento e fazer pastoral em tempos contemporâneos. Como também, o valor dado pelo mistério de Deus, que se adquire pela sabedoria através da comunhão com o Espírito, e que age em nós, uma formação atuante, dialógica e, participativa, em sua comunidade. Frente aos desafios surgidos no processo de uma nova cultura contemporânea, requerente de uma fé esclarecida, é indispensável repensar a importância do papel da mulher na dinâmica de um fazer ativo, caminhante e atuante em suas raízes, tendo uma abordagem histórica social consciente, que dialogue com os demais atores e tradições religiosas. Faz-se necessário uma nova visão pedagógica, concatenada à uma também nova Pastoral, situada em um contexto urbano e feminino. Para tanto, precisamos analisar: a participação das mulheres e as vivências sociais por elas experienciadas nas comunidades, a importância da fé na dinâmica de uma abordagem histórico social; as dificuldades do ministério feminino num contexto patriarcal, fator produtor da necessidade de um novo fazer pedagógico na ação pastoral, com a finalidade de dar condições de possibilidade a um discipulado de iguais, vislumbrando a prática de um ministério feminino.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é compreender o porquê de a Igreja resistir em ordenar as mulheres para o diaconato e os outros ministérios. Além disso, pretende entender qual origem do preconceito contra as mulheres no âmbito eclesial.

A fim de explicitar e operacionalizar os objetivos indicados neste trabalho, a metodologia utilizada pretende demonstrar através da análise de palestras, entrevistas, bem como a leitura de artigos publicados por teólogas femininas/feministas como poderíamos pensar as vertentes de atuação das mulheres no fazer feminino/ feminista da vida social e religiosa.

Além disso, ambiciono tentar avançar na compreensão sobre alguns aspectos e dificuldades que acabam por prejudicar o dinamismo de um discipulado baseado na igualdade. Pretendo discutir as implicações de tais entraves na vida das mulheres dentro da Igreja, investigando se a resistência da Igreja em manter a não aceitação de um Ministério Feminino não acaba por obstaculizar uma visão mais igualitária das mulheres dentro das comunidades. Pretendo, com isso, criar condições para pensarmos em uma vida religiosa feminina emancipada, ao menos dentro do ambiente da Eclésia.

DESENVOLVIMENTO

Muitas são as minhas inquietações no que se refere ao papel da mulher na Igreja e sobre o porquê do feminino estar sempre em segundo plano no contexto religioso, com as mulheres estando sempre cerceadas no direito de tomar a palavra. Busquei conhecer, nas Escrituras, como as mulheres atuavam e, também, a origem do preconceito sexista, identificável, por exemplo, na negação às mulheres do direito ao diaconato, ou mesmo, do ministério ordenado. Sempre imaginei Deus como Pai e Mãe em minha vida, pois sinto sua proteção como meus pais sempre o fizerem para minha segurança em meu processo de desenvolvimento. As duas imagens de Deus Pai e Deus Mãe, para mim, se completam, porém, percebo que acabo por usar mais a figura masculina, devido ao que a tradição cultivou longamente em nosso imaginário, sem questionar ou pensar no porquê desta permanência, ou de outra forma, qual seria o óbice a uma outra possibilidade.

A Bíblia é um livro que precisamos aprender a ler e a ler, inclusive, nas entrelinhas, interpretando-o com perícia e percebendo, explicita ou implicitamente, como as mulheres fizeram sua história, tanto na interpretação, quanto no próprio texto. O texto é traspassado pelo feminino em diversos pontos, mas, muitas vezes, devido ao contexto opressivo, não é lido, ouvido ou interpretado adequadamente. Ver o texto bíblico sobre a ótica feminina nos remete a Gn 2, 20-23. Na formação do mundo, Deus não encontrou auxiliar que correspondesse ao homem e criou a mulher, Eva, que olhando pelo prisma de uma “narrativa de rebeldia”, decide comer do fruto da árvore do conhecimento. Em Gn 13,16, Sara mostra a determinação de uma mulher para alcançar seu objetivo, assim como Raquel em Gn 31 demonstra sua resistência ao enfrentar o pai Labão, ‘roubando os ídolos domésticos’ que lhe pertencia por herança e evoca a lei do “impuro”. A profetisa e juíza Débora teve um ministério reconhecido como o daquela que liderou a libertação do povo de Israel da opressão dos Cananeus (Jz 5), era respeitada como uma “mãe em Israel” (Jz 5, 7). Outras mulheres de igual valor, pela luta e resistência, deixaram sua marca registrada no Primeiro Testamento como Rute (Rt 1-4), Judite (1-16), Ester (1-10). No Segundo Testamento, as mulheres se fazem presente e assumem a importância do feminino na construção do “Caminho”, como Maria, mãe de Jesus, mulher que aceita o serviço de Serva do Senhor (Mt 1) e estimula Jesus ao ministério nas Núpcias de Caná (Jo 2), como também Maria Madalena, a Apóstola da ressurreição (Jo 20). Outras mulheres se destacaram no movimento das comunidades cristãs primitivas, como registrado pelas Cartas Paulinas (Rm 16, 1-16); temos a efetiva atuação das mulheres como Priscila; de Febe, esta, portadora de modo específico do título de diaconisa, além do ministério eclesial de anúncio da Palavra; Júnia, a apóstola; além de Pérside; Trifena; Trifosa; Júlia e Olimpas, mulheres que, com suas ações e seus corpos, tomaram a palavra e foram o rosto feminino de Jesus Cristo na formação das Comunidades cristãs primitivas. Estas mulheres tinham como objetivo recuperar a palavra profética e não deixaram apagar a chama do Anúncio da Boa nova e, até hoje, nos inspiram.

Posteriormente, o arquétipo do feminino ficou concentrado na figura das “mães da igreja”, mulheres viúvas às quais a Igreja atribuiu a tarefa da oração e das obras de caridade, suprindo as necessidades de pregadores itinerantes. Assim, ao longo do tempo, as mulheres foram colocadas numa posição de subordinação à autoridade do marido ou do clero sacerdotal. Alguns padres da Igreja alimentaram o preconceito em relação a sexofobia como Agostinho de Hipona, Tertuliano, Tomás de Aquino, entre outros. As Igrejas do Oriente aceitavam a ordenação diaconal feminina, mas essa prática não foi aceita no ocidente e foi eivada de críticas em diversos sínodos.

As mulheres precisam partir para o movimento de tomar a palavra, usar seus corpos e suas vozes para mostrarem seu valor; sua capacidade inequívoca de estar nos espaços que desejarem. Nesta memória de tantas mulheres no fazer religioso e eclesial, é possível apontar para práticas de relacionamentos sociais, políticos, religiosos e raciais, marcados pela opressão sobre a figura feminina. No entanto, emergem com grande potência, também, o tanto que representam para nós, mulheres, a força deste fazer feminino. Isto, pois, há resistências reveladas em toda a Escritura Sagrada. Para nós, mais do que nunca, se apresenta o convite para sairmos do contexto patriarcal em todos os níveis, o que se impõe não apenas como uma exigência de justiça em relação a nós mesmas, mas também às nossas antepassadas, constituindo, também, uma forma de pavimentar uma Igreja melhor para as gerações de mulheres que virão no futuro. Isto só será possível com o empoderamento da mulher, em sua luta por direitos iguais, inclusive dentro do espaço religioso.

Percebe-se, em quase todos os livros da Bíblia, uma estrutura patriarcal, a partir de uma perspectiva masculina e suas preocupações, demostrando que a boa mulher é aquela que obedece a lei. ‘O feminino, na estrutura literária bíblica, abusa do excludente e a mulher é colocada como mãe, amiga, irmã, esposa, amante, adúltera, estranha, estrangeira, prostituta, mesmo as mulheres detendo sabedoria’. Era-lhes podado o direito de tomar a palavra e, isto, é algo que continuamos a ver nos nossos tempos. [1]

Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei determina. Se, porém, queres aprender alguma coisa, interroguem em casa a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja. [2]


Causa espanto que das 93 mulheres que existem na Bíblia, 49 são citadas e estas falam um total de 14.056 palavras coletivamente, cerca de 1,1% do total de palavras do livro sagrado. Maria, a mãe de Jesus, pronuncia 191 palavras, Maria Madalena, 61, e Sara, esposa de Abraão, 141 palavras.[3] Muitos dos escritos apresentam as diferentes experiências das mulheres nas comunidades cristãs primitivas e, também, o papel que nelas as mulheres representaram para a constituição destas eclesias, constituindo grande exemplo para as mulheres contemporâneas. As mulheres devem tomar a palavra nas rodas de conversas e em todos os espaços, demonstrando seu saber e posicionamentos, para assim conseguirem atingir seus objetivos.

Em Pr 1, 13, lemos: “Apega-te à Sabedoria e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida” temos um sopro de luz, uma vez que o autor considera importante fazer memória da sabedoria. Podemos ressignificar este verso por um novo olhar, como o lançado sobre o universo feminino por mulheres que tomaram a palavra na sociedade brasileira, como a professora mineira Maria Lacerda de Moura, uma das pioneiras do anarco-feminismo no Brasil. Esta intelectual produziu artigos anarquistas tratando de questões como: educação literária, anticlericalismo e emancipação da mulher. Assim como a imigrante italiana Marietta Baderna, uma notável dançarina do Teatro Municipal, no tempo do Imperador D. Pedro II, líder de greves e dos movimentos abolicionistas, com importante contribuição para a formação de quilombos no Rio de Janeiro. Também a sabedoria de Maria Escolástica da Conceição Nazaré, conhecida como Mãe Menininha do Gantois, com liderança extremamente importante para a liberdade religiosa do Candomblé, se destacando por socializar a religião de matriz africana entre intelectuais, artistas, políticos e religiosos de outras tradições. Devemos nos lembrar, de igual modo, da médica Nise Magalhães da Silveira, que trouxe um novo olhar para a psiquiatria, revolucionando o tratamento da saúde mental. Na tradição indígena, a Mestra Maria Muniz, da tribo Pataxó Hã-hã-hãe, criada junto aos Tupinambás, denominando-se como uma Tupinaxó e, com isto, dedicando-se a retomada da cultura de seu povo, notadamente por meio da luta no processo organizacional para a educação indígena, em especial na Aldeia Caramuru Paraguaçu.[4] Tal empreendimento favoreceu a aliança com outros povos. Vale lembrar, também, que a Mestra Maria Muniz fora a guardiã de sementes crioulas, assim como Vovó Bernaldina, esta, mestre dos saberes do povo Macuxi da comunidade Maturuca, na Terra indígena Raposa Serra do Sol, de Roraima. Vovó Bernaldina faleceu em junho de 2020, em decorrência da pandemia do Covid 19. De maneira igualmente recente, devemos lembrar de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018, conhecida internacionalmente pela formulação de projetos de leis com pautas em defesa do direito da população LGBTQI+ e das mulheres pretas e faveladas.

A teóloga Ivone Gebara, uma freira católica de descendência sírio-libanesa, com vinculação à Teologia da Libertação, é outro exemplo de mulher com atuação nos movimentos sociais e políticos na periferia do Recife, pautando suas atividades na perspectiva da libertação dos pobres. Ao narrar sua inserção no mundo feminista, ela rememora que ao trabalhar o estudo da Bíblia com um grupo de mulheres nas casas dos operários e, ao interpelar uma das mulheres que exercia o papel social de esposa, esta alegou não participar das aulas devido às atividades “do lar”. Ao ser confrontada, a mesma mulher fora categórica em responder: “Você não entende porque não quero participar de suas conversas, porque não fala a partir de nós”.[5] Uma mulher muito simples e sem estudos conseguiu abrir-lhe os olhos para sua condição de mulher na Igreja. Posteriormente, seu caminho na teologia feminista se intensificou com a aproximação junto à grupos feministas, como o “SOS corpo, democracia e cidadania”, de Recife. Neste espaço de fazer feminista, ao ser questionada sobre a natureza da perspectiva teológica que trazia ao focalizar a questão das mulheres no espaço eclesial, Gebara fora provocada a repensar suas bases teológicas, o que a conduziu a um aprofundamento na elaboração teórica sobre temas como aborto e sexualidade, fazendo-a refletir sobre o impacto de tais ideias sobre a vida das mulheres. Instigada por tais inquietações, Gebara se viu na defesa da causa da mulher e trouxe certo incômodo para a Igreja, por esta considerá-la “uma pessoa ingênua que precisava aprender novamente a doutrina católica”. Fora enviada para o exterior e respondeu a processos no Vaticano, por querer tomar a palavra e desconstruir o discurso religioso justificador de uma pretensa superioridade masculina, bem como de um Deus misógino, identificado com certa concepção do masculino. Ela não pertence a nenhum movimento feminista determinado, mas transita por todos eles, como o grupo Católicas pelo Direito de Decidir, e continua como livre pensadora, ministrando suas palestras sob o epíteto teóloga feminista.

CONCLUSÃO

Com a mulher sempre no papel de penitente e piedosa, a Igreja Católica nunca abriu espaço para que se vislumbrasse o ministério feminino, tendo nas leis apenas a admissão de exceção em caso de não se poder dispor de um homem, ou se houver “bom motivo”. Quanto à ordenação feminina, a posição de não as admitir, segundo determinada leitura, está baseada nos fundamentos da Sagrada Escritura, como afirmou o papa João Paulo II no Documento Pontifício Ordinatio Sacerdotalis, de 1994:[6]

[…] não é admissível ordenar mulheres para o sacerdócio, por razões verdadeiramente fundamentais. Estas razões compreendem: o exemplo-registrado na Sagrada Escritura de Cristo, que escolheu os seus Apóstolos só de entre os homens; a prática constante da Igreja, que imitou Cristo ao escolher só homens; e o seu magistério vivo, o qual coerentemente estabeleceu que a exclusão das mulheres do sacerdócio está em harmonia com o plano de Deus para a sua Igreja.

A sucessão apostólica, no caso, a Igreja Católica Apostólica de Roma, define a partir do sacramento da Ordem, que todos os bispos (homens) legitimamente consagrados, em comunhão com o papa (o sucessor de Pedro), são em sua totalidade sucessores dos doze. Contudo, resta-nos indagar: Onde estão as “Marias Madalenas”? Necessitamos de menos discurso machistas e, pelo contrário, de mais inclusão.

A proposta de “discipulado de iguais”, suscitada pela Teologia Feminista, quer ser uma resposta cristã articulada e eficaz para todas essas questões desafiadoras que se apresentam à ação evangelizadora de hoje. Que tenhamos muitas outras diaconisas como ocorreu no primeiro Sínodo da Amazônia.

A pertença religiosa das mulheres está fundamentada, também, em seu direito de decidir sobre seus corpos e dirimir o pensamento patriarcal da Igreja, pela assunção do ministério diaconal ou ordenado. A igualdade, aliada ao termo discipulado, é ter igual oportunidade de, sendo mulher, seguir como discípula o Caminho de Jesus, e se isto significa adentrar a nova comunidade eclesial para fortalecer e dinamizar a ação evangelizadora, que lhes seja concedido a formação e a ordenação. As Escrituras Sagradas do Novo Testamento deixam claro pelas Cartas Paulinas, a efetiva participação de mulheres como Febe. Esta, ao receber o título de diaconisa, (Rm 16,1) recebera de um modo específico pelo Apóstolo Paulo o ministério eclesial de anúncio da Palavra. Ele divulga que nas relações de gênero é imprescindível a relação de parceria, de complementariedade, de respeito às diferenças. As “igrejas domésticas” helenistas rompem com o modelo patriarcal, com a ordem hierárquica da casa greco-romana, vivendo relações de igualdade.

Reafirmo, assim, a tese da teóloga Nancy Pereira, que indicara a necessidade da mulher tomar a palavra, ocupando, inclusive, seu espaço no universo eclesial, se esta for sua vontade. Neste sentido, é motivo de grande admiração a vida de Ivone Gebara, por enfrentar consequências duras ao defender as mulheres no seu direito de decidir sobre seus corpos. Além disso, é de grande importância que ela some sua voz também na luta pela aprovação do Ministério Feminino Diaconal, por ser uma teóloga de uma Congregação Católica. Certamente, sua palavra irá ecoar em consonância com outras mulheres leigas, cristãs, desejosas de uma atuação mais efetiva no Serviço Eclesial.

NOTAS

[1] Pereira, Nancy Cardoso, Palestra CEBI- MG, julho 2021;

[2] 1Cor 14,34-35. A Bíblia Sagrada, Almeida João Ferreira- SP- Sociedade Bíblica do Brasil,1993;

[3] Retirado de: https://www.huffpost.com/entry/bible-womwen-words_n_6608282. Acesso em:
27/07/21;

[4] IHU-Entrevista com Ivone Gebara: Uma clara opção pelos direitos das mulheres- por Jonas, 25 de julho de 2012;

[5] Veja nota 04;

[6] Documento Pontifício, João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis,1994, p.1.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, JOÃO FERREIRA. A Bíblia Sagrada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,1993.

BRASIL DE FATO. Entrevista com Ivone Gebara. Por Débora Britto (Marco Zero Conteúdo), Recife, 18 de julho de 2019.

DOCUMENTOS PONTIFÍCIOS. João Paulo II. Ordinatio Sacerdotalis, Roma: Vaticano, 1994.

GEBARA, IVONE. Teologia Ecofeminista – Ensaio para repensar o conhecimento e a religião. Ed. Olho D’água, setembro 1997.

https//www.huffpost.com/entry/bible-womwm-words_n_66082822.

INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Entrevista com Ivone Gebara: Uma clara opção pelos direitos das mulheres. Por Jonas, 25 de julho de 2012.

MUNHOZ, Alzira. O “Discipulado de Iguais” como desafio para ação evangelizadora. Feminismo e evangelização: interpelações e perspectivas. 2000. (Dissertação Mestrado em Teologia). São Paulo: Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, 2000.

PEREIRA, Nancy Cardoso. Palestra em Oficina Bíblica On-Line. Cebi – Julho de 2021. In: Revista Encontros Teológicos, nº 70, Ano 30, Número 1/2015, p. 121-125.

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“Ecumenismo: Do conflito à comunhão”, com a palavra Lorena Cristina Sousa Silva https://observatoriodaevangelizacao.com/ecumenismo-do-conflito-a-comunhao-com-a-palavra-lorena-cristina-sousa-silva/ Wed, 08 Sep 2021 20:01:24 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40604 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pela aluna Lorena Cristina Sousa Silva para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Ecumenismo: Do conflito à comunhão

Uma vida humana sem reflexão não vale a pena ser vivida.

Sócrates

INTRODUÇÃO

Buscar uma experiência de Jesus Cristo que seja capaz de nos unir na busca de anunciar e testemunhar o Evangelho, de superar muros criados por conceitos e conflitos históricos que dividem a Igreja cristã. Por que até hoje o ecumenismo não funciona pra nós?

O termo “ecumênico” provém da palavra grega οἰκουμένη (oikouméne), que significa mundo habitado. Num sentido mais restrito, emprega-se o termo para os esforços em favor do diálogo e da unidade na pluralidade de igrejas cristãs (microecumenismo); no sentido lato, designa a busca da unidade entre as religiões apesar das diferenças (macroecumenismo ou diálogo inter-religioso).

A divisão cristã é uma realidade dramática que assola a Igreja por séculos. A história das divisões na Igreja é marcada tanto por uma série de mal entendidos, quanto pela falta de disponibilidade para entender as razões do outro. Segundo Elias Wolff, cerca de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo professam a fé em Jesus Cristo, acreditam no seu Evangelho, vivem em comunidades que se entendem como uma concretização da Igreja de Cristo neste mundo e buscam orientar a sua vida no horizonte do Reino de Deus. Mas há um drama no mundo cristão que todos sentem: a divisão nas formas de compreender e viver os ensinamentos do Evangelho e de concretizar o seguimento de Jesus.

Por meio deste trabalho, buscamos entender as razões por trás da divisão e das dificuldades do avanço no ecumenismo e de refletir sobre como a Igreja poderia atuar no sentido de reverter o quadro apresentado.

DESENVOLVIMENTO

Para o autor pesquisado, Elias Wolff, teólogo especialista em ecumenismo, para entender as premissas que separam as igrejas é primordial conhecer a história dos conflitos e divisões, e as razões decisivas para o rompimento da comunhão.

Agregam elementos de caráter cultural e político que, não poucas vezes, se sobrepõe aos propriamente teológicos. Nas querelas entre Egito e Síria, no século IV, por exemplo, estava em jogo o conflito entre as grandes sedes patriarcais. Alexandria lutava ao mesmo tempo contra Antioquia e contra Constantinopla. Antioquia era metrópole da Síria e das regiões que falavam siríaco, herdeiras da cultura semítica. Alexandria era metrópole do Egito e dos povos que falavam copto. Nessas regiões o povo simples falava a língua tradicional e a elite falava grego. Isso configurava as lutas contra a Igreja de Constantinopla como uma luta contra a elite grega, a dominação do império romano que falava o grego de Constantinopla.

Este primeiro fato presente na história das divisões cristãs é pertinente e válido, afinal manifestaram-se as diferenças das culturas grega e oriental que afetaram a compreensão dos dogmas cristológicos (compreensão teológica de Jesus Cristo). Pela explicitação do progressivo distanciamento cultural e religioso entre Ocidente e Oriente, no século XI, o autor do artigo, Elias Wolff, nos provoca pensar sobre o que de fato pesou e influenciou nas questões teológicas que levaram ao cisma, tais como o Filioque (A discussão se o Espírito Santo procede do Pai e do Filho ou somente do Pai é apontada como uma das causas do cisma entre o Ocidente e o Oriente cristão), o uso de pães ázimos na celebração eucarística, a crença no purgatório, a epíclese na consagração eucarística (Invocação do Espírito Santo), bem como as questões culturais e disciplinares como o celibato dos padres e o uso da barba, interpretações que expressam, na verdade, as diferenças de mentalidade entre gregos e latinos.

O fato de compreender de modo diferente os acontecimentos complexos da história passada, como as diferenças que persistem nas questões centrais da nossa fé, não deve dividir-nos para sempre. Nem mesmo as recordações dos acontecimentos do passado deve limitar a liberdade dos esforços atuais para reparar os desastres provocados por tais acontecimentos.

Elias Wolff, cita também o caso do Concílio de Trento, que se propôs, em seu primeiro momento (1546-1547), como um concílio reformador, projetar uma Igreja mais espiritual, um cristianismo menos ritualista e menos jurídico. Falava de “decretos dogmáticos” e “decretos de reforma”. Mas a apologia contra Lutero levou a uma verdadeira “contra-reforma”, institucionalizando e disciplinando a fé, com viés contrário ao que Lutero propunha. Também o Concílio Vaticano I pretendia desenvolver uma compreensão da Igreja sob a noção de corpo de Cristo. E essa noção, de fato, estava presente na primeira redação da proposta deste Concílio. Mas foi superada pela eclesiologia da Igreja como sociedade perfeita, que, levada ao grau máximo, fez a definição dogmática sobre o ministério do papa como Pastor aeternus.

A divisão dos cristãos vai além das divergências sobre determinados elementos da doutrina cristã. Ser cristão da igreja a ou b, por exemplo, ser católico romano, ser ortodoxo, ser protestante luterano, anglicano, metodista ou batista, ser membro de uma entre as muits denominações pentecostais ou neopentecostais diz respeito ao modo de entender e viver o conjunto das verdades do Evangelho. A divergência está no modo de conceber o conjunto do que chamamos fé cristã. Os modos distintos de conceber aos poucos se transformam em diferenças também de conteúdo e constituem uma tradição própria.

Qual a causa mais profunda da divisão na Igreja?

Segundo Elias Wolff, na raiz de todas as causas está o pecado, que se expressa pelo orgulho e a vontade humana em desarmonia com a ação da graça divina. A divisão é, em última instância, expressão do pecado. Como os corações humanos têm dificuldades para se deixarem possuir plenamente pelo Espírito, e muitos, mesmo possuindo “as primícias do Espírito” (Rm 8,23), são ainda governados pela obstinação, fazendo com que a fidelidade ao Evangelho da comunhão e abertura para a graça da unidade não seja plena.

Para divergências de compreensão, culturais ou teológicas, se tornarem e se consolidarem em divisões, muros e separações, muitas outras coisas acontecem e contribuem para tal: a falta de escuta uns dos outros, de busca e de conversão à vontade de Deus, de diálogo fraterno, de respeito mútuo, bem como a sede de poder, de autoritarismo e de tentativa de dominação do outro etc.

Depois de tantas divisões históricas, muitas delas com ações violentas e mortes, é possível superarmos o ódio e os ressentimentos transmitidos de geração em geração? É possível aprendemos a conviver acolhendo o pluralismo e respeitando as diferenças, em nome do Evangelho? Muitos acreditam que sim. É preciso mudança de mentalidades. Muitas experiências de estudo e de práticas ecumênicas estão em curso em muitos lugares entre algumas igrejas. Outras acreditam que não e permanecem fechadas ou olham com desconfiança para a possibilidade histórica do ecumenismo. O ecumenismo está entre os maiores desafios para todos os cristãos. Há alguma pedagogia pastoral que pode ajudar a avançarmos no ecumenismo? E você, o que pensa sobre isso?

PARA REFLETIR…

Diante do imenso desafio do ecumenismo, duas questões para a discussão:

1. Por que avançamos tão pouco no ecumenismo, ou seja, por que ele não funciona tanto em nossa caminhada de fé?

2. Qual(is) a(s) causa(s) mais profunda(s) de divisão na Igreja de Jesus Cristo?

CONCLUSÃO

Sobre o desafio do ecumenismo, concordo com o autor lido, a realidade da divisão da Igreja nos leva a pensar que “as divisões são sim obras do homem, mas são também permitidas por Deus“. Nelas se verifica uma divisão dos espíritos, mediante a qual deve vir à luz a fidelidade dos cristãos. Afinal, não devemos pedir a ninguém que renuncie às próprias convicções sobre a verdade eterna, mas todos devem abandonar o que deve ser abandonado, no interesse da unidade e do que se pode desfazer em boa consciência.

O autor fala algo que me provocou muito, ele diz: Muitas vezes ‘a parte de verdade irrenunciável’ que habita cada igreja corre sempre o risco de ser também o lugar da própria perversão – isto me traz convicção que por trás de grandes sermões existem grandes perversões, se Cristo é inclusivo e veio ao mundo pra nos salvar e somar junto, porque estamos usando do fato pra fatiar?

Com isto, acredito que a forma de dar a volta por cima e fazer deste limão uma limonada é trabalhar em movimentos que buscam fortalecer equipes para ações sociais ecumênicas de forma criativa. Na cidade onde eu resido, por exemplo, há um fluxo de migrantes gigantesco, pois Nova Serrana é a capital do calçado esportivo e atrai muitas famílias em busca de um futuro melhor e emprego.

Em resposta ao desafio pastoral para promover o ecumenismo, algumas sugestões práticas:

  • 1. Criar a casa da sopa ecumênica: Com campanhas de doação de utensílios, alimentação e incentivo à leitura, curso de alfabetização etc. tudo em perspectiva ecumênica;
  • 2. Criar, inspirado no programa “Jovem aprendiz”, o programa pastoral jovem ecumênico: nele jovens de diferentes religiões seriam reunidos para produzir conteúdo digital para as mídias de evangelização (músicas, paródias, forma dinâmica de ler a bíblia) em perspectiva ecumênica;
  • 3. Criar o grupo escoteiro para adolescente: Poderia haver retiros nos quais o tema do ecumenismo ocupasse a temática central para desenvolver um olhar amplo sobre este propósito e a experiência do Deus acolhedor.
  • 4. Criar experiências de visita orientada ao asilo: Com tardes de louvor e/ou leituras orientadas, de forma ecumênica, com o objetivo de anunciar Jesus Cristo para os idosos.

A partir da característica principal da cidade, que é a diversidade cultural e religiosa, desenvolver o espírito de acolhida como expressão de amor fraterno. Nesse sentido, importa criar uma linguagem religiosa simples que seja capaz de anunciar e testemunhar o Deus único e amoroso. Cientes de que nenhuma igreja possui um conhecimento exaustivo da verdade do Evangelho que nada tenha a acrescentar ou a tirar no diálogo com as demais.

REFERÊNCIAS

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecumenismo. Acesso em 06 agosto de 2021.

WOLFF, Elias. Caminhos do ecumenismo no Brasil. História, teologia e pastoral. São Paulo: Paulus, 2002.

Wolff, Elias. “Divisões na Igreja: Desafios para o ecumenismo hoje.” Theologica Xaveriana 180
(2015): 381-407. http://dx.doi.org/10.11144/javeriana.tx65-180.dideh. Disponível em: < http://www.scielo.org.co/pdf/thxa/v65n180/v65n180a05.pdf >. Acesso em 06 de agosto de 2021.

SANCHES, Jesus Hortal. E haverá um só rebanho. História, doutrina e prática católica do ecumenismo. São Paulo: Loyola, 1989.

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“O desafio de comunicar a fé cristã hoje”, com a palavra Ismael Oliveira Diniz https://observatoriodaevangelizacao.com/o-desafio-de-comunicar-a-fe-crista-hoje-com-a-palavra-ismael-oliveira-diniz/ Thu, 02 Sep 2021 15:20:43 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40503 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelo aluno Ismael Oliveira Diniz para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

O desafio de comunicar a fé cristã hoje

INTRODUÇÃO

Para esta breve reflexão lemos dois textos de Fernando Altemeyer Júnior e Vera Ivanise Bombonatto, que se encontram na obra Teologia e Comunicação, da qual eles são organizadores e autores de capítulos. Escolhemos o capítulo Trindade, mistério de comunhão e comunicação e as Considerações Finais do livro intitulada: A teologia entre a onomatopoese e o neologismo.

Ao optarmos pelo tema da comunicação, partimos da dificuldade enfrentada hoje em ambientes religiosos para entregar uma mensagem contextualizada de Jesus Cristo de modo compreensível e significativa para os ouvintes.

A opção por ingressar na vida de fé e de assumir o seguimento de Jesus Cristo é sempre da liberdade de cada pessoa. Isto posto, constatamos que estamos diante de grandes desafios no campo da pastoral: Como anunciar e comunicar a mensagem de Jesus Cristo para toda a humanidade? Queremos vislumbrar horizontes novos e romper com barreiras que se interpõe sobre nossa tarefa e vocação de levar a “boa nova” a uma sociedade que se mostra tantas vezes carente de um sentido maior em sua construção cotidiana. Nosso intuito é também a de amadurecermos a habilidade/qualidade de comunicar a fé cristã para as pessoas de nosso tempo.

Nas aulas da disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, constatamos que a teologia cristã tem se mostrado tímida frente a necessidade do ensino de uma espiritualidade cristã que seja saudável, defensora da justiça e da dignidade e geradora de vida. Antes, temos nos deparado com grupos fundamentalistas que, por vezes, tentam se passar por conservadores, mas que na verdade não o são. Muitos não sabem o que significa ou o que contribui para o anúncio da fé cristã no contexto complexo do mundo em que vivemos. Ignoram que uma comunicação ineficaz, presta enorme desserviço à sociedade atual.

Diante do caos típico de nossa contemporaneidade, deparamo-nos com pastorais cristãs com ação evangelizadora bastante reduzida e limitada. Percebemos muitas dificuldades em contribuir com uma boa comunicação em vista de construirmos uma sociedade melhor para todos, na qual o ser humano tenha suas necessidades e carências básicas atendidas e, portanto, acesso a uma vida digna dos filhos e filhas de Deus.

Diante das leituras realizadas para a apresentação deste pequeno trabalho, destacamos alguns trechos importantes que aqui compartilhamos no intuito de contribuir com a reflexão e a ação enquanto aprendizes e ensinadores deste caminho maravilhoso que trilhamos: a fé no Cristo de
Deus.


DESENVOLVIMENTO

Importa ter como exemplo o próprio Deus, que tomou a iniciativa, com liberdade e gratuidade, de comunicar, em Cristo Jesus e pela força do Espírito Santo, o seu amor por nós de maneira dialógica, respeitando a subjetividade e a cultura das pessoas, atuando de forma progressiva na realidade de seu tempo.

Os autores mencionados acima nos mostram que os Divinos três que formam a Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – como aqueles estão em perfeita comunicação e comunhão. Há na Trindade um diálogo incessante que pode nos ensinar sobre e exemplificar a autêntica comunicação e comunhão. Por este ponto, começamos a perceber o quão longe podemos estar de uma boa e eficaz comunicação da mensagem do Evangelho, que Jesus nos designou, enquanto seus discípulos e discípulas, que comunicássemos a outros.

Embasado no conteúdo lido, entendemos que todo ser humano é chamado a si comunicar tanto com o Criador quanto como o seu próximo. A partir do Mistério de Comunhão na Trindade podemos aprender que somos chamados a comunicarmos. E isto deve ser algo muito bem feito e com excelência.

Diante destas colocações ampliamos a nossa compreensão sobre o verdadeiro significado e valor de nossa ação comunicadora enquanto pesquisadores no campo do saber teológico, especificamente no âmbito da pastoral.

Na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, percebemos o supremo exemplo de excelente comunicação: Encontramos também no Ressuscitado, o maior exemplo de comunicação entre Deus e humano. Jesus é a plenitude da comunicação entre Deus e a humanidade. No seu tempo, ele não apresentou um conjunto de verdades abstratas, mas o Evangelho da vida, da justiça, da misericórdia e do amor ao próximo, capaz de gerar comunidades de partilha de vida e de fé, de respeito mútuo.

Conforme constata os autores citados sobre a comunicação de Cristo:

A sua comunicação foi uma comunicação interpessoal plena e ao mesmo tempo, informativa, provocativa. Hoje, percebemos em alguns meios religiosos o oferecimento de modelos pré-fabricados de espiritualidades que, por vezes, inibem a fala e a crítica do outro; ao passo que, nosso Salvador (Cristo) propôs a seus contemporâneos uma comunicação aberta, dialogal, havendo espaço para as diferenças.

Compartilho a angústia e a frustração de quem, muitas vezes, se sente incapaz de comunicar, pelo menos de maneira satisfatória, a contagiante mensagem de fé em Jesus Cristo. Tal angústia, que também inquieta, é a mesma que me impulsiona a buscar compreender o outro, o destinatário a ser alcançado pela mensagem do evangelho que somos chamados a proclamar.

De uma coisa estou certo, não poderemos apresentar uma boa comunicação, sem antes cultivarmos uma boa escuta, daqueles que temos o objetivo de fazer chegar a mensagem da Palavra de Deus.

É necessário ouvir para compreender a realidade e a necessidade do outro. Não se trata de oferecer um “pacote pronto” de ideias, por vezes, sem significado algum, para a vida daqueles que necessitam de uma boa e sincera iniciação na fé cristã.


PARA REFLETIR…
a) Por que numa nação de maioria cristã, a vivência cotidiana das pessoas se revelam contrárias aos ensinamentos da Sagradas Escrituras (Por exemplo, pessoas que se dizem cristãs e contraditoriamente defendem a pena de morte)?

b) O que precisamos fazer, enquanto pastoralistas, para que o anúncio do evangelho desperte a atenção e provoque postura de abertura e acolhida nas pessoas (Por exemplo, muitas pessoas não querem ouvir nem saber sobre espiritualidade)?


CONCLUSÃO

A frase que expressa bem a conclusão deste trabalho é:

Uma boa teologia precisará sempre responder às perguntas reais dos aflitos de hoje. O teólogo é movido pela Palavra de Deus. Produz teologia sob o manto do Espírito de Deus em uma rigorosa disciplina mental auscultando os desígnios de Deus e confrontando-os com a realidade.”

A partir do conteúdo exposto, fica o convite de deixarmo-nos desafiar e a nos interpelar pela sociedade em que vivemos. As pessoas que formam esta sociedade clamam por serem acolhidas e ouvidas, clamam por palavras consoladoras e norteadoras, clamam por um testemunho coerente de seus pastores do modo de viver o Evangelho proposto por Jesus Cristo.

É preciso intensificar o labor em produzir ações capazes de minimizar o sofrimento de milhares de pessoas que jazem às margens de uma sociedade que solapa a esperança de dias melhores que virão. Não podemos esquecer que somos todos passageiros de uma mesma embarcação chamada planeta Terra, que estamos destruindo, mas que podemos e devemos aprender a cuidar.

Em síntese, deixemo-nos ser impelidos pelo Espírito Santo na privilegiada tarefa de testemunhar-ensinar a fé cristã através do diálogo, motivando a participar e a desenvolver uma consciência de corresponsabilidade na atuação pastoral e uma espiritualidade em prol do bem viver.

REFERÊNCIA

ALTEMEYER, Fernando Júnior; BOMBONATTO, Vera Ivanise (org.). Teologia e Comunicação: Corpo, palavra e interfaces cibernéticas. 1ª ed. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 106-129 . 216-224.

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“A relação da Igreja com a comunidade LGBTQIA+”, com a palavra Francisco de Assis Gomes https://observatoriodaevangelizacao.com/a-relacao-da-igreja-com-a-comunidade-lgbtqia-com-a-palavra-francisco-de-assis-gomes/ Thu, 02 Sep 2021 13:47:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40491 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelo aluno Francisco de Assis Gomes para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

A relação da Igreja com a Comunidade LGBTQIA+

Se estivéssemos convencidos de que eles são filhos de Deus, as coisas mudariam muito.

Papa Francisco


PREÂMBULO

“Os católicos precisam ouvir a comunidade LGBTQIA+”. Está é a frase que me motivou a escolher o tema “A relação da Igreja com a comunidade LGBTQIA+” e adveio das aulas de Pedagogia dialógica e Pastoral Urbana. Em ambas as aulas pude entender que tratar-se de uma comunidade excluída, deixada à beira do caminho, sem amparo pastoral, sem direito ao amor de Deus e expulsos pelos cristãos do Reino de Deus.

Diante de tal realidade, nos propusemos a pesquisar sobre o tema e, devido a pandemia, tudo foi feito com a ajuda da internet. Na primeira busca deparamos com o livro “Building a bridge – Construindo uma ponte[1]” do padre jesuíta James Martin, SJ, consultor do Secretariado de Comunicações do Vaticano. O nosso olhar foi imediatamente fisgado pela obra e artigos relativos a ela. Salientamos que a leitura da obra não foi possível devido à exiguidade de tempo para produção do trabalho.

A pesquisa nos levou a constatar que o assunto possui um bom material escrito e cujo tema já chegou no Vaticano, dado o posicionamento explicito de SS. Papa Francisco em diversas oportunidades em que foi questionado. Entretanto, a discussão pública do tema ainda está bem acanhada.  

INTRODUÇÃO

Ao abrir este trabalho, proponho algumas questões[2] para a nossa reflexão, lembrando que elas nortearão, de forma diluída no texto, a abordagem da relação entre a Igreja e a comunidade LGBTQIA+:

  1. O que significa ser LGBTQIA+ diante do ser católico?
  2. A Igreja precisa ouvir e acolher a comunidade LGBTQIA+?
  3. É possível “construir uma ponte” entre as pessoas LGBTQIA+ e a Igreja?

O texto do Evangelho de João que apresenta Jesus como o Bom Pastor nos dá uma ideia clara do papel daqueles que ouvem o chamado ao pastoreio das ovelhas de Deus. Precisamente em Jo 10, 10c-11, temos o nível de engajamento que o pastor deve apresentar para ser uma mimese real do bom pastor: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”.

A vida pós-moderna nos revela uma realidade diferente do que o Evangelho nos propõe, pois a comunidade LGBTQIA+ não é acolhida pelo cristianismo em geral e foi colocada à margem, sofrendo todo tipo de discriminação e profunda carência de acolhimento. O diálogo foi simplesmente interrompido com a ovelha perdida, ou melhor: a ovelha foi descartada.

É muito estranho a falta de diálogo entre os cristãos e a comunidade LGBTQIA+. Aliás, ao longo da história, percebe-se uma tensão muito grande entre ambas. O aparecimento de grupos radicais neopentecostais acirrou ainda mais o clima, elevando a temperatura ao ponto de que em nome de Deus e de um purismo absurdo, partirem para a agressão física e psicológica de pessoas LGBTQIA+ de uma maneira irracional e selvagem, aumentando sobremaneira o distanciamento e dificultando as poucas e isoladas tentativas de aproximação.

CONSTRUINDO UMA PONTE  

A propósito do lançamento da edição ampliada e revisada de seu quase polêmico livro “Building a bridge” o padre James Martin concedeu uma entrevista à REVISTA IHU ON-LINE, com o título: “A Igreja precisa ouvir as pessoas homossexuais”. Nessa oportunidade, explicou que expandiu a obra para dar mais voz às pessoas LGBTQIA+ e deixá-las contar suas próprias histórias, uma vez que se aprende melhor ouvindo histórias. Aliás, um recurso pedagógico muito bem utilizado por Jesus Cristo. Além disso, Martin insiste que o “ouvir” o outro está na base do acolhimento. E é esse “ouvir” que abre as portas para uma aproximação e um acompanhamento, do qual não pode subestimar o valor da amizade que pode surgir entre as partes. Entretanto, aponta que o medo de ambos os grupos pode ser um entrave muito sério na relação entre estes dois mundos tão distintos. O diálogo só encontra espaço num ambiente de amor perfeito que afaste o medo. O autor da obra continua insistindo que o ambiente de amor também favorece à reconciliação entre a comunidade LGBTQIA+ e a Igreja, uma vez que foi esta que marginalizou o cristão LGBTQIA+.

Para Martin, não há dúvidas de que o diálogo respeitoso entre Igreja e cristãos LGBTQIA+ é o caminho mais eficaz para se construir pontes. Por outro lado, a comunidade LGBTQIA+ queixa da falta de acesso aos bispos, arcebispos e cardeais. Essa dificuldade apontada por Martin é tão grave que ele buscou apoio nas palavras do teólogo gay Jason Steidl para apresentar o protesto como a única maneira das minorias se fazerem ouvir e poder se expressar.  Ademais, o catecismo da Igreja trata o assunto com uma linguagem que afeta as pessoas LGBTQIA+ e isso não favorece ao diálogo. Pois, como aponta uma paroquiana de Martin, é uma linguagem que pode destruir os jovens. Como nos explica Javier e Martha – pais de jovem gay – “palavras vindas de padre e bispos têm verdadeira autoridade”.

Por tudo isso, o autor sugere um retorno reflexivo sobre algumas passagens do evangelho para meditar melhor sobre a pedagogia empregada por Jesus Cristo no encontro com pessoas marginalizadas e aponta o encontro do Mestre com a mulher samaritana. Para Martin, é um dos diálogos mais longo de todo Evangelho, não havendo nenhuma razão para Jesus Cristo fazer tal coisa, pois falar com mulher e samaritana não era algo esperado para um judeu. Na verdade, nos evangelhos, Jesus Cristo está acolhendo, ouvindo e dialogando com pessoas marginalizadas, coisa que todos nós cristãos podemos e devemos fazer, conclui o autor, abrindo a possibilidade para o acolhimento fraterno das pessoas LGBTQIA+.  

CONCLUSÃO

Apoio-me em  LIMA (2009) para responder as questões apresentadas no início deste texto, pois homossexualidade é apenas uma das tantas questões que interpelam a humanidade, exigindo desta uma abordagem séria e comprometida. Por conseguinte, a Igreja tem um papel fundamental. Nesse sentido, ele concorda com a reflexão de Martin (2019). Para o autor, pluralidade é a riqueza do mundo acadêmico e natural, uma vez que o próprio termo católico nos remete para o universal, de onde só se pode esperar uma multiplicidade de entes convivendo naturalmente e em harmonia. Portanto, a aspecto da natureza humana e pode “ajudar as pessoas a amarem a si mesmas como criação divina e a darem um sentido amoroso e transcendente às suas vidas”.   

LIMA (2009) aduz que “na verdade, nós estamos vivendo uma mudança de paradigma antropológico”, ou seja, no início do terceiro milênio de vida cristã, uma nova realidade humana desponta no horizonte e balança as frágeis estruturas de uma moral que já não se sustenta mais. Há muitos gays que se sentem felizes como são, pois acham que Deus os ama, os fez assim e não sentem vergonha ou culpa do que são.

O papa Francisco muito tem contribuído nesse sentido. Ao receber o padre James Martin no Vaticano para falar de sua missão de amparo e acolhimento das pessoas LGBTQIA+ e das diversas vezes que manifestou publicamente seu desejo de receber esta comunidade no seio da Igreja ao se expressar humildemente a respeito: “Quem sou eu para julgar”? Atitude assim nos dá a impressão de que há uma urgência em reparar essa lacuna que por muito tempo foi omitida, evitada e desconsiderada.

No entanto, não se pode ser inocente e achar que tudo está resolvido ao abrir as igrejas e colocar as pessoas LGBTQIA+ para dentro. Não é só isso. Há um longo caminho a ser percorrido. Podemos dizer que a acolhida no seio da Igreja é passo importante que está sendo dado. É preciso colocar o assunto em pauta de conversa, estudo e reflexão. Além disso devemos nos conscientizar de que as mudanças necessárias são enormes. O processo de mudança de mentalidade e práxis é lento e pode causar escândalos em muitos. É preciso cuidar para que as gerações que se sucedam cresçam em um ambiente acolhedor que favoreça aproximação e mudança de mentalidade. Com a graça de Deus, tenho certeza de que um dia chegaremos a um bom termo.

O texto levou-me a pensar que há um grande número de pessoas LGBTQIA+ que são motivados à fé cristã católica, que querem aderir ao projeto divino, experimentando o amor de Deus e seguir o caminho de Jesus Cristo do jeito que elas são. Entretanto, parte da Igreja ainda insiste em fechar-lhes as portas do Reino. Além dos problemas institucionais, a oposição ao acolhimento dos Gays é forte e vem da sociedade leiga também. Há um crescente número de grupos extremistas radicais de direita e de esquerda que lutam contra. Contudo, o trabalho do Padre James Martin e de outros pode e deve servir de inspiração para muitos que querem contribuir nessa tarefa de inclusão: “Construindo um complexo de Pontes” de mão dupla, ligando a comunidade LGBTQIA+, Igreja, Sociedade e Deus.

Respondendo diretamente às questões propostas:

a) O que significa ser LGBTQIA+ diante do ser católico?

Significa ser excluído, por ser considerado indigno de pertencer à comunidade cristã e poder ouvir a Palavra de Deus.

b) A Igreja precisa ouvir e acolher a comunidade LGBTQIA+?

Já passou da hora de se debruçar sobre o assunto e buscar uma solução. Todos têm direito à voz e fala. Portanto, não há justificativa para tanta exclusão.

c) É possível “construir uma ponte” entre as pessoas LGBTQIA+ e a Igreja?

É o que penso e que me motiva a trabalhar nesse espinhoso assunto. Aliás, já disse anteriormente, uma ponte só é pouco, precisamos de um complexo de pontes e com duas vias.

Finalmente, “OUVIR” foi o verbo que mais me chamou a atenção e que apareceu muitas vezes nos textos que li. Portanto, encerramos o trabalho com a mesma frase que abrimos: “Os católicos precisam ouvir a comunidade LGBTQIA+”.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, John. Em ‘Construindo uma Ponte’, o Padre James Martin dá as boas-vindas aos católicos LGBTQ. AMERICA – THE JESUIT REVIEW. Disponível em: https://www.americamagazine.org/arts-culture/2021/06/16/anderson-building-bridge-movie-martin-240881. Acesso em: 04/07/21.

LEFEBVRE, Elizabeth. A conversa LGBT é um sinal de nova vida na igreja. U.S.Catholic – FAITH IN REAL LIFE, 03/04/18. Disponível em: https://uscatholic.org/articles/201804/the-lgbt-conversation-is-a-sign-of-new-life-in-the-church/. Acesso em: 04/07/21.   

LIMA, Luís Corrêa. A igreja e os homossexuais. REVISTA IHU ON-LINE, 24/08/19. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/24408-a-igreja-e-os-homossexuais-entrevista-comluis-correa-lima. Acesso em: 04/07/21.

MARTIN, James. A Igreja precisa ouvir as pessoas homossexuais. REVISTA IHU ON-LINE, 22/02/18. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/576294-a-igreja-precisa-ouvir-as-pessoashomossexuais-entrevista-com-james-martin. Acesso em: 04/07/21.

MARTIN, James. Os católicos precisam ouvir os LGBT. DW Brasil, 04/10/19. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/os-catolicos-precisam-ouvir-os-lgbt,c826ac7ec9b0d0f0b996a8672731f3ee10v6rf4g.html. Acesso em: 04/07/21.

SHINE, Robert. Teólogos católicos ficaram quietos demais sobre o livro “Building a Bridge”, do padre James Martin? REVISTA IHU ON-LINE, 07/03/18. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/188-noticias/noticias-2018/576706-teologos-catolicos-ficaram-quietos-demais-sobre-o-livro-building-a-bridge-do-padre-james-martin. Acesso em: 04/07/21.


[1] Livro escrito originalmente em inglês e sem tradução no Brasil. “Construindo uma ponte” é uma tradução livre, sem maiores pretensões.

[2] Estas questões foram tiradas ou parafraseadas a partir dos textos lidos.

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Paróquias e os desafios do mundo atual, com a palavra Hidelbrando Marques Ferreira https://observatoriodaevangelizacao.com/paroquias-e-os-desafios-do-mundo-atual-com-a-palavra-hidelbrando-marques-ferreira/ Tue, 31 Aug 2021 02:41:03 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40455 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelo aluno Hidelbrando Marques Ferreira para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Paróquias e os desafios do mundo atual

A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.

PAPA FRANCISCO (Evangelii Gaudium, n. 1)

INTRODUÇÃO

Em sua primeira exortação apostólica (Evangelii Gaudium, A Alegria do Evangelho) o papa Francisco enumera alguns desafios do mundo atual. A partir do número 71, ele fala dos desafios das culturas urbanas que a princípio foi um tema que me chamou bastante atenção. Porém notei que, antes desse, um outro assunto primário me incomodava e talvez fosse uma das origens da dificuldade em lidar com essas culturas.

Falo das formas como a Igreja Católica se organiza e como isso influencia no comportamento das pessoas e também nos resultados alcançados ou não no processo chamado por nós de evangelização. Então vem o questionamento sobre o formato administrativo chamado de paróquia. Alguns acreditam que é um formato inadequado para os tempos atuais, principalmente pelo histórico de sua criação estar conectado ao mundo rural. O que fazer com as paróquias? Elas permanecem uma estrutura rural no contexto urbano?  Como fazer para que as paróquias dialoguem com as novas culturas ?

DESENVOLVIMENTO

A paróquia é o resultado de como as comunidades evoluíram através dos tempos. O termo paróquia, em latim Parochia, refere-se a um grupo de pessoas que são vizinhas, que moram próximas. Se olharmos no sentido espiritual a paróquia seria o local de acolhida dos peregrinos que mesmo estando na terra, tem o céu como morada (cf. 1Pd 2,11). A palavra paróquia em si, resumindo seus diversos significados, quer dizer um local que deve servir de acolhida.

O código de direito canônico de 1917 define a paróquia como “uma parte territorial da diocese com sua própria igreja (templo) e população determinada, atribuídas a um reitor especial como pastor próprio da mesma para a necessária cura das almas.” Já o código de direito canônico atual datado de 1983 diz que: “A Paróquia é certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do Bispo Diocesano, está confiada ao pároco, como a seu pastor próprio.” A impressão, então, que se tem é que de uma época para a outra se passa da preocupação com o campo espiritual para a questão administrativa.

O texto do livro Paróquias Urbanas, entender para participar, de Welder Lancieri Marchini, propõe que dentro de uma sociedade considerada híbrida, ou seja, que está em constante transformação e estabelece trocas de elementos culturais, as paróquias sejam desafiadas a novos relacionamentos e novas posturas pastorais, pois diante de um novo espaço urbano a paróquia não pode se comportar como se estivesse em um gueto ou em uma tentativa de negar processos culturais que transformam tanto um bairro como a própria comunidade cristã.

A partir da visão do sociólogo Alan Turraine, o autor define o indivíduo como alguém que não tem nome, idade, sexo ou classe social, aquele que está no meio da multidão. Já o sujeito se caracteriza pela vontade de um indivíduo de ser reconhecido como ator social. Ele quer atuar na sociedade.

Essa ideia, talvez, seja muito importante para pensarmos em uma paróquia que dialogue com a realidade urbana. Segundo Turraine, o indivíduo urbano tem menor participação em qualquer forma de construção social, pois, muitas vezes é mero consumidor. O formato urbano aumenta a distância entre o indivíduo e as instituições. As pessoas como meras consumidoras do serviço podem escolher aquele que mais agrada pois existe uma concorrência maior. A tendência é crer sem pertencer. As pessoas frequentam a igreja mas tem suas próprias leis morais.

Para Marchini, é preciso assumir que existem as paróquias urbanas e que elas precisam dialogar com o ambiente urbano. Nesse sentido, a paróquia precisa montar estratégias e metas de trabalho e qualificar seus agentes de pastoral, pois no contexto urbano não basta ter boa vontade. A credibilidade não é dada pela função que um agente ocupa, mas pela desenvoltura que ele tem. É preciso um planejamento pastoral.

Se queremos por exemplo que nosso trabalho pastoral leve os fiéis a um encontro com Jesus precisamos de uma catequese permanente para acompanhá-las de perto.

Para Renold Blank, em seu livro Ovelha ou Protagonista? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21 o primeiro obstáculo à realização de um protagonismo do leigo é a interiorização pelos próprios leigos, de uma estrutura eclesiástica hierarquizada que produziu uma consciência de ovelha passiva e obediente e junto a essa estrutura uma série de fatores e mentalidades que dificultam o diálogo com o mundo “externo”.

PARA REFLETIR…

  • Para você o que é paróquia?
  • As paróquias, com sua organização e mentalidade, ainda fazem sentido no tempo presente?
  • Para enfrentar os desafios do mundo atual, qual a nossa mentalidade?
  • Como trabalhamos no sentido de sermos lugares de uma espiritualidade viva?
  • A paróquia é capaz de atender essas demandas?

CONCLUSÃO

Existem paróquias e paróquias. A identidade cristã no contexto urbano vai além da administração dos sacramentos. É necessário transformar os membros das comunidades em sujeitos eclesiais capazes de ser presença cristã na vida da cidade. Temos que trabalhar para que as pessoas não sejam meras espectadoras. A pastoral urbana acontece sobretudo pelo processo de valorização do protagonismo dos leigos.

É preciso ampliar e qualificar o diálogo com o indivíduo a fim de torná-lo de ovelha a protagonista com identidade cristã considerando as múltiplas realidades e situações vividas. Não basta dizer o que o cristão deve fazer. É preciso criar a consciência de uma identidade cristã para que ele próprio saiba o que fazer embasado em sua experiência comunitária e no agir de Jesus.

O documento de Aparecida em seu número 39 admite que

“nossas tradições culturais já não se transmitem de uma geração à outra com a mesma fluidez que no passado […] ao lado da sabedoria das tradições, localizam-se agora, em competição, a informação de último minuto, a distração, o entretenimento, as imagens dos vencedores que souberam usar a seu favor as ferramentas tecnológicas e as expectativas de prestígio e estima social. Isso faz com que as pessoas busquem denodadamente uma experiência de sentido que preencha as exigências de sua vocação ali onde nunca poderão encontrá-la.”

DOCUMENTO DE APARECIDA, n.º 39

Se queremos chegar até as pessoas é preciso primeiro acolhê-las como elas são. Amá-las dentro da condição que se apresentam. Ninguém se converte pelo ódio ou pela indiferença. É necessário abrir os olhos e o coração para as diversas pessoas em suas diversas realidades.

Nesse sentido, o problema não está somente na estrutura administrativa da paróquia, mas nas mentalidades, muitas vezes atrasadas e retrógradas, de alguns de seus membros. O trabalho é árduo mas é preciso renascer.

RENASCER

Paulo Gabriel

Depois de percorrer boa parte do caminho

fica o essencial e o essencial é simples

TUDO É DIVINO

Ou se você quiser

A VIDA É GRAÇA E DEUS É DOM!

Houve um homem ou teria sido uma mulher?

Que amou a vida até o êxtase

e porque amou a vida amou o amor

que é o mesmo que dizer

SOFREU TANTO, QUE FICOU CHEIO (A) DE LUZ!

Ou se você quiser,

FOI NECESSÁRIA TANTA DOR PARA FICAR TÃO LEVE!

Talvez você não saiba, mas esse homem,

– ou teria sido uma mulher?-

É VOCÊ!

Somos alma que é o mesmo que dizer:

O TEMPO É POUCO PARA TANTO AMOR!

Por isso precisamos renascer,

e é do alto que a vida vem,

frágil como um menino entre fuzis.

REFERÊNCIAS

BLANK, Renold. Ovelha ou Protagonista? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21. São Paulo: Paulus, 2006.

DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe. 13-31 de Maio de 2007. Conselho Episcopal Latino-Americano, CELAM. São Paulo: Paulus, 2007

PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho (24 de Novembro de 2013). Lisboa: Paulus, 2013

MARCHINI, Welder Lancieri. Paróquias Urbanas: entender para participar. Aparecida-SP: Editora Santuário, 2017

PEREIRA, Maurício Alves. O beijo de Deus: o evangelho da rua segundo Tio Maurício / Maurício Alves Pereira, Paulo Gabriel. São Paulo: Paulinas, 2005

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“Desafios da Catequese no cenário da pós-modernidade”, com a palavra Francisco das Chagas Lopes Matos, Márcio Ribeiro de Souza e Maria Aparecida de São Geraldo Morais https://observatoriodaevangelizacao.com/desafios-da-catequese-no-cenario-da-pos-modernidade-com-a-palavra-francisco-das-chagas-lopes-matos-marcio-ribeiro-de-souza-e-maria-aparecida-de-sao-geraldo-morais/ Sun, 29 Aug 2021 14:39:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40430 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Francisco das Chagas Lopes Matos, Márcio Ribeiro de Souza e Maria Aparecida de São Gerado Morais para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade

Catequista não é um professor que leciona. A catequese não é uma lição, mas a expressão da própria experiência e testemunho de fé em Cristo. Não se deve impor a verdade da fé, mas comunicá-la com carinho, paciência e amizade. Só assim a catequese se torna promoção da vida cristã, apoio na formação global dos fiéis e incentivo para ser discípulos missionários.

Papa Francisco

INTRODUÇÃO

“A catequese aparece no cenário eclesial como assunto controverso. Marginalização e incentivo são duas reações comuns ao tema”  (CARMO, 2010). Ao tratarmos de um tema tão desafiador na Igreja hoje, atenhamo-nos ao princípio norteador da nossa fé e propulsor da vontade e da certeza da missão do catequista: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8)

Importante enfatizar o sentido da palavra catequese, que traz consigo o poder de ecoar, pregar, anunciar e testemunhar, mergulhado em um modo de vida baseado no Evangelho. Quem acolhe a Palavra, se torna um divulgador, promove, assim, itinerários de crescimento da fé e da Igreja. “O catequista é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja” (Antiquum Ministerium, Art. 6)

Antes de tratarmos dos desafios da catequese hoje, façamos uma rápida inserção pelos modelos oficiais desde os primórdios da Igreja. 

O primeiro deles, o Catecumenato, consistia na experiência de fé e vida em comunidade. A pessoa adulta era levada a fazer uma opção consciente por Jesus. Nas fases do Catecumenato havia a acolhida a partir da intenção em saborear e conhecer a Palavra, numa experiência de discipulado; receber os Sacramentos da Iniciação Cristã por ocasião da Vigília Pascal e assim pregar, testemunhar, viver e celebrar a vida em Cristo. A fase celebrativa com símbolos e ritos é chamada mistagogia. Tudo convergindo para a experiência pessoal com Cristo. Importante: esse modelo de catequese permaneceu dos séculos II ao IV.

Outro modelo de catequese que perdurou dos séculos IV ao XV foi o denominado Regime de Cristandade ou Catecumenato Social. Naquele período havia a liberdade de culto dos cristãos, pois o cristianismo era a religião oficial do Estado de Roma.

A partir do século XVI, a Igreja segue com outro modelo chamado como Instrução, devido à Reforma Protestante de Martin Lutero que provoca uma ruptura com a Igreja Católica e, consequentemente, outros desafios são impostos a, até então, única igreja existente. Há então outra doutrina a partir do Concílio de Trento (1545-1563), a Contrarreforma. Aqui citamos as ações missionárias na Ásia e na América.

Na sequência de modelos catequéticos, seguimos com o Catecismo Romano ou dos párocos, que, após as missas, faziam os seus ensinamentos às comunidades. O foco é a doutrina. Entende-se que o catequizando não possui os elementos da fé e, portanto, deve receber tais ensinamentos básicos da Igreja de Roma.

Chegamos à fase da catequese como Educação Permanente para a comunhão e participação na comunidade de fé, a partir do final do século XIX e início do século XX. Aqui falamos de movimentos de atualização da fé para dialogar com o mundo, de Aggiornamento. Caminho do Construtivismo, de PIAGET.  Seus princípios básicos são ver, julgar e agir diante de uma realidade de progresso tecnológico, científico e os desafios da urbanização. Importante considerar o contexto do processo de secularização, ou seja, o estado laico, em um rompimento com o antigo modelo da cristandade, ratificado pelo Concílio Vaticano II.

Duas Conferências episcopais, a de Medellin (1968) e a de Puebla (1979), na América Latina, influenciaram um despertar para a catequese no Brasil que especificamos. O modelo de catequese atual é a Catequese Renovada: fé e vida. Documento 26, da CNBB. Trata-se da inserção na comunidade eclesial orgânica, pensada, organizada e concatenada. Entrelaça-se com toda pastoral da Igreja. É cristocêntrica, apresenta também a pessoa de Jesus histórico, o homem de Nazaré.

É uma catequese contextualizada, centralizada na pessoa humana. Luta pela salvação do ser humano como um todo. Preocupa-se com a moradia, educação, saúde, liberdade religiosa e outros valores essenciais à dignidade humana. É uma catequese histórico-profética na América Latina. O documento preconiza o proclamar que “Jesus é o Senhor” de toda história de promoção e cuidado com a vida humana. É um desejo de que a catequese esteja integrada à vida em comunidade. É acolhedora e inclusiva.

DESENVOLVIMENTO

Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade

Para a autora Carmo (2010), catequeta e biblista, teóloga leiga mineira, o principal problema da catequese atual é não levar em conta as mudanças atuais que as ciências do homem apresentam, especialmente a antropologia, a sociologia, a psicologia, e nem mesmo parece considerar os avanços da teologia. Segundo ela, a catequese precisa se emparelhar com a reflexão teológica tão avançada no momento. E, que existe um abismo assustador separando as duas realidades: a reflexão e a prática catequética.

1. A MUDANÇA EPOCAL E A NECESSIDADE DE UM NOVO PARADIGMA CATEQUÉTICO

Segundo a autora pesquisada, catequetas do mundo inteiro preocupados com a mudança epocal e conhecedores do processo catequético, esboçam algumas linhas gerais para um novo paradigma catequético, que responda aos anseios do homem pós-moderno, mantendo a fidelidade ao evangelho de Jesus Cristo e à tradição catequética da Igreja. Para eles, tanto a catequese dos catecismos de Trento como a catequese atual estão construídas em bases antropológicas próprias da modernidade que não se coadunam com os anseios do homem e da mulher contemporâneos da pós-modernidade. Urge traçar um novo paradigma, ainda que isso seja arriscado. A boa-nova de Jesus Cristo, que cativou milhões de pessoas e seduziu tantos seguidores, não perdeu sua força. Porém, os modelos de seu anúncio já não se encaixam no novo perfil de homem e mulher que ora se delineia. 

1.1 O fim do Regime de Cristandade

Com o fim do regime de cristandade, – numa sociedade inteiramente cristã, segundo a autora, citando Martínez (2006), a fé era transmitida por “osmose sociológica”, de uma pertença maciça, indiscutível e pacífica à Igreja -, o trabalho evangelizador e a catequese atual não podem permanecer do mesmo jeito. Começou-se a compreender a sociedade como algo secularizado, uma instância não mais cristã, mas partia-se do princípio de que o indivíduo permanecia cristão (VILLEPELET, 2006).

O modelo atual de catequese, advindo da renovação catequética da primeira metade do século XX e amplamente desenvolvido no Brasil, com feições próprias da realidade latino-americana (estilo e vida), que se baseava na cristandade, não se supôs o seu interlocutor: alguém secularizado e sem raízes cristãs bem definidas.

Para Solange, a catequese “moderna” tinha como destinatário um sujeito eclesial com novos anseios e novos valores, mas ainda com vínculos com a Igreja ou advindo de famílias com contornos cristãos. Não se tinha pensado num sujeito ateu, desnorteado e sem Deus, paralisado diante da sociedade evolutiva, fragmentada e globalizada que ora se apresenta. Nem mesmo num sujeito advindo da família cristã, mas apenas com maquiagem religiosa.

O ponto de partida e destinatário de sua palavra era o sujeito que se apresentava como alguém que já, de certa forma, conhece Jesus Cristo e o seu Evangelho. O objetivo seria apenas aprofundar o compromisso com o mestre Jesus, delineando as exigências éticas próprias do cristianismo, sem perguntar se existe a adesão primeira. No entanto, segundo a autora, Villepelet (2006) alerta para essa configuração social: “Hoje já não podemos pressupor uma sintonia real entre nossos contemporâneos e o mistério cristão do amor e seu poder de renovação. A boa-nova não se encontra mais no depósito da memória viva nem no horizonte das expectativas dos seres humanos”. Negar essa realidade seria partir de uma premissa falsa. Ainda que todo o raciocínio seja coerente, a conclusão fica comprometida pela inviabilidade da premissa.

1.2 A Renovação catequética e sua contribuição

Para Carmo (2010), a renovação catequética foi promotora da superação do período catequístico, aquele em que se fazia uso dos catecismos e se dava importância à memorização das fórmulas, que chegou com força no Brasil e a toda a América Latina. A hermenêutica do Vaticano II (1962-1965) que eclodiu nas Conferências Episcopais da América Latina, deu amplo espaço à renovação catequética, que ganhou vida e tomou corpo no Brasil com o documento Catequese Renovada da CNBB, em 1983.

Com a revolução catequética, segundo Carmo (2010), foi instaurado um novo modelo teológico com uma vertente mais antropológica que ocupava lugar cativo da teologia descendente. A Igreja corpo de Cristo que era entendida de modo estático e hierárquico, agora cedia lugar para a nova imagem da Igreja povo de Deus.

A pedagogia do ensino, para Carmo (2010), também mudou: a que entendia o destinatário da catequese como uma tábula rasa abria espaço para uma pedagogia da aprendizagem, alicerçada em Piaget ou no brasileiríssimo pedagogo dos pobres, Paulo Freire. Com uma visão muito otimista da humanidade!

Assim, para a autora(2010), citando Villepelet (2006), a catequese propõe revelar aos catequizandos o que eles têm dentro de si mesmos sem o saber, fazendo uma conexão entre fé e vida. Era uma pedagogia muito intuitiva: onde o encontro com Deus se dava a partir da vida, da existência concreta à luz da Palavra. 

Para Solange (2010), foram muitas conquistas, muitos desafios enfrentados com sucesso, e quanta encarnação na realidade latino-americana, de modo particular, que só podia resultar em avanços. Mas o tempo passou depressa. Parece que foi ontem. Mas mesmo o ontem já é passado! Ainda que não seja um passado tão remoto quanto a cristandade, a modernidade já não é o tempo presente. Mesmo assim, ela deixou marcas indeléveis.

Segundo ela (2010), o ser humano foi tatuado com o selo da razão e isso parece algo que não se apaga. Mas esse ser humano da modernidade, mesmo como todo o crivo da razão, ainda tinha espaços para a fé cristã, que ainda levava em consideração a voz da Igreja, talvez porque a modernidade tenha chegado tardiamente ao Brasil. E, que um ser profundamente marcado pela fé cristã ainda morava no recôndito da consciência moderna, tão sedenta de explicações!

1.3 O tempo que se chama hoje e o novo destinatário da catequese

Para a autora (2010), se isso foi realidade na segunda metade do século XX, o novo milênio desponta, no entanto, sob a égide da secularização. A aurora anunciada é de abandono da fé cristã, apesar do ressurgimento do sagrado – também no cristianismo – que se observa.

Para Solange (2010), fundamentando-se em Villepelet (2006), atravessamos um período de verdadeira recomposição espiritual. A atração pelo religioso, inclusive o cristão, não desapareceu, foi metamorfoseada. Os batizados já não se sentem cristãos da mesma maneira que antes; mas com uma diferença que aproveita as realidades religiosas disponíveis. Cada indivíduo toma a liberdade de construir uma espécie de religião privada, livre de toda restrição institucional. Trata-se de uma fé mais nômade e imprecisa, que representa a dimensão mais livre da liberdade. É um fator de realização pessoal, que não está necessariamente orientado para a transcendência. A busca espiritual de muita gente fica reduzida a uma migração dentro de si mesmo.

Segundo ela (2010), citando Villepelet (2005), já não se respira aquele ar cristão nas famílias, nem mesmo em um país de maioria católica como o Brasil. Já não se pensa no formato católico. Desponta uma nova configuração social, com novo vocabulário e nova gramática religiosa. A sociedade já não se organiza em torno dos valores difundidos pela Igreja. Uma mudança de época também para o Brasil! E o fato de uma nova pessoa se declarar católica no Censo, por exemplo, não significa adesão à boa-nova de Jesus Cristo, muito menos aos ensinamentos da Igreja. Não quer dizer nem sequer frequência às liturgias e fidelidades à prática sacramental da Igreja.

Na visão desta autora (2010), e dos autores por ela pesquisados: Denis Villepelet (2005) e Clifford Geertz (2006), uma religião católica com novos contornos foi desenhada nos últimos anos: um catolicismo light, feito de diversificados elementos bem selecionados num amplo self-service da religião oferecido pela pós-modernidade. Uma verdadeira bricolagem, minuciosamente bem-feita e com elementos por vezes contraditórios que, no entanto, se coadunam sem causar constrangimento: uma religião sem vínculos de pertença.  Como disse Geertz (2006): “A religião tornou-se cada vez mais um objeto flutuante, desprovido de toda ancoragem social em uma tradição pregnante ou em instituições estabelecidas”.

Diante dessa mudança epocal, para Solange, a Igreja percebe a urgência de anunciar a boa-nova de Jesus Cristo de forma que ela seja de novo crível. Como afirma o Documento da CNBB (2005):

A onda secularizante da cultura moderna, a falência das utopias sustentadas pelas promessas do Iluminismo e a força desagregadora do processo de globalização, balizado por critérios puramente econômicos, voltados para o consumo, geraram um vazio tal, de esperança e de valores, que a missão de evangelizar nos aparece cada vez mais como a urgência das urgências.

Catequese Renovada, Documento 26, p. 19

Ou como afirmou Nery (2007): “Já não é mais possível continuar ingenuamente nos restos de cristandade que ainda há entre nós, da fé como social, um costume da família, como parte do fato de ser brasileiro” (p. 20).  Carmo (2010) diz que já é hora de assumir o novo sujeito social, destinatário da boa-nova: alguém a quem é preciso propor a boa-nova como força para viver, sem rebaixar o que a Palavra tem de abrupta e desconcertante. Já é tempo de fazer conhecer aos homens e mulheres de nosso tempo. Segundo Fossion (2006): “o frescor da boa-nova de Jesus Cristo, para além das sombras e barreiras que a têm desviado” (p.21).

2. UMA CATEQUESE EVANGELIZADORA

Para alcançar aqueles que ainda não conhecem a boa-nova de Jesus Cristo e sua ação transformadora é urgente que a reflexão catequética se proponha algumas tarefas:

2.1 Aprofundar a necessidade do caráter evangelizador da catequese

Catequizar e evangelizar são duas ações da Igreja que estão intimamente interligadas. No decorrer da história da Igreja, coube à evangelização a missão do primeiro anúncio e a missão de aprofundar a vivência cristã ficou a cargo da catequese. Ela teve como foco o conhecimento da doutrina católica e os princípios da ética cristã. A partir da análise desse movimento e diante do tempo atual, se faz necessária a construção de uma catequese evangelizadora.

Infelizmente na estrutura pastoral tradicional da Igreja, a evangelização é algo secundário e o destinatário é somente os não cristãos. O autor Villepelet indica a construção de um novo paradigma catequético com contornos evangelizadores ainda não bem definidos.

2.2 Refletir sobre a mudança epocal e a exigência de um novo paradigma catequético

O debate em torno da questão da pós-modernidade é bem avançado. Contamos com a contribuição de muitos autores, especialmente teólogos, que com perspicácia aprofundaram na ótica da catequese contribuindo para uma melhor percepção das novas exigências no campo da fé diante das mudanças na sociedade. 

Com isso surgem novas intuições que confirmam hipóteses para o novo paradigma da catequese com um destaque mais de proposta do que de herança. Uma catequese mais próxima da liturgia, de iniciação e que se apresenta de maneira mais orgânica, mas não linear, do mistério cristão.  O ser cristão exige iniciação e opção, a fé cristã é reposta pessoal e livre ao chamado de Deus. Cada pessoa é convidada a elaborar sua resposta de forma livre e convicta.

A segunda hipótese é oferecer uma experiência vivencial que seja absorvida, degustada, experimentada. É uma tarefa da catequese marcar assim a experiência vivencial da singularidade cristã. Com isso a liturgia se torna o lugar do mergulho dos cristãos no mistério pascal de Cristo despertando o caráter celebrativo da fé na catequese. Da estrutura de sala de aula para um encontro marcado pela mistagogia, oração, silêncio, escuta da Palavra de Deus e partilha.

A terceira hipótese, construída sobre a segunda, no que se refere a singularidade da vida cristã como experiência do mistério, indica a pedagogia da iniciação como método próprio levando em consideração o tema da linguagem ou da gramática da fé. A Igreja deve oferecer condições aos batizados de conhecer sua fé a partir da experiência profunda do Deus vivo na qual foram mergulhados no batismo. Cada pessoa tem o direito e a liberdade de fazer este caminho de experiência ou também rejeitá-lo, caso não mais esteja de acordo com o momento de sua vida.

A quarta hipótese nos diz que a catequese cristã, em todas as etapas e situações, comporta um desenvolvimento coerente do mistério cristão. Comporta também, em meio a revelação do Deus uno e trino, o assentimento da inteligência. A fé cristã traz elementos de racionalidade e compromisso. A racionalidade da fé continua presente, mas com um acento mistagógico. A profecia se intensifica ancorada pelo belo, pelo lúdico e pelo místico.

2.3 Perceber os pressupostos teológicos que sustentam o paradigma de uma catequese evangelizadora

Diante dos desafios da sociedade pós-moderna os catequetas buscam elaborar uma catequese evangelizadora, centrada na iniciação cristã mesmo que alguns dos seus destinatários já tenham recebido alguns dos sacramentos de iniciação. É importante se apropriar de pressupostos teológicos, avaliando riscos e vantagens desse novo paradigma.

2.4 Delinear os traços mais marcantes desse novo paradigma catequético

Contudo, se faz necessário traçar de forma mais sistemática os contornos do paradigma catequético evangelizador, buscando suas características fundantes e compreendendo suas exigências e desafios. O caráter experiencial da fé é uma das marcas do novo paradigma.

CONCLUSÕES

1. Francisco das Chagas Lopes Matos

Concordo com a autora lida, que os desafios da catequese no cenário do mundo atual da pós-modernidade impõem-se devido ao mundo plural e sua multirreferencialidade. E a uma sociedade complexa e também plural. A crise atual de transmissão, que atinge todas as instituições da sociedade que têm a tarefa educativa, não poupa a Igreja e muito menos a catequese, como ato de comunicação da fé. Precisamos urgentemente fazer uma releitura do ato catequético a partir da pós-modernidade adaptando-o às exigências dos tempos atuais.

Percebemos que diante de tantas mudanças, a catequese aparece no cenário eclesial como um assunto controverso. Temos duas reações comuns ao tema: A marginalização e o incentivo. Por um lado, é um fato, que a catequese, hoje, sofre muitas críticas, por exemplo: doutrinação, sacramentalização, politização, ideologização, continuísmo, escolarização da fé, pastoral de manutenção e devocionismo popular. Além disso, muitos a consideram uma carta fora do baralho e descontextualizada, parece não levar em conta as mudanças atuais que as ciências do homem apresentam, especialmente a antropologia, a sociologia, a psicologia, e nem mesmo parece considerar os avanços da teologia. A catequese não está emparelhada com a reflexão teológica tão avançada no momento. Há um abismo grande e assustador que separa estas duas realidades. De um lado, a reflexão e a prática catequética, por outro, a catequese é respeitada e valorizada. Assistimos a um autêntico porvir do ato catequético. Nomes ímpares estão se dedicando a esse tema e a catequese como foco de seus estudos, pesquisas, aprofundamentos, simpósios e congressos.

É verdade que a secularização, aliada à evasão crescente de católicos da Igreja, e a redescoberta do sagrado impulsionaram os pensadores católicos a se debruçar sobre o problema catequético, e não são poucos os que têm tomado a atividade catequética numa pedagogia dialógica de corresponsabilidade pastoral como esperança da Igreja do futuro. Percebemos nos últimos tempos uma multiplicação de ofertas de roteiros catequéticos; reaparecem os documentos oficiais de Roma ou das Conferências Episcopais; o aumento do interesse por cursos que formam catequistas, ajudando a refletir os sinais dos tempos, o conteúdo e a didática da catequese.

Há um desejo latente de saber para onde direcionar a ação catequética da Igreja, tão antiga quanto a Igreja mesma! Neste contexto de novo despertar evangelizador, se entendermos a catequese como evangelização, o leque de possibilidades aumenta vertiginosamente. Assistimos um verdadeiro florescer do ímpeto evangelizador que surgiu depois da intuição de João Paulo II, que desembocou no Projeto Rumo ao Novo Milênio.

Apesar de o termo evangelização ser polissêmico, por dizer respeito também à ação pastoral da Igreja, percebe-se uma sensibilidade atual que emerge no interior da vida eclesial para um anúncio da palavra de Deus mais encarnada e contextualizada; mais do testemunho que dos discursos; mais da espiritualidade que dá doutrinação; mais do querigma que do antropológico etc.  As Jornadas, os encontros e as técnicas de evangelização; as comunidades missionárias e evangelizadoras; o sínodo dos bispos nos oferece um rico vocabulário. Tal oferta parte também de vários grupos, sobretudo das paróquias, das Arqui(dioceses), das Conferências Episcopais e das editoras católicas. E, do próprio cristão, quando olha perplexo para o mundo e percebe que ele não está mais em regime de cristandade e cresce de forma galopante a secularização.

Nesse contexto, se realmente queremos transmitir a Boa-Nova de Jesus Cristo, seduzir os corações das pessoas para Ele, buscando uma sociedade que viva seu discipulado, é hora de enfrentar este mundo plural, multirreferencial e secularizado. Já virou lugar comum dizer que a fé cristã é encarnada e não se pode abster de assumir os desafios de seu tempo.

Quais desafios a catequese hoje, cuja tarefa é transmitir a fé cristã, ou seja, proporcionar a experiência cristã de Deus? O rol é imenso. Dentre tantos enumerados na literatura e nos artigos lidos, gostaria elencar cinco desafios que entendemos como mais urgentes para uma releitura do ato catequético, isto é, a necessidade de um novo paradigma catequético que responda às necessidades do tempo presente. A partir da compreensão dos mesmos percebe-se a urgência. 

1º O desafio da interioridade se apresenta como busca de sentido. Podemos nos perguntar: Teria pertinência a tarefa da catequese hoje, cujos principais desafios passam por novas exigências e necessidades dos homens pós-modernos? Como posso existir, ser eu mesmo, encontrar um ponto de apoio num universo estilhaçado? Em que condição me é permitido viver? Estaria a fé cristã desarmada diante desse desafio? Percebemos que de uma hora para outra tudo mudou: o otimismo da modernidade, eclipsou-se à luz da razão, o ardor profético se esfriou. Nossa identidade vinha da família, cidade, do lugar onde morávamos, do ambiente que frequentávamos, da cultura que reinava etc. Hoje, o homem pós-moderno se sente perdido diante de tanta liberdade, a ponto de não saber quem é ele mesmo. Resta-lhe a tarefa de edificar a construção de sua interioridade, no empenho de sua personalização e inclusive de sua fé.

A fé cristã foi esculpida, mas não está desarmada. Ela tem e pode fazer uso da Palavra de Deus, meditação, oração, do mistério revelado etc… Não pode ter medo. E, nem fazer campanha contra o processo de subjetivação empreendido pelo sujeito pós-moderno, como se ele fosse inimigo do evangelho. Ao contrário, a fé cristã é convidada a contribuir com o processo de interiorização. A catequese pode favorecer a afirmação pessoal, pois o evangelho é força para viver e Deus fala ao íntimo do coração de um de nós, revelando-nos a nós mesmos. “A criatura insignificante se torna infinitamente importante, indizivelmente grande e bela, ao receber de Deus o dom de si mesmo” (RAHNER, [19–], p.16). Vença o medo e ganhe o mundo.

A fé cristã e a pastoral devem levar a pessoa a ser ela mesma e assumir-se em primeira pessoa. Cada pessoa deve enfrentar suas verdades mais profundas. Sem a qual ela não pode ser autêntica. É próprio da fé cristã comunicar essa interioridade, fortalecer a espiritualidade, de ajudar a pessoa a migrar para dentro de si.  Ela é uma experiência humanizante que torna possível a dinâmica de crescimento espiritual que mediatiza o tornar-se sujeito. Santo Agostinho dizia:

“Entrei no íntimo de meu coração sob a tua guia, e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio. Entrei e, com os olhos da minha alma, acima destes meus olhos e acima de minha inteligência, vi uma luz imutável” (Conf. VII, 10, 16).  No meio do caos, há sempre uma oportunidade” (Sun Tzu). “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (cf. Jo 8,32).

Como podemos ter uma identidade cristã se não estivermos seguros da nossa própria identidade?

O desafio da interioridade é ajudar a pessoa a construir sua própria identidade permitindo que cada indivíduo conheça a si mesmo. Sem cair num narcisismo ou intimismo. É o nosso maior desafio. É uma tarefa árdua: libertar a pessoa, ajudá-la a encontrar-se libertando-a de amarras, correntes etc. É como empurrar uma enorme pedra morro acima despido, sem as vestes ou instrumentos apropriados. Hoje, a liberdade: nossa maior obrigação.  Não temos dúvida de que a viagem mais longa é ao nosso interior. Não importa a cor do céu, quem faz o dia lindo é você. Não se perde por dar amor. Perde quem não sabe receber.

2º O desafio querigmático nos interpela a anunciar o mistério pascal, pois o Deus de Jesus Cristo tornou-se desconhecido de nossos contemporâneos. A transmissão da fé não se faz mais automaticamente como na sociedade tradicional, nem acontece na transmissão de uma utopia como na sociedade moderna. Proporcionar aos catequizandos um mergulho no mistério pascal, uma experiência cristã de Deus, é tarefa que não convém à catequese desdenhar. Ao final, o cristianismo que outrora se transmitia por descendência, hoje se estabelece por livre opção” (RAHNER, 1964, p. 30). Maior valorização do polo querigmático sem esquecer o antropológico;

3º O desafio pedagógico ou educativo nos interpela a proporcionar a experiência cristã de Deus através de uma pedagogia da iniciação que supere o modelo tradicional: pedagogia da cristandade ou pedagogia do ensinamento que deu seus frutos em tempos de controvérsias doutrinárias entre os pensadores da fé, permeada pela a ignorância religiosa das multidões. Mas que encarcerou a fé na cela da doutrina e da transmissão de um saber. E, da modernidade, a pedagogia da aprendizagem que fez conquistas no campo da experiência, unindo fé e vida. Mas que copiava a pedagogia humanista das escolas ocidentais: seus ritmos, seu modo de gerar aprendizagem, sua concepção do conhecimento etc. Com roteiros catequéticos exatamente como a escola: programas bem lineares que visavam à aprendizagem e à conclusão do curso ao final do trajeto. Mas, ao adotar a pedagogia humanista do mundo escolar ocidental, a catequese se esqueceu da impossibilidade de dissociar a pedagogia da política educativa na qual ela assenta: a razão humana. Esquecendo que a transmissão da fé não lida somente com o saber, com as razões da fé, ou com a mera transmissão de doutrinas e dogmas. A pedagogia original da fé passa pela experimentação de um mistério que o saber não explica, mas que o coração deseja e busca. Deus não se esgota em verdades dogmáticas, nem é resultado de análises da realidade. Por mais importante que tudo isso seja. Deus é mistério de amor que se derrama, se entrega; e isso não se entende, mas se experimenta com a vida, com o coração, com os afetos, tornando-se ponto de partida para a cognição querer dar as razões da fé.

4º O desafio da comunidade ou comunitário nos interpela a resolver de modo urgente dois problemas. Primeiro: o mal-entendido que opõe Igreja e comunidade. Que indispõe os cristãos com a Igreja institucional e cria a ilusão de que é possível participar de uma comunidade ideal, onde os afetos transbordam e a convivência fraterna é natural. Normalmente, a palavra Igreja remete a instituição, normas, leis, regras, hierarquia, obediência, ritos. Ela traz à lembrança relações frias e distantes, bem distintas do amor-entrega de Jesus que a funda. A palavra comunidade, ao contrário, quase sempre faz referência a laços de solidariedade, fraternidade, adesão sem contratos e normas que estabelecem essas relações. São ambientes de oração, de partilha e de diálogo, onde acontece uma solidariedade por afinidade, por comunhão de interesses. Segundo: construir novos modelos eclesiais, nos quais a pertença não se dá mais por obrigação ou por afinidade de ideias a serem atingidos. A agregação dos indivíduos contemporâneos se dá em torno do desejo de partilhar a experiência de Deus e renová-la continuamente. Tal experiência se tornou para nossos contemporâneos fator de subjetivação; ingrediente nada dispensável na construção de um sujeito livre, capaz de construir sua própria identidade. A catequese e a Igreja em geral não devem exigir pertença com argumentos morais, impositivos; nem deve impor limites na tentativa de cercear o indivíduo, amarrando-o a uma comunidade com a qual ele não se identifica. Ao contrário, deve por meio da liberdade e da aceitação do sujeito promover sua pertença, deixando-o construir as bases de sua agregação, sem coerção alguma.

5º O desafio do preparo do evangelizador, no caso específico da catequese, o catequista. A sua autoconsciência como educador da fé e autor de seu crescimento na fé. O catequista é muito importante na vida do catequizando. E, essa importância exige dedicação e competência no exercício de sua função educativa como mediador da fé, do encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo pelo o seu testemunho de fé, exemplo e experiência com o mistério, o sagrado, certamente conduzirá melhor os seus catequizandos para a efetivação de autêntico cristão. No entanto, sabemos que a aquisição da autoconsciência é um processo longo e complexo, mas essencial no ato educacional catequético. O educador da fé deve buscar ultrapassar ou transcender a dimensão do ensino de conteúdos conceituais, procedimentos ou atitudes, preparando o catequizando para a vida, partindo do pressuposto que educação e vida se fundem em uma só ação. Diante dessa nova gramática existencial, ou seja, de tempos tão novos, da profundidade da mudança social, numa época não esclarecida, mas, de esclarecimentos. Momento propício para gestar conhecimento; conduzir o homem ao seu entendimento; fomentar uma fé capaz de conduzir a pessoa não só a conhecer, mas, tornar-se íntima de Jesus Cristo; “dar razões da sua fé”; ajudar o catequista a sair de “menoridade”, ou seja, tornar-se maduro no conhecimento e na fé. O desânimo, o desinteresse, acreditar que já sabe tudo é o grande perigo, que a grande maioria, não só os catequistas, mas os seres humanos em geral, preferem permanecer na menoridade, uma vez que é mais cômodo. Assim, podemos deduzir a necessidade e a importância da formação dos catequistas, motivando-os a saírem do seu comodismo, de sua menoridade, a querer saber mais, avançar no conhecimento tornando progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento. Também é necessário proporcionar experiências de fé que o torne apto a fazer uso público de sua razão e expor publicamente suas convicções de fé. Ser um autêntico discípulo missionário de Jesus. Procedendo assim, fará com que o catequizando também se expanda sempre mais enquanto discípulo. Todas estas situações devem ser postas com clareza no complexo pedagógico do ato catequético. Uma vez assumidas como opção de educação na fé, aqui entendida como uma educação para a evangelização; a reflexão, a autodeterminação, o testemunho, a experiência. Enfim, uma educação para o discipulado.  Esse processo acontece gradativamente.

Lembremo-nos: se o mundo pós-cristãos por um lado desafia a catequese, por outro oferece a ela chances de personalizar a fé. E isso é maravilhoso, pois, como dizia Rahner, “uma única conversão verdadeira na grande cidade é mais maravilhosa do que espetáculo duma aldeia no campo, em que todos frequentam os sacramentos” (1964, p. 41). Ou ainda: “um único convertido, que pelo esforço missionário arranquemos dum ambiente descristianizado, vale mais, do ponto de vista missionário, do que três outros que conservemos das antigas fileiras do cristianismo tradicional” (1964, p. 45).

A catequese se vê desafiada a novas tarefas ou não (seria/será) mais capaz de falar ao coração de nossos contemporâneos. A promover um humanismo integral; a adaptar-se às exigências dos tempos atuais como um lugar de interatividade construtora e desconstrutora, que coloca em suspense uma vida fragmentada e sem referências, e ao mesmo tempo que incentiva e proporciona a construção de uma vida nova através da experiência cristã como espaço de convivialidade.

A todos os catequistas e catequetas desejamos abertura ao novo e compromisso com as conquistas já feitas: um equilíbrio difícil e fundamental diante dos desafios da pós-modernidade: uma modernidade líquida, plural, complexa, multirreferencial, pós-regional e irregional.

2. Márcio Ribeiro de Souza

No cenário eclesial, a catequese vivencia os impactos do mundo pós-moderno e por isso somos convidados a repensar os processos e investir em um novo paradigma catequético. É urgente emparelhar a catequese com a reflexão teológica que avançou significativamente nos últimos tempos. Na atualidade, é notório o movimento de pensadores na área da catequese que se dedicam a pensar uma catequese evangelizadora com uma sensibilidade para a necessidade do anúncio da palavra de Deus. Como resultado, percebemos a oferta de novos roteiros, subsídios, congressos, encontros de formação para catequistas e muitas outras ações que direcionam a ação catequética da Igreja.

Ainda que o sistema clássico de catequese ofereça alguns frutos, é preocupante como este se fecha às mudanças do tempo atual e se torna incapaz de dialogar com a evolução sociocultural da sociedade. Como resultado, percebemos uma catequese que não gera comprometimento com a vida comunitária e se torna apenas sacramental. Após a celebração dos sacramentos, perde-se o vínculo com a caminhada eclesial e, consequentemente, não se assume de fato a sua cidadania eclesial, se colocando a serviço nos diversos ministérios da Igreja.

É importante traçar um novo paradigma tendo em vista que a boa-nova de Jesus não perdeu a sua força e o que nos falta é aprimorar o anúncio de acordo com o perfil do homem e da mulher da pós-modernidade. Não somente no campo da catequese, mas em outros setores na Igreja é preciso essa sensibilidade para ampliar a capilaridade das ações de evangelização.

Além do esvaziamento de nossas Igrejas e o aumento dos evangélicos, estamos diante de um processo de secularização que vai aos poucos descristianizar a sociedade e, consequentemente, abre novas possibilidades de ofertas, marcando assim a pluralidade da sociedade. A Igreja precisa dedicar atenção também aos marcados pela secularização e que não possuem suas raízes cristãs bem definidas. Isso é um desafio urgente.

Presenciei e vivenciei na pele a renovação catequética. A Catequese Renovada fez parte do meu processo de formação cristã como catequista, e também no processo de formação no ministério de catequizar, quando ainda adolescente, assumiu a missão de catequista. Participei junto com os catequistas da minha paróquia de origem dos encontros de formação e o encontro com Deus se dava a partir da vida, da experiência da escuta da Palavra de Deus. Já não era mais o processo de memorização, mas sim uma construção de uma identidade eclesial do Povo de Deus.

Hoje, como primeiro catequista de uma comunidade paroquial, vejo as mudanças acontecendo não somente no mundo, mas no interior da vida comunitária. Já não temos muito consolidada aquela configuração de família cristã. Alguns se declaram católicos, mas não experimentam a vida comunitária de forma intensa e comprometedora, sem vínculo de pertença. A organização em nível de Arquidiocese muito tem colaborado para a formação de nossos coordenadores de catequese e catequistas. Mas ainda falta por parte de alguns o engajamento e o comprometimento com a formação para não repetir práticas arcaicas.

Na catequese do Colégio Santa Maria o quadro não é tão diferente, porém mais desafiador, uma vez que algumas famílias não possuem um vínculo com uma comunidade eclesial. Ainda falta avançar na compreensão do colégio como uma comunidade eclesial de acordo com o Documento de Aparecida, dinamizando a prática pastoral educativa. Por outro lado, é interessante perceber o envolvimento, principalmente das crianças, na catequese e como elas podem incentivar a participação ativa dos pais nesse processo e também na comunidade de fé. E se não fosse oferecida essa oportunidade de catequese, talvez alguns não procurariam a comunidade paroquial. Sendo assim, é necessário construir uma catequese criativa e que atenda essa pluralidade presente nos alunos despertando a experiência da fé.

O texto da professora Solange nos coloca diante de algumas tarefas necessárias no momento presente, como resposta à mudança epocal que estamos vivenciando. Aprofundar a necessidade do caráter evangelizador da catequese tendo em vista a exigência de um novo paradigma catequético que está em construção. Uma catequese de proposta e não de herança, marcada pela experiência mistagógica que nos insere no mistério de Deus, que é o mistério de nossa própria vida e da história. E a liturgia é uma aliada da catequese para nos conduzir para dentro do mistério.

Com isso, não se pode perder de vista os pressupostos teológicos que sustentam o paradigma de uma catequese evangelizadora. Diante dos desafios da sociedade pós-moderna, contamos com a valiosa contribuição de catequetas que buscam elaborar uma catequese evangelizadora, centrada na iniciação cristã, mesmo que parte dos seus destinatários já tenham recebido alguns dos sacramentos de iniciação. É importante se apropriar de pressupostos teológicos, avaliando riscos e vantagens desse novo paradigma. O caráter experiencial da fé é uma das marcas do novo paradigma.

A autora de fato conseguiu apresentar os desafios da catequese no cenário da pós-modernidade. E o caminho é arriscar a construção do novo paradigma da catequese evangelizadora. Penso que é preciso investir no preparo do evangelizador, no caso o catequista. Fomentar uma educação da fé que seja capaz de conduzir a pessoa a não só conhecer Jesus Cristo, mas a se tornar íntima dele. De uma experiência vivencial que desperte o compromisso com a vida, com o humanismo cristão marcado pela solidariedade e fraternidade e com o cuidado com a casa comum. Assumir verdadeiramente os sentimentos do Cristo e se tornar presença dele neste mundo marcado por tantos sinais de morte. É preciso avançar com esperança e se propor novos caminhos para corresponder a essa mudança epocal tão forte nos tempos atuais.

3. Maria Aparecida de São Geraldo Morais

“A catequese aparece no cenário eclesial como assunto controverso. Marginalização e incentivo são duas reações comuns ao tema.” (CARMO, 2010). Estas palavras soam alto e chegam direto ao coração da Pastoral de Catequese. As lideranças paroquiais sabem que a questão antropológica é o cerne das preocupações e dificuldades a serem enfrentadas.  É preciso acolher, compreender e assumir a presença do outro na comunidade catequética.  Entender as diferenças, assimilar os posicionamentos pessoais e, em um processo de caminhada, partilhar conhecimentos à luz da Palavra e da vida em comunidade.

Necessário se faz, no entanto, pontuar dificuldades nessas vivências de grupos de preparação para a catequese. As organizações de formação de grupos paroquiais e comunitárias não têm, em geral, os cuidados com a formação de seus catequistas. Nota-se que não se trata da não oferta, mas da qualidade dos cursos de formação oferecidos. Por diversas vezes, os programas apresentados são “mornos” e previsíveis, pouco atraentes ao processo de formação. Não raro, detectamos a frágil participação de catequistas nestes encontros.

Em relação aos catequizandos, observamos pouca participação das famílias na vivência espiritual e o consequente “repasse” dessa responsabilidade para a catequese paroquial. Os desafios não param. As equipes precisam lidar com as diversidades, entre elas inclusive, citamos as crianças portadoras de TDAH, TDA, deficiências auditivas e de falas, entre outras. Aqui cito problemas que não são raros na catequese infantil e que depende dos pais a declaração de tais patologias que são diagnosticadas por especialistas. Porém, a equipe de catequese precisa estar preparada para mais esse desafio, quando o que queremos é uma prática inclusiva e acolhedora da fé.

Quanto ao aspecto da catequese para adultos, a questão também é preocupante. Muitos jovens e adultos ainda a veem apenas como caminho para os Sacramentos. São eventos apenas! Essa triste realidade é constatada ainda hoje em nossas comunidades.

Há muitas questões além das aqui expostas. Trata-se da participação efetiva de catequistas na vida da Igreja. É necessário que as equipes estejam envolvidas no processo de crescimento espiritual. A participação nas Missas dominicais é um passo imprescindível nesta caminhada. A proximidade, a escuta da Palavra e a tradução dessa palavra pelos párocos e vigários é um caminho importantíssimo para o crescimento pessoal na comunidade de fé. É uma via da catequese que busca a verdadeira face de Cristo, revelada a quem o procura e cultiva a proximidade e a amizade com Ele.

A marginalização pode se tornar incentivo a partir de um maior engajamento das equipes de catequese com as demais pastorais e a participação efetiva na vida da Igreja, em seus muitos projetos. A vida em comunidade precisa ter seu engajamento. A catequese é parte importante e deve assumir o seu lugar missionário.

Apesar das dificuldades assinaladas, há uma luz que indica novos tempos para a Igreja com o Ministério do Catequista instituído pelo papa Francisco. Novas lideranças, investimentos e, principalmente, a certeza de que haverá mudanças e crescimento de grupos com a mesma finalidade e responsabilidade. O desafio existe deve ser enfrentando à luz da Palavra sempre.

REFERÊNCIAS

DO CARMO, Solange Maria. Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade. Disponível em: Revista Pastoral, maio-junho de 2010 – ano 51 – número 272 – p. 16-24. <https://www.vidapastoral.com.br/artigos/catequese/desafios-da-catequese-no-cenario-da-pos-modernidade/>. Acesso em julho de 2021.

DO CARMO, Solange Maria. Catequese Renovada – A Catequese e a comunidade na história da Igreja. Disponível em: YouTube < https://www.youtube.com/watch?v=KTbSiSdh8Cc>. Acesso em julho de 2021.

DO CARMO, Solange Maria. Desafios da catequese hoje: releitura do ato catequético a partir da pós-modernidade. Disponível em: Revista Pistis & Praxis, Teologia e Pastoral, v. 7, n. 3, 2015, p. 749-766. <https://periodicos.pucpr.br/index.php/pistispraxis/article/view/2716/2635>. Acesso em julho de 2021.

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“Pensando a formação presbiteral em tempos líquidos”, com a palavra Edmar Aparecido de Oliveira e Uatos Pires Pereira https://observatoriodaevangelizacao.com/pensando-a-formacao-presbiteral-em-tempos-liquidos-com-a-palavra-edmar-aparecido-de-oliveira-e-uatos-pires-pereira/ Sun, 29 Aug 2021 13:30:31 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40409 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Edmar Aparecido de Oliveira e Uatos Pires Pereira para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Pensando a Formação Presbiteral em tempos líquidos

Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada.

(Zygmunt Bauman)

INTRODUÇÃO

Os Seminários foram criados no Concilio de Trento (1545-1563), com o objetivo de formar os futuros presbíteros. Foram instituídos os Seminários Menores, que acolhiam os adolescentes que queriam ser padres, e os Seminários Maiores, que dariam uma formação mais específica para o presbiterato, tendo como base a filosofia e a teologia.  Hoje, em 2021, quase quinhentos anos depois da fundação dos Seminários, é necessário contemplar a realidade, constatar os desafios e repensar a estrutura das casas de formação.

Para contemplar a realidade é preciso ter uma perspectiva, por isso escolhemos o sociólogo polonês Zygmunt Bauman para nos ajudar nesta empreitada. Segundo Bauman, vivemos em uma modernidade líquida, que é caracterizada pela ansiedade (cf. BAUMAN, 2000, p. 148). Há uma procura constante por respostas e definições, mas as especulações permanecem no campo da incerteza. As pessoas se mostram muito angustiadas, e suas angústias se estendem por todos os campos da vida: financeiro, estético, religioso, acadêmico etc.

As mudanças são uma constante na contemporaneidade e suas consequências são inevitáveis para os indivíduos. Nesses tempos instáveis, o indivíduo ganha centralidade, pois tudo ao seu redor se liquefaz constantemente, na velocidade de um sinal eletrônico. A instantaneidade é marca registrada da modernidade líquida. A cada instante, um novo produto é lançado no mercado e os indivíduos são levados a se refazerem em função dos novos lançamentos, pois consumir é a lei maior.

De acordo com o autor (BAUMAN, 2011, p. 27), “o contato face a face é substituído pelo contato tela a tela dos monitores; as superfícies é que entram em contato. O que se perde é a intimidade, a profundidade e durabilidade da relação e dos laços humanos”. Como resultado, observamos o enfraquecimento e a decomposição dos laços humanos, das comunidades e das parcerias.Compromissos do tipo ‘até que a morte nos separe’ se transformam em contratos do tipo ‘enquanto durar a satisfação” (BAUMAN, 2001, p. 204-205).

O homem e a mulher da modernidade líquida vivem angustiados, pois convivem diariamente “com o risco da autorreprovação e do autodesprezo… com os olhos postos em seu próprio desempenho” (BAUMAN, 2001, p. 52). Aumenta, pois, o desejo de realização e o cansaço pelas frustações cotidianas. Com isso, a relação com a transcendência torna-se um refúgio para se depositar as problemáticas cotidianas; e a fé, com todo seu entorno, torna-se um objeto de consumo, que é oferecido em diversos modelos pelas mais variadas “igrejas”, para os distintos gostos (NERY; VASCONCELLOS, 2014, p. 128).

O processo de secularização na modernidade líquida não almeja o fim da religião, mas pretende que o ser humano seja o seu centro. Quase sempre, não importam as normas morais e os compromissos éticos da religião, desde que esta possibilite a felicidade imediata. A felicidade eterna ficou no imaginário dos medievais. O contemporâneo quer experimentar agora a felicidade, pois esperar não é algo possível quando se está imerso na liquidez e na compulsão dos tempos atuais. 

DESENVOLVIMENTO

Depois de caracterizar traços fortes da realidade contemporânea, somos chamados a pensar como fica a formação presbiteral na contemporaneidade. Para isso, vamos fazer uso do artigo “Formação Presbiteral: Os desafios morais de uma empreitada” escrito pelo Pe. Eliseu Wisniewski, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR) e professor na Faculdade Vicentina (FAVI). No artigo, Pe. Eliseu faz uma analise das “Diretrizes para a formação dos presbitérios no Brasil” (CNBB) e do livro “Formação: desafios morais” (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018).

Para Wisniewski, a primeira preocupação que se deve ter na formação presbiteral é qual o modelo de presbítero que se quer formar. Olhando as exigências e a complexidade da modernidade líquida, tendo como base a visão eclesiológica do papa Francisco, ele fala de nove pontos para se trabalhar na formação de um presbítero para uma Igreja em saída.

  • 1.  A formação da identidade do presbítero. Aqui a figura do formador é muito importante, pois o formando irá se inspirar nele. Por isso, o formador deve estar aberto ao processo formativo, pois se ele achar que já está pronto formará padres prontos e fechados. Isso tem grandes chances de levar a imaturidade.
  • 2. Estilo profético de vida. Um padre que não se compromete com a realidade onde está inserido não pode ser chamado de pastor. O papa Francisco diz que “os pastores devem ter o cheiro das ovelhas”.
  • 3. Confidencialidade e transparência. Deve-se evitar tudo que leve a infantilização dos formandos, mas para isso os formadores precisam ser maduros. A pedagogia do diálogo sincero é o caminho propício para gerar o amadurecimento dos formandos.
  • 4. Acompanhamento e discernimento espiritual. O padre deve ter consciência de que ele não é dono da espiritualidade, mas que precisa da dimensão espiritual. Sendo que essa dimensão é essencialmente comunitária, mesmo que seja preciso momentos pessoais.
  • 5. Formação intelectual. É preciso superar a “douta ignorância”, para isso os estudos filosóficos e teológicos devem favorecer o desenvolvimento humano do formando. Não é saudável formar um padre com a cabeça grande e com o coração pequeno. Outro risco é deixar os formandos a mercê dos “gurus” da internet.
  • 6. Ecumenismo e diálogo inter-religioso. Em um mundo de tantos muros é necessário que o padre seja um construtor de pontes. Por está razão, a formação deve suscitar no coração dos candidatos ao presbiterato o cultivo do dialogo. Deixar a postura apologética e adotar uma prática fraterna e samaritana, passando a ver o diferente como oportunidade de conhecimento e não mais como uma ameaça.
  • 7. Integração da sexualidade. O padre precisa estar integrado para ajudar a comunidade eclesial no seu amadurecimento. Por isso, o processo formativo deve desmitificar os tabus e tratar a sexualidade com maturidade. Os formandos não são anjos, tem sentimentos e desejos, precisam integrar-se para conseguirem fazer uma doação total ao Reino de Deus.
  • 8. Orientação afetivo-sexual e formação de subculturas hétero e homossexuais. A orientação sexual de cada formando deve ser conversada de forma pessoal, respeitando o candidato. Não é maduro fazer brincadeiras de mal gosto na comunidade, pois isso favorece o desenvolvimento do preconceito. A formação deve ajudar o formando a ver se tem condições de abraçar com fidelidade a vida presbiteral.
  • 9. Exposição nas redes sociais. O mau uso das redes sociais pode ser muito prejudicial. Um formando que passa mais tempo nas redes sociais do que na comunidade precisa ser acompanhado de perto. O exibicionismo, a demonstração de poder e vaidade e o carreirismo são maus que podem ser potencializados nas redes sociais.

PARA REFLETIR…

  • Como formar padres que sejam referenciais em meio à liquidez contemporânea?
  • Qual seria o ponto mais crítico do processo formativo que precisa ser revisado com urgência?    

CONCLUSÃO  

Não podemos negar que a modernidade trouxe consigo muitos avanços e com isso muitas facilidades, no entanto paralelamente trouxe muitos desafios. E como tudo acontece de forma acelerada pode inclusive passar desapercebido. A “mudança de paradigmas” favorece certa relativização ou busca de ressignificação de valores e princípios morais, sociais e religiosos. E a Igreja não está alheia a tudo isso ou quem sabe é a que mais se vê questionada neste sentido.

Ao entrar na temática dos seminários vemos tudo isso aí refletido com muita força. Todo ser humano é enraizado em seu tempo. Hoje se recebem seminaristas cada vez “menos preparados”. Estes são afetados diretamente pelas mudanças culturais e já não conseguem receber simplesmente regras, normas, dogmas, entre outros aspectos formativos/eclesiais sem levantar questionamentos. O que, de certa forma, é bom, uma vez que ao questionar são obrigados a buscar respostas e caminhos de reflexão.

Devemos levantar, com toda sinceridade, a questão: em que medida os Seminários se preparam ou estão preparados para acolher esta nova realidade antropológica e se aqueles que assumem o papel de ser formadores estão cientes, compreendem e se preparam para lidar com a situação social e eclesial na contemporaneidade.

É inegável que hoje somos uma sociedade marcadamente caracterizada pelo uso das novas tecnologias digitais, o que aponta para o desenvolvimento. Mas, devemos nos perguntar, quais os limites e como não nos tornarmos “reféns” das mesmas? E como ajudar, no que aqui nos interessa, aos seminaristas a conquistarem um equilíbrio no uso dessas tecnologias especialmente o universo das redes sociais?

Outro aspecto, mais a nível social, são os seminaristas que chegam aos seminários sem uma boa estrutura familiar e/ou com esta abalada, sem referenciais de fé. Pais separados, criados às vezes sem a presença do pai ou da mãe, situações de pobreza extrema, entre outros aspectos sociais que interferem claramente nas opções e na forma de caminhar dentro de itinerário formativo.

Há muitos outros aspectos que poderíamos aqui elencar, no entanto, vamos nos ater a estes dois uma vez que a partir deles surgem muitos pontos, tais como a falta de maturidade emocional, dificuldade para estabelecer vínculos mais profundos, dificuldades com autoridade, entre outros.

Constatado alguns desafios é preciso ter em mente que por mais complexos que estes sejam, eles nos oferecem uma oportunidade para darmos passos cada vez mais firmes e concretos. Faz-se necessário um olhar cada vez mais atual, dinâmico e personalizado sobre cada seminarista, já não se pode seguir um itinerário padrão uma vez que cada um traz consigo sua história, seus desafios e suas potencialidades.

O maior dos desafios talvez seja justamente o de compreender e acolher que os Seminários são necessariamente uma extensão do mundo e não pode ser alheio a ele. E, desse modo, os formadores devem estar atentos e preparados para lidar com os desafios que emergem da realidade em que vivemos e da de cada formando em particular.

Com a certeza da graça de um Deus que é estradeiro conosco, somente trilhando um caminho de escuta, de partilha, de busca continua e de reflexão conjunta se poderá alcançar equilíbrio e sabedoria para lidar com tudo isso. Condição necessária para dar maior sentido ao caminho formativo nos Seminários.

Não se pode esquecer que as ciências humanas podem e devem ser valorizadas dentro dos processos formativos. São nossas grandes aliadas, especialmente a psicologia. Buscando e trabalhando com o autoconhecimento e uma compreensão mais ampla e profunda do interior de cada indivíduo. Formadores “bem formados e equilibrados” são fundamentais para orientar e assim termos formandos no mesmo caminho. São muitos os desafios e muitas também são as possibilidades. Sigamos confiantes.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

NERY, Alberto Domeniconi; VASCONCELLOS, Esdras Guerreio. Individualização e fragmentação: efeitos da pós-modernidade no cristianismo contemporâneo. In: Revista Ciências da Religião – história e sociedade. São Paulo, v.12, n.2, p. 118-132, dez. 2014. Disponível em: <www.editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/view/6100/5218>. Acesso em: 22 jun. 2017.

TRASFERETTI, J. A.; MILLEN, M. I. C.; ZACHARIAS, R. (Org.). Formação: desafios morais. São Paulo: Paulus, 2018.

WISNIEWSKI, Eliseu. Formação Presbiteral: Os desafios morais de uma empreitada. Revista Vida Pastoral, edição de julho-agosto de 2019 – ano 60 – número 328, p. 3-12.

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“O tradicionalismo como barreira para a vivência da fraternidade universal proposta pela Fratelli Tutti”, com a palavra Alisson Cosme Cesar e Gustavo Ammar de Sousa https://observatoriodaevangelizacao.com/o-tradicionalismo-como-barreira-para-a-vivencia-da-fraternidade-universal-proposta-pela-fratelli-tutti-com-a-palavra-alisson-cosme-cesar-e-gustavo-ammar-de-sousa/ Sat, 28 Aug 2021 21:16:20 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40369 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Alisson Cosme Cesar e Gustavo Ammar de Sousa para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

O tradicionalismo como barreira para a vivência da fraternidade universal proposta pela Fratelli Tutti

Alguns acham que a tradição é um museu de coisas antigas. Gosto de repetir o que disse Gustav Mahler: ‘A tradição é a salvaguarda do futuro e não a custódia das cinzas. (FRANCISCO, Discurso no final da Assembleia Sinodal 26/10/2019)

INTRODUÇÃO

No atual momento vive-se uma situação de instabilidade causada por alguns movimentos que distorcem a noção sobre a Tradição da Igreja. Esta situação gerada atrapalha mudanças que são propostas pelo tempo em que vivemos. O papa Francisco, atento às necessidades da humanidade no período atual, por meio da Carta Encíclica Fratelli Tutti indica um caminho no qual a Igreja deve estar aberta ao diálogo e a disposição de viver a fraternidade universal. Este cenário proposto pelo papa Francisco contrasta com a doutrina pautada no eclesiocentrismo pregada pelos tradicionalistas.

Para confecção deste trabalho nos utilizaremos como base para compreendermos sobre as origens e os principais pensamentos do tradicionalismo o capítulo 2 do livro A força do passado na fraqueza do presente. O tradicionalismo e suas expressões. Escrito por João Décio Passos. Para compreensão sobre a ligação deste tema com a Carta encíclica Fratelli Tutti serão utilizados outros três textos, a saber: Comunicação na Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. Escrito por dom Joaquim Giovani Mol Guimarães. Solidariedade: considerações à luz da encíclica Fratelli Tutti, do papa Francisco. Escrito por Claudiano Avelino Santos. Fratelli Tutti: um guia para a leitura da encíclica do Papa Francisco. Escrito por Antônio Spadaro.

DESENVOLVIMENTO

1. Algumas considerações sobre o tradicionalismo

1.1. Origens do tradicionalismo

Antes de adentrarmos de forma mais profunda no assunto relacionado ao tradicionalismo, é necessário fazer uma distinção entre o tradicionalismo e a Tradição. Quando se fala de tradicionalismo, o conceito sobre esse assunto está ligado a preservação de práticas exercidas em um determinado período de tempo. A Tradição por sua vez está ligada ao conteúdo e a forma como a fé é vivida e praticada ao longo da história.

Com isso pode-se concluir que a Tradição não é o ato de repetir práticas executadas em um determinado período de tempo e que pertencem apenas a esse período. A Tradição é sempre crescente, ou seja, progride com os desafios que lhe são impostos pelos tempos em que se situa, e busca sempre respostas e meios de lidar com os novos desafios. A Tradição não se intimida com as mudanças que acontecem naturalmente com o passar dos tempos, mas se utiliza delas para se tornar mais forte.

Neste sentido, o tradicionalismo age de uma forma inversa a Tradição. O tradicionalismo refuta qualquer forma de avanço na maneira de pensar e agir da sociedade. Com isso, quando a sociedade enfrenta questionamentos sobre novos costumes e hábitos sendo adquiridos pelas novas gerações, aqueles que seguem a linha tradicionalista se levantam contrários a essas mudanças.

A origem do tradicionalismo católico remonta do período da revolução francesa (1789 –1799). Um período histórico marcado por intensas mudanças. A partir desse momento histórico, a sociedade européia que possuía como principal referencia a religião, de modo especial o catolicismo, começa a colocar como referencial o próprio sujeito. Este é o processo que passa de uma sociedade teocêntrica para uma sociedade antropocêntrica.

Inicialmente o tradicionalismo francês foi criticado pela Igreja. Porém, com o passar dos anos e a perda constante de poder temporal por parte da Igreja, ou seja a diminuição do poder papal, isto através do processo de unificação da Itália, a perda dos estados pontifícios, o discurso dos Papas contra a modernidade se tornou mais intenso, promovendo durante um período um discurso antimodernista por parte da Igreja. Este discurso é utilizado até os dias atuais por aqueles que seguem a linha tradicionalista.

1.2. Principais fundamentações do tradicionalismo

Neste período de grande defesa por parte da Igreja da manutenção de seu poder temporal, estão presentes as principais fundamentações para os atuais tradicionalistas. Pode-se dizer que possuem três fontes principais de fundamentação de seu pensamento antimodernista: os concílios modernos, os documentos papais deste período e a escolástica.

Os chamados concílios modernos são aqueles que aconteceram como objetivo de controlar os impactos que os avanços da modernidade provocavam na Igreja. São eles os concílios de : V Latrão, Trento e Vaticano I. Estes concílios reafirmam as tradições da Igreja, realçando sua dimensão sacramental, ritual e hierárquica. Estes concílios enfatizam a questão doutrinária da Igreja.

Os documentos papais deste período foram escritos com o intuito de reafirmar o conteúdo destes concílios anteriormente mencionados. A temática desses documentos é variada, porém o objetivo é semelhante: defender a Igreja dos perigos oriundos dos tempos modernos, diante disso o discurso presente nesses documentos possui em geral um caráter eclesiocêntrico.

O principal modelo teórico utilizado para a propagação das idéias teológicas deste período e ainda hoje utilizado pelos adeptos do tradicionalismo é o da escolástica. Este modelo que se utiliza de ideias provenientes da tradição bíblico cristã e das filosofias gregas, sobretudo oriundas das correntes platônicas, estóicas e aristotélicas. O método escolástico influencia fortemente a teologia dos manuais, ou seja, aquela forma de se fazer teologia pronta, de cima para baixo, onde apenas se repetem os manuais produzidos previamente e autorizados pelas autoridades eclesiásticas.

2. Algumas considerações sobre a Carta Encíclica Fratelli Tutti

A Fratelli Tutti tem por objetivo o convite para a construção de um novo mundo onde todos sejam irmãos por meio da fraternidade e da amizade social. É uma carta encíclica datada em 3 de outubro de 2020, em que os elementos da Doutrina Social da Igreja e a Laudato Si’, estão profundamente presentes com o intuito de promover uma grande comunicação que seja capaz de gerar uma consciência planetária no cuidado com esta casa comum que é a Terra e a promoção da dignidade humana por meio da cultura do encontro, do diálogo e da abertura ao irmão construindo pontes ao invés de muros neste mundo.

Esta carta encíclica quer superar a cultura de ódio, indiferença, discriminação, preconceitos, tudo o que é mal e ruim presente na sociedade. Tudo que é capaz de destruir o ser humano, a família e o planeta. Quer acabar com tudo o que possa tirar a humanidade da pessoa criada para fazer o bem e não o mal. Sonhar uma única humanidade e que somos todos irmãos é o que deseja o papa Francisco.

Os problemas globais, tais como: racismo, desemprego, cultura do descarte, aborto, armamento, fome, miséria, a lógica capitalista de mercado, consumismo e a grande desigualdade social que não possibilita oportunidades de mudança e crescimento humano, impedem a vivência da fraternidade que precisa ser restaurada, segundo os valores do evangelho, para que esta mudança de pensamento ocorra.

A capacidade de amar é o que humaniza. É o bem capaz de mudar as pessoas e o meio de colocar em prática no mundo a Fratelli Tutti. Uma Igreja em saída, que rompa com o egoísmo e se abra ao próximo e ao mundo, é uma importante chave de leitura nesta carta. Ninguém é estranho neste mundo, não há estrangeiro, é necessário derrubar o muro da indiferença a fim de promover a paz, a acolhida, a boa política que zele pela vida, pelo bem comum, pelo desenvolvimento humano integral e não pelos interesses pessoais, pela morte, pelo ódio e pela guerra entre as nações. Um mundo mais justo e humano só será possível de ser realizado quando o ser humano for capaz de amar e respeitar.

Sendo assim por meio do aqui foi sintetizado a luz desta carta encíclica e por meio do conteúdo estudado nesta disciplina, a solução para tudo é voltar à fonte, ao amor que, para nós cristãos, é identificar-se com a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo. Este é o caminho essencial para a fraternidade universal e crucial para romper com toda indiferença e egoísmo a fim de construir um mundo mais justo, humano e digno, em que todos, de fato, sejam irmãos.

3. Barreiras colocadas pelo tradicionalismo à aplicação da fraternidade universal proposta pela Fratelli Tutti

O tradicionalismo possui algumas bases doutrinais que são comuns a todos os seus grupos. Dentre estas se podem destacar algumas que conflitam diretamente com a ideia de uma Igreja dialogal. Portanto, uma Igreja que está aberta a ouvir e aceitar diversas manifestações que a sociedade tem como necessidades de ser pelo menos debatidas junto a Igreja. Dentre estas bases doutrinais podemos destacar a busca por uma sociedade cristã, o eclesiocentrismo e uma moral objetivista.

O tradicionalismo enfatiza a busca por uma sociedade cristã. Esta busca se dá com a justificativa de que a salvação e implementação do Reino só se dará se a sociedade como um todo for submissa ao cristianismo. Mas não no sentido das ideias do cristianismo, porém no sentido de uma submissão institucional à Igreja. Por isso pode-se afirmar que o tradicionalismo prega um eclesiocentrismo. Nesse sentido, no modelo tradicionalista a única fonte da verdade é a Igreja católica. Portanto aqueles que dela fazem parte não precisam exercitar o diálogo com os que pensam diferente para chegar à verdade, mas apenas para convencê-los da verdade. Esta verdade do tradicionalismo que se pauta em um modelo de moral objetivista. Este estilo de moral se caracteriza por impor regras de comportamento sem levar em consideração a necessidade e o momento em que o outro vive. Todos devem viver de forma igual a moral, sobretudo em relação a sexualidade, e aqueles que não se adéquam a este modelo, estão condenados ao inferno.

Com isso, a mentalidade importada do tradicionalismo torna-se uma barreira para a implementação da Fratelli Tutti, uma vez que as ideias centrais do papa Francisco nesta encíclica direcionam a Igreja para uma abertura a compreender as principais necessidades da sociedade mundial, para então viver uma verdadeira fraternidade universal.

PARA REFLETIR…

1. Diante de tantas polaridades presentes na Igreja, como colocar em prática a Fratelli Tutti?

2. O que se esconde por meio de um pensamento conservador que é incapaz de acolher a Fratelli Tutti?

CONCLUSÃO

A Fratelli Tutti tem por objetivo promover a fraternidade e a amizade universal tendo em vista a construção de um mundo mais justo, humano e digno para todos. Diante de uma realidade cruel de desigualdade, preconceito, exclusão, racismo, indiferença, fome, miséria e tantos outros males que afligem o mundo, a Fratelli Tutti tem por objetivo amenizar estas indiferenças, fazendo com que todos sejam irmãos e irmãs. Proposta ousada que gera reflexão e que na atualidade é o papel da Igreja.

Uma Igreja em saída, capaz de ir ao encontro do próximo, rompe com o egocentrismo e faz abrir-se à alteridade. Uma Igreja toda ministerial faz romper com o clericalismo e com o tradicionalismo fazendo emergir a consciência de cristãos batizados dispostos a evangelizar. Uma Igreja Sinodal, que busca o diálogo consigo mesma e com a sociedade é a chave para estar presente no mundo e não se acovardar diante dos problemas sérios que ferem a humanidade, além do fato, de não temer diante dos problemas que ferem a sua moral e a ética.

Estas propostas, muitas delas colocadas em prática, como o Sínodo da Amazônia, o ministério do catequista e o motu próprio Traditionis Custodis, faz com que a Igreja permaneça unida e que esteja presente no mundo evangelizando e avançando. A Economia de Clara e Francisco também muito contribui para que a solidariedade, o respeito a vida, a natureza e a ajuda mútua sejam colocados em prática, bem como a eficácia da ética e moral. Esta é a fraternidade universal e a Igreja que vivo, anuncio e desejo que os cristãos conheçam e vivam a fim de sermos todos irmãos em Cristo Jesus, filhos de um único Pai.

Alisson Cosme Cesar

Ao evidenciar as bases da fundamentação teórica do tradicionalismo, consegue-se compreender um pouco o porquê do fechamento destes grupos às novas realidades. Este fechamento se dá por trazer de volta um período que já foi superado, onde a Igreja católica e o cristianismo tiveram que enfrentar uma mudança de postura frente a sociedade que já não os enxergava como antes. Porém, apesar da compreensão do porquê deste fechamento em um determinado período histórico, deve-se ressaltar que este período já passou e os problemas enfrentados pela pastoral nos tempos atuais são outros, pois a forma como o ser humano compreende aquilo que está ao seu redor.

Como propostas para superarmos essas barreiras, tendo em vista que o tradicionalismo é um problema que gira em torno do eclesiocentrismo e este por sua vez na maioria de suas incidências provém do clericalismo, poderia ser uma forma de enfrentamento do problema uma mudança de paradigma na formação sacerdotal, com ênfase maior na Igreja enquanto Povo de Deus.

Outra alternativa seria em relação a catequese de iniciação cristã, onde nas bases das comunidades poderia se trabalhar a mentalidade cristã para uma vivência do evangelho de forma inclusiva e que se aceite o outro.

Além disso, poderia se criar uma conscientização entre os pregadores em geral, sobretudo àqueles de maior destaque nas grandes mídias para a pregação de um cristianismo que se preocupa em promover as pessoas através dos seus valores, que são a paz, a inclusão, o amor, diferente de pregações onde se tem como principal objetivo uma uniformização da sociedade no âmbito dos costumes.

Gustavo Ammar de Sousa

REFERÊNCIAS

GUIMARÃES, Joaquim Giovani Mol. Comunicação na Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. Vida Pastoral, São Paulo, nº339, p. 5-15, maio-junho de 2021.

PASSOS, João Décio. A força do passado na fraqueza do presente: O tradicionalismo e suas expressões. Paulinas, São Paulo, 2020.

SANTOS, Claudiano Avelino. Solidariedade: considerações à luz da encíclica Fratelli Tutti, do papa Francisco. Vida Pastoral, São Paulo, nº339, p. 17-23, maio-junho de 2021.

SPADARO. Antônio. Fratelli Tutti: um guia para a leitura da encíclicado papa Francisco. Unisinos, 2021. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/603448-fratelli-tutti-um-guia-para-a-leitura-da-enciclica-do-papa-franciscoartigo-de-antonio-spadaro. Acesso em: 04/08/202

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“Gestão colegiada em tempos de Francisco”, com a palavra Adilson Correia da Silva e Renata Senhorinha Santiago https://observatoriodaevangelizacao.com/gestao-colegiada-em-tempos-de-francisco-com-a-palavra-adilson-correia-da-silva-e-renata-senhorinha-santiago/ https://observatoriodaevangelizacao.com/gestao-colegiada-em-tempos-de-francisco-com-a-palavra-adilson-correia-da-silva-e-renata-senhorinha-santiago/#comments Sat, 28 Aug 2021 19:39:45 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40348 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Adilson Correia da Silva e Renata Senhorinha Santiago para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Gestão colegiada em tempos de Francisco

Por Adilson Correia da Silva e Renata Senhorinha Santiago

A palavra autogestão compartilhada vem do grego e do latim autós = auto e gerere = gerenciar, administrar, ou seja, um sistema que se gerencia coletivamente. Mas o axioma fundamental da autogestão é o da igualdade do direito e do desejo entre as pessoas. Dessa forma, crê-se na autonomia, na participação, no saber, na experiência de cada ser humano, que, somando suas habilidades, se mantém, dirige e administra, estabelecendo as leis tão necessárias para o êxito do empreendimento. Portanto, o trabalho de gestão compartilhada é acompanhado do prazer coletivo da criação sem donos e senhores, que só gozam sozinhos e narcisisticamente. (PEREIRA, William César Castilho. Instituição, poder e gestão colegiada: dialogando com o papa Francisco. In: Revista Convergência, 2016, p. 406)

O cuidado com os bens materiais em geral é sempre um fator desafiador, pois como dita o senso popular comum “o órgão mais sensível do ser humano é o bolso”, mas quando se trata da instituição eclesiástica, pode-se afirmar que o grau de complexidade se eleva gerado pelo dualismo de questões significativas, pois administrar e evangelizar são ações que induzem a uma reflexão de complexa junção. Na realidade, trata-se de um desafio cotidiano, que convida a um deslocamento da área de conforto tanto em relação ao papel exercido pelos(as) leigos(as) quanto aquele exercido pelos clérigos, pois para os(as) leigos(as) exige estudo e/ou preparação e para os clérigos uma desafiadora mudança de paradigma. (GOMES, Marise; RIGONI, Miguel Fernando. Leigos e leigas a serviço da gestão paroquial: possibilidades e desafios. In: Ciências das Religiões: uma análise transdisciplinar, PUC – PR, 2019, v.2, p. 102)

INTRODUÇÃO

Vivemos um contexto de muitas mudanças, principalmente no que tange à gestão institucional. Modelos antigos não mais correspondem às exigências dos novos tempos. Nas instituições eclesiais e suas relações não é diferente. Embora a teologia cristã pressuponha um modelo participativo nas tomadas de decisões e o Concílio Vaticano II tenha sido um avanço nessa perspectiva, ainda é desafiador consolidar a participação efetiva do Povo de Deus.

Propomos como objeto de discussão a Gestão Colegiada em tempos de Francisco. Para iluminar a reflexão nos valemos de dois artigos. O primeiro, intitulado “Instituição, poder e gestão colegiada: dialogando com o papa Francisco”, escrito por Willian César Castilho Pereira, publicado na Revista Convergência, da Conferência dos Religiosos do Brasil, em 2016. E o segundo, com o título “Leigos e leigas a serviço da gestão paroquial: possibilidades e desafios”, escrito por Marise Gomes e Miguel Fernando Rigoni, publicado pela PUC-PR, no segundo volume do caderno Ciências das Religiões: uma análise transdisciplinar, 2019.

DESENVOLVIMENTO

1. Instituição, poder e gestão colegiada: dialogando com o papa Francisco

A vida é marcada por suas relações. Todo ser vivente estabelece relações, caso contrário seria impossível de sobreviver. Podemos afirmar que somos seres relacionais.

O artigo escolhido nos conduz na reflexão sobre como se relacionar. Ou seja, como estabelecer relações de convivência numa instituição norteada pela fé. O título do artigo é: “Instituição, poder e gestão colegiada: dialogando com o papa Francisco” do Professor emérito da PUC Minas William César Castilho Pereira.

A instituição é uma instância imaginária, que vai além do seu espaço aparente ou manifesto. Reúne saberes que permitem, a todo tempo, diagramar as relações sociais, organizar espaços, fixar e recortar limites. A vida dos grupos religiosos é também uma instituição. E enquanto instituição, ela é um conjunto de tradições, constituições e regulamentos, convenções, acordos, atividades, programas, dentro da estrutura hierárquica, administrativa e jurídica que perpassam a vida milenar da sociedade. Instituições que não sonham e não apostam na utopia estão à beira da morte.

A instituição é um mal necessário e, portanto, um bem. Se a instituição é um mal necessário, ela implica, necessariamente, um conhecimento de opções. Nessa medida, e a partir da definição considerada, ela é um passo à frente no sentido de liberdade e, portanto, constitui um bem, já que aponta para a liberdade, bem supremo, a experiência de Deus – a Utopia Ativa. Acontece, entretanto, que a instituição, geralmente, se transforma num mal mais do que necessário e, dessa forma, deixa de ser um bem para tornar-se um mal desnecessário. Deixa de ser a potência da transformação social e se transforma na estupidez da arrogância dos dominadores. Agentes e lideranças comunitárias podem desviar as finalidades de libertação da população e construir outras finalidades para si próprios.

As relações fraternas grupais tornam-se concorrentes dessas fantasias institucionais, autoritárias e centralizadoras. Nas organizações geridas pelo autoritarismo, é impossível o trabalho de escuta e de diálogo. O papa Francisco nos ajuda com a seguinte reflexão: “doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo e, em algumas situações, ao próprio Cristo. É o mal que atinge a partir de dentro; e, como diz Jesus Cristo, “todo reino dividido contra si mesmo será destruído” (Lc11,17) (IGREJA CATÓLICA, 2015)

Um dos caminhos propostos para a superação destes desafios institucionais é o que podemos denominar de organização social humanizadora, capaz de garantir o exercício do poder coletivo, da iniciativa, da participação corresponsável e da criatividade dos seus membros. A concepção humanista, parte da vocação ontológica do ser humano, estimula a comunhão e a comunicação através da capacidade das pessoas se amarem. Educar na concepção humanista é humanizar a relação entre a autoridade e os seus participantes. Existem dois níveis ou qualidades de participação: com desejo e a participação controlada ou restrita. Se entendemos o termo participação como algo de respeito à liberdade do outro, somente em um sistema organizacional é possível sua aplicação. A gestão compartilhada não é um sistema de anarquia, mas um sistema de autoeducação permanente, em que cada um pode se reeducar ante o próprio autoritarismo, a necessidade de dependência, a passividade e o prazer sádico e arrogante diante do fracasso do outro.

A autoridade é alguém que tem a função de coordenar a caminhada e o processo educativo da formação do grupo, como um parteiro que facilita o ato de nascer, crescer, desenvolver-se, de transformar o grupo em sujeito da sua própria história. Sua figura não é de poder supremo, mas de representante da lei que regula as relações entre os membros. Deve ficar vigilante para não se distanciar do grupo, de seus desejos e reinvindicações. Tipos de autoridade que podemos caracterizar:

  • 1) patriarcal ou autoritária, um mestre idealizado, censor, proibidor e avalista de permissões. Com base na desigualdade, incute o temor e o mistério sobre si mesmo. Líder próprio de grupos dependentes e dos sistemas piramidais;
  • 2) sedutora, aquela que não conhece a lei, mas, sim, casuísmos. Demagógica, oportunista e mantida por duplo vínculo com os liderados. Favorece e protege só alguns, criando ciúme e inveja nos demais;
  • 3) ética, que representa a lei do grupo, elaborada pelo trabalho coletivo. Ela deve estar consciente do momento de sua separação como líder da organização. Assume o lugar de representação da lei, jamais de encarnação da lei.

A gestão compartilhada do poder regida pelos micropoderes baseia-se na crença de potencialização de todos os seus integrantes no reconhecimento da autonomia, participação e corresponsabilidade de seus membros. O lugar da liderança tem que estar vago. Para isso é necessário um investimento consciente, por parte do líder, para auxiliar os componentes do grupo a elaborarem sua perda ou sua morte.

Em síntese, as características de um liderado-sujeito baseiam-se no princípio da autonomia e da independência. Sua marca fundamental é o relacionamento transparente e a produção criativa de suas tarefas. Seus comportamentos não são infantilizados, nem a figura de autoridade semeia a culpabilidade e o temor dentro dele. Leva-os, necessariamente, a interessarem-se pelo conhecimento da realidade e suas contradições, e pela busca de estratégias de mudança da conjuntura institucional da vida social.

2. Leigos e leigas a serviço da gestão paroquial: possibilidades e desafios

Gomes e Rigoni, autores do artigo intitulado “Leigos e leigas a serviço da gestão paroquial: possibilidades e desafios” desenrolaram seus escritos a partir de um resgate histórico da forma de gestão da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), enfatizando o caminho pós Concílio Vaticano II. Por entenderem que, para alguns, possa causar estranheza pensar o conceito de gestão no meio eclesial, os autores, desde o início do artigo, procuraram enfatizar o objetivo central das instituições religiosas que é a evangelização, destacando que a instituição eclesial toma forma como pessoa jurídica e, portanto, “tanto a missão evangelizadora da Igreja quanto a missão que compõe o planejamento empresarial, devem caminhar juntas nos trabalhos eclesiais” (GOMES; RIGONI, 2019, p. 94). Para a pesquisa os autores se valeram de documentos da Igreja, assim como da análise dos modelos de relações e funções presentes dentro da instituição: clérigos, voluntários, colaboradores remunerados, leigos e leigas. Papa Francisco é mencionado como uma figura que, desde o início de seu pontificado, não tem medido esforços para atualizar a forma de gestão da Igreja, sem desconsiderar o caminho já percorrido e a tradição, procurando alinhar as estruturas para uma Igreja em Saída.

Na atualidade, o papa Francisco conquista o mundo com a sua simplicidade, seu sorriso fácil e um caráter singular, comunicando-se com os fiéis e a população em geral com desenvoltura, apesar de ter que administrar parte de uma estrutura hierárquica que o torna envolto a uma corporação tradicional, isto é, que transparece não absorver sua criatividade e sua vontade de crescer com uma Igreja em saída, uma Igreja evangelizadora e principalmente uma Igreja que necessita buscar na modernidade seu caminho, com uma roupagem para fazer frente aos novos tempos, sobretudo na dimensão da gestão, mas sem perder suas características fundantes: missionaridade, tradição apostólica, comunitária, entre outras.

GOMES, Marise Gomes; RIGONI, Miguel Fernando, 2019, p. 93.

O artigo em sua estrutura aborda alguns tópicos em destaque, conforme segue:

a) Documentos de João Paulo II a Francisco com foco na Gestão Eclesial

Ao analisar os documentos eclesiais e a missão da igreja, discutir a gestão eclesial exige o envolvimento de uma construção interdisciplinar, com participação de todos os atores que compõem o meio eclesial, com o compromisso de serem fermento entre as grandes massas.

Assim, transparece ser sensato trazer essa realidade para a ação conjunta de uma “gestão evangelizadora”, onde leigos (as) formam um elo consistente com a estrutura hierárquica clerical da Igreja, conforme proposta tanto do Concílio Vaticano II, quanto o que expressa João Paulo II na Constituição Pastor Bonus.

GOMES, Marise Gomes; RIGONI, Miguel Fernando, 2019, p. 92.

No início do papado de Francisco, foi constituída uma Comissão para revisão da Constituição Apostólica Pastor Bonus e, consequentemente, iniciar uma nova reforma da Cúria Romana, a ser emoldurada como uma espécie de “Conselho Geral”, nos moldes do sistema jesuítico de governo, para que o assessore no governo da Igreja.

GOMES, Marise Gomes; RIGONI, Miguel Fernando, 2019, p. 93.

b) A estrutura organizacional

Para uma boa gestão eclesial no âmbito paroquial, assim como nas demais instâncias e estruturas da diocese, fica clara a importância da estruturação e configuração dos conselhos pastorais e administrativos que devem representar o Povo de Deus em sua diversidade. Destaca-se a garantia de constituição dos Conselhos conforme o Direito Canônico. E ainda,

Nas paróquias a figura do Pároco assume a competência gestora, seguindo a autoridade do Bispo Diocesano (CIC, 2017, 515§1), com a participação ativa dos vigários paroquiais, diáconos e leigos e leigas conforme Cânon 228 §1e 2 (CIC, 2017).

GOMES, Marise Gomes; RIGONI, Miguel Fernando, 2019, p. 94.

c) A atuação dos(as) leigos(as) no processo administrativo da igreja

A gestão administrativa paroquial e pastoral envolve diversas pessoas que devem ser preparadas e instruídas para que prestem um bom serviço à igreja, levando em consideração suas aptidões, o conhecimento de toda a engrenagem da igreja e cada passo de seu funcionamento. “Outras práticas a serem trabalhadas, no leigo (a) a serviço da administração paroquial consistem, por exemplo, em não assumir posturas centralizadoras e agir com coerência diante dos problemas” (p. 101).

d) Colegialidade e sinodalidade na estrutura da igreja

O verbete sinodalidade é frequentemente usado pelo papa Francisco, que demonstra com coragem uma busca incessante para ampliar os processos de escuta e responsabilidades compartilhadas. No entanto, a Igreja prossegue em estrutura piramidal, com um ar de monarquia sagrada e, a práxis católica ainda não é a de uma democracia.

Para Kuzma (apud Lopes e Modino, 2017), todos os processos posteriores ao Concílio Vaticano II (1962) e a Conferência Medellín (1968) buscaram frear e revogar a abertura aos leigos, senão vejamos, conforme o autor menciona que da Assembléia do CELAM (1979) a Aparecida (2007), com raras exceções “Continuamos com as mesmas estruturas e linhas de ação, seguimos com os mesmos planos e projetos pastorais, a mesma insistência na formação clerical dos nossos seminaristas e na pouca valorização da formação laical […]”.

GOMES, Marise Gomes; RIGONI, Miguel Fernando, 2019, p. 99.

e) A evangelização como eixo principal para gerir os bens da igreja

Todos os “bens eclesiásticos” precisam ser geridos para que se mantenham a serviço da Igreja e, portanto, a serviço da Evangelização, que é o fim de todas as atividades da comunidade Cristã, na organização eclesial. Para isso requer planejamento e o uso de novas tecnologias que corroborem para maior transparência.

Os autores finalizam o artigo com algumas considerações sobre a gestão eclesial que apontam para a exigência de mudança de mentalidade e desafiadora mudança de paradigma que acompanhem os sinais dos tempos.

PARA REFLETIR

a) Em sua comunidade de fé, como acontece a relação entre líderes e liderados? Você se sente participante ativo nos diversos encaminhamentos da vida comunitária?

b) O que podemos fazer para que se concretize a gestão de nossas instituições eclesiais, segundo os documentos do Concílio Vaticano II?

c) Para você a maneira do papa Francisco conduzir a Igreja contribui para sua participação?

CONCLUSÃO

Este é um desafio que a Igreja vive neste momento. O papa Francisco, com sua liderança ética, tem revelado com seus gestos e reflexões grande preocupação com o “poder” exercido por muitas lideranças. Sua postura de diálogo, de escuta e maleabilidade vem contribuindo como que como um efeito cascata nas Igrejas Particulares e nas muitas instituições da Igreja. Embora muito ainda se tem para caminhar nesta perspectiva do poder-serviço. O processo é lento, mas, tem que acontecer. Grupos ultraconservadores estão fazendo muito barulho e tendem a fortalecer sempre mais a estrutura piramidal que existe há séculos na Igreja. No entanto, em sua última encíclica “Fratelli Tutti”, inspirado em Francisco de Assis, o papa Francisco fortalece sua postura de uma Igreja sinodal.

Constatamos, portanto, que a Instituição em si é frágil e pode causar mais danos do que benefícios em sua missão. Porém, suas estruturas buscam favorecer a gestão colegiada. Sua fragilidade maior está na figura do gestor, que traz em si luzes e sombras. Podendo conduzi-la de maneira madura, envolvendo os seus membros ou conduzi-los para o caos. Como exemplo de “fracasso” na maneira de gerir para a ‘morte’ é o atual Governo de nosso País. Centralização, autoritarismo, poder, desequilíbrio… sinais vitais que revelam grande retrocesso.

A mudança na maneira de liderar é exigência atual para o crescimento e fortalecimento de nossas instituições. Diálogo, confiança, transparência, maleabilidade são forças que estruturam a boa gestão. É o caminho que devemos percorrer em as nossas instâncias eclesiais. Desde o Conselho de Leigos de uma pequena comunidade de fé, até as instâncias da Cúria Romana devem se fundamentar nestes valores. É preciso liderança maduras e corajosas que escutem e confiem nos liderados. Assim foi Jesus escutando e acolhendo, conduzindo o grupo dos 12 Apóstolos, com os dons e fragilidades de cada um. Que o Mestre Jesus nos inspire no cuidado e condução do rebanho.

Adilson Correa da Silva

Ambos os artigos estudados são provocadores, no entanto, não trazem grandes novidades, apenas desenham uma realidade bem conhecida para aqueles que participam ativamente dos processos atuais e conhecem a história da instituição Igreja Católica Apostólica Romana.

Poder, instituição, perfil da liderança, colegialidade, sinodalidade, gestão são termos muito abordados nos últimos tempos, carregam um belo discurso, porém, na prática estão muito aquém do ideal. Há uma distância considerável entre o real das nossas comunidades eclesiais e o ideal sonhado. Não se trata de pessimismo, pelo contrário, é apenas uma constatação de que há muito a ser realizado. Embora a passos lentos e com muita fragilidade, tem-se alcançado êxitos e é possível alavancar mudanças positivas. Nesse contexto, papa Francisco se destaca como uma grande esperança.

A Instituição “é um mal necessário”, aqui, vou me valer das palavras de Paulo “Não entendo o que faço: não faço o bem que quero, mas faço o mal que detesto” (Rm 7, 15). Para avançarmos com qualidade na Evangelização reconhecemos a importância da instituição e, digo mais, é necessário nos envolvermos em seus processos para que mudanças sejam alcançadas; não basta criticar ou reclamar, é preciso apontar pistas, ocupar qualificadamente os espaços, construir coletivamente. Eis o papel da sinodalidade, narrada desde Atos dos Apóstolos e tão defendida por Francisco.

A atuação dos leigos e leigas é de fundamental importância nesse cenário. A experiência dos Pastoralistas, na Arquidiocese de Belo Horizonte (leigos e leigas que são remuneradas para estudar a pastoral, acompanhar e fazer proposições participando de diversos espaços de discussão) têm se mostrado como um caminho pertinente nesse sentido. Pois, valoriza a figura do leigo possibilitando que ele tenha tempo para se dedicar integralmente ao serviço pastoral.

Renata Senhorinha Santiago

REFERÊNCIAS

GOMES, Marise; RIGONI, Miguel Fernando. Leigos e leigas a serviço da gestão paroquial: possibilidades e desafios. In: Caderno Ciências das Religiões: uma análise transdisciplinar, PUC-PR, p. 2019, p. 88-105

PEREIRA, William César Castilho. Instituição, poder e gestão colegiada: dialogando com o papa Francisco. In: Revista Convergência, Conferência dos Religiosos do Brasil, 2016, p. 397-412.

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