Pe. Nelito Dornelas – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 05 Feb 2021 16:12:30 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pe. Nelito Dornelas – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 FALECEU PADRE NELITO DORNELAS, EX-ASSESSOR DAS PASTORAIS SOCIAIS NA CNBB https://observatoriodaevangelizacao.com/faleceu-padre-nelito-dornelas-ex-assessor-das-pastorais-sociais-na-cnbb/ Fri, 05 Feb 2021 16:12:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=37944 [Leia mais...]]]> Com profunda esperança e fé no Deus da Vida, Deus da Ressurreição – nosso destino último de amor – damos o nosso a-Deus ao Pe. Nelito.

Na noite de quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021, o padre Nelito Nonato Dornelas, vítima da covid-19, celebrou a sua páscoa definitiva. Ele estava internado no Hospital Santa Genoveva, em Uberlândia (MG).

De acordo com informações divulgadas pela diocese de Governador Valadares, da qual era membro do clero, seu corpo será trasladado para o município de Abre Campo (MG), sua terra natal, onde será velado e sepultado, em dia e horário a ser definido pela família.

Nascido em 31 de agosto de 1962, na véspera de completar 25 anos, Nelito Dornelas foi ordenado presbítero em 11 de julho de 1987. Ele concretizou seu ministério na Igreja católica, com profundo espírito ecumênico e inter-religioso, a serviço do povo de Deus, desde os mais pobres e de mãos dadas com as diversas lutas em defesa da dignidade da vida e por outra sociedade possível. Entre seus feitos, aqui enfatizamos alguns deles:

  • Foi assessor da então Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), atual Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora;
  • Em sua atuação pastoral no âmbito da Igreja no Brasil, colaborou na animação e articulação das Pastorais Sociais e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), contribuindo também na reflexão das implicações sociopolíticas relacionadas à presença da Igreja Católica no Brasil;
  • Fez um levantamento histórico das Semanas Sociais Brasileiras, destacado em artigo recente sobre os 30 anos dessa articulação sociopolítica da Igreja no Brasil;
  • Como assessor da CNBB, foi secretário do Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome, tendo se envolvido em iniciativas nacionais e internacionais que pediu mais equidade no acesso aos alimentos;
  • Foi suplente da representante da CNBB no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em 2011;
  • Foi um dos principais articuladores da 5ª SSB, realizada em 2013;
  • Participou do Secretariado do 13º Encontro Intereclesial das CEBs, realizado em janeiro de 2014, em Crato (CE);
  • No Regional Leste 2 da CNBB, foi membro da Comissão do Meio Ambiente da Bacia do Rio Doce, do Fórum Permanente em Defesa do Rio Doce;
  • Acompanhou as pastorais e movimentos sociais;
  • Foi assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Alguns depoimentos após a notícia de sua páscoa definitiva:

“Viver é um continuo rasgar-se e remendar-se”!
Guimarães Rosa

A irmã morte, quando nos visita e leva um amigo e irmão no sacerdócio, rasga o coração da gente.
Quis Deus, que eu iniciasse o Ministério Presbiteral, em Governador Valadares. Foram 11 anos de um fecundo, provado e acalentado ministério. Foi o meu primeiro e grande amor. Logo que cheguei, encontrei-me com Dom José Heleno, bispo simples, que sempre dizia: “quero viver a vida oculta de Nazaré”! Dele havia recebido uma cartinha, dizendo: “aqui encontrarás, mais que um bispo, um amigo e irmão”! Dia a dia, fui percebendo que não eram apenas palavras, e sim uma bela verdade. Foi animador conhecer um grupo de padres, que tinham sido ordenados, na mesma época, em que fui ordenado. Dentre eles, estava o alegre, animado e comprometido, Padre Nelito Dornelas. Dom José Heleno, o chamava de cidadão do universo. Pouco a pouco, fui percebendo que os limites geográficos de uma paróquia e de uma diocese, não cabiam em seu coração. Ele era verdadeiramente universal, por isso, discípulo do Nazareno, matriculado na escola de Charles de Foucauld, o irmãozinho universal. Nelito era verdadeiramente universal, não apenas pelos pés de andarilho, mas, porquê em seu coração, cabia o Universo… Tinha uma alma de peregrino, uma necessidade de sair de si mesmo e de ir ao encontro… Encontro com quem? Encontro com pessoas, com os pobres, marginalizados, doentes, descartados pela sociedade, governos e igrejas. Amava visceralmente os movimentos populares, sindicais, políticos, organizações não governamentais, pastorais sociais. Tudo que cheirava povo, pobres, pequenos.Tinha uma personalidade terna e ao mesmo tempo, revolucionária. Nisto, foi bom aprendiz de Che Guevara. Amava a Igreja pobre com os pobres, a Igreja sem pompas e circunstâncias. Enriqueceu as paróquias, a Diocese de Governador Valadares, a CNBB, a Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, as Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, os Movimentos Populares, mas, sobretudo, soube amar e engrandecer as pessoas que encontrava. Nunca era visto sozinho, estava sempre acompanhado, ou melhor, acompanhando alguém. Seu jeito de ser, oferecia hospitalidade, não era difícil estar com ele. Sua casa estava sempre de portas abertas, por isso, sempre cheia. A mesa farta, transparecia a Mesa da Eucaristia. Todos tinham lugar e todos podiam comer. Falava de coisas sérias, com leveza e humor, como falava das coisas simples, sem complicá-las. Sabia falar aos doutos, quanto aos simples. Mas, sua opção, nascida no encontro com o Evangelho, eram os simples e os humildes. Viveu de uma forma intensa, pobre, orante, alegre, confiante, estradeiro… Morreu, como viveu, viajando! Uma viagem para a qual não estávamos preparados. Fomos pegos de surpresa, desarmados, de improviso. Acostumados com suas muitas andanças, parece que ele está para chegar, e que, a qualquer hora baterá chamando na porta. Há poucos dias atrás, tivemos três conversas. Na primeira, convidou-me para orientar o retiro online, nacional, para a Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas. Na segunda, quis saber da minha vida em Nazaré, vivendo a vida escondida de Jesus, com minha mãe. Na terceira, trouxe-me o convite para ingressar-me na Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas. Ao final de nossa última conversa, despediu dizendo: “vou celebrar a Eucaristia”. Obrigado, Nelito! Agora, você vive a Eucaristia das Eucaristias. “Viver é um continuo rasgar-se e remendar-se”, agora, Nelito, tenho que remendar mais uma vez meu coração, desta fez será com a estampa de seu rosto sorridente, com seu testemunho de amor aos pobres, com o perfume de Deus que você exalou!
Uma vez Fratelli Tutti, sempre Fratelli Tutti!

(Pe. Éderson Queiroz)

Hoje recebemos a notícia da partida do nosso querido irmão, companheiro, amigo e grande esperançador e semeador de um outro mundo possível. Padre Nelito, padre dos pés calçados com a sandália missionário, vivente junto ao pobre pobre e lutador. Ele segue a romaria vestido com seu chapéu de palha, sua estola colorida e seu olhar vivo e sorriso aberto cantando os mantras pra alegrar quem caminha. Ouvimos mesmo agora sua fala quente, esperançosa nos dizendo que mesmo passando no deserto, seguimos alvorada a dentro na profecia, na denuncia, no seguimento do Jesus dos pobres, do pobre sofredor. Padre Nelito, nosso irmão em marcha, seguimos contigo. Não segues sozinho. Leva nosso coração assim como tu sempre acolheste o coração de cada romeiro. Nelito das CEBs, das pastorais sociais, das juventudes, Nelito dos pobres, Nelito missionário. Tu segues conosco.

(Carlos Viveiros – Pastoral de Juventude)

Padre Nelito… Você será presença viva em seus ensinamentos, suas ações, seu exemplo de profeta de Deus… Agradeço a Deus por ter vc como companheiro de caminhada…. Um amigo para todas as horas..sua presença nessa trajetória de caminheiros. Homem abençoado, amigo, humano, inteligente, de uma sabedoria ímpar, de uma memória divina…. Que se colocava na caminhada com pés no chão… Com o povo, com os pobres, com os doentes, você era presença nas Pastorais Sociais, CEBs…em todos âmbitos de formação. Seu testemunho… um amor incondicional com vocação de ser sacerdote humano, alegre, criativo, sempre a serviço do povo de Deus… De um sorriso que abria portas por onde passava… Nosso companheiro de Romarias, do nosso Programa Igreja Hoje, da TV Kefas… Com o seu ombro amigo, com a disponibilidade da escuta e o carinho necessário para nós acalentar… Minha tristeza é profunda…😭😭! Não dá imaginar o tamanho da sua falta… Só sei que você será PRESENTE, pois você é profeta de Deus e mestre na arte de ensinar sem humilhar as pessoas com sua sabedoria…”

(Rita Baldim, Catequista na diocese de Governador Valadares)

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10224249276320739&id=1267825649&sfnsn=wiwspwa

Fonte:

www.cnbb.org.br

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Ética do cuidado: a essência da vida cristã https://observatoriodaevangelizacao.com/etica-do-cuidado-a-essencia-da-vida-crista/ Fri, 03 Aug 2018 18:53:50 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28639 [Leia mais...]]]> peNelitoDornelas_CNBB.jpg

Por Pe. Nelito Dornelas

O cuidado com a vida nasce da consciência de sua fragilidade. Sem o cuidado a vida não cumpre plenamente sua missão, seu desabrochar e seu florescer. Daí a necessidade de se debater racionalmente sobre os caminhos e as formas mais eficazes para proteger e amparar a vida,  resultando em propostas que perpassem pela dimensão da ética.

A ética cristã tem um importante lugar na construção dos sistemas de vida do Ocidente. Ela se alicerça fundamentalmente na inspiração bíblica, na Tradição, e especialmente para a Igreja católica, no magistério dos bispos, dos papas, dos teólogos, e no ethos do povo de Deus, no sensus fedelis.

A ética cristã é assumida pelas famílias cristãs e pelas comunidades eclesiais e é sempre construída e reconstruída ao longo da história, mantendo sua referência à pessoa de Jesus Cristo e de seu evangelho, desdobrando-se em formas concretas de comportamentos morais e de vivência espiritual.

 

A ética cristã é uma ética do coração

Quando se procura entender a ética cristã à luz das ciências bíblicas há de pensá-la a partir  do significado para os escritores sagrados da palavra coração. A ética cristã é uma ética do coração. No sentido metafórico, a palavra coração é preciosa para a Sagrada Escritura e para a compreensão do dinamismo ético do cristianismo. A palavra coração indica a pessoa em sua totalidade, que implica inclusive seus relacionamentos mais significativos com a comunidade de vida da qual ela é parte.

A Bíblia indica ainda que o coração é o lugar da habitação do divino, e, por isso, é a residência do amor. É nele que Deus deposita seus segredos, que nos informa sobre o bem e é a partir dele que estabelecemos relações vinculantes com os outros.

 

A ética cristã é uma ética do cuidado e da responsabilidade

A ética do cuidado nasce de um coração atento e de ouvidos abertos a escutar os apelos que nascem da realidade ao seu redor, da consciência, da Boa Nova do Reino anunciada por Jesus, tornando-o capaz  de discernir o que é mais justo e o que convém ser feito em cada situação da vida.

A ética da responsabilidade nasce da capacidade de responder aos desafios e urgências. Resposta esta que respeita a liberdade pessoal e de consciência e que torna cada pessoa mais humana e mais cuidante da vida. Responsabilidade é o lugar de referência do caráter e da revelação dos princípios morais da pessoa.

Neste sentido, pode-se afirmar que a ética da responsabilidade tem a ver com a obediência da fé. A obediência da fé é uma obediência discernente, que sabe valorizar todas as formas de escuta honesta à comunicação que Deus faz à humanidade, através das pessoas, dos fatos, das instituições,  da história pessoal e coletiva. Assim, ser alguém eticamente responsável é tarefa extremamente trabalhosa e presume tanto a humildade de acolher, quanto a coragem sincera de refutar as muitas ofertas de normas de conduta que são apresentadas às pessoas a cada tempo.

A responsabilidade nasce desta capacidade de resposta que o leva a agir de tal maneira que as consequências de suas ações sejam benéficas e proveitosas para o outro e para as gerações futuras, sobretudo, sejam construtoras da esperança no outro.

Matar a esperança é matar a própria vida. A responsabilidade ética supõe um compromisso inarredável com a verdade, que deve ser buscada incansavelmente pelo diálogo sincero e honesto que reconhece o outro como alguém significativo e digno de ser escutado.

 

A ética cristã é ética da fraternidade e da solidariedade

A ninguém é dado o direito de perguntar como Caim perguntou ao Senhor após ter sacrificado seu irmão Abel em uma atitude fratricida: “Sou eu por acaso guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). A falta do sentimento de irmandade os torna homicidas e mentirosos.

É preciso construir a certeza de que há realmente uma interdependência necessária entre todos os seres, de que possuímos uma origem e um destino comuns, de que carregamos as mesmas feridas e de que alimentamos esperanças e utopias que nos projetam no mesmo paraíso, mesmo que expressas de formas diferentes.

A solidariedade emerge como uma categoria basilar da vida. A vida necessita fundamentalmente da solidariedade para se sustentar. A vida é frágil e vulnerável e está à mercê da alternativa entre o caos e o cosmos. Aqui merece uma consideração: a expressão cosmos é que gerou a palavra cosmético, o belo, a beleza. Portanto, cuidar do cosmo é cultivar o belo.  É neste sentido que Dostoievski vai afirmar que a beleza salvará o mundo.

Atitudes como cuidado, respeito, veneração, ternura, cooperação solidária, cumplicidade, parceria, inclusão do outro no jogo da vida, devem ser recuperadas em uma sociedade embrutecida e bestializada que prima pela competição, pelo egoísmo, pela inveja, pela disputa, pela dominação, pelo descarte dos outros.

Caso percebamos ser muito difícil mudar o mundo, mudemos o Brasil. Se esta tarefa for difícil, comecemos pelo nosso Estado. Se não nos sentirmos capazes a tal obra, comecemos pelo nosso município. Se não dermos conta, iniciemos pelo nosso bairro. Caso a tarefa seja grandiosa, comecemos por nossa rua, ou por nossa empresa, nossa escola, nossa casa até chegarmos á consciência de que é necessário começar por nós mesmos, como nos alertava Mahatma Gandhi: Sejamos nós mesmos a mudança que queremos ver no outro.  Ou então tomemos consciência do apelo insistente de Dom Hélder Câmara de que precisamos nos mudar muito para sermos nós mesmos.

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