Pe. Alfredo Sampaio Costa SJ – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 10 Nov 2021 11:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pe. Alfredo Sampaio Costa SJ – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Reconstruindo nossa identidade”, com a palavra Alfredo Sampaio Costa, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/reconstruindo-nossa-identidade-com-a-palavra-alfredo-sampaio-costa-sj/ Wed, 10 Nov 2021 11:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=42601 [Leia mais...]]]>

A oração não tem somente uma finalidade de nos elevar até Deus. Ao fazer isso, restabelece nossa ligação originária com o Criador e revela igualmente quem somos como criaturas:

“Nesse diálogo que se origina entre corpo, pensamento e afetividade, e que nos percorre incessantemente por dentro, vamos clarificando o que realmente somos e o que queremos. Saber dizer “olá” ao novo e “adeus” ao que deixamos, sem ficar divididos e dilacerados entre o que rejeitamos e o que escolhemos, é forma de saúde e disponibilidade evangélica. Cada decisão tem o seu momento junto, a “hora” precisa que não devemos adiantar nem adiar. Saber perceber o “agora” de cada decisão, quando o dom de Deus aparece em nossa realidade, supõe amadurecer os processos até o instante preciso, sem acelerá-los pela ansiedade nem os adiar pelo medo”.

GONZÁLEZ BUELTA, Benjamín. Orar em um mundo fragmentado, p. 104.

Muitas pessoas têm receio de abandonar-se nos colóquios ao Senhor, temendo aquilo que o Senhor poderá lhe pedir na oração, e que terá consequências “desagradáveis” para a acomodação com que elas vivem a sua vida espiritual. Para Inácio de Loyola, Deus é o “Deus sempre maior”, surpreendente, que nos chama para o “mais”, desinstala, acredita sempre nas nossas potencialidades…

Não é nada fácil resistir à ansiedade que atropela os processos sem pressa do Espírito. Qual o momento preciso para passar à decisão?

“As grandes decisões marcam a vida em sua orientação fundamental nos momentos de encruzilhada, mas é necessário estar sempre atentos para não chegar a um porto diferente do escolhido, pois na vida cotidiana estamos expostos a muitos ventos enviesados, ou a correntes submarinas que nos podem desviar de nossa rota enquanto dormimos.  Nunca assumimos plenamente nossas decisões fundamentais com todo o nosso ser, sempre ficam dimensões escuras que não foram integradas à opção, e que em algum momento posterior ameaçam, distorcendo a eleição realizada”.

GONZÁLEZ BUELTA, Benjamín. Orar em um mundo fragmentado, p.105.

Será provavelmente nos momentos dos colóquios onde experimentaremos no nosso coração os grandes, mas também os delicados apelos do Senhor, movendo o nosso coração, tocando os nossos afetos, sugerindo, animando, acompanhando-nos rumo a uma vida de maior amor e serviço. Enfrentando furacões, ventanias de todo tipo, iremos aos poucos percebendo a brisa suave onde Deus se faz sentir.

No confronto com o outro, descubro quem sou

Neles experimentamos que não estamos sós, nunca estivemos e nunca estaremos, porque somos criados em relação e numa relação de Amor. Descobrimos que os outros e, principalmente, o Outro que é Deus é que nos permitem descobrir quem somos nós.

Contudo, a experiência da relação nem sempre é vivenciada como sendo algo agradável e que me realiza como pessoa. É importante pois considerar diversas situações que se podem apresentar quando nos sentimos na presença de um outro:

  • O outro pode se apresentar como um dom que me complementa, com sua beleza, bondade, inteligência, fortaleza. Mas todos somos limitados. Em alguma parte acabam nossas forças, nossa saúde ou nossas habilidades aprendidas. Frequentemente oramos a Deus para que nos tire os limites que se cravam na carne como espinhos. Alguns limites se superam, mas outros Deus nos ajuda a reconhecê-los, aceitá-los e a receber de outros o que necessitamos para viver e para cumprir a missão que ele nos confia. Em vez de eliminar o limite que aumenta minha suficiência, enviar-me-á ao outro que aumenta minha comunhão, como se referiu Moisés a seu irmão Aarão, que falava bem, quando se queixou de sua pouca facilidade de palavra para levar adiante sua missão (Ex 4, 14). “Procurar Aarão” humildemente é um desafio para nosso orgulho e nossa autossuficiência. Também é uma provocação me aproximar do outro com gratuidade, e não pelo que posso tirar dele.
  • O outro pode ser uma diferença que desinstala meus julgamentos e minhas posturas vitais. Cada vez mais experimentamos hoje uma violenta polarização de opiniões, juízos, ideologias, onde o “diferente” é quase sinônimo de “inimigo” e, portanto, deve ser eliminado ou, ao menos, ignorado. O confronto com o outro sempre será uma oportunidade para rever minhas posturas e nos abrirmos a outros modos de sentir, ver, falar e viver.
  • O outro pode ser uma pobreza que me tira de meu egoísmo. Sabemos como o contato com os pobres e descartados da sociedade nos impacta e exige uma resposta de vida. Na sua tremenda indigência, apela à nossa solidariedade e compaixão.
  • O outro pode ser um Caim, uma agressão poderosa que ameaça mutilar minha pessoa ou destruir minha vida[1]. A trágica história dos dois irmãos paira sempre como uma ameaça real sobre nós quando temos que enfrentar o outro que está no nosso caminho. Conhecemos muito bem as resistências e bloqueios que experimentamos diante de conversas com pessoas desconhecidas. O mundo nos faz desconfiar de tudo e de todos, carregando de hostilidade e suspeita qualquer relacionamento humano.

Pois bem, quando nos pomos a rezar, com qual desses “outros” eu me deparo?

Podemos em um ou outro momento experimentar mais uma destas situações, e é importante ter consciência de como sentimos o outro, pois dependendo do modo como nós o sentimos, será a nossa resposta: não é o mesmo responder a um estranho desconhecido, a um parente, a um amigo íntimo ou a um inimigo mortal.

Quando vamos rezar, entram em ação as imagens que temos de Deus, e elas afetarão imensamente nossa relação com Ele. Estabelecerão o clima do encontro, amistoso ou hostil. Importa, pois, ajustar nossa lente para captar quem é Deus verdadeiramente. Quem vem em nosso socorro para esta tarefa é o Filho Amado, Jesus.

Deus se faz outro em Jesus

“Em Jesus, Deus se fez outro, próximo e misterioso, débil e forte, fascinante e marcado pelos limites, entregue a outros para que vivam em plenitude e necessitado de outros para poder existir e chegar à plenitude de sua própria identidade. Decide encarnar-se como Senhor da história, mas ao mesmo tempo pede permissão a Maria, adolescente e camponesa. É o amor sem medida, mas tem que ser acolhido e amado de maneira incondicional por uma mãe antes de existir, sem saber como será e de que forma orientará sua vida. Jesus não só é um dom do Pai, mas também um dom dos que o acolheram e cuidaram. Com ele começou uma nova etapa da história, mas ele se encarnou em toda a história que o precedeu, onde homens e mulheres amaram e lutaram para elaborar a cultura e a comunidade onde pôde formar-se e ser um homem que pôde dizer “nós”, como todo ser humano”.

GONZÁLEZ BUELTA, Benjamín. Orar em um mundo fragmentado, p. 126-127.

Jesus nos revela o Pai, ou melhor, nos mostra o Amor infinito do Pai, sua Compaixão sem limites. Quando nos dirigimos a Deus nos colóquios, deixamo-nos invadir por uma presença amorosa de alguém que nos ama de tal forma que quer se fazer um de nós, alguém a quem podemos nos dirigir chamando-o de “Tu”.

“Em Jesus encontramos a Deus mesmo, que acolheu todos os que lhe saíram ao encontro, e aos que ele mesmo procurou pelos caminhos e praças onde estavam perdidos e paralisados.  Jesus nos oferece a imagem de um Deus que não pôs no centro de sua vida a conservação de sua própria pessoa, a segurança e o prestígio social que podia adquirir facilmente graças a sua inigualável personalidade, mas a toda outra pessoa que encontrava em seu caminho, superando qualquer classificação discriminatória, paralisante ou excludente”.

GONZÁLEZ BUELTA, Benjamín. Orar em um mundo fragmentado, p. 128.

Em todo outro podemos encontrar o Outro

Deus nos salva fazendo-se outro. Não só em Jesus de Nazaré, ao qual nós podemos contemplar, amar e seguir. Continua salvando-nos, fazendo-se outro em toda pessoa que nos sai ao encontro. O encontro nos salva porque nos permite entrar na comunhão necessária que nos fortalece. Deus se faz outro, com letra minúscula, em Jesus de Nazaré e em toda pessoa, para que todos possamos nos aproximar dele, e para que em todo outro tratemos de descobri-lo e possamos encontrá-lo e amá-lo”[2]. Cada vez mais e de formas novas!

Sobre o autor:

Como estamos organizados – Rede Servir – Jesuítas do Brasil
Pe. Alfredo Sampaio Costa, SJ

Pe. Alfredo Sampaio Costa SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

https://faculdadejesuita.edu.br/fajeonline/palavra-presenca/reconstruindo-nossa-identidade/

[1] Benjamín GONZÁLEZ BUELTA, Orar em um mundo fragmentado, 124-126.

[2][6] Benjamín GONZÁLEZ BUELTA, Orar em um mundo fragmentado, 128.

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“Conversar de coração a coração”, com a palavra o pe. Alfredo Sampaio Costa, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/conversar-de-coracao-a-coracao-com-a-palavra-o-pe-alfredo-sampaio-costa-sj/ Thu, 28 Oct 2021 12:52:25 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=42328 [Leia mais...]]]>

Quando vamos rezar, como em qualquer outro encontro interpessoal, não é simples nos lançarmos de imediato a profundas partilhas e trocas de afeto. Muitas vezes é preciso pacientemente aguardar o momento, realizar passos preliminares, ir-nos aproximando um ao outro progressivamente. Mas chegará a ocasião onde o afeto não cabe mais dentro do peito e explodirá. É a hora de deixar o coração falar, livremente, amorosamente. Chegamos ao que Inácio chama de “colóquio”.

O colóquio como diálogo com o Senhor na oração é para Inácio o momento de falar “de coração a coração”, isto é, apaixonadamente, com intenso afeto. Para que nossa oração seja verdadeiramente autêntico diálogo com o Senhor, há uma experiência de base que precisamos recuperar: a de sermos amados por Deus!

Sentir-se amado

Não vivemos sem essa experiência, ou viveremos uma vida muito triste. É interessante notar como, em momentos-chave da sua vida, vemos brotar nos Evangelhos a revelação que Jesus é amado pelo Pai. Pois esse Amor imenso é que moveu o Senhor a se lançar a anunciar a Boa-Nova e a enfrentar a Paixão, morrendo por nós na Cruz. Pois é exatamente nestes dois momentos decisivos (Batismo = início da missão pública e Transfiguração = subida para Jerusalém = preparação para a Paixão) que ecoará, forte e claro, a voz do Pai: “Este é meu Filho muito amado!”. Se olhamos para a nossa história de vida, encontraremos certamente situações similares onde, em meio a incertezas, sofrimentos e ameaças, o sentimento repousante e seguro de sermos amados nos impediu de naufragarmos.

O que nos permitirá enfrentar o que nos espera no futuro (situações de dor, incompreensão, renúncias que temos que fazer etc.) é necessário antes de mais nada compreender, sentir, experimentar que  Aquele que está nos falando é alguém que nos Ama de um modo antes inimaginável. Sem essa experiência de sentirmo-nos amados por Ele, suas palavras e atitudes não terão nenhum efeito transformador sobre minha vida concreta. Lembremos sempre da palavra do evangelho na Transfiguração: “Esse é meu Filho muito amado: escutai-O!” (Mc 9, 7)

Uma oração que penetra até o coração, no centro da pessoa e produz movimentos afetivos intensos. Explana González Buelta sobre o tema:

“A realidade que entra em nós através dos impactos dos sentidos processados por nosso pensamento é levada até a afetividade. Se é percebida como boa, produz em nós sentimentos de agrado e de acolhida. Se é percebida como desagradável ou ameaçadora, sentimo-nos feridos e nos fechamos.  A afetividade tem muitos matizes diferentes que conformam um universo apaixonante mas complexo, no centro mesmo de nossa pessoa. A realidade pode produzir em nós os sentimentos que são estados afetivos suaves e de curta duração, as emoções intensas e breves, e as paixões que são intensas e se instalam dentro de nós por longo tempo. Os estados de ânimo são duráveis e suaves.  Nem todos os impactos afetivos passam antes por nosso pensamento. Às vezes são tão intensos que se chocam diretamente e com força em nossa afetividade”.

Pe. Benjamin González Buelta, SJ, Orar em um mundo fragmentado, p. 87.

Ao tocar nesse tema dos afetos, sinto necessidade de avisar que precisamos estar atentos a uma coisa: que não sejamos engolidos por nossos afetos! E o que era um encontro amoroso com o Senhor da minha vida se perca em expressões de sentimentalismos superficiais e desconectados, sem incidência na minha vida e prática pastoral. González Buelta, fiel à tradição inaciana, coloca-nos diante de um universo binário “agradável/desagradável”, “consolação/desolação”, “a favor/contra Deus”. Grande parte das nossas energias na oração serão consumidas nesse sentir, identificar, classificar e reagir ao que experimentamos na oração. Sem medo de olhar o que está se passando no nosso interior e os seus diversos graus de intensidade: sentimentos (estados afetivos suaves e de curta duração), emoções (intensas e breves) e as temidas paixões (intensas e que se instalam para ficar). Acima destas, também falamos em “estados de ânimo”, duráveis e suaves.

Quando rezo de forma livre, aberta, o meu universo interior desdobra-se e desvela-se diante de mim e de Deus. Pois é ali onde se dá o encontro escondido e secreto com o Amor de nossas vidas. Quando nos detemos na oração a conversar com o Senhor, nos voltaremos para os sentimentos que despontam no mais íntimo de nós, para saboreá-los, deixá-los fruir dentro de nós, e observaremos para onde eles nos conduzem.

A afetividade tem um peso decisivo na vida

Ainda que nos consideremos muito racionais e equilibrados, sabemos que as grandes decisões de nossa vida não as tomamos com base em silogismos ou intrincados raciocínios, mas movidos pelo ímpeto das paixões. Comenta González Buelta a respeito:

“Pondus meum, amor meus” (Santo Agostinho, Confissões XIII, 9,10). O que eu amo, isso é o peso que inclina meu coração. “O afetivo é o efetivo”, o que sentimos profundamente acaba por inclinar nossa pessoa nessa direção.  Por isso é fundamental fazer-nos conscientes do que acontece no nosso coração. “Poderosas razões tem o coração que a razão não conhece”. Às vezes uma pessoa toma uma decisão surpreendente para todos, até para ela mesma. Mas não é mais que o momento de deixar sair à luz um processo que caminhou durante muito tempo na escuridão ignorada do coração. A maturidade emocional supõe o dar-se conta dos próprios sentimentos e dos pensamentos que esses sentimentos geram. Dar-se conta dos sentimentos, dar-lhes nome e dialogar com eles é decisivo no crescimento humano e espiritual”.

Pe. Benjamin González Buelta, SJ, Orar em um mundo fragmentado, p. 87-88.

Devido à nossa formação, cultura, temperamento, temos receio de liberar toda a afetividade que trazemos dentro de nós na oração, como se isso fosse algo inconveniente ou até mesmo “pecaminoso”. Nada mais alheio à experiência espiritual dos grandes santos da Igreja, que usavam até mesmo expressões carregadas de sentido erótico para expressar o amor que sentiam por Jesus, inspirando-se no Cântico dos Cânticos e sua simbólica nupcial.

Na oração amorosa, experimentamos a diferença entre fazer algo por fazer (por obrigação) e fazer por amor. Abissal diferença, sentida nos seus efeitos em nós e nas pessoas que amamos!

Sempre na origem: amar e sentir-se amado por Alguém

Sentir-se amado por um ser pessoal, com o qual nos podemos relacionar, é decisivo para ser pessoas. Não nos basta dizer que Deus é a Força, a Natureza e tantas outras expressões vagas de uma transcendência diluída e impessoal. Devemos viver conscientemente a relação que cada um estabelece com Deus, estando bem atentos ao que vai acontecendo dentro de nós, sem relegar às sombras a dimensão afetiva desta relação.

Hoje vemos se multiplicar métodos de oração e meditação onde a dimensão pessoal de encontro com Alguém desaparece. Quando rezamos, rezamos a Alguém? Na presença de Alguém? Estabelecemos um diálogo ou trata-se, no máximo, de um solilóquio? Nosso Deus é Comunidade de Amor, Deus-Trindade. Esse fato faz alguma diferença para minha oração pessoal? Estamos diante de um ponto fundamental, pois como vou me sentir amado(a) se não há quem me Ame?

No nosso diálogo com o Senhor, fazemos a experiência de muitas forças, pulsões e atrações que entram em ação quando queremos nos abrir aos demais, vencer nossos temores e inseguranças que se mostram quando nos expomos ao amor do outro. Quanto maior for a dimensão da decisão a ser tomada, mais forte experimentaremos resistências para colocar em prática o que se nos revela como sendo Vontade de Deus. É importante que, quando essas tensões vierem à tona na nossa oração, que tenhamos coragem e abertura para conversar sobre elas com o Senhor e com nosso guia espiritual. Por vezes tais mecanismos atuam de modo inconsciente, submersos, tornando-se de difícil detecção. Nestas horas, requer-se algo bem difícil: tranquilidade e paciência. Não devemos nos apavorar nem nos deixarmos paralisar por esses medos. Eles fazem parte da nossa vida, são expressões de nossa limitada condição humana.

Com o passar dos anos, fui aprendendo algo importante: que, na maior parte das ocasiões, será preciso procurar avançar sem seguranças e com visibilidade bem moderada. Em outras palavras: na fé! Talvez duvidemos de nossas próprias energias, o horizonte permanece insistentemente nebuloso, mas não posso deixar de sentir que há uma Presença que caminha comigo e não me permite desistir ou vacilar.

Se há algo que só tem valor quando se experimenta concretamente, é o Amor! Não adianta nada discursar sobre o amor, procurar argumentos para convencer alguém a respeito dele. Nada substitui a experiência concreta, viva, atual, de sermos amados. O mesmo vale quando queremos retribuir ao amor recebido. Ao falar de responder ao amor, de retribuir tanto amor recebido, é preciso, contudo, fazer uma observação de peso: o amor verdadeiro é gratuito!

“A eficácia do amor não pode ignorar a dimensão afetiva nem destruir as dimensões de gratuidade que existem em todo amor verdadeiro, que de maneira nenhuma pode reduzir-se à contabilidade como se se tratasse de um investimento bem calculado. O amor presta atenção a cada pessoa concreta e ao momento presente, mas situa os instantes pontuais de comunhão ou de ajuda na história de uma relação. Cada pessoa não é amada como uma fruta que eu capturei em minha mão, isolada de tudo para o meu próprio benefício, mas sim situada em uma rede de relações que a constituem como pessoa. Por isso todo amor está aberto a outros, à comunidade e ao povo em seu conjunto. O amor verdadeiro é sempre concreto e universal, tem nomes próprios, mas nunca constrói uma cerca ao redor deles”.

Pe. Benjamin González Buelta, SJ. Orar em um mundo fragmentado, p. 91-92.

Benjamin Buelta nesse parágrafo que acabamos de ler toca pontos preciosos para nossa consideração. O primeiro deles que gostaria de comentar brevemente é o da eficácia do amor. A palavra “eficácia” pareceria não cair nada bem ao se falar do amor, do amor gratuito. Pois, à primeira vista, falar de eficácia implicaria planejar estratégias de ação, buscar elementos que garantam o “sucesso” da empresa do amor. Como medir a “eficácia” do amor? Numericamente? Por extensão? Tarefa complicada! Aos olhos do mundo, o Amor de Jesus não foi nada “eficaz”. Talvez entenderíamos o que o autor significa por “eficaz” com termos tais como “concreto”, “encarnado” ou mesmo “real”. Aqui não “falamos” de amor ou de amar; trata-se de “amar de verdade!”.

O segundo ponto que me chamou a atenção é que se trata de um “amor aberto a outros”, que nem por isso abandona seu ser concreto, mas, simplesmente, recusa-se a se fechar em si mesmo. “Tem nomes próprios, mas nunca constrói uma cerca ao redor deles”: gratuidade, altruísmo são essenciais nesse amor-serviço! Na nossa oração, contemplando e nos confrontando com o Homem Livre por excelência, Jesus de Nazaré, teremos ocasião de ponderar honestamente a qualidade do nosso amor pelos demais.

Como estamos organizados – Rede Servir – Jesuítas do Brasil
Pe. Alfredo Sampaio Costa, SJ

Pe. Alfredo Sampaio Costa SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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