Papa Francisco – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 26 Apr 2024 19:01:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Papa Francisco – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O Clericalismo que habita em nós https://observatoriodaevangelizacao.com/o-clericalismo-que-habita-em-nos/ Fri, 26 Apr 2024 18:59:30 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49838 [Leia mais...]]]>  

O CLERICALISMO QUE HABITA EM NÓS

Por Toninho Kalunga

Francisco é o primeiro Papa a tocar em um tema de fundamental importância para a sobrevivência da Igreja Católica no meio dos pobres. É a chaga do clericalismo. Este mal nasce do entendimento de uma parcela dos padres, de que a fé que eles devotam a Deus, é uma fé mais importante do que a fé das pessoas que não são padres.

O clericalismo nasceu disso. O desenvolvimento desta perspectiva de fé trouxe uma tese de uma certa hierarquia na relação com Deus. Assim, primeiro, vem o Papa, com sua infalibilidade, logo em seguida são os poderosos cardeais, seguidos dos arcebispos, bispos e finalmente a massa sacerdotal. O povo é conduzido e a estes, basta este papel!

Por outro lado, quem cuida, de fato, da fé do povo católico são os padres. Aliás, neste ponto nem há tanta contradição, pois, eles se formam em seminários, num período que vai de 8 à 12 anos, para ajudar na construção e consolidação de uma perspectiva religiosa e sua consequente fé. No decorrer do tempo, infelizmente, ao invés de servir, optaram por ser servidos. E aí é que a coisa degringolou.

Podemos verificar nas lembranças de nossa juventude, “Igrejas que não cabiam gente” de tanta gente que ia às Missas! Era o tempo da Igreja Pastoral, de uma Igreja onde seus pastores tinham “cheiro de suas ovelhas”. Entre o Concílio Vaticano II e o final dos anos 1970, os seminários formaram padres que tinham como perspectiva e sonho, servir ao povo de Deus.

No começo dos anos 1980, com o advento do papado de João Paulo II, essa proposta de Igreja Pastoral, foi perdendo seu vigor e passou a ser combatida ferozmente com incentivo papal do anticomunismo. Se houve erro no papado de João Paulo II, certamente, esse foi o maior deles, pois sua visão de mundo e histórico pessoal, dava a ele a dimensão de que a Polônia era o mundo. E não era!

A Igreja Latino Americana, não era a mesma Igreja Européia. Nem é!! Essa falta de perspectiva cultural e de dimensão social e econômica de João Paulo II, fez com que seu papado passasse a ser de enfrentamento a uma Igreja alegre e popular, uma Igreja de dimensão profética e acolhedora. Uma Igreja gigantesca na dimensão espiritual, eclesial e popular. Foi uma Igreja libertadora e feliz, vocacionada a ser sal na terra e luz no mundo. Por isso, era cheia, vigorosa, devota e encarnada na vida do povo. O resultado é que a vitória dos conservadores, está sendo a derrota de toda a Igreja.

Assim, esta nova proposta ganhou força e os seminários passaram a construir com grande esforço e incentivo do Vaticano, uma formação cada vez mais clericalista, onde a ideia do padre tutor, com pouco interesse na dimensão cotidiana do povo e apegado ao status sacerdotal. A igreja católica passou então a abrir mão do tríplice múnus, que é o múnus sacerdotal, múnus profético e múnus pastoral, para assumir e incentivar apenas o primeiro.

A partir deste momento, começou a crise das ordenações sacerdotais; Diminuindo drasticamente a quantidade de seminaristas e vocações religiosas femininas nos conventos. Jovens que buscavam servir, deixaram de ver na Igreja um atrativo, afinal, para ter poder, melhor seria ser candidato a vereador, prefeito ou deputado e não a padre ou “freira”!!

Assim, fomos apresentados ao orgulhoso Padre de Sacristia, perdendo de vez o líder pastoral. Foi quando começou a surgir a figura dos padres cantores ou o padre popstar, que juntava muita gente em Igrejas enormes e afastavam ao mesmo tempo, o mesmo povo, de suas pequenas comunidades. Esse foi o começo do fim das Comunidades Eclesiais de Base. Enquanto o povo cantava que tinha:

 “anjos voando neste lugar, no meio do povo e em cima do altar, subindo e descendo em todas as direções”, 

O povo na periferia ficava vendo lobos em pele de pastores, engolindo sua fé e arrancando suas esperanças, dizendo que a culpa pelas dificuldades que passavam era em razão de seu pecado e não em razão de um sistema econômico e social que os escravizavam.

Assim, como suspiro de esperança, nas periferias que ainda resistiam, a canção era outra: Ao perceber que lhes faltavam pastores o povo clamava:

“Falta gente pra ir ao povo Descobrir porque o povo se cala Pastores e animadores pra incentivar o teu povo a falar.  Falta luz porque não se acende Não se acende porque faltam sonhos. E falta esse jeito novo de levar luz e falar de Jesus”

Em razão da perda de contato da Igreja Católica com a realidade do povo, surgiu um vácuo, que foi ocupado por uma dimensão religiosa já existente, que se pulverizou: pastores evangélicos oriundos e envolvidos com a realidade de suas comunidades, favelas e periferias em geral levando apoio em nome de Jesus.

Ao destruírem pastorais como a Pastoral Carcerária, os pastores passaram a dar assistência às famílias dos detentos pobres e dos próprios presidiários. Ao impedir a dimensão profética de Pastorais como a Pastoral da Terra, abrimos mão do apoio aos trabalhadores rurais e deixamo-los à própria sorte, sendo estes acolhidos por pequenas comunidades evangélicas nas pequenas cidades e no campo.

O que sobrou aos católicos foi uma elite paroquiana que ao pagar o dízimo e doar um bezerro para a festa da Padroeira, tirava o senso crítico da realidade vivida pelos mais pobres, assim, não fazia diferença participar de uma Igreja onde o padre culpava os pecadores por seus pecados, e o pastor que dizia que o pecado era coisa do demônio. Assim, melhor era falar com o pastor, que ao menos lhes falava que iam sair no tapa com o belzebu!

Nenhum destes, no entanto, se interessava mais em falar sobre a esperança de uma vida melhor aqui, neste lugar. Todos só garantiam isso depois da morte. Assim, a vida vivida, era abafada e o que restava era se adaptar e deixar o tempo passar. Os que não aceitavam essa condição, construíram sua própria fé! Contudo sem formação, sem dimensão filosófica e teológica pastoral. Não demorou para que a falta destas dimensões formativas, fossem adaptadas para o campo da política conservadora e o resultado desta pulverização está aí para que todos possamos ver!

Além dos seminários, outra figura que transforma bons padres, em padres clericalistas, é a própria comunidade de leigos e leigas que exigem destes homens uma postura que muitos não gostariam de ter – nem têm – responsabilizando e exigindo destes uma postura de super humanos. Não é sem razão que existem tantas desistências e frustrações com o sonho da vida sacerdotal.

No campo progressista não é muito diferente, lamentavelmente! O que deveria ser um sopro de alívio para os padres, passa a ser também uma exigência de posicionamentos que cabem aos leigos e não aos padres. E isso também é muito frustrante.

Ao fim, o que se tem é um séquito de religiosos, que chegam numa comunidade e destroem a organização histórica Pastoral dessas comunidades e impõe o seu estilo e ponto de vista, acompanhado de um viés ideológico de extrema direita e hipócrita,  em detrimento da história daquela comunidade. Não servem. Exigem serem servidos.

Tem uma canção que gosto muito, que é bastante cantada na ceb nos atos penitenciais que diz assim:

“Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer, por ver cristãos que vivem mal…”

Tenho visto cada vez mais pessoas que estão tristes com a Igreja Católica que trazem consigo características em comum: Não participam da vida comunitária, não batem um prego num sabão para ajudar na construção da reflexão e não ajudam na lida cotidiana da comunidade, mas querem espaço de liderança. Não topam estar numa turma de catequese com um grupo de 05 ou 10. Querem ser chamados para fazer palestra nos grupos x ou y, mas não estão dispostos a participar da formação na paróquia. Ou seja. Só aceitam posição de liderança ou de destaque, (igual ao padre) não querem, portanto, fazer parte da massa. O que não entendem é que se não se misturar a esta massa, jamais poderá ter de novo o prazer de se alegrar em uma comunidade.

Não é este o comportamento clericalista?? Não é essa a razão pela qual reclamamos dos Padres que não ouvem, não colocam os pés no barro, não frequentam a casa dos mais pobres?? Aí me pergunto, aos que reclamam daqueles: não estamos imitando e nos comportando da mesma forma??

Não é necessário brigar com o padre. Mas é necessário construir a comunidade junto com ele. Estar à disposição de uma comunidade de fé (E NÃO DO PADRE) significa também ter a humildade e a disposição de amadurecer a fé a partir do exemplo do lavapés e aí, sim, estar pronto para ajudar o padre. Afinal, o ensinamento Evangélico é que se não houver a permissão para que os próprios pés sejam lavados, não se compreenderá que este exemplo não é para usufruir de um serviço mas a ação diária para se fazer imitador de Cristo.

Portanto, esta reflexão não é um chamado de uma guerra contra os padres, muito menos de uma postura que queira lançar culpas a quem quer que seja, antes de mais nada é um apelo para que o clero, enquanto representantes tão privilegiados ( mas não únicos) do amor de Deus, se voltem novamente ao serviço profético de anunciadores do amor de Deus e denunciadores contra as mazelas que os poderosos infligem contra a razão maior das suas existências: os pobres.

Que todos nós, filhos e filhas de Deus e peregrinos por este mundo em busca do conforto espiritual, tenhamos a reciprocidade da acolhida de nossos pontos de vista e não da imposição do ponto de vista ideológico, travestido de teológico por parte do clero e de lideranças leigas fascistas, pois estas, destroem o amor, a fraternidade e a solidariedade entre nós!

Que nosso projeto de religiosidade tenha, na necessidade da dignidade de qualquer vida, o parâmetro da defesa da vida de todos, e que esta dignidade seja aplicada da concepção (e não apenas da concepção à Luz), indo até a morte natural como parâmetro da defesa da vida, conforme proposto pelo próprio Cristo. (João,10-10)

 

Toninho Kalunga é leigo orionita na Comunidade do Pequeno Cotolengo, Santuário São Luis Orione em Cotia e membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld

Fonte: CEBs do Brasil

]]>
49838
Francisco: a unidade dos cristãos é um testemunho ao mundo ferido pela divisão https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-a-unidade-dos-cristaos-e-um-testemunho-ao-mundo-ferido-pela-divisao/ Wed, 24 Apr 2024 02:39:10 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49699 [Leia mais...]]]> O Papa, em mensagem ao Fórum Cristão Global reunido em Gana até sábado (20), espera que o encontro consiga reacender o amor fraterno e aumentar “a unidade visível entre todos os cristãos”. Durante 25 anos, a iniciativa “tornou-se uma valiosa ferramenta ecumênica”, acrescentou Pe. Flavio Pace, que leu o texto do Pontífice e falou em nome do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Confira…

Andressa Collet – Vatican News

O Papa Francisco também se faz presente no quarto encontro mundial organizado pelo Fórum Cristão Global que termina no próximo sábado (20), em Acra, capital de Gana, que recebe 240 líderes cristãos de 60 países diferentes. Através de uma mensagem enviada nesta quinta-feira (18), o Pontífice começou recordando a importância de reunir participantes de todo o mundo na África, “o que respeita um belo mosaico do cristianismo contemporâneo com a sua rica diversidade, ao mesmo tempo em que permanecem fundamentados na nossa identidade comum de seguidores de Jesus Cristo”.

No texto em inglês, lido no evento por Pe. Flavio Pace, secretário do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o Papa refletiu sobre o tema do encontro em Gana: “Para que o mundo conheça” (Jo 17, 23b), inspirado na oração de Jesus pouco antes da sua paixão e morte, quando expressou anseio pela unidade entre os fiéis. Uma forma, escreveu Francisco, de exortar “os cristãos a incorporar a unidade e o amor do Deus Uno e Trino na vida pessoal deles e da Igreja, de modo a dar testemunho a um mundo ferido pela divisão e rivalidade”.

“A unidade é um elemento indispensável para abraçar a visão do Reino de Deus. Portanto, há um vínculo intrínseco entre o ecumenismo e a missão cristã. Ao longo da sua história, o Fórum Cristão Global contribuiu significativamente para a promoção desse vínculo, proporcionando um espaço onde os membros, especialmente aqueles provenientes de diferentes expressões históricas da fé cristã, crescem no respeito mútuo e na fraternidade, ao se encontrarem em Cristo.”

Francisco encerrou a mensagem, parabenizando pelo aniversário de 25 anos do Fórum Cristão Global, no desejo de que o encontro em Gana consiga reacender o amor fraterno enquanto todos rezam juntos, contam as histórias pessoais e enfrentam os desafios que a comunidade cristã global enfrenta. A exortação final do Papa foi para que o evento consiga aumentar “a unidade visível entre todos os cristãos”.

De fato, o Fórum Cristão Global procura reunir cristãos de diferentes tradições para aprofundar as conexões e enfrentar os desafios globais. Por meio de adoração, ensinamentos e discussões em busca da unidade cristã, os encontros procuram dar testemunho de Cristo no mundo de hoje.

O ‘espaço aberto’ do Fórum Cristão Global

O Pe. Flavio Pace, em nome do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, também fez a sua intervenção no “evento ecumênico” após a leitura da mensagem de Francisco, enaltecendo, inclusive, o processo sinodal da Igreja Católica vivido desde 2021 – que não pode ser feito “sem a dimensão ecumênica”. O secretário recordou a vigília de oração com a presença de líderes de diferentes denominações cristãs ao lado do Papa Francisco (2023). O evento em Gana, afirmou “com certeza” o representante vaticano, “também é animado pelo espírito da sinodalidade”, pois reúne “líderes cristãos de todo o mundo, representando uma rica tapeçaria do cristianismo, incluindo igrejas ortodoxas, católicas, protestantes, evangélicas, pentecostais, independentes e organizações ecumênicas. Ele reflete nossa diversidade global, abrangendo várias experiências eclesiais e carismas pessoais”.

O Fórum Cristão Global, comentou Pe. Flavio, “tornou-se uma valiosa ferramenta ecumênica”, desafiando “as percepções do mundo sobre o cristianismo como uma mera fonte de divisão e conflito, demonstrando o poder transformador do Evangelho”. Por 25 anos, o Fórum “tem proporcionado um ‘espaço aberto’ onde representantes de todas as correntes do cristianismo global podem se reunir para cultivar o respeito mútuo, compartilhar histórias de fé pessoais e eclesiais, abordar desafios e aspirações comuns e explorar novas formas de promover a unidade cristã em uma época de mudanças significativas no cristianismo global”.

“Quando cristãos de diversas origens se reúnem, abraçando sua identidade compartilhada em Cristo, eles dão testemunho do poder reconciliador do Evangelho. Sua unidade se torna um testemunho do poder da fé cristã que transcende as diferenças humanas.”

Fonte: Vaticannews.va

]]>
49699
Lançado no Brasil “A Carta”: convite para a construção de um mundo diferente. https://observatoriodaevangelizacao.com/lancado-no-brasil-a-carta-convite-para-a-construcao-de-um-mundo-diferente/ Thu, 10 Nov 2022 12:00:01 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46476 [Leia mais...]]]> O filme A Carta é um convite profético urgente do papa Francisco a cada um de nós para que participemos juntos e de mãos dadas da construção de outro mundo possível e necessário. Confira a matéria do pe. Luis Miguel Modino, do CELAM.

O cacique Dadá Borari, do Povo indígena Maró, do Estado do Pará, dom Joel Portela, secretário da CNBB, e a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos, secretária executiva da REPAM-Brasil, no lançamento do filme A Carta, no dia 03/10/2022. Quando falamos em preservação do Planeta, logo vem à mente das pessoas a Amazônia. A preservação da Casa comum é uma preocupação para a Igreja católica no Brasil. As igrejas particulares da região amazônica e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Comissão Episcopal para a Amazônia e a Rede Eclesial Pan-amazônica, estão empenhadas neste objetivo. Nesse sentido, o lançamento em português desse filme, no dia 3 de novembro, na sede da CNBB, fez ecoar, de modo contagiante, a importância desse compromisso coletivo. Um filme que “faz parte de um grande desafio”, segundo dom Joel Portela. O Secretário Geral da CNBB insistiu em que “não é apenas um filme ecológico, não é apenas um filme social”, e sim “um convite para juntos trabalharmos incansavelmente para a construção de um mundo diferente desse que aí está diante de nós, que algumas vezes nos entristece e outras vezes também nos envergonha”. Ele fez ver a necessidade de um mundo diferente, de um mundo que não esteja marcado pela “globalização da indiferença”, denunciando “as muitas dores que marcam o mundo dos nossos dias”. Por isso, insistiu em que “diante dessas dores, nós não podemos permanecer indiferentes, na ilusão de que se não nos atingiram, não temos porque nos preocupar”, algo que “anestesia a nossa consciência e os nossos corações”

Dom Joel Portela Amado refletiu, à luz da Bíblia, sobre o sofrimento, que, quando atinge o outro, faz parte da vida de todos. Esta compaixão nasce da nossa condição de irmãos e irmãs. Por isso, o bispo fez ver que para “a construção de um mundo diferente, o mundo novo, o primeiro passo consiste na união de todos nós, de todas as dores, de todos os sonhos, de todas as causas”. Em um mundo conectado e interligado, essa é uma reflexão fundamental diante do risco, cada vez maior, de “olhar apenas para aquelas situações que mais diretamente nos afligem, esquecendo-nos de que tudo está interligado”, lembrando que esse foi o ensinamento que o papa Francisco nos deixou na Laudato Si´.

O Secretario Geral da CNBB destacou, tendo como base a Laudato Si´, a importância da ecologia integral e sua relação com a fraternidade universal. Dom Joel mostrou gratidão para quem pensou e participou do filme, mas também para quem participou do lançamento e apresentação, um filme que ele deseja que “nos ajude a despertar para o desafio que a história de hoje nos apresenta”.

Um filme que explicita a importância decisiva da Encíclica Laudato Si´, “uma Carta que é muito importante, porque traz de volta o cuidado com a casa comum”, afirmou a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos, que leu trechos da encíclica. Apresentado por Igor Bastos, coordenador para Iberoamérica do Movimento Laudato Si´, ele ressaltou que o filme A Carta “é um fruto da Laudato Si´” contém muitas histórias de protagonistas do cuidado a Terra: indígenas, refugiados, ativistas, cientistas. Protagonistas que o papa Francisco chama no filme de “poetas sociais”. Igor insistiu que “são esses poetas que constroem a diferença, que fazem parte dessa diferença, e que estão construindo uma sociedade, um Planeta mais justo e fraterno”. Um filme que quer “ser uma ferramenta para chegar com essa mensagem da Laudato Si´ em espaços que ela ainda não chegou, mas também para reanimar os espaços que tem trabalhado cada dia para viver essa mensagem que o papa Francisco nos passa”. Um instrumento que deveria ser trabalhado nas comunidades eclesiais, nas escolas, nos diferentes espaços de atuação, para trazer “essa mensagem de urgência em um tempo tão difícil que a gente vive”.

Um dos protagonistas do filme é Dadá Borari, do Povo indígena Maró, do Estado do Pará, presente no lançamento. Alguém que disse que seu trabalho como ativista iniciou na Igreja católica, insistindo em que “o nosso pensamento para a preservação da Amazônia, ele é um pensamento coletivo, ele não é um pensamento individual”. Segundo o cacique, “a responsabilidade da floresta não é só de quem vive nela, mas de todos, que precisam da floresta”. Ele lembrou que para os povos indígenas a floresta é sua casa e a Terra é a sua mãe, afirmando que tem pessoas que pensam o contrário, mesmo sabendo que tudo o que eles estão fazendo é irregular. Pessoas que, segundo o líder indígena, pensam no lucro, enquanto os povos originários não pensam no hoje e sim no futuro da juventude, das crianças. Ele insistiu que o filme é “uma disciplina educacional para a gente trabalhar” em todos os âmbitos, algo que ele faz a cada dia de maneira voluntária com ações de prevenção, monitoramento e educação, denunciando as instituições do governo brasileiro que não estão assumindo sua responsabilidade na defesa da floresta.

Dadá Borari, com sua participação no filme e nas diferentes apresentações mundo afora, quer “levar nossa voz, que não é ouvida aqui, para a sociedade internacional”, insistindo em que a preocupação dos povos indígenas é daqui a anos.

Assista ao filme aqui:

Fonte: Adaptado de  Vatican News

]]>
46476
Observatório da Evangelização lança série de vídeos sobre liturgia https://observatoriodaevangelizacao.com/observatorio-da-evangelizacao-lanca-serie-de-videos-sobre-liturgia/ Tue, 08 Nov 2022 22:30:46 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46460 [Leia mais...]]]> O Observatório da Evangelização dá início à série “Caminhos Formativos”, com a produção de vídeos em seu canal no YouTube. A temporada de estreia será sobre a mais recente carta apostólica do Papa Francisco, Desiderio Desideravi. A iniciativa é uma parceria com a Oficina de Nazaré.

Esta temporada terá oito vídeos, nos quais o professor Felipe Sergio Koller, doutor em Liturgia e professor da Faculdade São Basílio Magno, de Curitiba, no Paraná, contextualiza e explica este recente documento sobre a formação litúrgica do povo de Deus.

Os novos vídeos serão divulgados todas as terças-feiras, às 18h, com início a partir de hoje. Para receber a notificação e assistir ao conteúdo com exclusividade, clique no link do canal e ative a notificação de lembrete.

Desiderio Desideravi: formação do povo de Deus

A Carta Apostólica Desiderio Desideravi foi publicada pelo Papa Francisco no dia 29 de junho, solenidade de São Pedro e São Paulo. Não se trata de uma nova instrução, ou normatização litúrgica, mas o texto busca recordar o significado profundo da celebração eucarística, a sua beleza e o seu papel no evangelizar, a partir de grandes pensadores e em plena sintonia com o espírito do Concílio Vaticano II. O documento que pode ser conhecido pelo site do Vaticano tem 65 parágrafos nos quais reafirma a importância da comunhão eclesial em torno do rito resultante da reforma liturgia pós-conciliar.

Segundo o coordenador do Observatório da Evangelização, Matheus Cedric, este recente documento ajuda a ampliar a compreensão que se tem da liturgia. “A Desiderio Desideravi reconhece na liturgia não um assunto reservado a sacristãos e coroinhas, mas o caminho por excelência da comunicação do mistério pascal, da formação do povo de Deus. Colocar-se seriamente à escuta de Francisco implica acolher o legado do movimento litúrgico e do Concílio Vaticano II e devolver à evangelização a sua linguagem originária: a linguagem simbólico-ritual da liturgia, com a sua poesia e a sua concretude”, afirmou.

Caminhos formativos

Cedric destaca que uma das missões do Observatório da Evangelização é explicitar e dar a conhecer o magistério e as orientações eclesiais pastorais do papa Francisco, da Conferência Episcopal Latino-Americana e caribenha (CELAM), da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Arquidiocese de Belo Horizonte.

“Achamos, por isso, que seria interessante usar a linguagem do audiovisual para atingir esse objetivo. Este é um formato dinâmico, ao qual as pessoas estão amplamente familiarizadas e que pode favorecer a formação do povo de Deus. Além disso, na dinâmica do dia-a-dia, nem sempre as pessoas conseguem ler por completo todos os documentos que a Igreja publica e com essa iniciativa o magistério torna-se mais acessível.”

A série Caminhos Formativos pretende ser uma ação permanente do Observatório e a continuidade já está sendo planejada. “O segundo documento que abordaremos, possivelmente já no início do ano que vem, será o das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil 2019-2023. Estas diretrizes, a princípio, seriam reformuladas no ano que vem, mas devido ao processo sinodal que a Igreja vem atravessando, a CNBB decidiu prorrogá-las até o final de 2025. Por isso, achamos por bem retoma-las e propor este aprofundamento, também à luz das escutas sinodais que tem sido feitas em vários âmbitos eclesiais”, comentou o coordenador.

Fonte: Via Humanitatis

]]>
46460
Que mundo queremos? Ensinamentos de Francisco. https://observatoriodaevangelizacao.com/qual-mundo-queremos-ensinamentos-de-francisco/ Sat, 05 Nov 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46399 [Leia mais...]]]> Estamos vivenciando um momento crucial no Ocidente. Apesar de tentativas totalitárias e ditatoriais do século XX, a democracia prevaleceu. Nesse período, diversos direitos e avanços sociais foram notados (direitos fundamentais, como a liberdade). No entanto, diante de um mundo cada vez mais complexo, seja pelas trocas incessantes de informações, pelas desinformações e pelas conexões, onde as emoções e os afetos definem ações e pensamentos, há uma sensação de que os problemas não estão resolvidos pelas vias do diálogo e do jogo democrático e que, mesmo diante de atos que suprimem a liberdade, seria válido um caminho mais “duro”, repressor e violento. Nada mais equivocado!

O fato é que, toda vez que a humanidade busca soluções fáceis para resolver problemas complexos, cria-se um falso, provisório e catastrófico caminho (lembremos do nazismo). Com a democracia criamos ambientes favoráveis ao desenvolvimento, à inclusão, à diversidade, à justiça. A partir desses valores, podemos construir vias mais acessíveis e promissoras de inovação, tanto em seus vieses científicos, quanto tecnológicos e culturais. Para criar é preciso liberdade e equidade, justa oportunidade.

Qual mundo queremos? Até a primeira metade do século XX, o mundo pensava que poderia resolver todos os seus problemas pelo caminho do progresso. Era, na verdade, um mito do progresso. Acreditava-se que, por exemplo, poderiam ser ignorados os recursos naturais e que eles seriam eternos. A natureza existiria para nós e estaria sempre ao nosso dispor. Poderíamos ter uma atitude predatória! Hoje, devido à racionalidade e ao avanço democrático da segunda metade do século XX, chegamos ao pensamento ecológico e à economia verde. O Brasil pode voltar a ser uma referência nesse quesito e ainda atrair investimentos gigantescos em “green economy” (agora que os EUA estão nesse bom caminho). Parceiros comerciais como EUA e União Europeia não devem ser negligenciados. Em outro contexto europeu, normalmente de inovação, qualidade e vanguarda, na Suíça, por exemplo, até 2030 todos os carros serão elétricos e a matriz energética será majoritariamente limpa. Além de uma melhor qualidade de vida para a população, uma economia verde permite redução de custos e, com isso, maior possibilidade de investimento de maneira equilibrada.

O Papa Francisco, desde a Encíclica de 2015, Laudato Sì, enfatiza a importância de uma virada ecológica contemporânea, em direção a uma Ecologia Integral. Em vídeo de lançamento da Plataforma de Ação Laudato Sì, em maio de 2021, o pontífice afirmou:

“Que mundo queremos deixar às nossas crianças e aos nossos jovens? O nosso egoísmo, a nossa indiferença e os nossos estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos nossos jovens! Assim, renovo o meu apelo: cuidemos da nossa mãe Terra, superemos a tentação do egoísmo que nos faz predadores de recursos, cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade finalmente ecossustentável: temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto” (FRANCISCO, 2021).

“Dividir o pão”, aumentar o acesso de classes desfavorecidas foi o grande segredo da criação de sociedade justa e desenvolvida pelos países europeus hoje avançados. Sobre esse aspecto, nos explica o sociólogo e doutor pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), Jessé Souza: “Nosso passado intocado até hoje, precisamente por seu esquecimento, é o do escravismo. Do escravismo nós herdamos o desprezo e o ódio covarde pelas classes populares, que tornaram impossível uma sociedade minimamente igualitária como a europeia” (Souza, Jesse. A Elite do atraso, p. 151).

Ora, esse ódio e desprezo pelas classes populares, negros e pessoas das periferias é presenciado no cotidiano, por vezes de forma sutil (como em falas “eles querem tomar nosso lugar com as cotas”) ou mais explicitamente como foi o episódio em que o humorista Eddy Jr sofreu nas últimas semanas. Qual seu crime? Nenhum, apenas o ódio foi alimentado pelo fato de ser um homem negro, proveniente da periferia, que estava agora em um condomínio de classe média alta, fazendo sucesso nas mídias sociais.

Todo processo de escravidão impõe humilhação e desconstrução de humanidade do escravo. Como estaria nesse cenário sua autoestima? Muitos não teriam mesmo mais vontade de viver. O ex-escravo é jogado dentro de uma ordem social competitiva e para qual ele não havia sido preparado. Esse processo é verificado sobretudo em São Paulo, com a vinda dos imigrantes. Ora, em décadas de negligência e ausência de estímulo escolar, como podemos dizer que existe justiça em nossa sociedade? E depois queremos resolver o problema da criminalidade reduzindo a maioridade penal. Nada mais hipócrita!

Precisamos construir uma sociedade mais justa e igualitária, somente assim poderemos resolver nossos problemas. Não podemos esquecer nossa história horrenda e nosso passado macabro. Sim, existiu escravidão e temos as suas consequências aí. É preciso analisar a consequência de nossas ideias. É urgente e central! Nunca encontrei um alemão que dissesse, por exemplo, que o nazismo foi um fato irrelevante na história de seu país.

Mais uma vez, Papa Francisco afirma, em sua Encíclica Fratelli Tutti, a importância do exercício da memória como caminho de libertação:

“Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos” (FT, 13).

Cada vez mais o mundo estará afetado pela tecnologia. O cenário que vemos hoje de ódio, violência, intolerância, por um lado, e ansiedade, depressão e suicídio, por outro, será ainda mais intenso, infelizmente. É responsável, considerando isso, armar a população? Não tenho dúvidas, como psicanalista, que teríamos um aumento do número de suicídios, pois tirar a vida não é fácil, é trágico, mas quando a pessoa encontra o meio e a ideação, é mais provável.

Queremos um mundo onde as pessoas que pensam e vivem de forma diferente de nós em sua sexualidade, condição financeira, gênero sejam vítimas de preconceitos que produzem violência (inclusive física) por causa de nossas ideias homofóbicas, racistas, machistas?

A verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade. Hoje, porém, tudo se pode produzir, dissimular, modificar. Isto faz com que o encontro direto com as limitações da realidade se torne insuportável. Em consequência, implementa-se um mecanismo de «seleção», criando-se o hábito de separar imediatamente o que gosto daquilo que não gosto, as coisas atraentes das desagradáveis. A mesma lógica preside à escolha das pessoas com quem se decide partilhar o mundo. Assim, as pessoas ou situações que feriam a nossa sensibilidade ou nos causavam aversão, hoje são simplesmente eliminadas nas redes virtuais, construindo um círculo virtual que nos isola do mundo em que vivemos (FT, 47).

É católico leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

]]>
46399
Dom Luis Marín: Sinodalidade, um processo espiritual e eclesial onde ninguém é excluído. https://observatoriodaevangelizacao.com/dom-luis-marin-sinodalidade-um-processo-espiritual-e-eclesial-onde-ninguem-e-excluido/ Thu, 03 Nov 2022 22:19:24 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46375 [Leia mais...]]]> No Angelus de 16 de outubro, o Papa Francisco anunciou que a Assembleia Sinodal para os Bispos do Sínodo sobre a Sinodalidade acontecerá em duas etapas, a já marcada para outubro de 2023, de 4 a 29, e uma segunda em outubro de 2024. Não é o Sínodo da Igreja como tal que foi  estendido, mas a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, de acordo com Dom Luis Marín de San Martín.

O Sínodo já está em andamento

O bispo agostiniano sublinha que “o Papa não ampliou o Sínodo, porque não precisa ampliá-lo, pois é a Igreja, a Igreja inteira, que é sinodal. Para perceber isso, basta ler os Padres e estudar a história, desde os primeiros tempos do cristianismo até o Concílio Vaticano II”. Portanto, se a Igreja é sempre e toda sinodal, “não é possível identificar o sínodo ou a sinodalidade somente com os bispos”. O processo em andamento está orientado “para fortalecer a realidade sinodal da Igreja e o que ela implica para todos os batizados. Já estamos no Sínodo, não em sua preparação”.

Neste sentido, Dom Marín de San Martín sublinha que “o que o Papa ampliou de fato foi o tempo da Assembleia do Sínodo dos Bispos”, mais um elemento, “muito importante, mas mais um elemento, em uma Igreja que é constitutivamente sinodal”. E especifica que “não haverá duas assembleias diferentes, como foi o caso do Sínodo da Família (uma extraordinária e outra ordinária), mas uma única Assembleia, a mesma Assembleia, em duas sessões”.

As razões para uma extensão

Esta iniciativa foi tomada pelo Papa Francisco, diz o subsecretário do Sínodo, “considerando a importância do desenvolvimento da sinodalidade e o quanto é essencial realizar um discernimento calmo, profundo e sereno, ouvindo o Espírito”. O objetivo é tornar o lema do Sínodo uma realidade: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Não é uma questão de “manter o dossiê”, diz ele. “O Papa quer cuidar da qualidade deste processo”, porque “a pressa é sempre um mau conselheiro.  Algo importante precisa de tempo. Não podemos ir a um ritmo rápido, com etapas de queima às vezes em períodos muito curtos”. Neste sentido, é fundamental “ter paz e tranquilidade e tempo para discernir juntos, ouvir a voz do Espírito, escutar uns aos outros, ver quais realidades precisam ser fortalecidas, quais outras precisam ser mudadas, quais precisam ser vividas de uma maneira diferente. E, desta forma, tomar decisões”.

Buscamos “coerência, sempre em unidade com Cristo e com nossos irmãos e irmãs. A partir disto deve fluir um claro impulso evangelizador”. O prelado agostiniano considera muito importante “não nos fecharmos em nossos títulos, mas, ao contrário, sairmos para evangelizar, como fizeram os primeiros cristãos: com palavra, testemunho e vida. Envolvendo a todos, respeitando os diferentes carismas e vocações, curando as feridas. Passando de uma perspectiva estática e defensiva para uma perspectiva dinâmica e integradora”.

Dom Luis Marín de San Martín é claro em dizer que “A verdade não é uma ideia, mas uma pessoa, um amor encarnado, que triunfa sobre a morte, sobre tudo o que é morte na sociedade, na cultura, nas relações internacionais e econômicas, no mundo”.  A resposta urgente que nos compromete é a sinodalidade, “que implica estarmos unidos no Cristo Ressuscitado, inseparáveis de seu corpo, que é a Igreja, de nossos irmãos e irmãs. Significa caminhar ao lado deles e com eles. O cristianismo não é uma religião de elites”.

Um desafio de extraordinária beleza

O subsecretário do Sínodo acolhe com alegria esta decisão do Papa, “o que nos faz perceber a importância deste processo e, acima de tudo, a oportunidade que temos. É uma possibilidade que nos é oferecida pelo Espírito Santo, um kairos, um tempo de graça, um verdadeiro presente de Deus”. Isto o leva a assinalar que “é o Senhor quem bate à porta e nos encoraja a viver nossa fé com coerência, a ser uma Igreja santa e evangelizadora”. Ele insiste que estamos em um momento crucial na história da Igreja.

É por isso que o subsecretário do Sínodo lamenta que alguns cristãos, especialmente alguns padres, tenham medo ou desconfiem deste processo e assumam uma postura passiva, se não mesmo obstrutiva. “Por que pensamos que o Sínodo pode subverter a moralidade ou destruir a Igreja? Será porque não confiamos no Espírito Santo e perdemos a dimensão orante e espiritual; a experiência de Cristo, em quem vivemos, nos movemos e existimos? Ou talvez seja irritante que nos tire de nossa zona de conforto e nos obrigue a mudar atitudes e caminhos profundamente enraizados? Nossa única segurança é o Senhor e nosso ministério é o serviço. Sem anulá-lo ou traí-lo, mas inserindo-o na Igreja”. É por isso que ele insiste que “cada um de nós deve responder a Deus: eu tenho sido um canal de graça ou tenho bloqueado a ação do Espírito? É uma grande responsabilidade”.

A “civilização do amor” não cumprida

Na linha de São Paulo VI, quando ele falou da “civilização do amor”, para Dom Marín de San Martín é necessário passar da cultura do confronto para a cultura da fraternidade, na qual a unidade pluriforme da Igreja é assumida e expressa. “O outro, mesmo que pense diferente, é meu irmão, não meu inimigo. Se houver diferenças de qualquer tipo, oremos, procuremos juntos a luz do Espírito. Mas como irmãos. Só assim poderemos celebrar a Eucaristia de forma coerente e rezar sinceramente o Pai Nosso”. O subsecretário do Sínodo pede a participação como forma de fortalecer o sentido de comunidade. “Não deixemos o processo sinodal para grupos de pressão, ou limitado a setores fortemente ideologizados de uma forma ou de outra. É um processo espiritual e eclesial, no qual ninguém (e eu sublinho “ninguém”) é excluído”. É um convite “a toda a Igreja, a todos os cristãos: em Cristo e com Cristo. A toda a Família de Deus, porque a Igreja é uma família, um lar e não uma trincheira”.

Dom Luis Marín de San Martín vê isso claramente como um processo de autenticidade, “de renovação radical”, e considera necessário que “assumamos com confiança e coragem o risco da reforma à qual ela nos conduz. O Espírito Santo não é nosso funcionário. Ele lidera, ele guia”.

Depois da fase diocesana, o que segue?

O subsecretário do Sínodo teve a oportunidade de explicar aos bispos e aos referentes do Sínodo que “a síntese elaborada pela respectiva Conferência Episcopal nunca deve ser um ponto de chegada, um documento a ser colocado na prateleira ou guardado no armário. É um ponto de partida, um instrumento para continuar a caminhar com ele”.

Em uma primeira linha de ação, o prelado agostiniano incentiva as dioceses e as conferências episcopais a desenvolver estes documentos, estas sínteses, que ele considera “verdadeiramente preciosas, de grande riqueza, onde as luzes e as sombras de nosso tempo se refletem”. Por esta razão, ele os chama a aceitar “como a voz do Povo de Deus, com suas deficiências e limitações, com sua grandeza e suas possibilidades”. Estas sínteses “podem ajudar a estabelecer planos pastorais”. A fase diocesana “concluiu, mas não o processo que gerou, ou seja, o processo de escuta e participação em uma Igreja viva”. Por esta razão, ele insiste que “as decisões devem agora ser tomadas em nível local, diocesano e de conferência episcopal”.

Os desafios da etapa continental

A segunda e muito importante linha de ação é aquela que corresponde à etapa continental, que agora está começando. O subsecretário do Sínodo nos lembra que “estas não são fases fechadas em si mesmas que seguem uma após a outra como eventos; é um processo que está se desdobrando, progredindo, se desenvolvendo”. Para levar adiante esta etapa, no dia 27 de outubro será apresentado um Documento de Trabalho, que “não é um texto teológico, nem um documento magisterial, mas foi elaborado com base nas sínteses que nos foram enviadas pelas Conferências Episcopais, a Cúria Romana, a vida consagrada, os movimentos leigos, o continente digital”.

Com tudo isso, a Secretaria do Sínodo oferece agora “um documento que nos ajuda a continuar ouvindo, dialogando e discernindo, permitindo que o Povo de Deus fale”. Ele considera que, “de certa forma, é uma restituição em um processo circular. Recebemos a voz do Povo de Deus e agora a estamos enviando de volta às dioceses através deste documento que terá que ser aprofundado em todos os níveis”.

A particularidade desta etapa é que “a reflexão e o discernimento levarão em conta as particularidades, os desafios e a realidade de cada continente”. São sete: América do Norte, América Latina e Caribe, Europa, África, Ásia, Oceania e as Igrejas do Oriente Médio. Talvez o chamado “continente digital” deva ser incluído. Segundo Dom Marín, “cada um tem suas próprias características”, e a proposta agora é “escutar e refletir para discernir que desenvolvimentos são necessários em cada um desses continentes para conseguir um testemunho vivo e alegre da fé, levando em conta a diversidade de cultura, tradição e história”. E o que pode ser contribuído para a Igreja universal de cada continente”.

O subsecretário do Sínodo sugere “uma leitura orante do documento e a escuta do Espírito. Em seguida, podemos nos perguntar: Que insights ou inovações ajudam a realidade eclesial em meu continente? Que desafios eles nos colocam? Que propostas concretas devemos fazer ao Sínodo dos Bispos para o bem de toda a Igreja?”

Os passos de um caminho

A etapa continental se estende do final de outubro de 2022 até 31 de março de 2023. A responsabilidade de organizá-la, em ligação com a Secretaria Geral do Sínodo, cabe à respectiva Conferência Episcopal continental. Em cada um dos continentes “será convocada uma assembleia no final (fevereiro ou março) na qual participarão representantes do Povo de Deus, em suas diferentes vocações e realidades”. A isto se seguirá uma reunião continental de bispos, “que são os pastores e que devem fazer seu próprio discernimento depois de escutar o resto do Povo de Deus”.

Cada Conferência Episcopal continental elaborará um documento, de cerca de vinte páginas, a ser enviado à Secretaria do Sínodo até 31 de março. Dom Marín comenta que “a partir dos 7 documentos recebidos, a Secretaria redigirá o Instrumentum laboris, que será apresentado em junho de 2023, para trabalhar na primeira etapa da Assembleia do Sínodo dos Bispos, de 4 a 29 de outubro”. A Secretaria do Sínodo montou uma equipe de coordenação de 3 pessoas. As Conferências Episcopais Continentais também foram convidadas a nomear sua própria equipe para que possam se inter-relacionar e ajudar “este horizonte de esperança a dar muitos frutos na Igreja, com a colaboração de todos”.

Dom Luis Marín de San Martín conclui expressando sua disponibilidade e a da Secretaria do Sínodo para resolver dúvidas e ajudar no que for necessário. “Queremos realmente ser companheiros ao longo do caminho”.

]]>
46375
“O grito da paz expressa a dor e o horror da guerra, mãe de todas as pobrezas”, papa Francisco https://observatoriodaevangelizacao.com/o-grito-da-paz-expressa-a-dor-e-o-horror-da-guerra-mae-de-todas-as-pobrezas-papa-francisco/ Wed, 26 Oct 2022 13:45:03 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46315 [Leia mais...]]]> No Encontro Internacional pela Paz, o papa Francisco disse palavras que nos provocam e nos convocam para o compromisso com a cultura da paz. Em seu discurso de encerramento afirmou:

“Este ano, nossa oração se tornou um ‘grito’, porque hoje a paz é gravemente violada, ferida e pisoteada: e isto na Europa, ou seja, no Continente que no século passado viveu as tragédias das duas guerras mundiais”.

Confira:

O Papa: o grito da paz expressa a dor e o horror da guerra, mãe de todas as pobrezas

Por Mariangela Jaguraba, para o Vatican News

O papa Francisco participou do encerramento do Encontro Internacional de Oração pela Paz com demais líderes cristãos e representantes das religiões mundiais, no Coliseu, em Roma, na tarde desta terça-feira (25/10).

A iniciativa, promovida pela Comunidade de Santo Egídio, teve como tema “O grito da paz. Religiões e culturas em diálogo“. É a 36ª convocação organizada no “Espírito de Assis”, após a primeira, desejada por São João Paulo II, em 1986.

A paz está no coração das religiões

Este ano, nossa oração se tornou um “grito”, porque hoje a paz é gravemente violada, ferida e pisoteada: e isto na Europa, ou seja, no Continente que no século passado viveu as tragédias das duas guerras mundiais. Infelizmente, desde então, as guerras nunca pararam de ensanguentar e empobrecer a terra, mas o momento que estamos vivendo é particularmente dramático. Por esta razão, elevamos nossa oração a Deus, que sempre escuta o grito angustiado de seus filhos e filhas.

Segundo o Papa, “a paz está no coração das religiões, em suas Escrituras e em sua mensagem”, e “no silêncio da oração desta noite”, sublinhou Francisco, “ouvimos o grito da paz: a paz sufocada em tantas regiões do mundo, humilhada por muita violência, negada até mesmo às crianças e aos idosos, que não são poupados da terrível dureza da guerra. O grito da paz é muitas vezes silenciado não apenas pela retórica bélica, mas também pela indiferença, e  pelo ódio que aumenta“.

Ameaça das armas atômicas

Mas a invocação da paz não pode ser suprimida: ela sobe do coração das mães, está escrita nos rostos dos refugiados, das famílias em fuga, dos feridos ou moribundos. Este grito silencioso sobe ao Céu. Não conhece fórmulas mágicas para sair dos conflitos, mas tem o direito sacrossanto de pedir paz em nome dos sofrimentos sofridos, e merece ser ouvido. Merece que todos, começando pelos governantes, se inclinem para ouvir com seriedade e respeito. O grito da paz expressa a dor e o horror da guerra, mãe de todas as pobrezas.

A seguir, Francisco citou um trecho da Encíclica Fratelli tutti: «Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal». Recordou que “o uso de armas atômicas, que depois de Hiroshima e Nagasaki continuaram sendo produzidas e testadas, agora é abertamente uma ameaça”.

Desarmar os conflitos com a arma do diálogo

“Neste cenário sombrio, onde, infelizmente, os desígnios dos poderosos da terra não dependem das aspirações justas dos povos, o plano de Deus, que é “um projeto de paz e não de desventura”, não muda para nossa salvação”, disse ainda o Papa, ressaltando que em “Deus, cujo nome é Paz”, “a voz daqueles que não têm voz é ouvida, e se funda a esperança dos pequenos e dos pobres”. A paz é um dom de Deus e “esse dom deve ser acolhido e cultivado por nós, homens e mulheres, especialmente por nós fiéis. Não nos deixemos contaminar pela lógica perversa da guerra, não caiamos na armadilha do ódio pelo inimigo. Coloquemos a paz no centro da visão do futuro, como objetivo central de nossa ação pessoal, social e política, em todos os níveis. Desarmemos os conflitos com a arma do diálogo”.

As religiões não podem ser usadas para a guerra

Francisco recordou que São João XXIII fez um apelo pela paz, durante a grave crise internacional, em outubro de 1962, em que um confronto militar e uma explosão nuclear pareciam próximos. O Pontífice pediu aos governantes para fazerem de tudo para “salvar a paz”.

“Sessenta anos depois, essas palavras soam atuais”, disse o Papa, pedindo para não sermos “neutros, mas alinhados pela paz”, e invocou “o ius pacis como direito de todos para resolver conflitos sem violência”.

Nesses anos, a fraternidade entre as religiões fez progressos decisivos: “Religiões irmãs que ajudam povos irmãos a viver em paz”. Cada vez mais nos sentimos irmãos entre nós! Um ano atrás, quando nos encontramos aqui, em frente ao Coliseu, lançamos um apelo, hoje ainda mais atual: “As religiões não podem ser usadas para a guerra. Somente a paz é santa e ninguém usa o nome de Deus para abençoar o terror e a violência. Se virem guerras ao seu redor, não desistam! Os povos desejam paz“.

“Não nos resignemos à guerra, cultivemos sementes de reconciliação”, concluiu o Papa, convidando a elevar ao Céu o grito de paz com as palavras de São João XXIII: “Que todos os povos da terra sejam irmãos e que a paz tão desejada floresça neles e reine sempre”.

Fonte:

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-10/papa-francisco-encontro-paz-oracao-religioes-guerra-coliseu.html

]]>
46315
O humano entre a paranoia, o real e a singularidade. https://observatoriodaevangelizacao.com/o-humano-entre-a-paranoia-o-real-e-a-singularidade/ https://observatoriodaevangelizacao.com/o-humano-entre-a-paranoia-o-real-e-a-singularidade/#comments Fri, 21 Oct 2022 12:57:21 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46286 [Leia mais...]]]> Em nossos dias, quanto mais vivenciamos um mundo de interações, maiores complexidades surgem. A ordem parece se extinguir, dando lugar ao caos e ao aleatório. No entanto, o caos assusta. Diante de um cenário sem resposta em um primeiro momento, o ser humano tende a se apegar emocionalmente a um conteúdo de solução clara e rápida (mesmo que paranoica e irreal). Todo esse contexto abre enorme espaço para as paranoias. O conhecimento paranoico se fundamenta através do eu, por isso uma sociedade narcisista tende a ser uma sociedade de maior pós-verdade. Nesse contexto, é pelos olhos do outro que conhecemos o mundo; portanto, desconhecemos que somos um outro. Pelas bolhas que conhecemos e nelas nos alimentamos e validamos aquele mesmo conhecimento.

Alguns estudiosos intitularam o mundo em que vivemos daquele da “pós-verdade”, onde o real não importa mais, mas sim aquilo que eu quero que exista. O afeto e a emoção contam mais para afirmar alguma coisa sobre o mundo do que a razão e a crítica. Esse fenômeno é presenciado mesmo em diversos campos do saber. No campo psíquico mesmo, estamos presenciando diversos métodos frágeis e rasos que propõem “curas” a partir de elementos místicos e mágicos, sem ter passado por uma crítica acadêmica, por pesquisa mais fundamentada. Por outro lado, podemos também chamar tudo de patologia e encontrar um medicamento para resolver. Esse fenômeno também é notado nos discursos liberais, aqueles que afirmam que todos os problemas sociais do nosso mundo seriam resolvidos pela privatização. É um processo que inclui a privatização do próprio eu e da política, pois não teria mais sentido a busca pelo bem comum, o diálogo em busca da solução de conflitos (que não existiriam mais, seria o “fim da História”). Um mundo ideal estaria à disposição! Nesse contexto, a tecnocracia entra em cena, um discurso ingênuo (por vezes arcaico e de caráter quase religioso), para fornecer todas as soluções. O que é mais irônico é que esses discursos surgem principalmente da Economia e do Direito. Ora, e quando, de repente, todo o discurso econômico ou jurídico não se concretizou na realidade? O que aconteceu? Então os tecnocratas dizem: “a realidade está equivocada”. Eis a paranoia! Felizmente algumas mentes mais lúcidas, mais críticas e trabalhadoras e menos “manualescas” (que sustentam seu conhecimento em manuais) percebem que o caminho da Economia e do Direito é mais árduo e complexo: aquele do diálogo interdisciplinar e que reconhece as complexidades ao nosso redor.

As religiões infelizmente também foram, em grande medida, para esse caminho. Os discursos são rasos, superficiais e repetitivos, abrindo as portas à compulsão. Presenciamos um “consumo” da religião, assim como consumimos produtos. No entanto, diante dos cenários de depressão e ansiedade, cada vez mais as repetições funcionam como paliativos e será preciso entender o ser humano de forma mais séria e densa. Por isso sempre alerto aos seminaristas para estudarem bastante filosofia, teologia, psicanálise, para entender o ser humano do século XXI e não acabarem sendo “padres-gurus de autoajuda” e pregando ilusões.

O que presenciamos na política de hoje? Nas últimas semanas vivenciamos uma avalanche de fake news. Elas possuem alguma função? Sim, dentro de uma lógica de pós-verdade, ela cria um mundo específico, onde alguns grupos querem habitar. Muitos não dão conta de habitar na fluidez e precisam de elementos repetitivos, compulsivos e ideias claras e distintas que prometem a saída do caos e das complexidades. Por isso os negacionismos são tão paranoicos e fora da realidade, acreditando ter revelado um mistério a poucos revelado, um segredo oculto, uma conspiração perigosa. Enquanto isso, a humanidade caminha e podemos perder o rumo da História, atrasados, arcaicos e paranoicos.

O sujeito hoje volta suas preocupações para ele mesmo, sua imagem, por meio de um processo que podemos intitular de “estetização da existência”. Nele, o que importa para o indivíduo é a exaltação do seu próprio eu, unicamente. O cuidado neurótico com a própria imagem é verificado no cuidado com o corpo, seja pela imagem, seja pela busca de uma saúde inabalável. O sujeito vive essa estetização do eu através das curtidas e pela admiração contínua dos outros. “Constitui-se aqui a manipulação do outro como técnica de existência para a individualidade, maneira privilegiada para a exaltação de si mesmo. Com efeito, para o sujeito não importam mais os afetos, mas a tomada do outro como objeto de predação e gozo, por meio do qual se enaltece e glorifica” (Birman, 2021, p. 180).

Na cultura do espetáculo, que é importante para o indivíduo é a exigência infinita da performance, onde o que é importa é a exaltação do eu. O sujeito se transforma em um rei ou em um mito, sendo cada um dos seus atos aplaudidos pela massa, mesmo que sejam atos mais ridículos e bizarros imagináveis.

Nos dias atuais, o que direciona o indivíduo é a busca desesperada por soluções mágicas: terapias alternativas, drogas, vícios diversos, coachings, entre outros. Há também uma tentativa de desvendar segredos interiores praticando esportes de forma compulsiva. Há uma depredação de sua própria subjetividade, identificando-a com elementos simples, rasos, repetitivos, miméticos (aqui no sentido de padronizados). Nesse sentido, cria-se um ambiente cultural no qual não existe mais espaço para a fraternidade, a amizade, o amor genuíno, o afeto gratuito e até mesmo para o desejo em sua singularidade. O único aspecto que interessa aos sujeitos é circunscrever severamente o território medíocre de sua existência à custa do gozo predatório sobre o corpo do outro, outro que é desconhecido, sem rosto e identidade. As individualidades não se afeiçoam mais aos corpos que lhe possibilitam prazer e gozo, meras mediações que funcionam como acréscimo das suas imagens narcísicas. Dessa maneira, não se cultivam mais alguns rituais simbólicos fundamentais para a instauração da sociabilidade e à existência humana lapidada, como o nascimento e a morte.

Por isso, Papa Francisco nos recorda que a nossa vida deve ser narrada, assumindo sua dimensão de temporalidade e consequente historicidade.

“A nossa vida é o “livro” mais precioso que nos foi confiado, um livro que muitos infelizmente não leem, ou o fazem demasiado tarde, antes de morrer. No entanto, é nesse livro que se encontra aquilo que se procura inutilmente por outros caminhos”. Retoma o pensamento de Santo Agostinho: no final deste percurso, notará com admiração: «Tu estavas dentro de mim, e eu fora. Lá, eu procurava-te. Deformado, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo». Daqui deriva o seu convite a cultivar a vida interior, para encontrar o que se procura: «Volta para ti mesmo. No homem interior habita a verdade»” (Audiência Geral, 19 de outubro de 2022).


Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista semanal da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

]]>
https://observatoriodaevangelizacao.com/o-humano-entre-a-paranoia-o-real-e-a-singularidade/feed/ 1 46286
A Democracia, os Afetos e o Bem Comum: lições de Francisco aos nossos tempos https://observatoriodaevangelizacao.com/a-democracia-os-afetos-e-o-bem-comum-licoes-de-francisco-aos-nossos-tempos/ Wed, 28 Sep 2022 20:13:52 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=46052 [Leia mais...]]]> A Democracia, apesar de todos os seus desafios, permite a construção de um horizonte de sociedade mais plural, que atesta as singularidades, as vulnerabilidades e propõe um caminho de construção social em direção aos valores humanos mais fundamentais, pois são os mais coletivos e, portanto, humanistas: a liberdade e a igualdade.

Devido ao fato de as sociedades serem obrigadas a lidar com complexidades do mundo contemporâneo, a sensação de muitos é de que a democracia se mostra esgotada ou insuficiente. Nesses momentos, é urgente a tarefa de lembrarmos da História. O século XX se mostrou sangrento, com feridas éticas profundas, sobretudo propiciadas pelos seus maiores totalitarismos: o nazismo e o fascismo. A solução para os problemas sociais não está em uma atitude ideológica que se sustenta em um pensamento que propõe verdades absolutas. A História mostrou que verdades absolutas produzem sangue, mortes e exclusão. É por isso que em todo discurso totalitário existe a imputação de culpa pelas mazelas sociais em algum grupo, por exemplo, nos imigrantes (como acontece agora na Itália, lamentavelmente, pois mostra que parte daquele povo não realizou bem o exercício da memória). Comumente também o ódio gera homofobia, machismo, racismo, aporofobia (aversão aos pobres). Ou seja, o real sentido da Política (prática que significa, em sua concepção mais genuína, a busca pelo Bem Comum) fica esvaziado em qualquer postura totalitária e antidemocrática. Em um mundo cada vez mais complexo, seja devido aos desafios das novas tecnologias, seja pela urgência ecológica, é ingênuo (mas também perverso) imaginar que todos os problemas poderão ser solucionados seguindo um rito pré-estabelecido. Na Democracia, é possível encontrarmos caminhos de revisão, de novas narrativas e novos rumos, atestando os erros. Por isso mesmo, em um sistema totalitário não está muito presente a dimensão humana do perdão, mas do ódio e da vingança. Por isso, os afetos mais associados à democracia são a esperança e a reconciliação. Já aqueles associados aos totalitarismos são do medo e do ressentimento. O medo é o que leva as pessoas a aceitarem soluções (aparentemente) rápidas e fáceis, mesmo que represente exclusão daqueles que são diferentes de nosso horizonte de existência. Comum em nossa época, como num livro de autoajuda, mitologicamente. O afeto mais ressaltado é o individualismo, egoísmo e, assim, o bem comum não interessa mais, pois o narcisismo impera. Por isso tais tendências buscam tantos mitos, ídolos. Imaginam que todos os problemas estarão resolvidos, a violência diminuirá, os que incomodam estarão distantes e a paz reinará. Devemos manter as utopias e superar as ideologias, como diria o filósofo Paul Ricoeur. A utopia indica um horizonte de mundo, com direitos fundamentais em seu foco. Um horizonte pode reencontrar caminhos, imaginar novos e rever outros. Na ideologia, há a promessa de um fim da história, se seguirmos um trajeto definido, alcançaremos a paz. Dentro do ideal democrático, necessitamos de utopias e não de ideologias.

É comum também que esses discursos conservadores (de valores que mantem sua posição de privilégio) afirmem que o passado era melhor (pois algum grupo está contribuindo para a desconstrução daquela sociedade) ou se fundamentem em discursos de uma ordem metafísica ou natural. No primeiro, é comum dizerem, por exemplo, que décadas atrás eram melhores no Brasil, pois havia menos violência, mais respeito aos pais e a educação era melhor. Ora, a violência era comum nas famílias (pais que usavam a violência contra filhos, deixando diversos traumas), o “respeito” existia pelo medo e a educação era apenas para uma elite. Apenas a partir da nossa constituição democrática é alcançamos a universalidade educacional nesse país. Não há dúvida que em três décadas avançamos, para todos, mesmo que tenhamos ainda desafios diversos. O segundo discurso é de natureza mais perversa ainda, é aquele que afirma, por exemplo, que a mulher deve permanecer fiel à sua “missão” necessária de mãe, do lar, sem lutar pelos seus objetivos, pela sua vida, livre. Ambos os discursos são cínicos, ignorantes e perversos. Há consequência em suas afirmações. Assim, os discursos totalitários criam mundos paranoicos, irreais e que buscam manutenção de lugares privilegiados. Na Democracia, podemos buscar entender o real, encontrarmos soluções para o bem comum. Não é possível pensarmos democraticamente sem diversidade, pluralismo e buscando, incessantemente, o bem comum, não apenas o bem de seus negócios, de sua vida privada ou de sua família. A Democracia pressupõe uma racionalidade discursiva, inserida em diálogo, que gere entendimento mútuo real. Por isso, os discursos de tecnocratas apenas impedem o alcance e a efetivação de um horizonte democrático genuíno. As técnicas (como visões de mundo a partir de uma área do conhecimento) não podem ofuscar as alteridades em sua diversidade e realidade. A política deve ser o diálogo incessante em direção ao bem comum.

Como afirma a filósofa Hannah Arendt, sem a dimensão da vida compartilhada, um autêntico sensus communis, não seria possível ao homem saber-se real, ou seja, ele não poderia confiar em seus sentidos sensoriais. Não poderia distinguir se existe ou se não passa de um sonho, tal como relata Primo Levi ao falar sobre os reflexos que o regime de segregação criado pelas leis fascistas impôs a si por ser judeu, já que ele teria sido condenado a “viver num mundo só meu, um tanto apartado da realidade, povoado de racionais fantasmas cartesianos” (LEVI, 1988, p.11). Assim, podemos também afirmar que a ação política não é meio para atingir qualquer fim, sendo sinônimo necessário de liberdade. A liberdade constitui o humano. Aqui podemos ressaltar, a liberdade acrescida às atestações das vulnerabilidades expostas. A Democracia real pode estar próxima aos ideais sinceramente cristãos, pois entende que Deus está entre nós. Aqui podemos lembrar e escutar o Papa Francisco.

Francisco nos alertou, recentemente, sobre as “injustiças e discriminações contra os pobres” de todo o mundo em uma missa para encerrar o 27º Congresso Eucarístico Nacional da Itália. “As injustiças, as disparidades, os recursos da terra distribuídos de forma desigual, os abusos dos poderosos contra os fracos, a indiferença ao clamor dos pobres, o abismo que cavamos todos os dias, gerando marginalização, todas estas coisas não nos podem deixar indiferentes”. Segundo o Pontífice, uma Igreja “eucarística” é feita “de homens e mulheres que se partem como pão para todos aqueles que mastigam a solidão e a pobreza, para aqueles que têm fome de ternura e compaixão”. “Deus pede então uma conversão eficaz: da indiferença à compaixão, do desperdício à partilha, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade”, acrescentou.

Do individualismo à fraterno podemos encontrar um horizonte de perdão, lembrando Dom Vicente Ferreira (2020, p. 21): “Assumir a palavra perdão diante de um cenário de tragédia é também colher a possibilidade de outra linguagem que não aquela do reparo, da devolução, da reconstrução, somente. A paixão de Jesus desvela a violência de uma estrutura, de um sistema que promove os grandes e exclui os pequenos”.

Referências

  • LEVI, Primo. É isto um Homem? Trad. Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
  • ARENDT, Hannah. The Promise of Politics. New York: Schocken Books, 2005.
  • ______   O Que é Política? Trad. Reinaldo Guarany. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
  • RICOEUR, Paul. L´Idéologie et L´Utopie. Paris: Seuil, 1984.
  • FERREIRA, Dom Vicente e DENTZ, René. Horizontes de Perdão. São Paulo: Ideias e Letras, 2020.
/*! elementor – v3.7.6 – 20-09-2022 */ .elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block}

Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista semanal da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

]]>
46052
O futuro da Igreja https://observatoriodaevangelizacao.com/o-futuro-da-igreja/ Fri, 12 Aug 2022 18:12:02 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45636 [Leia mais...]]]> Danièle Hervieu, importante socióloga da religião, recentemente publicou uma obra (Vers l´implosion? Seuil, 2022) que evidencia os caminhos do catolicismo na contemporaneidade. Permeada por valores narcisistas e individualistas, as sociedades contemporâneas parecem buscar fundamentos “dinâmicos e práticos”, ou poderíamos entender também como pragmáticos e perversos. Dentro desse paradigma, existe o risco de a espiritualidade exercer uma função narcisista. Nesse contexto, dois eventos presenciados nos últimos anos intensificaram, ainda mais, essa tendência: a pandemia do COVID 19 e as feridas abertas pelos casos de abusos sexuais.

Desde a Conferência de Aparecida, há uma indicação da necessidade da Igreja se conectar com temas antropológicos contemporâneos, sobretudo no que tange à subjetividade e suas demandas. A pandemia, ao contrário, intensificou tendências narcisistas. Mergulhada na cultura do ressentimento, a nossa subjetividade se mostrou demasiadamente individualista, não permitindo abertura ao outro, com o qual constantemente rivaliza. Ou seja, não é possível pedir ajuda, fazer um apelo. É uma atitude não muito aplaudida, pois releva uma “fraqueza”, uma dimensão vulnerável. A subjetividade contemporânea não consegue transformar dor em sofrimento, pois há pouca possibilidade de diálogo e interlocução. Dessa maneira, o sujeito é jogado em um abismo, não encontra sentido. Seu corpo, então, se apega a sentidos imediatos, espaciais, fora das temporalidades que nos permitem vivenciar alteridades e nossa própria humanidade.

É verdade que alguns movimentos católicos se mostram propositores de “alentos antropológicos” aos nossos tempos caóticos. Movimentos que significaram não necessariamente aumento no número de fiéis, mas apenas exercem papel de motivação e “reavivamento” a um número já existente de católicos. O clima de renovação esteve presente nos últimos anos, mas pensamentos conservadores se mostram violentos simbolicamente e se fundamental na repetição, o que leva muitas vezes a insistências neuróticas e aponta para um limite, sobretudo quando pensamos na mudança da juventude à vida adulta. Nesse sentido, Hervieu afirma a coexistência de diretrizes oriundas da Gaudium et Spes e da Humanae Vitae, o que indica desafios e incongruências a serem superadas (HERVIEU, p. 37).

Qual a saída? Seria o alargamento da experiência de uma “Igreja como resistência”, presenciada nos tempos de Francisco. Laudato Sì e Fratelli Tutti são documentos que indicam e aprofundam esse caminho. Hervieu chama esse movimento de uma “Igreja como consciência inquieta” (HERVIEU, p. 52). Questões emergentes são as mais fundamentais ao debate teológico-pastoral dos próximos anos, como a urgência ecológica. Dessa maneira, a Igreja se coloca em escuta atenta e constante aos anseios do ser humano contemporâneo, que está à beira do abismo ou do colapso. Uma consciência inquieta busca interfaces hermenêuticas, conexões fundantes.

O sistema romano faz com que a Igreja mensure sua unidade com base em sua uniformidade doutrinária e organizacional. Por muito tempo, essa visão de unidade foi encarnada em uma civilização paroquial pelo menos formalmente homogênea. A sociabilidade católica desloca-se hoje para o lado dos agrupamentos afins e móveis, cada vez mais alheios ao enquadramento territorial da paróquia. “O catolicismo de amanhã, em minha opinião, será um catolicismo ‘de diáspora’ ou não será” (HERVIEU, p. 62).

A atualização da Igreja Romana ocorreu precisamente no momento da revolução cultural da década de 1960. O Vaticano II foi imediatamente abalado pela grande mudança cultural que as sociedades modernas vivenciaram naquele mesmo período. Esse fato pode ser exemplificado pela resposta da Igreja à formidável revolução introduzida pelo acesso das mulheres à possibilidade de gerir sua fecundidade. A encíclica Humanae Vitae (1968), que proíbe a contracepção, teve consequências dramáticas para a credibilidade da instituição.

Por outro lado, mudanças foram indicadas e concretizadas. A constituição de reforma da cúria romana Praedicate Evangelium de março de 2022 mostra a direção. É sobre uma real descentralização do funcionamento da Igreja que a abordagem sinodal deve conduzir. Não apenas ao nível do governo das congregações vaticanas, mas nas dioceses e unidades pastorais.

Essa tendência envolve fortalecer o status teológico das Conferências Episcopais nacionais (e transnacionais/regionais, como a Amazônia) e aumentar o empoderamento de leigos, mulheres e homens, em todos os níveis. Nesse sentido, a abertura dos ministérios instituídos de leitoras, catequistas (e outros) a leigos e leigas pelos dois motu proprio Spiritus Domini e Antiquum ministerium (2021) vai na direção certa, na direção desta “claramente secular” cultura eclesial com que sonha o Papa Francisco em “Querida Amazônia” (n. 94).

É cada vez mais urgente, nesse contexto, pensar em ampliar os lugares de encontro da Igreja com o mundo e no mundo, por exemplo pela multiplicação de expressões eclesiais de base, oferecendo no coração das cidades espaços para encontros, debates, formação, celebrações, viagens espirituais ou sacramentais. Tipos de “pátios dos gentios” em nível local, assim como o Pontifício Conselho para a Cultura os estabeleceu em nível nacional e global (AMHERDT, Entrevista ao Observatório da Evangelização, 2022).

Uma igreja em saída significa buscar, incessantemente, um encontro com o humano e com seu real.

Referências

HERVIEU, Danièle. Vers l´implosion. Paris: Seuil, 2022.

AMHERDT, François-Xavier. Interview realisée par “Observatoire de l’évangélisation”, PUC-Minas, 2022.

/*! elementor – v3.6.8 – 01-08-2022 */
.elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block}

Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

]]>
45636