Ahmad Al-Tayyeb e Francisco – em sua Declaração – continuam dizendo: “Nós, crentes em Deus, no encontro final com Ele e no Seu julgamento – a partir da nossa responsabilidade religiosa e moral e através deste Documento – rogamos a nós mesmos e aos líderes do mundo inteiro, aos artífices da política internacional e da economia mundial, para se comprometer seriamente na difusão da tolerância, da convivência e da paz; para intervir, o mais breve possível, a fim de se impedir o derramamento de sangue inocente e acabar com as guerras, os conflitos, a degradação ambiental e o declínio cultural e moral que o mundo vive atualmente”.
Os dois líderes religiosos fazem, pois, um apelo: “Dirigimo-nos aos intelectuais, aos filósofos, aos homens (e mulheres) de religião, aos artistas, aos operadores dos mass-media e aos homens (e mulheres) de cultura em todo o mundo, para que redescubram os valores da paz, da justiça, do bem, da beleza, da fraternidade humana e da convivência comum, para confirmar a importância destes valores como âncora de salvação para todos (e todas) e procurar difundi-los por toda a parte”.
Acrescentam também: “Partindo de uma reflexão profunda sobre a nossa realidade contemporânea, apreciando os seus êxitos e vivendo as suas dores, os seus dramas e calamidades, esta Declaração acredita firmemente que, entre as causas mais importantes da crise do mundo moderno, se contam uma consciência humana anestesiada e o afastamento dos valores religiosos, bem como o predomínio do individualismo e das filosofias materialistas que divinizam o ser humano e colocam os valores mundanos e materiais no lugar dos princípios supremos e transcendentes”.
Declaram ainda: “Nós, embora reconhecendo os passos positivos que a nossa civilização moderna tem feito nos campos da ciência, da tecnologia, da medicina, da indústria e do bem-estar, particularmente nos países desenvolvidos, ressaltamos que, juntamente com tais progressos históricos, grandes e apreciados, se verifica (reparem!) uma deterioração da ética, que condiciona a atividade internacional, e um enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade”.
Por fim, Ahmad Al-Tayyeb e Francisco fazem algumas constatações:
1ª) “Tudo isto contribui para disseminar uma sensação geral de frustração, solidão e desespero, levando muitos a cair na voragem do extremismo ateu e agnóstico ou então no integralismo religioso, no extremismo e no fundamentalismo cego, arrastando assim outras pessoas a render-se a formas de dependência e autodestruição individual e coletiva”.
2ª) “A história afirma que o extremismo religioso e nacional e a intolerância geraram no mundo, quer no Ocidente quer no Oriente, aquilo que se poderia chamar os sinais duma ‘terceira guerra mundial aos pedaços’; sinais que, em várias partes do mundo e em diferentes condições trágicas, começaram a mostrar o seu rosto cruel; situações de que não se sabe exatamente quantas vítimas, viúvas e órfãos produziram”.
3ª) “Além disso, existem outras áreas que estão se tornando palco de novos conflitos, onde nascem focos de tensão e se acumulam armas e munições, numa situação mundial dominada pela incerteza, pela decepção e pelo medo do futuro e controlada por míopes interesses econômicos”.
4ª) “Afirmamos igualmente que as graves crises políticas, a injustiça e a falta duma distribuição equitativa dos recursos naturais – dos quais beneficia apenas uma minoria de ricos, em detrimento da maioria dos povos da terra – geraram, e continuam a fazê-lo, enormes quantidades de doentes, necessitados e mortos, causando crises letais de que são vítimas vários países, não obstante as riquezas naturais e os recursos das gerações jovens que os caracterizam. A respeito de tais crises que fazem morrer de fome milhões de crianças, já reduzidas a esqueletos humanos por causa da pobreza e da fome, reina (reparem novamente!) um inaceitável silêncio internacional”,
Esse “inaceitável silêncio internacional” não é um crime e um pecado de omissão gravíssimo?
Pensemos!
Sobre o autor:
Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG
Fonte:
]]>No documento firma-se o compromisso entre cristãos e muçulmanos de trabalharem em conjunto para combater toda forma de extremismo.
No seu discurso, Francisco condenou toda violência cometida em nome de Deus e afirmou, durante o encontro inter-religioso em Abu Dhabi, que os líderes religiosos devem ser faróis de paz e promover a dignidade.
“Devemos condenar todas as formas de violência sem hesitação porque usar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra o irmão é uma grave profanação, não há violência que encontre justificação na religião”.
O papa Francisco é primeiro líder da Igreja Católica a pisar o solo do Golfo Pérsico, na península arábica, o berço do Islamismo. Nesta ocasião histórica, o Papa disse:
“Não se deve cair na tentação recorrente de julgar os outros como inimigos e adversários… Não há alternativa: ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro… As religiões, especialmente, não podem renunciar à urgente tarefa de unir fraternalmente povos e culturas”
Em seu discurso lembrou ainda a importância da “liberdade religiosa”, enfatizando que ela “não se limita apenas à liberdade de culto”, mas que a prática religiosa não seja “forçada” sobre uma pessoa.
Sobre a sua visita aos Emirados Árabes Unidos, o papa disse que aceitou a oportunidade para promover a paz e para ser um instrumento de paz. “Estamos aqui para isso”, disse ele. E acrescentou que os Emirados Árabes Unidos representam a transformação do deserto num lugar próspero e hospitaleiro e num encontro de culturas e religiões, oferecendo esperança a muitos diferentes povos, culturas e credos.
O Papa concluiu seu discurso recordando os conflitos entre os vizinhos Iêmen, Síria, Iraque e Líbia e sublinhou que “Deus ajude o homem que procura a paz”.
O papa Francisco chegou no domingo, dia 03/02/2019, aos Emirados Árabes Unidos e, na terça-feira, vai celebrar uma missa classificada como histórica no grande estádio de Abu Dhabi, para a qual são esperados mais de 130.000 fiéis. Cerca de um milhão de católicos — a maioria imigrantes asiáticos — vive nos Emirados, país cuja população é constituída por mais de 85% de expatriados, e podem praticar a sua religião em oito igrejas.
Desde o início do seu pontificado, o papa já se deslocou a vários países cuja população é maioritariamente muçulmana, como o Egito, o Azerbaijão, o Bangladesh e a Turquia. Em março é esperado em Marrocos.
Fonte:
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