Papa Francisco aos novos bispos – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 13 Sep 2019 17:29:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Papa Francisco aos novos bispos – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Papa aos novos bispos: sejam apóstolos da escuta, cultivem proximidade a Deus e ao povo e não se circundem de bajuladores https://observatoriodaevangelizacao.com/papa-aos-novos-bispos-sejam-apostolos-da-escuta-cultivem-proximidade-a-deus-e-ao-povo-e-nao-se-circundem-de-bajuladores/ Fri, 13 Sep 2019 17:29:18 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31571 [Leia mais...]]]> Francisco recebeu bispos de recente nomeação e ofereceu a eles conselhos concretos para manterem a proximidade a Deus e ao povo, sem renunciar a uma vida sóbria.

Papa aos bispos: proximidade a Deus e ao povo, não se circundar de bajuladores

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco concluiu sua série de audiências desta quinta-feira, 12/09/2019, recebendo, no Vaticano, os bispos de recente nomeação que participaram do curso promovido pelas Congregações para os Bispos e para as Igrejas Orientais.

Proximidade a Deus e ao seu povo

O Pontífice dedicou o seu discurso a uma atitude que é essencial para os Bispos: proximidade. Proximidade a Deus e proximidade ao seu povo.

A proximidade a Deus é a fonte do ministério do bispo. Deus se fez próximo a nós mais do que poderíamos imaginar, encarnando-se em Cristo e a razão da nossa existência é “tornar palpável esta proximidade”, disse Francisco.

Por isso o bispo, sem poupar tempo, precisa estar diante de Jesus e levar até Ele as pessoas e as situações. Em outras palavras, o bispo deve cultivar esta intimidade com Cristo diariamente na oração.

“Somente estando com Jesus somos preservados da presunção pelagiana de que o bem deriva da nossa capacidade.”

Ao estar próximos de Deus, cresce a consciência de que a identidade do bispo é fazer-se próximo. “Não é uma obrigação externa, mas uma exigência interna à lógica do dom.A proximidade ao povo não é uma estratégia oportunista, advertiu o Papa, mas a condição essencial do ministro ordenado.

Estar próximos é se imbuir com o povo de Deus, compartilhar suas dores, não desprezar suas esperanças. Estar próximos do povo é confiar que a graça que Deus derrama fielmente nele, e da qual somos canais, mesmo através das cruzes que carregamos, é maior do que a lama da qual temos medo.” 

Mesmo na nossa pobreza, cabe a nós fazer com que ninguém sinta Deus como distante, que ninguém use Deus como pretexto para levantar muros, abater pontes e semear ódio.

A proximidade do bispo, prosseguiu Francisco, não é retórica, não é feita de anúncios autorreferenciais, mas de disponibilidade real. É preciso deixar-se surpreender e aprender verbos concretos, como ver, cuidar e curar. É colocar-se em jogo e sujar as mãos.

Por favor, não deixem que prevaleçam os temores pelos riscos do ministério, retraindo-se e mantendo as distâncias”, exortou o Pontífice.

Sobriedade, sem bajuladores

O termômetro da proximidade é a atenção aos últimos, aos pobres, que é já um anúncio do Reino, assim como o é a sobriedade.

Assumir uma vida simples – ele explica – é testemunhar que Jesus é suficiente para nós e que o tesouro com que queremos nos cercar é constituído por aqueles que, em sua pobreza, nos lembram e nos representam Ele: não pobres abstratos, dados e categorias sociais, mas pessoas concretas, cuja dignidade é confiada a nós como seus padres. Padres de pessoas concretas; isto é, paternidade, capacidade de ver, concretude, capacidade de acariciar, capacidade de chorar.

São necessários bispos capazes de sentir o palpitar de suas comunidades e de seus sacerdotes, que não se contentem com presenças formais, mas que sejam “apóstolos da escuta que sabem ouvir até o que não é agradável de escutar”. Por favor não se circundem de bajuladores, exortou novamente o Papa.

De modo especial, Francisco encoraja as visitas pastorais regulares e uma proximidade especial aos sacerdotes:

Também eles estão expostos às intempéries de um mundo que, mesmo cansado das trevas, não poupa hostilidade à luz. Eles precisam ser amados, seguidos e encorajados.”

Ouça a reportagem e a voz do papa Francisco

(Os grifos são nossos)

Leia a seguir, o discurso do papa na íntegra:

Queridos irmãos, bom dia.

Sejam bem-vindos a este encontro de encerramento de sua peregrinação a Roma, organizada pelas Congregações para os Bispos e pelas Igrejas Orientais. Agradeço aos cardeais Ouellet e Sandri por seu empenho na organização desse evento.

Juntos, como novos membros do Colégio Episcopal, vocês desceram há pouco ao túmulo de Pedro, o “troféu” da Igreja de Roma. Lá vocês confessaram a mesma fé que o Apóstolo. Essa não é uma teoria ou um compêndio de doutrinas, mas uma pessoa, Jesus. Seu rosto nos aproxima do olhar de Deus. Nosso mundo busca, mesmo sem o saber, essa proximidade divina. Ele é o mediador. Sem essa proximidade do amor, o fundamento da realidade vacila; a própria Igreja perde o rumo quando perde a ternura vivificante do Bom Pastor. Aqui vocês confiaram suas Igrejas, para elas repetiram com Jesus: “corpo oferecido e sangue derramado por vós”. Não conhecemos outra força senão essa: a força do Bom Pastor, a força para dar a vida, para nos aproximarmos do Amor através do amor. Eis a nossa missão: ser para a Igreja e para o mundo “sacramentos” da proximidade de Deus. Gostaria, portanto, de lhe dizer algo sobre a proximidade, essencial para todo ministro de Deus e, sobretudo, para os bispos. A proximidade de Deus e proximidade com seu povo.

A proximidade de Deus é a fonte do ministério do bispo. Deus nos ama, ele se fez mais próximo do quanto pudéssemos imaginar, ele tomou nossa carne para nos salvar. Este anúncio é o coração da fé, deve preceder e animar todas as nossas iniciativas. Nós existimos para tornar essa proximidade palpável. Mas não se pode comunicar a proximidade de Deus sem experimentá-la, sem vivenciá-la todos os dias, sem se deixar contagiar por sua ternura. Cada dia, sem economizar tempo, devemos estar diante de Jesus, trazer-lhe pessoas, situações, como canais que estão sempre abertos entre Ele e nosso povo. Com a oração, damos ao Senhor cidadania ali onde moramos. Vamos nos sentirmos, como São Paulo, fabricantes de tendas (ver Atos 18:3): apóstolos que permitem ao Senhor habitar entre o seu povo (ver João 1:14).

Sem essa confiança pessoal, sem essa intimidade cultivada todos os dias na oração, inclusive e especialmente nas horas de desolação e aridez, o núcleo de nossa missão episcopal se esfarela. Sem a proximidade com o Semeador, parecerá pouco gratificante o esforço de lançar a semente sem conhecer o tempo da colheita. Sem o Semeador, será difícil acompanhar com paciente confiança a vagareza da maturação. Sem Jesus, chega a desconfiança de que Ele não completará sua obra; sem Ele, mais cedo ou mais tarde, escorrega-se na melancolia pessimista de quem diz: “tudo vai mal”. É ruim ouvir um bispo dizer isso! Somente permanecendo com Jesus somos preservados da presunção pelagiana que o bem derive de nossa capacidade. Somente permanecendo com Jesus chega ao coração aquela profunda paz que nossos irmãos e irmãs buscam em nós.

E da proximidade de Deus à proximidade de seu povo. Por estarmos próximos do Deus da proximidade, crescemos na consciência de que nossa identidade consiste em nos tornar próximos. Não é uma obrigação externa, mas é uma exigência interna da lógica do dom. “Este é o meu corpo entregue por vós”, dizemos no momento mais alto da oferta eucarística ao nosso povo. Nossa vida brota disso e nos leva a ser pães partidos para a vida do mundo. Então a proximidade com o povo que nos é confiado não é uma estratégia oportunista, mas a nossa condição essencial. Jesus gosta de chegar perto de seus irmãos através de nós, por meio das nossas mãos abertas que acariciam e consolam; das nossas palavras pronunciadas para ungir o mundo de Evangelho e não de nós mesmos; de nosso coração, quando estamos sobrecarregados com as angústias e as alegrias de nossos irmãos. Mesmo em nossa pobreza, cabe a nós que ninguém sinta Deus como distante, que ninguém tome Deus como pretexto para erguer muros, derrubar pontes e semear ódio. É ruim quando um bispo derruba pontes, semeia ódio ou desconfiança, atua como contra-bispo. Temos que anunciar com a vida uma medida de vida muito diferente daquela do mundo: a medida de um amor sem medida, que não olha para seu próprio lucro e seu próprio interesse, mas ao horizonte descortinado da misericórdia de Deus.

A proximidade do Bispo não é retórica. Não é feita de proclamações autorreferenciais, mas de disponibilidade real. Deus nos surpreende e muitas vezes adora conturbar a nossa agenda: estejam preparados para isso sem medo. A proximidade conhece verbos concretos, aqueles do bom Samaritano: ver, ou seja, não olhar para o outro lado, fingir que nada viu, não deixar as pessoas esperando e não esconder problemas debaixo do tapete. Portanto, tornar-se próximos, estar em contato com as pessoas, dedicar tempo a elas mais que ao gabinete, não temer o contato com a realidade, a ser conhecida e abraçada. Depois, tratar das feridas, assumir a responsabilidade, assumir o cuidado e se entregar (veja Lc 10.29-37). Cada um desses verbos da proximidade é um marco na jornada de um Bispo com seu povo. Cada um pede para se envolver e sujar as mãos. Estar próximos é se imbuir com o povo de Deus, compartilhar suas dores, não desprezar suas esperanças. Estar próximos do povo é confiar que a graça que Deus derrama fielmente nele, e da qual somos canais, mesmo através das cruzes que carregamos, é maior do que a lama da qual temos medo. Por favor, não deixem que o medo pelos riscos do ministério prevaleça, retraindo-vos e mantendo as distâncias. Que as vossas Igrejas marquem a vossa identidade, porque Deus combinou os destinos, pronunciando o vosso nome junto com o delas.

O termômetro da proximidade é a atenção aos últimos, aos pobres, que já é um anúncio do Reino. Assim será também a vossa sobriedade, em uma época em que em muitas partes do mundo tudo é reduzido a meio para satisfazer necessidades secundárias, que saturam e esclerosam o coração. Assumir uma vida simples é testemunhar que Jesus é suficiente para nós e que o tesouro com o qual queremos nos cercar é constituído por aqueles que, em sua pobreza, nos lembram e representam Ele: não pobres abstratos, dados e categorias sociais, mas pessoas concretas, cuja dignidade é confiado a nós enquanto seus padres. Padres de pessoas concretas; isto é, paternidade, capacidade de ver, concretude, capacidade de acariciar, capacidade de chorar.

Parece que hoje existem estetoscópios que podem auscultar um coração a um metro de distância. Precisamos de bispos capazes de ouvir o batimento de suas comunidades e dos sacerdotes, mesmo à distância: sentir o batimento. Pastores que não se contentem com presenças formais, encontros protocolares ou diálogos circunstanciais. Refiro-me a Pastores tão cuidadosos que parecem água destilada, que não tem gosto de nada. Apóstolos da escuta, que sabem ouvir até o que não é agradável de escutar. Por favor, não se rodeiem de bajuladores e yes men… os padres “escaladores” que estão sempre procurando … não, por favor. Não almejem ser confirmados por aqueles que são vocês que precisam confirmar. Existem muitas formas de proximidade com as vossas Igrejas. Em particular, gostaria de incentivar visitas pastorais regulares: visitar frequentemente, conhecer as pessoas e os Pastores; visitar seguindo o exemplo de Nossa Senhora, que não perdeu tempo e levantou-se para ir rapidamente até sua prima. A Mãe de Deus nos mostra que visitar é tornar próximo Aquele que infunde alegria, é trazer o conforto do Senhor, que realiza grandes feitos entre os humildes de seu povo (ver Lc 1,39).

Por fim, peço-vos novamente para reservar a maior proximidade aos vossos sacerdotes: o sacerdote é o próximo mais próximo do bispo. Amar o próximo vizinho. Por favor, os abracem, agradeçam e incentivem em meu nome. Eles também estão expostos às intempéries de um mundo que, apesar de estar cansado das trevas, não poupa hostilidade à luz. Eles precisam ser amados, seguidos, encorajados: Deus não deseja a eles meias medidas, mas um sim total. Em águas poucos profundas acaba-se estagnando, mas a vida deles é feita para ganhar o mar aberto. Como a vossa. Coragem, portanto, queridos irmãos! Agradeço-vos e abençoo-vos. Por favor, lembre-se de orar todos os dias por mim também.

Obrigado.

Fonte:

www. vaticannews.va

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