Pacto das Catacumbas – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 18 Oct 2019 14:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pacto das Catacumbas – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Bispos do Sínodo para a Amazônia renovarão, no domingo, o Pacto das Catacumbas https://observatoriodaevangelizacao.com/bispos-do-sinodo-para-a-amazonia-renovarao-no-domingo-o-pacto-das-catacumbas/ Fri, 18 Oct 2019 14:26:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32448 [Leia mais...]]]> Grupo de padres sinodais refaz o ato e a promessa de opção pelos pobres, incentivados pelos temas apresentados na assembleia sobre a Região Pan-Amazônica.

(Publicação de Mirticeli Medeiros direto da cidade do Vaticano para o site da Dom Total)

Participantes do Sínodo da Amazônia se reunirão no próximo domingo (20/10/2019) para renovar o chamado Pacto das Catacumbas, um documento assinado por mais de 40 bispos latino-americanos às vésperas da conclusão do Concílio Vaticano II, em 1965. O evento aconteceu na catacumba de Santa Domitila, em Roma.

O grupo participará de uma missa presidida por dom Erwin Kräutler, C.PP.S bispo emérito da prelazia do Xingu (PA). Por volta das 7h da manhã (2h no horário de Brasília), alguns membros da assembleia sinodal seguirão, em seguida, rumo ao local que testemunhou esse momento histórico para a Igreja Católica, marcadamente para a Igreja latino-americana.

Dom Helder Câmara

Na ocasião do ato original, em 1965, entre os 42 signatários, além de dom Helder Câmara, estiveram presentes outros cinco bispos brasileiros:

  • dom João Batista da Mota e Albuquerque (1909-1984), então arcebispo de Vitória;
  • dom Francisco Austregesilo de Mesquita Filho (1924-2006), bispo de Afogados de Ingazeira (PE);
  • dom José Alberto Lopes de Castro Pinto (1914-2007), bispo auxiliar do Rio de Janeiro;
  • dom Henrique Hector Golland Trindade (1897-1974), bispo de Botucatu (SP); e
  • dom Antônio Batista Fragoso (1920-2006), bispo de Crateús (CE).

Um dos idealizadores desse compromisso público e colaborador do texto foi dom Helder Câmara (1909-1999), à época arcebispo de Olinda e Recife e referência na defesa dos direitos humanos no Brasil. No texto foram elencadas 13 promessas de desapego aos bens materiais e aos privilégios ligados à vida episcopal.

O pacto influenciou o surgimento da Teologia da Libertação, uma postura de vigília às ditaduras autoritárias vigentes no continente latino-americano, além de ter motivado a convocação da segunda Conferência Geral do Episcopado Latino Americano (Celam), realizada em Medellín, na Colômbia, em 1968.

Em um dos trechos da carta, os bispos prometem

dar todo o tempo, reflexão, coração, meios etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos”. O texto fala, inclusive, de cobrar das autoridades “a observação das leis em favor da justiça, da igualdade e do desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens”.

Leia alguns trechos do documento de 1965:

  • Procuraremos viver segundo o modo ordinário da população, no que concerne à habitação, à alimentação e aos meios de locomoção“;
  • Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza“;
  • Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco“;
  • Confiaremos a gestão financeira em nossa diocese a uma comissão de leigos“;
  • Recusamos ser chamados com nomes que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor…). Preferimos padre“;
  • Evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios“;
  • Mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião“.

Confira o texto original do Pacto das Catacumbas:

Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:

1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.

2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem ouro nem prata.

3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.

4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.

5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor…). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15.

6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.

7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.

8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27.

9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de “beneficência” em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.

10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus. Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5, 16.

11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral – dois terços da humanidade – comprometemo-nos:

a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres;

a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria.

12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim:

esforçar-nos-emos para “revisar nossa vida” com eles;

suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo;

procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores…;

mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1Tim 3,8-10.

13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.

Ajude-nos Deus a sermos fiéis.

Sobre o autor:

Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras.

Veja o documentário: Do Pacto das Catacumbas a Francisco

Fonte:

www.domtotal.com

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Em sua humildade, um homem imprescindível. https://observatoriodaevangelizacao.com/em-sua-humildade-um-homem-imprescindivel/ Mon, 28 Aug 2017 23:21:15 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=23701 [Leia mais...]]]> Dom José Maria Pires, o primeiro bispo negro do Brasil, como declarou em entrevista ao OE (confira abaixo), quando celebrávamos os cinquenta anos do Concílio Ecumênico Vaticano II, foi um homem que, humildemente, fez história.

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Exaltava sempre a figura do grande amigo, o profeta Dom Hélder Câmara, que, parece, “marcou” um encontro com ele  para ontem: 27/08. É que o amigo querido se despedira em direção à casa do Pai exatamente em 27/08/99. E ontem foi a vez de Dom José Maria nos deixar.

Hoje, quando nos despedíamos dele na missa presidida por Dom Walmor, nosso arcebispo lembrava, a propósito das bem-aventuranças proclamadas no evangelho, que Dom José parece ter vivido todas as bem-aventuranças, porque ele se fez pobre e chorou com os que sofriam, era um homem de incrível mansidão, pacificador e puro de coração, mas também se indignava e lutava contra toda tipo de injustiça, tendo vivido em uma época de grandes perseguições.

Foi sem dúvida um profeta, como tantos testemunharam. Profeta da simplicidade evangélica  e da acolhida a todas/os, como testemunho extremo.

Quando o conheci, em uma celebração eucarística em casa de um padre casado, há mais de dez anos, ele vendia polpa de frutas do seu quintal, precisava de uma fonte extra para as despesas. De fato, como bispo emérito da Paraíba, escolheu viver na capital de seu estado, Minas Gerais, primeiro com pessoas de sua família, depois, em uma comunidade jesuíta, que o acompanhou e cuidou até que o pavio que ofereceu luz a tantos, se apagasse. Aqui, em Belo Horizonte, acompanhou um grupo de famílias às quais, carinhosamente, chamava de famílias sacerdotais. Seu trabalho de acompanhamento de padres casados e de sacerdotes em vias de deixar o ministério auxiliou e fortaleceu muitas pessoas… Aquelas que o desejarem poderão, inclusive, relatar aqui algo de sua experiência.

E o que torna esse bispo — que neste momento é recebido por seu povo, na Paraíba, após 98 anos de fecunda caminhada — um pastor tão especial? Ele mesmo responde: ter buscado ser fiel ao Pacto das Catacumbas. Durante o Concílio, vários bispos assinaram esse pacto, redigido na catacumba da mártir Santa Domitila; esses pastores assumiram o compromisso de viver a vida próxima do povo, pobremente. De príncipes tornaram-se servidores do Povo de Deus. Reconheceram que os demais sacerdotes de suas dioceses não eram pessoas a quem dar ordens, mas companheiros na missão comum de continuar o que Jesus de Nazaré e os apóstolos haviam iniciado, por isso, em cada ano deveriam celebrar, na Missa da Unidade, o compromisso de viver verdadeiramente como irmãos — bispos e padres. Os bispos signatários desse pacto buscaram que sua maneira de se vestir, de viver, de se comunicar, fosse comum àquela do povo.  Dom José, a quem o povo da Paraíba apelidou de “Dom Pelé”, e que era chamado em outros meios de “Dom Zumbi” (em alusão a Zumbi dos Palmares), denunciou profeticamente, até o fim de sua vida, o distanciamento do evangelho em que alguns bispos e padres vivem por buscar um estilo de vida tão distante daquele do povo: querendo reconhecimento, status, e vivendo em palácios. Seu testemunho maior, que encantou e convenceu: Viver como o povo de Deus pode viver. Simplesmente. Humildemente. Evangelicamente!

Da diocese de Araçuaí/MG à arquidiocese da Paraíba, foi um homem que lutou por dignidade e vida para todos, ciente de seu papel de pastor, jamais se afastando de seu povo.

 Hay hombres que luchan un día y son buenos.                                                                  Hay otros que luchan un año y son mejores.                                                                        Hay quienes luchan muchos años, y son muy buenos.                                                  Pero hay los que luchan toda la vida, esos son los imprescindibles.

Bertolt Brecht

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Entrevista a Dom José Maria I

 

Entrevista a Dom José Maria II

 

Entrevista a Dom José Maria III

 

Entrevista a Dom José Maria IV

 

Entrevista a Dom José Maria V

 

 

Saudades, Dom José Maria! E fiquei lhe devendo uma galinha ao molho pardo…

Tânia Jordão.

 

 

 

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