Natal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 14 Dec 2020 01:24:06 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Natal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Para celebrar o Natal, como Igreja doméstica, em contexto de pandemia da COVID-19 https://observatoriodaevangelizacao.com/celebrar-o-natal-como-igreja-domestica-em-contexto-de-pandemia-da-covid-19/ Mon, 14 Dec 2020 01:24:06 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=37003 [Leia mais...]]]>

A consciência da gravidade dos riscos vividos no contexto atual

Trouxe a tentação de reduzir os horizontes e as perspectivas do Natal

Com agudo senso de responsabilidade e esmerada dedicação ao cuidado,

Muitos asseveram: “este será um inédito Natal pandêmico virtual, em casa

Com familiares separados uns dos outros por medidas sanitárias”.

No entanto, quando recordamos o contexto do nascimento de Jesus

As muitas dificuldades vividas pelo casal Maria e José…

Quando conhecemos de perto os desafios da vida diária dos pobres

Com suas lutas em defesa da dignidade da vida e por cidadania…

Percebemos, imediatamente, que as dificuldades do caminho

Desigualdade, pobreza, exclusão, perseguição, preconceito, violência…

Nunca impediram o Mistério do Amor Divino irradiar a sua luz

Na singeleza e resistência dos presépios de ontem e de hoje

E em toda criança que nasce, Deus renova seu sim à humanidade.

Desse modo, o grave contexto contemporâneo de pandemia da COVID – 19

Com suas exigências de distanciamento, isolamento social e de ficar em casa

Quando assumido, de fato, por cada lar cristão no seio das Igrejas domésticas

Não traz grandes ameaças e barreiras para uma rica celebração de Natal em 2020.

Ao contrário, o que ameaça o brilho do Advento libertador de Deus em nossa história,

Fonte instigante de esperança, encorajamento para a luta e cultivo de Vida Nova,

São, na verdade, homens e mulheres com fé e mentalidade religiosa deturpadas,

Com mentes fechadas ao diálogo fraterno, corações indiferentes às dores alheias

E, sobretudo, com mãos atadas para o dinamismo criativo do amar solidário e libertador.

O Natal não deve ser reduzido ao que é vivido no simbólico dia 25 de dezembro

O Natal de Jesus acontece todos os dias quando pessoas, movidas por fé confiante

Cultivam vidas enraizadas em Cristo Ressuscitado e sempre estradeiro conosco

E, pela força do Espírito Santo, Deus em nós, decidem cuidar da dignidade da vida

Dar as mãos aos pobres e praticar a justiça, a partilha, a misericórdia, a boa política…

Pelo cultivo do Memorial do Senhor, celebrado nas Eucaristias vividas com fé na caminhada

No seio da Igreja doméstica, podemos, sim, celebrar vivamente o Natal de Jesus:

Quando nos dispomos a aprender as importantes lições desta pandemia;

Quando nos deixamos iluminar pela Palavra de Deus, rezada e meditada com fé;

Quando nos purificamos nas experiências diárias de amor-atenção-cuidado compartilhados;

Quando nos comprometemos com a partilha fraterna-sororal do tempo e dos bens;

Quando acolhemos as consequências do cultivo diário da consciência crítica, solidária e cidadã;

Quando apoiamos e participamos juntos das lutas dos pobres e seus movimentos populares;

Assim, que este tempo forte de preparação e desejo de vida nova: Advento, Natal, Ano Novo

Seja, de fato, tempo de abertura à luz do amor de Deus, uma experiência espiritual intensa

Como o barro nas mãos do oleiro, nos deixemos fecundar e transformar pela vida de Jesus

Que os ensinamentos e gestos proféticos d’Ele sejam critérios para nossa conversão à vida nova

Viver autenticamente a vida humana nesta sociedade em construção, com tantos desafios e lutas

Que o amar a Deus se faça concretamente amar aos irmãos e irmãs caídos no caminho

A todos os que precisam de apoio, solidariedade material-espiritual, atenção, cuidado

E cultivo sociopolítico da ecologia integral nos âmbitos pessoal, social e ambiental.

Desse modo, desejamos a você e aos membros de sua Igreja Doméstica

Um abençoado e santo Natal e Ano Novo, com aquela luz irradiada da certeza da fé

Fé na presença de Deus, sempre estradeiro conosco, a nos impulsionar criativamente

Para a alegria e a festa divina, no dia em todos terão vida e vida em abundância.

Nesta travessia, além do amar, da vivência da fé e na esperança dizemos

Juntos e irmanados na utopia do Reino de Deus, Reino da justiça, Reino da vida: Amém!

Sobre o autor:

Esta é minha Igreja Doméstica, minha pequenina comunidade trinitária de amor: Andréa-Maria Fernanda-Edward

Edward Guimarães é teólogo leigo, doutor em Ciências da Religião, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, onde atua como secretário executivo do Observatório da Evangelização. É membro do Conselho Pastoral Arquidiocesano na Arquidiocese de Belo Horizonte, assessor da Comissão Ecumênica da CNBB Leste 2, das pastorais sociais, da catequese e das CEBs. Membro da atual diretoria da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER).

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O Natal como sacramento da regeneração (2ª parte) https://observatoriodaevangelizacao.com/o-natal-como-sacramento-da-regeneracao-2a-parte/ Mon, 16 Dec 2019 10:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33818 [Leia mais...]]]> Se Santo Agostinho chama o Natal de “aniversário” – conforme vimos no primeiro artigo desta série, ainda que com um sentido mais profundo e um significado mais abrangente do que o habitual, São Leão Magno vai muito além. Não são poucos os sermões de sua autoria que trazem consigo elementos-fonte para os textos eucológicos do tempo do Natal, sobretudo pela marcante teologia presente nos libbeli do Sacramentário Veronense, também chamado de Leonino.

Para este Papa, cujo pontificado se deu entre 440 e 461, a celebração da Natividade do Senhor passa muito distante da lembrança de uma data. É verdadeiro sacramento, pelo qual “o círculo do ano faz-nos outra vez presente (reparatur, isto é re+apresentação) o mistério (sacramentum) da nossa salvação.” Ou seja, Leão Magno compreende que, pelas vias da ritualidade litúrgica, os fiéis podem participar do nascimento de Cristo, uma vez que foram “admitidos” neste evento. A alegria e o prazer de celebrar o Natal se funda no fato de, pelo “nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual Ele Se vestiu da carne da nossa natureza” se explica em razão de “nos tornarmos consortes da natureza divina”.

A Liturgia, portanto, dá acesso ao acontecimento. É porta de ingresso no mistério. Não é apenas um ensino sobre ele, mas a condição de nossa participação nele, afinal “o que era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios”, segundo o mesmo Papa Leão (CIC 115). Por esta razão terá muita importância para Ele o advérbio “hoje”.

“Hoje o Verbo de Deus apareceu vestido de carne… Hoje, os pastores souberam pelas palavras dos Anjos que o Salvador tinha nascido… Hoje, aos que estão à frente dos rebanhos do Senhor foi entregue nova forma de mensagem (…) A festa de hoje renova para nós o sagrado início da vida de Jesus, nascido da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos também o nosso nascimento. Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão: o Natal da cabeça é também o Natal do Corpo.”

Deste modo, continua noutro lugar, “o Natal do Senhor, em que o “Verbo se fez carne”, não tanto o havemos de lembrar como acontecimento do passado, mas antes imaginá-lo como se o vissem agora nossos olhos.” E como o veem senão pela condicionalidade da mesma carne assumida pelo Verbo, cujos ritos litúrgicos são verdadeira extensão? Aliás é exatamente isto que afirma o Catecismo da Igreja Católica ao tratar da Economia Sacramental presente na Igreja: que pelos gestos (ritualidade) e palavras (Sagrada Escritura e eucologia) o mesmo Cristo age no hoje dos fiéis (cf. CIC 1088). A lógica é simples: se Deus nos alcançou na carne, abrançando e assumindo nossa humanidade para comunicar o Deus, é pela mesma carne que este mistério pascal “permanece  e atrai tudo para a vida”.

A eucologia das missas do Natal do Senhor nos apresentam com nitidez esta compreensão:

“Concedei, ó Deus, que sejamos renovados, ao celebrarmos o Natal de vosso Filho, que se faz alimento e bebida neste divino mistério.” (Oração depois da comunhão na Missa da Vigília)

“Acolhei, ó Deus, a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós a nossa humanidade.” (Oração sobre as oferendas, Missa da Noite)

“Nós vos pedimos, ó Deus, que estas oferendas realizem em nós o mistério do Natal.” (Oração sobre as oferendas da Missa da Aurora)

“Ó Deus que, admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participara da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade.” (Oração do Dia da Missa do Dia)

Conclui-se, pois, que a celebração do Natal do Senhor deve nos orientar na participação de um acontecimento e não, simplesmente, nos referir a uma data perdida no passado e que o caminho para isso passa por assumir os ritos como porta de acesso ao mundo do Deus-Conosco.

Sobre o autor:

Pe. Márcio Pimentel

Padre Márcio Pimentel é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando
em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)
Pároco da paróquia São Sebastião e São Vicente

Fonte:

www.arquidiocesebh.org.br/opiniao-e-noticias/

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NATAL: mistério da simplicidade… https://observatoriodaevangelizacao.com/natal-misterio-da-simplicidade/ Mon, 25 Dec 2017 12:00:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27136 [Leia mais...]]]>

Natal de Jesus Cristo

“As circunstâncias são de extrema simplicidade e compreensíveis apreensões: o ambiente desfavorável, a solidão, o primeiro parto, as faixas de pano, um lugar de repouso para o recém-nascido. Mas, em si, nada de muito diferente do que ocorre diuturnamente, em todos os tempos, em todos os lugares, com os incontáveis que nascem numa terra que não é sua, nunca será sua… do lado de fora de todas as casas, deserdados filhos de Eva, gemendo, chorando, num vale de lágrimas… Não poderia ser diferente com Jesus Cristo, este arauto do reino da fraternidade, da compreensão, do perdão, da delicadeza, da bondade… coisas que tanto desejamos e amamos, mas que insistimos em deixar de fora das portas de nossa vida… Se voltássemos a ser crianças, por um só instante, e víssemos, com a perspicácia de seu olhar, o que nos tornamos… sem nenhum espaço mais para o inesperado e o que poderia vir e ainda ser. Apenas isto e teríamos em nossa vida um novo Natal.”

 Frei Prudente Nery
bh11
(1952-2009)
Aconteceu que, naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal. Por ser da família e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz e eles ficaram com muito medo. O anjo, porém, disse aos pastores: Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura. E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados.” (Lc 2, 1-14)

Geograficamente, Belém (bit+ilu+lachama: casa de lachama, a deusa cananéia da fertilidade / bet+lahm: casa da carne / bet+laham: casa do pão) era apenas uma pequena vila, encravada nos montes da Judéia, a cerca de 7 km a sudoeste de Jerusalém. Um vilarejo, historicamente, desimportante em Israel, a não ser por dois fatos longinquos e memoráveis. Primeiro, ali, em suas proximidades, fora sepultada (século XVIII a.C.) Raquel, a bela pastora (Gn 29, 17) e esposa predileta do Patriarca Jacó, após dar à luz seu filho Benjamim (Gn 35, 16-19), tornando-se assim um lugar sagrado para todos os descendentes de Jacó. Segundo, oito séculos depois (em torno do ano 1000 a.C), a mando de Deus, por ali teria passado Samuel, o último dos juízes em Israel, à procura de um novo rei. Por sua frente desfilam, então, os sete primeiros filhos de Jessé, o belemita. Sobre nenhum deles recai a escolha de Deus, pois assim afirma o Senhor aos ouvidos de Samuel: Não observes apenas as aparências, nem apenas a estatura… os homens vêem o exterior, mas o Senhor vê o coração. E nenhum destes foi o escolhido (1Sam 16). Por fim, Samuel pergunta a Jessé: Acabaram-se os teus filhos? Ele respondeu: Ainda falta o mais moço, Davi, que está apascentando as ovelhas. Então mandou chamá-lo. Ao vê-lo, disse o Senhor a Samuel: Levanta-te e unge-o, pois este é ele. Daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou de Davi, o pastor, o último dos filhos de Jessé de Belém de Éfrata. Afora isso, nada mais era Belém.

Mil anos depois, na mesma e insignificante Belém (Miq 5, 1), distante de Roma, a cidade (urbs) por excelência e lugar do trono de César Augusto, longe de Atenas, Éfeso, Jerusalém, as metrópoles do saber e das riquezas, e Antioquia, onde estava o Palácio de Quirino, uma outra história, na qual Deus repete quase as mesmas palavras: Não observai as aparências. Os homens vêem o exterior, mas Deus vê o mais profundo (coração).

A paisagem não mudara muito, apesar dos séculos. Eram os mesmos montes com suas parreiras e resistentes oliveiras. As pastagens continuavam relativamente abundantes e, nelas, pequenos gados e os pastores. E, desta vez, José, um carpinteiro da Galiléia, e Maria, sua esposa. Em Belém, distante de sua casa, localizada em Nazaré, a cerca de 110km, ou quatro dias de viagem em condições ordinárias, deu-se o dia do nascimento de Jesus.

As circunstâncias são de extrema simplicidade e compreensíveis apreensões: o ambiente desfavorável, a solidão, o primeiro parto, as faixas de pano, um lugar de repouso para o recém-nascido. Mas, em si, nada de muito diferente do que ocorre diuturnamente, em todos os tempos, em todos os lugares, com os incontáveis que nascem numa terra que não é sua, nunca será sua… do lado de fora de todas as casas, deserdados filhos de Eva, gemendo, chorando, num vale de lágrimas.

Aparentemente, uma desventura fortuita, uma infelicidade circunstancial dos pais de Jesus. Ocorreu que, enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, diz Lucas. Se bem observarmos, porém, um dado permanente da história humana. É sempre assim, enigmaticamente, sempre assim: Nunca há lugar para o essencial, na hospedaria dos homens. Sempre tudo lotado a mais não conter: o tempo, o espaço, a mente, as esperas, os corações, as preces, a vida.

Roma, eternamente preocupada em produzir decretos. Quirino, ele tem que governar. Os governados, estes devem cumprir seus muitos deveres. Jerusalém, fiel a seu próprio nome (Jerushalajim: a sagrada), cuida intensamente das coisas do templo. E Belém, também nela não há mais nenhum lugar. Não, nada disso é apenas uma fatalidade casual, mas quase uma constante em nosso mundo: para aquilo que verdadeiramente é sagrado em nossa vida nunca temos lugar nas estalagens de nós mesmos.

Não poderia ser diferente com Jesus Cristo, este arauto do reino da fraternidade, da compreensão, do perdão, da delicadeza, da bondade… coisas que tanto desejamos e amamos, mas que insistimos em deixar de fora das portas de nossa vida. Tem razão Gibran Kalil Gibran, em seu triste e verdadeiro poema em prosa: Visita-nos a verdade guiada pelo sorriso de uma criança ou o beijo da amada e nós trancamos as portas de nossos sentimentos em sua face como diante de um criminoso. O coração humano apela para nós e a alma nos chama, mas permanecemos mais surdos do que o metal e insensíveis. Assim os anos passam e seguimos distraídos e os dias e as noites nos convidam, mas permanecemos indiferentes… Vivemos no pó, quando os céus nos querem e pisamos o pão da vida, enquanto choramos de fome. Amamos a vida, mas vivemos tão longe dela.

Talvez isso, apenas isso precisasse acontecer, nesta noite, como o grande milagre de nossa própria redenção. Que, com os olhos de uma criança, contemplássemos a nossa vida, sem distorções e, com sua espontaneidade e irreverência, perguntássemos, sem perturbação, e respondêssemos a nós mesmos, com a veracidade das crianças, sem mil desculpas: Para que serve esta estranha normalidade de nossa vida, em que nos ocupamos com tudo, de manhã à noite e até em nossos sonos, cheios de tudo, enquanto nossa alma, em misteriosa saudade, se sente assim tão longe do essencial.

Se voltássemos a ser crianças, por um só instante, e víssemos, com a perspicácia de seu olhar, o que nos tornamos: Não tanto adultos, mas adulterados no que de melhor éramos ou poderíamos ser. Em vez de soberanos, apenas soberbos. Em vez de pacíficos, apenas apáticos. Em vez de tolerantes, apenas indiferentes. Em vez de ricos, apenas repletos de posses. Em vez de firmes, apenas inflexíveis. Em vez de resistentes, apenas insensíveis. Em vez de fortes, apenas truculentos. Em vez de experientes, apenas rígidos e aprisionados em nossos costumes. Trancados no domínio de nossas conquistas, como Roma dentro de seu império. Reclusos em nossos afazeres, como Quirino em seus palácios de Antioquia. Impenetráveis, como Jerusalém atrás de seus muros. Como as hospedarias de Belém: sem nenhum espaço mais para o inesperado e o que poderia vir e ainda ser. Apenas isto e teríamos em nossa vida um novo Natal.

Se saíssemos, por um pouco ao menos, das fortalezas de nossa normalidade e, quais pastores na noite, olhássemos para o alto, para a vastidão do infinito que recobre o mundo como um manto de delicadeza, se contemplássemos as estrelas do céu que nunca serão nossa posse, mas que ornam de cintilante beleza o escuro da noite, se ouvíssimos, como eles, a delicada melodia de nossa solidão no universo, se admirássemos o mundo com a simplicidade de seus olhos… e, com tais olhos, observássemos, mais que as aparências, o profundo (coração) de todas as coisas, veríamos, seguramente, derramarem-se sobre o mundo e sobre os homens os sorrisos de Deus (anjo): Na pobre e insignificante Belém, no último de todos os filhos de Jessé, um grande rei (Davi) e num menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura, o Filho de Deus. Multidões de anjos a isto se ajuntariam. E saberíamos que Deus está conosco (Immanuel)… para sempre. Pois este é o segredo de Belém: Não observes apenas as aparências… mas olha o profundo (coração) de todas as coisas.

É o que nos diz, na linguagem de sua simplicidade, esta noite. Aqui tem início o Cristianismo, que, segundo um de seus primeiros mártires, nada mais é do que o mistério da simplicidade (mysterium simplicitatis). Pois nós que já sabíamos do poder de Deus e conhecíamos a força de seus braços, agora podemos contemplar a sua imensa delicadeza e proximidade: Jesus Cristo. Diante dele a fé, maravilhada, ousa dizer: Verdadeiramente, o inefável se fez carne e habitou entre nós!

(os grifos são nossos)

Fonte:

procamig.org.br

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Preparemo-nos: Ele está para chegar! https://observatoriodaevangelizacao.com/preparemo-nos-ele-esta-para-chegar/ Sat, 09 Dec 2017 12:44:41 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27084 [Leia mais...]]]> Viver plenamente esse tempo de graça e esperança, que é o Advento, é possível quando alimentamos a espiritualidade, profundamente. A espiritualidade é o que nos dá vida e dinamismo. O que nos anima. O Espírito é o próprio Sopro de Deus!

Há diferentes formas de cultivar a espiritualidade, no entanto, certamente poderemos reconhecer se o Espírito que a move é o de Jesus se a fé se torna ação libertadora, pois assim foi o Peregrino de Nazaré: livre e libertador! A espiritualidade genuinamente centrada em Jesus suscita nosso comprometimento com a transformação de nossa realidade injusta, desumana, desigual, sem ética e sem compaixão em outra que se molda pelos valores evangélicos. Será pautada nos valores do Reino se for libertadora. Entretanto, ao contemplarmos Jesus de Nazaré observamos que antes de Ele agir há muitas pausas para oração a fim de se manter continuamente em sintonia com o Abba. Assim se fortalecia para a jornada.

Nossa realidade demanda que não nos acomodemos. Preparar-nos para o Natal não se trata, certamente, de alimentar o mercado de consumo e descarte; mas suster o espírito. É necessário, sim, nutrir-nos do maior dos alimentos para prosseguir na missão a nos confiada. Um belo instrumento a nos oferecido e que poderá (e muito!) nos auxiliar a viver melhor este tempo de preparação para o Natal de Jesus é o cultivo da  mística e espiritualidade com as canções meditativas de Taizé.

Na sua comunidade, antes de cada encontro celebrativo, é possível criar um ambiente de silêncio e reflexão, de acolhida e oração com refrãos meditativos como aqueles de Taizé.

Ânimo, portanto. Preparemos a casa do coração porque Ele está pra chegar…

Tânia Jordão

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=k95tnMUvwVY

 

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Queres (re)conhecer o mistério do presépio? Torna-te pequeno e humilde https://observatoriodaevangelizacao.com/queres-reconhecer-o-misterio-do-presepio-torna-te-pequeno-e-humilde/ Sat, 24 Dec 2016 11:00:37 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=12228 [Leia mais...]]]> Quando se fala de esperança, muitas vezes referimo-nos ao que não está no poder do homem e que não é visível. Com efeito, o que esperamos vai para além das nossas forças e do nosso olhar. Mas o Natal de Cristo, inaugurando a redenção, fala-nos de uma esperança diferente, uma esperança confiável, visível e compreensível, porque fundada em Deus. Ele entra no mundo e dá-nos a força de caminhar com Ele, Deus caminha connosco em Jesus, para a plenitude da vida; estar de maneira nova no presente, ainda que difícil. Então, esperar, para o cristão, significa a certeza de estar a caminho com Cristo para o Pai que nos espera. A esperança nunca está parada, está sempre em caminho e faz-nos caminhar.

Esta esperança, que o Menino de Belém nos dá, oferece uma meta, um destino bom ao presente, a salvação da humanidade, a bem-aventurança a quem se confia a Deus misericordioso. S. Paulo resume tudo isto com a expressão: «Na esperança fomos salvos». Isto é, caminhando desta forma, com esperança, estamos salvos, aqui podemos perguntar-nos se caminhamos com esperança ou estamos fechados, ou abertos, à esperança que ma faz caminhão, não só com Jesus. E uma bela pergunta a colocar-se.

Nas casas dos cristãos, durante o tempo do Advento, é preparado o presépio, segundo a tradição que remonta a S. Francisco de Assis. Na sua simplicidade, o presépio transmite esperança; cada personagem está imerso nesta atmosfera de esperança.

Antes de tudo notamos o lugar em que nasce Jesus: Belém. Pequeno burgo da Judeia onde mil anos antes tinha nascido David, o pastorinho eleito por Deus como rei de Israel. Belém não é uma capital, e por isso é preferida pela Providência divina, que gosta de agir através dos pequenos e dos humildes. Naquele lugar nasce o «filho de David» tão esperado, Jesus, no qual a esperança de Deus e a esperança do homem se encontram.

Depois olhamos Maria, Mãe da esperança. Com o seu “sim” abriu a Deus a porta do nosso mundo: o seu coração de jovem estava repleto de esperança, toda animada pela fé; e assim Deus escolheu-a e ela acreditou na sua palavra. Aquela que por nove meses foi a arca da nova e eterna Aliança, na gruta contempla o Menino e vê nele o amor de Deus, que vem para salvar o seu povo e toda a humanidade.

Junto a Maria está José, descendente de Jessé e de David; também ele acreditou na palavra do anjo, e olhando para Jesus na manjedoura medita que aquele Menino vem do espírito Santo, e que o próprio Deus lhe ordenou que o chamasse assim, “Jesus”. Nesse nome está a esperança para cada homem, porque mediante aquele filho de mulher Deus salvará a humanidade da morte e do pecado. Por isso é importante ver o presépio.

E no presépio estão os pastores, que representam os humildes e os pobres que esperavam o Messias, o «conforto de Israel» e a «redenção de Jerusalém». Naquele Menino veem a realização das promessas e esperam que a salvação de Deus chegue finalmente para cada um deles. Quem confia nas próprias, sobretudo materiais, não espera a salvação de Deus. As seguranças próprias não nos salvarão, a única segurança que nos salva é a esperança em Deus, ela que nos faz caminhar para o bem, com alegria e com alegria de se tornar feliz por toda a eternidade. Os pequenos, ao invés, confiam em Deus, esperam nele e rejubilam quando reconhecem naquele Menino o sinal indicado pelos anjos.

E precisamente o coro dos anjos anuncia do alto o grande desígnio que aquele Menino realiza: «Glória a Deus no mais alto dos céus e sobre a terra paz aos homens, que Ele ama». A esperança cristã exprime-se no louvor e no agradecimento a Deus, que inaugurou o seu Reino de amor, de justiça e de paz.

Nestes dias, contemplando o presépio, preparamo-nos para o Natal do Senhor. Será verdadeiramente uma festa se acolhermos Jesus, semente de esperança que Deus depõe nos sulcos da nossa história pessoal e comunitária. Cada “sim” a Jesus que vem é uma semente de esperança; tenhamos confiança neste gérmen de esperança, neste “sim” que nos quer salvar. Bom Natal de esperança a todos!

 

Papa Francisco
Audiência geral, Vaticano, 21.12.2016
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 21.12.2016
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Advento-Natal-Ano Novo: Tempo de “Kairós”! https://observatoriodaevangelizacao.com/advento-natal-ano-novo-tempo-de-kairos/ Mon, 01 Dec 2014 16:28:29 +0000 http://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=411 [Leia mais...]]]> BREVIDADE

Tornou-se comum ouvir e também repetir: a vida atual é estressante, doentia e infernal! Até quando irei aguentar, meu Deus do céu? Tal constatação levanta uma série de questionamentos.  Elenquemos na primeira pessoa do plural: somos nós que configuramos a vida nesse ritmo alucinado e insuportável? Estamos submetidos, de modo incontornável e inevitável, a essa conformação da vida, ainda que constatada como realidade abominável? Temos ou não temos escolhas? Que preço nós pagaremos se continuarmos a viver assim? E se decidirmos mudar, andar na contramão e assumir outra direção, a conta é mais cara?

Alguns dizem que gostariam de ter coragem de mudar de vida. Outros que até pensam, em algum dia, “chutar o pau da barraca” e dizer: “basta, não quero mais viver assim”. Mas na hora do “vamos ver”, ficam paralisados diante do medo. Muitos reconhecem o peso que brota da insegurança. Surge, imediatamente, a sedutora tentação do “deixo a vida me levar”. Resultado: tornam-se pusilânimes e titubeantes diante de qualquer decisão! Mas será que realmente tais pessoas já sabem o que querem?

Penso que, no fundo, o problema seja outro. Não vivemos em uma aporia ou em uma espécie de “beco sem saída”. Acontece que, geralmente, nós não temos o hábito para tirar tempo para nós. Tempo para a interiorização, reflexão e discernimento. Essas se revelam experiências humanas fundamentais na conquista do autoconhecimento. É claro que um bom livro ajuda ou, dentre outras experiências, uma viagem, palestra, filme, fracasso. Mas nenhuma substitui a do “tirar um tempo para si mesmo”. Quem para interiorizar, refletir e discernir, não tende a tornar-se escravo de “Kronos”, o tempo marcado pelo relógio (cronômetro), determinado pelo calendário ou agenda? Trata-se daquilo que mensura, organiza e determina a vida cotidiana. O tempo cronológico cria a rotina necessária para a vida em sociedade.

Acontece que o ser humano é, intrinsecamente, liberdade, autonomia, indeterminação, criatividade, originalidade, singularidade… Poderíamos continuar a lista de vocábulos para traduzir a nossa condição. Por isso precisamos de “Kairós”. Somos insaciavelmente famintos de tempo livre, de ócio, de gratuidade. Protestamos contra o total controle, robotização, massificação e automatismo da vida. Caso contrário, ficamos doentes ou nos suicidamos, ainda que às prestações!

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O que desejo a você que me acompanhou até aqui? Que o tempo do Advento-Natal-Ano Novo seja, de fato, um tempo rico de experiências humanizantes, propício para favorecer experiências de interiorização, reflexão e discernimento. Que seja um tempo de profunda humanização, pois, o mundo que sonho e que procuro diariamente ajudar a construir só existirá com pessoas melhores!

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

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