Natal: culto ao consumo? – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 19 Dec 2019 12:02:58 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Natal: culto ao consumo? – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Natal: culto ao consumo?, confiram a provocante reflexão do prof. pe. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/natal-culto-ao-consumo-confiram-a-provocante-reflexao-do-prof-pe-elio-gasda-sj/ Thu, 19 Dec 2019 12:02:58 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33840 [Leia mais...]]]> É Natal! Desde muito pequenos somos estimulados a sonhar. Fazer pedidos a Papai Noel. Ainda criança somos encorajados ao consumismo. Crescemos e capitalizamos os sonhos. Entendemos que Papai Noel é o sinônimo de mercado. O capitalismo neoliberal transforma tudo em comércio. O Natal foi descristianizado. Jesus tornou-se personagem secundário.

No empenho utópico do capitalismo neoliberal, o capital tornou-se a mais poderosa estrutura de controle, tudo deve se ajustar a ele. A autonomia, a liberdade e a religião foram usurpadas pelo fascínio do dinheiro. Materializamos os sonhos.

A exploração do trabalho é o pilar de sustentação desse modelo. Um modelo econômico que funciona baseado, por um lado, na lógica da acumulação ilimitada, e por outro lado, na miséria do operário necessitado de vender seu trabalho. O trabalho foi convertido em mercadoria. Não só o trabalho, mas tudo tem o seu preço e deve ser encontrado no mercado. O que não cria valor para o capital não vale nada.

Para que esta economia funcione, se faz necessária a subordinação da política. Portanto, será sempre uma economia política de mercado. A maximização da riqueza torna-se a medida da economia e da sociedade. Desigualdade de riqueza e de renda é uma característica essencial deste modelo de economia. De acordo com OXFAM apenas oito homens possuem a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade. Uma em cada nove pessoas sobrevive com menos de U$ 2 por dia. A fortuna dos bilionários do mundo aumentou 12% em 2018 (US$ 900 bilhões), ou US$ 2,5 bilhões por dia, enquanto a metade mais pobre do planeta (3,8 bilhões de pessoas) viu sua riqueza reduzida em 11%.

O Brasil tem uma das mais altas concentrações de renda do mundo, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da ONU. O país está em segundo lugar em má distribuição de renda, atrás apenas do Catar. Os 10% mais ricos no Brasil concentram 41,9% da renda total. “Assim como o mandamento ‘não matar’ põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigual­dade social’… Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco” (Evangelii gaudium, 53).

O fim último da economia não está na economia, mas na sua finalidade. Economia é o estudo do abastecimento material da casa familiar ou da cidade. Tem uma dimensão natural e vital. Toda comunidade está constituída em vista de algum bem. A economia não é uma estrutura independente da realidade humana. Não se separa da natureza, da razão e do bem da cidade. As escolhas, tanto na ordem dos fins quanto na ordem dos meios supõe a ética. Papa Francisco tem sido um dos críticos mais ferrenhos do modelo atual econômico: “Os recursos da terra estão sendo depredados também por causa de formas imediatistas de entender a economia e a atividade comercial e produtiva” (Laudato sí, 32).

Por que continuamos estimulando nossas crianças ao consumismo, por que não reagimos? Porque a sociedade está anestesiada pela cultura do bem-estar (Evangelii gaudium, 54). É urgente dizer não ao consumismo que reprime a solidariedade e neutraliza a consciência da responsabilidade pelo bem comum. Para o papa, “a economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas administração da casa comum. Isto implica cuidar da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. Uma economia verdadeiramente comunitária – uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos. A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é filantropia. É dever moral. Para os cristãos é mandamento devolver aos pobres o que lhes pertence”.

Toda pessoa é uma imagem e semelhança de Deus dotada de uma dignidade e valor irredutível. A melhor ordem econômica é aquela que busca preservar essa dignidade fundada na Trindade Santa. “O princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais é a pessoa humana, a qual, por sua mesma natureza, tem absoluta necessidade da vida social” (GS, 25).

O humanismo autêntico requer que se removam as principais fontes de privação da dignidade: pobreza, carência de oportunidades econômicas, negligência dos serviços públicos, intolerância ou interferência de Estados repressivos. Atender as reivindicações mínimas para que as pessoas possam existir dignamente. Oxalá o Natal do Senhor, representado na misteriosa imagem do presépio, possibilite repensar as regras do jogo:

O Presépio é um convite a sentir, a tocar a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento. As ruínas e os pobres ali representados recordam que eles são os privilegiados deste mistério. Não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade” (Admirabile signum, carta apostólica do papa Francisco sobre o presépio).

“A simplicidade é o último grau da sabedoria e só os sábios conseguem vê-la” (Khalil Gibran).

Fonte:

www.domtotal.com

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