Movimentos Populares – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 06 Nov 2020 03:07:44 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Movimentos Populares – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Seminário “Economia de Francisco e Clara para América Latina e Caribe” https://observatoriodaevangelizacao.com/seminario-economia-de-francisco-e-clara-para-america-latina-e-caribe/ Fri, 06 Nov 2020 03:07:44 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=36218 [Leia mais...]]]> O seminário “Economía de Francisco y Clara para América Latina e Caribe” acontecerá online nos dias 7 e 8 de novembro de 2020. Discutiremos sobre as alternativas econômicas que brotam do sul global. Em sintonia com o evento convocado pelo papa Francisco, que acontecerá virtualmente em Assis, na Itália, a iniciativa Latino Americana e Caribenha surge como contraposição ao modelo econômico capitalista.

As atividades são organizadas por um coletivo de movimentos sociais e eclesiais da América Latina em consonância com o encontro que acontecerá virtualmente nos dias 20, 21 e 22 de novembro, convocado pelo papa Francisco para “estabelecer um “pacto” para mudar a economia de hoje e dar alma à economia do amanhã”.

🔔 Serviço:

🔎 O que:​ Seminário “Economía de Francisco y Clara para América Latina e Caribe”
⏰ Quando: 7 e 8 de novembro de 2020
🖌 Organização:​ Movimentos Sociais e Eclesiais da América Latina
🔑 Onde:
07/11, às 14h: ​https://youtu.be/g8tLXlbhcqk
08/11, às 14h: ​https://youtu.be/hoV2OHGtbrA

Nossa América, 30 de outubro de 2020

Seminário Economia de Francisco e Clara: neste encontro, juventudes da América Latina e Caribe refletem alternativas econômicas ao capitalismo


O seminário “Economía de Francisco y Clara para América Latina e Caribe”, que acontecerá online nos dias 7 e 8 de novembro, propõe escutar as alternativas econômicas que brotam do sul global. Em sintonia com o evento convocado pelo papa Francisco, que acontecerá virtualmente em Assis, na Itália, a iniciativa Latino Americana e Caribenha surge como contraposição a um “modelo econômico baseado na ganancia” (cf. FT 22).

No dia 24 de outubro, aconteceu o IV Encontro dos Movimentos Populares com o Vaticano. Na ocasião, jovens apresentaram as propostas dos movimentos e organizações populares de todo o globo para o Encontro da Economia de Francisco [e Clara]. Durante o encontro, que contou com a presença dos cardeais Michael Czerny e Peter Turkson, se apontou preocupações com os setores econômicos que pretendem se apropriar da proposta econômica franciscoclareana. “Identificamos que determinados sectores procuram domesticar o seu pensamento [do Papa] e espartilhá-lo nas estreitas margens da administração do existente“, ressaltou o documento entregue ao Vaticano. “Entre estes, perpetradores dos mais atrozes crimes ambientais e sociais pretendem até salvar as aparências, financiando alguns eventos em seu nome“.

Em consonância com a elaboração e lançamento do texto, o presente seminário específico para o continente pretende refletir alternativas sistêmicas de desenvolvimento. Debatedores trarão reflexões e práticas que reflitam de forma integral sustentabilidade, desenvolvimento e justiça social. No debate proposto para o primeiro dia do seminário, João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Irene León, da Rede de Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em defesa da humanidade, comporão a mesa “La Crisis del Capitalismo y las Alternativas Econômicas“. O teólogo e filósofo Leonardo Boff, juntamente com a Elisbeth Torres, do 27 de outubro, movimento da região amazônica da Venezuela, compõem a mesa do segundo dia com o tema “Amazonia y la Soberanía de los Pueblos“, em uma reflexão sobre a Pan-Amazônia, território usurpado em seus biomas e saberes em distintas fases exploradoras da América Latina.

Alternativas que brotam dos territórios

Um outro mundo já não é apenas possível, se não necessário. Às alternativas econômicas ao capitalismo monopolista e neoliberal – hegemonizado pelas finanças – não será obra do grande capital. São os povos, as mulheres, as comunidades, os trabalhadores através das suas organizações sociais, que construirão – no presente e o futuro – as condições de superação desse modelo e de avanço para uma economia pós-capitalista.

O seminário “Economía de Francisco y Clara para América Latina e Caribe” é organizado por um coletivo de movimentos sociais e eclesiais da América Latina em consonância com o encontro que acontecerá em Assis, Itália, convocado pelo papa Francisco para “estabelecer um “pacto” para mudar a economia de hoje e dar alma à economia de amanhã”. O papa Francisco convocou esse evento para debater, pensar e avaliar novos modelos econômicos.

Os jovens inscritos no encontro com o papa Francisco se engajam ao prepararem o seminário formativo e afirmarem, através do documento elaborado, que a Economia de Francisco e Clara é anticapitalista: “(…) queremos propor uma visão que consideramos em sintonia com a radicalidade dos seus ensinamentos (do papa Francisco), e com a natureza revolucionária da fé cristã”, pontua o texto. “Queremos também colaborar para construir e dar visibilidade a experiências alternativas de ser e trabalhar, de usufruir dos bens da natureza, que não respondam à racionalidade do deus dinheiro, mas sim à necessidade do bem viver do nosso povo”.

Contato:
E-mail: eofc.americalatina@gmail.com
Telefones: +55 31 998726266 (Marina Oliveira) e +55 54 996530369 (Guilherme Cavalli)

Organizações que apoiam o seminário:

  1. Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Brasil
  2. Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Brasil
  3. Movimento dos Pequenos Agricultores, Brasil
  4. ALBA, Nuestra América
  5. Levante Popular da Juventude, Brasil
  6. CTEP, Argentina
  7. Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (RENSER, Arquidiocese de Belo Horizonte)
  8. Rede Igrejas e Mineração, Nuestra América
  9. Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, Brasil
  10. Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) – Brasil
  11. Movimento Católico Global pelo Clima
  12. SINFRAJUPE, Brasil
  13. PAPDA, Haití
  14. Cáritas Nacional, Brasil
  15. Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Brasil
  16. Católicos Contra o Fascismo
  17. Campaña de Desinversión en Minería
  18. Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Brasil
  19. Comissão Pastoral da Terra (CPT), Brasil
  20. Cáritas Regional Minas Gerais, Brasil
  21. Semana Social Brasileira, Brasil
  22. Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Brasil
  23. Coletivo das Pastorais do Campo, Brasil
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“Primavera dos movimentos sociais”, com a palavra Pe. Alfredo J. Gonçalves https://observatoriodaevangelizacao.com/primavera-dos-movimentos-sociais-com-a-palavra-pe-alfredo-j-goncalves/ Tue, 15 Sep 2020 22:29:07 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=35649 [Leia mais...]]]>

Com a primavera batendo à porta, a pergunta emerge com energia redobrada: quando nos será lícito e legítimo utilizar a expressão do título para anunciar, em alto e bom som, um novo despertar das forças sociais!

Lembro que, no final da década de 1990, então como assessor do Setor Pastoral Social da CNBB, eu mesmo me vali dessa formulação num comentário destinado à análise de conjuntura. Atravessávamos outros desertos, os tempos se revelavam frutuosos, efervescentes e auspiciosos! Celebrava-se em todo mundo um triênio de preparação ao grande Jubileu do ano 2000. Paralelos e complementares aos eventos promovidos pela comemoração dessa data jubilar, transcorriam os debates da 3ª Semana Social Brasileira (SSB). O Grito dos Excluídos caminhava para a sua 5ª edição, enquanto se fortalecia a Campanha Jubileu Sul. Os plebiscitos populares levavam às ruas milhões de pessoas em todo território nacional.

Uma série de igarapés convergiam para o rio caudaloso de um novo projeto popular para o país. Iniciativa sempre em construção e que foi batizada pelas Semanas Sociais Brasileiras como “O Brasil que queremos”. Águas rebeldes e represadas, por isso mesmo portentosas, que, de alguma forma, indicavam um horizonte plural, aberto e democrático. Eram significativos tempos de madura safra, embora não tivéssemos consciência da colheita. Mas os frutos brotavam do chão com relativa abundância. Na evolução de um processo histórico, terá havido alguma geração com a sorte de presenciar mais de uma colheita! O mais razoável e menos frustrante é contentarmo-nos com apenas uma, ou tão somente com seus botões apontando “um novo céu e uma nova terra”.

Certo, não podemos esquecer que está em curso a 6ª Semana Social Brasileira, com o lema “Mutirão pela vida – por terra, teto e trabalho”. A exemplo das últimas, trata-se menos de eventos localizados no tempo e no espaço, do que um processo de debates que se desenvolve de norte a sul, de leste a oeste. Lançada na 58ª Assembleia Geral da CNBB, em abril de 2020, deverá desenrolar-se até julho de 2022. Em termos de participação de movimentos, entidades e organizações, entretanto, torna-se difícil comparar com as edições anteriores. Evidente, com a pandemia do Covid-19, estamos atravessando um terreno hostil e minado, inóspito e desconhecido. Mas, antes mesmo desse flagelo global, já era conhecida e notória a sonolência letárgica de não poucas organizações populares, junta mente com algumas de suas lideranças. Vale uma ressalva diante das inúmeras iniciativas solidárias em favor dos infectados e afetados pelo novo coronavírus, esse “inimigo silencioso e invisível”, como também em favor dos trabalhadores e trabalhadoras igualmente “invisíveis” e às famílias enlutadas de mais de 130 mil mortos.

A apatia e o desencanto, porém, parecem se perpetuar. Em que momento nos passaram uma rasteira que deixou no íntimo de cada um de nós, liderança, agente pastoral ou social, um gosto amargo de derrota, além da dificuldade de reerguer-se! Existe algum culpado de tal rasteira! Ou teríamos sido nós mesmos seus verdadeiros protagonistas, sofrendo-a a partir das entranhas do processo de conscientizaçãoorganização e mobilização! Hoje padecemos de uma espécie de saudade mórbida e doentia. Se por uma parte a saudade pode ser até remédio para alguns males, por outra o saudosismo é sempre venenoso. Amarra pés e mãos; cristaliza, petrifica e fossiliza a memória, o que equivale a paralisar a mente e a inteligência. Lamentar as mágoas do “paraíso perdido” irremediavelmente no passado costuma levar à miopia ou à cegueira. Mesmo na narrativa bíblica do livro de Gênesis, a expulsão do jardim idílico vem acompanhada com a necessidade de “buscar o pão com o suor do trabalho”.

O grande desafio que se coloca é justamente o de colocar em ação “o suor do trabalho” para resgatar e revigorar as energias sociais, hoje soltas e fragmentadas. Quem sabe rever o trabalho de base ou “de formiguinha”, no sentido de cavar fundo o solo árido para nele, e só a partir dele, encontrar a umidade e os ingredientes que nutrem a vida e a mudança. Sem mergulhar as raízes na terra, a flor, a espiga e a planta não podem se levantar do chão.

Fonte:

IHU

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Um prefácio escrito pelo papa Francisco como impulso profético para a "primavera das pastorais sociais", das CEBs e dos movimentos populares https://observatoriodaevangelizacao.com/o-prefacio-do-papa-francisco-como-impulso-profetico-para-uma-primavera-das-pastorais-sociais/ Tue, 17 Dec 2019 13:39:16 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33831 [Leia mais...]]]> Apresentação

Fico particularmente muito feliz de abrir este volume, resultado da reflexão de muitas vozes, de um grupo de estudiosos de diferentes áreas e competências, que releram a experiência dos assim chamados “Movimentos Populares”, reconstruindo a gênese, os eventos, o desenvolvimento e o significado que teve esse ciclo de encontros com o Papa. Um acontecimento verdadeiramente sem precedentes na história recente da Igreja, da qual é útil recordar.

Esse arquipélago de grupos – associações, movimentos, trabalhadores precários, famílias sem-teto, camponeses sem-terra, trabalhadores ambulantes, vendedores de semáforos, artesãos de rua, representantes de um mundo de pobres, excluídos, não considerados, irrelevantes, que cheiram “a bairro, a povo, a luta” – representa, no panorama de nosso mundo contemporâneo, uma semente, um broto que, como a mostarda, dará muitos frutos: a alavanca de uma grande transformação social.

O futuro da humanidade “não está apenas nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos do povo, em sua capacidade de se organizar e também em suas mãos que regam esse processo de transformação com humildade e convicção ”[1].

Estes “movimentos de pequenos”, que eu defini como “poetas sociais”, homens da periferia, uma vez no centro, como está bem explicitado neste livro, com sua própria bagagem de lutas desiguais e sonhos de resistência, estão colocando na presença de Deus, da Igreja e dos povos, uma realidade frequentemente ignorada e que, graças ao protagonismo e a firmeza profética de seu testemunho, está vindo à luz. Pobres que não se resignaram em sofrer na própria carne uma realidade violenta de injustiça e exploração, mas, ao contrário, que escolheram, como Jesus dócil e humilde de coração, se rebelar pacificamente “de mãos nuas” contra ela. Os pobres não são somente os destinatários preferidos da ação evangelizadora da Igreja, os privilegiados de sua missão, eles são sobretudo sujeitos ativos. Por isso, em nome da Igreja, quero expressar minha mais sincera solidariedade a esta galáxia de homens e associações que anseiam pela felicidade do “bem viver” e não aquele ideal egoísta de “vida boa”. Quero acompanhá-los em sua histórica caminhada autônoma. Essa rede de movimentos transnacionais, transculturais e de várias culturas religiosas representa uma expressão histórica tangível, no modelo poliédrico [2], onde se encontra na base um outro paradigma social, o da cultura do encontro. Uma cultura que tem a ver com a outra, com a diferente de si mesma.

Do conteúdo deste livro, que espero sinceramente que ajude a muitos entender com profundidade e a dar maior visibilidade e significado ao valor dessas experiências, quero sublinhar brevemente alguns aspectos que me parecem muito importantes, na esperança de que as palavras que eu lhes dirigir contribuam para despertar nas consciências daqueles que governam os destinos deste mundo, um renovado senso de humanidade e de justiça, para mitigar as condições hostis nas quais os pobres vivem no mundo.

Os movimentos populares, e esta é a primeira coisa que quero sublinhar, na minha opinião, representam uma grande alternativa social, um grito profundo, um sinal de contradição, uma esperança de que “tudo pode mudar”. Em seu desejo de não se conformar com esse sentido único, centrado na tirania do dinheiro, mostram com a própria vida, com seu trabalho, com seu testemunho, com seu sofrimento que é possível resistir e agir com coragem, boas decisões e seguir na contramão. Gosto de imaginar esse arquipélago de “descartados” do sistema, que comprometendo o planeta inteiro, como “sentinelas” que – mesmo no escuro da noite – perscrutam com esperança um futuro melhor.

O momento em que vivemos é caracterizado por um cenário sem precedentes na história da humanidade, que tentei descrever através de uma expressão sintética que é necessário compreender: “mais do que uma época de mudança, vivemos uma mudança de época”, necessário para entender . Uma das manifestações mais evidentes dessa mutação é a crise transnacional da democracia liberal. Resultado da transformação humana e antropológica, produto da “globalização da indiferença”, à qual tenho mencionado tantas vezes, esta crise gerou um “novo ídolo”: o do medo e da busca de segurança, da qual hoje um dos sinais mais tangíveis é a familiaridade que tantos têm com as armas e a cultura do desprezo, características do nosso tempo, que um notório historiador de nosso tempo definiu como: “a era da raiva”. O medo hoje passou a ser o meio de manipulação das civilizações, o agente causador de xenofobia e de racismo. Um terror semeado nas periferias do mundo – com saques, opressões e injustiças – que explode como vimos em nosso passado recente também nos centros do mundo Ocidental.

Os movimentos populares podem representar uma fonte de energia moral, para revitalizar nossas democracias, cada vez mais claudicantes, ameaçadas e colocadas na mesa de discussão em inúmeros fatores. Uma reserva de “paixão civil”, de “interesse gratuito pelo outro”, capaz de regenerar um renovado senso de participação, na construção de novos agrupamentos sociais que enfrentem as demandas, mostrando uma consciência mais positiva do outro. O antídoto para o populismo e para a política do espetáculo espetáculo está no protagonismo dos cidadãos organizados, particularmente daqueles que acreditam – como é o caso de tantas experiências presentes nos Movimentos – em suas pelejas cotidianas, enquanto fragmentos de outros mundos possíveis, e lutam para sobreviver à obscuridade da exclusão social. Dessas batalhas “grandes árvores crescerão, densas florestas de esperança surgirão para oxigenar este mundo”.[3] Os Movimentos Populares mostram que a “força de nós” é a resposta para esta hegemônica “cultura do eu”, que olha apenas para a satisfação dos próprios interesses, pois, cultivam – apesar de sua própria precariedade – o sonho de um outro mundo possível, diferente e mais humano.

O crescimento das desigualdades, agora globalizadas e transversais – e desigualdades não apenas econômicas, mas também sociais, cognitivas, relacionais e intergeracionais – é unanimemente reconhecido como um dos desafios mais graves com os quais a humanidade terá que enfrentar nas próximas décadas. Fruto de uma economia cada vez mais separada da ética, que privilegia o lucro e estimula a concorrência, causando uma concentração de poder e riquezas, que exclui como “o pobre Lázaro” bilhões de homens e mulheres . O “presente” para milhões de pessoas hoje é uma condenação, uma prisão marcada pela pobreza, pela exploração, pela falta de trabalho, mas sobretudo pela ausência de futuro. Um inferno que devemos por fim.

Nesse sentido, os Movimentos Populares – com sua “resiliência” – representam uma resistência ativa e popular a esse sistema idolátrico, que exclui e degrada, e com a experiência deles fica claro que a rivalidade, a inveja e a opressão não são necessariamente agentes de crescimento – pelo contrário – mostram que a concórdia, a gratuidade e a igualdade também podem fazer o produto interno bruto crescer.

Os três T

O direito aos “três T’s”: terra, teto e trabalho, direitos inalienáveis ​​e fundamentais, representa os pré-requisitos indispensáveis ​​de uma democracia não apenas formal, mas real, na qual todos os homens, independentemente de sua renda ou posição na escala social, são protagonistas ativos e responsáveis, atores de seu próprio destino. Sem participação, como alguns autores mostram e argumentam bem neste livro, a democracia se atrofia, torna-se uma mera formalidade porque deixa as pessoas de fora da construção de seu próprio destino.

Quero dar uma palavra sobre o terceiro desses “T”, que segundo a Doutrina Social da Igreja é um direito sagrado. Nos últimos anos, o mundo do trabalho mudou vertiginosamente. As recaídas antropológicas dessas transformações são profundas e radicais, e seus efeitos não estão totalmente claros. Há muito tempo estou convencido de que, no mundo pós-industrial, não há futuro para uma sociedade em que haja apenas “dar para ter” ou “dar por dever”.

Trata-se de “criar uma nova via de saída à sufocante alternativa entre as teses neoliberais e as neoestatais. Os movimentos populares são, nesse sentido, um testemunho concreto e tangível, que mostra que é possível contrastar a cultura do descarte, que considera homens, mulheres, crianças e idosos como excessos inúteis ou massa sobrante – e frequentemente prejudiciais – do processo produtivo, através da geração de novas formas de trabalho, centradas na dimensão solidária e comunitária, em uma economia artesanal e popular. Por tudo isso, decidi unir a minha voz e sustentar junto a causa de tantos que praticam os negócios mais humildes – na maioria das vezes, privados do direito a uma remuneração digna, à previdência social e cobertura de pensão. Nesse estado de paralisia e desorientação, a participação política dos movimentos populares pode derrotar a política dos falsos profetas, que exploram o medo e o desespero e que pregam um bem-estar egoísta e uma segurança ilusória.

Tudo o que lhes disse, como mostra este livro, está em total harmonia com a Doutrina social da Igreja e com o Magistério de meus antecessores. Espero, neste sentido, que a publicação deste livro seja uma maneira de continuar – embora à distância – a reforçar essas experiências, que antecipam com seus sonhos e lutas, a urgência de um novo humanismo, para acabar com o analfabetismo da compaixão e o eclipse progressivo da cultura e da noção de bem comum.”

Francisco

  • [1] Encontro com os movimentos populares, Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, 9 de julho de 2015.
  • [2] Evangelii Gaudium.
  • [3] Encontro com os movimentos populares, Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, 9 de julho de 2015.

Fonte:

www.vaticannews.va

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Entidades convocam 48h de mobilização em defesa da educação pública https://observatoriodaevangelizacao.com/entidades-convocam-48h-de-mobilizacao-em-defesa-da-educacao-publica/ Thu, 03 Oct 2019 12:00:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32036 [Leia mais...]]]> Ação evangelizadora e ação dos movimentos populares não são a mesma coisa, mas também não são opostas. Ao contrário, são chamadas a acontecerem de mãos dadas, pois, quando delas nos aproximamos percebemos que coincidem, ainda que suas motivações possam ser distintas, no objetivo maior: a defesa da dignidade da vida como bem maior. Veja quantas organizações se unem em defesa da educação pública, direito social durante conquistado e garantido na Constituição Federal:

UNE, ANPG e CNTE comandam protestos contra cortes de verbas, projeto “Future-se” e ingerência em escolas e universidades

Geisa Marques e Marcos Hermanson

Brasil de Fato | São Paulo (SP), 2 de Outubro de 2019 às 16:18

Entidades representativas de estudantes, professores e funcionários estão convocando novos atos contra cortes e medidas restritivas impostas pelo governo Bolsonaro desde o início do mandato. Os atos acontecem nesta quarta-feira (2) e na quinta (3). 

Entre as bandeiras estão a reversão do corte de 11.800 bolsas de pesquisa da CAPES e do CNPQ e do contingenciamento de R$ 6,9 bi no orçamento das instituições federais de ensino (IFEs). Na segunda-feira (30), o governo informou que, do total bloqueado de universidades e institutos, R$ 1,1 bilhão deve ser liberado.

A intervenção do governo federal em processos eleitorais internos das universidades, a extinção do documento nacional estudantil – principal fonte de renda das entidades representativas – e a liberdade de manifestação dentro das instituições também entraram na pauta.  

Por último, os manifestantes lutam para derrubar o Projeto Future-se, que prevê a atuação de Organizações Sociais (OSs) na administração e no financiamento das universidades públicas. Até o momento, das 63 instituições federais de ensino no Brasil, 23 declararam publicamente a rejeição ao projeto.

Autonomia

O professor e presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, comentou sobre a proposta em entrevista à Rádio Brasil de Fato, nesta quarta-feira (02):

O Future-se tira da universidade a sua autonomia para entregá-la a organizações sociais, para que essa gestão busque recursos do setor privado. Isso tira o caráter público que tem a universidade, tanto para o seu acesso quanto para as pesquisas e estudos que visam dar retorno à sociedade. Por isso, a grande maioria das universidades já rejeitou fazer a adesão”.

O programa do governo que incentiva a criação de escolas cívico-militares em estados e municípios, lançado no último dia 5 de setembro, também é um dos alvos das mobilizações.

Heleno Araújo classifica a medida como “outra aberração”. Articulado pelos Ministérios da Educação (MEC) e da Defesa, o projeto prevê que militares da reserva das Forças Armadas trabalhem em escolas públicas nas fases do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

Quanto aos professores civis, o governo afirma que deverá mantê-los como responsáveis pela parte didática – enquanto a gestão das unidades ficaria sob cuidado de militares. O programa permite ainda que estados e municípios desloquem bombeiros e policiais para atuarem na organização das escolas e na “disciplina”. 

Não aceitamos colocar dentro de uma escola pública uma gestão de 15 policiais para mandar em professores, em diretores, definindo regras militares para a escola do povo, pública, laica e gratuita, como deve ser”.

Confira abaixo lista de atos que ocorrerão amanhã

Fonte:

www.brasildefato.com.br

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Mobilizações, resistências, lutas e a dimensão profética da evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com/mobilizacoes-resistencias-lutas-e-dimensao-profetica-da-evangelizacao/ Mon, 23 Sep 2019 13:22:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31769 [Leia mais...]]]> O anúncio-testemunho do Evangelho criou incontáveis conflitos na vida de Jesus de Nazaré e de seus discípulos e discípulas ao longo da história do Cristianismo. O martírio sempre foi uma realidade presente na dinâmica profética da Igreja que não pode ser indiferente à situação degradante dos filhos e filhas de Deus.

Apesar disso, muitos cristãos ainda não percebem a relação direta e inseparável entre as duas faces da mesma moeda: de um lado, a ação transformadora impulsionada no interior das pessoas – famílias, comunidades, grupos, movimentos… – que acolhem a interpelação e a inquietude do Evangelho do Reino que, pela experiência do amor de Deus-Pai, nos irmana e nos compromete com a prática da justiça e do amor fraterno-sororal, de outro, o despertar, a coragem, a determinação, a resistência, a teimosia e a luta dos movimentos populares em defesa da vida, da cidadania e contra as injustiças sociais. Quando as sementes do Evangelho caem no coração humano, e aí encontram um terreno fértil, a pessoa é despertada e envolvida por um processo de conversão e transformação por causa do encontro de fé com a pessoa de Jesus Cristo e que, pela força do Espírito Santo, é experimentado vivo, atuante e estradeiro conosco. Deus é experimentado como o Deus da vida que tem como projeto salvífico vida de partilha e em abundância para todos os seus filhos e filhas.

Bombozila.com a plataforma da mobilização, da resistência e da luta dos movimentos populares.
Bombozila.com a plataforma da mobilização, da resistência e da luta dos movimentos populares.

Depois que o papa Francisco reuniu por três vezes, algo praticamente singular em relação à dinâmica dos últimos pontificados, com as lideranças dos movimentos populares espalhados pelo mundo inteiro muitos passaram a dar mais atenção e abrir-se a esta necessária reflexão.

Para ajudar nesta urgente mudança de mentalidade, o Observatório da Evangelização publica a matéria a seguir do site Brasil de Fato. Vale a pena conferir:

Bombozila: documentários sobre mobilizações e resistências no Brasil, América Latina e em todo o mundo

Na categoria "Luta Pela Terra" estão produções brasileiras como "Terra e sangue" e "Margaridas, luta e pé na estrada" / Reprodução
Na categoria “Luta Pela Terra” estão produções brasileiras como “Terra e sangue” e “Margaridas, luta e pé na estrada” / Reprodução

Conhecida como “Netflix” das lutas sociais, a plataforma Bombozila reúne mais de 400 documentários independentes sobre mobilizações e resistências no Brasil, América Latina e em todo o mundo.

Criada em 2016, no Rio de Janeiro, por iniciativa da comunicadora chilena Sabina Alvarez e do cineasta brasileiro Victor Ribeiro, o site reúne produções audiovisuais independentes sobre diversos temas políticos, como luta pela terra, diáspora africana, luta indígena, entre outros.

Entre as produções brasileiras estão documentários como Terra e Sangue, sobre os bastidores do massacre em Pau D’Arco (Pará), quando dez trabalhadores rurais foram assassinados durante uma ação policial em 2017,  e Margaridas, luta e pé na estrada, sobre a articulação das mulheres rurais na Marcha das Margaridas.

Disponibilizado em três idiomas – português, espanhol e inglês –, o portal reúne também produções internacionais como Guerrero, produzido pelo cineasta francês Ludovic Bonleux, sobre o trabalho de três ativistas na zona rural do sudoeste do México e Chávez infinito, uma produção independente venezuelana sobre o líder bolivariano.

Segundo os organizadores do site, a proposta tem entre seus objetivos divulgar o trabalho de “documentaristas que atendem à urgência política dos nossos territórios em luta e resistência“.

O coletivo, composto atualmente por cinco integrantes, realiza também oficinas de formação audiovisual com o objetivo de democratizar o acesso à comunicação e fomentar a produção audiovisual popular.

Fonte:

Brasil de Fato

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Francisco chama os movimentos populares de “Sentinelas de um futuro melhor” e “uma alavanca de transformação social” https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-chama-os-movimentos-populares-de-sentinelas-de-um-futuro-melhor-e-uma-alavanca-de-transformacao-social/ https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-chama-os-movimentos-populares-de-sentinelas-de-um-futuro-melhor-e-uma-alavanca-de-transformacao-social/#comments Wed, 04 Sep 2019 21:00:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31395 [Leia mais...]]]> No prefácio do livro “A irrupção dos Movimentos Populares: Rerum novarum do nosso tempo“, escrito de próprio punho, Francisco afirma que os movimentos populares são:

  • alavanca de grande transformação social;
  • representam uma grande alternativa social, um grito profundo, um marco, uma esperança de que “tudo pode mudar
  • sentinelas de um futuro melhor;
  • protagonistas ativos, agentes do futuro da humanidade;
  • uma fonte de energia moral para revitalizar nossas democracias;
  • um antídoto contra os populismos e a política do espetáculo, já que privilegiam a participação da cidadania, com uma consciência mais positiva sobre o outro;
  • promoção de uma “força do nós”, que se opõe à “cultura do eu”.
SS. Papa Francesco – Udienza Movimenti Popolari 05-11-2016 @Servizio Fotografico – L’Osservatore Romano

Francisco clama por um novo humanismo, que coloque fim ao analfabetismo da compaixão e ao progressivo eclipse da cultura e da noção de bem comum

Com um prefácio de seu próprio punho, o papa Francisco apresenta um livro que reúne cinco anos de reflexão sobre o trabalho de milhares de associações que, atuando como “uma alavanca de transformação social”, lutam por um estilo de desenvolvimento justo e inclusivo.

Cidade do Vaticano

O profundo valor e os desafios de centenas de associações sociais que lutam contra a exclusão no mundo é o tema central do prefácio que o papa Francisco escreveu para o livro “A irrupção dos Movimentos Populares: Rerum novarum do nosso tempo”.

Esta edição, preparada pela Pontifícia Comissão para a América Latina, oferece os principais pronunciamentos feitos nos Encontros Mundiais que, desde 2014, reuniu milhares de representantes de Movimentos Populares em diversas partes do continente americano.

Alavanca de grande transformação social

Papa Francisco começa a sua reflexão afirmando que as pessoas que vivem nas periferias territoriais e existenciais não são só um setor da população que deve ser alcançada pela Igreja, mas são «uma semente, uma renovação que, como o grão de mostarda, dará muito fruto», porque os concebe como «alavanca de uma grande transformação social». 

Assim, não são atores passivos ou meros receptores de assistência social, que devem resignar-se a contemplar como as elites administram a ordem mundial, mas são verdadeiros protagonistas ativos, agentes do futuro da humanidade, cuja “rebelião pacífica”, à imagem de Jesus manso e humilde, conta com a solidariedade incondicional do Santo Padre.

Francisco reconhece nesta articulação dos movimentos sociais de carácter transnacional e transcultural aquele “modelo poliédrico” ao qual fez referência em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (nº2), e que se constitui a partir de um paradigma social baseado na cultura do encontro.

Sentinelas de um futuro melhor

Para Francisco, esta pluralidade de movimentos, cujas experiências de luta pela justiça ficam plasmadas no livro, «representam uma grande alternativa social, um grito profundo, um marco, uma esperança de que “tudo pode mudar”». Seu modo de resistir ao modelo reinante por meio de um testemunho de trabalho e sofrimento os revela como “sentinelas” de um futuro melhor.

Reafirmando sua convicção de que a humanidade enfrenta atualmente uma transformação de época caracterizada pelo medo, pela xenofobia e pelo racismo, o Santo Padre garante que os «Movimentos Populares podem representar uma fonte de energia moral para revitalizar nossas democracias».

Antídoto aos populismos

De fato, em meio a uma sociedade global ferida por uma economia cada vez mais distante da ética, afirma que estes agregados sociais podem exercer a função de um antídoto contra os populismos e a política do espetáculo, já que privilegiam a participação da cidadania, com uma consciência mais positiva sobre o outro. Essa é a consequência da promoção de uma “força do nós”, que se opõe à “cultura do eu”.

Ao finalizar suas palavras, Francisco enfatiza o tema do trabalho humano como um daqueles direitos sagrados que deve ser preservado em cada pessoa. Frente às concreções práticas de teses neoliberais e neoestatais, que sufocam e oprimem as pessoas em suas experiências profissionais, Francisco clama por um «novo humanismo, que coloque fim ao analfabetismo da compaixão e ao progressivo eclipse da cultura e da noção de bem comum».

Confira, a seguir, o texto integral escrito de próprio punho pelo papa Francisco como apresentação do livro

(Tradução de Edward Guimarães para o Observatório da Evangelização)

Apresentação

Fico particularmente muito feliz de abrir este volume, resultado da reflexão de muitas vozes, de um grupo de estudiosos de diferentes áreas e competências, que releram a experiência dos assim chamados “Movimentos Populares”, reconstruindo a gênese, os eventos, o desenvolvimento e o significado que teve esse ciclo de encontros com o Papa. Um acontecimento verdadeiramente sem precedentes na história recente da Igreja, da qual é útil recordar.

Esse arquipélago de grupos – associações, movimentos, trabalhadores precários, famílias sem-teto, camponeses sem-terra, trabalhadores ambulantes, vendedores de semáforos, artesãos de rua, representantes de um mundo de pobres, excluídos, não considerados, irrelevantes, que cheiram “a bairro, a povo, a luta” – representa, no panorama de nosso mundo contemporâneo, uma semente, um broto que, como a mostarda, dará muitos frutos: a alavanca de uma grande transformação social.

O futuro da humanidade “não está apenas nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos do povo, em sua capacidade de se organizar e também em suas mãos que regam esse processo de transformação com humildade e convicção ”[1].

Estes “movimentos de pequenos”, que eu defini como “poetas sociais”, homens da periferia, uma vez no centro, como está bem explicitado neste livro, com sua própria bagagem de lutas desiguais e sonhos de resistência, estão colocando na presença de Deus, da Igreja e dos povos, uma realidade frequentemente ignorada e que, graças ao protagonismo e a firmeza profética de seu testemunho, está vindo à luz. Pobres que não se resignaram em sofrer na própria carne uma realidade violenta de injustiça e exploração, mas, ao contrário, que escolheram, como Jesus dócil e humilde de coração, se rebelar pacificamente “de mãos nuas” contra ela. Os pobres não são somente os destinatários preferidos da ação evangelizadora da Igreja, os privilegiados de sua missão, eles são sobretudo sujeitos ativos. Por isso, em nome da Igreja, quero expressar minha mais sincera solidariedade a esta galáxia de homens e associações que anseiam pela felicidade do “bem viver” e não aquele ideal egoísta de “vida boa”. Quero acompanhá-los em sua histórica caminhada autônoma. Essa rede de movimentos transnacionais, transculturais e de várias culturas religiosas representa uma expressão histórica tangível, no modelo poliédrico [2], onde se encontra na base um outro paradigma social, o da cultura do encontro. Uma cultura que tem a ver com a outra, com a diferente de si mesma.

Do conteúdo deste livro, que espero sinceramente que ajude a muitos entender com profundidade e a dar maior visibilidade e significado ao valor dessas experiências, quero sublinhar brevemente alguns aspectos que me parecem muito importantes, na esperança de que as palavras que eu lhes dirigir contribuam para despertar nas consciências daqueles que governam os destinos deste mundo, um renovado senso de humanidade e de justiça, para mitigar as condições hostis nas quais os pobres vivem no mundo.

Os movimentos populares, e esta é a primeira coisa que quero sublinhar, na minha opinião, representam uma grande alternativa social, um grito profundo, um sinal de contradição, uma esperança de que “tudo pode mudar”. Em seu desejo de não se conformar com esse sentido único, centrado na tirania do dinheiro, mostram com a própria vida, com seu trabalho, com seu testemunho, com seu sofrimento que é possível resistir e agir com coragem, boas decisões e seguir na contramão. Gosto de imaginar esse arquipélago de “descartados” do sistema, que comprometendo o planeta inteiro, como “sentinelas” que – mesmo no escuro da noite – perscrutam com esperança um futuro melhor.

O momento em que vivemos é caracterizado por um cenário sem precedentes na história da humanidade, que tentei descrever através de uma expressão sintética que é necessário compreender: “mais do que uma época de mudança, vivemos uma mudança de época”, necessário para entender . Uma das manifestações mais evidentes dessa mutação é a crise transnacional da democracia liberal. Resultado da transformação humana e antropológica, produto da “globalização da indiferença”, à qual tenho mencionado tantas vezes, esta crise gerou um “novo ídolo”: o do medo e da busca de segurança, da qual hoje um dos sinais mais tangíveis é a familiaridade que tantos têm com as armas e a cultura do desprezo, características do nosso tempo, que um notório historiador de nosso tempo definiu como: “a era da raiva”. O medo hoje passou a ser o meio de manipulação das civilizações, o agente causador de xenofobia e de racismo. Um terror semeado nas periferias do mundo – com saques, opressões e injustiças – que explode como vimos em nosso passado recente também nos centros do mundo Ocidental.

Os movimentos populares podem representar uma fonte de energia moral, para revitalizar nossas democracias, cada vez mais claudicantes, ameaçadas e colocadas na mesa de discussão em inúmeros fatores. Uma reserva de “paixão civil”, de “interesse gratuito pelo outro”, capaz de regenerar um renovado senso de participação, na construção de novos agrupamentos sociais que enfrentem as demandas, mostrando uma consciência mais positiva do outro. O antídoto para o populismo e para a política do espetáculo espetáculo está no protagonismo dos cidadãos organizados, particularmente daqueles que acreditam – como é o caso de tantas experiências presentes nos Movimentos – em suas pelejas cotidianas, enquanto fragmentos de outros mundos possíveis, e lutam para sobreviver à obscuridade da exclusão social. Dessas batalhas “grandes árvores crescerão, densas florestas de esperança surgirão para oxigenar este mundo”.[3] Os Movimentos Populares mostram que a “força de nós” é a resposta para esta hegemônica “cultura do eu”, que olha apenas para a satisfação dos próprios interesses, pois, cultivam – apesar de sua própria precariedade – o sonho de um outro mundo possível, diferente e mais humano.

O crescimento das desigualdades, agora globalizadas e transversais – e desigualdades não apenas econômicas, mas também sociais, cognitivas, relacionais e intergeracionais – é unanimemente reconhecido como um dos desafios mais graves com os quais a humanidade terá que enfrentar nas próximas décadas. Fruto de uma economia cada vez mais separada da ética, que privilegia o lucro e estimula a concorrência, causando uma concentração de poder e riquezas, que exclui como “o pobre Lázaro” bilhões de homens e mulheres . O “presente” para milhões de pessoas hoje é uma condenação, uma prisão marcada pela pobreza, pela exploração, pela falta de trabalho, mas sobretudo pela ausência de futuro. Um inferno que devemos por fim.

Nesse sentido, os Movimentos Populares – com sua “resiliência” – representam uma resistência ativa e popular a esse sistema idolátrico, que exclui e degrada, e com a experiência deles fica claro que a rivalidade, a inveja e a opressão não são necessariamente agentes de crescimento – pelo contrário – mostram que a concórdia, a gratuidade e a igualdade também podem fazer o produto interno bruto crescer.

Os três T

O direito aos “três T’s”: terra, teto e trabalho, direitos inalienáveis ​​e fundamentais, representa os pré-requisitos indispensáveis ​​de uma democracia não apenas formal, mas real, na qual todos os homens, independentemente de sua renda ou posição na escala social, são protagonistas ativos e responsáveis, atores de seu próprio destino. Sem participação, como alguns autores mostram e argumentam bem neste livro, a democracia se atrofia, torna-se uma mera formalidade porque deixa as pessoas de fora da construção de seu próprio destino.

Quero dar uma palavra sobre o terceiro desses “T”, que segundo a Doutrina Social da Igreja é um direito sagrado. Nos últimos anos, o mundo do trabalho mudou vertiginosamente. As recaídas antropológicas dessas transformações são profundas e radicais, e seus efeitos não estão totalmente claros. Há muito tempo estou convencido de que, no mundo pós-industrial, não há futuro para uma sociedade em que haja apenas “dar para ter” ou “dar por dever”.

Trata-se de “criar uma nova via de saída à sufocante alternativa entre as teses neoliberais e as neoestatais. Os movimentos populares são, nesse sentido, um testemunho concreto e tangível, que mostra que é possível contrastar a cultura do descarte, que considera homens, mulheres, crianças e idosos como excessos inúteis ou massa sobrante – e frequentemente prejudiciais – do processo produtivo, através da geração de novas formas de trabalho, centradas na dimensão solidária e comunitária, em uma economia artesanal e popular. Por tudo isso, decidi unir a minha voz e sustentar junto a causa de tantos que praticam os negócios mais humildes – na maioria das vezes, privados do direito a uma remuneração digna, à previdência social e cobertura de pensão. Nesse estado de paralisia e desorientação, a participação política dos movimentos populares pode derrotar a política dos falsos profetas, que exploram o medo e o desespero e que pregam um bem-estar egoísta e uma segurança ilusória.

Tudo o que lhes disse, como mostra este livro, está em total harmonia com a Doutrina social da Igreja e com o Magistério de meus antecessores. Espero, neste sentido, que a publicação deste livro seja uma maneira de continuar – embora à distância – a reforçar essas experiências, que antecipam com seus sonhos e lutas, a urgência de um novo humanismo, para acabar com o analfabetismo da compaixão e o eclipse progressivo da cultura e da noção de bem comum.”

Francisco

  • [1] Encontro com os movimentos populares, Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, 9 de julho de 2015.
  • [2] Evangelii Gaudium.
  • [3] Encontro com os movimentos populares, Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, 9 de julho de 2015.

Fonte:

www.vaticannews.va

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Aquecimento para a CF 2017: “A água vale mais que minério” https://observatoriodaevangelizacao.com/agua-vale-mais-que-minerio/ Wed, 08 Feb 2017 17:59:20 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=12353 [Leia mais...]]]> Evangelizar implica abraçar e anunciar a boa nova do projeto de Deus tal qual foi revelado por Jesus de Nazaré: Deus é o Deus da Vida e seu projeto é de Vida plena para todos! Todo anúncio de vida implica a denúncia de toda ameaça à vida. A ação evangelizadora da Igreja, de mãos dadas com os movimentos populares, tem como valor maior a dignidade da vida.

Por isso o Observatório da Evangelização – PUC Minas divulga aqui o desafiante e ambicioso projeto “Água vale mais que minério” e, no mesmo impulso de conversão pastoral lançado pelo Papa Francisco na Evangelli Gaudium e, sobretudo, na Laudato Si´, conclama a todos os cristãos a apoiar e dele participar. Juntos na lógica do cuidado com a Casa Comum e na construção de “outra sociedade possível”: pautada pela justiça, pela inclusão social, pelo zelo e cuidado criativo na defesa da dignidade da vida.

Que a Campanha da Fraternidade 2017, FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA, provoque conversão pastoral na Igreja.

Água vale mais que minério é uma campanha com objetivo de defender a água como direito humano nos territórios do Quadrilátero Aquífero/ Ferrífero-MG.

“Água vale mais que minério!” no Quadrilátero Aquífero-Ferrífero, Minas Gerais!

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O objetivo do projeto

Realização de campanha territorial que defenda a água como direito humano essencial à vida, em contraponto à destruição dos aquíferos feita agressivamente pelas mineradoras no Quadrilátero Aquífero/Ferrífero.

Conta com a parceria da Arca Amaserra e apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), sendo realizada por meio do Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM).

A missão do MoSAM

Atuar firmemente frente à hegemonia da mineração e seus inúmeros impactos às serras e águas de Minas Gerais, articulando ações comuns que agreguem e fortaleçam cada um dos grupos que fazem o enfrentamento, divulgando o máximo possível a causa, acompanhando de perto as lutas, dando visibilidade aos problemas e conquistas e possibilitando cada vez mais a troca de experiências e ajuda mútua.

Desde 2008, quando foi fundado, o MovSAM realiza diversas atividades no âmbito de sua missão. Participa regularmente de encontros e seminários onde o tema é a mineração vinculada a impactos e violação de direitos; integra outras articulações nas quais esse foco também existe, como a Articulação Popular pelo São Francisco Vivo e a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale; produz materiais de divulgação e mobilização e apoia grupos que se organizam diante de novos projetos de mineração compartilhando nossa experiência. Merece destaque a participação ativa do MovSAM no Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela.

Contato: aguavalemaisqueminerio@gmail.com

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