misericórdia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 27 Jun 2022 19:32:32 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 misericórdia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Silêncio e Misericórdia https://observatoriodaevangelizacao.com/silencio-e-misericordia/ Mon, 27 Jun 2022 19:32:32 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45277 [Leia mais...]]]> No Angelus do último domingo (26/06/2022), o Papa Francisco ressalta a importância de não buscarmos, diante das adversidades, um caminho de ressentimento, gerador de mais ódio e com espírito de vingança (muitas vezes travestido de ideal de justiça). Quando nos deparamos com incompreensões e injustiças, precisamos manter o caminho da misericórdia. “Esta forma de ser não denota fraqueza, pelo contrário, mas uma grande força interior. Deixar-se vencer pela raiva na adversidade é fácil, é instintivo” (Papa Francisco, Angelus, 26/06/2022).

É difícil dominar-se a si mesmo, fazendo como Jesus que – diz o Evangelho – se pôs «a caminho rumo a outra aldeia» (v. 56). Isto significa que quando encontramos fechamentos, devemos dedicar-nos a fazer o bem noutro lugar, sem recriminações. Assim Jesus ajuda-nos a ser pessoas serenas, contentes com o bem praticado e que não procuram a aprovação humana (PAPA FRANCISCO, Angelus, 26/06/2022).

Ressalta, assim, que o “fogo” que Jesus veio trazer à humanidade é distinto da vingança, trata-se da ordem do Amor misericordioso do Pai. O que está em jogo aqui é a radicalidade, a doçura e a libertação proveniente do perdão. O perdão se dirige ao imperdoável, o que aumenta a desproporção entre a profundeza da falta e a altura do perdoar e só faz sentido se ocorrer de forma excepcional, à prova do impossível, na condição de um dom. Por outro lado, é um ato que evoca a solicitação de amar os inimigos sem nada esperar em troca: “este pedido impossível parece estar só na altura do espírito de perdão, pois o inimigo não pediu perdão e é necessário amá-lo tal como ele é”.

O Pontífice exemplifica seu ensinamento pelo Evangelho de Lucas, 12: “Enquanto estavam a caminho, uma aldeia de samaritanos, tendo ouvido dizer que Jesus se dirigia para Jerusalém – que era a cidade adversária – não o recebeu. Os apóstolos Tiago e João, indignados, sugerem a Jesus que castigue aquelas pessoas, fazendo descer um fogo do céu. Jesus não só não aceita a proposta, como repreende os dois irmãos. Eles querem envolvê-lo no seu desejo de vingança e Ele não concorda com isso (cf. vv. 52-55)”.

Nessa condição, é notável a despreocupação dos polos do dar e retribuir, uma vez que estes não se tornam obrigatórios, não se limitam ao exterior do outro, pois estão além, alcançando a dimensão da gratuidade, no sentido estrito do termo ágape. A solução ante as situações de mal que encontramos implicam numa alteração da ética (justiça) para a supra-ética (superabundância). Para que seja possível pensar, afirmar e viver em conjunto a lógica do dom, da superabundância e a lógica da exata equivalência é preciso orientar a justiça no caminho da generosidade, libertando-a da tendência utilitarista (‘eu dou desde que me dês’) e reorientando-se a um mútuo-endividamento (gratuitamente). Nossos sistemas de justiça permitem, muitas vezes, uma reprodução do mal, na medida em que aplicar a justiça é fazer pagar o mal com uma pena equivalente.

A partir do paradoxo posto, de uma suposta irracionalidade, alcançamos um novo tipo de inteligência. No entanto, se trata de outro tipo de racionalidade, que desafia os paradigmas então construídos, e até mesmo o pensamento da tradição ocidental. Há aqui outra lei, que não é mais aquela da lógica da equivalência: a proporcionalidade entre pecado, morte e culpa está superada nesse momento. Trata-se da lógica do excesso, da vitória do sentido sobre o não-sentido, do Dom sobre o trágico, da Criação sobre o Niilismo, do Perdão sobre a vingança.

Tomando como ponto de partida a existência de uma desproporção entre amor e justiça, o filósofo cristão Paul Ricoeur busca dar ênfase às formas de discurso, ou seja, a poética do amor e a prosa da justiça. No âmbito deste último, afirma que “a justiça argumenta, e de forma muito particular, confrontando razões pró ou contra, supostamente plausíveis, comunicáveis, dignas de serem discutidas pela outra parte” (RICOEUR, 2012, p. 17). No entanto, esse conflito no nível da argumentação inerente ao discurso jurídico encerra-se em uma decisão fundamentada em uma racionalidade específica. Dessa forma, para Ricoeur, “o estágio mais alto que o ideal de justiça pode pretender é o de uma sociedade em que o sentimento de dependência mútua permanece subordinado ao de desinteresse mútuo” (RICOEUR, 2012, p. 21).

            Ao final desse caminho de ênfase na desproporção entre o amor e a justiça, Ricoeur destaca que as duas sugerem pretensões acerca da prática individual e social, que “é a ação que amor e justiça se dirigem, cada um a seu modo, é a ação que ambos reinvindicam” (RICOEUR, 2012, p. 22). Assim, ele pretende superar a dicotomia entre os dois termos, propondo uma interface entre a poética do amor e a prosa da justiça.

Peçamos então a Jesus a força para ser como Ele, para O seguir com firme determinação neste caminho de serviço. Para não sermos vingativos nem intolerantes quando surgem dificuldades, quando nos dedicamos ao bem e os outros não compreendem, aliás, quando nos desqualificam. Não, silêncio e ir em frente (PAPA FRANCISCO, Angelus, 26/06/2022).

Podemos aprender muito, em todos os tempos, com os místicos da Igreja. São João da Cruz expressou o mais alto grau que uma alma pode alcançar na busca pelo sentido da existência. O inefável, aquilo que ultrapassa a nossa realidade, transborda de modo apaixonado, ou, nas palavras do místico: “Em tal aspiração, cheia de bens e glória, e de delicado amor de Deus para a alma, não quisera eu falar, nem mesmo o desejo porque vejo claro que não tenho termos com que o saiba exprimir, e pareceria que os tenho se dissesse”. O amor seria um outro nome para a identificação com Deus, em última instância, o esvaziamento de si mesmo em direção ao inefável, para além de nós mesmos. Um esforço de liberdade, por fim, capaz de engendrar um sentido novo para seu destino. Sobre o amor, sempre resta algo a dizer, deixando uma vereda infinitamente aberta para a possibilidade do derradeiro encontro. Somente é possível vivenciar o amor a partir do vazio, de um insistente “vazio em plenitude”. O silêncio pode ser expressão de sabedoria, resultando em paz e evolução humana.

/*! elementor – v3.6.6 – 15-06-2022 */
.elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block}

Prof. René Dentz
É
católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

]]>
45277
As “Escolas de Perdão e Reconciliação” para um horizonte de justiça e de paz https://observatoriodaevangelizacao.com/as-escolas-de-perdao-e-reconciliacao-para-um-horizonte-de-justica-e-de-paz/ https://observatoriodaevangelizacao.com/as-escolas-de-perdao-e-reconciliacao-para-um-horizonte-de-justica-e-de-paz/#comments Mon, 14 Mar 2022 21:30:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44300 [Leia mais...]]]> O perdão parece, em nossos tempos, ser um ato muito distante da realidade de muitos. Em uma sociedade competitiva e individualista, o caminho mais frequente que as pessoas escolhem é aquele da reciprocidade, que muito se aproxima ao da vingança. Nesse trajeto, há sempre um acréscimo gradual de ódio, violência e discórdia.

No intuito de frear esse círculo vicioso e propor um novo rumo, surgiram as Escolas de Perdão e Reconciliação (EsPeRe).

As “EsPeRe” tiveram inspiração inicial na experiência do Padre Leonel Narváez, Doutor em Sociologia pela Universidade de Cambridge, a partir de sua pesquisa acerca da prevenção da violência. Como resultado, foi criada a “Fundación para la Reconciliación”, com sede em Bogotá/Colômbia. Ao longo dos anos foi disseminada por diversos países. Padre Leonel viu a necessidade do tema devido às feridas expostas pelo conflito generalizado na sociedade colombiana das FARCs e Paramilitares. O resultado de décadas de violência foi o ressentimento, o ódio, a discórdia e a dor. Nesses 20 anos de trabalho, as “EsPeRe” atingiram 2.200.000 pessoas em 20 países. Elas receberam vários prêmios, incluindo o Prêmio da UNESCO de 2006 para a Educação para a Paz.

A prática do perdão e reconciliação, no horizonte das “EsPeRe”, é tratada sob viés sociopolítico, inspirada na fala do sul-africano Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz: “Sem perdão não há futuro”. Com as oficinas propostas, são criados espaços de encontro, acolhimento e humanidade.

Na cidade de Belo Horizonte, as “EsPeRe” veem se desenvolvendo mediante trabalho voluntário, a partir da mesma metodologia, orientação e objetivo geral da Escola original. Maria Luiza Brugger, coordenadora do núcleo da “EsPeRe” em BH, afirma:

“A motivação inicial de criação do projeto em BH foi a partir da constatação de que a violência era um problema endêmico em nossa sociedade. Em 2002, o Padre Leonel Narváez esteve em Belo Horizonte a convite do Centro Loyola para expor a proposta da EsPeRe e foi então que vi a oportunidade de inserir esse belíssimo projeto em nosso país, que também possui muito conflito e memórias a serem apaziguadas. A proposta do Padre Leonel Narváez se traduz na promoção da cultura política de Perdão e reconciliação para o desenvolvimento do capital social. Fundamenta-se na reflexão e compreensão do perdão e reconciliação como práticas de prevenção à violência, de relações intrapessoal, interpessoal e de legado social. Práticas que são assumidas a partir do esquema metodológico nas oficinas de formação no âmbito: cognitivo, emocional, comportamental, espiritual, histórico, ético e comunicativo.”

Interessante notar que, mesmo se tratando de uma metodologia, há uma flexibilidade e um olhar atento às demandas existenciais de cada grupo, interativas através de exposições teóricas, reflexões individuais, rodas de conversa, dança, música, artes plásticas!

“Os participantes são pessoas que decidem viver uma forte experiência de cura de feridas – raiva, ressentimento, dor, vingança, tristeza – causadas pela violência e pelos conflitos do cotidiano. O olhar que a EsPeRe tem de saúde mental refere-se não só a um indivíduo saudável (na ausência de traumas) mas a um indivíduo com relações que contribuem para a geração de equidade, justiça, cuidado, empatia, compaixão e validação permanente. Os processos de perdão e reconciliação têm efeitos diretos na melhoria do bem-estar físico e psicológico”, afirma Maria Luiza.

Dalka Capanema, membro das “EsPeRe” em BH desde 2007, acrescenta: “No ano de 2007 senti o chamado a fazer parte desse importante projeto. Foram duas as motivações iniciais: a primeira se deu a partir da minha experiência de trabalho no campo da Justiça. Em anos que trabalhei no TJMG, na assessoria jurídica de desembargadores, (2ª instância), sempre pude perceber na prática o limite do Direito. Os conflitos prevaleciam devido ao hiato existente entre a abstração da lei e sua aplicabilidade. O limite da lei e da punição esbarra na realidade social. Dessa forma, via a necessidade de pensar a Justiça a partir de um novo paradigma, qual seja o paradigma da Justiça Restaurativa, em cujos fundamentos estão o perdão e a reconciliação, entendidos como virtudes sociopolíticas. Somente por esse caminho alcançaríamos uma ´cura da memória´ e poderíamos ressignificar histórias”. Nessa direção, a EsPeRe BH já ofereceu cursos para juízes e promotores, no intuito de mostrar que outro caminho da Justiça é possível.

Dalka diz ainda que, no seu caso, a segunda motivação foi ancorada em experiência pessoal do perdão, através da filosofia e metodologia “EsPeRe”. Nessa formação, segundo ela, vivencia-se o perdão genuíno, num processo que se inicia com o reconhecimento e a expressão de sentimentos legítimos causados pelas ofensas sofridas (como, por ex., dor, medo, tristeza). Reprimidos, esses sentimentos geram raiva, ressentimento, mágoa e desejo de vingança crônicos, fazendo do reprimido uma pessoa violenta justificada. Mas, se acolhidos, trazidos à luz da consciência e trabalhados, permitem a elaboração do luto, a autorresponsabilidade pelo que se sente e o consequente deslocamento, do lugar de vítima para o da autonomia, resgatando-se a segurança em si mesmo, a sociabilidade e o sentido da vida. Esse giro é que possibilita a ressignificação dos fatos ofensivos, mediante um novo olhar, mais empático, compassivo e misericordioso sobre eles e, principalmente, sobre o ofensor. Assim é que se pode optar pelo perdão, mediante reconstrução da humanidade do ofensor em conexão com a comum humanidade de quem perdoa. Trata-se de um processo libertador.

A “EsPeRe” entende que é necessário instaurar uma cultura da paz, por meio de uma proposta de justiça restaurativa. Isso só é possível com a criação de espaços de diálogo, cuidado, teorização, vivência, partilha, compreensão e construção, onde os participantes, sob a orientação de facilitadores, se envolvem em dinâmicas e reflexões e aprendem a superar conflitos íntimos, curar feridas e memórias desagradáveis (raiva, rancor, ódio, desejo de vingança) causados pela violência e demais desafios da convivência humana.

Segundo Dalka, o primeiro passo é reconhecer, tomar a consciência de que somos violentos. É preciso sair do dualismo “bem e mal” e sim entender verdadeiramente que estamos inseridos em uma cultura violenta. Assim, é necessário fazer uma “viagem interior”, entrando em contato com a dor.

Maria Luiza complementa dizendo que através dessa viagem interior, a perspectiva é resgatar o que nos desestrutura diante uma violência, os chamados 3S: Segurança em si, Sentido da vida e Sociabilidade.

Em uma perspectiva da construção da paz entre a vítima e o ofensor são apresentados três níveis de reconciliação: o de coexistência, o de convivência e o de comunhão. Percebemos que as pessoas nem sempre estão no momento para alcançar o último nível da reconciliação, o da comunhão, sendo um primeiro passo a reconciliação no nível da coexistência.

O caminho percorrido pelo participante das oficinas “EsPeRe” na dimensão da reconciliação é pela construção da Verdade – “A verdade não é minha, nem sua: é nossa” (Sto Agostinho) – pela Justiça Restaurativa, tendo como fundo a Comunicação Não Violenta, a Ética do cuidado, as relações de poder e desconstrução de práticas punitivas.

Ao final das oficinas o participante é levado à importância de fazer a memória do processo. Se a ofensa gera “memória ingrata”, o Perdão gera “memória agradável”. Se o relacionamento com o ofensor gera narrativas destrutivas, a Reconciliação gera “narrativas ou comunicação construtiva”. Tudo isso produz novas ressignificações da vida ou atitudes éticas mais elevadas que são livres da escravidão do passado e projetam um novo futuro. Em conjunto, produz alegria profunda e progresso imprevisto em vários níveis de existência.

Por fim, a espiritualidade por trás da “EsPeRe” está em sintonia com a do Papa Francisco, que diz: Deus está presente no mais íntimo das criaturas, sua presença divina garante a permanência e o desenvolvimento de cada ser, é a continuação da ação criadora. O Espírito de Deus encheu o universo de potencialidades que permitem que, do próprio seio das coisas, possa brotar sempre algo novo” (LS 80). E na carta Apostólica Misericordia et Misera onde o perdão suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova.

Dalka conclui: “A proposta da ‘EsPeRe’ passa por despertar a humanidade dentro de nós e as pessoas para a humanidade”.

Saiba mais sobre as EsPeRe: https://esperebh.wordpress.com/apresentacao/

/*! elementor – v3.5.6 – 03-03-2022 */
.elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block;width:var(–img-width)}.elementor-widget-image a img{width:100%}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block;width:var(–img-width)}

René Dentz
É católico leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

]]>
https://observatoriodaevangelizacao.com/as-escolas-de-perdao-e-reconciliacao-para-um-horizonte-de-justica-e-de-paz/feed/ 1 44300
O perdão: a grandeza e a dignidade das vítimas de extrema violência. Artigo de Leonardo Boff https://observatoriodaevangelizacao.com/o-perdao-a-grandeza-e-a-dignidade-das-vitimas-de-extrema-violencia-artigo-de-leonardo-boff/ Tue, 01 Mar 2022 12:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43994 [Leia mais...]]]>

O perdão é um tema urgente em nosso tempo! Os horizontes do perdão se configuram em processos de elaboração de traumas causados por crimes, tragédias, exclusões sociais ou por elementos que, simplesmente, fazem parte das dores da vida de toda e qualquer pessoa. É preciso, por isso, atestar que ocorreu uma ferida e entender a sua trajetória, os seus efeitos e impactos sociais, humanitários e pessoais. Podemos apenas pensar em horizontes de perdão, por isso mesmo, quando temos possibilidades hermenêuticas, propiciadas por sociedades democráticas ou grupos de resistência, que não aceitam pagar violência com violência. É possível alcançar um estado de harmonia e de paz, quando buscamos caminhos para a ressignificação. Para tanto, torna-se imprescindível elementos como a tolerância, a justiça e a reconciliação. Como afirma o filósofo francês Paul Ricoeur, o perdão é difícil, mas possível. Perdoar não é uma obrigação, não é casual, mas extraordinário, um transbordamento, um dom, expressão do divino no humano, profundamente humano! Cremos que, participantes de uma tradição cristã, em várias abordagens corre, como um rio de água viva, a possibilidade de um perdão maior. Daquela fonte que de tanto amor, torna-se vítima que perdoa, matando a própria inimizade. A história de Cristo mesmo como antecipação escatológica de um novo reino no qual todos são irmãos. No artigo a seguir, Leonardo Boff faz uma apresentação profunda do tema, tomando como inspiração o livro “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) organizado por Dom Vicente Ferreira e pelo professor René Dentz (membro da equipe executiva do Observatório):

Por iniciativa do bispo Dom Vicente Ferreira, pastor da região da tragédia de Brumadinho-MG e do professor e psicanalista René Dentz, foi organizado um livro que recolhe excelentes estudos sobre o perdão: “Horizontes de Perdão” (Editora Ideias & Letras 2020, pp.180). Sua singularidade reside no fato de terem sido escolhidos exemplos de perdão de diferentes países com suas culturas e tradições próprias.

 Queremos comentar esta obra por sua alta qualidade e por abordar um tema de grande atualidade, também largamente abordada pelo Papa Francisco na sua encíclica social Fratelli tutti (2020).

O livro “Horizontes de Perdão” tem como foco pensar o perdão a partir do sofrimento concreto e terrível, suportado por vítimas humanas inocentes ou por todo um povo vitimado durante séculos. Aqui reside sua grande força e também o seu poder de convencimento.

 Um exemplo, descrito e analisado pelo bispo Dom Vicente Ferreira e de René Dentz, também organizador desta obra, vem do Brasil, das tragédias criminosas do rompimento de duas barragens da mineradora Vale, em Mariana-MG no dia 05 de novembro de 2015, matando 19 pessoas e destruindo a bacia do Rio Doce, com 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, e Brumadinho-MG, no dia 25 de janeiro de 2019, com a ruptura da barragem da mesma mineradora Vale, vitimando 272 pessoas, soterradas sob 12,7 milhões de metros cúbicos de lama e detritos.

O livro abre com um minucioso estudo do bispo Dom Vicente Ferreira, pastor, poeta, músico e profeta: “Brumadinho: o perdão a partir das vítimas de crimes socioambientais”. Precede-o uma pertinente análise de conjuntura global, sob a hegemonia do capital, uma máquina de fazer vítimas no mundo inteiro. A mineradora Vale representa a lógica do capital que prefere o lucro à vida, aceitando o risco de dizimar centenas de pessoas e de danificar profundamente a natureza. Mesmo consciente dos danos perpetrados, reluta em compensar com justiça e equidade as famílias e pessoas afetadas.

Dom Vicente procura entender o processo vitimatório da globalização do capital com as categorias do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e a compreensão da violência com a psicanálise de Sigmund Freud que, face à nossa capacidade de superar a violência, se mostra, de certa forma, cético e resignado.

Dom Vicente supera esta resignação com a contribuição da mensagem cristã bem no espírito da Fratelli tutti do Papa Francisco. Esta testemunha o sacrifício da vítima inocente, do Crucificado que rompeu o círculo da vingança e do ressentimento com o perdão a seus algozes. Esta visão foi bem desenvolvida pelo pensador René Girard, referido no estudo. Este pensador francês emerge como um dos que melhor estudou a dinâmica da violência que se origina pelo desejo mimético excludente (alguém quer só para si um objeto excluindo a terceiros), mas que a proposta cristã mostrou que este desejo mimético pode ser transformado em includente (desejamos juntos e compartilhamos o mesmo objeto) pelo perdão incondicional.

 Mas esse perdão coloca a exigência de justiça a ser praticada por aqueles que provocaram o desastre criminoso, no caso os responsáveis da mineradora Vale. Essa luta, o bispo a leva com determinação e ternura, com canto, poesia e oração junto com a comunidade dos sofredores que ele incansavelmente, com uma generosa equipe, acompanha. Cabe citar novamente o que diz a Fratelli tutti: “Não se trata de propor um perdão renunciando aos próprios direitos perante um poderoso corrupto… Quem sofre injustiça tem de defender vigorosamente os seus direitos e os da sua família, precisamente porque deve guardar a dignidade que lhes foi dada, uma dignidade que Deus ama” (n. 241).

Para entender melhor a dinâmica da violência e do perdão, alguns autores foram seminais: o filósofo francês Paul Ricoeur com seu livro “La mémoire, l’histoire, l’oubli” (Paris, Seuil 2000) e Franz Fanon, “Os condenados da Terra” (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira 1968).

A reconciliação e o perdão não terminam em si mesmos. Novamente a Fratelli tutti é inspiradora:

 “Como ensinaram os bispos da África do Sul, a verdadeira reconciliação alcança-se de maneira proativa, ‘formando uma nova sociedade baseada no serviço aos outros, e não no desejo de dominar; uma sociedade baseada na partilha do que se possui com os outros, e não na luta egoísta de cada um pela maior riqueza possível; uma sociedade na qual o valor de estar juntos como seres humanos é, em última análise, mais importante do que qualquer grupo menor, seja ele a família, a nação, a etnia ou a cultura’ (n. 213). E os bispos da Coreia do Sul destacaram que uma verdadeira paz ‘só se pode alcançar quando lutamos pela justiça através do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo'” (n. 229).

Releva enfatizar: cada povo e cada grupo encontraram caminhos próprios para chegar ao perdão. Assim, por exemplo, para os afrodescendentes brasileiros é imprescindível para um perdão real que os brancos que os vitimizaram pela escravidão reconheçam a desumanidade que cometeram, reforcem a identidade africana e os restaurem na sua dignidade ofendida. Bem se disse: “o perdão é mais que uma justa justiça, antes é da ordem da doação – doação aos outros”.

 No Congo Brazzaville, país marcado por sangrentas guerras civis, o conceito chave foi “palaver”, recorrente nos países do sul do Saara.

 “Palaver” implica buscar a verdade pelo diálogo, pela liberdade de todos falarem, independentemente de seu lugar social e de gênero, até se elaborar um consenso em função da paz social; todos se perdoam mutuamente, sem penalizar ninguém, mas todos se propõem corrigir os erros. O texto mostra como esse pacto pela ganância do poder de grupos e pela vasta corrupção que assola o país não conseguiu prevalecer e ter sua sustentabilidade garantida. Mas vale a tentativa.

Na África do Sul, o conceito-chave no processo de reconciliação e de perdão, conduzido pelo arcebispo anglicano Desmond Tutu, foi a categoria “Ubuntu”. Ela fundamentalmente expressa essa profunda verdade antropológica: “eu só sou eu através de você”. Todos se sentem interligados. A estratégia era: o vitimador confessa seu crime com toda sinceridade; a vítima escuta atentamente e narra a sua dor; restaura-se a justiça reparadora e restaurativa, eventualmente aceita-se uma punição curativa, exceto para os crimes mais hediondos de lesa-humanidade, que são encaminhados ao tribunal competente.

 Outra contribuição trabalha estudos avançados de mereologia (como as partes se relacionam com outras partes, como elas se situam no todo e como dentro dele se movem). Os dois autores articulam os dados numa certa harmonia, base para o perdão, assim definido por eles:

 “A superação do afeto negativo e do julgamento em relação ao ofensor, não negando a nós mesmos o direito a tal afeto e julgamento, mas se esforçar em ver o ofensor com compaixão, benevolência e amor”.

 O pressuposto antropológico é que por mais criminoso que alguém seja, nunca é só criminoso, jamais deixa de ser humano com muitas outras virtualidades também positivas. Da mesma forma, por mais que a população trazida violentamente da África para ser escrava no Brasil, nunca os senhores de escravos conseguiram matar-lhes a liberdade. Eles resistiram e procuraram sempre conservar sua identidade cultural e religiosa. O quilombolismo é disso uma prova ainda hoje visível nas centenas de quilombos existentes, onde se vive uma vida mais comunitária, igualitária, na linha do “Ubuntu”.

 Entretanto, enquanto não se parar de dar um download do ressentimento e do espírito de vendetta, nunca se rasgará o caminho para um verdadeiro perdão. Não se trata de esquecimento, mas de não deixar de ser refém de um interminável ciclo de amargura e de mágoa.

 Nesse ponto do perdão generoso, o cristianismo mostrou seu capital humanístico. Como o texto de Dom Vicente o mostra e especialmente o da Colômbia que assim o expressa: perdoar o imperdoável não é só uma amostra como o espírito humano pode revelar a sua transcendência, a sua capacidade de estar para além de qualquer situação por mais desumana que se apresente, mas é acima de tudo o dom da graça divina. Perdoamos porque fomos perdoados por Deus e por Cristo cuja misericórdia não sofre nenhuma limitação.

A justiça é irrenunciável. Mas não é ela que escreve a última página da história humana. Excelentemente respondeu o filósofo Roger Icar a Wiesenthal, aquele que buscava no mundo todo criminosos nazistas: “O perdão sem justiça revela fraqueza, mas uma justiça sem perdão representa uma força desumana”.

 Estes textos revelam a excelência das reflexões sobre o perdão, dos melhores publicados nos últimos tempos. A parte desumana no ser humano pode, pelo perdão e pela reconciliação, ser resgatada e transformada. Essa é a grande lição que esta notável obra “Horizontes de Perdão” nos quer transmitir, tão bem organizada pelo bispo-pastor Dom Vicente de Brumadinho e pelo erudito psicanalista René Dentz.

/*! elementor – v3.5.5 – 03-02-2022 */
.elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block}

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo, escritor, professor e membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609602-o-perdao-a-grandeza-e-a-dignidade-das-vitimas-de-extrema-violencia-artigo-de-leonardo-boff

]]>
43994
Horizontes de Perdão: será possível perdoar em um mundo dominado por algoritmos? https://observatoriodaevangelizacao.com/horizontes-de-perdao-sera-possivel-perdoar-em-um-mundo-dominado-por-algoritmos/ Fri, 25 Feb 2022 23:18:47 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43981 [Leia mais...]]]>

Perdoar é um ato profundamente humano. Quando conseguimos encontrar um caminho diverso ao da lógica da reciprocidade, foi possível seguir rumos efetivos à construção de uma humanidade em direção à evolução. Mesmo convivendo com a vingança, o perdão passou a ser uma possibilidade civilizatória e ética. Mesmo que tenha vínculos teológicos, perdoar se mostrou um caminho para além de suas origens, com contornos éticos, culturais e densamente humano. Perdoar é um processo, o fim de uma trajetória de memória, de trabalho de luto. Não é fácil, mas é possível. Pressupõe um ato de liberdade!

Perdoar é um processo, o fim de uma trajetória de memória, de trabalho de luto. Não é fácil, mas é possível. Pressupõe um ato de liberdade!

Tweet

O ser humano se depara, ao longo da sua existência, com diversos possíveis (por vezes, imaginários) determinismos: sociais, biológicos, psíquicos, culturais… Em tempos pós-modernos, cada vez mais nossas ações serão definidas por algoritmos. Alguns apostam mesmo, que o uso de algoritmos na tomada de decisão será cada vez mais comum. Hoje já confiamos a eles a escolha do filme que iremos assistir ou da música que iremos ouvir. Nas próximas décadas, o Big Data e a Inteligência Artificial irão se aperfeiçoar a ponto de tomarem estas decisões por nós, de acordo com as previsões de Yuval Noah Harari (2019):

“Escolher o par romântico a partir de modelos preditivos que   mostrem os possíveis cenários ao se envolver com determinada pessoa. Escolher a profissão e a carreira com uma busca no Google, que, a partir dos algoritmos e as informações armazenadas que possui do usuário, analisaria os pontos fortes e fracos do indivíduo e ofereceria uma resposta. Escolher em qual candidato votar em uma eleição.”

A tendência é que, com o passar dos anos, passemos a confiar mais nos algoritmos do que em nossos sentimentos. A maioria das pessoas não conhece bem a si mesma e ainda comete erros na hora de tomar qualquer decisão. Ao contrário da IA, o ser humano sofre com a falta de dados, regras confusas e incertezas da vida cotidiana. Assim delegaremos cada vez mais atividades para os algoritmos, o que pode nos levar a esquecermos como tomar decisões por nós mesmos.

Somente podemos conceber o perdão e suas possibilidades se partirmos de concepções de liberdade. Por isso, em contextos ditatoriais não presenciamos perdão em dimensões políticas, sociais e humanitárias. A lei do “olho por olho, dente por dente” prevalece em ditaduras! O ódio supera a razão e é institucionalizado. No entanto, quando pensamos em democracias, temos que ter como ponto de partido uma razão discursiva, construída de forma dialógica, que nos mostra a construção e a desconstrução de verdades absolutas. Dessa forma, é possível constatar universos de atuação humana complexos, não-lineares. Elementos aleatórios, caóticos e até mesmo horizontes da ordem do não-dito, do inconsciente, são considerados. Ou seja, entende-se, nesse contexto, o ser humano em sua devida complexidade, fugindo de concepções deterministas e simplistas.

O Papa Francisco, no Angelus, nos ensina:

Pensemos em uma pessoa que nos fez mal. Talvez haja um ressentimento dentro de nós. Então, coloquemos este ressentimento ao lado da imagem de Jesus, manso, durante o seu julgamento. E depois peçamos ao Espírito Santo que aja em nossos corações” (ANGELUS, 20 de fevereiro de 2022).

Francisco insiste na orientação: “oremos pelos nossos inimigos”. “Rezar por aqueles que nos trataram mal é o primeiro passo para transformar o mal em bem. Que a Virgem Maria nos ajude a sermos pacificadores para todos, especialmente para com aqueles que nos são hostis e não gostam de nós”.

A lógica de generosidade que permeia o perdão é um ponto central dos Evangelhos, que se manifesta nas parábolas e nos provérbios de Jesus. No campo ético, o perdão e sua economia do dom, comandados pela lógica da superabundância, do excesso, podem motivar uma nova atuação política e ética em um aspecto universal.

No campo ético, o perdão e sua economia do dom, comandados pela lógica da superabundância, do excesso, podem motivar uma nova atuação política e ética em um aspecto universal.

Tweet

Aqueles que perdoam de verdade não esquecem, mas renunciam a deixar-se dominar pela mesma força destruidora que os lesou. Quebram o círculo vicioso, impedem o avanço das forças da destruição. Decidem não continuar a injetar na sociedade a energia da vingança que, mais cedo ou mais tarde, acaba por cair novamente sobre eles próprios. Com efeito, a vingança nunca sacia verdadeiramente a insatisfação das vítimas. Há crimes tão horrendos e cruéis que, fazer sofrer quem os cometeu, não serve para sentir que se reparou o dano; não bastaria sequer matar o criminoso, nem se poderiam encontrar torturas comparáveis àquilo que pode ter sofrido a vítima. A vingança não resolve nada (Fratelli Tutti, 251).

Jesus ensina aos escribas e fariseus que não é verdade que apenas Deus tem o poder de perdoar. Ele mesmo opera um milagre na tentativa de provar que “O Filho do Homem tem sobre a Terra o poder de perdoar pecados” (Lc 5, 21-42). A formulação de Jesus é radical, uma vez que o Evangelho não afirma que o homem deve perdoar porque Deus perdoa, mas que cada um deve perdoar a partir de sua consciência. Deus perdoa “nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores”, diz a oração que Jesus nos ensinou (Lc 11, 1-13). Claro, seria impossível perdoar a partir de nossas próprias forças humanas, a partir da nossa lógica. O segredo é a abertura à Graça, à Superabundância. O perdão é da ordem de suas consequências mais belas.

Concluindo com Francisco:

“O que Lhe podemos pedir? O que apraz a Deus oferecer-nos? A força de amar, que não é algo, mas é o Espírito Santo. A força de amar é o Espírito Santo, e com o Espírito de Jesus podemos responder ao mal com o bem, podemos amar quem nos fere. Assim fazem os cristãos. Como é triste quando pessoas e povos orgulhosos por ser cristãos veem os outros como inimigos e pensam em fazer guerra! É muito triste!” (ANGELUS, 20 de fevereiro de 2022).

/*! elementor – v3.5.5 – 03-02-2022 */ .elementor-widget-image{text-align:center}.elementor-widget-image a{display:inline-block}.elementor-widget-image a img[src$=”.svg”]{width:48px}.elementor-widget-image img{vertical-align:middle;display:inline-block}

René Dentz
É leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

]]>
43981