Mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 31 Dec 2019 13:56:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 O que as 7 mensagens anuais do papa Francisco (2014-2020) nos ensinam sobre a cultura da paz? https://observatoriodaevangelizacao.com/o-que-as-7-mensagens-anuais-do-papa-francisco-2014-2020-nos-ensinam-sobre-a-cultura-da-paz/ Tue, 31 Dec 2019 13:56:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33904 [Leia mais...]]]> Quando temos presente o conteúdo das mensagens do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, de 2014 a 2020, divulgadas a cada 1º de janeiro do ano novo, o que aprendemos para o cultivo de uma autêntica cultura da paz? Vejamos: 

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

Corações banhados pela fraternidade, vidas libertadas das escravidões, olhares capazes de vencer a indiferença, sementes de não violência para promover a paz. Mas também mãos estendidas para os migrantes e refugiados, passos inspirados pela boa política e caminhos de diálogo e de reconciliação. As mensagens do papa Francisco para cada Dia Mundial da Paz quer iluminar o olhar e o coração das pessoas para descobrir horizontes cheios de esperança e renovar o compromisso com a cultura da paz. Trata-se de uma reflexão, sempre lapidada pelo amor, pela fé e pela esperança cristã, de quem contempla os mistérios da vida e o teor libertador dos ensinamentos e gestos de Jesus de Nazaré. Do magistério do papa Francisco destacamos:

2014: a fraternidade é fundamento de paz

A primeira mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, em 2014, abre-se com o desejo de formular a “todos, indivíduos e povos”, votos de uma vida repleta de “alegria e esperança”. O documento é baseado na fraternidade, que Francisco enuncia a partir de uma premissa: a fraternidade, que se começa a aprender em família, é “fundamento e caminho para a paz”. Não apenas as pessoas, mas também as nações – explica Francisco recordando a encíclica Populorum progressio do papa Paulo VI – devem se encontrar em “um espírito de fraternidade”. Referindo-se ao magistério de João Paulo II sublinha que “a paz é um bem indivisível: ou é de todos ou não o é de ninguém”.

A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.”

(Papa Francisco, Mensagem para o dia Mundial da paz de 2014)

Na família de Deus, onde todos são filhos e filhas de um mesmo Pai, não há “vidas descartadas”: a fraternidade, explica o Papa, é também uma “premissa para derrotar a pobreza”. Mas é preciso de “políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas o acesso aos bens capitais, aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos”. Francisco convida também a redescobrir a fraternidade na economia, a pensar novamente nos “modelos de desenvolvimento” e a mudar “os estilos de vida”. Com a fraternidade, prossegue Francisco, “apaga-se a guerra” se cada um reconhece no outro “um irmão a ser cuidado”. Por fim, observa que a fraternidade ajuda também a “guardar e cultivar a natureza

2015: já não escravos, mas irmãos

Escravidão, um abominável fenômeno
Escravidão, um abominável fenômeno

Na mensagem para o dia Mundial da Paz de 2015 o apa Francisco se detém nas profundas feridas que atacam a fraternidade e a vida de comunhão. Entre estas, um “fenômeno abominável” o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem. Ainda hoje, recorda o Santo Padre, “milhões de pessoas são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura”.

O pensamento de Francisco é dirigido em particular aos trabalhadores e trabalhadoras, também menores, “escravizados nos mais diversos setores”, aos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, abusados física e sexualmente”.

Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos”

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015)

Por fim o Papa exorta a “globalizar a fraternidade”. E lança “um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo”.

2016: vencer a indiferença

A mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2016 é um convite a vencer as várias expressões de indiferença. “A primeira forma de indiferença na sociedade humana é a indiferença para com Deus”. Da qual deriva também “a indiferença para com o próximo e a criação”. “Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete”. Em uma sociedade tão dilacerada que assume as feições da inércia e da apatia, a paz é ameaçada “pela indiferença globalizada”.

Quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica ações e políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências…

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2016)

A indiferença pelo ambiente natural, sublinha o Papa, “favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas”. Por fim Francisco convida a passa da indiferença à misericórdia através da conversão do coração e a promoção de uma cultura de solidariedade. No espírito do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco em 13 de Março de 2015 cada um “cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho”.

2017: não-violência como estilo de uma política pela paz

A 50ª mensagem para o Dia Mundial da Paz 2017 é centralizada no tema da não-violência. “Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais”. O mundo, recorda o Santo Padre, está cada vez mais dilacerado: “Hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”.

Esta violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental.

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2017)

A violência, sublinha o Papa, “não é o remédio para o nosso mundo dilacerado”, mas ser verdadeiros discípulos de Jesus. “Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir também à sua proposta de não-violência”. A não-violência praticada com decisão e coerência, recorda Francisco, produziu resultados impressionantes: “Os sucessos alcançados por Mahatma Gandhi e Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação da Índia, e por Martin Luther King Jr. contra a discriminação racial nunca serão esquecidos”. “O próprio Jesus nos oferece um ‘manual’ desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da montanha: as oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica”.

2018: migrantes e refugiados, pessoas em busca de paz

Papa Francisco com refugiados de Lesbos
Papa Francisco com refugiados de Lesbos

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, o Papa Francisco convida a abraçar todos os “que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental”. “Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar”.

Acolher faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências. Proteger lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Promover alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Integrar significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe. ”

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018)

Observando os migrantes e os refugiados com um olhar contemplativo alimentado pela fé, sublinha por fim o Santo Padre, descobre-se que “não chegam de mãos vazias”. “Trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem”.

2019: a boa política ao serviço da paz

A mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019 é dedicada ao “desafio da boa política”. “A boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”. Mas na política, acrescenta o Papa, não faltam os vícios, “devidos quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições”.

Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da ‘razão de Estado’, a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio.”

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019)

Quando o exercício do poder político visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos privilegiados o futuro fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à margem da sociedade, sem possibilidades de participar num projeto para o futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. Torna-se uma confiança dinâmica, que significa ‘fio-me de ti e creio contigo’ na possibilidade de trabalharmos juntos pelo bem comum”. Por isso, conclui o Papa “a política é a favor da paz, se se expressa no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa”.

2020: paz como caminho de esperança

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020, Francisco indica a paz como “um bem precioso” e uma meta a ser alcançada apesar dos obstáculos e as provas. “A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”. “A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis” .

Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades”.

(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020)

O Sínodo recente sobre a Amazônia, recorda o Pontífice, “impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças”. O Papa convida também a ser artesãos da paz: “O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”. “O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos”.

Fonte:

www.vaticannews.va

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