Maurício López Oropeza – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 05 Mar 2021 04:40:58 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Maurício López Oropeza – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Maurício López: o Sínodo Amazônico é “um processo que torna possível e acompanha a irreversível conversão integral da Igreja” https://observatoriodaevangelizacao.com/mauricio-lopez-o-sinodo-amazonico-e-um-processo-que-torna-possivel-e-acompanha-a-irreversivel-conversao-integral-da-igreja/ Fri, 05 Mar 2021 04:40:58 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=38578 [Leia mais...]]]>
Pe. Jaldemir Vitorio, SJ apresenta e passa a palavra para Maurício López Oropeza.

A sinodalidade, que não é uma estrutura e sim uma dinâmica, está se impondo como uma prática e uma reflexão cada vez mais presente na Igreja. Estamos diante de uma tentativa de voltar ao espírito que guiava as primeiras comunidades cristãs, um jeito de ser Igreja que busca assumir o discernimento como como caminho que ajuda nas mudanças, tendo como base a comunhão, numa perspectiva escatológica, que mostra que estamos colaborando no caminho do Reino.

Nessa perspectiva, a aula inaugural da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte – MG, versava sobre “Sinodalidade, um jeito de ser Igreja na Amazônia e no mundo”. O palestrante foi Maurício López Oropeza, um dos melhores conhecedores do que significa a sinodalidade na prática, algo que descobriu e assumiu ao longo do processo do Sínodo para a Amazônia. Ele refletia partindo das vozes que fizeram parte desse processo sinodal, vozes do território e da própria Igreja, e a partir daí fazia uma leitura espiritual inaciana da Igreja, do que representa sentir com a Igreja.

Slide do Power Point utilizado por Maurício López Oropeza.

O Sínodo para a Amazônia representou um novo tempo de caminhada comum entre os povos originários e a Igreja, segundo Anitalia Pijachi, indígena colombiana, palavras que serviram como preâmbulo para a fala de Maurício López. Ele, bom conhecedor da espiritualidade inaciana, já foi Presidente Mundial das Comunidades de Vida Cristã – CVX, destacava três elementos próprios dessa espiritualidade, presentes nos Exercícios Espirituais, para compreender a sinodalidade na Igreja.

Slide do Power Point utilizado por Maurício López Oropeza.

Segundo o Secretário interino da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, “o maior propósito é o cumprimento da vontade de Deus”, algo que se faz realidade no relacionamento de uns com os outros de forma sinodal. Nessa realidade, o exercício sinodal da Trindade se concretiza como um processo comunitário de ver-escuta da realidade, desde a multiculturalidade, e a Encarnação que transforma a realidade. Tudo isso, segundo Maurício López, como “um ato que se origina em e para o amor”, que implica sair de si mesmo e “saber que somos convidados a ser cocriadores e contemplativos em ação”.

O caminho sinodal deve nos levar a entender a importância da escuta, pois, “a Igreja não conhece nossa cultura, se ela nos conhecesse, saberia que lutamos pela mesma coisa”. Eis a constatação do indígena peruano Santiago Yahuarcani. Esse pensamento está presente numa das cartas de Paulo aos Filipenses, “uma comunidade com fortes desafios internos em termos de divisões e diferentes visões opostas”, segundo Maurício, algo que também faz parte da vida social e eclesial atuais. Isso tem aparecido de forma mais clara com a pandemia da Covid-19, que em palavras do conferencista, “ela revela sobre nosso fracasso como uma humanidade intolerante – desigual – autodestrutiva”, que torna “essencial testar e consolidar novos caminhos em nossa missão eclesial”.

Registro durante a exposição de Maurício López Oropeza.

Discernir uma nova maneira de ser Igreja no mundo, mais fiel ao Evangelho de Jesus, é o convite de onde surge a sinodalidade, afirmava Maurício. Trata-se de um caminho que “implica a afirmação dos sujeitos em sua diversidade, em toda sua gama de rostos e olhares pluriformes”, que tem como condições a unidade, a caridade e a paz, algo já definido na Lumen Gentium. Mas não podemos esquecer que existem “doenças” que dificultam a sinodalidade, que López Oropeza define como esclerose sinodal (farisaica) e misofobia sinodal (essênia), que provocam um gnosticismo alienante, “um sentimento de separação, de superioridade”.

Para superar essa realidade, Maurício fazia a proposta de formas de purificação, próprias do itinerário de Jesus, para avançar na plena sinodalidade. Ele destaca a necessidade de uma conversão do coração e dos fundamentos da sociedade e das instituições, fechadas e injustas. Tudo em vista do Reino de Deus, algo que fundamenta a sinodalidade, que não procura o triunfo de uma ideologia e que deve ser vivida no seguimento de Jesus. Isso tem sido assumido pelo papa Francisco, que insiste em que o Sínodo é mais do que um Parlamento, o que, seguindo a terminologia inaciana, deve nos levar, com urgência, a “purificar a intenção, através do discernimento, diante das grandes tretas”, tendo como fundamento o sensus fidei versus o depositum fidei.

Slide do Power Point utilizado por Maurício López Oropeza.

Para Maurício Lópes, o Sínodo Amazônico é “uma expressão particular, com implicações universais, da forma como o Concílio Vaticano II está tomando forma para garantir a relevância da missão da Igreja no mundo e no coração de seus gritos e esperanças”, concretizou tudo isso, gerando num mundo quebrado a possibilidade de um outro amanhã. Ele vê o Sínodo Amazônico como “um processo que torna possível e acompanha a irreversível conversão integral da Igreja”.

Estamos diante de uma escuta, sem precedentes: do papa Francisco, na visita ao território amazônico em Puerto Maldonado, Peru (janeiro de 2018); do processo de escuta sinodal e da assembleia sinodal, que foi amplamente recolhido no Documento Final do Sínodo e que ajudou o próprio Pontífice a identificar possíveis novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral na Amazônia, apontados na Querida Amazônia. Trata-se de um Sínodo que, segundo o conferencista, aborda três tensões substanciais: dimensão (território específico e universalidade), temporalidade (kairós e chronos) e reforma em andamento (passagem de um modelo centralizador, hierárquico-vertical, a outro mais participativo, colegial e comunitário, que tem em conta os gritos e esperanças da realidade, uma experiência inculturada e intercultural).

Slide do Power Point utilizado por Maurício López Oropeza.

Ao longo do processo sinodal, o papa Francisco vem dando algumas orientações: “a periferia é o centro”, que faz do secundário a pedra angular para criar novos caminhos; “não perder o foco”, que a dinâmica territorial não seja diluída, evitando que o Sínodo se torne uma arena de disputa ideológica ou de lutas de poder, uma tentativa que esteve presente em alguns, centrando-se nos temas concretos do território; “a perspectiva do desborde, superando estruturas, que mesmo importantes, são meios e não fins, e nos levando a abraçar “os muitos rostos crucificados que pedem à Igreja esse papel profético e presença credível”; “o Sínodo Amazônico e filho da Laudato Si´”, algo que “expressa a visão multidimensional necessária da ecologia integral para um território específico”.

Registro durante a exposição de Maurício López Oropeza.

Finalmente, voltando a Santo Inácio, Maurício López apresentava premissas inacianas essenciais para sustenta este caminho eclesial sinodal: temporalidade (tempos), “que transcende nossas próprias limitações e capacidades” e é guiado pelo Espírito, mostrando o Sínodo Amazônico como um reflexo da revelação de Deus; territorialidade (lugares), que reconhece o território como um lugar teológico; sujeitos do processo (pessoas), se dando um alargamento da diversidade dos participantes, com a destacada presença dos povos originários e das mulheres, vozes que “ressoaram na sala sinodal para mover e transformar a forma como se discutia um território, que não era mais algo distante ou entendido simplesmente a partir de uma leitura hipotética”.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Confira, a seguir, a versão em espanhol:

Mauricio López: el Sínodo amazónico es “un proceso que posibilita y acompaña la irreversible conversión integral de la Iglesia”

La sinodalidad, que no es una estructura sino una dinámica, se impone como una práctica y una reflexión cada vez más presente en la Iglesia. Estamos ante un intento de volver al espíritu que guio a las primeras comunidades cristianas, una forma de ser Iglesia que busca asumir el discernimiento como camino que ayuda en los cambios, teniendo como base la comunión, en una perspectiva escatológica que muestra que estamos colaborando en el camino del Reino.

En esta perspectiva, el aula inaugural de la Facultad Jesuita de Filosofía y Teología de Belo Horizonte, Brasil, trató sobre la “Sinodalidad, una forma de ser Iglesia en la Amazonía y en el mundo”. El ponente fue Mauricio López Oropeza, uno de los mejores expertos en lo que significa la sinodalidad en la práctica, algo que descubrió y asumió durante el proceso del Sínodo para la Amazonía. Su reflexión partió de las voces que formaron parte de este proceso sinodal, voces del territorio y de la propia Iglesia, y desde ahí hizo una lectura espiritual ignaciana de la Iglesia, de lo que significa sentir con la Iglesia.

El Sínodo para la Amazonía representó un nuevo tiempo de camino compartido entre los pueblos originarios y la Iglesia, según Anitalia Pijachi, indígena colombiana, palabras que sirvieron de preámbulo a la charla de Mauricio López. Él, que conoce bien la espiritualidad ignaciana, ha sido Presidente Mundial de las Comunidades de Vida Cristiana (CVX), destacó tres elementos de esta espiritualidad, presentes en los Ejercicios Espirituales, para entender la sinodalidad en la Iglesia.

Según el secretario interino de la Conferencia Eclesial de la Amazonía – CEAMA, “el mayor propósito es cumplir la voluntad de Dios”, algo que se hace realidad en la relación de unos con otros de forma sinodal. En esta realidad, el ejercicio sinodal de la Trinidad se concreta como un proceso comunitario de ver-escuchar la realidad, desde la multiculturalidad, y la Encarnación que transforma la realidad. Todo ello, según Mauricio López, como “un acto que se origina en y para el amor”, lo que implica salir de uno mismo y “sabernos invitados a ser cocreadores y contemplativos en la acción”.

El camino sinodal debe llevarnos a comprender que “el problema es que la Iglesia no conoce nuestra cultura, si nos conociera, sabría que estamos luchando por lo mismo”, reflexión del indígena peruano Santiago Yahuarcani. Este pensamiento está presente en una de las cartas de San Pablo a los Filipenses, “una comunidad con fuertes desafíos internos en cuanto a divisiones y diferentes puntos de vista opuestos”, según Mauricio, algo que también forma parte de la vida social y eclesial actual. Esto ha aparecido más claramente con la pandemia de Covid-19, que, en palabras del conferenciante, “revela nuestro fracaso como humanidad intolerante – desigual – autodestructiva”, lo que hace “imprescindible ensayar y consolidar nuevos caminos en nuestra misión eclesial”.

Discernir un nuevo modo de ser Iglesia en el mundo, más fiel al Evangelio de Jesús, es la invitación de la que surge la sinodalidad, afirmó Mauricio. Es un camino que “implica la afirmación de los sujetos en su diversidad, en toda su gama de rostros y miradas pluriformes”, que tiene como condiciones la unidad, la caridad y la paz, algo ya definido en la Lumen Gentium. Pero no podemos olvidar que hay “enfermedades” que dificultan la sinodalidad, que López Oropeza define como esclerosis sinodal (farisea) y misofobia sinodal (esenia), que provocan un gnosticismo alienante, “un sentimiento de separación, de superioridad”.

Para superar esta realidad, Mauricio propuso formas de purificación, propias del itinerario de Jesús, para avanzar en la plena sinodalidad. Insistió en la necesidad de una conversión del corazón y de los fundamentos de la sociedad y de las instituciones, que son cerradas e injustas. Todo con vistas al Reino de Dios, algo que subyace en la sinodalidad, que no busca el triunfo de una ideología y que debe vivirse en el seguimiento de Jesús. Así lo ha asumido el Papa Francisco, que insiste en que el Sínodo es algo más que un Parlamento, algo que, siguiendo la terminología ignaciana, debe llevarnos, con urgencia, a “purificar nuestra intención, mediante el discernimiento, ante la gran treta”, teniendo como fundamento el sensus fidei frente al depositum fidei.

El Sínodo de la Amazonía, que Mauricio López considera “una expresión particular, con implicaciones universales, del modo en que el Concilio Vaticano II va tomando forma para asegurar la relevancia de la misión de la Iglesia en el mundo y en el corazón de sus gritos y esperanzas”, ha concretado todo esto, generando en un mundo roto la posibilidad de otro mañana. Considera el Sínodo amazónico como “un proceso que posibilita y acompaña la irreversible conversión integral de la Iglesia”.

Estamos ante una escucha inédita, del Papa Francisco, durante su visita al territorio amazónico en Puerto Maldonado, Perú (enero de 2018), del proceso de escucha sinodal y de la asamblea sinodal, que fue ampliamente recogido en el Documento Final del Sínodo y ayudó al propio Pontífice a identificar posibles nuevos caminos para la Iglesia y para una ecología integral en la Amazonía, señalados en Querida Amazonía. Se trata de un Sínodo que, según el ponente, aborda tres tensiones sustanciales: la dimensión (territorio específico y universalidad), la temporalidad (kairós y chronos) y la reforma en curso (paso de un modelo centralizador, jerárquico-vertical a otro más participativo, colegiado y comunitario, que tenga en cuenta los gritos y esperanzas de la realidad, una experiencia inculturada e intercultural).

A lo largo del proceso sinodal, el Papa Francisco fue dando algunas pautas: “la periferia es el centro”, lo que hace que lo secundario sea la piedra angular para crear nuevos caminos; “no perder el foco”, que las dinámicas territoriales no se diluyan, evitando que el Sínodo se convierta en un escenario de disputa ideológica o de luchas de poder, intento que estuvo presente en algunos de los participantes, centrándose en los temas concretos del territorio; “la perspectiva del desborde”, superando las estructuras, que, aunque importantes, son medios y no fines, y llevándonos a abrazar “los muchos rostros crucificados que piden a la Iglesia ese papel profético y esa presencia creíble”; “el Sínodo amazónico e hijo de Laudato Si'”, algo que “expresa la necesaria visión multidimensional de la ecología integral para un territorio concreto”.

Finalmente, volviendo a San Ignacio, Mauricio López presentó las premisas ignacianas esenciales para sostener este camino eclesial sinodal: la temporalidad (tiempos), “que trasciende nuestras propias limitaciones y capacidades” y es guiada por el Espíritu, mostrando el Sínodo Amazónico como un reflejo de la revelación de Dios; la territorialidad (lugares), que reconoce el territorio como un lugar teológico; los sujetos del proceso (personas), dándose una ampliación de la diversidad de los participantes, con la presencia destacada de los pueblos originarios y de las mujeres, voces que “resonaron en el aula sinodal para conmover y transformar la forma de discutir un territorio, que ya no era algo lejano o entendido simplemente desde una lectura hipotética”.

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Presidência da REPAM lança mensagem final sobre o Sínodo https://observatoriodaevangelizacao.com/presidencia-da-repam-lanca-mensagem-final-sobre-o-sinodo/ Sun, 27 Oct 2019 02:19:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32742 [Leia mais...]]]> A presidência da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM lançou na manhã deste sábado, 26/10/2019, uma mensagem final sobre o Sínodo Amazônico. Assinado pelo presidente, cardeal Cláudio Hummes, pelo vice-presidente, o cardeal Pedro Barreto, e pelo secretário executivo, Maurício López, o texto destaca alguns dos pontos importantes que foram discutidos na assembleia de Roma, retomando o processo realizado ao longo de quase dois anos, e aponta alguns caminhos a partir da Assembleia Sinodal.

Confira o texto na íntegra:

A ESPERANÇA NESTA NAVEGAÇÃO PELAS ÁGUAS DO RIO SINODAL AMAZÔNICO: FONTE DE VIDA, CONVERSÃO E ORIENTAÇÃO PARA NOVOS CAMINHOS PARA A IGREJA DIANTE DE UM MUNDO EM CRISE SOCIOAMBIENTAL

Sínodo Especial para a Região Amazônica 

Roma, 26 de outubro de 2019

I. Nossa esperança no Cristo encarnado na Amazônia e nos novos caminhos:

A experiência de conversão eclesial trazida pela “periferia” da Amazônia e de seus povos produziu o caminho de novidade sinodal que SEGUE e que ainda está em processo, ajudando o centro a ser reformado. Portanto, devemos trabalhar intensamente, e juntos (as), para continuar navegando nessas águas vivas de diversidade cultural e do compromisso de cuidar da nossa casa comum para criar um amanhã melhor (o Reino para o qual Cristo nos chama a trabalhar) diante de uma Amazônia e de um mundo que ainda está em chamas materiais e existenciais por conta das injustiças e desejos de acumulações. É tempo de mudança, o momento é agora e será por meio da sinodalidade.

II. O caminho da nossa navegação: 

  1. A experiência de conversão, ou seja, o ser transformado pela e para a Amazônia como um território vivo e diversificado e por e para seus povos e comunidades, é, ao mesmo tempo, o modo como o próprio Deus nos mostra o caminho que devemos seguir como Igreja a serviço da vida. Confiar que Deus caminha conosco, que Ele está e esteve presente nesse processo e que ele nos convida a ser verdadeiros co-criadores de novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.
  2. O caminho é algo permanente e é um processo contínuo (não termina). Este Sínodo já é uma experiência inédita de caminhar juntos e transformou a Igreja desde a periferia, anteriormente considerada indesejável, para o centro, ajudando-a em seu próprio processo permanente de reforma. Uma verdadeira conversão liderada pelo Papa Francisco e que é, hoje em dia, irrenunciável, para ser uma Igreja que está em saída missionária, que dialoga com os outros com respeito e igualdade, afirmando-se como uma voz ética, mártir e profética diante da crise socioambiental sem precedentes, e uma Igreja que se posiciona como o próprio Jesus ao lado daqueles que foram considerados descartáveis e que hoje ilustram os Novos caminhos.
  3. O Sínodo teve várias fases que são como os mais diversos afluentes ou rios tributários, que vão se integrando pouco a pouco no majestoso, tumultuado e imparável Amazonas, que é uma fonte de vida no coração da Igreja e do mundo, reconhecendo:

A) a origem histórica do Sínodo, que evidentemente se encontra no caminho do Concílio Vaticano II, em que somos uma Igreja que se abre, de forma progressiva mas sem renunciar ao mundo e a seus gritos e esperanças, fazendo uma opção firme de ser um sinal de vida e irmã de caminhada na realidade do mundo atual. Uma igreja sempre em reforma.

B) o caminho do Magistério da Igreja na América Latina (Medellín 1968; Puebla 1979; Santo Domingo 1992; Aparecida 2007), que fez uma opção preferencial pelos pobres, pelo diálogo com as culturas, pelo reconhecimento de seu chamado à evangelização no respeito às identidades e iluminando a presença de Deus já viva e presente nas povos, e em sua definição de caminhos de discipulado missionário com opção e preferência pela Amazônia como território sociocultural e pelos seus povos e comunidades. Uma Igreja que descobre sua vocação e missão a partir da vida dos povos e também em seu próprio caminho.

C) Os testemunhos de incontáveis mulheres e homens mártires da Amazônia, que mostram a força viva do caminho da entrega para serem sementes a serem plantadas no coração dos povos, na opção pela justiça sendo vida, e vida em abundância para eles. Nesse mesmo sentido, tantos profetas, conhecidos e anônimos, que deram suas vidas por opções particulares, institucionais, de rede, sendo leigos, leigas, missionários, missioárias, religiosas, religiosos, sacerdotes, bispos, entre tantos outros que abriram seus corações para dar vida a esse acontecimento sinodal. Estes testemunhos continuarão sendo levados adiante, ainda mais além desse momento conjuntural e muito importante de Assembleia.

D) A Rede Eclesial Pan Amazônica – REPAM, que nasceu como a confluência de tantas águas vivas e serviu como ponto de encontro, também serviu incansavelmente para que as forças essenciais, porém frágeis e dispersas da Amazônia, pudessem se reunir para responder a esse sistema que descarta, mata e que já não pode mais continuar. Como REPAM, estamos aprendendo e tecendo progressivamente uma sinodalidade que serviu para chegar a este Sínodo, sobretudo em relação à escuta atenta às vozes do território.

Aprendemos a servir de ponte para que muitas pessoas se descubram como uma parte essencial deste Sínodo, dentro e fora da aula sinodal, todos no mesmo espírito que busca criar novas possibilidades para respondermos juntos para nos tornarmos a verdadeira presença que opta pela vida, neste mundo em pedaços, em profunda crise ambiental, da democracia, da rejeição do diferente. Mesmo com as consequências que isso traz, de confrontar e incomodar os poderes que neste mundo desejam servir aos interesses malignos de destruição e morte.

E) A vida dos povos indígenas em geral, e das mulheres em particular, que deram um tom totalmente diferente, mais vivo, renovado e corajoso a este Sínodo. Sua clareza, o testemunho de vida deles, a conexão espiritual com a Amazônia e seu corajoso grito por mudanças já, sua vontade de serem aliados, de responderem diante da urgência e de caminharem com o Papa, deixaram uma marca inapagável neste Sínodo. Tenho certeza de que esta marca permanecerá no coração do Papa, de toda a Igreja e daqueles que participaram neste Sínodo como símbolo da presença da força viva de Deus entre nós. A voz de uma mulher, intercultural e com dedicação corajosa pela vida até às últimas consequências, embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer como Igreja para dar a essas vozes o merecido alcance.

F) e, acima de tudo, saber que o SÍNODO é um PROCESSO em andamento, que é uma navegação de longo prazo e que há muito mais para continuar navegando nessas águas vivas da Amazônia, aprendendo com os povos e comunidades, fazendo sua opção inculturada e intercultural com eles, mas sabendo que o MELHOR VINHO ainda está por vir. A fase pós-assembleia do Sínodo é a mais importante. Nela, como Igreja no território, como REPAM, e com os povos e comunidades, somos os principais atores, e DEVEMOS retornar àqueles que vivem e esperam no território. Trazer de volta o que eles nos confiaram com suas vidas, esperanças, gritos e alegrias, para continuar tecendo juntos neste momento em que o mais importante começa. A fase final, que é a mais importante do Sínodo, está apenas começando agora e cabe a todos nós, juntos, levá-la adiante.

É o vinho novo que exige novos odres para que possa amadurecer aos poucos e saber que o Reino e a possibilidade de outro mundo estão ali, que devemos lutar por ele, e que a morte não tem, nem nunca terá, a última palavra. É uma verdadeira experiência a caminho da Páscoa, da ressurreição. Trata-se de assumir os fogos vivos e esperançosos de nossos povos e comunidades, que podem extinguir e sufocar os outros fogos destrutivos do desejo de acumular, do desejo de destruir, da rejeição de outros modos de vida. Devemos descobrir nos povos amazônicos, com suas próprias fragilidades, os ensinamentos para um caminho que possa nos levar a uma vida melhor e a relacionamentos mais harmoniosos com todos e com o cosmos.

III. Os horizontes do caminho sinodal

O Sínodo expressa 4 conversões essenciais que serão os NOVOS CAMINHOS para a reforma e a nova etapa para a Igreja na Amazônia e talvez também para a Igreja como um todo.

  • Novos caminhos de Conversão Pastoral.
    • Igreja em Saída Missionária
    • Discípulos Missionários na Amazônia
  • Novos caminhos de Conversão Cultural – inculturada e intercultural.
    • O rosto da Igreja nos povos e comunidades amazônicas e indígenas
    • Caminhos para uma Igreja Inculturada e Intercultural
  • Novos Caminhos de Conversão Ecológica – Socioambiental.
    • Em direção a uma ecologia integral a partir da Encíclica Laudato Si´
    • Igreja que cuida da casa comum na Amazônia
  • Novos Caminhos de Conversão Sinodal.
    • A sinodalidade missionária na Igreja Amazônica
    • Novos caminhos para a ministerialidade eclesial
    • Novos caminhos para a sinodalidade eclesial

IV. Em comunhão e caminhando junto com nosso irmão o papa Francisco, a Igreja e a Amazônia

Como o CAMINHO é realmente a própria EXPERIÊNCIA, e que Jesus e seu chamado a sermos co-criadores do Reino nos indicam um rumo, é importante saber que esse processo sinodal é um meio privilegiado de acompanhar o Papa Francisco. Neste caminho os povos indígenas da Amazônia chamaram o Papa: de irmão e de um deles, aquele que os entende melhor, aquele que está fazendo uma opção corajosa para defender a vida e seus territórios, seu aliado e aquele que os povos indígenas da Amazônia creem precisar de acompanhamento porque, às vezes, parece estar sozinho. A melhor maneira de navegar nestas águas com ele é assumindo os compromissos deste Sínodo, independentemente do que está no papel, ou seja, olhando o que está em nossa experiência de vida e no que dentro de nós foi transformado e trouxe renovação. São sementes oferecidas, com a certeza de que há muito por ser feito para semear na terra que preparamos, e que outros no futuro haverão de recebe-los como dom.

Reconhecendo esses novos compromissos, nos sentimos convocados a levá-los aos nossos territórios, convocados a participar e transformar nossas realidades eclesiais particulares, colocando a vidas e esperando que o Papa possa discernir tudo o que ouviu de nós durante esses dois anos (e nessas três semanas de Assembleia), para que nos devolva sua palavra e orientações na Exortação Apostólica, se possível, ou em algum outro tipo de documento, o que poderia ocorrer em março do próximo ano. Sejamos pacientes para esperar que nosso irmão Francisco nos brinde com seu ensinamentos depois de nos ouvir.

O documento final deste Sínodo será um instrumento muito importante, mas não é o documento que determinará os novos caminhos. Precisamos ter cuidado com aqueles que não querem mudar nada, que querem que as coisas acabem aqui e também cuidado com os profetas de calamidades que expressam que nada disso faz sentido, porque olham à luz de suas próprias categorias autorreferenciais. Em ambos os casos, eles se negam a ver e impedem que outros o façam, que esse é o momento preciso, um Kairós esperado que continua fluindo como um rio de água viva e que já não pode ser interrompido pelo que já foi e alcançou, o que já é e está determinado como novidade, o novo que inevitavelmente será para abrir novos horizontes do Reino.

“Com os diversos povos da Amazônia, Oh Senhor da encarnação, Jesus da entrega até a morte trágica pela injustiças de ontem e de hoje, e Cristo da certeza da vida nova na ressurreição, que saibamos reconhecer a tua verdade na diversidade de cada cultura nessas terras. Que saibamos discernir a verdade do seu chamado na voz e na vida dos povos e comunidades que vivem uma relação harmoniosa com a terra, com os outros e com a força divina ”.

Fragmento da oração de consagração do Sínodo Amazônico a São Francisco de Assis

Card. Claudio Hummes, OFM

Presidente da REPAM

Card. Pedro Barreto Jimeno, SJ

Vice-presidente da REPAM

Mauricio López O.

Secretário Executivo da REPAM

Fonte:

www.repam.org.br

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Projeto 40 dias pelo Rio: Navegando juntos a boa nova de Deus a caminho do Sínodo Amazônico https://observatoriodaevangelizacao.com/40-dias-pelo-rio-navegando-juntos-a-boa-nova-de-deus-a-caminho-do-sinodo-amazonico/ https://observatoriodaevangelizacao.com/40-dias-pelo-rio-navegando-juntos-a-boa-nova-de-deus-a-caminho-do-sinodo-amazonico/#comments Mon, 02 Sep 2019 13:16:23 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31360 [Leia mais...]]]>

Há poucos dias, tive o privilégio de ir às profundezas do encontro com o mistério da vida em meus Exercícios Espirituais. Foi um encontro profundo com este convite para seguir o projeto do Reino desse Cristo irmão que se tornou um com e para nós, para do conhecimento interior de sua vida, seu itinerário, sua paixão e ressurreição, mais ama-lo e segui-lo. Este espaço foi um privilégio para preparar o coração neste caminho para o Sínodo Amazônico.

Foram meses, e anos, muito intensos de preparação sinodal. Múltiplas viagens, encontros, diálogos, encontros, desentendimentos, escuta de esperanças, desejos, dores, indignação, cura e, sobretudo, muitos horizontes neste belo e ameaçado território amazônico. Pessoalmente, me senti particularmente privilegiado pela Graça de descobrir Deus presente sem duvidar ou ser capaz de duvidar da luta cotidiana dos povos indígenas e comunidades amazônicas, e em um número infinito de rostos concretos de diversas mulheres e homens da Amazônia ou outros lugares que amam a vida e se preocupam com esse território que pudemos escutar. Foi um verdadeiro presente (e a experiência mais extenuante que sem dúvida vivemos como REPAM) para poder contribuir com tantas irmãs e irmãos do território servindo de ponte para que suas vidas e vozes sejam coletadas, reconhecidas e levadas aos espaços de preparação para o Sínodo do nosso serviço como REPAM.

O processo não tem sido fácil, e é uma tarefa sempre incompleta e muito complexa, porque as vozes mais críticas nos confrontam desde a ignorância e algumas vozes amigas e comprometidas consideram que nada é suficiente, mas além disso vemos sinais inéditos da marca destas vidas e vozes do território em todos os processos sinodais. Estou muito animado em ouvir tantas pessoas, do território e pessoas da Igreja, que leem o Instrumentum Laboris e dizem: eu sou isso, isso representa-me, e aí está a minha palavra, a minha esperança, e nisso comprometo-me.

Neste processo, agradeço o dom imerecido de encontrar o papa Francisco com esse olhar claro, sereno e absolutamente confiante em Deus, pedindo que não percamos o foco, que não esquecemos a presença do povo em todo o processo, que não permitimos que o Sínodo seja diluído, que nos lembramos que a periferia é o centro e que cuidamos do discernimento.

Perante isso, que é sinal de Deus, e também diante da violenta reação de alguns com gritos estridentes completamente desconectados da realidade Amazônica concreta e de seus povos que são lugar teológico. Vozes que mostram posições absolutamente alheias ao processo de discernimento tão amplo, orado, participado e cuidado, e que parecem refletir o medo da mudança e o medo de perder espaços de poder e controle pretendendo impedir que o Espírito sopre com sua beleza os novos caminhos necessários para a Igreja e os impostergáveis para uma Ecologia Integral, dada a crise ambiental planetária sem precedentes. Tudo isso, os sinais de esperança e os de mal-entendidos, me motivaram a compartilhar isso, intitulado: 40 dias pelo Rio: Navegando juntos a boa nova de Deus a caminho do Sínodo Amazônico.

É uma contribuição para a preparação daqueles que, em espaços eclesiais, estão em sintonia com o Sínodo amazônico, ou querem está-lo. É uma ajuda para aqueles que vivem ou não no território, e para aqueles que foram convocados para participar no Sínodo ou no espaço ligado de fora: “Amazônia, casa comum”, e também para aqueles que não estarão neste esperado evento em pessoa, mas eles querem estar em comunhão espiritual.

É um arquivo diário, ou carta de navegação, que é muito simples e convida a reflexão-oração, que oferece uma das leituras do dia (às vezes um fragmento) e contribui para uma simples reflexão associada ao Sínodo, convida contemplar uma imagem que ajude a conectar-se com a realidade amazônica e a buscar os convites pessoais e comunitários internos, e finaliza cada dia com uma citação de algum texto-chave do ensinamento da Igreja, de alguma reflexão do papa Francisco, ou alguma outra fonte inspiradora.

São 40 dias, já que esse número reflete a busca pelo perfeito em Deus, ou seja, para nos prepararmos para que o que é de Deus inunde nossos corações e que o próprio do bom Espírito prevaleça nesse discernimento sinodal. É uma navegação pelos rios do interior de cada um nas águas das boas novas em direção ao Sínodo Amazônico, um percurso que começará no dia 27 de agosto e terminará no dia 5 de outubro às portas do começo da Assembleia do Sínodo.

No início da Assembleia Sinodal, o percurso culminará no encontro dos afluentes das águas internas até chegarem à grande bacia e convergência das águas do Sínodo, que começa em 6 de outubro. Neste percurso pedimos com intensidade para que Deus se torne propício para que tudo seja para Sua maior glória, para a vida e vida plena da Amazônia como um bioma e para a diversidade de seus povos e comunidades nativas (especialmente os mais vulneráveis e vulneradas), e para o bem da missão da Igreja neste lugar em sua vocação de seguir a Cristo e para a construção do Reino na Amazônia e no mundo.

Anelamos que seja um percurso através da palavra de Deus e nas águas da Amazônia que nos permita navegar para os novos caminhos da Igreja e para uma ecologia integral. Por isso, pedimos que vocês entrem na canoa, fiquem à vontade para encontrar o equilíbrio necessário e entrem nessas águas às vezes calmas e às vezes turbulentas para ficar atento ao que pode ser uma boa notícia.

Mauricio López Oropeza
Secretário Executivo da REPAM

Fonte:

IHU

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