Maria Aparecida de São Geraldo Morais – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sun, 29 Aug 2021 14:39:09 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Maria Aparecida de São Geraldo Morais – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Desafios da Catequese no cenário da pós-modernidade”, com a palavra Francisco das Chagas Lopes Matos, Márcio Ribeiro de Souza e Maria Aparecida de São Geraldo Morais https://observatoriodaevangelizacao.com/desafios-da-catequese-no-cenario-da-pos-modernidade-com-a-palavra-francisco-das-chagas-lopes-matos-marcio-ribeiro-de-souza-e-maria-aparecida-de-sao-geraldo-morais/ Sun, 29 Aug 2021 14:39:09 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40430 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Francisco das Chagas Lopes Matos, Márcio Ribeiro de Souza e Maria Aparecida de São Gerado Morais para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães.

Confira:

Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade

Catequista não é um professor que leciona. A catequese não é uma lição, mas a expressão da própria experiência e testemunho de fé em Cristo. Não se deve impor a verdade da fé, mas comunicá-la com carinho, paciência e amizade. Só assim a catequese se torna promoção da vida cristã, apoio na formação global dos fiéis e incentivo para ser discípulos missionários.

Papa Francisco

INTRODUÇÃO

“A catequese aparece no cenário eclesial como assunto controverso. Marginalização e incentivo são duas reações comuns ao tema”  (CARMO, 2010). Ao tratarmos de um tema tão desafiador na Igreja hoje, atenhamo-nos ao princípio norteador da nossa fé e propulsor da vontade e da certeza da missão do catequista: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8)

Importante enfatizar o sentido da palavra catequese, que traz consigo o poder de ecoar, pregar, anunciar e testemunhar, mergulhado em um modo de vida baseado no Evangelho. Quem acolhe a Palavra, se torna um divulgador, promove, assim, itinerários de crescimento da fé e da Igreja. “O catequista é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja” (Antiquum Ministerium, Art. 6)

Antes de tratarmos dos desafios da catequese hoje, façamos uma rápida inserção pelos modelos oficiais desde os primórdios da Igreja. 

O primeiro deles, o Catecumenato, consistia na experiência de fé e vida em comunidade. A pessoa adulta era levada a fazer uma opção consciente por Jesus. Nas fases do Catecumenato havia a acolhida a partir da intenção em saborear e conhecer a Palavra, numa experiência de discipulado; receber os Sacramentos da Iniciação Cristã por ocasião da Vigília Pascal e assim pregar, testemunhar, viver e celebrar a vida em Cristo. A fase celebrativa com símbolos e ritos é chamada mistagogia. Tudo convergindo para a experiência pessoal com Cristo. Importante: esse modelo de catequese permaneceu dos séculos II ao IV.

Outro modelo de catequese que perdurou dos séculos IV ao XV foi o denominado Regime de Cristandade ou Catecumenato Social. Naquele período havia a liberdade de culto dos cristãos, pois o cristianismo era a religião oficial do Estado de Roma.

A partir do século XVI, a Igreja segue com outro modelo chamado como Instrução, devido à Reforma Protestante de Martin Lutero que provoca uma ruptura com a Igreja Católica e, consequentemente, outros desafios são impostos a, até então, única igreja existente. Há então outra doutrina a partir do Concílio de Trento (1545-1563), a Contrarreforma. Aqui citamos as ações missionárias na Ásia e na América.

Na sequência de modelos catequéticos, seguimos com o Catecismo Romano ou dos párocos, que, após as missas, faziam os seus ensinamentos às comunidades. O foco é a doutrina. Entende-se que o catequizando não possui os elementos da fé e, portanto, deve receber tais ensinamentos básicos da Igreja de Roma.

Chegamos à fase da catequese como Educação Permanente para a comunhão e participação na comunidade de fé, a partir do final do século XIX e início do século XX. Aqui falamos de movimentos de atualização da fé para dialogar com o mundo, de Aggiornamento. Caminho do Construtivismo, de PIAGET.  Seus princípios básicos são ver, julgar e agir diante de uma realidade de progresso tecnológico, científico e os desafios da urbanização. Importante considerar o contexto do processo de secularização, ou seja, o estado laico, em um rompimento com o antigo modelo da cristandade, ratificado pelo Concílio Vaticano II.

Duas Conferências episcopais, a de Medellin (1968) e a de Puebla (1979), na América Latina, influenciaram um despertar para a catequese no Brasil que especificamos. O modelo de catequese atual é a Catequese Renovada: fé e vida. Documento 26, da CNBB. Trata-se da inserção na comunidade eclesial orgânica, pensada, organizada e concatenada. Entrelaça-se com toda pastoral da Igreja. É cristocêntrica, apresenta também a pessoa de Jesus histórico, o homem de Nazaré.

É uma catequese contextualizada, centralizada na pessoa humana. Luta pela salvação do ser humano como um todo. Preocupa-se com a moradia, educação, saúde, liberdade religiosa e outros valores essenciais à dignidade humana. É uma catequese histórico-profética na América Latina. O documento preconiza o proclamar que “Jesus é o Senhor” de toda história de promoção e cuidado com a vida humana. É um desejo de que a catequese esteja integrada à vida em comunidade. É acolhedora e inclusiva.

DESENVOLVIMENTO

Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade

Para a autora Carmo (2010), catequeta e biblista, teóloga leiga mineira, o principal problema da catequese atual é não levar em conta as mudanças atuais que as ciências do homem apresentam, especialmente a antropologia, a sociologia, a psicologia, e nem mesmo parece considerar os avanços da teologia. Segundo ela, a catequese precisa se emparelhar com a reflexão teológica tão avançada no momento. E, que existe um abismo assustador separando as duas realidades: a reflexão e a prática catequética.

1. A MUDANÇA EPOCAL E A NECESSIDADE DE UM NOVO PARADIGMA CATEQUÉTICO

Segundo a autora pesquisada, catequetas do mundo inteiro preocupados com a mudança epocal e conhecedores do processo catequético, esboçam algumas linhas gerais para um novo paradigma catequético, que responda aos anseios do homem pós-moderno, mantendo a fidelidade ao evangelho de Jesus Cristo e à tradição catequética da Igreja. Para eles, tanto a catequese dos catecismos de Trento como a catequese atual estão construídas em bases antropológicas próprias da modernidade que não se coadunam com os anseios do homem e da mulher contemporâneos da pós-modernidade. Urge traçar um novo paradigma, ainda que isso seja arriscado. A boa-nova de Jesus Cristo, que cativou milhões de pessoas e seduziu tantos seguidores, não perdeu sua força. Porém, os modelos de seu anúncio já não se encaixam no novo perfil de homem e mulher que ora se delineia. 

1.1 O fim do Regime de Cristandade

Com o fim do regime de cristandade, – numa sociedade inteiramente cristã, segundo a autora, citando Martínez (2006), a fé era transmitida por “osmose sociológica”, de uma pertença maciça, indiscutível e pacífica à Igreja -, o trabalho evangelizador e a catequese atual não podem permanecer do mesmo jeito. Começou-se a compreender a sociedade como algo secularizado, uma instância não mais cristã, mas partia-se do princípio de que o indivíduo permanecia cristão (VILLEPELET, 2006).

O modelo atual de catequese, advindo da renovação catequética da primeira metade do século XX e amplamente desenvolvido no Brasil, com feições próprias da realidade latino-americana (estilo e vida), que se baseava na cristandade, não se supôs o seu interlocutor: alguém secularizado e sem raízes cristãs bem definidas.

Para Solange, a catequese “moderna” tinha como destinatário um sujeito eclesial com novos anseios e novos valores, mas ainda com vínculos com a Igreja ou advindo de famílias com contornos cristãos. Não se tinha pensado num sujeito ateu, desnorteado e sem Deus, paralisado diante da sociedade evolutiva, fragmentada e globalizada que ora se apresenta. Nem mesmo num sujeito advindo da família cristã, mas apenas com maquiagem religiosa.

O ponto de partida e destinatário de sua palavra era o sujeito que se apresentava como alguém que já, de certa forma, conhece Jesus Cristo e o seu Evangelho. O objetivo seria apenas aprofundar o compromisso com o mestre Jesus, delineando as exigências éticas próprias do cristianismo, sem perguntar se existe a adesão primeira. No entanto, segundo a autora, Villepelet (2006) alerta para essa configuração social: “Hoje já não podemos pressupor uma sintonia real entre nossos contemporâneos e o mistério cristão do amor e seu poder de renovação. A boa-nova não se encontra mais no depósito da memória viva nem no horizonte das expectativas dos seres humanos”. Negar essa realidade seria partir de uma premissa falsa. Ainda que todo o raciocínio seja coerente, a conclusão fica comprometida pela inviabilidade da premissa.

1.2 A Renovação catequética e sua contribuição

Para Carmo (2010), a renovação catequética foi promotora da superação do período catequístico, aquele em que se fazia uso dos catecismos e se dava importância à memorização das fórmulas, que chegou com força no Brasil e a toda a América Latina. A hermenêutica do Vaticano II (1962-1965) que eclodiu nas Conferências Episcopais da América Latina, deu amplo espaço à renovação catequética, que ganhou vida e tomou corpo no Brasil com o documento Catequese Renovada da CNBB, em 1983.

Com a revolução catequética, segundo Carmo (2010), foi instaurado um novo modelo teológico com uma vertente mais antropológica que ocupava lugar cativo da teologia descendente. A Igreja corpo de Cristo que era entendida de modo estático e hierárquico, agora cedia lugar para a nova imagem da Igreja povo de Deus.

A pedagogia do ensino, para Carmo (2010), também mudou: a que entendia o destinatário da catequese como uma tábula rasa abria espaço para uma pedagogia da aprendizagem, alicerçada em Piaget ou no brasileiríssimo pedagogo dos pobres, Paulo Freire. Com uma visão muito otimista da humanidade!

Assim, para a autora(2010), citando Villepelet (2006), a catequese propõe revelar aos catequizandos o que eles têm dentro de si mesmos sem o saber, fazendo uma conexão entre fé e vida. Era uma pedagogia muito intuitiva: onde o encontro com Deus se dava a partir da vida, da existência concreta à luz da Palavra. 

Para Solange (2010), foram muitas conquistas, muitos desafios enfrentados com sucesso, e quanta encarnação na realidade latino-americana, de modo particular, que só podia resultar em avanços. Mas o tempo passou depressa. Parece que foi ontem. Mas mesmo o ontem já é passado! Ainda que não seja um passado tão remoto quanto a cristandade, a modernidade já não é o tempo presente. Mesmo assim, ela deixou marcas indeléveis.

Segundo ela (2010), o ser humano foi tatuado com o selo da razão e isso parece algo que não se apaga. Mas esse ser humano da modernidade, mesmo como todo o crivo da razão, ainda tinha espaços para a fé cristã, que ainda levava em consideração a voz da Igreja, talvez porque a modernidade tenha chegado tardiamente ao Brasil. E, que um ser profundamente marcado pela fé cristã ainda morava no recôndito da consciência moderna, tão sedenta de explicações!

1.3 O tempo que se chama hoje e o novo destinatário da catequese

Para a autora (2010), se isso foi realidade na segunda metade do século XX, o novo milênio desponta, no entanto, sob a égide da secularização. A aurora anunciada é de abandono da fé cristã, apesar do ressurgimento do sagrado – também no cristianismo – que se observa.

Para Solange (2010), fundamentando-se em Villepelet (2006), atravessamos um período de verdadeira recomposição espiritual. A atração pelo religioso, inclusive o cristão, não desapareceu, foi metamorfoseada. Os batizados já não se sentem cristãos da mesma maneira que antes; mas com uma diferença que aproveita as realidades religiosas disponíveis. Cada indivíduo toma a liberdade de construir uma espécie de religião privada, livre de toda restrição institucional. Trata-se de uma fé mais nômade e imprecisa, que representa a dimensão mais livre da liberdade. É um fator de realização pessoal, que não está necessariamente orientado para a transcendência. A busca espiritual de muita gente fica reduzida a uma migração dentro de si mesmo.

Segundo ela (2010), citando Villepelet (2005), já não se respira aquele ar cristão nas famílias, nem mesmo em um país de maioria católica como o Brasil. Já não se pensa no formato católico. Desponta uma nova configuração social, com novo vocabulário e nova gramática religiosa. A sociedade já não se organiza em torno dos valores difundidos pela Igreja. Uma mudança de época também para o Brasil! E o fato de uma nova pessoa se declarar católica no Censo, por exemplo, não significa adesão à boa-nova de Jesus Cristo, muito menos aos ensinamentos da Igreja. Não quer dizer nem sequer frequência às liturgias e fidelidades à prática sacramental da Igreja.

Na visão desta autora (2010), e dos autores por ela pesquisados: Denis Villepelet (2005) e Clifford Geertz (2006), uma religião católica com novos contornos foi desenhada nos últimos anos: um catolicismo light, feito de diversificados elementos bem selecionados num amplo self-service da religião oferecido pela pós-modernidade. Uma verdadeira bricolagem, minuciosamente bem-feita e com elementos por vezes contraditórios que, no entanto, se coadunam sem causar constrangimento: uma religião sem vínculos de pertença.  Como disse Geertz (2006): “A religião tornou-se cada vez mais um objeto flutuante, desprovido de toda ancoragem social em uma tradição pregnante ou em instituições estabelecidas”.

Diante dessa mudança epocal, para Solange, a Igreja percebe a urgência de anunciar a boa-nova de Jesus Cristo de forma que ela seja de novo crível. Como afirma o Documento da CNBB (2005):

A onda secularizante da cultura moderna, a falência das utopias sustentadas pelas promessas do Iluminismo e a força desagregadora do processo de globalização, balizado por critérios puramente econômicos, voltados para o consumo, geraram um vazio tal, de esperança e de valores, que a missão de evangelizar nos aparece cada vez mais como a urgência das urgências.

Catequese Renovada, Documento 26, p. 19

Ou como afirmou Nery (2007): “Já não é mais possível continuar ingenuamente nos restos de cristandade que ainda há entre nós, da fé como social, um costume da família, como parte do fato de ser brasileiro” (p. 20).  Carmo (2010) diz que já é hora de assumir o novo sujeito social, destinatário da boa-nova: alguém a quem é preciso propor a boa-nova como força para viver, sem rebaixar o que a Palavra tem de abrupta e desconcertante. Já é tempo de fazer conhecer aos homens e mulheres de nosso tempo. Segundo Fossion (2006): “o frescor da boa-nova de Jesus Cristo, para além das sombras e barreiras que a têm desviado” (p.21).

2. UMA CATEQUESE EVANGELIZADORA

Para alcançar aqueles que ainda não conhecem a boa-nova de Jesus Cristo e sua ação transformadora é urgente que a reflexão catequética se proponha algumas tarefas:

2.1 Aprofundar a necessidade do caráter evangelizador da catequese

Catequizar e evangelizar são duas ações da Igreja que estão intimamente interligadas. No decorrer da história da Igreja, coube à evangelização a missão do primeiro anúncio e a missão de aprofundar a vivência cristã ficou a cargo da catequese. Ela teve como foco o conhecimento da doutrina católica e os princípios da ética cristã. A partir da análise desse movimento e diante do tempo atual, se faz necessária a construção de uma catequese evangelizadora.

Infelizmente na estrutura pastoral tradicional da Igreja, a evangelização é algo secundário e o destinatário é somente os não cristãos. O autor Villepelet indica a construção de um novo paradigma catequético com contornos evangelizadores ainda não bem definidos.

2.2 Refletir sobre a mudança epocal e a exigência de um novo paradigma catequético

O debate em torno da questão da pós-modernidade é bem avançado. Contamos com a contribuição de muitos autores, especialmente teólogos, que com perspicácia aprofundaram na ótica da catequese contribuindo para uma melhor percepção das novas exigências no campo da fé diante das mudanças na sociedade. 

Com isso surgem novas intuições que confirmam hipóteses para o novo paradigma da catequese com um destaque mais de proposta do que de herança. Uma catequese mais próxima da liturgia, de iniciação e que se apresenta de maneira mais orgânica, mas não linear, do mistério cristão.  O ser cristão exige iniciação e opção, a fé cristã é reposta pessoal e livre ao chamado de Deus. Cada pessoa é convidada a elaborar sua resposta de forma livre e convicta.

A segunda hipótese é oferecer uma experiência vivencial que seja absorvida, degustada, experimentada. É uma tarefa da catequese marcar assim a experiência vivencial da singularidade cristã. Com isso a liturgia se torna o lugar do mergulho dos cristãos no mistério pascal de Cristo despertando o caráter celebrativo da fé na catequese. Da estrutura de sala de aula para um encontro marcado pela mistagogia, oração, silêncio, escuta da Palavra de Deus e partilha.

A terceira hipótese, construída sobre a segunda, no que se refere a singularidade da vida cristã como experiência do mistério, indica a pedagogia da iniciação como método próprio levando em consideração o tema da linguagem ou da gramática da fé. A Igreja deve oferecer condições aos batizados de conhecer sua fé a partir da experiência profunda do Deus vivo na qual foram mergulhados no batismo. Cada pessoa tem o direito e a liberdade de fazer este caminho de experiência ou também rejeitá-lo, caso não mais esteja de acordo com o momento de sua vida.

A quarta hipótese nos diz que a catequese cristã, em todas as etapas e situações, comporta um desenvolvimento coerente do mistério cristão. Comporta também, em meio a revelação do Deus uno e trino, o assentimento da inteligência. A fé cristã traz elementos de racionalidade e compromisso. A racionalidade da fé continua presente, mas com um acento mistagógico. A profecia se intensifica ancorada pelo belo, pelo lúdico e pelo místico.

2.3 Perceber os pressupostos teológicos que sustentam o paradigma de uma catequese evangelizadora

Diante dos desafios da sociedade pós-moderna os catequetas buscam elaborar uma catequese evangelizadora, centrada na iniciação cristã mesmo que alguns dos seus destinatários já tenham recebido alguns dos sacramentos de iniciação. É importante se apropriar de pressupostos teológicos, avaliando riscos e vantagens desse novo paradigma.

2.4 Delinear os traços mais marcantes desse novo paradigma catequético

Contudo, se faz necessário traçar de forma mais sistemática os contornos do paradigma catequético evangelizador, buscando suas características fundantes e compreendendo suas exigências e desafios. O caráter experiencial da fé é uma das marcas do novo paradigma.

CONCLUSÕES

1. Francisco das Chagas Lopes Matos

Concordo com a autora lida, que os desafios da catequese no cenário do mundo atual da pós-modernidade impõem-se devido ao mundo plural e sua multirreferencialidade. E a uma sociedade complexa e também plural. A crise atual de transmissão, que atinge todas as instituições da sociedade que têm a tarefa educativa, não poupa a Igreja e muito menos a catequese, como ato de comunicação da fé. Precisamos urgentemente fazer uma releitura do ato catequético a partir da pós-modernidade adaptando-o às exigências dos tempos atuais.

Percebemos que diante de tantas mudanças, a catequese aparece no cenário eclesial como um assunto controverso. Temos duas reações comuns ao tema: A marginalização e o incentivo. Por um lado, é um fato, que a catequese, hoje, sofre muitas críticas, por exemplo: doutrinação, sacramentalização, politização, ideologização, continuísmo, escolarização da fé, pastoral de manutenção e devocionismo popular. Além disso, muitos a consideram uma carta fora do baralho e descontextualizada, parece não levar em conta as mudanças atuais que as ciências do homem apresentam, especialmente a antropologia, a sociologia, a psicologia, e nem mesmo parece considerar os avanços da teologia. A catequese não está emparelhada com a reflexão teológica tão avançada no momento. Há um abismo grande e assustador que separa estas duas realidades. De um lado, a reflexão e a prática catequética, por outro, a catequese é respeitada e valorizada. Assistimos a um autêntico porvir do ato catequético. Nomes ímpares estão se dedicando a esse tema e a catequese como foco de seus estudos, pesquisas, aprofundamentos, simpósios e congressos.

É verdade que a secularização, aliada à evasão crescente de católicos da Igreja, e a redescoberta do sagrado impulsionaram os pensadores católicos a se debruçar sobre o problema catequético, e não são poucos os que têm tomado a atividade catequética numa pedagogia dialógica de corresponsabilidade pastoral como esperança da Igreja do futuro. Percebemos nos últimos tempos uma multiplicação de ofertas de roteiros catequéticos; reaparecem os documentos oficiais de Roma ou das Conferências Episcopais; o aumento do interesse por cursos que formam catequistas, ajudando a refletir os sinais dos tempos, o conteúdo e a didática da catequese.

Há um desejo latente de saber para onde direcionar a ação catequética da Igreja, tão antiga quanto a Igreja mesma! Neste contexto de novo despertar evangelizador, se entendermos a catequese como evangelização, o leque de possibilidades aumenta vertiginosamente. Assistimos um verdadeiro florescer do ímpeto evangelizador que surgiu depois da intuição de João Paulo II, que desembocou no Projeto Rumo ao Novo Milênio.

Apesar de o termo evangelização ser polissêmico, por dizer respeito também à ação pastoral da Igreja, percebe-se uma sensibilidade atual que emerge no interior da vida eclesial para um anúncio da palavra de Deus mais encarnada e contextualizada; mais do testemunho que dos discursos; mais da espiritualidade que dá doutrinação; mais do querigma que do antropológico etc.  As Jornadas, os encontros e as técnicas de evangelização; as comunidades missionárias e evangelizadoras; o sínodo dos bispos nos oferece um rico vocabulário. Tal oferta parte também de vários grupos, sobretudo das paróquias, das Arqui(dioceses), das Conferências Episcopais e das editoras católicas. E, do próprio cristão, quando olha perplexo para o mundo e percebe que ele não está mais em regime de cristandade e cresce de forma galopante a secularização.

Nesse contexto, se realmente queremos transmitir a Boa-Nova de Jesus Cristo, seduzir os corações das pessoas para Ele, buscando uma sociedade que viva seu discipulado, é hora de enfrentar este mundo plural, multirreferencial e secularizado. Já virou lugar comum dizer que a fé cristã é encarnada e não se pode abster de assumir os desafios de seu tempo.

Quais desafios a catequese hoje, cuja tarefa é transmitir a fé cristã, ou seja, proporcionar a experiência cristã de Deus? O rol é imenso. Dentre tantos enumerados na literatura e nos artigos lidos, gostaria elencar cinco desafios que entendemos como mais urgentes para uma releitura do ato catequético, isto é, a necessidade de um novo paradigma catequético que responda às necessidades do tempo presente. A partir da compreensão dos mesmos percebe-se a urgência. 

1º O desafio da interioridade se apresenta como busca de sentido. Podemos nos perguntar: Teria pertinência a tarefa da catequese hoje, cujos principais desafios passam por novas exigências e necessidades dos homens pós-modernos? Como posso existir, ser eu mesmo, encontrar um ponto de apoio num universo estilhaçado? Em que condição me é permitido viver? Estaria a fé cristã desarmada diante desse desafio? Percebemos que de uma hora para outra tudo mudou: o otimismo da modernidade, eclipsou-se à luz da razão, o ardor profético se esfriou. Nossa identidade vinha da família, cidade, do lugar onde morávamos, do ambiente que frequentávamos, da cultura que reinava etc. Hoje, o homem pós-moderno se sente perdido diante de tanta liberdade, a ponto de não saber quem é ele mesmo. Resta-lhe a tarefa de edificar a construção de sua interioridade, no empenho de sua personalização e inclusive de sua fé.

A fé cristã foi esculpida, mas não está desarmada. Ela tem e pode fazer uso da Palavra de Deus, meditação, oração, do mistério revelado etc… Não pode ter medo. E, nem fazer campanha contra o processo de subjetivação empreendido pelo sujeito pós-moderno, como se ele fosse inimigo do evangelho. Ao contrário, a fé cristã é convidada a contribuir com o processo de interiorização. A catequese pode favorecer a afirmação pessoal, pois o evangelho é força para viver e Deus fala ao íntimo do coração de um de nós, revelando-nos a nós mesmos. “A criatura insignificante se torna infinitamente importante, indizivelmente grande e bela, ao receber de Deus o dom de si mesmo” (RAHNER, [19–], p.16). Vença o medo e ganhe o mundo.

A fé cristã e a pastoral devem levar a pessoa a ser ela mesma e assumir-se em primeira pessoa. Cada pessoa deve enfrentar suas verdades mais profundas. Sem a qual ela não pode ser autêntica. É próprio da fé cristã comunicar essa interioridade, fortalecer a espiritualidade, de ajudar a pessoa a migrar para dentro de si.  Ela é uma experiência humanizante que torna possível a dinâmica de crescimento espiritual que mediatiza o tornar-se sujeito. Santo Agostinho dizia:

“Entrei no íntimo de meu coração sob a tua guia, e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio. Entrei e, com os olhos da minha alma, acima destes meus olhos e acima de minha inteligência, vi uma luz imutável” (Conf. VII, 10, 16).  No meio do caos, há sempre uma oportunidade” (Sun Tzu). “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (cf. Jo 8,32).

Como podemos ter uma identidade cristã se não estivermos seguros da nossa própria identidade?

O desafio da interioridade é ajudar a pessoa a construir sua própria identidade permitindo que cada indivíduo conheça a si mesmo. Sem cair num narcisismo ou intimismo. É o nosso maior desafio. É uma tarefa árdua: libertar a pessoa, ajudá-la a encontrar-se libertando-a de amarras, correntes etc. É como empurrar uma enorme pedra morro acima despido, sem as vestes ou instrumentos apropriados. Hoje, a liberdade: nossa maior obrigação.  Não temos dúvida de que a viagem mais longa é ao nosso interior. Não importa a cor do céu, quem faz o dia lindo é você. Não se perde por dar amor. Perde quem não sabe receber.

2º O desafio querigmático nos interpela a anunciar o mistério pascal, pois o Deus de Jesus Cristo tornou-se desconhecido de nossos contemporâneos. A transmissão da fé não se faz mais automaticamente como na sociedade tradicional, nem acontece na transmissão de uma utopia como na sociedade moderna. Proporcionar aos catequizandos um mergulho no mistério pascal, uma experiência cristã de Deus, é tarefa que não convém à catequese desdenhar. Ao final, o cristianismo que outrora se transmitia por descendência, hoje se estabelece por livre opção” (RAHNER, 1964, p. 30). Maior valorização do polo querigmático sem esquecer o antropológico;

3º O desafio pedagógico ou educativo nos interpela a proporcionar a experiência cristã de Deus através de uma pedagogia da iniciação que supere o modelo tradicional: pedagogia da cristandade ou pedagogia do ensinamento que deu seus frutos em tempos de controvérsias doutrinárias entre os pensadores da fé, permeada pela a ignorância religiosa das multidões. Mas que encarcerou a fé na cela da doutrina e da transmissão de um saber. E, da modernidade, a pedagogia da aprendizagem que fez conquistas no campo da experiência, unindo fé e vida. Mas que copiava a pedagogia humanista das escolas ocidentais: seus ritmos, seu modo de gerar aprendizagem, sua concepção do conhecimento etc. Com roteiros catequéticos exatamente como a escola: programas bem lineares que visavam à aprendizagem e à conclusão do curso ao final do trajeto. Mas, ao adotar a pedagogia humanista do mundo escolar ocidental, a catequese se esqueceu da impossibilidade de dissociar a pedagogia da política educativa na qual ela assenta: a razão humana. Esquecendo que a transmissão da fé não lida somente com o saber, com as razões da fé, ou com a mera transmissão de doutrinas e dogmas. A pedagogia original da fé passa pela experimentação de um mistério que o saber não explica, mas que o coração deseja e busca. Deus não se esgota em verdades dogmáticas, nem é resultado de análises da realidade. Por mais importante que tudo isso seja. Deus é mistério de amor que se derrama, se entrega; e isso não se entende, mas se experimenta com a vida, com o coração, com os afetos, tornando-se ponto de partida para a cognição querer dar as razões da fé.

4º O desafio da comunidade ou comunitário nos interpela a resolver de modo urgente dois problemas. Primeiro: o mal-entendido que opõe Igreja e comunidade. Que indispõe os cristãos com a Igreja institucional e cria a ilusão de que é possível participar de uma comunidade ideal, onde os afetos transbordam e a convivência fraterna é natural. Normalmente, a palavra Igreja remete a instituição, normas, leis, regras, hierarquia, obediência, ritos. Ela traz à lembrança relações frias e distantes, bem distintas do amor-entrega de Jesus que a funda. A palavra comunidade, ao contrário, quase sempre faz referência a laços de solidariedade, fraternidade, adesão sem contratos e normas que estabelecem essas relações. São ambientes de oração, de partilha e de diálogo, onde acontece uma solidariedade por afinidade, por comunhão de interesses. Segundo: construir novos modelos eclesiais, nos quais a pertença não se dá mais por obrigação ou por afinidade de ideias a serem atingidos. A agregação dos indivíduos contemporâneos se dá em torno do desejo de partilhar a experiência de Deus e renová-la continuamente. Tal experiência se tornou para nossos contemporâneos fator de subjetivação; ingrediente nada dispensável na construção de um sujeito livre, capaz de construir sua própria identidade. A catequese e a Igreja em geral não devem exigir pertença com argumentos morais, impositivos; nem deve impor limites na tentativa de cercear o indivíduo, amarrando-o a uma comunidade com a qual ele não se identifica. Ao contrário, deve por meio da liberdade e da aceitação do sujeito promover sua pertença, deixando-o construir as bases de sua agregação, sem coerção alguma.

5º O desafio do preparo do evangelizador, no caso específico da catequese, o catequista. A sua autoconsciência como educador da fé e autor de seu crescimento na fé. O catequista é muito importante na vida do catequizando. E, essa importância exige dedicação e competência no exercício de sua função educativa como mediador da fé, do encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo pelo o seu testemunho de fé, exemplo e experiência com o mistério, o sagrado, certamente conduzirá melhor os seus catequizandos para a efetivação de autêntico cristão. No entanto, sabemos que a aquisição da autoconsciência é um processo longo e complexo, mas essencial no ato educacional catequético. O educador da fé deve buscar ultrapassar ou transcender a dimensão do ensino de conteúdos conceituais, procedimentos ou atitudes, preparando o catequizando para a vida, partindo do pressuposto que educação e vida se fundem em uma só ação. Diante dessa nova gramática existencial, ou seja, de tempos tão novos, da profundidade da mudança social, numa época não esclarecida, mas, de esclarecimentos. Momento propício para gestar conhecimento; conduzir o homem ao seu entendimento; fomentar uma fé capaz de conduzir a pessoa não só a conhecer, mas, tornar-se íntima de Jesus Cristo; “dar razões da sua fé”; ajudar o catequista a sair de “menoridade”, ou seja, tornar-se maduro no conhecimento e na fé. O desânimo, o desinteresse, acreditar que já sabe tudo é o grande perigo, que a grande maioria, não só os catequistas, mas os seres humanos em geral, preferem permanecer na menoridade, uma vez que é mais cômodo. Assim, podemos deduzir a necessidade e a importância da formação dos catequistas, motivando-os a saírem do seu comodismo, de sua menoridade, a querer saber mais, avançar no conhecimento tornando progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento. Também é necessário proporcionar experiências de fé que o torne apto a fazer uso público de sua razão e expor publicamente suas convicções de fé. Ser um autêntico discípulo missionário de Jesus. Procedendo assim, fará com que o catequizando também se expanda sempre mais enquanto discípulo. Todas estas situações devem ser postas com clareza no complexo pedagógico do ato catequético. Uma vez assumidas como opção de educação na fé, aqui entendida como uma educação para a evangelização; a reflexão, a autodeterminação, o testemunho, a experiência. Enfim, uma educação para o discipulado.  Esse processo acontece gradativamente.

Lembremo-nos: se o mundo pós-cristãos por um lado desafia a catequese, por outro oferece a ela chances de personalizar a fé. E isso é maravilhoso, pois, como dizia Rahner, “uma única conversão verdadeira na grande cidade é mais maravilhosa do que espetáculo duma aldeia no campo, em que todos frequentam os sacramentos” (1964, p. 41). Ou ainda: “um único convertido, que pelo esforço missionário arranquemos dum ambiente descristianizado, vale mais, do ponto de vista missionário, do que três outros que conservemos das antigas fileiras do cristianismo tradicional” (1964, p. 45).

A catequese se vê desafiada a novas tarefas ou não (seria/será) mais capaz de falar ao coração de nossos contemporâneos. A promover um humanismo integral; a adaptar-se às exigências dos tempos atuais como um lugar de interatividade construtora e desconstrutora, que coloca em suspense uma vida fragmentada e sem referências, e ao mesmo tempo que incentiva e proporciona a construção de uma vida nova através da experiência cristã como espaço de convivialidade.

A todos os catequistas e catequetas desejamos abertura ao novo e compromisso com as conquistas já feitas: um equilíbrio difícil e fundamental diante dos desafios da pós-modernidade: uma modernidade líquida, plural, complexa, multirreferencial, pós-regional e irregional.

2. Márcio Ribeiro de Souza

No cenário eclesial, a catequese vivencia os impactos do mundo pós-moderno e por isso somos convidados a repensar os processos e investir em um novo paradigma catequético. É urgente emparelhar a catequese com a reflexão teológica que avançou significativamente nos últimos tempos. Na atualidade, é notório o movimento de pensadores na área da catequese que se dedicam a pensar uma catequese evangelizadora com uma sensibilidade para a necessidade do anúncio da palavra de Deus. Como resultado, percebemos a oferta de novos roteiros, subsídios, congressos, encontros de formação para catequistas e muitas outras ações que direcionam a ação catequética da Igreja.

Ainda que o sistema clássico de catequese ofereça alguns frutos, é preocupante como este se fecha às mudanças do tempo atual e se torna incapaz de dialogar com a evolução sociocultural da sociedade. Como resultado, percebemos uma catequese que não gera comprometimento com a vida comunitária e se torna apenas sacramental. Após a celebração dos sacramentos, perde-se o vínculo com a caminhada eclesial e, consequentemente, não se assume de fato a sua cidadania eclesial, se colocando a serviço nos diversos ministérios da Igreja.

É importante traçar um novo paradigma tendo em vista que a boa-nova de Jesus não perdeu a sua força e o que nos falta é aprimorar o anúncio de acordo com o perfil do homem e da mulher da pós-modernidade. Não somente no campo da catequese, mas em outros setores na Igreja é preciso essa sensibilidade para ampliar a capilaridade das ações de evangelização.

Além do esvaziamento de nossas Igrejas e o aumento dos evangélicos, estamos diante de um processo de secularização que vai aos poucos descristianizar a sociedade e, consequentemente, abre novas possibilidades de ofertas, marcando assim a pluralidade da sociedade. A Igreja precisa dedicar atenção também aos marcados pela secularização e que não possuem suas raízes cristãs bem definidas. Isso é um desafio urgente.

Presenciei e vivenciei na pele a renovação catequética. A Catequese Renovada fez parte do meu processo de formação cristã como catequista, e também no processo de formação no ministério de catequizar, quando ainda adolescente, assumiu a missão de catequista. Participei junto com os catequistas da minha paróquia de origem dos encontros de formação e o encontro com Deus se dava a partir da vida, da experiência da escuta da Palavra de Deus. Já não era mais o processo de memorização, mas sim uma construção de uma identidade eclesial do Povo de Deus.

Hoje, como primeiro catequista de uma comunidade paroquial, vejo as mudanças acontecendo não somente no mundo, mas no interior da vida comunitária. Já não temos muito consolidada aquela configuração de família cristã. Alguns se declaram católicos, mas não experimentam a vida comunitária de forma intensa e comprometedora, sem vínculo de pertença. A organização em nível de Arquidiocese muito tem colaborado para a formação de nossos coordenadores de catequese e catequistas. Mas ainda falta por parte de alguns o engajamento e o comprometimento com a formação para não repetir práticas arcaicas.

Na catequese do Colégio Santa Maria o quadro não é tão diferente, porém mais desafiador, uma vez que algumas famílias não possuem um vínculo com uma comunidade eclesial. Ainda falta avançar na compreensão do colégio como uma comunidade eclesial de acordo com o Documento de Aparecida, dinamizando a prática pastoral educativa. Por outro lado, é interessante perceber o envolvimento, principalmente das crianças, na catequese e como elas podem incentivar a participação ativa dos pais nesse processo e também na comunidade de fé. E se não fosse oferecida essa oportunidade de catequese, talvez alguns não procurariam a comunidade paroquial. Sendo assim, é necessário construir uma catequese criativa e que atenda essa pluralidade presente nos alunos despertando a experiência da fé.

O texto da professora Solange nos coloca diante de algumas tarefas necessárias no momento presente, como resposta à mudança epocal que estamos vivenciando. Aprofundar a necessidade do caráter evangelizador da catequese tendo em vista a exigência de um novo paradigma catequético que está em construção. Uma catequese de proposta e não de herança, marcada pela experiência mistagógica que nos insere no mistério de Deus, que é o mistério de nossa própria vida e da história. E a liturgia é uma aliada da catequese para nos conduzir para dentro do mistério.

Com isso, não se pode perder de vista os pressupostos teológicos que sustentam o paradigma de uma catequese evangelizadora. Diante dos desafios da sociedade pós-moderna, contamos com a valiosa contribuição de catequetas que buscam elaborar uma catequese evangelizadora, centrada na iniciação cristã, mesmo que parte dos seus destinatários já tenham recebido alguns dos sacramentos de iniciação. É importante se apropriar de pressupostos teológicos, avaliando riscos e vantagens desse novo paradigma. O caráter experiencial da fé é uma das marcas do novo paradigma.

A autora de fato conseguiu apresentar os desafios da catequese no cenário da pós-modernidade. E o caminho é arriscar a construção do novo paradigma da catequese evangelizadora. Penso que é preciso investir no preparo do evangelizador, no caso o catequista. Fomentar uma educação da fé que seja capaz de conduzir a pessoa a não só conhecer Jesus Cristo, mas a se tornar íntima dele. De uma experiência vivencial que desperte o compromisso com a vida, com o humanismo cristão marcado pela solidariedade e fraternidade e com o cuidado com a casa comum. Assumir verdadeiramente os sentimentos do Cristo e se tornar presença dele neste mundo marcado por tantos sinais de morte. É preciso avançar com esperança e se propor novos caminhos para corresponder a essa mudança epocal tão forte nos tempos atuais.

3. Maria Aparecida de São Geraldo Morais

“A catequese aparece no cenário eclesial como assunto controverso. Marginalização e incentivo são duas reações comuns ao tema.” (CARMO, 2010). Estas palavras soam alto e chegam direto ao coração da Pastoral de Catequese. As lideranças paroquiais sabem que a questão antropológica é o cerne das preocupações e dificuldades a serem enfrentadas.  É preciso acolher, compreender e assumir a presença do outro na comunidade catequética.  Entender as diferenças, assimilar os posicionamentos pessoais e, em um processo de caminhada, partilhar conhecimentos à luz da Palavra e da vida em comunidade.

Necessário se faz, no entanto, pontuar dificuldades nessas vivências de grupos de preparação para a catequese. As organizações de formação de grupos paroquiais e comunitárias não têm, em geral, os cuidados com a formação de seus catequistas. Nota-se que não se trata da não oferta, mas da qualidade dos cursos de formação oferecidos. Por diversas vezes, os programas apresentados são “mornos” e previsíveis, pouco atraentes ao processo de formação. Não raro, detectamos a frágil participação de catequistas nestes encontros.

Em relação aos catequizandos, observamos pouca participação das famílias na vivência espiritual e o consequente “repasse” dessa responsabilidade para a catequese paroquial. Os desafios não param. As equipes precisam lidar com as diversidades, entre elas inclusive, citamos as crianças portadoras de TDAH, TDA, deficiências auditivas e de falas, entre outras. Aqui cito problemas que não são raros na catequese infantil e que depende dos pais a declaração de tais patologias que são diagnosticadas por especialistas. Porém, a equipe de catequese precisa estar preparada para mais esse desafio, quando o que queremos é uma prática inclusiva e acolhedora da fé.

Quanto ao aspecto da catequese para adultos, a questão também é preocupante. Muitos jovens e adultos ainda a veem apenas como caminho para os Sacramentos. São eventos apenas! Essa triste realidade é constatada ainda hoje em nossas comunidades.

Há muitas questões além das aqui expostas. Trata-se da participação efetiva de catequistas na vida da Igreja. É necessário que as equipes estejam envolvidas no processo de crescimento espiritual. A participação nas Missas dominicais é um passo imprescindível nesta caminhada. A proximidade, a escuta da Palavra e a tradução dessa palavra pelos párocos e vigários é um caminho importantíssimo para o crescimento pessoal na comunidade de fé. É uma via da catequese que busca a verdadeira face de Cristo, revelada a quem o procura e cultiva a proximidade e a amizade com Ele.

A marginalização pode se tornar incentivo a partir de um maior engajamento das equipes de catequese com as demais pastorais e a participação efetiva na vida da Igreja, em seus muitos projetos. A vida em comunidade precisa ter seu engajamento. A catequese é parte importante e deve assumir o seu lugar missionário.

Apesar das dificuldades assinaladas, há uma luz que indica novos tempos para a Igreja com o Ministério do Catequista instituído pelo papa Francisco. Novas lideranças, investimentos e, principalmente, a certeza de que haverá mudanças e crescimento de grupos com a mesma finalidade e responsabilidade. O desafio existe deve ser enfrentando à luz da Palavra sempre.

REFERÊNCIAS

DO CARMO, Solange Maria. Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade. Disponível em: Revista Pastoral, maio-junho de 2010 – ano 51 – número 272 – p. 16-24. <https://www.vidapastoral.com.br/artigos/catequese/desafios-da-catequese-no-cenario-da-pos-modernidade/>. Acesso em julho de 2021.

DO CARMO, Solange Maria. Catequese Renovada – A Catequese e a comunidade na história da Igreja. Disponível em: YouTube < https://www.youtube.com/watch?v=KTbSiSdh8Cc>. Acesso em julho de 2021.

DO CARMO, Solange Maria. Desafios da catequese hoje: releitura do ato catequético a partir da pós-modernidade. Disponível em: Revista Pistis & Praxis, Teologia e Pastoral, v. 7, n. 3, 2015, p. 749-766. <https://periodicos.pucpr.br/index.php/pistispraxis/article/view/2716/2635>. Acesso em julho de 2021.

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