Luiz Angelo Fortuna – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 16 Sep 2021 12:07:14 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Luiz Angelo Fortuna – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Por que os jovens abandonam a Igreja?”, com a palavra Luiz Angelo Fortuna e Maria Aparecida Rodrigues da Silva https://observatoriodaevangelizacao.com/por-que-os-jovens-abandonam-a-igreja-com-a-palavra-luiz-angelo-fortuna-e-maria-aparecida-rodrigues-da-silva/ https://observatoriodaevangelizacao.com/por-que-os-jovens-abandonam-a-igreja-com-a-palavra-luiz-angelo-fortuna-e-maria-aparecida-rodrigues-da-silva/#comments Thu, 16 Sep 2021 12:07:14 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=40945 [Leia mais...]]]> O texto a seguir foi elaborado pelos alunos Luiz Angelo Fortuna e Maria Aparecida Rodrigues da Silva para o seminário promovido pela disciplina Pedagogia Dialógica Participativa, Corresponsabilidade e Ação Pastoral, ministrada pelo prof. dr. Edward Guimarães no curso de pós-gradução em Teologia Pastoral da PUC Minas.

Confira:

Por que os jovens abandonam a Igreja?

Quero encorajar-te a assumir este compromisso,

porque sei que o teu coração, coração jovem,

quer construir um mundo melhor.

Papa Francisco (Chrystus vivit, 147)

Introdução

Mais do que nunca católicos têm deixado a Igreja – mais do que em qualquer outra religião[1].

Segundo dados do Censo do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o total de católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010, havia 123,2 milhões de católicos no País; em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos, a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba.[2]

Em pesquisa realizada em 2013 pelo Data Popular[3], apenas três anos após o Censo do IBGE, menos da metade dos brasileiros entre 16 e 24 anos se declaravam católicos (44,22%). Os números mostram uma grande diferença em relação aos do Censo 2010, que apontava para um percentual de 63% de católicos entre os jovens com idades entre 15 e 24 anos.

Noutro estudo realizado pela PUC-MG entre seus alunos e alunas[4], comparando o alunato dos anos 1990 e 2013, vê-se uma queda acentuada de alunos que se declaravam católicos (79,2% em 1990 contra 55,1% em 2013).

Essa realidade não se restringe à sociedade brasileira. Dados publicados pelo Centro de Pesquisa Pew[5] estimam que aproximadamente 12,8% dos jovens adultos americanos entre 18 e 25 anos são ex-católicos, e que aproximadamente 6,8% dos adolescentes dos EUA entre 15 e 17 anos são ex-católicos.

Neste trabalho buscamos entender as razões por trás deste êxodo e refletir sobre como a Igreja poderia atuar no sentido de reverter o quadro apresentado. Tal reflexão se dá, basicamente, através da síntese da análise realizada por LIBANIO[6], do estudo publicado pela Saint Mary’s Press em colaboração com o Center for Applied Research of Apostolate (CARA)[7],[8] e pesquisa realizada pelo The Barna Group[9]. Muito embora o estudo da Saint Mary Press e do The Barna Group tenham sido desenvolvidos junto à população norte-americana, acreditamos que os resultados possam se replicados para a realidade brasileira.

Desenvolvimento

Dar resposta à pergunta proposta no título deste trabalho não é uma tarefa simples. Trata-se de um problema complexo cuja solução, consequentemente, demanda uma solução complexa, interdisciplinar, dialógica e comunitária. Embora esse fenômeno não se restrinja à Igreja Católica, é nela que concentraremos nossa reflexão.

Em ambos os estudos mencionados na Introdução deste texto podemos encontrar algumas pistas fornecidas pelos próprios protagonistas, os jovens adultos.

Comecemos pelo estudo da Saint Mary Press. Este estudo entrevistou um universo de 1500 jovens adultos tendo sido realizado em duas etapas: uma quantitativa, realizada em 2015 e outra qualitativa, concluída em 2017. A principal finalidade do estudo foi “apresentar um fórum em que os jovens pudessem trazer suas histórias ‘em suas próprias palavras, sem censura ou filtros’”.

Dentre as várias dinâmicas de desfiliação, os pesquisadores identificaram seis causas originárias principais:

  1. um evento ou uma série de eventos que levaram à dúvida;
  2. aumento da secularização cultural;
  3. novo sentido de liberdade após abandonar a crença religiosa;
  4. rejeição de uma religião que eles creem que foi lhes passada forçosamente;
  5. a convicção de que é possível viver uma vida ética sem religião;
  6. a disposição a reavaliar a sua religiosidade caso sejam presenteados com argumentos ou provas racionais.

Amparados por estas causas identificadas, os autores afirmam que “a desfiliação da Igreja é, em grande parte, uma escolha pensada, consciente e intencional feita pelos jovens em uma sociedade secularizada onde a fé e a prática religiosa são vistas como uma opção entre muitas”.

O estudo sugere que as lideranças pastorais reflitam sobre duas questões em relação aos jovens que tem deixado a Igreja:

  • sabemos quem eles são, nós os conhecemos pelo nome?
  • sentimos, hoje, a falta dessas pessoas, agora que elas se foram?

Há um dado estarrecedor nesta pesquisa: perguntados se haveria algo que pudesse ser feito para que eles considerassem o retorno à Igreja no futuro, 87% dos entrevistados responderam NÃO!

Analisemos agora o estudo do The Barna Group. Um dos grupos objeto do projeto de pesquisa foi o de jovens adultos que frequentavam regularmente a igreja em sua adolescência, tendo como o objetivo explorar as razões de sua desconexão da igreja após os 15 anos.

Segundo os autores, nenhum motivo foi determinante para o rompimento do jovem com a Igreja. Coincidência ou não, assim como no estudo do Saint Mary Press, seis razões puderam ser identificadas:

  1. tendência à superproteção;
  2. a experiência com o cristianismo é superficial;
  3. a Igreja parece ser antagônica à ciência;
  4. as questões relacionadas à sexualidade são, geralmente, tratadas de forma simplista e cheia de julgamento;
  5. dificuldade em lidar com a natureza exclusivista do cristianismo;
  6. a hostilidade para com aqueles que manifestam dúvidas.

O estudo alerta para duas posturas perigosas que alguns líderes religiosos e pais tem adotado:

  • a minimização, achando que a desfiliação é temporária e com o avançar da idade e a chegada dos próprios filhos a “desconexão” acabará;
  • a super-correção, em que buscam de todas as formas trazer um apelo congregacional aos adolescentes e jovens adultos, correndo o risco de construir uma Igreja com base nas preferências deste público, deixando de lado a busca de Deus.

Finalmente, vamos nos ater agora às tendências nas questões religiosas apresentadas por LIBANIO (2011), que acreditamos explicarem em grande parte as razões de afastamento dos jovens adultos de nossas igrejas apresentadas pelos dois estudos descritos anteriormente. Há uma síntese da análise desenvolvida e publicada em seu livro que está disponível na internet e foi proposta pelo próprio autor[10].

A experiência religiosa segue a tendência da secularização, de um lado temos jovens se comportando de maneira cada vez mais alheia às questões religiosas ou buscando experiências em outras formas religiosas, venham de onde vier. Com isso, a religião institucional é substituída por práticas religiosas que atendam às necessidades do momento.

O conceito de transcendência tradicional dominado pela imagem do Deus onipotente, Juiz supremo e Ser distante que habita nas alturas do céu, deu lugar ao conceito da transcendência na imanência que o jovem experimenta nas realidades terrestres, humanas e na natureza. Ela não vem mais de fora, mas encontra-se no fundo da consciência humana, gerando uma mística ecológica panteísta. Desta forma, a espiritualidade tradicional, que busca oferecer subsídio para o crescimento da fé, torna-se algo fugaz que prefere satisfazer a afetividade.

Como consequência deste deslocamento da transcendência, a consciência de culpa, leia-se pecado, é alterada. A ideia de transgressão desaparece e corre-se o risco do “vale-tudo”.

Finalmente, a Igreja ativa e comprometida que no passado oferecia aos jovens um lugar próprio, através de movimentos como a Ação Católica, encontra-se no momento sem propostas para os jovens.

Para o Debate

Diante deste imenso desafio que se apresenta à Igreja e do exposto anteriormente, gostaríamos de propor as seguintes questões para discussão:

  • a) Partindo da sua experiência, por que os jovens abandonam a Igreja? As razões são diferentes das apresentadas neste trabalho?
  • b) O que podemos fazer, como Povo de Deus, para reaproximar dos jovens da Igreja ou trazer os jovens para a Igreja?

Conclusões

Primeira Conclusão

Não estamos dando autêntico testemunho cristão da pessoa de Jesus e de sua práxis humanizante e libertadora. Acreditamos que é necessário transformar a nossa catequese, que muitas vezes ela ainda se apresenta demasiadamente doutrinal e descontextualizada. Urge uma catequese que inicie, de fato, a pessoa na vida cristã, que procure gerar cristãos de verdade. Cristãos que, ao se iniciarem no Caminho, encontrem a pessoa Jesus Cristo, ressuscitado e estradeiro conosco, e que se desafiem diariamente a ser pessoas melhores, justamente porque O encontraram.

A fé é relação e deve nos impulsionar a ir ao encontro do outro. Dizia João Batista Libanio em um encontro de catequistas no IRPAC – Instituto Regional de Pastoral Catequética, em 2013: “Temos respostas velhas para perguntas novas”.

Antes de mais nada, precisamos conhecer o jovem para juntos com eles encontrarmos respostas aos seus dilemas. É preciso deixar que ele fale, para que possamos ajudá-lo, e não apenas oferecer fórmulas prontas e decoradas que não atendem às suas necessidades. É imprescindível às lideranças comunitárias entenderem que temos muito que aprender com as juventudes. Portanto, se faz necessário uma conversão pastoral, que vá além de uma pastoral de conservação para uma prática mais humana, cristã e verdadeiramente missionária.

É preciso investir na formação bíblica e catequética dos agentes de pastoral e do clero. Não podemos continuar com a Bíblia na mão, entrando na fila da comunhão e acomodados diante do fato de que há tantos dos nossos irmãos excluídos dentro da própria Igreja. Este é um compromisso que toda a Igreja deve assumir, caso contrário seremos uma Igreja sem futuro.

Maria Aparecida Rodrigues da Silva

Segunda Conclusão

Como procuramos demonstrar neste trabalho, o desafio apresentado pelos jovens adultos que deixam a Igreja além de complexo é urgente e demandante. Se nada fizermos o futuro da Igreja estará seriamente comprometido. Corremos o risco, como Igreja, de perdermos também aqueles jovens que ainda perseveram. Precisamos escancarar as portas de nossas paróquias para acolher este jovens. É necessário sair atrás deles onde estiverem para ouvi-los, dar voz a eles, conhecê-los, deixar claro que sentimos sua falta.

Antes de sairmos atrás dos jovens, porém, é necessário desenvolvermos uma nova cultura pastoral, um novo modelo de catequese, onde os dilemas com os quais os jovens se veem confrontados sejam abordados livremente, humanamente, com sensibilidade e sinceridade.

Para isso, precisamos dar um passo anterior: a formação de nosso clero deve ser revisitada, nossa catequese, além de interdisciplinar, deve ter como foco a figura de Jesus de Nazaré, em última análise o ser humano pleno. Nossas comunidades não podem esquecer que todos nós, em maior ou menor grau, passamos pelos mesmos dilemas, fomos rebeldes na medida em que o contexto em que fomos jovens nos permitia. É preciso entender o contexto mundial atual! Isso não implica em mudar os ensinamentos evangélicos nem descaracterizar a figura de Jesus como apresentada nos evangelhos nem mesmo em alterar a doutrina da Igreja.

Luiz Angelo Fortuna

Notas

[1] VITEK, J. Novo estudo busca saber por que os jovens adultos deixam a Igreja. Revista IHU-Online, 19.01.2018. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575351-novo-estudo-busca-saber-por-que-os-jovens-adultos-deixam-a-igreja>. Acessado em: 10.07.2021.

[2] Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_no_Brasil#Catolicismo>. Acesso em: 10.07.2021.

[3] Disponível em: <http://g1.globo.com/jornada-mundial-da-juventude/2013/noticia/2013/07/442-dos-jovens-entre-16-e-24-anos-sao-catolicos-diz-data-popular.html>. Acesso em 10.07.2021.

[4] BAPTISTA, Paulo Agostinho Nogueira. Geração Universitária da PUC Minas: o que mudou entre 1990 e 2013? HORIZONTE – Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 12, n. 36, p. 1190-1227. Disponível em: < http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2014v12n36p1190>. Acesso em: 10.07.2021.

[5] VITEK, J. Novo estudo busca saber por que os jovens adultos deixam a Igreja. Revista IHU-Online, 19.01.2018. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575351-novo-estudo-busca-saber-por-que-os-jovens-adultos-deixam-a-igreja>. Acesso em: 10.07.2021.

[6] LIBANIO, João Batista. Para onde vai a juventude? Reflexões pastorais. São Paulo: Paulus, 2011, p. 183-218.

[7] SAINT MARY PRESS. Going, going, gone: the dynamics of disaffiliation in young catholics. Wynona: MN, 2017.

[8] VITEK, J. Novo estudo busca saber por que os jovens adultos deixam a Igreja. Revista IHU-Online, 19.01.2018. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575351-novo-estudo-busca-saber-por-que-os-jovens-adultos-deixam-a-igreja>. Acesso em: 10.07.2021.

[9] THE BARNA GROUP. Seis razões por que jovens cristãos abandonam a igreja. Disponível em <https://www.cristaosnaciencia.org.br/seis-razoes-por-que-jovens-cristaos-abandonam-a-igreja/>. Acesso em 10.07.2021

[10] LIBANIO, João Batista. Para onde vai a juventude? Revista Vida Pastoral, ano 54, n. 288, p. 14-22. Disponível em <https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-pastorais/para-onde-vai-a-juventude/>. Acesso em 10.07.2021.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Paulo Agostinho Nogueira. Geração Universitária da PUC Minas: o que mudou entre 1990 e 2013? HORIZONTE – Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 12, n. 36, p. 1190-1227. Disponível em: < http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2014v12n36p1190>. Acesso em: 10.07.2021.

LIBANIO, João Batista. Para onde vai a juventude? Reflexões pastorais. São Paulo: Paulus, 2011, p 183-218.

____. Para onde vai a juventude? Revista Vida Pastoral, ano 54, n. 288, p. 14-22. Disponível em <https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-pastorais/para-onde-vai-a-juventude/>. Acesso em 10.07.2021

SAINT MARY PRESS. Going, going, gone: the dynamics of disaffiliation in young catholics. Wynona: MN, 2017.

THE BARNA GROUP. Seis razões por que jovens cristãos abandonam a igreja. Disponível em <https://www.cristaosnaciencia.org.br/seis-razoes-por-que-jovens-cristaos-abandonam-a-igreja/>. Acesso em 10.07.2021

VITEK, J. Novo estudo busca saber por que os jovens adultos deixam a Igreja. Revista IHU-Online, 19.01.2018. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575351-novo-estudo-busca-saber-por-que-os-jovens-adultos-deixam-a-igreja>. Acesso em: 10.07.2021.

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