Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 24 Dec 2020 12:59:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Para iluminar de amor este Natal singular… Uma poesia de Gabriela Mistral https://observatoriodaevangelizacao.com/para-iluminar-de-amor-este-natal-singular-uma-poesia-de-gabriela-mistral/ Thu, 24 Dec 2020 12:59:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=37306 [Leia mais...]]]> O escultor de imagens

Gabriela Mistral

De que você quer a imagem?

Perguntou o escultor de imagens:
Temos santos do pinheiro,
Há imagens de gesso,
Olhe para este Cristo reclinado,
Madeira de cedro puro,
Depende de quem faz o pedido,
Uma família ou um templo,
Ou se o único objetivo
É para colocá-la em um museu.

Deixe-me, então, explicar,
O que eu realmente quero.

Eu preciso de uma imagem
De Jesus, o Galileu,
Que expresse seu fracasso
Tentando fazer um mundo novo
Que comova as consciências
E mude os pensamentos
Eu não a quero trancada
Em igrejas e conventos.

Nem em uma casa de família
Para presidir suas orações
Não é para ser levada em uma maca
Carregada por sustentadores
Eu quero uma imagem viva
De um Jesus homem em sofrimento,
Que ilumine, a quem olhe para ela,
O coração e o cérebro.

Que dá vontade de baixá-lo
De sua cruz e do tormento,
E quem essa imagem contemple
Não esteja a olhar para um morto,
Nem, com olhos de artista,
Contemple apenas um objeto,
Diante do qual exclama admirado
Que torturado mais belo!

Perdoe-me se lhe digo,
Responde o escultor de imagens,
Que aqui ao certo você não encontrará
A imagem do Nazareno.

Vá procurá-la nas ruas
Entre as pessoas sem-teto,
Em hospícios e hospitais
Onde há pessoas morrendo
Nos abrigos para excluídos
No quais se abandonam os velhos,
Nas favelas marginalizadas,
Entre as crianças famintas,
Em mulheres violentadas,
Em pessoas desempregadas.

Mas a imagem de Cristo
Não a procure nos museus
Não a busque nas estátuas
Nos altares e nos templos.

Nem siga nas procissões
Os passos do Nazareno,
Não a procure de madeira,
De bronze, de pedra ou de gesso,
Melhor buscá-la entre os pobres
Sua imagem de carne e osso!

(Tradução livre para o Observatório, Edward Guimarães)

A seguir, a versão original da grande poetisa chilena:

EL IMAGINERO

GABRIELA MISTRAL

¡De qué quiere Usted la imagen? Preguntó el imaginero:
Tenemos santos de pino,
Hay imágenes de yeso,
Mire este Cristo yacente,
Madera de puro cedro,
Depende de quién la encarga,
Una familia o un templo,
O si el único objetivo
Es ponerla en un museo.

Déjeme, pues, que le explique,
Lo que de verdad deseo.

Yo necesito una imagen
De Jesús El Galileo,
Que refleje su fracaso
Intentando un mundo nuevo,
Que conmueva las conciencias
Y cambie los pensamientos,
Yo no la quiero encerrada
En iglesias y conventos.

Ni en casa de una familia
Para presidir sus rezos,
No es para llevarla en andas
Cargada por costaleros,
Yo quiero una imagen viva
De un Jesús Hombre sufriendo,
Que ilumine a quien la mire
El corazón y el cerebro.

Que den ganas de bajarlo
De su cruz y del tormento,
Y quien contemple esa imagen
No quede mirando un muerto,
Ni que con ojos de artista
Sólo contemple un objeto,
Ante el que exclame admirado
¡Qué torturado mas bello!.

Perdóneme si le digo,
Responde el imaginero,
Que aquí no hallará seguro
La imagen del Nazareno.

Vaya a buscarla en las calles
Entre las gentes sin techo,
En hospicios y hospitales
Donde haya gente muriendo
En los centros de acogida
En que abandonan a viejos,
En el pueblo marginado,
Entre los niños hambrientos,
En mujeres maltratadas,
En personas sin empleo.

Pero la imagen de Cristo
No la busque en los museos,
No la busque en las estatuas,
En los altares y templos.

Ni siga en las procesiones
Los pasos del Nazareno,
No la busque de madera,
De bronce de piedra o yeso,
¡mejor busque entre los pobres
Su imagen de carne y hueso¡

Sobre a autora:

Gabriela Mistral

Gabriela Mistral (1889-1957) foi uma poetisa, educadora e diplomata chilena, primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura. Gabriela Mistral, pseudônimo literário de Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu em Vicuña, no Norte do Chile, no dia 7 de abril de 1889. Era filha de um professor, descendente de espanhóis e índios. Desde cedo, demonstrou um interesse duplo: tanto pela escrita como pela docência. Com 16 anos decidiu se dedicar à carreira de professora. Quando estava com 18 anos, seu namorado se suicidou, fato que marcou sua obra e sua vida. Em 1914, quando tinha 25 anos, ganhou um concurso de poesia nos Juegos Florais de Santiago, com “Sonetos de La Muerte” – começava a nascer “Gabriela Mistral”, nome criado em homenagem aos poetas que admirava o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral. Gabriela Mistral trabalhou como professora de escola secundária e como diretora. Ainda em 1922, foi convidada para trabalhar no Ministério da Educação do México. Logo, Gabriela se tornaria uma referência na pedagogia – elaborou as bases do sistema educacional do México, fundou escolas e organizou várias bibliotecas públicas. Em 1945, Gabriela MIstral recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, se tornando o primeiro nome da América-Latina a vencer essa premiação – na época, morava em Petrópolis, no Rio de Janeiro. O Prêmio Nobel a transformou em figura de destaque na literatura internacional e a levou a viajar pelo mundo e representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas. Logo que chegou ao Brasil, fez amizade com Cecília Meireles – lançaram um livro de poemas junta. Fez amizades literárias com Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e seu predileto, Vinícius de Moraes. Conheceu Mário de Andrade através de Cecília. Nessa época, escreveu para o Jornal do Brasil. A poesia de Gabriela Mistral é única, mística e repleta de imagens singulares e de lirismo. Seus temas centrais são o amor pelos humildes, memórias pessoais dolorosas, as mágoas e um interesse mais amplo por toda a humanidade. Atenta aos problemas de seu tempo, na obra “Pecados: Contados a Chile” (1957), Gabriela Mistral analisou múltiplos temas como a condição da mulher na América Latina, a valorização do índio, a educação e a necessidade de diminuir as desigualdades sociais no continente. Mais tarde, seus ensaios educacionais foram reunidos em “Magistério y Niño” (1982). Gabriela Mistral faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 10 de janeiro de 1957.”

Biografia elaborada por Dilva Frazão

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