Joaquim Jocélio de Sousa Costa – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 05 Mar 2025 00:56:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Joaquim Jocélio de Sousa Costa – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias? https://observatoriodaevangelizacao.com/os-pobres-ainda-tem-lugar-nas-nossas-teologias/ Tue, 04 Mar 2025 20:16:49 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49900 [Leia mais...]]]> “Sem os pobres não é possível se fazer teologia autenticamente cristã… Não está na hora de revermos seriamente nosso modo de fazer teologia? Não é este um grande desafio para aquela teologia que teve como grande marca justamente a centralidade dos pobres? Será que os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias?”.

Confira o artigo do jovem teólogo Joaquim Jocélio de Sousa Costa:

 

OS POBRES AINDA TÊM LUGAR NAS NOSSAS TEOLOGIAS?

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa[1]

 

Após o Concílio Vaticano II, houve uma grande renovação na Igreja em vários âmbitos: liturgia, catequese, pastorais, organização interna, diálogo com outras igrejas e religiões, leigos e leigas, ministério ordenado, vida religiosa consagrada etc. A teologia também recebeu um ardor diferente. O Concílio levou a Igreja a entrar em profundo diálogo com as diversas realidades humanas e para que isso fosse feito cada vez com maior seriedade e profundidade, era preciso uma teologia à altura. A coleção Mysterium Salutis surgiu com o objetivo de atualizar os grandes temas da tradição teológica, mas era necessário ir além. Havia um dado da Tradição que sempre acabava esquecido e precisava ser retomado para uma teologia que realmente falasse aos nossos dias e estivesse a serviço do Reino de Deus. Esse dado eram os pobres.

Durante o Concílio, um grupo de bispos, padres e teólogos empenhou-se para que a questão dos pobres fosse considerada central na renovação da Igreja. Dentre eles, se destacavam o cardeal belga Suenens, o bispo brasileiro Helder Camara e o cardeal italiano Lercaro. Este último fez uma intervenção no final da Primeira Sessão do Concílio pedindo justamente isso, que no centro das discussões do Concílio estivesse o mistério de Cristo presente nos pobres. Contudo, o chamado Grupo da Pobreza não teve muito sucesso. O Concílio não abraçou os pobres como questão central. Fez apenas duas menções mais relevantes (LG 8 e GS 1). Todavia, cerca de 40 bispos, um mês antes da conclusão do Concílio, assinaram o chamado Pacto das Catacumbas, após missa celebrada nas catacumbas de Santa Domitila em Roma, pacto que firmava o compromisso de viver a pobreza e o serviço aos pobres. Posteriormente, cerca de 500 bispos aderiram ao pacto, de modo que ao voltarem para as dioceses, muitos deixaram os palácios e foram morar em casas simples, fizeram reforma agrária em terras da diocese e se aproximaram mais das lutas e da vida do povo. As Conferências dos bispos da América Latina em Medellín (1968) e em Puebla (1979) confirmaram essas opções de vida e apontaram caminhos para concretizá-las cada vez mais.

Nesse contexto, surge a Teologia da Libertação, entendida como uma nova forma de fazer teologia, de pensar os grandes conteúdos da fé. “A teologia da libertação nos propõe, talvez, não tanto um novo tema para reflexão quanto uma nova maneira de fazer teologia. A teologia como reflexão crítica da práxis histórica é assim uma teologia libertadora, uma teologia da transformação libertadora da história da humanidade e, portanto, também da porção dela — reunida em ecclesia — que confessa abertamente Cristo. Uma teologia que não se limita a pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo por meio do qual o mundo é transformado” (G. Gutiérrez). Não é teologia de um assunto (política, por exemplo), mas é uma maneira de tratar todos os assuntos a partir da libertação que vem do Evangelho.  A Teologia da Libertação, portanto, se vê como ato segundo, pois, primeiro, vem a vivência da fé, entendida aqui como práxis libertadora; depois vem a reflexão dessa fé, a teologia. Nesse sentido, é preciso ter claro a partir de onde se faz teologia, a partir de onde se pensa a fé, qual o lugar teológico por excelência. Entendendo lugar teológico, como bem explicitado por Ellacuría, como: 1) lugar onde, de maneira especial, se manifesta o agir do Deus de Jesus; 2) lugar mais adequado para a vivência da fé e 3) lugar mais adequado para refletir sobre a fé. E esse lugar, olhando para os Evangelhos, é o mundo dos pobres. “Se levarmos a sério que os pobres são ‘lugar teológico’ no sentido que acabamos de assinalar, é claro que eles se tornam não apenas uma prioridade, mas, em certa medida, um absoluto, ao qual devem subordinar-se muitos outros elementos e atividades da Igreja” (I. Ellacuría). Sem os pobres, portanto, não é possível se fazer teologia autenticamente cristã.

Nessa linha, surgiu uma grande literatura nestes anos, cujo marco é considerado o livro de Gustavo Gutiérrez “Teologia da Libertação: Perspectivas” (1971). O foco inicial era muito mais a dimensão econômica e houve um profundo diálogo com as ciências sociais na busca de se compreender a sociedade (momento pré-teológico); depois, a partir da fé, refletir e agir de forma a transformá-la, construindo o mundo conforme a vontade de Deus. Posteriormente, outras abordagens importantes foram surgindo: negra, indígena, ecumênica, ecológica, feminista, cultural, queer. Todas para enriquecer o debate teológico e, assim, ajudá-lo em seu objetivo que é servir na construção do Reinado de Deus, ou seja, seu senhorio, sua vontade se realizando na história. Contudo, um problema vem crescendo nos últimos anos: Os pobres estão sumindo de nossas teologias!

Pode uma Teologia da Libertação sem os pobres? Dom Pedro Casaldáliga, grande bispo e profeta da libertação, já respondia: “à famosa pergunta, bem ou mal-intencionada, sobre ‘que resta da Teologia da Libertação’, a gente responde que restam Deus e os pobres”. Logo, sem Deus e sem os pobres, não resta teologia alguma, menos ainda uma teologia que se pretenda “da libertação”. Mas hoje, alguns teólogos e teólogas, que se identificam com essa teologia ou ao menos a admiram, passaram a tratar de outras perspectivas (sem dúvida muito boas e necessárias), mas com ausência dos pobres ou tornando eles mero apêndice/anexo. Exemplo escancarado disso foi o debate sobre sinodalidade. Havia preocupação com a participação dos leigos e leigas nas decisões da Igreja, com a ordenação de homens casados e de mulheres, a inculturação da liturgia, acolhida de pessoas homossexuais ou com matrimônios considerados “irregulares”; todas questões muito importantes, contudo, esquecendo a centralidade evangélica dos pobres. E aqui o problema aparece em dois aspectos fundamentais.

Primeiro, algumas dessas questões estão mais diretamente ligadas a vida interna da Igreja (participação das decisões, ordenação, liturgia etc.). E, portanto, é preciso tomar cuidado para não cairmos naquilo que tantas vezes denunciou o papa Francisco: a tentação de sermos uma Igreja autocentrada ou autorreferencial. O Concílio já ensinava que a missão da Igreja é ser luz do mundo, ela não existe para ela mesma, mas para construir um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus (Cf. LG 5). Ou, nas palavras do papa Francisco, ser uma Igreja em saída para as periferias (Cf. EG 20, 30, 49). Assim, embora seja importante a organização interna da Igreja, é preciso sempre se perguntar o “para quê” de tal organização. Para que os leigos e leigas devem participar das decisões da Igreja? Ou para que as mulheres devem estar nas funções de poder? Apenas para sermos mais democráticos? Para termos paridade de gênero na Igreja? Não, mas para que todos, assumindo sua dignidade batismal, participem das decisões que buscam tornar o Reino de Deus presente no mundo, que é nossa missão (Cf. EG 176). E nessa missão, ocupa lugar fundamental os pobres, pois o Reino é deles (Cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). É para ser uma Igreja pobre e para os pobres que buscamos caminhar juntos como irmãos e irmãs. A sinodalidade é para a missão. Sem os pobres, podemos até ter uma Igreja mais democrática, mas não a Igreja de Jesus.

Outro aspecto fundamental é que as diversas realidades de sofrimento e opressão precisam ser consideradas tomando sempre o aspecto econômico como fator intensificador da injustiça. Fala-se do cuidado com a criação, da acolhida da comunidade LGBTQIAPN+, dos negros, das mulheres, das outras religiões, mas se esquece que a pobreza piora toda opressão. Uma mulher sempre estará sujeita ao machismo, mas não é a mesma coisa ser uma mulher pobre da periferia e uma mulher rica da alta sociedade. O negro sempre sofrerá com o racismo estrutural, principalmente em nosso país construído a partir da escravidão do negro africano, mas não sofre com a mesma intensidade o negro pobre da favela e o negro rico. Ser homossexual numa sociedade tão preconceituosa como a nossa sempre será ocasião de discriminação, mas não é a mesma coisa ser um gay pobre e um gay rico. Com isso, queremos dizer que o pobre sempre sofrerá mais e o fator econômico sempre intensifica todas as formas de opressão e marginalização. Por isso, o pobre, economicamente falando, precisa estar em primeiro plano em nossa reflexão teológica. E o pobre num sentido dialético, como empobrecido (existem pobres porque existem ricos, a pobreza é fruto da exploração e acumulação).

São raros os artigos teológicos onde a perspectiva dos pobres é a determinante. Os pobres são hoje, na melhor das hipóteses, anexos de nossas teologias. Se fale de mil coisas e no final se fala dos pobres quase como uma obrigação a cumprir e não uma convicção de fé a assumir. Nesse sentido, é curioso como acusam o papa Francisco de ter “mania de pobre”. Claro que o papa tem mania de pobre, ele busca ser fiel seguidor de Jesus e Jesus tinha uma séria mania de pobre, tanto que nele, Deus mesmo se fez pobre! Ah se toda a Igreja tivesse mania de pobre e levasse a sério todas as consequências disso! Ah se nossas teologias tivessem mania de pobre! E tal mania deve se manifestar não apenas nos textos que publicamos, mas antes na vivência mesma da fé, chão das nossas teologias. Isso implica vencer outra grande tentação que é a “teologia de gabinete”. Como alertou o próprio papa Francisco, devemos ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’”. O teólogo deve estar envolvido nas lutas do povo, estar com as comunidades que lutam por seus direitos, que constroem o Reino de Deus na história. Assim sendo, a pergunta permanece: Não está na hora de revermos seriamente nosso modo de fazer teologia? Não é este um grande desafio para aquela teologia que teve como grande marca justamente a centralidade dos pobres? Será que os pobres ainda têm lugar nas nossas teologias?

[1]  Joaquim Jocélio de Sousa Costa é teólogo

e presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte-Ce.

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O estudo da filosofia e da teologia https://observatoriodaevangelizacao.com/o-estudo-da-filosofia-e-da-teologia/ Thu, 09 May 2024 22:21:34 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.com/?p=49879 [Leia mais...]]]> O ESTUDO DA FILOSOFIA E DA TEOLOGIA

 

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa [1]

Nossas sociedades estão cada vez mais envolvidas pela técnica e pela exigência de eficiência e produção. Assim, a própria produção de conhecimento está fundamentalmente ligada a uma visão pragmática do mundo. Quando se confronta uma área do conhecimento, a pergunta é: Para que serve isso? E o que se lucra com isso? Nesse sentido, conhecimentos filosóficos e teológicos são pouco valorizados. Considerados até não científicos ou, ao menos, de segunda categoria. Comecemos pela filosofia, qual seria a sua especificidade e razão de ser?

 

O estudo da filosofia

Todas as ciências trazem questionamentos cujas respostas, embora sempre parciais, geram as transformações que vemos na sociedade. As perguntas filosóficas se diferenciam das demais feitas pelas ciências empíricas, assim como se diferencia das perguntas comuns do cotidiano. As ciências podem se perguntar pela estrutura do DNA, pela fórmula química da água, pelas leis físicas que regem o universo, pela estrutura do cérebro humano, pelo modo como se organiza a sociedade. A filosofia se pergunta: O que é a vida? O que é a realidade e como ela se estrutura? O que é a mente? O que é o poder? O que é a pessoa humana? No dia a dia, podemos perguntar que horas são, se alguém está mentindo, porque aconteceu tal coisa. A filosofia se pergunta: O que é o tempo? O que é a verdade? O que é a razão? Existe a relação de causa e feito? (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 9-12).

Como podemos perceber, as perguntas filosóficas se preocupam com o fundamento último das coisas, com sua essência, é um conhecimento radical (que vai a raiz), isto é, o que as coisas são em si mesmas. Mais que filosofia, se aprende a filosofar. Filosofia não é como se costuma dizer: “aquilo com o qual ou sem o qual, tudo fica tal e qual”. Ou seja, a filosofia não é inútil. Por trás de todas as descobertas e investigações científicas, estão perguntas filosóficas que motivaram as investigações. A filosofia molda a forma de pensar e a própria elaboração teórica dos conhecimentos. A filosofia, portanto, pergunta pela essência das coisas (O QUE É); por sua estrutura e organização (O COMO É); sua causa e razão de ser (POR QUE É); mas também sua finalidade e intenção (PARA QUE É e o PARA QUEM É) (Cf. CHAUÍ, 1995, p. 13-18). Esses últimos pontos explicitam bem sua dimensão crítica, pois “a filosofia tem, portanto, além de uma função radicalizadora, uma função desmascaradora das ideias e das teorias aparentemente ‘puras’, ‘neutras’ e ‘verdadeiras’” (GONZÁLEZ, 1987, p. 31).

A filosofia trata, desse modo, da totalidade das coisas, as realidades vistas a partir do todo, a partir do seu fundamento último. Ao longo da história, algumas áreas filosóficas se destacaram, como a metafísica (o que a realidade é nela mesma?), a epistemologia (como é possível conhecer as coisas?) e a linguagem (como é possível expressar as coisas?). Estudar filosofia envolve, logicamente, recorrer aos textos e reflexões dos grandes filósofos nos diferentes contextos da história, mas sobretudo, assumir uma atitude filosófica diante do mundo. Aqui, se destaca sua importância e, poderíamos também dizer, sua praticidade; isto é, como ela ajuda em nosso dia a dia. A atitude filosófica nos leva a ir além dos conhecimentos formais e nos ajuda a perceber como o próprio conhecimento é organizado, estruturado e até instrumentalizado. Nos ajuda a perceber como nós também podemos e devemos fazer a diferença no mundo. E a abordagem da teologia, qual a sua contribuição singular?

 

O estudo da teologia

A teologia é um conhecimento que desde muito cedo esteve em profundo diálogo com a filosofia. Contudo, é preciso ter muito claro o que é específico da teologia. Ela é inteligência da fé. Ela “parte do dado da fé, por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o ser humano… Seu ponto de partida é a experiência de fé” (CROATTO, 2001, p. 22. 23). Ou seja, o teólogo é antes de tudo uma pessoa de fé. Sua reflexão não é alheia a sua vida, mas profundamente ligada a ela; não é simplesmente falar de Deus, mas falar a partir da sua relação com Ele. A teologia pressupõe, assim, que Deus revelou seus desígnios de amor com a finalidade de salvar a humanidade, ou seja, fazê-la participar de sua vida divina. Desse modo, todas as questões humanas são tratadas a partir do olhar da fé. Por isso, “para promover a teologia no futuro, não se pode limitar-se a propor de forma abstrata fórmulas e esquemas do passado. Chamada a interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação, a teologia terá de enfrentar profundas transformações culturais” (FRANCISCO, 2023b, n 1).

Assim, a teologia é sempre ato segundo, pois antes de tudo está a vida de fé. A teologia é uma reflexão sobre esta fé vivida e é feita dentro dela. São momentos distinguíveis, mas não separáveis. A teologia, inclusive, tem um momento chamado de pré-teológico, quando dialoga com diversos conhecimentos para melhor pensar a fé. Aqui entra seu histórico e profundo diálogo com a filosofia. Muito das elaborações doutrinais e da própria reflexão teológica bebeu e bebe de compreensões filosóficas. A teologia não é filosofia, mas a utiliza em sua reflexão sobre a fé; confronta o saber filosófico a partir dos dados da revelação; o mesmo faz com a sociologia, economia, história, direito, psicologia etc. Existem diferentes níveis de elaboração teológica, desde aquele mais complexo elaborado nas universidades (teologia profissional) até níveis mais simples como as elaborações realizada pelos pastores em homilias e formações (teologia pastoral) ou pelos demais fiéis em círculos bíblicos, novenas ou mesmo conversas mais informais (teologia popular) (Cf. BOFF, 2015, p. 597-600).

Contudo, fazer teologia não é o mais importante para o cristão, o mais fundamental é seguir a Jesus Cristo, viver como ele viveu. A teologia é um meio muito importante para isso. A fé é pensada e refletida para ser melhor vivida. Por isso, as diversas realidades cotidianas “exigem uma ‘teologia em saída’, capaz de compreender questões, muitas vezes, situadas nos confins de existências complexas, conturbadas e feridas” (FRANCISCO, 2023a). A teologia deve ser compromisso com um mundo mais justo e fraterno, sinal do Reino de Deus. As universidades, na produção da teologia profissional, devem ter muita clareza sobre isso. “Devemos sempre nos perguntar: para que serve a nossa ciência? Qual o potencial transformador do conhecimento que produzimos? O que e a quem servimos? A neutralidade é uma ilusão. Portanto, uma universidade católica deve tomar decisões, e estas devem ser um reflexo do Evangelho. Ele deve se posicionar e demonstrá-lo com suas ações de forma transparente, ‘sujando as mãos’ evangelicamente na transformação do mundo e no serviço da pessoa humana” (FRANCISCO, 2024).

A teologia é “um conhecimento transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo, portanto, teologia ‘popular’, misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final” (FRANCISCO, 2023b, 7). Assim, temos que ter “a coragem de adotar esta teologia que tem cheiro de ‘carne e de povo’” (FRANCISCO, 2023a). Para isso se estuda teologia, para melhor seguirmos a Jesus de Nazaré, amando como ele amou, construindo com ele o Reino.

E você, o que pensa dos estudos de filosofia e teologia?

Referências bibliográficas

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: Uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 22. 23.

FRANCISCO, PP. A Teologia que tem gosto de carne e de povo: Prefácio do Papa no livro “Repensar o pensamento” de dom Antonio Stagliano. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-11/teologia-prefacio-papa-francisco-livro-repensar-pensamento.html, acesso em: 22.11.2023a.

FRANCISCO, PP. Discurso del Santo Padre Francisco a la Delegación e la Federación Internaciónal de las Universidades Católicas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2024/january/documents/20240119-fiuc.html, acesso em: 24.01.2024.

FRANCISCO, PP. Motu Proprio Ad theologiam promovendam. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/it/motu_proprio/documents/20231101-motu-proprio-ad-theologiam-promovendam.html, acesso em: 22.11.2023b.

GONZÁLEZ, Antonio. Introducción a la práctica de la filosofía: Texto de iniciación. San Salvador: UCA Editores, 1987.

Joaquim Jocélio de Souza Costa é graduado em filosofia e teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza; é diácono da Diocese de Limoeiro do Norte-CE.

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Francisco e a sinodalidade: caminhar juntos para as periferias https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-e-a-sinodalidade-caminhar-juntos-para-as-periferias/ https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-e-a-sinodalidade-caminhar-juntos-para-as-periferias/#comments Wed, 24 Aug 2022 19:58:48 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45715 [Leia mais...]]]> Este texto, do jovem teólogo Joaquim Jocélio de Souza Costa, “Francisco e a sinodalidade. Caminhar juntos para as periferias”, no qual analisa o sentido novo e profundo da reflexão sobre sinodalidade no atual contexto da Igreja Católica e que considera como “um tempo de darmos novos passos“, é o quarto da iniciativa do Serviço Teológico-Pastoral, de publicar quinzenalmente textos opinativos que contribuam para a reflexão e a formação na caminhada de conversão sinodal da Igreja Católica impulsionada pelo papa Francisco. O Observatório da Evangelização PUC Minas acolheu o convite de participar desta importante iniciativa.

Como afirma Joaquim, “O papa Francisco propôs um caminho sinodal querendo que a Igreja dê novos passos na sua renovação eclesial para ser cada vez menos uma Igreja autorreferencial (EG 94-95) e cada vez mais uma Igreja em saída para as periferias (EG 20, 30, 49)… A sinodalidade não é um caminhar juntos para qualquer lugar. É saída para onde fundamentalmente Deus está, e como nos recorda Francisco (2021a), ao Senhor “não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver”. Logo, a sinodalidade não pode ser entendida fora desse caminhar em saída para as periferias.” 

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

Francisco e a sinodalidade. Caminhar juntos para as periferias

Por Joaquim Jocélio de Sousa Costa

A palavra sinodalidade, que até bem pouco tempo não era muito usada em nosso vocabulário teológico, é agora tema principal das nossas reflexões e debates pastorais. Ela vem da palavra “sínodo” e significa “caminhar juntos”. “A sinodalidade expressa a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão” (FRANCISCO, 2021b). Por isso seu sentido não é propriamente novo, embora precise ser constantemente redescoberto e assumido criativamente, pois afinal, muitas vezes as estruturas eclesiais mais dificultam que ajudam o caminhar juntos do povo de Deus.

O papa Francisco propôs um caminho sinodal querendo que a Igreja dê novos passos na sua renovação eclesial para ser cada vez menos uma Igreja autorreferencial (EG 94-95) e cada vez mais uma Igreja em saída para as periferias (EG 20, 30, 49). Assumiu um organismo que já havia recebido novo vigor com o Concílio (o Sínodo) e deu-lhe outro formato. Essa assembleia para pensar a caminhada da Igreja, começou dessa vez fundamentalmente a partir das bases, através de uma grande escuta ao povo de Deus de todas as dioceses do mundo, incluindo pessoas de outras Igrejas, outras religiões e até pessoas sem vinculação religiosa. Francisco assume assim que o Espírito age não só em qualquer grupo ou pessoa que se abre a Ele, como através delas o Espírito tem uma palavra para a Igreja.

Um ponto importante a destacar é que os primeiros a serem escutados devem ser os pobres, pois “estes têm muito para nos ensinar. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja” (EG 198). Por isso, a sinodalidade não é um caminhar juntos para qualquer lugar. É saída para onde fundamentalmente Deus está, e como nos recorda Francisco (2021a), ao Senhor “não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver”. Logo, a sinodalidade não pode ser entendida fora desse caminhar em saída para as periferias. 

E nesse sentido, a Igreja da América Latina tem profundas e avançadas experiências sinodais intimamente ligadas à vida dos pobres. As Conferências do Episcopado Latino-Americano expressam bem isso. Inclusive, recentemente, Francisco (2022) afirmou que a “‘comunhão’ e a ‘participação’ foram as categorias-chave para a compreensão e implementação da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Puebla” e afirmou ainda que “além dos documentos, é a própria realidade pastoral da Igreja Latino-Americana que me incentiva a pensar nela como uma experiência na qual a sinodalidade há muito se enraizou”. De fato, foram muito frutuosas as experiências sinodais em nosso chão: CEBs, leitura popular da Bíblia, conselhos pastorais, teologias da libertação, Assembleia dos Organismos do Povo de Deus, envolvimento nas lutas sociais, maior participação dos leigos (especialmente das mulheres) etc.

Mas esse é o tempo de darmos novos passos. Não se trata de criar algo totalmente novo nem muito menos simplesmente repetir as experiências frutuosas. É bem mais aprender com elas para criativamente, a partir do que o Espírito semeia na história, nos renovarmos como seguidores de Jesus para sermos mais fiéis ao Evangelho e melhor servir na construção do Reino de Deus. Precisamos assumir os novos meios de comunicação para contribuir com uma evangelização mais sólida do nosso povo; investir mais na formação dos agentes de pastoral; promover a dimensão profética das devoções populares; insistir sempre que “cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização” (EG 120).

De qualquer modo, o caminho evangelicamente seguro para isso é sempre começar a partir dos pobres. Como já foi dito, suas vidas têm muito a nos ensinar. Sua alegria sempre contagiante, apesar de tantos desafios e sofrimentos; sua solidariedade mesmo tendo tão pouco; sua determinação mesmo diante de tantos “nãos” e tantas portas fechadas; sua vida oprimida que sabe muito bem o que é a força da centralização, do autoritarismo e dos mecanismos de exclusão; sua sabedoria para viver com tão pouco e ainda afirmar que vale a pena viver e lutar. Tudo isso nos ajuda a sermos uma Igreja de autêntica comunhão e participação, onde reine o amor de irmãos e irmãs, a partilha, a simplicidade, estilos de vida austeros, a alegria; uma Igreja que vença os moralismos e rigorismos. Só a partir dos últimos seremos uma Igreja verdadeiramente sinodal. É isso que nos ensina Francisco (2015): “Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo [sic], limpador, reciclador… artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular… Camponesa, indígena, pescador?… Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos… Não se acanhem!”. 

Referências 

FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (EG). São Paulo: Paulinas, 2013.

FRANCISCO, Papa. Discurso no II Encontro Internacional com os Movimentos Populares. 09 de julho de 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/ 2015/july/documents/papa-francesco_20150709_bolivia-movimenti-popolari.html. Acesso em 15 de abril de 2021.

FRANCISCO, Papa. V Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres. 13 de junho de 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20 210613-messaggio-v-giornatamondiale-poveri-2021.html. Acesso em 28 de maio de 2021a.

FRANCISCO, Papa. Discurso aos fiéis da Diocese de Roma. 18 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/september/documents/20210918-fedeli-diocesiroma.html. Acesso em 07 de outubro 2021b.

FRANCISCO, Papa. Mensagem de vídeo por ocasião da plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, 26 de maio de 2022. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-05/papa-francisco-pcal-sinodalidade-comunhao-eclesial.html. Acesso em 28 de maio de 2022.

Joaquim Jocélio de Sousa Costa

Joaquim Jocélio de Sousa Costa é graduado em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza e graduando em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza.

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