Jesus Cristo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 28 Jan 2020 18:41:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Jesus Cristo – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Quais são as opções da Igreja? https://observatoriodaevangelizacao.com/quais-sao-as-opcoes-da-igreja/ Tue, 28 Jan 2020 18:41:11 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=34043 [Leia mais...]]]> A Igreja Católica é vista como a instituição que mais influenciou e direcionou os rumos civilizacionais da cultura ocidental. A partir do século IV, depois que o catolicismo se tornou a religião oficial do Estado, com Teodósio, ela chegou a exercer, inclusive, o poder decisivo predominante nas escolhas das pessoas.

Depois da Reforma Protestante, no século XVI, houve muitas rupturas e conflitos religiosos, movidos por interesses religiosos, econômicos, políticos, com o surgimento do Estado Moderno. O Iluminismo potencializou a consciência da autonomia, o primado da razão e a supremacia do sujeito, como medida de todas as coisas. O que, de certa forma, era unificado pela Igreja do século IV até o XVI, com a Revolução Industrial, no século XIX, foi definitivamente subdividido e fragmentado em novas formas de poder, a saber: a autonomia da razão, a força do poder político, o poder de convencimento das ciências, o poder da técnica e, inclusive, o poder de outras possibilidades de ligação com o sagrado. Com isso, a Igreja, sendo uma força entre muitas outras, já não podia exercer da mesma forma seu poder determinante e fazer as opções pelos outros. Pouco a pouco, vai tomando consciência de que ela mesma precisa fazer as suas próprias opções.

Um passo decisivo para a sua nova forma de se relacionar e de estar no mundo moderno, foi dado no Concílio Vaticano II (1962-1965): discernir os sinais dos tempos e fazer um profundo “aggiornamento“, na expressão consagrada pelo papa João XXIII na convocatória do Concílio. Ou seja, era preciso a Igreja abrir suas portas e janelas para o mundo, assumindo postura de diálogo. Era urgente assumir um processo de atualização e de adaptação ao contexto contemporâneo, inserindo-se na vida e na história das pessoas e da sociedade como um todo, nas variadas expressões culturais.

A Igreja, que no Concílio expressou sua autocompreensão enquanto povo de Deus que caminha e sacramento da salvação para o mundo, percebeu que para bem exercer a sua missão era preciso que assumisse postura de escuta e acolhida das dores e alegrias de todos os seres humanos. Trata-se de uma pretensão que em nada fere a sua identidade cristológica. Muito pelo contrário, a Igreja é chamada pelo testemunho de vida nova a irradiar para o mundo, qual prisma, a luz do Amor salvífico de Deus, tal como foi captado na pessoa de Jesus de Nazaré, Filho de Deus. Jesus é acolhido pela Igreja como o sentido e a resposta para os questionamentos mais profundos da existência humana. Ele é a revelação de Deus, que é Amor. Segundo esta hermenêutica do Concílio, a Igreja precisa fazer as suas opções, tendo em vista a precípua missão de evangelizar. A defesa da liberdade religiosa funda-se na ordem da dignidade da pessoa humana e nenhuma crença deve ser imposta por qualquer “pedagogia da ameaça” ou “dialética do medo”.

O papa Francisco vem insistindo na retomada do horizonte e do espírito do Concílio. Vem recuperando a dinâmica de uma Igreja sempre reformando (Igreja em saída, hospital de campanha, de portas abertas, casa da misericórdia), um Igreja com estrutura sinodal, participativa e corresponsável (toda missionária). A Igreja se sabe uma realidade histórica sempre peregrina. Desse modo, a Igreja é chamada a perceber a sua corresponsabilidade na missão de evangelizar. Assim, sem qualquer postura autorreferencial, a ela deve acolher, promover e defender a dignidade de cada membro da humanidade e da justiça social, desde os mais pobres e excluídos, a dialogar com as culturas, as tradições religiosas, as ciências, a economia, a política, as famílias, as pessoas. Desde a sua intrínseca dimensão escatológica (destinada a plenitude junto da comunhão com Deus), a Igreja pode ampliar sua capacidade crítica e autocrítica, aprofundar seu processo de aperfeiçoamento humano e o grau de sua conversão a Deus.

A Igreja não pode temer o seu peregrinar, nem as suas contínuas reformas, pois, tem consciência de que tem apenas um único absoluto e verdadeiro centro, um único princípio e fim, alfa e ômega, em de todas as dimensões. E não é o papa, não são os bispos, não são os padres, não são os religiosos e religiosas, não são os leigos e leigas, não sãos suas estruturas, não são seus sacramentos e não é sua doutrina. Trata-se do próprio Jesus Cristo, que enviado por causa do projeto salvífico do Pai, ressuscitado pela força do Espírito Santo, nela habita. Jesus Cristo precisa ser sempre a opção fundamental da Igreja! E, em Jesus, o Reino de Deus, que Ele veio anunciar-testemunhar com sua própria vida. Essa Igreja, que somos nós povo de Deus, somente consegue fazer esta opção fundamental quando tem os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (Fl 2,5).

O papa Francisco mencionou, em entrevista concedida ao jornal espanhol, El Pais, em 23/01/2017, que a única revolução que deseja para a Igreja é aquela provocada pelo Evangelho. A opção da Igreja é pelo Evangelho do Reino, Evangelho da Fraternidade, Evangelho da Justiça. Os filhos e filhas da Igreja devem ter muita clareza desta orientação fundamental da vida cristã. O Evangelho não é uma ideologia, mas uma pessoa: Jesus Cristo. O Pontífice invoca, nesse sentido, a importância dos santos. Eles compreenderam bem o que significa o Evangelho. A partir desta escolha fundamental, tiveram a força para entender tudo o mais e viveram, em seu tempo, verdadeiramente como cristãos, seguidores de Jesus Cristo. Na Igreja, infelizmente, há muita gente que é muita coisa, menos cristã. Por isso têm muita dificuldade de entender e acolher a missão a que somos chamados no contexto atual. Há um discernimento cristão que precisamos assumir:

  • Quais tem sido as nossas escolhas pessoais, familiares e eclesiais?
  • Onde está o nosso coração: em Deus, no Evangelho e no Reino? Ou na busca a qualquer preço pelo sucesso, pela acumulação de bens e pelo poder sociopolítico?
  • A Igreja tem sido compreendida por nós como um lugar de amar e servir, de assumir a missão de anunciar e testemunhar a vida nova em Jesus Cristo Ou como lugar de poder, de prosperidade econômica, de carreirismo e de mundanismo espiritual?
  • Somos facilitadores da graça de Deus, pelo o anúncio-testemunho do amor de Deus, que nos liberta, conforta e fortalece para uma vida digna de filhos e filhas de Deus já aqui e esperançada na plenitude futura? Ou somos dificultares da experiência da misericórdia de Deus, colocando pesados fardos de uma moralista e infantilizadora religião do dever sobre os ombros já cansados dos pecadores, cujos pés já vacilam na frágil esperança em Deus?

A Igreja só será realmente, sacramento de Salvação, quando nós, os seus filhos e filhas, deixando-se guiar pelo Espírito Santo, fizermos, de fato, a opção fundamental pela conversão a Deus, em Jesus Cristo, e pela fé-compromisso com o Evangelho do Reino. Sabendo que a fé cristã e a opção fundamental são concretizadas e alimentadas pelo cultivo da intimidade com Palavra de Deus e a Eucaristia, numa vida em comunidade de fé e partilha de vida, comprometida com a transformação da sociedade pelos valores do Evangelho. Assim o seja!

Sobre o autor:

Pe. Matias Soares

Pe. Matias Soares é pároco da paróquia de Santo Afonso/Natal-RN e é colaborador do Observatório da Evangelização PUC Minas.

]]>
34043
Evangelizar é anunciar e testemunhar a missão de Jesus: humanizar o mundo em que vivemos https://observatoriodaevangelizacao.com/evangelizar-e-testemunhar-como-pratica-de-liberdade-a-missao-de-jesus-humanizar-o-mundo-em-que-vivemos/ Thu, 20 Jul 2017 10:00:46 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=22120 [Leia mais...]]]> Para evangelizar é preciso conhecer, com profundidade, a vida de Jesus de Nazaré e os desafios e urgências de nosso tempo. Trata-se de um dinamismo histórico processual e transformador, inspirado pelo Espírito Santo, que visa humanizar este mundo. As comunidades cristãs, formadas pelos/as seguidores/as de Jesus, buscam testemunhar a vida nova como fermento que transforma esse mundo pela prática da justiça, da misericórdia e do amor fraterno. Os cristãos são chamados a participar, junto com os movimentos populares, das ações em defesa da dignidade da vida e da construção de outra sociedade possível.

A prática libertadora de Jesus, ao ser repensada e compreendida no contexto atual, inspira, entusiasma e oferece critérios éticos de discernimento para as ações evangelizadoras.

Para melhor conhecer o núcleo central da vida de Jesus, fonte para as ações evangelizadoras, vale a pena ler o artigo do teólogo espanhol Pe. José Maria Castilho:

 

“O núcleo central na vida de Jesus não foi a religião, mas a missão de humanizar este mundo”. Artigo de José María Castilho

 

“Mais do que com a religião, deveríamos nos preocupar com a saúde, a alimentação e as relações humanas”

 

A teologia, que rege o pensamento da Igreja e orienta as decisões da Igreja, é mais importante que o Papa, os cardeais, os bispos, os clérigos, os teólogos, os fiéis, as leis, os ritos, os costumes e todo o resto que existe na Igreja. A teologia, no final das contas, diz a todos nós o que Deus quer e o que nos ordena. De forma que o Papa (seja quem for) diz o que a teologia lhe indica. Por isso a teologia é tão importante.

O problema está em que, para um número significativo de cristãos, a teologia não importa praticamente nada. Não sabem muito de teologia. O que é compreensível. Porque a teologia, essa que se costuma ensinar (onde ela é ensinada), utiliza uma série de palavras, conceitos e critérios, inventados pelos gregos da Antiguidade, mas que, atualmente, a maioria das pessoas não sabe nem o que quer dizer esse vocabulário, nem para que serve.

O núcleo, o eixo e a chave da teologia cristã não é o pensamento dos sábios gregos da Antiguidade. Menos ainda os mitos religiosos anteriores ao judaísmo, que na Bíblia lemos como “Palavra de Deus”.

A teologia cristã deveria ter como núcleo, eixo e chave o que é a origem e o princípio determinante do cristianismo: aquele humilde artesão galileu, que foi Jesus de Nazaré – sua forma de viver, o que fez, o que disse, o que lhe interessou e preocupou, o que viram nele as pessoas que o conheceram e a “memória perigosa” que aquele homem tão singular nos deixou.

Esta “memória perigosa” de Jesus ficou escrita no Evangelho, que foi resumida e reunida em quatro coleções de relatos, os quatro Evangelhos, ou seja, a “teologia narrativa”, resumo determinante de toda possível teologia que pretenda chamar-se “cristã”. O núcleo da teologia cristã não pode estar fora do Evangelho. Nem pode ser teologia cristã se não entranhar uma “memória perigosa”.

Pois bem, lendo e relendo a teologia narrativa que os Evangelhos nos apresentam, o que nesse conjunto de relatos fica imediatamente claro, é que as três grandes preocupações que ocuparam e monopolizaram a vida de Jesus, são:

  1. a saúde dos seres humanos: relatos de curas, expressadas no “gênero literário” dos milagres;
  2. a alimentação repartida: as refeições das quais tanto se fala nos Evangelhos;
  3. as relações humanas: sermões e parábolas;

 

A fé, a relação com o Pai, os sentimentos pessoais mais profundos… tudo, na vida de Jesus  gira em torno destas três preocupações. E estas preocupações foram tão fortes que Jesus as colocou na frente das normas impostas pelos mestres da lei, das observâncias dos fariseus, da autoridade dos sumos sacerdotes. A tal ponto que isso lhe custou a vida.

Jesus fez tudo isso porque alegava que quem via a ele via Deus (Jo 14, 7-9). Ou seja, identificou-se com Deus.

O núcleo central na vida de Jesus não foi a religião. Foi humanizar este mundo tão desumanizado. Não deveríamos ficar tão preocupados com o diálogo das religiões. Deveríamos nos preocupar com o que é preocupação de todos os seres humanos: a saúde, a alimentação partilhada, as melhores relações humanas. Os três pilares de toda possível religião. É o que centrou a vida de Jesus: humanizar esta vida. Nisso está o caminho da esperança que nos leva a Deus.

(Publicado por Religión Digital, 06-07-2017. Traduzido por André Langer. Os grifos são nossos.)

2012-02-12_IMG_2012-02-05_02.26.32__6705766

 

Pe. José María Castillo é um renomado teólogo e escritor espanhol. Dentre sua vasta produção teológica destacamos: Jesus, a humanização de Deus; A religião de Jesus;  A Igreja e os direitos humanos; Espiritualidade para insatisfeitos.

 

Fonte:

IHU

]]>
22120