Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 17 Jun 2019 21:39:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Documento de Trabalho do Sínodo da Amazônia: pontos de destaque. Por Faustino Teixeira https://observatoriodaevangelizacao.com/documento-de-trabalho-do-sinodo-da-amazonia-pontos-de-destaque-por-faustino-teixeira/ Mon, 17 Jun 2019 21:39:39 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=30738 [Leia mais...]]]> A impressão que tenho do Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia é positiva. Fiz uma primeira leitura e tenho que voltar com calma para aprofundar alguns pontos ali presentes. Posso elencar alguns passos que considerei importantes:

  1. Em primeiro lugar o tom do documento, de ESCUTA, de abertura e acolhida. Isso achei essencial. Em vários números isso aparece evidenciado. Já na introdução fala-se em “dom da escuta”.
  2. A percepção da Amazônia como “um novo sujeito” (1)
  3. A visão alerta da situação da Amazônia, que gera um clamor contra o desflorestamento, a destruição extrativista etc (5)
  4. Tudo isto gera a necessidade de uma “conversão pastoral”, de uma “conversão ecológica” e de uma “conversão à sinodalidade eclesial” (5)
  5. O rumo para a “conversão ecológica”, para nós aqui essencial, vem nutrido pela Laudato si de papa Francisco (5)
  6. No início da primeira parte do documento, em torno da VOZ DA AMAZÔNIA, volta-se a falar em escuta: ouvir “os povos amazônicos para poder exercer com transparência” o papel profético da igreja (7)
  7. Ao tratar da VIDA, o documento sublinha a importância da ÁGUA, do Rio Amazonas (8). Assinala-se que “o rio Amazonas lança sozinho todos os anos no oceano Atlântico 15% do total de água doce do planeta” (9)
  8. Daí a preocupação expressa, de cuidado com a vida da Amazônia, ela é “a segunda área mais vulnerável do planeta, depois do Ártico” (9)
  9. Estamos diante de um imenso território, que “abrange uma parte do Brasil, da Bolívia, do Peru, do Equador, da Colômbia, da Venezuela, da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa, em uma extensão de 7,8 milhões de quilômetros quadrados” (19)
  10. Isto, no “coração da América do Sul”. Só as florestas amazônicas “cobrem aproximadamente 5,3 milhões de quilômetros quadrados, o que representa 40% da área de florestas tropicais do globo” (10)
  11. A Amazônia é portadora de “abundante biodiversidade”, também no campo cultural (11)
  12. A busca de vida em abundância vem expressa com um termo que a cada dia ganha mais cidadania: “bem viver” (12)
  13. Trata-se de “viver em ´harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com o Ser supremo`” (12)
  14. O documento, por diversas vezes, vai falar da conectividade que liga tudo a tudo: a “conectividade e harmonia das relações entre a água, o território e a natureza, a vida comunitária e a cultura” (13)
  15. Isto tem a ver com o “Bem Viver”, que expressa “a centralidade do caráter relacional-transcendente dos seres humanos e da criação, e supõe ´bem fazer`” (13)
  16. A vida na Amazônia encontra-se AMEAÇADA. Isto “pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica” (14). Eu acrescentaria aqui um outro dado: a violação sistemática contra todas as outras espécies companheiras ali presentes.
  17. O documento denuncia de forma especial as “empresas extrativistas”, que atuam “muitas vezes em conivência ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e das autoridades tradicionais (dos próprios indígenas)” (14)
  18. Elenca-se então uma série de ameaças que incluem: a criminalização e assassinato de líderes e defensores do território; a apropriação e privatização de bens da natureza; a concessão feita a madeireiras legais ou permissão de entrada das ilegais; a caça e pesca predatória; os mega projetos hidrelétricos; as concessões florestais e o desmatamento realizado em favor da monocultura; a contaminação resultante do trabalho das indústrias extrativistas, causando problemas e enfermidades; a presença do narcotráfico; os inúmeros problemas sociais associados às ameaças; o alcoolismo, a violência contra a mulher, o trabalho sexual e o tráfico de pessoas (15)
  19. O grande risco que se anuncia, ligado à mudança climática e ao aumento da intervenção humana (chamo aqui de fenômenos do Antropoceno), é aquele de se chegar “a um ponto de não-retorno”, sobretudo se o aquecimento global alcançar um nível de 4% ou o desmatamento atingir o âmbito de 40% (16)
  20. Daí a importância da defesa da vida e da resistência contra a exploração. A oposição reiterada “a uma visão insaciável do crescimento ilimitado, da idolatria do dinheiro, a um mundo desvinculado (de suas raízes, de seu contorno), a uma cultura de morte” (17)
  21. Essas ameaças e agressões geram clamores que são dos povos, mas também da Terra (18)
  22. Nos novos caminhos buscados, a preocupação de estabelecer “relações interculturais onde a diversidade não significa ameaça”. Aliás, esta é uma preocupação constante do papa Francisco, de louvar a diversidade.
  23. Na segunda parte do documento, a atenção volta-se para o TERRITÓRIO. A Amazônia, assinala-se “não é somente um ubi, (um espaço geográfico), mas também um quid, ou seja, um lugar de sentido para a fé ou a experiência de Deus na história” (19)
  24. A Amazônia é o local onde “manifestam-se as ´carícias de Deus` que se encarna na história (19)
  25. É um território onde “tudo está interligado”; onde “o mistério da beleza de Deus” revela-se em cada criatura (20)
  26. É um território onde as partes não subsistem por si, mas encontram-se constitutivamente interligadas, relacionadas, “formando um todo vital” (21)
  27. Essa beleza encontra-se hoje, infelizmente, “ferida e deformada”, compondo um lugar de “dor e violência”, como apontam os relatórios das igrejas locais (23)
  28. Um território que assiste à irrupção do caos: A destruição da natureza, da selva, da vida, dos povos; a contaminação dos rios e terras (23)
  29. O que se percebe, com gravidade, é a “perda maciça da biodiversidade, o “desaparecimento de espécies (mais de um milhão dos oito milhões de animais e vegetais estão em perigo) (23)
  30. É nesse território, apesar de todas as ameaças, que se delineia a proposta do “bem viver”, com uma “esperança para novos caminhos de vida” (24)
  31. Ainda vibra a vida das comunidades amazônicas, entoadas pelo “mantra” de Francisco: “Tudo está interligado” (25)
  32. Toda esta vida deve ser objeto de escuta atenta, de percepção de sua “sabedoria ancestral, reserva viva da espiritualidade e da cultura indígena” (26)
  33. A terceira parte do documento vem dedicada ao TEMPO (Kairós). Afirma-se que a Amazônia vive “um momento de graça”, e a presença do Sínodo é um “sinal dos tempos” (28)
  34. O Sínodo vai ser uma ocasião especial de escuta dos povos originários da Amazônia, que têm muito o que ensinar. São milhares de anos de cuidado com a terra, com a água, com a floresta, de práticas de preservação (29)
  35. Para a igreja coloca-se o desafio da inculturação e interculturalidade. Experiências significativas já aconteceram neste campo (30)
  36. São tempos de responder a desafios graves e urgentes (31), e também tempo de esperança (32)
  37. Trata-se também de um tempo de aprendizagem: “uma grande oportunidade para que a igreja possa descobrir a presença encarnada e ativa de Deus: nas mais diferentes manifestações da criação; na espiritualidade dos povos originários; nas expressões da religiosidade popular, nas diferentes organizações populares que resistem aos grandes projetos” (33).
  38. Animada com a força do Espírito, a igreja “quer aprender, dialogar e responder com esperança e alegria aos sinais dos tempos juntos aos povos da Amazônia (34)
  39. Na quarta parte, apresenta-se o tema do DIÁLOGO, dos novos caminhos de diálogo, de reposicionamento da missão (35-36)
  40. Um diálogo que é sobretudo aprendizagem, um diálogo de “espiritualidades, crenças e religiões amazônicas”. Um diálogo “que exige uma abordagem cordial das diferentes culturas (39)
  41. Um respeito que não significa relativização das convicções, mas envolve o reconhecimento “de outros caminhos que procuram desvendar o mistério insondável de Deus (39)
  42. O diálogo requerido rechaça uma “abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio cres”. Estamos aqui num ponto fulcral do documento, que nos faz lembrar o espírito de Assis e a abertura captada em documentos como Diálogo e Anúncio.
  43. O documento se encerra falando do diálogo e resistência, das resistências que a dinâmica dialogal há de encontrar no caminho (41)
  44. Na Conclusão, um toque de esperança no “renovado sentido da missão da igreja na Amazônia”, envolvendo também o desafio da recriação de ministérios adequados para este período histórico” (43)

Fonte:
http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt/sinodo-pan-amazonico.html

]]>
30738