IHU On line – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Fri, 02 Jul 2021 20:28:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 IHU On line – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Francisco encoraja os padres que acolhem e acompanham os homossexuais. https://observatoriodaevangelizacao.com/francisco-encoraja-os-padres-que-acolhem-e-acompanham-os-homossexuais/ Fri, 02 Jul 2021 20:28:05 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=39923 [Leia mais...]]]> Novo movimento do Papa em relação aos homossexuais: desta vez em apoio a um jesuíta estadunidense, James Martin, que está sob ataque pela direita católica por sua posição de “acompanhamento” compreensivo de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT). Reproduzimos o artigo de Luigi Accattoli, vaticanista, publicado por Corriere della Sera com o título LGBT, a carta do Papa: “Deus está perto de todos os seus filhos”.

(Artigo publicado por Il Regno, em 30/06/2021. A tradução é de Luisa Rabolini, publicado pelo IHU em 02/07/2021)

Confira o artigo:

O movimento do papa Bergoglio pode ser interpretado como uma correção de imagem, mais que de linha, após a publicação da “nota” da Secretaria de Estado ao governo italiano sobre o projeto de lei Zan e, sobretudo, após a declaração da Congregação para a Doutrina da fé que em março passado considerou inaceitável a “bênção” na igreja dos casais homossexuais.

Deus aproxima-se com amor de cada um dos seus filhos, de todos e de cada um deles. Seu coração está aberto a todos e a cada um. Ele é Pai”: assim Francisco escreve em uma curta carta de sua autoria em espanhol, enviada a James Martin por ocasião do webinar “Outreach 2021” realizada no sábado, um encontro de pessoas de ambientes católicos estadunidenses que atendem pessoas LGBT. Foi Martin quem publicou a carta no Twitter ontem, depois de lê-la no encontro do dia anterior.

Sacerdote para todos e para todas

O ‘estilo’ de Deus tem três traços: proximidade, compaixão e ternura. É assim que se aproxima de cada um de nós. Pensando no seu trabalho pastoral, vejo que você procura continuamente imitar esse estilo de Deus. Você é um sacerdote para todos e para todas, como Deus é Pai de todos e de todas. Rezo por vocês para que continue assim, sendo próximo, compassivo e com muita ternura”.

Papa Francisco

Por fim, Francisco agradece ao Padre Martin por seu “zelo pastoral” e pela “capacidade de estar perto das pessoas com aquela proximidade que tinha Jesus e que reflete a proximidade de Deus. Rezo pelos seus fiéis, seus ‘paroquianos’, todos aqueles que o Senhor colocou ao seu lado para que cuide deles, os proteja e os faça crescer no amor de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Padre Martin, 60 anos, é colaborador da revista dos jesuítas estadunidenses “America” e consultor do Dicastério para a Comunicação do Vaticano. O Papa o recebeu em audiência privada no dia 30 de setembro de 2019. Apresentando a carta de Francisco no encontro de ontem, Martin contou que escreveu uma mensagem pessoal ao Papa na qual o informava que seu sobrinho havia escolhido o nome de Francisco na confirmação e lembrava-lhe do encontro de ontem, para o qual anteriormente (o encontro estava programado para 2020, depois adiado devido ao Covid) ele lhe havia pedido o envio de uma mensagem de encorajamento.

Do Vaticano, portanto, são enviadas intervenções severas, doutrinais e diplomáticas no tema homossexual, colocadas – com a aprovação do Papa – por órgãos da Cúria de importância primária. Mas são enviadas também palavras e gestos de “compreensão” por parte de Francisco. A combinação desses dois sinais indica a busca de uma linha de compromisso: encorajar aqueles que promovem uma nova atitude sem, no entanto, traduzi-la em novas diretrizes formais.

O caminho que Bergoglio está percorrendo neste espinhoso assunto é estreito e cheio de dificuldades. Hoje, no Angelus, Francisco fez um convite a ajudá-lo com a oração, que talvez se refira a tais dificuldades: “Em proximidade da festa dos Santos Pedro e Paulo, peço-vos que orais pelo Papa. Orais de maneira especial: o Papa precisa de vossas orações! Obrigado. Sei que farão isso”.

Deus acompanha

Além do que escrevi no Corsera – onde o espaço era limitado -, acrescento aqui dois relatos de palavras anteriores e gestos papais de acolhimento às pessoas homossexuais, palavras e gestos que ajudam a situar a carta enviada ao padre Martin. Coloco aqui uma palavra e no comentário a seguir um gesto.

Certa vez uma pessoa, de forma provocativa, me perguntou se eu aprovava a homossexualidade. Eu então respondi-lhe com outra pergunta: ‘Diga-me: quando Deus olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou a rejeita, condenando-a?’. É preciso sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir de sua condição. Devemos acompanhar com misericórdia. Quando isso acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a dizer a coisa mais certa. Esta é também a grandeza da Confissão: o fato de avaliar caso a caso e poder discernir qual a melhor coisa a fazer para uma pessoa que procura a Deus e à sua graça”.

Papa Francisco, em entrevista ao La Civiltà Cattolica, em 19/09/2013

O acolhimento de um trans

Em 25 de janeiro de 2015, Francisco recebe um trans espanhol em Santa Marta, Diego Neria Lejarraga; e assim fala a respeito aos jornalistas no dia 2 de outubro de 2016 no avião:

“No ano passado recebi uma carta de um espanhol que me contou a sua história quando criança e quando garoto. Era uma menina, uma garota, e sofreu muito, porque se sentia menino, mas fisicamente era menina […]. Ele fez a cirurgia. Ele é funcionário de um ministério em uma cidade da Espanha. Ele buscou o bispo. O bispo o acompanhou muito, um bom bispo: “perdia” tempo para acompanhar este homem. Depois ele se casou. Mudou sua identidade civil, casou-se e escreveu-me a carta que para ele teria sido um consolo vir com a esposa: ele, que era ela, mas é ele. E eu os recebi. Estavam felizes […]. Cada caso deve ser acolhido, acompanhado, estudado, discernido e integrado. Isso é o que Jesus faria hoje”.

Papa Francisco, em entrevista aos jornalistas no avião, em 02/10/2016

Nota do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

No dia 21 de julho de 2021, às 10h, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza a conferência A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas, a ser ministrada pelo MS Francis DeBernardo, da New Ways Ministry – EUA. A atividade integra o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate.

A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas

Fonte:

IHU

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A “Igreja em saída” de Bergoglio: adesões e resistências do clero brasileiro https://observatoriodaevangelizacao.com/a-igreja-em-saida-de-bergoglio-adesoes-e-resistencias-do-clero-brasileiro/ https://observatoriodaevangelizacao.com/a-igreja-em-saida-de-bergoglio-adesoes-e-resistencias-do-clero-brasileiro/#comments Sat, 26 May 2018 02:51:27 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=28214 [Leia mais...]]]>

Entrevista com o Prof. Dr. José Oscar Beozzo

 

Por João Vitor Santos para o IHU On line

 

1. Quais os avanços e os limites de Francisco nesses seus cinco anos de pontificado?

R.: Entre os avanços, o principal foi colocar os pobres, os descartados pelo sistema, os que se encontram à margem, os estigmatizados, no centro de sua atuação pastoral. Seu gesto de ir à Ilha de Lampedusa, aonde chegam os migrantes da África, e silenciosamente lançar flores no mar onde mais 20 mil migrantes morreram afogados, ou o de trazer famílias de refugiados da guerra na Síria para serem acolhidos no Vaticano falam muito de suas prioridades.

Insiste com as igrejas particulares para que reassumam, na linha do Vaticano II, seu protagonismo e responsabilidades nas questões mais candentes do mundo de hoje e da Igreja.

 

Acolher e não excluir

Coloca como obrigação da comunidade eclesial “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” e desafia a tratar as dificuldades e tropeços na vida dos casais e da família em chave pastoral, com ênfase na misericórdia e não em exclusões e condenações. Assim, quer uma Igreja em saída, que aceite sujar pés e mãos para socorrer os necessitados e que seja um hospital de campanha para os feridos nas vicissitudes da vida.

 

Construir pontes e não muros

As migrações explodiram em todo o mundo, por conta de guerras econflitos políticos, por conta da crise econômica e desastres climáticos, como secas prolongadas, inundações, desertificação de extensas áreas. A reação aos refugiados e migrantes por parte dos governos tem oscilado entre acolhida mais ou menos restritiva e agressiva política de fechar fronteiras, construir barreiras e muros, expulsar os indocumentados. Em sua viagem ao México, em plena campanha eleitoral nos Estados Unidos e diante da proposta do então candidato Donald Trump de construir um muro na fronteira entre os dois países, o papa Francisco foi enfático: devemos construir pontes, e não erguer muros entre as nações e povos.

 

O diálogo e a paz a qualquer custo

O Papa também se empenhou paraabrir portas para o diálogo. Convidou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, o presidente de Israel, Shimon Peres, líderes religiosos judeus, muçulmanos e cristãos a se comprometerem com o diálogo e a reconciliação e a orarem juntos pela Paz nos Jardins do Vaticano. Ajudou a intermediar o diálogo entre Cuba e Estados Unidos, para que reatassem, depois de 60 anos, as relações diplomáticas, facilitassem as visitas para o reencontro entre familiares e que fossem suspensos os aspectos mais onerosos para a população no embargo comercial como o que pesava sobre os medicamentos, alimentos ou remessa de recursos às famílias. Deu importante contribuição para os acordos de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC na Colômbia, pondo um ponto final a mais de seis décadas de guerra civil, com milhares de mortos e mais de sete milhões de pessoas deslocadas das zonas de conflito armado.

Além disso, vem se empenhando para que o impasse entre governo e oposição na Venezuela seja superado e que países deixem de intervir para agravar a situação e exacerbar os conflitos. Com paciência vemtentando um diálogo para superar a ruptura promovida pelo governo chinês após a revolução de 1949 e amenizar a difícil situação dos católicos no país.

 

Vaticano II, inspiração e compromisso

Retomou as grandes intuições do Vaticano da Igreja, como povo de Deus, o protagonismo dos leigos, a presença da Igreja no mundo, o diálogo ecumênico e inter-religioso, a centralidade da palavra de Deus, condenando uma igreja autorreferencial, centrada no clero e afastada das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres.

 

O cuidado com a casa comum

Causou grande impacto dentro,mas talvez mais ainda fora da Igreja com sua encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado com a casa comum. Acolheu a contribuição de cientistas e universidades, o aporte de outras Igrejas cristãs, como o empenho do Patriarca Ecumênico Bartolomeu de Constantinopla, de um místico muçulmano sufi, de poetas e filósofos, mostrando o quanto a sobrevivência do planeta e da própria vida é um empenho que pode e deve unir toda a humanidade.

 

Terra, trabalho e teto e os movimentos sociais

Papa Francisco buscou estabelecer um diálogo com os Movimentos Sociais de todo o mundo, convidando-os para encontros e instando-os a buscar saídas para uma globalização que vem gerando exclusão e indiferença frente aos sofrimentos e angústias das maiorias. No primeiro encontro, em outubro de 2014, em Roma, ficaram célebres as três palavras evocadas, para definir os instrumentos necessários para garantir a vida e dignidade das pessoas: Terra, Trabalho e Teto. No segundo encontro, de 7 a 9 de julho de 2015, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, foram publicados um manifesto, um decálogo e um compromisso. Francisco destacou dentre os frutos desse encontro: colocar a economia a serviço dos povos, construir a paz, a justiça e defender a Mãe Terra. Acrescentou: “falamos da necessidade de uma mudança para que a vida seja digna, uma mudança de estruturas; além disto, de como vocês, os movimentos populares, são semeadores desta mudança, promotores de um processo em que convergem milhares de pequenas e grandes ações concatenadas em modo criativo, como em uma poesia; por isto quis vos chamar “poetas sociais”; e temos também elencado algumas tarefas imprescindíveis para caminhar em direção a uma alternativa humana diante da globalização da indiferença.

No terceiro encontro, encerrado pelo Papa no Vaticano no dia 5 de novembro de 2016, quis aprofundar o intercâmbio entre os movimentos sociais e as Igrejas nacionais. Denunciou o “terrorismo” de um sistema econômico a serviço do lucro e acumulação de uns poucos e a ditadura econômica global que levanta muros entre classes sociais e países. Insistiu na construção de pontes e do amor e na busca de caminhos para enfrentar o drama dos migrantes, refugiados e deslocados. Recolocou o exercício da política como imprescindível, qualificando-a, na linha de Pio XII e Paulo VI: A política é uma das formas mais elevadas da caridade, do amor!

 

2. Em que medida podemos afirmar que a Igreja no Brasil compreende e adere ao ministério de Bergoglio?

R.: Houve uma alegre acolhida da mensagem libertadora do papa Francisco, da sua proximidade com o povo, simplicidade de vida e atitudes, experimentadas logo no início do seu pontificado com a sua vinda para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em julho de 2013. A Evangelii Gaudium e a Laudato Si’ provocaram impacto favorável e fizeram renascer muitas esperanças. A Exortação Amoris Laetitia já suscitou mais controvérsia e reação aberta de setores conservadores.

O entusiasmo com Francisco foi menor entre parte do clero mais jovem e seminaristas instados a sair da zona de conforto dos seminários e sacristias e lançar-se na aventura missionária a serviço dos pobres e excluídos. Tem que se tomar em consideração o fato de que em 01/04/2018, dos 476 bispos do Brasil entre eméritos e em função, grosso modo, 50% foram nomeados por João Paulo II e 25% por Bento XVI. O restante se divide entre 41 eméritos que vêm do pontificado de João XXIII (2) e Paulo VI (39) e os 81 nomeados por Francisco. Ou seja, cerca de 16% do episcopado. Se tomarmos em conta, os bispos com responsabilidades pastorais, cerca de 25%, um quarto do episcopado foi nomeado pelo papa Francisco.

O perfil das nomeações de João Paulo II e de Bento XVI era distinto do pretendido hoje por Francisco no seu projeto de Igreja em saída. Os bispos são respeitosos em relação ao Papa, mas têm dificuldade em percorrer os novos caminhos, em retomar as inspirações maiores do Vaticano II, a herança das Conferências do episcopado latino-americano de Medellín a Aparecida e a tradição do empenho social e político da Igreja do Brasil em favor da causa dos pobres e excluídos. Estão mais voltados para a administração interna da Igreja. Sentem-se mais comprometidos com a formação do clero do que dos leigos e leigas, mais preocupados com a liturgia e os sacramentos, a moral e os bons costumes. Encontram-se, por formação e por prática pastoral, distantes, de certa forma, dos problemas econômicos, sociais e políticos e carentes de instrumentos de análise, para compreender as causas da atual crise. Ficam à mercê dos noticiários das redes de televisão e da opinião de jornais ou revistas. Acodem os pobres, como parte das obras de misericórdia e da caridade, sem se interrogar sobre as causas estruturais dessa situação e as maneiras para se buscar uma saída em aliança com os movimentos sociais. Têm dificuldade para compreender e lidar com as próprias pastorais sociais da Igreja, deixando por vezes de incentivá-las e chegando até a proibi-las em suas dioceses.

 

3. No Brasil, especialmente durante a ditadura militar, a Igreja teve um protagonismo nos enfrentamentos para assegurar direitos humanos. Hoje, diante dos desafios propostos pelo Papa para que saia de si mesma, como observa a atuação da Igreja diante de problemas como crise política, econômica e social, além de diversas formas de ataques a direitos essenciais?

R.: O agravamento da situação social e política, com o desmonte das políticas públicas, o congelamento por 20 anos dos investimentos sociais, disparada do desemprego, a violação de territórios indígenas e o aumento de chacinas no campo e na cidade, a liquidação de direitos trabalhistas e uma proposta de reforma da previdência que mantém e amplia privilégios de magistrados, membros do ministério público, políticos e militares, ao mesmo tempo em que elimina direitos das maiorias e onera os mais vulneráveis, acendeu um sinal de alerta e despertou a Igreja católica e as outras Igrejas cristãs.

Multiplicaram-se os pronunciamentos da Conferência Nacionaldos Bispos do Brasil – CNBB: sobre a PEC 287/16; sobre a Reforma da Previdência (23/03/17); em defesados direitos indígenas e do Conselho Indigenista Missionário – CIMI(22/06/17); aos trabalhadores/as do Brasil (27/04/17); sobre o grave momento nacional (03/05/17). Bispos da Arquidiocese de Belo Horizonte MG (20/03/17) e da Província eclesiástica de Natal, RN(05/04/17) pronunciaram-se no mesmo sentido. A Comissão Brasileira de Justiça e Paz, o Conselho Nacional de Leigos, a Conferência dos Religiosos do Brasil, a Pastoral Operária Nacional, as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs do estado de São Paulo, a Ordem franciscana e os dominicanos, Centros, como o Centro de Estudos Bíblicos – CEBI, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular- CESEEP, Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade de Petrópolis – CAALL, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília somaram-se às denúncias e protestos.

No campo ecumênico, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC expressou seu apoio à greve geral de 28 de abril de 2017 contra a reforma trabalhista e da previdência social. Entre as Igrejas evangélicas houve fortes pronunciamentos da direção geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB e das mulheres luteranas nos 500 anos da Reforma; dos Presidentes e Representantes das Igrejas Evangélicas históricas do Brasil (IELB, IPU, IECLB, RENAS, IPB, IMB) em 23/03/17; da Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana (05/04/17).

A grande mídia praticamente ignorou todos esses pronunciamentos, e as Igrejas, por outro lado, perderam nesses últimos anos sua capacidade de mobilização social e muitos dos laços com os movimentos operários, sindicais e populares. Em todo caso, pela primeira vez, todas as centrais sindicais endereçaram um público agradecimento à CNBB pelo apoio da entidade e demais de uma centena de bispos à greve geral de repúdio às reformas trabalhista e previdenciária.

 

4. Qual a sua leitura sobre as viagens de Francisco, especialmente a países da América Latina, como Chile e Peru mais recentemente? O que o difere de outros pontífices?

R.: As viagens à América Latina começaram no ano de sua eleição. Veio em 2013, esteve no Brasil para a Jornada Mundialda Juventude (22 a 29 de julho). Em 2015, foi ao Equador, Bolívia e Paraguai (5 a 13 de julho) e depois a Cuba (19 a 22 de setembro), de onde prosseguiu viagem aos Estados Unidos (22 a 27 de setembro). Em 2016, viajou ao México (12 a 18 de fevereiro) e, no caminho, parou em La Habana para encontrar-se com o Patriarca Kiril da Igreja Ortodoxa Russa, quando assinaram declaração conjunta sobre o propósito das duas Igrejas de superarem as divisões seculares, trabalharem pela unidade e aprofundarem a cooperação mútua. Foi quando destacou: “O nosso olhar volta-se para as pessoas que se encontram em situações de grande dificuldade, em condições de extrema necessidade e pobreza, enquanto crescem as riquezas materiais da humanidade. Não podemos ficar indiferentes à sorte de milhões de migrantes e refugiados que batem à porta dos países ricos. O consumo desenfreado, como se vê em alguns países mais desenvolvidos, está gradualmente esgotando os recursos do nosso planeta. A crescente desigualdade na distribuição dos bens da Terra aumenta o sentimento de injustiça perante o sistema de relações internacionais que se estabeleceu”. Em 2017, viajou à Colômbia (6 a 11 de setembro). Em 2018, foi ao Chile e ao Peru (15 a 22 de janeiro de 2018). Visitou, ao todo, nove países.

Pela novidade e pela imediata empatia que estabeleceu com as multidões que o acolheram, certamente a viagem ao Brasil foi marcante e projetou uma imagem positiva do Papa para o país, para a América Latina e o mundo. Soube cativar os jovens, parou para orar junto com um pastor pentecostal e sua comunidade que estavam acolhendo os peregrinos numa favela, entrou imprevistamente numa casa para visitar uma família; estabeleceu um diálogo de alto nível com intelectuais e lideranças de outras igrejas cristãs e religiões.

As visitas a Cuba e a Colômbia foram recebidas com o signo do seu firme compromisso com a justiça, a reconciliação e a paz. Mais conflituosa foi sua visita ao Chile. Numa Igreja e sociedade divididas pelo escândalo do Pe. Fernando Karadima, sua defesa do bispo Juan Barros, do grupo União Sacerdotal do citado Karadima, acusado de encobrir abusos sexuais, provocou desconforto, muita controvérsia e empanou outros aspectos da visita.

No Peru, ao contrário, seu encontro com representantes dos povos indígenas no dia 19 de janeiro em Puerto Maldonado foi de grande empatia mútua e de compromissos mútuos para o presente e o futuro: “a Igreja não é alheia aos vossos problemas e à vossa vida, não quer ser estranha ao vosso modo de viver e de vos organizardes. Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas locais amazônicas. E, a propósito, encheu-me de alegria ouvir um dos textos da Laudato Si’ ser lido por um diácono permanente da vossa cultura. Ajudai os vossos bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena. Com este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazônia no ano de 2019, cuja primeira reunião do Conselho Pré-Sinodal se realizará, aqui, hoje de tarde”.

Leia mais textos do Prof. Dr. José Oscar Beozzo:

  • “No Brasil, há corpo mole em relação ao Papa Francisco, mas não discordância públi- ca”. Entrevista com Jose Oscar Beozzo, publicada nas Notícias do Dia de 16-1-2018, no sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, disponível em http://bit.ly/2GnfozT.
  • “O Vaticano II é o elemento estruturante da teologia de João Batista Libânio”. Entrevis- ta especial com José Oscar Beozzo, publicada nas Notícias do Dia de 31-1-2014, no sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, disponível em http://bit.ly/2InhtBB.
  • O retrato de um Brasil muito diferente. Entrevista especial com José Oscar Beozzo, pu- blicada nas Notícias do Dia de 27-8-2009, no sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, disponível em http://bit.ly/2wKRVZD.
  • “Pacto das Catacumbas, uma Igreja servidora e pobre”. Entrevista com José Oscar Be- ozzo, publicada nas Notícias do Dia de 17-11-2015, no sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, disponível em http://bit.ly/2IsH5ZE.
  • O êxito das teologias da libertação e as teologias americanas contemporâneas. Arti- go de José Oscar Beozzo, publicado no Cadernos Teologia Pública, número 93, http://bit. ly/2ILzZ5W.
  • Mater et Magistra – 50 Anos. Artigo de José Oscar Beozzo, publicado no Cadernos Teo- logia Pública, número 54, disponível em http://bit.ly/2rLjlcc.

 

Sobre o autor

 

José Oscar Beozzo – Entre os avanços, o principal foi colocar os pobres, José Oscar Beozzo é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Sociologia da Religião e especialista em Comunicação Social pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. Ainda possui especialização em História do Brasil pela Faculdade Auxilium de Filosofia, Ciências e Letras, de São Paulo, e graduação em Ciências Políticas e Sociais pela Université Catholique de Louvain, em Teologia pela Pontificia Università Gregoriana, de Roma, e em Filosofia pelo Seminário Central do Ipiranga/ Seminário Centralde Aparecida. Atualmente coordena o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEP.

 

Fonte:

 

Ihu On line 522 – 21 de maio de 2018

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