igreja e mídia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 03 Oct 2017 18:28:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 igreja e mídia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Reconstruindo a catolicidade em ambiente digital https://observatoriodaevangelizacao.com/reconstruindo-a-catolicidade-em-ambiente-digital/ Tue, 03 Oct 2017 18:28:00 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=25217 [Leia mais...]]]> Moisés Sbardelotto, em palestra na PUC Minas na última sexta-feira (29/09), compara a reforma digital àquela realizada por Lutero, 500 anos atrás, por perceber que essa revolução sociocultural está desencadeando uma revolução religiosa. Ele percorre a história recente para demonstrar que um Papa assinar um twitter altera por completo sua forma de presença no mundo. O twitter está em um ambiente não-religioso; não-protegido; em um contexto plural. O Papa, ao utilizá-lo, coloca-se no meio da praça pública, acessível a todos.

Pope Benedict XVI posts his first tweet using an iPad tablet after his Wednesday general audience in Paul VI's Hall at the Vatican

Essas reflexões aparecem na obra: “E o Verbo se fez rede”, fruto de seu doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Para realizar sua pesquisa, Sbardelotto transitou pelos corredores do Vaticano, entrevistou membros do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, teve acesso a diversos setores da Santa Sé. Tendo já se debruçado sobre a forma como a religiosidade católica aparece nos portais, aqui, o autor busca compreender o percurso de inclusão digital dos pontífices Bento XVI e Francisco.

Foi em 2011, quando a imagem da Igreja aparecia arrasada na grande mídia, devido às muitas denúncias de pedofilia do clero, que Bento XVI, na tentativa de melhorar a imagem do Vaticano, envia o primeiro tweet. Com dificuldade diante dos meios eletrônicos, o Papa não sabe o que fazer, onde clicar, e tudo isso é documentado, comprovando um imenso choque de mentalidades e culturas. Ao abrir o portal news.va o papa é protagonista de toda uma liturgia que se repetirá em 2012 quando, ao assinar de próprio punho o twitter, tentará mostrar que a tradição busca se aproximar de novas linguagens.

Três meses antes de sua renúncia, na qual explicita que a igreja precisa de um novo pontífice que dialogue com um mundo sujeito a rápidas mudanças, Bento XVI aponta para uma transição para novas linguagens e novas formas de tradução da tradição.

papa-francisco digital

O Papa Francisco se confronta com essa realidade ao assumir dar continuidade a isso. Não só utiliza o twitter, como há um aplicativo com suas mensagens e está no Instagram. Lança todos os meses um “vídeo do Papa” e, com esse formato de interação vai construindo nova teia social de sentidos sobre a fé católica, no mundo midiático. Esse trabalho de reconstrução do catolicismo utilizando-se de símbolos vinculados a outros símbolos, recriações discursivas do encontro, por exemplo, entre o protocolo do Papa com o protocolo do twitter, gera contratos de leitura próprios. O Papa, autoridade máxima, traduzir o catolicismo para a mídia digital provoca uma suprainstitucionalidade católica, presente numa rede social.

A partir de então, grupos católicos diversos ganham legitimidade para se posicionar na mídia, o que provoca crescimento do embate entre grupos opostos, negando construções de sentido contrárias à própria. Assim o dado “religioso” explode em múltiplas racionalidades locais e a existência social do catolicismo vai se tornando cada vez mais o resultado da interação comunicacional enquanto reconstruído, ressignificado, pois não pode ser possuído, apropriado pela Igreja. É construído como im-próprio pelas comunidades eclesiais digitais. Assim se dá o sensus fidelis digitalis, a voz viva do Povo de Deus em rede.

Professora Tânia Jordão

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