Honduras – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 21 Jan 2021 14:08:34 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Honduras – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 “Honduras: a caravana dos espoliados por direito à vida”, com a palavra o prof. Élio Gasda, SJ https://observatoriodaevangelizacao.com/honduras-a-caravana-dos-espoliados-por-direito-a-vida-com-a-palavra-o-prof-elio-gasda-sj/ Thu, 21 Jan 2021 14:08:34 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=37714 [Leia mais...]]]> Migrantes seguem famintos, sem trabalho, doentes e desesperados em busca do ‘sonho americano’

Membros da Guarda Nacional Mexicana combatem imigrantes da América Central, a maioria hondurenhos indo em uma caravana para os EUA, em Ciudad Hidalgo, estado de Chiapas, México, em 23 de janeiro de 2020 (Alfredo Estrella/AFP)

O drama dos migrantes e refugiados

281 milhões! Essa é a quantidade de migrantes internacionais. Estão fugindo dos conflitos internos, étnico e religioso, da perseguição, da pobreza extrema, das catástrofes naturais ou degradação ambiental. Os Estados Unidos continuam sendo o destino de 2 a cada 10 migrantes (ONU. Relatório da Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais).

Segundo o relatório, a crise da pandemia impactou na subsistência de milhões de migrantes e suas famílias, muitos deles deixaram de mandar dinheiro para casa. Poderá a pandemia, em um segundo momento, fazer crescer ainda mais a onda migratória? Em muitos países a precariedade, a falta de políticas públicas e o descaso das autoridades farão aumentar o desemprego e a fome.  

A dramática situação de Honduras

Tragédia humanitária! Na última semana, cerca de 9 mil hondurenhos deixaram o país rumo aos Estados Unidos. Honduras tem 8,5 milhões de habitantes. Destes, 74% vive abaixo da linha da pobreza. Quatro em cada dez hondurenhos não têm dinheiro sequer para comprar comida. O escasso investimento social, a corrupção das elites, a injustiça fiscal radicaliza as desigualdades. A pandemia escancarou o abandono do sistema público, a fragilidade econômica e a violação extrema dos direitos humanos.

Honduras foi o segundo país mais afetado por furacões, tempestades e inundações da última década. Em 2020 as tempestades tropicais chegaram ao número de 30. Dois furacões (Iota e Eta) destruíram a região industrial e castigaram severamente 40% da população. Plantações foram perdidas, deslizamentos, 110 pontes e 267 estradas foram danificadas. San Pedro Sula, responsável por 60% do PIB de Honduras, ficou destroçada. A cidade está no estado de Cortés, onde 3 em cada 10 hondurenhos estão infectados pelo vírus.

De San Pedro Sula, uma das cinco cidades mais violentas do mundo, saem as caravanas de imigrantes rumo aos Estados Unidos. Quase cem hondurenhos deixam todos os dias suas casas rumo ao ‘país das oportunidades’. Dezenas de caravanas fazem o mesmo trajeto desde 2018.

Famintos, sem trabalho, doentes, desesperados caminhando dias intermináveis, em busca do ‘sonho americano’. “Se tivéssemos dinheiro não estaríamos indo para o norte (EUA). Eles nos tratam como cachorros …” disse uma mulher a um jornalista (uol/18/01/21).

Na Guatemala, essas vidas já dilaceradas foram reprimidas pelo exército e pela polícia com gás lacrimogêneo, cassetetes e varas. Alguns recuaram, outros avançaram. Já sabem que mais violência os espera na fronteira com o México. Mas eles não têm nada a perder.

Um horizonte de esperança?

Como serão recebidos os hondurenhos pelos Estados Unidos? Esperanças foram renovadas com Joe Biden. Católico, a oração de sua posse foi feita pelo jesuíta Leo J. O’Donovan, diretor do Serviço Jesuíta de Refugiados (SJR) nos EUA.

Em 2017, em carta aberta a Trump, O’Donovan advertiu que entre os muitos desafios estava uma “resposta americana à migração humana”. Na carta, o jesuíta destacou: a “acolhida reflete o nosso desejo de responder ao chamado das escrituras judaicas e cristãs a receber entre nós os estrangeiros, especialmente aqueles em perigo ou em grande necessidade. Ela tem origem no reconhecimento de que todos os homens e mulheres possuem uma dignidade humana compartilhada e, aos olhos da fé, são filhos e filhas de um Criador amoroso que nos chama como uma única família“.

Biden, além de prometer um “um sistema de imigração justo e humano”, se responsabilizou “em construir um futuro de maior oportunidade e segurança na região (América Central)”. Durante um evento virtual de arrecadação de fundos organizado pelo Serviço Jesuíta para Refugiados, o presidente garantiu elevar o número de novos refugiados a serem recebidos pelos EUA, passando de 15 mil para 125 mil. Que assim seja!

O papa Francisco sobre os migrantes, refugiados, deslocados…

Que o desejo da irmandade universal se torne realidade para os hondurenhos: “Reconhecendo a dignidade de cada pessoa, podemos resgatar o desejo universal de irmandade, uma só humanidade, filhos desta mesma terra que nos protege, cada um com sua própria voz, como irmãos” (Fratelli tutti, 8).

Segundo papa Francisco, a realidade dos refugiados e imigrantesé hoje a maior tragédia depois da Segunda Guerra Mundial“. Para o pontífice “as pessoas deslocadas nos proporcionam a oportunidade de encontrar o Senhor…: Em cada um deles, está presente Jesus, forçado a fugir, como no tempo de Herodes, para Se salvar. Nos seus rostos, somos chamados a reconhecer o rosto de Cristo faminto, sedento, nu, doente, forasteiro e encarcerado que nos interpela (cf. Mt 25, 31-46). Se O reconhecermos, seremos nós a agradecer-Lhe por O termos encontrado, amado e servido” (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2020).

(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)

Sobre o autor:

Prof. dr. Élio Gásda, SJ

Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.

Fonte:

www.domtotal.com

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