Formação nos seminários – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 09 Feb 2022 14:49:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Formação nos seminários – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Na Querida Amazônia, nós temos um novo norteamento, mais lúcido para as dinâmicas do Seminário https://observatoriodaevangelizacao.com/na-querida-amazonia-nos-temos-um-novo-norteamento-mais-lucido-para-as-dinamicas-do-seminario/ Wed, 09 Feb 2022 14:49:02 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43372 [Leia mais...]]]> A formação daqueles que um dia serão os presbíteros da Amazônia foi uma das reflexões presentes no Sínodo para a Amazônia. As conclusões foram recolhidas no Documento Final do Sínodo e na Querida Amazônia, que está completando dois anos de sua publicação. O padre Zenildo Lima, reitor do Seminário São José de Manaus, foi um dos auditores na Assembleia Sinodal. Ele reflete sobre os encaminhamentos realizados, reconhecendo que “foi um pouco freado por esse contexto de pandemia”. Mesmo assim, está sendo oportunidade para “uma tomada de consciência da necessidade real de uma verdadeira reformulação dos caminhos, nos itinerários, dos processos pedagógicos, na formação presbiteral”. Entrevista de Luis Miguel Modino com Pe. Zenildo Lima, reitor do Seminário São José em Manaus-AM

Conhecer as reflexões do Sínodo e dos documentos conclusivos, onde são confirmadas as intuições já presentes anteriormente no Seminário São José de Manaus, “se torna agora uma condição necessária aqui no nosso seminário para um jovem candidato ao ministério presbiteral para servir às igrejas da Amazônia”. Daí a importância de iniciativas que vão surgindo no Seminário São José, como o Núcleo de Reflexão Pluriétnica, “expressão de tentativas de mudanças, e o que é bonito, a partir dos seminaristas, a partir de dentro”.

O padre Zenildo defende uma necessária conversão eclesial e uma revisão da ministerialidade, que ajuda em uma maior presença da Igreja nas comunidades. Um processo que está ajudando na reformulação da formação dos seminaristas, a “repensar o ministério presbiteral”, insistindo em “um ministério que é capaz de trabalhar com o ministério das mulheres”. Tudo isso gera confiança a ajuda “nesse caminho que nós vamos fazendo como Igreja da Amazônia”.

Uma das reflexões do Sínodo para a Amazônia, que recolhe o Documento Final e a Querida Amazônia, que está completando dois anos da sua publicação, é a formação dos futuros sacerdotes. Como isso está se concretizando depois de dois anos?

Para a gente falar de encaminhamentos ou de concretização de indicações o de pistas da Querida Amazônia, a gente pode abordar a partir de duas perspectivas, uma de um desdobramento mais prático, mais concreto, que foi um pouco freado por esse contexto de pandemia. Sobretudo no que diz respeito a articulações ou demandas pastorais que implicavam mais mobilidade da Igreja. Outra diz respeito a atualização de compreensões.

Nesse campo da formação presbiteral, a grande contribuição, e isso a gente pode falar de um grande desdobramento nos processos de formação presbiteral das igrejas da Amazônia, diz respeito a uma tomada de consciência da necessidade real de uma verdadeira reformulação dos caminhos, nos itinerários, dos processos pedagógicos, na formação presbiteral.

Não tenho informação que algum seminário tenha dado passos concretos nesse sentido, senão a própria CEAMA, que tem iniciado um processo, inclusive neste mês de fevereiro haverá um encontro sobre isso, que quer discutir novos caminhos para a formação presbiteral a luz do Sínodo, do Documento Final e da Querida Amazônia.

Inclusive, aqui no Seminário São José de Manaus, onde se formam os seminaristas das 9 igrejas que fazem parte do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), uma iniciativa que surgiu no último ano foi o Núcleo de Reflexão Pluriétnica. Qual a leitura que pode ser feita disso?

Concretamente no nosso Seminário Arquidiocesano São José, que é um seminário da Arquidiocese, um seminário da província, um seminário do Regional em certo modo, primeiramente, o Sínodo trouxe a confirmação e lucidez do que nós tínhamos como intuições aqui na casa, aqui no seminário.

Se a gente pode falar de desdobramento, além do estudo, se torna agora uma condição necessária aqui no nosso seminário para um jovem candidato ao ministério presbiteral para servir às igrejas da Amazônia, ele tem que passar por um contato com as reflexões do Sínodo e as indicações dos documentos conclusivos, Documento Final e Querida Amazônia.

Um segundo elemento, a concepção de como se pensa a totalidade do processo de formação no Seminário São José de Manaus, é perpassada por essas perspectivas da Querida Amazônia, e concretamente dos seus sonhos. Quer dizer, se tem em vista que o presbítero egresso do Seminário de Manaus, alguém com esta capacidade de envolvimento com as grandes questões que desafiam a vida dos pobres, o sonho social; que tem a capacidade de dialogar com as emergências culturais e teológicas das populações amazônicas, o sonho cultural; despir-se de um modelo litúrgico mais centro-europeu para um modelo mais inculturado, a necessidade de compreender que o ministério tem que ser evidenciado dentro de uma nova dinâmica eclesial que não pode ser marcada pelo clericalismo, o sonho eclesial; e necessariamente, a pastoral de um presbítero formado na Amazônia tem que considerar a grande tarefa que é o cuidado da Casa Comum, o sonho ecológico.

Nós temos um novo norteamento mais lúcido para as dinâmicas do Seminário. Aí iniciativas mais concretas evidenciam esses elementos, como esse Núcleo de Reflexão Pluriétnica, num seminário que já tem 9 etnias, nos ajuda em certo modo a colocar em prática as reflexões, seja do ponto de vista do sonho social, seja do ponto de vista do sonho cultural. A compreensão das dinâmicas da fé, a partir também da experiência religiosa das populações indígenas, no caso das etnias presentes aqui no Seminário.

Tudo percebe que nesse Núcleo de Reflexão, que está engatinhando, está nos seus primeiros passos, tenhamos uma nova resposta muito concreta de uma nova vertente no Seminário. Não é só uma atividade, uma nova aditividade dentro do mesmo Seminário, senão correria o risco de ser vinho novo em odres velhos. Mas já é expressão de tentativas de mudanças, e o que é bonito, a partir dos seminaristas, a partir de dentro.

Uma das reflexões que surgiram no Sínodo foi passar de uma Igreja de visita, aquilo que tradicionalmente foi feito pelos padres na Igreja da Amazônia, para uma Igreja de presença. Como incentivar isso naqueles que estão se formando para serem os padres da Igreja da Amazônia nos próximos anos e décadas?

Isso passa muito aproximadamente da questão da dimensão pastoral, da dimensão missionária da formação presbiteral. Os estudantes das dioceses e prelazias do interior do Estado do Amazonas e Roraima, que vem de comunidades indígenas, ribeirinhas, passam boa parte do tempo do processo formativo na grande metrópole, Manaus, com possibilidade de experiências pastorais em paróquias da capital, algumas delas profundamente marcadas pelo elemento urbano, e algumas delas profundamente engessadas por modelos mais centralizadores.

Nós temos priorizado no Seminário as experiências pastorais que exigem dos seminaristas mais mobilidade. Experiências pastorais nas comunidades de periferia, ribeirinhas. Uma outra ferramenta muito útil nesse sentido, que também parte dos seminaristas é o Conselho Missionário de Seminaristas, o COMISE, que realiza as semanas missionárias. Vai moldando o perfil do presbítero que a gente quer para um presbítero em saída.

É claro que esta passagem, que é uma reflexão, quase se dá um chavão, da pastoral de visita para a pastoral de presença, é um passo muito longo. Porque nós vamos continuar sempre com essa dinâmica de visitas pastorais, das itinerâncias, enquanto a gente não consegue manter uma presença mais fixa de Igreja. Mas essas visitas não dependem só de mudar a estratégia pastoral, dependem da conversão eclesial, e consequentemente de uma revisão da ministerialidade.

Enquanto tudo está concentrado no ministério presbiteral vai ser necessário que esse ministério mais escasso, marque presença visitando comunidades. Quando a gente faz uma revolução ministerial na Igreja, é mais fácil assegurar a presença de outros ministérios nas comunidades eclesiais.

Quais as perspectivas para avançar nessa concretização das propostas do Sínodo para a Amazônia na formação dos futuros presbíteros?

Particularmente, no nosso Seminário, São José, estamos fazendo um processo muito interessante de reconstrução do projeto pedagógico. Já tínhamos iniciado uma reflexão que depois, não digo que se tornou obsoleta, mas que foi completamente enriquecida e repensada com as indicações do Sínodo da Amazônia. Depois o fato de mantermos sempre aproximação do Seminário diocesano com a caminhada da Igreja da região. O seminário antenado com as assembleias do Regional, com as perspectivas dos encontros do episcopado mas, sobretudo, com o que está acontecendo nas assembleias diocesanas das igrejas particulares.

Esse elemento ajuda muito a pensar essas dinâmicas que podem combinar com o que o Papa chama sonho eclesial, e o Documento Final, na verdade chama a atenção para uma conversão. E aqui vale a pena a gente destacar a necessidade de repensar o ministério presbiteral, por tanto o ministério do egresso do Seminário São Jose, dentro dessa dinâmica, disse agora há pouco, da ministerialidade. E aqui chamo a atenção de um ministério que é capaz de trabalhar com o ministério das mulheres. Não dá para pensar o seminário e o ministério presbiteral sem pensar o conjunto da ministerialidade e sem pensar a participação das mulheres nesse aspecto também. Nós, no Seminário São José, estamos muito abertos e muito confiantes nessa experiência, nesse caminho que nós vamos fazendo como Igreja da Amazônia.

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

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Uma reflexão urgente e necessária sobre o processo vocacional e de formação presbiteral: do jeito que está é possível superar o clericalismo? https://observatoriodaevangelizacao.com/uma-reflexao-urgente-e-necessaria-sobre-o-processo-vocacional-e-de-formacao-presbiteral-do-jeito-que-esta-e-possivel-superar-o-clericalismo/ Mon, 11 Nov 2019 13:33:05 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=33093 [Leia mais...]]]> Como se concretiza o atual processo de despertar vocacional? E ao longo do processo de formação, além do bispo, do próprio formando, dos formadores e familiares do candidato, quem mais participa ou é responsável pelo discernimento das aptidões? A comunidade de fé é envolvida neste processo de confirmação dos carismas?

“Em uma Igreja sinodal, todo o corpo dos fiéis se engajaria no discernimento comunitário para identificar quem tem dons específicos. Os pastores (bispos), então, ratificariam e “ordenariam” essas pessoas para exercer seus carismas – os dons de Deus – para o bem comum.”

(Texto reflexivo de Robert Mickens, publicado em La Croix International, no dia 08/11/2019. Tradução feita por Moisés Sbardelotto para o IHU)

Igreja deve aprender a discernir os carismas de serviço: essa pode ser a chave para desenraizar o câncer do clericalismo

Os católicos, particularmente os da casta clerical, tendem a ser bastante ruins no discernimento de grupo – especialmente quando se trata de identificar os membros da comunidade que possuem os dons espirituais únicos, ordenados aos vários ministérios de serviço na Igreja. Há uma falta de discernimento de verdade quando se trata de carismas.

O sacerdócio ordenado (presbiterado) é um bom exemplo. Geralmente, o processo começa com a iniciativa de um homem adulto que acredita (ou sua mãe acredita) que Deus o está chamando a ser padre. O homem, então, procurará se afiliar a uma diocese ou se juntar a uma ordem religiosa. Se ele já conseguir amarrar os seus próprios cadarços e não for um criminoso condenado, ele provavelmente passará na avaliação inicial. Infelizmente, isso não é uma piada.

O mais importante para chegar ao próximo estágio é manifestar a vontade de ser celibatário e convencer as autoridades da Igreja de que ele não “pratica a homossexualidade, apresenta tendências homossexuais arraigadas ou apoia a chamada ‘cultura gay’”. Se tudo isso se confirmar, o nosso vocacionado provavelmente passará por mais entrevistas e testes psicológicos, e será submetido a outras verificações de antecedentes.

Pulando através de aros

Se não houver sinais evidentes de doença mental ou de transtornos de personalidade, ele será admitido em um programa de seminário ou noviciado. Nesse ponto, a afirmação padrão é de que o seminarista está discernindo, e a diocese ou a ordem religiosa também estão discernindo.

Assim começa uma série de “aros” pelos quais o candidato ao sacerdócio deve pular, a fim de chegar à ordenação. Ele aprenderá essa habilidade muito especial e necessária – criatividade com verdade.

Existem programas elaborados de formação sacerdotal, que são elaborados pelas Conferências Episcopais nacionais. Eles devem receber o selo de aprovação do Vaticano antes de ser implementados.

O regime diário difere um pouco de um seminário para outro. Toda casa de formação tem a sua própria variação do código de vestimenta, do horário e estilo litúrgico, dos tipos de experiência pastoral, do toque de recolher (ou não) e de várias regras e regulamentos.

Depois de três ou quatro anos de estudos teológicos, então, o candidato deve enfrentar o seu primeiro grande obstáculo. A equipe do seminário recomendará que ele seja ordenado ao diaconato de transição? Ocasionalmente, um ou dois não se mostram à altura. Mas isso é raro.

O segundo e último obstáculo é a ordenação ao presbiterado. O reitor do seminário e a sua equipe podem aconselhar o bispo a não ordenar um homem por razões que considerem graves. Mas, de novo, e por várias razões, há poucas pessoas que são impedidas. Normalmente, um candidato questionável já é eliminado nos dois primeiros anos. Se não o for, é porque ele goza do favor do seu bispo.

Onde está a voz da comunidade?

Durante o rito de ordenação, um padre apresenta os candidatos ao bispo. “Reverendíssimo Padre: pede a Santa Mãe Igreja que ordeneis estes nossos irmãos para o ministério do presbiterado”, diz ele. “Sabeis se eles são dignos?”, pergunta o bispo. E o padre responde: “Segundo o testemunho do povo cristão e o parecer dos responsáveis que os apresentam, atesto que foram considerados dignos”.

Como, exatamente, o “povo cristão” foi questionado ou envolvido no processo de constatar que esses homens são dignos? E quais pessoas – seus pais, seus amigos?

Toda diocese e casa de formação é única, é claro. Algumas envolvem os leigos na tarefa de revisar os candidatos ao seminário ou de prepará-los para o ministério. Mas as origens do caminho de um homem ao sacerdócio – ou, pelo menos, a sua exploração – são principalmente de iniciativa do próprio homem.

Obviamente, há pessoas – especialmente padres – que encorajam certos homens (geralmente jovens) a pensar no sacerdócio. Felizmente, eles veem qualidades nesses homens que os tornariam bons presbíteros. Mas, de novo, essa é a iniciativa de um indivíduo.

E se uma comunidade inteira – digamos, uma paróquia – fosse capaz de fazer algo semelhante? Em vez de esperar que alguém se apresente por iniciativa própria, que tal se a comunidade se envolvesse em um discernimento orante para identificar aqueles em seu próprio meio que têm os carismas de serviço?

Sistema de seleção e formação do seminário

A verdade é que o sistema da Igreja de seleção e preparação de presbíteros é seriamente falho. Sabemos disso há muito tempo. E, à luz da crise dos abusos sexuais clericais, que tem sido como uma caixa dos horrores de Pandora sempre transbordante, os bispos têm enfatizado que eles melhoraram a seleção dos candidatos e reforçado os padrões de formação abrangente. Mas o sistema ainda não está funcionando.

Apenas nas últimas semanas, dois padres de arquidioceses dos EUA e da Inglaterra foram acusados de abuso sexual de menores. Um deles foi ordenado há cinco anos, e o outro, há apenas quatro. O padre inglês foi condenado a quatro anos e três meses de prisão. Ambos provavelmente serão expulsos do sacerdócio.

Como eles chegaram à ordenação? Quem discerniu que eles tinham vocação ao sacerdócio? A comunidade foi envolvida nessa decisão de algum modo significativo?

A recorrência do abuso sexual – mesmo que envolva apenas uma pequena porcentagem do clero – é apenas uma prova de que o sistema de seleção e de formação continua inadequado. Existem outros indicadores também. Entre eles, há patologias que se originam de tendências arraigadas – não apenas em relação à homossexualidade, mas também e principalmente em relação ao clericalismo; mesmo quando o candidato às Sagradas Ordens tenta negá-las ou escondê-las.

Sinodalidade e discernimento comunitário dos carismas

O papa Francisco está tentando implementar a sinodalidade em todos os níveis da Igreja. E por que deveria ser diferente para identificar os melhores candidatos para servir à comunidade em vários ministérios e posições de liderança?

Mas, em vez de focar nos ministérios ou nos próprios papéis de liderança, o trabalho de uma comunidade envolvida no discernimento de grupo pode ter como objetivo algo ainda mais profundo. Ela procuraria, com a ajuda do Espírito Santo, identificar aquelas pessoas que foram agraciadas pelo mesmo Espírito com carismas próprios aos vários ministérios.

“Existem muitos dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo”, diz São Paulo à comunidade cristã de Corinto. “Existem diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo (…). Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para o bem de todos” (cf. 1Coríntios 12).

Paulo diz aos Romanos:

“Temos dons diferentes, conforme a graça concedida a cada um de nós. Quem tem o dom da profecia, deve exercê-lo de acordo com a fé; se tem o dom do serviço, que o exerça servindo; se do ensino, que ensine; se é de aconselhar, aconselhe; se é de distribuir donativos, faça-o com simplicidade; se é de presidir à comunidade, faça-o com zelo; se é de exercer misericórdia, faça-o com alegria” (cf. Romanos 12).

Bispos confirmam o que a comunidade discerniu

Em uma Igreja sinodal, todo o corpo dos fiéis se engajaria no discernimento comunitário para identificar quem tem dons específicos. Os pastores (bispos), então, ratificariam e “ordenariam” essas pessoas para exercer seus carismas – os dons de Deus – para o bem comum.

“Para alguns, seu ‘dom’ foi estabelecê-los como apóstolos, a outros como profetas, a outros como evangelistas e a outros como pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo” (cf. Efésios 4)

Do modo como é agora, espera-se que os presbíteros e os bispos realizem quase todas as tarefas. Atualmente, porém, existem pessoas não ordenadas – homens e mulheres, celibatários e casados – que claramente têm os carismas da pregação, de presidir a oração, de estar em oração, de curar e assim por diante.

Contudo, as autoridades da Igreja, os bispos, raramente permitem que essas pessoas compartilhem oficialmente esses carismas com o restante da comunidade, porque, durante séculos, eles foram reservados aos ordenados.

A constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Igreja diz que os bispos “eles próprios sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo”.

“Mas o seu cargo sublime consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum” (Lumen gentium, n. 30).

Mas os bispos também não podem e não devem assumir sozinhos a tarefa de reconhecer os ministérios e os carismas dos fiéis. Isso é algo para toda a Igreja.

Como o papa Francisco disse à multidão na Praça de São Pedro, logo após sua eleição: “Agora, começamos este caminho: bispo e povo”. É um caminho que deve ser feito juntos.

(Os grifos sãos nossos)

Fonte:

IHU

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O sociólogo, o padre e o ex-seminarista, múltiplos olhares para os desafios da formação presbiteral https://observatoriodaevangelizacao.com/o-sociologo-o-padre-e-o-ex-seminarista-multiplos-olhares-para-os-desafios-da-formacao-presbiteral/ Tue, 06 Aug 2019 20:32:50 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=31060 [Leia mais...]]]> Seminaristas de várias dioceses e congregações religiosas se reuniram no mês de julho de 2019 para um encontro específico entre eles. Alguns dias depois o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, um católico que reconhecidamente vem prestando um grande serviço a Igreja no Brasil, fez uma breve reflexão a partir da carta que os mesmos seminaristas publicitaram após o encontro. O titulo dado por Pedro foi: “Seminaristas: batalha perdida?” No dia 31 de julho o padre Kauê Antonioli, de Porto Alegre, RS, publica uma resposta na qual procura contextualizar os seminaristas na perspectiva de uma juventude que, segundo ele, não está mais entre os extremos.

Ora, entro na conversa não para polemizar, mas para oferecer um olhar que considero fundamental se queremos, de fato, levar a sério o processo de formação dos presbíteros na Igreja Católica. É muito comum, em processos como este, “jogar a poeira para o fundo do tapete”, e não enfrentar os desafios de frente. Como a Igreja Católica é hegemônica e tem condições econômicas para manter formação de seminaristas, podem-se negligenciar questões chaves que irão repercutir negativamente no futuro, e futuro próximo.

Sou católico. Teólogo, casado, dois filhos, 57. Sou da diocese de Duque de Caxias, RJ. Fui seminarista por cinco anos. Fui colega de muitos seminaristas na graduação feita na PUC-Rio. Dei aula em seminário por doze anos e em um instituto teológico religioso por dez. Ainda hoje, de alguma forma, pela inserção pastoral, tenho contato com este universo.

Mas sem delongas, vamos ao ponto chave. Sabemos bem que houve um processo de renovação na formação seminarística no pós-concílio. Mas experiências interessantes foram interrompidas sem maiores reflexões. “Visitadores Apostólicos” impediram que pudéssemos vislumbrar um caminho mais condizente com a realidade atual. Nos últimos trinta anos, mesmo tentando manter uma eclesiologia a partir da Lumen Gentium, foram continuados processos em perspectiva centralizadora e autoritária na formação. Seminários fechados, seminaristas tratados com bajulação, critérios fracos na recepção de candidatos, pois a “necessidade” falava mais alto que a qualidade. Evidentemente com exceções. Porém, tal caminho acabou por reforçar, como o papa Francisco tem insistido veementemente, o clericalismo.

Muitas vezes, seis ou sete anos de seminários não altera em nada, ou pouco, aquilo que está nas pretensões do candidato a presbítero. Os grandes formadores são os padres midiáticos. Encontrei formadores com excelente qualificação, mas se a Igreja como um todo não vive uma realidade de maior participação laical, se não aprofunda a eclesiologia de uma Igreja como Povo de Deus, se privilegia quase que exclusivamente o Código de Direito Canônico, o trabalho dos bons formadores vai pelo ralo. Sem falar no fato que hoje entram muitos seminaristas sem uma boa ou nenhuma iniciação cristã, que é uma questão fundamental. Naturalmente o seminário não dará conta disso.

Torna-se presbítero e na primeira reunião com o Conselho Pastoral, coloca o Código de Direito Canônico na mesa e diz: “eu mando aqui, este conselho é meramente consultivo”. Ou seja, tudo gira em torno de uma estrutura de poder. Assim, a batina, que não considero uma veste necessária para o nosso tempo, torna-se não um instrumento de desprendimento, serviço ao sagrado, mas sim um símbolo de vaidade e poder. Pelo poder sagrado pode se esconder uma série de situações.

Portanto, não se trata de generalizar ou culpar a juventude, mas de colocar, honestamente, as questões que estão em jogo no processo formativo. Questões de ordem psíquica, econômica, pastoral, enfim tudo que pode contribuir para ajudar no processo. E pelo amor de Deus, certas comparações são completamente fora de propósito. Comparar a qualidade teológica de Leonardo Boff com a do Pe. Paulo Ricardo, por exemplo. Os chavões de que não existe espiritualidade naqueles e naquelas que procuram refletir a teologia a partir da libertação, de que não existe santidade entre tais escolhas é um absurdo. Poderíamos listar aqui muitos exemplos de dedicação, desprendimento, pobreza a serviço do Reino de Deus, mas basta falar em martírio. Muitos deram a vida por causa do Evangelho.

Podemos dizer que existe até certo clericalismo na chamada “Igreja da Libertação”, pois quantos leigos e leigas estão em processo de canonização? Agora, já existem muitos, começando por Dom Oscar Romero, que entraram para a Ladainha. Nada contra Dom Romero, Dom Helder, Irmã Dulce, muito pelo contrário. Porém, por aí se pode perceber que existe uma crítica completamente superficial em torno da espiritualidade e santidade do caminho da libertação. Pode-se falar também do estilo de vida, como por exemplo, Dom Pedro Casaldáliga, doente e idoso vive na simplicidade da Prelazia de São Feliz do Araguaia/MT.

Assim sendo, o caminho é ter “cheiro de ovelha”, coragem de entrar na lama e correr risco de ficar enfermo com os que precisam (EG 49). É extremamente preocupante que a Evangelli Gaudim se torne um texto esquecido quando Francisco passar, como ficou esquecida a Evangelli Nuntiandi de São Paulo VI.

Não dá, não dá para depositar nas costas de candidatos jovens um poder sagrado que ele mal consegue elaborar na própria vida. Escrevi um artigo ainda em 2003, publicado na REB, no qual afirmo ser muito arriscado “impor as mãos” (gesto do rito de ordenação) na cabeça de alguém com menos de 30 anos. Hoje mudo para 35. Há exceções, sim há. Mas elas não fazem a regra, muito pelo contrário. Precisamos listar aqui os escândalos?

Enfim, nossa colocação se dá em vista de um novo contexto, de uma mudança de época, como afirma Aparecida, e que setores consideráveis não querem reconhecer. É preciso enfrentar com serenidade tudo que está em jogo. Celibato, participação das mulheres, uma igreja toda ela ministerial, maior transparência econômica, para citar outras situações. Se, como tanto deseja o papa Francisco, estas questões não forem enfrentadas, aí sim será uma batalha perdida. É preciso uma profunda reformulação estrutural. Se nada for feito nesta direção, se estará “enxugando gelo”.

Sobre o autor: 

Celso Pinto Carias é ex-seminarista, cristã leigo casado e pai de dois filhos. É doutor em Teologia pela PUC – Rio, professor do Departamento de Teologia da PUC – Rio, assessor do setor CEBs da CNBB e membro do grupo Emaus.

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A formação presbiteral em questão na 56ª Assembleia Geral da CNBB https://observatoriodaevangelizacao.com/a-formacao-presbiteral-em-questao-na-56a-assembleia-geral-da-cnbb/ Fri, 13 Apr 2018 02:23:47 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27794 [Leia mais...]]]> Repensar o atual modelo vigente de formação nos seminários e a própria formação continuada dos presbíteros é tarefa urgente e irrenunciável na vida da Igreja. No seguimento de Jesus, somos chamados a superar a mentalidade e prática clericalista,  fazendo dos que recebem o sacramento da ordem, servidores do povo de Deus e não senhores. Urge concretizarmos um serviço eclesial de forma próxima, inserida, dialogal, participativa e fraterna com os membros de cada comunidade de fé, para juntos participarmos comprometidos da construção diária de outra sociedade possível. A situação atual dos ministros ordenados clama por urgentes e profundas mudanças… somente assim a Igreja, por sua ação evangelizadora, poderá ser fiel a sua missão de ser sacramento da salvação no mundo, um sacramento vivo do evangelho do Reino.

Para nos ajudar a entrar em sintonia com a CNBB, pela oração e pela reflexão, compartilhamos o provocante reflexão de Marcelo Barros:

 

O manto de Elias

Ontem, em Aparecida, o episcopado católico brasileiro começou a 56ª Assembleia Geral da CNBB. Entre os temas importantes que os bispos devem tratar nesses dias, está a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil. Há uma comissão especial de estudos que proporá aos bispos os elementos de um documento que tratará tanto da formação preparatória para o ministério presbiteral (nos seminários), como da formação permanente do clero. De fato, apesar de parecer um assunto de cunho apenas interno na Igreja, a fragilidade atual e, às vezes, a falta mesmo de formação humana e teológica mínima dos padres tem consequências graves para a missão de toda a Igreja e a sua inserção no mundo atual.

Até o Concílio Vaticano II, para ser ordenado presbítero, a pessoa tinha de ter frequentado dois ou três anos de Filosofia Clássica e depois, mais ao menos quatro anos de Teologia. Com uma maior abertura da Igreja à realidade do mundo, essa exigência de estudos se tornou mais flexível. Os próprios estudos de base (do ensino médio) se tornaram mais frágeis e as dificuldades se tornaram maiores.

Houve momentos nos quais, nós que buscamos uma Igreja mais inseridas defendemos que para ser padre uma pessoa não precisa ser doutor na academia. E aqui no Brasil, o padre José Comblin formulou uma curso do que se chamou Teologia da Enxada. Era uma experiência de universidade popular na qual lavradores se tornavam missionários (e poderiam se as dioceses se abrissem a isso) serem ordenados presbíteros (padres) ou diáconos permanentes, sem deixar de ser pessoas de base e mesmo lavradores. A experiência deu certo. Conheço muitos irmãos e irmãs formados nesse caminho que me parecem mais preparados tanto no plano da fé como mesmo da interpretação da vida e da realidade do que muitos padres que vêm de anos na academia.

Naqueles anos 80, o Vaticano rejeitou a Teologia da Enxada e obrigou aos bispos a formar os padres nos seminários e universidades. Ao ver a realidade atual, a primeira impressão é de que aquela rigidez fracassou. Bastaria passar pelas paróquias e ouvir alguns sermões de domingo para se dar conta de que, em muitos casos, o atual modelo de formação nem parece ajudar os formandos a se inserirem na realidade social e política brasileira e nem faz deles homens instruídos na Escritura Sagrada e na Teologia mais profunda. Muitos formados nesse esquema tridentino não passariam em um teste primário de uma formação humana e teológica de base. Infelizmente, tenho descoberto que essa realidade precária na formação presbiteral não é somente na Igreja Católica, mas, ao menos no Brasil, ocorre também em outras Igrejas irmãs.

Com relação à realidade, a Teologia da Libertação tem toda razão quando insiste em uma formação a partir da prática. Nada forma tanto quanto a inserção real e cotidiana na vida do povo, o contato com as bases e a participação na luta dos pobres pela sobrevivência e por manter a sua dignidade humana. Do ponto de vista teológico, nenhuma erudição acadêmica substitui a fé e uma verdadeira busca espiritual de discípulo/a da Palavra e do Amor Maior. A partir dessa base, sim, é importante o estudo e o aprofundamento humano e teológico.

É claro que tudo isso tem como pergunta fundamental: formar para que? Uma pessoa espiritual responderia: Não é para que. É para quem. Formar para servir a Deus, através do seguimento de Jesus e no testemunho do amor divino ao povo, às pessoas concretas, principalmente aos mais pobres e marginalizados pelo sistema dominante. E esse serviço não pode ficar apenas como um amor assistencialista de ocasiões, mas deve se expressar em solidariedade organizada, o que só é possível, através da inserção em algum movimento ou pastoral social inseridos na luta do povo por sua libertação.

Pessoalmente quando ouço ou leio o papa Francisco denunciar o mal do clericalismo como um pecado e uma traição ao evangelho, percebo que a base desse sistema (clerical) está justamente no corporativismo de se colocar à parte, como uma categoria ou classe separada da vida do povo. E claro que não só à parte, mas acima. Infelizmente até agora a leitura bíblica que o clericalismo apregoa e a interpretação teológica que dá sobre a fé e os sacramentos faz da Igreja uma continuidade da antiga religião imperial romana e não do evangelho. Muitos irmãos padres e muitos irmãos e irmãs leigas ainda veem a fé e os sacramentos como se fossem cultos mistéricos das antigas religiões do Oriente Médio e não sinais do amor divino por nós que devem ser dados e partilhados como Jesus diz no evangelho de João: para a vida do mundo. Sem mudar essa base falsa e derrubar esse edifício pagão construído em cima e como substituto dos sinais simples da fé evangélica, não adianta proclamar “ano do laicato” e nem querer superar o clericalismo. Não adianta remendo novo em roupa velha.

Peço a Deus que todos os ministros e ministras da Igreja se vejam como discípulos e discípulas de um profeta (Jesus) e como a Bíblia diz do profeta Eliseu, não peçam poder e nem nada institucional e sim o espírito do mestre (Elias). E assim esse (o profeta) possa nos passar o manto – símbolo não dos cônsules romanos como é a atual estola dos padres e pastores – e sim um manto surrado de caminhante mas no qual ao receber e dele se vestir, o/a discípulo/a recebe o espírito do profeta.

(Grifos e destaques da equipe executiva do Observatório)

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Ir. Marcelo Barros é monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro. Em 1969 foi ordenado padre por Dom Helder Camara e, durante quase dez anos, de 1967 a 1976, trabalhou como secretário e assessor de Dom Hélder para assuntos ecumênicos. É um dos três latino-americanos membros da Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT), que reúne teólogos da América Latina, África, Ásia e ainda minorias negras e indígenas da América do Norte.

 

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Papa Francisco faz mais um alerta sobre a necessidade de repensar a atual formação nos seminários https://observatoriodaevangelizacao.com/papa-francisco-faz-mais-um-alerta-sobre-a-necessidade-de-repensar-a-atual-formacao-nos-seminarios/ Thu, 04 May 2017 13:33:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=17217 [Leia mais...]]]> “Às periferias, é preciso enviar os melhores”.

Cuidado com a hipocrisia na Igreja: é uma peste! Cuidado também com todos aqueles jovens que querem entrar no seminário porque sentem que são incapazes de se virar sozinhos no mundo”. Se forem particularmente diplomáticos ou mentirosos, é melhor convidá-los para voltarem atrás….

A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 02-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

São alguns flashes da longa conversa do Papa Francisco nessa terça-feira, 02/05/2017, com um grupo de noviços e pré-noviços salesianos, com os quais ele se encontrou privadamente na Casa Santa Marta, perto do meio-dia. O encontro não aparecia na agenda do pontífice, mas foi revelado no Facebook com uma “transmissão ao vivo” de um dos convidados presentes na residência vaticana (veja abaixo).

https://www.facebook.com/plugins/video.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fmarcello.mazzeo.3%2Fvideos%2F10212761473421852%2F&show_text=0&width=400

O grupo era grande: os noviços vinham, além da Itália, também da Albânia, Croácia, Malta. E havia também um da Síria: Michel, noviço que, de joelhos, recebeu a bênção do pontífice pela “amada e martirizada Síria”. Quem os apresentou foi o Pe. Guido Enrico, encarregado pela formação na Itália, que agradeceu ao Papa por ter aceito a proposta desse encontro que “se liga idealmente” à visita que Francisco fez aos salesianos em Valdocco, na Basílica de Santa Maria Auxiliadora, durante a etapa em Turim de 2015. De presente, o Pe. Guido entregou ao bispo de Roma uma medalha cunhada em 1885 pelo primeiro sucessor de Dom Bosco.

“Obrigado por terem vindo. Quando eu vi esse pedido, eu disse: ‘Os salesianos? Façam-nos vir!’”, começou o Papa, antes de iniciar o diálogo todo de improviso, que durou cerca de 50 minutos e marcado por algumas perguntas dos presentes. “Eu não sei o que dizer a vocês. É melhor que vocês façam perguntas, para eu não dizer alguma bobagem”, brincou Francisco.

Ele relembrou a sua juventude e a escola elementar em um colégio dos salesianos, “onde eu aprendi o amor à Nossa Senhora”, depois os estudos de química na universidade “que a minha mãe queria que eu terminasse”, mas que, ao contrário, interrompeu seguindo a vocação sacerdotal: “Meu pai, em vez disso, estava mais contente”.

A propósito da família, Bergoglio não esqueceu os parentes piemonteses: “Somos muito ligados. Eles foram à Argentina, nós fomos encontrá-los. Quando eu vinha para os sínodos ou para as reuniões no Vaticano, eu dava um pulo para ir encontrá-los e visitava as duas basílicas”, contou.

Depois, respondeu às perguntas. Quando o siciliano, Pe. Marcello, por exemplo, pediu algumas sugestões para a “delicada tarefa de acompanhar os jovens no discernimento vocacional”. O papa respondeu diretamente:

Os critérios são normais. Alegres, esportivos, normais. Que saibam trabalhar. Se estudam, que saibam estudar. Que assumam as suas responsabilidades. Cuidado com aqueles jovens com cara de imagenzinha… A esses eu não peço nem o Pai Nosso.

O importante é “acompanhar” esses jovens, porque “no caminho há muitas surpresas de Deus ou que não são de Deus. É preciso estar atento e ajudá-los a olhar essas surpresas na cara. Se forem dificuldades, olhá-las na cara. E ajudá-los a afastar toda forma de hipocrisia. Esta é uma peste: a hipocrisia na Igreja, a hipocrisia do ‘digo uma coisa e faço outra’… A hipocrisia da mediocridade, daqueles que querem entrar no seminário, porque sentem que são incapazes de se virar sozinhos no mundo.

Se você encontrar um que seja um pouco diplomático demais, fique atento. Se você encontrar um que seja um mentiroso, convide-o a voltar para casa.

Cuidado também “a como rezam”, recomenda o pontífice: não adiantam orações longas e artificiosas, mas uma oração “simples”, como “a que você aprendeu na sua casa, na primeira comunhão”, “uma oração normal, mas confiante”. “‘Mas, padre, eu estou irritado com Deus.’ Essa também é uma oração”, exclama o papa.

Com Luigi, de Salerno (“Os salernitanos são os mais alegres da Itália, você sabia?”), Francisco lembra o período do noviciado:

“Era outra época: antes do Concílio… rígido… Usava-se a disciplina, com muitos traços pelagianos. Era uma coisa que, para aquele tempo, ia bem, hoje não vai. Embora haja pequenos grupos que gostariam de voltar a isso. Se eu os tivesse convidado hoje, viriam com a batina, talvez até mesmo com o saturno [chapéu eclesiástico]”. Brinca o Papa entre os risos dos seus convidados. Aos quais ele diz, dentre outras coisas, que as situações difíceis devem ser enfrentadas “com as calças”, isto é, “como homens, como o seu pai, como o seu avô”.

A Giorgio, de Turim, que pede uma “palavra sobre a santidade”, ele explica:

É muito simples a santidade: ‘Caminha na minha presença e sê irrepreensível’. Ponto. Essa é a melhor definição. Você sabe quem a deu? Deus a Abraão. Atualizando um pouco a coisa, eu acho que hoje também é possível ser santo. Há tantos na Igreja, tantos. Gente heroica, pais, avós, jovens. Os santos ocultos, como aqueles que pertencem à ‘classe média da santidade’, que não se veem, mas existem”.

Com Andrea, da inspetoria da Sicília, o papa volta a falar dos jovens. O noviço perguntava “o que levar” aos meninos e meninas de hoje e como encorajá-los, especialmente aqueles que moram nas “periferias”.

Quando eu falo de periferias, eu falo de todas as periferias, também das periferias do pensamento”, explica o papa. “Falar com os não crentes, agnósticos, essa é uma periferia, hein! Depois, há as periferias ‘sociais’, dos pobres…”. O convite, no entanto, é sempre o mesmo: “Ir lá”, exorta Francisco.

E dirige uma palavra aos superiores:

“Escolham bem que enviar às periferias, especialmente as mais perigosas. Os melhores devem ir lá! ‘Mas este pode estudar, fazer um doutorado…’ Não, mande ele. ‘Lá tem a máfia…’ Mande ele. Às periferias, é preciso mandar os melhores”, afirma o pontífice.

Quanto aos jovens, ele pede para “organizar atividades” concretas, que não se limitem ao “mundo virtual” e a “ensiná-los a ajudar os outros, os valores humanos da amizade, da família, do respeito pelos avós”. Em particular, o “respeito pelos avós”, que, confidencia Francisco, “é uma coisa que eu trago muito no coração”.

Eu acho – continua – que estamos no momento em que a história nos pede mais que os jovens falem com os avós. É uma ponte… Estamos em uma cultura do descarte, e os avós são descartados. Hoje, tudo o que não serve é descartado. Vive-se na cultura do ‘usa e joga fora’, não?

E não só os idosos, mas também “tantos jovens têm sido descartados”, observa o Papa Francisco, lembrando que, na Itália, apenas para dar um exemplo clamoroso, 40% dos jovens não têm trabalho.

“Os jovens, porém, têm tanta força”, que não sabem aonde canalizar. Ela se contrabalança com a “sabedoria” dos seus avós. Por isso, é necessário criar essa “ponte”, insiste o papa. E enumera entre as virtudes necessárias também a da “criatividade” que, afirma, é “uma graça a se pedir ao Espírito Santo”, para “dizer a palavra certa no momento certo”.

Depois, aos jovens, acrescenta o pontífice respondendo ao mesmo noviço, “também é preciso deixá-los com um pouco de fome, para que depois voltem a fazer outra pergunta”.

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Foto divulgada no facebook da Agenzia Info Salesiana.

Na conclusão do encontro, o Pe. Guido Enrico lembrou as diversas “frentes” em que a congregação salesiana “é desafiada, provada”. Não só na Síria, onde os seguidores de Dom Bosco trabalham ativamente, mas também em outras áreas chagadas pela guerra e pelo terrorismo. O Iêmen, por exemplo, onde, no ano passado, o Pe. Tom Uzhunnalil foi sequestrado, durante o brutal assassinato de quatro Missionárias da Caridade. O religioso indiano tinha celebrado a missa com as irmãs e, depois, foi sequestrado. Desde então, não se têm mais notícias dele, com exceção de alguns vídeos que apareceram na web. “Não sabemos se ele está vivo ou morto”, diz o Pe. Enrico ao Papa, que responde assegurando a sua oração e recordando que “hoje na Igreja há mais mártires do que nos séculos passados”.

O encontro concluiu com o canto do Regina Coeli e uma oração à Virgem, junto com o pedido de costume: “Não se esqueçam de rezar por mim”.

Fonte:

IHU

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