Finitude – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Mon, 16 May 2022 19:22:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Finitude – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Nossa condição de finitude: dilemas existenciais e os ensinamentos de Francisco. https://observatoriodaevangelizacao.com/nossa-condicao-de-finitude-dilemas-existenciais-e-os-ensinamentos-de-francisco/ Mon, 16 May 2022 19:22:01 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44991 [Leia mais...]]]>

A morte é o tema mais complexo que podemos (ou não) abordar. No fundo, não se trata de uma temática sobre a qual podemos gerar conhecimento racional. Tudo o que se falou e escreveu sobre o referido tema não passa de especulação e imaginação. Aqui não podemos desconsiderar as dimensões espirituais e os elementos da fé. No entanto, não há como pensarmos racionalmente nesse tema. O que faremos aqui são algumas reflexões para a vida.

A angústia maior referente à nossa finitude está justamente no fato de não podermos saber nada. Tudo o que falamos sobre a morte está no âmbito de uma não-vida, ou seja, fora do tempo e do espaço. Ora, a vida e todas suas possibilidades somente pode ser pensada e imaginada dentro de uma temporalidade e de uma espacialidade. Dessa maneira, o que abordamos acerca da morte é imaginação, criação a partir da vida. Não é a realidade, de fato. Com isso não estou querendo dizer que não exista vida após a morte. Apenas afirmo que não podemos conhecer essa realidade, adentra o campo do mistério e da esperança.

Esse talvez seja o maior paradoxo da existência humana: o fato de não sabermos o que acontece quando morremos gera uma tremenda angústia, mas, ao mesmo tempo, é apenas por isso que temos possibilidade de sermos livres. Imagine, caro leitor, se soubéssemos com certeza o que acontece depois que morremos. Haveria aqui nessa vida uma consequência imediata! O que aconteceria na vida pós-morte determinaria toda a vida no aqui e agora. Isso simplesmente impediria a nossa liberdade. Por mais que estejamos dentro de uma angústia existencial devido à nossa condição de finitude, somos livres, podemos escolher! Eis a beleza de nossa humanidade…

O medo da morte também se configura em outras duas direções. Primeiro, é o medo do nada. Mesmo que possamos imaginar em alguma dimensão de vida, talvez não sejamos mais nós mesmos, dentro do nosso eu, nosso corpo, nossos sentimentos, sem a presença de nossos próximos. Alguma dimensão irá mudar, pelo menos supostamente. Esse imaginar em encontro com o nada porta angústia. É uma dimensão parecida com a do vazio promovido por traumas do passado que implica em melancolia.

Por outro lado, o que nos conforta um pouco é saber que as dimensões negativas da vida serão finalizadas. É muito comum escutarmos pessoas dizendo: “Ele não resistiu, mas foi um descanso do sofrimento”.  Acreditamos que o fim da vida pode trazer o fim de angústias, sofrimentos, dores físicas e psíquicas. Isso nos conforta. No entanto, como não sabemos o que acontece, podemos também imaginar que alguma dimensão de sofrimento possa continuar. Nesse momento podemos temer o que virá. A crença e a imaginação acerca de punições em outra vida surgem desse sentimento. Muitas vezes essa crença é excessiva, violenta e gera muita culpa.

O fato é que nada sabemos. Dessa maneira, nos resta sim a esperança, mas uma esperança sem objeto, sem definições e fantasias. Uma esperança divinamente humana!

O Papa Francisco nos ensina que há uma importância primordial na reflexão sobre a morte e a finitude. Para os cristãos, o caminho do desapego se mostra fundamental. “Para nós cristãos permanecem firmes duas considerações. A primeira é que não podemos evitar a morte, e por esta razão, depois de ter feito tudo o que era humanamente possível para curar a pessoa doente, é imoral envolver-se numa obstinação terapêutica”. A segunda consideração diz respeito à qualidade da própria morte, da dor, do sofrimento. “Devemos ser gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que através das chamadas “curas paliativas”, cada pessoa que se está a preparar para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Contudo, devemos ter o cuidado de não confundir esta ajuda com desvios inaceitáveis que levam à morte. Devemos acompanhar as pessoas até à morte, mas não provocar a morte nem ajudar o suicídio. Saliento que o direito a cuidados e tratamentos para todos deve ser sempre uma prioridade, de modo a que os mais frágeis, particularmente os idosos e os doentes, nunca sejam descartados. A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos ou fiéis”.

Não é fácil sentir-se cada vez mais próximo à morte, notar o corpo frágil e atestar concretamente a finitude humana. Por isso, é muito necessário que seja um momento de acolhimento e que nos demos as mãos. Se estivermos mais próximos ao humano, podemos verdadeiramente construir uma sociedade melhor.

Outro aspecto importante é entender que, quando tentamos afastar neuroticamente as marcas dos anos e a morte, simplesmente nos privamos das belezas humanas. Cada vez é mais comum ver pessoas que cuidam do corpo e negligenciam a mente. O corpo humano porta as marcas da narratividade, nossas histórias, pois nossos “eus” foram vividos nele, não estão na “nuvem” e, ali está, atualizando-se, constantemente, vivendo até a morte. No olhar, no rosto de uma pessoa que viveu muitos anos, existe uma beleza que remete ao infinito, que busca no mais profundo sentido humano, o sagrado.

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Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

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