Família – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 25 Apr 2024 18:28:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Família – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Leiga católica lança livro sobre a missão de mães cristãs no acolhimento de filhos LGBTQIA+ https://observatoriodaevangelizacao.com/leiga-catolica-lanca-livro-sobre-a-missao-de-maes-cristas-no-acolhimento-de-filhos-lgbtqia/ Thu, 08 Sep 2022 22:53:22 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45900 [Leia mais...]]]> “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, a frase dita em 2013 pelo Papa Francisco em seu voo de retorno da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, tornou-se um marco fundamental do trabalho pastoral com pessoas homossexuais na Igreja. De lá pra cá, importantes reflexões, iniciativas e caminhos foram abertos para o cuidado desta parte significativa do povo de Deus que, historicamente, sofre com discriminações sociopolíticas e religiosas que a coloca em situação de vulnerabilidade e sofrimento.

É a partir de seu encontro com essa realidade fronteiriça, que a dentista Sílvia Kreuz escreve seu primeiro livro: “Um café na fronteira”. Trata-se de uma série de relatos de uma mulher, mãe e cristã que, no contato com a realidade da diversidade sexual, soube ressignificar seus valores e espiritualidade a partir da ética do cuidado e do amor incondicional.

Sílvia relata em seu livro as experiências vividas desde a revelação da homossexualidade de uma de suas filhas, passando por sua militância LGBTQIA+ e como estas realidades impactaram seu trabalho pastoral, culminando na fundação do grupo MAMI (Mães do Amor Incondicional). O grupo, iniciado em Curitiba-PR, onde Sílvia atua também como coordenadora da Escola de Fé-Política da dimensão sócio-transformadora da Arquidiocese, tem a missão de acolher, orientar e fortalecer os laços de famílias cristãs que fazem a corajosa opção da não exclusão: querem manter-se como espaços de aceitação, segurança e afeto de seus filhos LGBT+, sem renunciarem às suas vivências nas comunidades de fé as quais pertencem.

Na verdade, “Um café na fronteira” escancara o absurdo, relembrando o óbvio: ter que escolher entre amar e proteger seus filhos e viver coerentemente com sua fé cristã nunca deveriam ser escolhas antagônicas. Como afirma a própria autora, seu desejo é que a obra ajude as famílias para que “após termos feito a experiência do encontro e do abraço, sejamos capazes de trazer nossos filhos para a posição que nunca poderiam ter imaginado perder: a de pessoas dignas, filhos, filhas e filhes de Deus”.

O livro pode ser adquirido pelo site da Editora Metanoia, clicando aqui.

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Juventude, busca por sentido e espiritualidade https://observatoriodaevangelizacao.com/juventude-busca-por-sentido-e-espiritualidade/ Mon, 04 Jul 2022 19:39:05 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=45338 [Leia mais...]]]> A busca por sentido

A juventude contemporânea vive uma insistente angústia, originada pelo fantasma da ausência de sentido; uma angústia fundante, de ser ou não ser, existir significativamente no mundo ou não. Nesse cenário, o jovem busca encontrar sentidos e, para isso, vive em “estado de experimentação”, tentando encontrá-los na incessante experiência, que em última instância, se mostra como uma “experimentação de si mesmo”. Esse panorama atual significa para a juventude ainda mais fluidez, o que pode ser bom, por um lado, pois está livre de fundamentos arcaicos, ilusórios e, muitas vezes, violentos. No entanto, porta um profundo vazio. Está o jovem fadado a viver um constante “abismo”? De fato, há um índice crescente de depressão entre jovens, bem como automutilação e suicídio. A religião poderá “salvá-los”?

Parece que as religiões não são mais fontes de construção de sentido real (mesmo que, em muitas situações, porta ideais longínquos), sobretudo pensada como autoridade e obediência. Não vivemos mais uma sociedade vertical, mas horizontal, as relações são construídas e não impostas. Por outro lado, há um medo de se sentir desconectado neste mundo altamente conectado; “o medo de morrer cedo e de maneira violenta. É nesse tempo de incerteza que boa parcela da juventude amplia seu repertório das trajetórias religiosas possíveis” (FERNANDES, 2018).

Fica uma questão: a religião então serviria como fuga de vazios provenientes do medo? Dessa maneira, estaria verdadeiramente preenchendo sua função de “religare” e libertação?

Jovens que viveram um “narcisismo negativo”

O investimento narcísico do jovem de hoje foi pequeno. Os pais foram ausentes (pelo menos uma grande parcela), delegaram, em grande medida, à escola a educação e o afeto. O ambiente escolar passou a ser o lugar de formação da personalidade e da relação edípica (pai-mãe-bebê). O sentimento de ausência, no entanto, é existente. Um vazio impera. Um aspecto importante na relação entre pais e filhos é o de responsabilidade. O filho necessita perceber, com clareza, que alguém se responsabiliza por ele. Quem é essa figura hoje? A escola? Os pais? Os amigos virtuais? As Igrejas?

A família não é mais o lugar do afeto inicial. Vivemos, na sociedade atual, uma desconstrução da família nuclear, de um modelo de patriarcado (esse último aspecto é libertador!). Criamos instituições para fazer o trabalho do afeto infantil, aquilo que o sociólogo Pierre Bourdieu chama de “socialização primária”. A socialização secundária, que seria justamente função das instituições, passou a vir antes. A escola substituiu a família. Há um grande dilema aqui, pois a produção subjetividade veio como “desinvestimento da criança”. Presenciamos uma espécie de “narcisismo negativo” (BIRMAN, 2021). Se a modernidade foi caracterizada por excesso de narcisismo, hoje vivemos em uma sociedade narcísica justamente porque fomos pouco investidos. Por isso, se analisarmos as formas psicopatológicas do nosso tempo, encontramos características de sofrimento a partir de ausências, advindo de seres pouco investidos, próximos à melancolia e à fuga do mundo: drogas, anorexia, depressão, compulsões, borderline (personalidades que flertam com os limites) (BIRMAN, 2021).

O que acontece com a juventude de hoje na medida em que não há um reconhecimento simbólico, é uma perda de identidade, de fronteira. A violência é uma forma de manter sua posição, seu território. Em algum sentido, é uma forma de fuga da melancolia. Violência pode aparecer como automutilação, palavras fortes contra aqueles que cruzam seu caminho e mesmo fechamento em seu mundo absoluto. Lacan mostra que o estádio do espelho é o primeiro momento de formação da personalidade que nos diferencia do outro. Na medida em que me reconheço enquanto corpo que vejo, percebo as diferenças, as alteridades, o que sou e o que não sou. Nesse momento, é necessário a vivência de permanências iniciais. Quando não há essa vivência, apenas nos resta viver de forma experimental (BIRMAN, 2021).

Ao mesmo tempo, vivemos na era do individualismo, estamos “conectados na desconexão”. Nos últimos anos aumentou significativamente a oferta de produtos customizados. Na pandemia essa tendência não se apagou ou diminuiu, pois o virtual a preencheu. Interessante inclusive verificar a maior exposição de cenas e imagens mais banais no período da quarentena. O singular tem que ser imposto a todos. Estar sozinho, não aceitar vincular sua vida aos outros, é uma tendência. Há uma necessidade de que a vida gire em torno do meu gozo, por isso mesmo muitas vezes os sujeitos contemporâneos não mantêm relações. Deveríamos talvez reconstruir a ideia de união e desunião. A união poderia ser mais qualificada, refletida. A relação é uma aliança inconsciente com o outro. Há conflitos, mas não pode ter um horizonte narcísico.

Como se configura a espiritualidade dos jovens contemporâneos?

Segundo a socióloga Sílvia Fernandes (2018), em primeiro lugar, o jovem sem religião se apresenta multifacetado, podendo agregar em uma única identidade um posicionamento crítico e, ao mesmo tempo, flexível em relação às denominações religiosas. Daí a explicação para o número crescente de jovens que se declaram “sem religião” e sustentam espiritualidades plurais e sincréticas.

A antropóloga Regina Novaes (2018), afirma que juventude contemporânea vive um tempo em que as religiões não são mais as principais fontes distribuidoras de sentido e imagens estáveis da vida entregues de geração a geração pelas autoridades religiosas, reconhecidas como tal, o que corrobora a característica de fluidez que apontamos anteriormente.

Dessa maneira, as posições mais fundamentalistas ganham espaço, pois transmitem ideias objetivas e que dão a ilusão de preenchimento de vazio. Há uma preocupação em reproduzir suas crenças de forma incisiva, afastando qualquer possibilidade de autocrítica.  Nesse momento, ficam de lado a subjetividade e a singularidade do sujeito, para dar espaço ao moralismo, à objetividade e à rigidez. A diversidade e o diferente assustam, ameaçam. “Os sincretismos religiosos, cada vez mais frequentes num contexto de mundo globalizado, em que todos são convidados a se abrir para o diferente, pagam o preço, muitas vezes caro, do risco de expor as suas premissas, incorrendo na possibilidade de que sejam esvaziadas” (JOBIM, 2018).

É importante afirmar que existe uma geração de jovens que não conheceu outro caminho de espiritualidade daquele apresentado por grupos atuantes, através de mídias eficientes. O medo de perda de sentido trouxe adesão, mas pode portar também exclusão e ilusões a respeito de si e do outro, sustentando um mudo distante de dimensões do real.

            O grande paradoxo da juventude contemporânea é: ela vivenciou pouco investimento narcísico, mas vive em uma cultura narcisista, repleta pela moral do individualismo. Nessa cultura, cada um existe por si e por suas ideias, vendo o outro, o diverso, como inimigo.

Qual mundo queremos? Um mundo-da-vida, da esperança, do real? Ou um mundo da morte, da violência e das ilusões? Como nos ensina o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e Reitor da PUC-MINAS na apresentação do livro O Novo Humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco: “Ousamos supor que um novo humanismo é necessário e possível: que as bases importantes desse humanismo estão sendo iluminadas pelo Papa Francisco; que vivemos, portanto, uma histórica oportunidade de fazer uma revisão da rota percorrida, nos últimos séculos, no Ocidente. Ousamos com Francisco ter a esperança de que a morte ainda não tenha tido a palavra final: é possível restaurar nossa casa comum; estabelecer relações mais igualitárias e equitativas; estender a todos, mulheres e homens em sua diversidade, o respeito ao Estado de direitos” (DOM MOL, 2022,

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Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, Doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador dos Grupos de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia” e “Diversidade afetivo-sexual e teologia”, ambos na FAJE e “Teologia e Contemporaneidade”, na PUC-Minas.

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Família, pais e filhos: relações a partir da construção e da misericórdia. Recordando Amoris Laetitia. https://observatoriodaevangelizacao.com/familia-pais-e-filhos-relacoes-a-partir-da-construcao-e-da-misericordia-recordando-amoris-laetitia/ Wed, 06 Apr 2022 19:35:32 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44767 [Leia mais...]]]> Vivemos um conflito de gerações e de consciências. É comum escutar na experiência da clínica a frase: “meu pai ou minha mãe me educa como foi educado”. Pais de algumas gerações acham que a única forma de educar os filhos é a forma que eles viveram e conheceram. Não é o caso de culpar gerações, nem de apontar seus erros, mas sim seus limites. Não é verdade que a educação violenta do passado deu certo. Afinal, os vazios de hoje são reflexos do passado. Por que será que temos uma geração tão depressiva hoje? Ou por que muitos não tratam seus traumas e os canalizam pelo álcool, drogas, medicamentos em uso excessivo?

Os vazios das relações do passado estão presentes, devem ser escutados e, sobretudo, não reproduzidos. Escutar os filhos, propor caminhos, estar junto, são fórmulas saudáveis de recentes gerações. O pai não deve mais ser figura de provedor exclusivamente, não deve se ausentar da dimensão afetiva. Mães podem sim manter suas atividades profissionais, servindo de inspiração e exemplo aos seus filhos. As ausências e os vazios, reflexos da falta de tempo podem ser supridas qualificando-o, as ausências da frieza é que são devem ser, em algum momento, arduamente elaboradas…

A mudança fundamental é que hoje temos vários caminhos para lidar com a educação dos filhos, não existe uma fórmula pronta, precisamos descobrir práticas ao longo do processo. Só assim podemos respeitar a individualidade deles. Dois seres humanos não podem ser educados exatamente da mesma maneira, cada um é único, singular em sua subjetividade.

Na Exortação Pós-Sinodal, Amoris Laetitia, resultado de reflexões de um profundo “processo sinodal” que se desenvolveu entre 2014 e 2015, o Papa Francisco sustenta a realidade das famílias como uma construção gradual. Não devemos partir de imposições e regras morais rígidas e totalitárias: “não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimônio como sinal implica um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus” (AL, n. 122). As expressões “processo dinâmico’, “que avança”, “gradualmente”, “progressiva integração” indicam uma mudança profunda no pensar teológico e pastoral acerca das famílias. 

Por isso, os caminhos do educar e do afeto podem ser mostrar bons, outros nem tanto, é possível perceber o erro, as projeções de traumas e recomeçar. Aqui entra a beleza do perdão, pedir perdão aos filhos é um gesto inesquecível, que eles levarão para sempre, até o último dia de sua existência, permitirá um sublime encontro com a liberdade.

O desvendar dos universos dos filhos é uma dimensão riquíssima, que pode engrandecer os sujeitos e as suas diversas atuações no mundo, inclusive no trabalho (pessoas criativas não costumam ser autoritárias, pois entendem diversas possibilidades a um problema) e na sociedade (pois é um excelente exercício à tolerância).

“Na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida. Até a virilidade pareceria posta em questão. Verificou-se uma compreensível confusão, já que, «num primeiro momento, isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes, havia casas em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência. Mas, como acontece muitas vezes, passa-se de um extremo ao outro. O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasora do pai, mas sim a sua ausência, o facto de não estar presente. Por vezes o pai está tão concentrado em si mesmo e no próprio trabalho ou então nas próprias realizações individuais que até se esquece da família. E deixa as crianças e os jovens sozinhos. A presença paterna e, consequentemente, a sua autoridade são afetadas também pelo tempo cada vez maior que se dedica aos meios de comunicação e à tecnologia da distração. Além disso, hoje, a autoridade é olhada com suspeita e os adultos são duramente postos em discussão. Eles próprios abandonam as certezas e, por isso, não dão orientações seguras e bem fundamentadas aos seus filhos. Não é saudável que sejam invertidas as funções entre pais e filhos: prejudica o processo adequado de amadurecimento que as crianças precisam de fazer e nega-lhes um amor capaz de as orientar e que as ajude a maturar” (Amoris Laetitia, 176).

É muito gratificante ver os efeitos da nova paternidade, por exemplo. Ver aqueles que amamos sendo livres e construindo uma vida feliz e apaziguada, é algo que podemos afirmar estar próximos ao sublime. É uma existência fundamentada no perdão, na tolerância e na possibilidade de amor verdadeiro.

No entanto, nossa sociedade cada vez mais se distancia dessa realidade. Ter filhos é afirmado por muitos como uma forma de perder a autonomia e a liberdade. Em uma cultura cada vez mais ancorada no narcisismo e no individualismo, muitos não querem “descentrar-se de si mesmos”. Claro que é uma opção, resultado de uma sociedade livre em sua consciência. No entanto, é preciso refletir se tais decisões não são resultado desse fechamento antropológico ou mesmo de traumas a serem elaborados.

            Mais recentemente, em sua primeira audiência geral de 2022, Francisco chamou a atenção para o fato de as pessoas estarem cada vez mais substituindo filhos, não querendo assumir responsabilidades afetivas. “Hoje vemos uma forma de egoísmo. Alguns não querem ter filhos. Às vezes têm um e param por aí, mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar. Isso pode fazer as pessoas rirem, mas é a realidade”, afirmou. “A negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, a civilização envelhece”, afirmou.

            O individualismo não deve impedir a vivência de gratuidades e dimensões profundamente humanas em nome de uma liberdade individual. Uma liberdade que aliena o ser humano em seus processos de abertura às alteridades, é uma liberdade limitada. A sociedade europeia, de um modo geral, vive esse processo de individualismo que resulta, inclusive, em um trágico isolamento dos idosos, pais e avós de gerações criadas a partir do individualismo. Segundo o teólogo e reitor da Universidade Católica Portuguesa, Braga, João Duque: “A noção de disponibilidade parece resumir o paradigma da relação do sujeito ao mundo – incluindo os outros e a si mesmo – típico da modernidade (…). Isso implica, por um lado, uma concepção do sujeito como objeto disponível sem limites; e implica, sobretudo, uma concepção do humano com base na sua capacidade precisamente para tornar tudo disponível” (Duque, in DENTZ et FERREIRA, 2020, p. 52).

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Prof. René Dentz
É
católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

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Vida conjugal e maturidade humana https://observatoriodaevangelizacao.com/vida-conjugal-e-maturidade-humana/ Mon, 13 Nov 2017 03:25:49 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=26724 [Leia mais...]]]> A exortação pós-sinodal Amoris Laetitia, dirigida a todos os cristãos, trata do amor na família. Neste momento em que oscilam configurações familiares e que casais perdem pelo caminho o essencial de suas vidas, nosso colaborador, Matias Soares, a partir de seu olhar de presbítero, nos convida a refletir sobre:

Vida conjugal e maturidade humana

Uma das grandes preocupações da vida pastoral de um Presbítero é com as famílias. Isso porque é nelas que a vocação humana e cristã acontece. Inclusive a própria vocação sacerdotal. É comum ouvirmos a afirmação de que a família é célula fundamental da sociedade. A Igreja também assume essa verdade. A família é a Igreja doméstica.

Não é novidade a constatação de que há vários modelos de famílias na sociedade contemporânea. Estamos vivendo um tempo de mudanças. Novas ordens sistêmicas estão surgindo e querendo ser reconhecidas. Sem dúvida, influenciando e sendo influenciada, a família está no centro destas questões. É a educação, a vida afetiva, a construção da personalidade e outras integrações que na família começam a ser balizadas e a partir dela são lançadas na dinâmica da sociedade.

Todas essas possibilidades farão com que cada pessoa vá formando a sua personalidade, seu caráter e estrutura psicológica, biológica e espiritual. As várias ciências, principalmente as humanas, já estão tomando esta dimensão espiritual como algo transversal da condição humana. Uma pessoa que tem sua personalidade, integral e integrada, terá mais condições de viver de modo feliz e realizado a sua vida matrimonial.

Eis aqui a questão central desta reflexão, que é fruto de discernimento na caminhada pastoral com os casais: muitos casamentos são destruídos, em muitas situações, não por falta de amor, e sim por imaturidade humano-afetiva. E acrescentaria: por uma lacuna existente na espiritualidade conjugal, nestes tempos líquidos e subjetivistas. O amor, traduzido em respeito, perdão, sinceridade, confiança, diálogo, parceria, amizade, carinho, fidelidade, humildade, alegria, delicadeza, afeto etc… é o sentimento que exige das pessoas atitudes que vão fortalecendo a caminhada de um casal feliz e realizado.

Por fim, quero dizer que precisamos pensar a vida conjugal partindo deste realismo antropológico. Vos recomendo a leitura atenta e eclesial da Exortação Apostólica do Papa Francisco: “A Amoris Laetitia”. A leiam com muita atenção e percebam o espírito da Exortação. Que Deus abençoe e fortaleça todos os casais para que não joguem fora o tesouro da família que cada um tem. Assim o seja!
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         PADRE MATIAS SOARES PERTENCE À ARQUIDIOCESE DE NATAL-RN. ATUALMENTE MORA NO PIO BRASILEIRO, EM ROMA, IMG_8630E FAZ MESTRADO EM TEOLOGIA MORAL NA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE GREGORIANA. COLABORA COM O OE ENVIANDO-NOS ARTIGOS DE OPINIÃO

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Qual a sua opinião sobre a postura do Papa nesta imagem? https://observatoriodaevangelizacao.com/qual-a-sua-opiniao-sobre-a-postura-do-papa-nesta-imagem/ Wed, 16 Aug 2017 17:36:43 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=23130 [Leia mais...]]]> Uma edição da revista italiana Famiglia Cristiana, no ano passado, provocou uma grande discussão naquele país: a foto da capa da revista (em destaque) mostrava dois jovens recém-casados, sendo que a noiva, de vestido branco e grávida, era abençoada pelo sorridente papa Francisco. A manchete destaca: “A alegria do amor: a Igreja abraça todas as famílias. Nenhuma está excluída”.

Muitos leitores da revista manifestaram sua indignação com a publicação e com a atitude de Francisco e iniciou-se um grande debate sobre a foto, principalmente nas redes sociais.

Para alguns leitores, a escolha da capa pela revista foi uma verdadeira afronta à doutrina da Igreja. E argumentavam, também, que o Papa, com aquela carinhosa atitude, iria encorajar o sexo antes do casamento.

Esta imagem pode ser interpretada como uma condescendência do Papa ao sexo antes do casamento e assim esvaziar a santidade do casamento em si e encorajar o amor livre” – escreveu um dos leitores da revista.

Outro leitor registrou que a mensagem que chegava aos adolescentes e aos jovens era péssima: “Eu quero dar aos meus filhos o valor da virgindade até o casamento e sinto muito [que a revista] ‘Família Cristã’, única [publicação] semanal que vem em minha casa fez essa escolha”.

Em resposta aos leitores, o diretor da revista, padre Antonio Sciortino, tentou colocar um ponto final na polêmica. Ele escreveu: “A foto foi tirada na Praça de São Pedro, na audiência geral de quarta-feira, 10 de junho de 2015. Naquela ocasião, houve um grande grupo de recém-casados e o Papa dirigiu-lhes uma saudação especial“.

De acordo com o diretor da revista, o ensino do papa Francisco sobre a família e o casamento é muito claro e perfeitamente de acordo com todo o Magistério da Igreja. “Não há nenhuma adaptação aos tempos – reiterou padre Sciortino – mas apenas em acolher com misericórdia e acompanhar as famílias feridas“.

Ainda segundo Sciortino, acima de tudo, há o convite para testemunhar a beleza do matrimônio, onde até mesmo o sexo é um presente de Deus.

 

Grupos católicos conservadores atacaram a atitude do Papa

Um dos sites tradicionalistas que desencadeiam uma espécie de “ciberguerra”, ou seja, uma guerra nas redes sociais e na Internet, contra as ações do papa Francisco, intitulado UnaVox, aproveitou a ocasião para atacar o Papa Francisco. Com a manchete “Bergoglio abençoa coabitação antes do casamento”, o site informa que o papa Francisco está abençoando o ventre das mulheres grávidas.

Utilizando a mesma linguagem visual do portal na Internet da Santa Sé, a confundir qualquer leitor mais distraído, o grupo conservador coloca em dúvida até mesmo a atitude do Papa em tocar o ventre materno:

Pode-se argumentar que ninguém deve tocar o ventre de uma mulher grávida; somente seu marido e seu médico. Certamente nenhum prelado deve fazer, muito menos um papa. Para cada homem tal ato vai contra a decência e moralidade”, diz o site.

Ainda segundo esse grupo,

quando o Papa abençoa o ventre de uma mulher grávida que vai se casar, ele também está louvando seus pecados anteriores contra a castidade, que produziram a gravidez. Isso é aprovar e encorajar a coabitação pré-marital. Nesse sentido, a ação do Papa se opõe frontalmente à moral católica e em particular ao sexto mandamento. Em suma, o papa Francisco está promovendo o pecado e, portanto, está dando um escândalo público. Isso é inconcebível para um papa, cuja missão é confirmar os fiéis na fé e na moral católica.”

O que você pensa sobre isso?

Desde a publicação da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, com a qual o Francisco pediu que a Igreja: à luz da Palavra, veja a realidade e os desafios das famílias;  tenha um olhar fixo em Jesus; anuncie a vocação da família, bem como a centralidade do amor; repense e renove suas perspectivas pastorais de acolhida e acompanhamento das famílias; reforce a educação dos filhos; acompanhe, faça discernimento e integre a fragilidade pela lógica da misericórdia; promova uma espiritualidade conjugal e familiar. O Papa pede que o discernimento da Igreja seja dinâmico, não prescinda da verdade e da caridade do Evangelho e que se busque, com sinceridade, a vontade de Deus no desejo de chegar à melhor  resposta possível.

Mas, por pedir que a Igreja aja com discernimento, estudando cada caso e não apenas aplicando leis na hora de ministrar os sacramentos, inclusive a pessoas divorciadas, há série de ataques de grupos moralistas contra o Papa. Até mesmo um grupo de quatro cardeais exigiram, publicamente, “explicações e correções” no texto da exortação.

O magistério tradicional afirma que um católico que volta a se casar no civil pode comungar somente se a Igreja tiver também anulado a primeira união matrimonial. Alguns bispos viram em Amoris Laetitia uma orientação para acolher, com compaixão, os casais à Eucaristia, sem essa anulação.

Essa ideia tem ofendido os conservadores que têm tomado atitudes hostis à essa e outras mudanças propostas por Francisco, como as reformas na estrutura da Cúria Romana.

E você? O que pensa sobre isso?

Acha que a atitude de acolhimento, misericórdia e carinho do papa Francisco com grupos historicamente afastados da Igreja está correta?

Dê sua opinião!

Robson Sávio – da equipe executiva do Observatório da Evangelização – PUC Minas

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Quando voltar é preciso… https://observatoriodaevangelizacao.com/quando-voltar-e-preciso/ Sat, 08 Jul 2017 12:05:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=21644 [Leia mais...]]]>  

Uma grande busca dos educadores da Casa Dom Bosco é reintegrar o adolescente à família, quando isso é possível. Para que essa reinserção aconteça, há uma metodologia própria de encontro que considera a relevância da construção das referências de cada adolescente para que ele seja capaz de acolher sua própria realidade existencial.

Os vínculos familiares, normalmente formados na primeira infância, são extremamente importantes para a obtenção do equilíbrio emocional e do desenvolvimento psíquico das pessoas, inclusive, incidindo diretamente sobre a base emocional de cada indivíduo, e isso acompanhará o ser humano em todas as fases de sua vida.

Com imenso respeito à história de cada educando da instituição, desejando, sobre todas as coisas, que aqueles que possam se reaproximar da família o façam, a Casa Dom Bosco trabalha intensivamente com as famílias, através, por exemplo,  de oficinas de convivência.

Na impossibilidade de resgatar os vínculos familiares, outros adolescentes anseiam pela adoção, o que raramente ocorre nessa faixa etária; mas, nesse caso, os educadores trabalham para que, ao sair da casa (quando completam 18 anos), os jovens consigam, de alguma forma, a própria autonomia.

Veja os depoimentos em nosso vídeo, conheça um pouco desse processo e mobilize-se “para que todos tenham vida, e vida em plenitude” (Jo 10,10).
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Tânia Jordão.
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Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”: FAMÍLIA – Reflexões catequéticas V https://observatoriodaevangelizacao.com/reflexoes-catequeticas-sobre-o-projeto-de-evangelizacao-proclamar-a-palavra-da-arquidiocese-de-belo-horizonte-familia-v/ Fri, 23 Jun 2017 17:40:21 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=20501 [Leia mais...]]]> A complexidade da realidade da família no contexto atual exige da Igreja profunda conversão pastoral. Importa acolher, aproximar, ouvir, acompanhar, partilhar, refletir à luz da Palavra, da fé no Deus da vida e na dinâmica de seguimento de Jesus. Não hã respostas prontas. Que o Espírito Santo vem em nosso socorro e ilumine o nosso discernimento na busca de lucidez.  A 5ª Assembleia do Povo de Deus, cremos que foi a presença do Espírito que nos ajudou a assumir o compromisso de cuidar, como prioridade evangelizadora, da família.

Vejamos a reflexão catequética de Neuza de Souza a partir do quinto compromisso do Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”, fruto da 5ª Assembleia do Povo de Deus:

Proclamar a Palavra – A família

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Nos tempos atuais, percebemos que a presença, a atuação pastoral e os ensinamentos da Igreja católica (a sua doutrina social), sintonizados com o espírito do Concílio Vaticano II e com a reforma eclesial proposta pelo papa Francisco, estão se abrindo ao diálogo com os desafios e urgências do contexto em que vivemos.

A família, núcleo fundamental da sociedade, onde as pessoas ensinam e aprendem a viver e amar,  está entre os maiores desafios. Por isso os compromissos assumidos no Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra criam um tempo muito propício para a nossa conversão e a conversão pastoral da nossa Igreja Particular de Belo Horizonte.

 

Em Jesus revela-se a experiência do amor de Deus por nós e o sentido maior da família no projeto do criador e em nossa vida

O encontro de fé com Jesus Ressuscitado, o testemunho e o anúncio da vida cristã exigem uma Igreja em saída. Isso significa concretamente que os cristãos, por seu chamado batismal para a vida nova no seguimento de Jesus, vão ao encontro das pessoas aonde elas concretizam suas vidas, acolham a todos, partilhem de suas vidas escutem seus clamores: nos desafios da família, do trabalho, na vida em sociedade. Essa compreensão da fé cristã encarnada na realidade das pessoas brota da prática libertadora de Jesus e do anúncio/testemunho do Reino de Deus. Jesus tinha como preocupação fundamental a defesa da dignidade do ser humano e dea sua realização e felicidade: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

A vida de Jesus possibilita uma nova experiência da proximidade e do amor de Deus por nós. Jesus revela também a centralidade da misericórdia divina como experiência incondicional e gratuita do amor de Deus por nós. Esse amor nos sustenta e nos interpela para a concretização de uma aliança com Ele. Assim, ao revelar o seu projeto de amor como aliança com a humanidade, Deus nos faz, em Jesus Cristo, seus filhos e filhas. Somos todos família de Deus. Com esse gesto de amor benevolente, Deus convida as pessoas a criarem aliança, vínculos de amor. À luz do amor de Deus, as pessoas formam famílias e tornam-se cocriadores e zeladores ou cuidadores de toda a criação. Assim como Deus cuida de nós, na família os membros são chamados a cuidar uns dos outros com atenção especial para os/as filhos/as e para os/as idosos/as, por serem os mais vulneráveis.

Na tradição cristã, Deus Uno e Trino por amor, com amor e no amor, é a mais perfeita comunhão. Ele, ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, o cria para participar da plenitude da comunhão trinitária. Aqui encontramos o sentido maior da família: a aliança de amor entre Deus e o ser humano encontra expressão singular entre nós  no vínculo matrimonial. Este vínculo existe para a beleza do conviver, amar, transmitir o dom da vida e cuidar. Nesse sentido,

O exercício do amar é o que mais vincula o ser humano a Deus e é o que mantém, nele, a força divina para tudo transformar em ocasião de vida.

 

A Igreja, enquanto sacramento de Jesus Cristo, defende a dignidade e o valor de cada família

A Igreja é chamada a realizar, promover, zelar e valorizar o vínculo conjugal do matrimônio, pois, o compreende como sacramento da grande, gratuita e eterna Aliança de Amor de Deus por nós revelada por Jesus Cristo pela força do Espírito Santo. Do mesmo modo, ela é chamada a despertar, suscitar, alimentar e fermentar a realização da grande vocação de todo ser humano: aprender a amar e cuidar da dignidade da vida.

Ao encarnar-se na sociedade enquanto lugar onde os seres humanos concretizam as suas vidas e nela anunciar/testemunhar o Amor de Deus, a Igreja é desafiada a dialogar e acolher as diferentes configurações familiares, oriundas de situações sociais, culturais, econômicas e religiosas diversas. Isso porque família é a união das pessoas na consciência do amor, cuja força reside na sua capacidade de amar e ensinar a amar. Assim nos diz o papa Francisco:

“No horizonte do amor, essencial na experiência cristã do matrimônio e da família, destaca-se ainda, como virtude, a ternura”. (Papa Francisco, Amoris Laetitia, n. 38).

A Igreja é chamada a acolher com a ternura e misericórdia divina a todas as pessoas como filhos e filhas de Deus. Ninguém está excluído da graça e do amor de Deus.

No livro do Gênesis, as duas narrativas da criação, a da Semana da Criação e a do Jardim do Éden, nos chamam muito a atenção que homem e mulher são fruto da criação de Deus. A distinção sexual de homem e mulher é anunciada com finalidade significativa: para conviverem, se unirem, se multiplicarem e juntos cuidarem de toda a criação. Eles são companheiros adequados, feitos para a relação e não se realizam na solidão. A identidade de um firma-se na relação da diferença de gênero do outro.

Desse modo, com um olhar de ternura, fé e amor, de graça e compromisso somos chamados a contemplar a família que a Palavra criadora de Deus confia nas mãos de seus filhos e filhas, para que formem vínculos de comunhão expressão sacramental da comunhão do Pai,  Filho e Espírito Santo com toda a humanidade.

Que possamos expandir esse olhar para todas as famílias, em suas mais diversas configurações, com respeito e zelo fraterno. Quero terminar com o que disse no meio de minha reflexão, tal qual um refrão que guardamos no coração:

O exercício do amor é o que mais vincula o ser humano a Deus e é o que mantém, nele, a força divina para tudo transformar em ocasião de vida.

(os grifos são nossos)

Neuza

Neuza Silveira de Souza

Teóloga leiga, com especialização em teologia pastoral voltada para a catequese, objeto de  sua especialização e pesquisa de mestrado. Atualmente, coordena da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.

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Cuidar das Famílias https://observatoriodaevangelizacao.com/cuidar-das-familias/ Thu, 04 May 2017 04:00:42 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=17174 [Leia mais...]]]> “O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração” (AL, 296)

Por Matias Soares

O Papa Francisco, com a Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia, ou seja, a Alegria do Amor que se vive nas famílias, e que também é o júbilo da Igreja (AL, 1), deu continuidade ao que na Alegria do Evangelho, ele mesmo diz que deseja para os membros da comunidade eclesial, a saber: “uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão” (EG, 25). Essa mudança paradigmática tem como fundamento o Evangelho (EG, 34), que tem como chave de leitura a ação misericordiosa de Deus. Ela é o elemento principal da “Nova Lei, pela ação do Espírito Santo, que se manifesta através da fé que opera pelo amor” (EG, 37). O centro do agir moral da Igreja é a misericórdia, pois “ela é a maior de todas as virtudes” (EG, idem). Essa introdução nos coloca em sintonia com a intenção pastoral do Sumo Pontífice para toda a Igreja, neste momento da História.

Para o processo de cuidado das famílias, que por motivos variados não puderam corresponder às promessas matrimoniais, o Pontífice orienta que haja a gradualidade na pastoral. A dignidade das pessoas não pode ser desconsiderada. Os ministros ordenados e demais membros da comunidade eclesial precisam “acolher aqueles que fazem parte da Igreja com atenção pastoral misericordiosa e encorajadora”. Para que essas atitudes realizem-se, é indicado o caminho do discernimento pastoral, que possibilitará “a identificação dos elementos que possam favorecer a evangelização e o crescimento humano e espiritual dos envolvidos” (AL, 293). Para o Pontífice, “duas lógicas percorrem toda a história da Igreja, a saber: a) marginalizar; e b) reintegrar. O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração” (AL, 296). Para as situações irregulares, há orientação de se voltar a “ouvir o anúncio do Evangelho e o convite à conversão”. Apresento a seguir alguns desafios, para que tenhamos parâmetros de reflexão e amadurecimento da ação pastoral junto às famílias:

  • O problema de como foi, no passado, a ação pastoral da Igreja: para quem conhece a história e a metodologia da nossa pregressa ação missionária, pode reconhecer que a maioria dos fiéis de muitas comunidades eclesiais foi mais sacramentada do que evangelizada. Longe daqui qualquer juízo de valor moral. Não é minha intenção cair no anacronismo histórico. Rendemos graças a Deus por todos os nossos antecessores que deram a vida para que tantas pessoas fossem marcadas e tivessem a confirmação da graça de Deus em suas vidas. Todavia, na atualidade, com a tangibilidade do secularismo, há uma constatação de que a maioria dos membros das comunidades cristãs não fez a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo. É por isso que existe um distanciamento da verdade, porque dois caminhos são tomados por esses que foram sacramentados e não evangelizados. Vejamos: A) – O laxismo moral: a atitude de quem se tornou corrupto, ou seja, de quem vive como se não existisse o pecado. O chamado à conversão já não provoca à sua consciência (Mc 1,15). O amor a Deus e ao próximo já não é performativo da sua vida cristã. Sem essa abertura ao amor, a pessoa não consegue reconhecer a verdade de Deus (Cf. S. Agostinho, Confissões). Em Agostinho, é o amor que nos capacita para o conhecimento da verdade. B) – O legalismo: a justiça de Deus, em Jesus Cristo, não é revelada pela lei, mas através da misericórdia (Jo 8, 1-11). Esse tema foi bem aprofundado no Ano Santo da Misericórdia, lembrando especialmente, além de toda a literatura teológica apresentada, o pontificado de São João Paulo II, com a Dives in Misericordia, que foi um referencial magisterial para que o Papa Franscisco convocasse o jubileu. Há uma mentalidade legalista muito forte nas estruturas eclesiásticas. A lei, para muitos, é o fim, e não o meio da Salus Animarum.
  • A formação integral dos ministros ordenados: além da conversão missionária e pastoral, os ministros ordenados necessitam de uma formação integral para o qualificado empenho apostólico, junto às famílias, ajudando-as a integrarem-se na vida da comunidade cristã, “pois os pastores, que propõem aos fiéis o ideal pleno do Evangelho e a doutrina da Igreja, devem ajudá-los também a assumir a lógica da compaixão pelas pessoas frágeis e evitar perseguições ou juízos demasiados duros e impacientes. O próprio Evangelho exige que não julguemos, nem condenemos (Cf. Mt 7,1; Lc 6,37)” (AL, 308). Podemos acrescentar, que os ministros ordenados, para não agirem como os fariseus, também são chamados à conversão e à vivência do Evangelho, assim como os demais fiéis batizados. Por isso, é importante: A) – uma formação teológica interdisciplinar: nas estruturas onde são formados os futuros ministros ordenados, já existe a preocupação com a inserção das ciências humanas na formação seminarística. Na nova Ratio fundamentalis é a importância da formação espiritual e humana que foi enfatizada. B) – a personalidade integrada: além da formação seminarística e permanente, a Igreja está preocupada com a formação inicial dos futuros presbíteros. A história do homem que será sacerdote é tomada como uma questão também relevante no processo formativo do futuro presbítero. A personalidade integrada de um sacerdote será importante para que a experiência do amor e da misericórdia possa formar a sua vida sacerdotal.

Por fim, a preocupação de proporcionar o acompanhamento, o discernimento e a integração das famílias no seio da comunidade cristã, deve ser assumida por todos. Temos que aprender de Jesus, a partir da sua prática missionária e pastoral. Igualmente, temos que aprender de São José, que se fosse insensível à vontade misteriosa e misericordiosa de Deus, não teria acolhido a Mãe de Jesus como sua esposa, e não teria tido a magnífica alegria de ser o pai adotivo de Jesus Cristo, Filho de Deus e salvador da Humanidade. Assim o seja!

Pe. Matias 1

Padre Matias Soares pertence à Arquidiocese de Natal-RN. Atualmente mora no Pio Brasileiro, em Roma, e faz mestrado em Teologia Moral na Pontifícia Universidade Gregoriana.

 

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