Exploração do continente africano – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 07 Sep 2017 10:00:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Exploração do continente africano – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 No “Grito do excluídos”, importa ecoarmos também o grito continental de África https://observatoriodaevangelizacao.com/no-grito-do-excluidos-importa-ecoarmos-tambem-o-grito-continental-de-africa/ Thu, 07 Sep 2017 10:00:17 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=24250 [Leia mais...]]]> O escritor uruguaio Eduardo Galeano denunciou, em sua obra “As veias abertas da América Latina”, publicada em 1971, os mecanismos de exploração e dominação da América Latina desde a colonização espanhola e portuguesa até o final do século passado.

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O mesmo pode ser afirmado da situação do que aconteceu e ainda acontece com o continente africano. Neste sentido, vale a pena ler a reportagem de Francesco Gesualdi publicada no jornal Avvenire:

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As veias abertas de África

Evocando o “desembarque” de milhares de africanos nas costas italianas, há quem não tenha o escrúpulo de definir a África como um parasita que vive nas costas da generosidade italiana. É realmente assim?

(Reportagem é de Francesco Gesualdi do jornal Avvenire, a tradução é de Moisés Sbardelotto, do IHU e os grifos são nossos do OE PUC Minas)

Um estudo publicado pela Global Justice Now e por várias outras organizações britânicas, sob o título emblemático “Contas honestas 2017” (Honest Accounts 2017), demonstra que ainda hoje a África dá ao mundo mais riqueza do que recebe. Pelo menos para os leitores do jornal Avvenire, isso não é uma novidade, mas um lembrete pode ser útil e até mesmo indispensável.

A anomalia é notada desde os primeiros números citados pelo dossiê de 2015. Segundo este, o continente:

  • recebeu 31 bilhões de dólares em remessas dos emigrantes, mas, ao mesmo tempo, perdeu 32 bilhões por expatriação de lucros por parte das empresas estrangeiras que operam no seu território;
  • recebeu 19 bilhões de dólares como “ajuda ao desenvolvimento”, mas restituiu 18 bilhões por juros sobre empréstimos anteriores.

Os desembolsos mais pesados, no entanto, são os ilegais. Por exemplo, estima-se que, através do sistema de faturamento mentiroso, a cada ano, as multinacionais transferem abusivamente 67 bilhões de dólares da África aos vários paraísos fiscais. Sem falar do comércio ilegal de madeira, peixe e espécies protegidas, que, no total, acarreta ao continente uma perda anual de 28 bilhões de dólares. Por fim, o relatório britânico insere entre as perdas outros 36 bilhões de dólares gastos para enfrentar as mudanças climáticas provocadas pelos países ricos.

A conclusão é de que, em 2015, diante de entradas financeiras de 161 bilhões de dólares, a África desembolsou 202 bilhões, resultando um credor líquido de 42 bilhões de dólares.

Cada uma das práticas abusivas de espoliação do continente tem graves repercussões sobre a condição econômica e social das populações. Mas uma das formas mais odiosas é o subfaturamento dos bens exportados, porque provoca importantes ausências nos cofres dos Estados de origem.

O sistema, amplamente testado, é a venda de minerais, petróleo ou gêneros alimentícios com um duplo faturamento. O primeiro, emitido pela empresa produtora para uma filial do grupo localizada em um paraíso fiscal, tem o objetivo de fazer com que a riqueza saia dos países de origem, declarando preços inferiores aos reais, de modo a pagar poucos impostos e baixos direitos de extração. O segundo, emitido pela filial localizada no paraíso fiscal para o cliente final, tem o objetivo de faturar a preços reais e, talvez, até mesmo mais altos, de modo a reter os ganhos onde há uma baixa tributação da renda.

Ninguém sabe precisamente a quanto chega a receita fiscal perdida pelos Estados africanos por causa do faturamento mentiroso, mas um estudo realizado pelo instituto estadunidense Global Financial Integrity, relativo a 2008-2010, estima que a perda total do período examinado foi da ordem de 38 bilhões de dólares, cerca de 2% do total dos gastos públicos de todo o continente.

Mas é possível que a situação seja ainda pior. Em 2016, quando apareceram os documentos relacionados ao Panamá, soube-se que uma única multinacional tinha tirado do Estado ugandês 404 milhões de dólares, duas vezes e meio o que o país gasta anualmente em saúde pública.

A África é talvez o continente mais rico do mundo em recursos naturais. Apenas para citar o caso da República Democrática do Congo, as suas riquezas minerais são estimadas em 24 trilhões de dólares. Mas a África também é o continente com a maior incidência de pobres, famintos, desnutridos, analfabetos. Simplesmente porque é um corpo vivo com as veias abertas e saqueadas por poderes internacionais irresponsáveis, em acordo com elites locais igualmente irresponsáveis.

A partir de tudo isso, decorre que, se quisermos pôr fim ao caos migratório, não é com os migrantes que devemos brigar, mas com aqueles que, em muitos países, tornam a vida tão difícil a ponto de obrigar à migração forçada.

Um ponto irrenunciável é a luta contra os paraísos fiscais. A batalha pode e deve ser vencida, mas, para conseguir isso, em primeiro lugar, devemos parar de confundir as vítimas com os verdugos.

Fonte:

IHU

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