exortação papal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Wed, 03 Apr 2019 01:02:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 exortação papal – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Exortação “Cristo vive”: Jovens desejam «uma Igreja que escute mais»… https://observatoriodaevangelizacao.com/exortacao-cristo-vive-jovens-desejam-uma-igreja-que-escute-mais/ Wed, 03 Apr 2019 01:02:03 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=30235 [Leia mais...]]]> «Os jovens reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe a vida a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, nem tampouco que esteja sempre em guerra por dois ou três temas que são para ela uma obsessão», assinala Francisco na exortação apostólica “Cristo vive”, divulgada hoje pelo Vaticano.

Francisco defende que «para ser credível frente aos jovens, [a Igreja] por vezes, precisa de recuperar a humildade e simplesmente escutar, reconhecer, naquilo que os outros dizem, alguma luz que a ajude a descobrir melhor o Evangelho». 

«Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite que a ponham em questão, perde a juventude e converte-se num museu. Como poderá acolher, desse modo, os sonhos dos jovens?», questiona, antes de observar: «Mesmo que detenha a verdade do Evangelho, isso não significa que a tenha compreendido plenamente; pelo contrário, deve crescer continuamente na compreensão desse tesouro inesgotável».

No documento dirigido aos «jovens cristãos» e «a todo o Povo de Deus», porque a reflexão sobre a juventude «convoca e estimula a todos», o papa declara que se deixou «inspirar pela riqueza das reflexões e dos diálogos do Sínodo do ano passado», que de 3 a 28 de outubro debateu, no Vaticano, o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade»

«A minha palavra estará carregada de milhares de vozes de crentes do mundo inteiro que fizeram chegar as suas opiniões ao Sínodo. Mesmo os jovens não-crentes, que quiseram participar com as suas reflexões, apresentaram questões que suscitaram em mim novas interrogações», assinala. 

O texto, que seguramente inspirará a próxima Jornada Mundial da Juventude, que Lisboa vai acolher em 2022, é composto por 299 números, divididos em nove capítulos:

  • 1. O que diz a Palavra de Deus sobre os jovens?
  • 2. Jesus Cristo sempre jovem
  • 3. Vós sois o agora de Deus
  • 4. O grande anúncio para todos os jovens
  • 5. Caminhos de juventude
  • 6. Jovens com raízes»
  • 7. A Pastoral dos Jovens
  • 8. A vocação
  • 9. O discernimento

O «ambiente digital», «os migrantes» e o imperativo de «pôr termo a todo o tipo de abusos», com a convicção de que a «praga do clericalismo» é «o terreno fértil» para todas as «abominações», são questões especialmente desenvolvidas na exortação. 

São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade. Eles podem conferir à Igreja a beleza da juventude quando estimulam a sua capacidade de se alegrarem com aquilo que começa, de se darem sem recompensa, de se renovarem e de partirem de novo para novas conquistas», acentua.

Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?

Francisco revela que no Sínodo «foi reconhecido que um número consistente de jovens, por razões muito distintas, não pedem nada à Igreja porque não a consideram significativa para a sua existência», o que em parte de deve

  • «aos escândalos sexuais e econômicos»;
  • à «falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem captar adequadamente a sensibilidade dos jovens»;
  • ao «pouco cuidado na preparação da homilia e na explicação da Palavra de Deus»;
  • ao «papel passivo atribuído aos jovens dentro da comunidade cristã»;
  • à «dificuldade da Igreja em dar razão das suas posições doutrinais e éticas à sociedade contemporânea».

A mãe de Jesus, Maria, S. Sebastião, S. Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, Beato Andrés Phû Yên, Santa Catarina Tekakwitha, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, Beato Zeferino Namuncurá, Beato Isidoro Bakanja, Beato Pier Giorgio Frassati, Beato Marcel Callo e a Beata Chiara Badano, originários de vários continentes, são apontados como exemplos de santidade entre os jovens. 

Estas figuras mostram que, no seu tempo como agora e para sempre, o entusiasmo pela «vida comunitária» incentiva «grandes sacrifícios pelos outros», e, pelo contrário, o «isolamento» enfraquece e expõe o ser humano «aos piores males».

O documento recorda que «a Igreja sempre quis desenvolver espaços para a melhor cultura dos jovens» e confirma que «não deve renunciar a fazê-lo, porque os jovens têm direito a ela». E acrescenta: «Hoje em dia, sobretudo, o direito à cultura significa proteger a sabedoria, quer dizer, um saber humano que humaniza».

A exortação reconhece a existência de «uma pluralidade de mundos jovens» e pede aos católicos que não se acostumem aos «dramas» da juventude, «porque quem não sabe chorar não é mãe».

Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te!

«Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?», interroga. 

Se és jovem de idade, mas te sentes débil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove. Com Ele, não falta a esperança. O mesmo podes fazer se te sentes submergido nos vícios, nos maus costumes, no egoísmo ou na comodidade doentia. Jesus, cheio de vida, quer ajudar-te para que ser jovem valha a pena. Assim não privarás o mundo daquele contributo que só tu lhe podes dar, sendo único e irrepetível como és. 

Com efeito, a «primeira verdade» a anunciar é esta: «Deus ama-te. Se já o escutaste, não importa, eu quero recordar-te: Deus ama-te. Nunca o duvides, suceda o que te suceder na vida. Em qualquer circunstância, tu és infinitamente amado».

«Procuras paixão? Como diz aquele belo poema: Enamora-te! (ou deixa-te enamorar), porque nada pode ser mais importante do que encontrar Deus. Quer dizer, enamorar-se dele de uma forma definitiva e absoluta. Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te! Permanece no amor! E tudo será diferente», desafia Francisco. 

O papa conclui a exortação com uma certeza e um pedido: «A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegamos, tende paciência para esperar por nós».


Rui Jorge Martins 
Fonte: “Cristo vive”, ed. Paulinas Editora
Imagem: D.R. 
Publicado em 02.04.2019

Fonte:

www.snpcultura.org

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ANALFABETOS ECLESIAIS: UM NOVO RADICALISMO https://observatoriodaevangelizacao.com/analfabetos-eclesiais-um-novo-radicalismo/ Fri, 13 Apr 2018 17:56:07 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=27819 [Leia mais...]]]> Por: Pe. Matias Soares

A intenção desta reflexão é situar uma nova categoria que – devido à falta de conhecimento do pensamento da Igreja a partir das suas fontes genuínas e autênticas, que são a Sagrada Escritura e a Tradição Eclesial Viva, com a interpretação do seu magistério – tem assumido um radicalismo violento, irresponsável e imaturo na concepção e modo de proceder do seu “sentir contra a Igreja” e não “com a Igreja”.

radicalismo 2

Quando penso sobre o significado de radicalismo, o diferencio de radicalidade evangélica, no seguinte:

1. A radicalidade: esta é fruto da nossa conversão diária e permanente, que nos torna dóceis ao chamamento do Senhor. É fruto da nossa fé e confiança na ação gratuita, misericordiosa e amorosa de Deus-Pai. Por ela, somos chamados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ela não exclui, não mata, nem promove a injustiça e a desunião… Ela nos torna sinais da presença do Reino de Deus, já aqui e agora.

2. O radicalismo: esse nos faz preconceituosos e excludentes. Leva-nos ao fundamentalismo, ou é fruto deste. Não é sinal do amor de Deus. Não brota do coração que ama, mas da hipocrisia. Não gera a vida, e sim a morte. Não permite que haja compaixão e misericórdia. Nos tenta a querer tomar o lugar de Deus. Torna-nos autorreferenciais e não seguidores autênticos de Jesus Cristo, que anunciou e testemunho o Reino de Deus, fazendo a vontade do Pai-Nosso.

Em outra consideração, já havia abordado essa questão. A radicalidade evangélica é própria da santidade cristã. Sobre o fundamento da mesma, assim ensina o Papa Francisco na sua Exortação: “Sobre a essência da santidade, pode haver muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Uma reflexão do gênero poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre como fazer para chegar a ser um bom cristão, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida”. (Cf. GE, n. 63). Para ser cristã e viver a sequela de Cristo, o que é essencial é a vivência do Evangelho. Quando percebemos a diferença entre radicalismo e radicalidade, podemos ter um termômetro das condições, às quais estão a delimitar e sufocar o essencial espírito do que é o Reino de Deus.

Existe um “analfabetismo eclesial e evangélico” das novas gerações de milhares de membros de comunidades eclesiais, que renegam constantemente a essência do Cristianismo. Esta está configurada e qualificada pela vida e obra de Jesus de Nazaré, o Ressuscitado e nosso único Salvador. Para muitos, que se dizem cristãos, mas que não entram na lógica universal e necessária do Evangelho, o Cristianismo não está sendo verdadeiramente assumido. . Esse fenômeno da superficialidade da vida cristã fez com que, em séculos anteriores, os mestres da suspeita (segundo expressão de Paul Ricoeur) Freud, Nietzsche e Marx, percebessem, sim, as lacunas da “religião cristã”. Isso porque muitos que se diziam cristãos se esqueceram de testemunhar com a própria vida a fé, à qual se converteram. A grande ânsia do mundo contemporâneo sobre a credibilidade de quem é o “cristão” passa pela santidade de vida. Neste aspecto está o porquê da exortação do Papa Francisco: o testemunho. Ser radicalmente seguidor de Jesus de Nazaré é viver o que se professa no dia a dia da história, em cada estado de vida e consagração que são assumidos pelo fiel batizado, que testemunha o que é-lhe próprio como cristão.

Os Analfabetos Eclesiais, deste modo, não são ignorantes só do que a Igreja ensina, como também não conhecem o que o próprio Evangelho ensina. Há um “Analfabetismo Evangélico”. Os paladinos do secundário, que não recordam do essencial, estão assumindo novas formas de contraposições ao significado da dinâmica cristã. O Pontífice os descreve com simplicidade e muita clareza, sem deixar a profundidade teológica, na sua Exortação sobre a Santidade:
a) O gnosticismo: “supõe uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos” (cf. GE, n. 36).
b) O pelagianismo: “o gnosticismo deu lugar a outra heresia antiga, que está presente também hoje. Com o passar do tempo, muitos começaram a reconhecer que não é o conhecimento que nos torna melhores ou santos, mas a vida que levamos. O problema é que isto foi sutilmente degenerando, de modo que o mesmo erro dos gnósticos foi simplesmente transformado, mas não superado. Com efeito, o poder que os gnósticos atribuíam à inteligência, alguns começaram a atribui-lo à vontade humana, ao esforço pessoal” (cf. GE, n. 47-48).

Essa ideologização, que degenera a beleza do Evangelho está obscurecendo a consciência de muitos batizados. O ódio, a intolerância, a falta de caridade, que é o pior dos pecados do discípulo de Jesus, na hierarquia das virtudes, foi e continua a ser fonte de divisão e perversão da Igreja do Senhor (cf. Mc 3,24; Jo 17,21). A polarização política, que tem como parâmetro a divisão para o domínio, tornou-se mais penetrante do que a comunhão das e nas diferenças, que é própria da comunidade cristã. Pois, “a comunhão é o sacramento da comunidade” (R. Guardini).

Penso que um redescobrimento da importância da espiritualidade eclesial é urgente na vida da Igreja. Isso é indispensável para o fortalecimento e testemunho do que a Igreja deve e precisa ser para o Mundo e, muito especialmente, para o povo brasileiro. Tudo que contribui para que não se dê o testemunho de unidade é uma chaga aberta no corpo eclesial. Conversão ao Evangelho e à identidade da Igreja. Que o Espírito Santo nos fortaleça nessa busca que é o grande desafio da fé da comunidade eclesial para os tempos de hoje. Nisto consiste também a nossa santidade. Assim o seja!

 

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