Evangelização e a necessidade de outro olhar para a periferia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 05 Nov 2019 15:18:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Evangelização e a necessidade de outro olhar para a periferia – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Evangelização e a necessidade de outro olhar para a cultura da periferia https://observatoriodaevangelizacao.com/evangelizacao-e-a-necessidade-de-outro-olhar-para-a-cultura-da-periferia/ Tue, 05 Nov 2019 15:18:13 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=32970 [Leia mais...]]]> A grande mídia, por retratar apenas os casos de violência e os limites visíveis impostos pelo déficit de políticas públicas e pela ausência do Estado, passa uma imagem unilateral e falsa das comunidades de periferia: aglomerados, favelas e morros. Mas, ali a vida concreta de muitas pessoas acontece e muitas histórias de vida, com trajetórias lindas de criativa superação e realização de sonhos, são nelas construídas.

Três exigências do Evangelho

Evangelizar exige amor, proximidade e partilha da Palavra de Deus e da vida, mas a gente só ama o que conhece. Para isso, é preciso cultivar a cultura da proximidade e do encontro amigo com as pessoas e criar pequenos círculos bíblicos para entorno da luz da Palavra de Deus, que está encarnada na pessoa de Jesus, em seus ensinamentos, gestos e posturas diante da vida, refletirmos sobre a nossa vida. E ao discernirmos os caminhos de ação que devemos trilhar, caminharmos juntos.

O que é preciso para avançarmos juntos?

Em primeiro lugar, reconhecer a sua dignidade de filhos de Deus e de cidadãos, pois, de fora ou de longe, sem escutá-las e acolher seus sentimentos, não é possível conhecer minimamente a vida das pessoas: suas origens, suas trajetórias, suas lutas já travadas, suas conquistas, seus fracassos, suas organizações, seus sonhos e seus valores.
Em segundo lugar, reconhecer que o caminho está na comunidade. Sem formar comunidades de fé e partilha de vida não há verdadeira evangelização: desde modo todo o esforço da Igreja deve ser, como tem enfatizado o papa Francisco, o de concretizar uma caminhada de conversão, com pessoas transformadas pela vida nova que nasce e, criativamente, cresce pela experiência vivida do amor gratuito de Deus revelado em Jesus na Igreja e na sociedade. Um amor verdadeiro e concreto que nos irmana e nos desafia, no dia a dia a vivermos fraternalmente pela prática da justiça, da honestidade, da solidariedade e partilha do tempo e dos bens com o próximo, a começar com os mais pobres. Desse modo, a realidade concreta da periferia não pode ser ignorada em um planejamento da ação evangelizadora pela Igreja, cuja missão é fundamentalmente a de anunciar-testemunhar a boa nova do amor de Deus que nos irmana e nos desafia na construção do Reino da justiça, da fraternidade e da partilha de vida.
Em terceiro lugar, não há autêntica evangelização, no complexo contexto urbano em que vivemos, sem concreta opção pelos pobres, um dar as mãos e caminhar junto com os movimentos populares e grupos diversos que vão surgindo diante das muitas demandas pela dignidade da vida.

O programa Rolê nas Gerais tem contribuído ao dar vez, visibilidade e voz às pessoas que moram na periferia. Confira a edição, muito interessante, do programa, no sábado, 21/09/2019:

  • Do bairro Vila da Paz, em Belo Horizonte: mostra o músico Fumaça que partilha o sentido singular de morar no morro: proximidade, partilha de vida, vizinhança, enfim, convivência em comunidade; o músico e guarda municipal, Ivan de Souza, que partilha sobre o papel da música para quem mora no morro: dar voz ao sem voz, veiculo para fazer ouvir o seu protesto; o presidente da Central Única das Favelas – CUFA/ MG, Francis Henrique, que traduz o termo favela como o conceito atual de quilombo, cujos membros ajudam a construir a cidade; o músico e professor Andinho fala da favela como celeiro de grandes músicos e que cria perspectivas de vida para a conquista da felicidade.
  • Do bairro Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte: mostra a dona de salão de beleza Marli Nascimento Gonçalves, que partilha o gosto e da felicidade de ter vivido e viver praticamente sua vida toda no Aglomerado e de ali ter criado os seus filhos com dignidade, mesmo depois que seu marido faleceu; o presidente da Central Única das Favelas – CUFA/ MG, Francis Henrique, que fala da favela como um lugar de criação de solidariedade, de organização popular, de partilha concreta da vida, de experiência de mutirão. Ele denuncia que infelizmente a cobertura que a grande mídia faz da favela só da violência e as coisas negativas. Parece não haver interesse em mostrar a pauta positiva, a beleza da vida que também está presente na periferia;
  • Do bairro Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte: mostra o Sr. Agripino Francisco dos Santos, 96 anos, uma referência no bairro de pessoa prestativa, de “porta aberta”, que para melhor concretizar o seu dom de ajudar às pessoas, fundou o Centro Espírita “Irmã Alcione”, em 1975, e através dele consegue ajudar a muita gente, com a campanha do quilo, as doações, a manter creches, a fazer enxoval para as gestantes, a dar comida para quem passa fome. No Centro, quem o procura é sempre acolhido, recebe carinho, apoio, ajuda e conselho; a voluntária Maria Fernandes de Souza, que há mais de 30 anos ajuda o Sr. Agripino, e dá seu testemunho sobre a generosidade e o amor encarnado na vida e nas atitudes de Sr. Agripino; o empreendedor Marcus Antônio Crispin, criador do projeto “Comunidade em ação”, que reuni diversos profissionais e oferece cursos para jovens, crianças e famílias da comunidade: aulas de inglês, de artes marciais, de dança, assessoria jurídica… Com um olhar profundamente esperançado, ele fala da Alto Vera Cruz como um lugar de realização social, familiar, amizades, de oportunidades e de realização de sonhos;
  • Do bairro Vila Cafezal, em Belo Horizonte: mostra o comerciante ambulante Renato de Souza, que fala da cultura e de valores como a honestidade, a confiança e a proximidade entre as pessoas que moram na Vila;
  • Do bairro Morro das Pedras, em Belo Horizonte: a Ita Canuto, que de empregada doméstica se tornou, como empreendedora, dona de um restaurante, que partilha a sua felicidade de sozinha ter criado dos dois filhos que já cursam universidade. Ela fala do morro como um lugar onde todos a respeitam; o presidente da Central Única das Favelas – CUFA/ MG, Francis Henrique, que fala que ser morador de favela é ser alguém que corre a trás, um batalhador, que procura conhecer seus direitos e se sacrifica para integrar na sociedade.

Conhecer a trajetória de vida dessas pessoas nos dá acesso à cultura, aos valores e às lutas contra a miséria e a exclusão social nas muitas periferias de nossas cidades. 

Prof. Edward Guimarães

O prof. Edward Neves Monteio de Barros Guimarães é teólogo pastoralista, leigo, casado e pai. É professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, onde atua como secretário executivo do Observatório da Evangelização PUC Minas. Ele é membro do Conselho pastoral arquidiocesano da Arquidiocese de Belo Horizonte e da Comissão permanente de assessoria do Vicariato episcopal para ação pastoral.

Fonte:

www.globoplay.globo.com

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