esperanças – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Thu, 24 Mar 2022 21:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 esperanças – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Sentidos da exposição das Dores de Maria em Santa Luzia https://observatoriodaevangelizacao.com/sentidos-da-exposicao-das-dores-de-maria-em-santa-luzia/ Thu, 24 Mar 2022 21:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=44518 [Leia mais...]]]>

O Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia está realizando neste mês de março de 2022, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a exposição “Entre vestes e costumes: A devoção luziense a Nossa Senhora das Dores”. Tratasse de uma atividade comemorativa do centenário da arquidiocese de Belo Horizonte, que oportuniza a toda comunidade, conhecer mais sobre o rico acervo de arte sacra barroca da Matriz de Santa Luzia e sobre a devoção centenária de Nossa Senhora das Dores na cidade e, principalmente, convida a meditarmos sobre as 7 dores de Nossa Senhora, refletidas nas inúmeras dores da humanidade no mundo contemporâneo.

A bela imagem de Nossa Senhora das Dores da Matriz de Santa Luzia foi confeccionada em madeira policromada no século XVIII por escultor desconhecido. É uma Santa de Roca, ou seja, possui cabeça, braços, mãos, pés articulados em uma armação de madeira no lugar do tronco e das pernas. Os seus atributos são: um resplendor de prata com 7 estrelas representando as dores de Maria, uma adaga de prata cravada ao peito representando a profecia de Simeão (Lc 2, 22-35), o lenço branco nas mãos representando as lágrimas de Maria, o véu sobre a cabeça representando a pureza e virgindade e o manto sobre os ombros, representando a sua realeza. (SANTUÁRIO ARQUIDIOCESANO DE SANTA LUZIA, 2021)[1].

    O conjunto dos referidos atributos não se limitam a uma pura e simples beleza ornamental estética. Os seus significados simbólicos são a grande riqueza ética da Igreja. É preciso lembrar que Maria foi uma judia pobre, nascida no difícil contexto da dominação do Império Romano sobre Israel. Além disso, Maria engravidou antes do casamento e por pouco não foi apedrejada em público como ordenava a Lei do seu povo. Posteriormente, já velha e viúva de José, Maria acompanha, de “mãos atadas”, o martírio e crucificação do seu filho primogênito, pelo exército romano. Uma mulher naquele contexto era considerada como propriedade do seu marido, assim como os objetos e os animais de criação. Imaginem a situação deplorável na qual Maria – uma mulher velha e viúva – ficou após a crucificação do seu filho primogênito. Miserere nobis!

A vida e a morte de Jesus tem um simbolismo muito forte. Trata-se de um homem judeu e pobre que rompeu com todas as notas distintivas do povo hebreu de sua época, quais sejam: Descendência (Gn 17.2-7); Terra (Gn 15.18-21; 17.8); Nação (Gn 12.2; 17.4); Proteção e bênção (Gn 12.3). Não obstante, Jesus, até onde sabemos, não deixou descendência, não foi senhor de terras e era considerado como um louco por peregrinar pelas estradas da Galileia descumprindo as Leis de Moisés. Como consequência, morreu jovem, aos 33 anos de idade. E pior, morreu como um criminoso, entre dois ladrões, pelas mãos do exército de um outro povo. Miserere nobis!

É muito simbólico também que a exposição “Entre vestes e costumes: A devoção luziense a Nossa Senhora das Dores” esteja acontecendo na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro histórico de Santa Luzia. É uma igreja do século XVIII, construída pelos negros escravizados e que por décadas, entre os séculos XIX e XX, como nos conta Japhet Dolabella (1984, p. 207)[2], foi interditada pelo Arcebispo devido à compreensão preconceituosa de que o Congado é uma festa supersticiosa e pagã. Felizmente, com a Graça de Deus, neste Centenário da Arquidiocese de Belo Horizonte, o entendimento sobre o Congado é outro. A Igreja tem acolhido as dores dos povos negros porque esta é a postura coerente com a vida de Jesus, relatada nos Evangelhos e ensinada pelo magistério da Igreja desde os primeiros séculos.

Ademais, as 7 dores de Maria nos fazem refletir as dores das mães brasileiras nesse país que violenta e mata a sua juventude negra, os transexuais, as mulheres, os povos indígenas e agora, no contexto da sindemia da Covid-19, mata por negligências do governo frente à obrigação constitucional de assegurar ao povo brasileiro o direito à saúde pública e de qualidade. Miserere, Miserere, Miserere nobis!

Mas não fiquemos temerosos, após a sexta-feira da paixão, sempre insurge o Domingo de Páscoa. Trocaremos as roupas roxas de Nossa Senhora das Dores pelas vestes brancas. Jesus há de ressuscitar e o reino de Deus há de se cumprir neste mundo e no outro. A nossa esperança é escatológica, porque Deus é Deus conosco e junto a nós, com a nossa luta de cada dia, dispensará os poderosos e opressores e exaltará os humildes.


[1] In: https://www.youtube.com/watch?v=ILIRh-ZB4Xs Acesso em: 24/03/2022.

[2] DOLABELLA, Japhet. Santa Luzia nasceu do rio… Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1984.

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Glaucon Durães da Silva Santos
É católico leigo da paróquia Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, Santa Luzia/MG, doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas, professor de Sociologia, membro da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais e colaborador jovem do Observatório da Evangelização da PUC Minas. Desenvolve pesquisa nas áreas da Sociologia da Religião e da Sociologia Política
Atualmente é representante da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte (Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia) no Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Santa Luzia.

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