Escuta – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Sat, 26 Feb 2022 13:00:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.4 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Escuta – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Dom Leonardo Steiner: “Querida Amazônia nos incentiva a sermos uma Igreja que leva em consideração todas as realidades” https://observatoriodaevangelizacao.com/dom-leonardo-steiner-querida-amazonia-nos-incentiva-a-sermos-uma-igreja-que-leva-em-consideracao-todas-as-realidades/ Sat, 26 Feb 2022 13:00:00 +0000 https://atomic-temporary-74025290.wpcomstaging.com/?p=43941 [Leia mais...]]]>

Querida Amazônia inspirou a vida da Igreja na região amazônica, também na Arquidiocese de Manaus. Dom Leonardo Steiner, arcebispo da circunscrição eclesiástica com mais população da região, analisa os passos dados na Arquidiocese, que está vivenciando a Assembleia Sinodal Arquidiocesana.

O arcebispo destaca a importância da escuta, o que vai ajudar a descobrir “como deveríamos ser como Igreja Católica”. A tarefa será “despertar as pessoas para novos caminhos, especialmente quanto à inculturação da fé, da espiritualidade, dos ministérios”.

Dom Leonardo insiste no “esforço de estarmos nas comunidades da periferia, nas comunidades indígenas, nas comunidades ribeirinhas”. Mas também de fazer com que essas comunidades “caminhem autonomamente, assumindo os ministérios, celebrando a presença de Jesus e do seu Reino”. É momento de sonhar, de entender que “se desenvolvimento significa destruição, estamos mal”. Sempre em vista de “uma Amazônia com menos contrastes sociais”. Leia a seguir na entrevista de Miguel Luis Modino:

♦ Depois de dois anos da Querida Amazônia, como estão sendo concretizados os sonhos do Papa Francisco na Igreja da Amazônia, particularmente na Arquidiocese de Manaus?

O Regional Norte I da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB), na elaboração de orientações ou Diretrizes buscou inspiração e força na Querida Amazônia. As igrejas da Pan-amazônia estão contribuindo e na expectativa de orientações que estão sendo discutidas e elaboradas pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). Além de refletir a Carta de Papa Francisco, na Arquidiocese, o passo mais significativo que temos dado é a Assembleia Sinodal Arquidiocesana.

É a tentativa de envolver todas as comunidades e as expressões eclesiais no processo sinodal. A escuta realizada como processo sinodal que levou a documento final e a Carta com os quatro sonhos, iluminará nosso caminho eclesial. Papa Francisco em Querida Amazônia nos apresenta quatro sonhos que indicam a totalidade da vida que está a na Amazônia. A sinodalidade busca ouvir as realidades que os sonhos apontam. Escutar para propor a presença da Igreja mais missionária, mais misericordiosa, mais profética.

Abrir espaços sempre mais significativos para que as comunidades possam se manifestar e dizer como deveríamos ser como Igreja Católica; que ministérios são necessários, como levarmos em consideração as expressões de religiosidade, como levar em consideração as culturas. Como ir mais ao encontro dos necessitados, dos pobres. A grande diversidade da Igreja que está na Arquidiocese de Manaus exige muita escuta, para caminharmos juntos com nossas diferenças e diferentes tradições.

♦ O Sínodo para a Amazônia tinha como objetivo a busca de novos caminhos. Até que ponto a Igreja e a sociedade amazônica sentem a necessidade de avançar nesses novos caminhos?

A Igreja na Amazônia foi buscando caminhos, foi encontrando modos de navegar nessas terras, nesses rios, para anunciar a Jesus e ser expressão do reino. Se buscarmos sonhar como nos propõe Papa Francisco, necessitamos caminhar, navegar. A ameaça em relação ao meio ambiente, fica sempre mais crítica, a ameaça aos povos indígenas fica sempre mais incontrolável. A participação dos leigos é extraordinária, mas como expressar essa participação em todos os momentos da vida eclesial, sem clericalismo?

Certamente será tarefa despertar as pessoas para novos caminhos, especialmente quanto à inculturação da fé, da espiritualidade, dos ministérios. Provavelmente as comunidades indígenas, as comunidades ribeirinhas nos oferecerão elementos importantes para o caminhar de nossa igreja arquidiocesana. Levar em consideração a escuta, já presente nas Assembleias Arquidiocesanas, ajudará nessa busca.

♦ A Arquidiocese de Manaus está marcada pela realidade urbana, principalmente da periferia, mas também pelas comunidades ribeirinhas e indígenas. Quais os passos que estão sendo dados em cada uma dessas realidades a partir da reflexão do Sínodo para a Amazônia, recolhida na Querida Amazônia e no Documento Final do Sínodo?

Existe um esforço de estarmos nas comunidades da periferia, nas comunidades indígenas, nas comunidades ribeirinhas. As comunidades deveriam perceber que pertencem à Igreja, à Arquidiocese. Um elemento importante é que elas sintam que a Arquidiocese está com elas; elas são Igreja, arquidiocese, e não tenham a percepção de que foram abandonadas. Estar com elas! Ajudar e apoiar na criação e organização de novas comunidades. Elas percebam a solidariedade entre todas as comunidades.

Reconhecer que elas caminham autonomamente, assumindo os ministérios, celebrando a presença de Jesus e do seu Reino. Estar na atenção e no diálogo, na busca de expressões religiosas que possam fazer parte da liturgia, nas celebrações das comunidades, especialmente indígenas e ribeirinhas. O texto Querida Amazônia nos incentiva a sermos uma Igreja que leva em consideração todas as realidades, não apenas eclesial. Tudo deveria ser transformado pela força do Evangelho.

♦ Como arcebispo de Manaus, a maior cidade da Amazônia, quais são seus sonhos para a Amazônia e para a Igreja que caminha nesta região?

Os sonhos são muitos. É importante sonhar. Os sonhos nos motivam. Sermos mais atuantes quanto à vida das comunidades eclesiais. Na nossa realidade atentos e atuantes quanto ao meio ambiente. A Laudato Sì´ nos abriu o horizonte da compreensão: passarmos da desfrutação e destruição para o cultivo e cuidado. Ir criando uma cultura do cuidado e do cultivo. Vemos como avança a destruição do meio ambiente e tudo em nome do desenvolvimento. Se desenvolvimento significa destruição, estamos mal. Temos uma contribuição a dar cuidando do meio ambiente, das nossas culturas os povos originários, do estilo de viver que leve harmonia.

Uma Amazônia com menos contrastes sociais: possibilidades de emprego, de educação, de saúde. É missão da Igreja, faz parte da evangelização, estarmos na atenção da harmonia social, do bem cultural do cuidado da Casa Comum. Uma Igreja que esteja sempre mais presente nas periferias, nas realidades ribeirinhas e ali possa demonstrar o caminho das bem-aventuranças. Todos possam perceber que em Jesus e seu reino é possível transformar, viver a beleza da vida. Uma Igreja samaritana, onde as pastorais servem e interagem para o bem dos pobres, dos necessitados.

Nesse sentido assumirmos o espaço da antiga cadeia pública para oferecer acolhimento e solidariedade aos pobres, necessitados, será a concretização do sonho de nossa Igreja em Manaus como Igreja dos pobres. Estamos para celebrar 70 anos como Arquidiocese. Este lugar da caridade e da solidariedade será um marco e sinal do nosso desejo de vivermos e seguirmos a Jesus. Nós encerrarmos o Ano de São José em nossa Igreja que está em Manaus, estaremos sob sua proteção e cuidado, como cuidou de Jesus e Maria.

Cuidarmos do corpo chagado de Jesus será um bem para a nossa Igreja. Nossa Igreja sempre mais sinal da misericórdia, da transformação, sinal de esperança. A nossa Igreja, a Arquidiocese, tem história, tem passado! Podermos continuar o anúncio da verdade e da liberdade.

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pe. Luis Miguel Modino
Natural da Espanha, é missionário Fidei Donum na Diocese de São Miguel da Cachoeira, Amazonas. É parceiro do Observatório da Evangelização e articulista em diversos periódicos e revistas virtuais católicas.

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Escutar, estar junto, comunhão, empatia, acolhimento. Eis os anseios dos tempos de Francisco! https://observatoriodaevangelizacao.com/escutar-estar-junto-comunhao-empatia-acolhimento-eis-os-anseios-dos-tempos-de-francisco/ Tue, 08 Feb 2022 14:43:55 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=43319 [Leia mais...]]]> Vivemos em um mundo onde tudo está conectado: afetos, pensamentos, amores, ódios, conhecimentos… Também vivemos em um mundo onde tudo está distante: pessoas, sentimentos, vidas reais… Uma época de contradições é a nossa. Temos a chance de mudar o rumo. Pela experiência clínica, vejo que cada vez mais as pessoas correm sem direção, se enganam e se apegam em muletas provisórias, estão ansiosas e próximas à depressão.

Um bom caminho e necessário ao nosso tempo é o da prática da empatia. Precisamos buscar entender o outro. Parece algo fácil e um clichê, mas como devemos iniciar esse processo e por que temos dificuldade de realizá-lo?

Uma resposta possível é que nos apegamos a um modelo único de vida e de mundo, normalmente o nosso mundo. Temos características constitutivas da nossa personalidade que tendem ao narcisismo, então acreditamos que o que é nosso, em diversos âmbitos, é melhor. O contrário também é verdadeiro: muitas vezes achamos que não temos nada de bom e que não podemos assumir nada dos outros, não temos essa condição. Em ambas as situações, o outro e seu mundo estão distantes, como colocados diante de um muro.

Uma atitude que deve ser levada a sério é a da escuta. Parece algo fácil e banal, não é mesmo? Contudo, é algo extremamente raro hoje em dia. Será que a maioria das pessoas hoje consegue escutar o outro (pais e filhos, colegas de trabalho, cônjuges, amigos) durante 10 minutos, atentamente e sem dar alguma opinião direcionando o problema ou a conversa para uma resolução? Escutar implica em silêncio e o mundo em que vivemos tem muito ruído. Somos incapazes de escutar o outro em uma cultura da indiferença. Escutar é um gesto coletivo. Somente a partir da escuta podemos entender a diferença e é pela diferença que avançamos em nossa dimensão humana.

Uma armadilha da escuta é sua característica colonizadora, a partir da ideia de que um sabe e o outro irá aprender.

A escuta é tão necessária e, por vez, complexa, que alguns autores chamam a atenção para sua importância, como o escritor alemão Goethe (1749-1832): “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”. Também Zenão (334-263 a.C.), antes de Cristo afirmou: “A natureza deu-nos somente uma boca, mas duas orelhas, de modo que nós devemos falar menos e escutar mais”.

Uma armadilha da escuta é sua característica colonizadora, a partir da ideia de que um sabe e o outro irá aprender. Nada mais arcaico em nosso meio, apesar de ser extremamente comum. Em um mundo complexo, é preciso fugir às pré-concepções ou compreensões rasas e apressadas.

Não entendemos tudo, não entendemos o outro. Nos resta escutar, pois a fala do outro é o único caminho para mostrar elementos que estavam escondidos e eram estranhos à nossa subjetividade. A ideia de que um está com a razão deve ser superada. Em um diálogo, os dois podem estar equivocados. Não devemos cair em dois monólogos. A essência da comunicação são os resquícios, o que não foi concluído, os mal-entendidos. Uma boa escuta é aquela que consegue suportar a incerteza, que produz, em algum grau, angústia e uma nova experiência, aberta. Escutar o outro é renunciar a si mesmo e perceber que o mundo é maior que nós mesmos. Somente assim, podemos evoluir e alcançarmos um estado de empatia, verdadeiramente.

Grandes violências na história se deram pelo fato do ser humano não saber escutar o outro: culturas, religiões, comportamentos, artes, ciências. A origem da violência está em um mecanismo mimético cultural, no sufocamento do outro em sua subjetividade e consequente existência.

Grandes violências na história se deram pelo fato do ser humano não saber escutar o outro: culturas, religiões, comportamentos, artes, ciências. A origem da violência está em um mecanismo mimético cultural, no sufocamento do outro em sua subjetividade e consequente existência.

O papa Francisco vem insistindo na importância da escuta. No seu documentário recente (“A Sabedoria do Tempo”), enfatiza que não devemos dizer palavras de consolo para que a pessoa saia de uma situação trágica, difícil, como em um passe de mágica. Muitas vezes, não há o que fazer, nem o que dizer, apenas escutar. Escutar é um gesto de estar junto, de dar as mãos. É o ato mais urgente e necessário em momentos desérticos. Entender o outro, descolonizando discursos, é um passo fundamental às nossas atividades pastorais. Uma igreja em saída, em escuta às dores do mundo, aos seus sentidos e seus abismos, uma igreja com o espírito sinodal:

Temos a oportunidade de nos tornarmos uma Igreja da proximidade, que estabeleça, não só por palavras, mas com a presença, maiores laços de amizade com a sociedade e o mundo: uma Igreja que não se alheie da vida, mas cuide das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e sarando os corações dilacerados com o bálsamo de Deus”.

FRANCISCO, outubro de 2021

Antes, em 2020, no início da pandemia, em uma missa matutina na Santa Marta, disse o pontífice: “Neste tempo há tanto silêncio. O silêncio também pode ser ouvido. Que este silêncio, que é um pouco novo em nossos hábitos, nos ensine a escutar, nos faça crescer na capacidade de ouvir”.

Escutar, estar junto, comunhão, empatia, acolhimento. Eis os anseios dos tempos de Francisco!

Prof. René Dentz

René Dentz é leigo, professor do departamento de Filosofia e do curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 7 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

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