Emerson Sbardelotti – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com Tue, 17 Oct 2017 16:03:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://i0.wp.com/observatoriodaevangelizacao.com/wp-content/uploads/2024/04/cropped-logo.png?fit=32%2C32&ssl=1 Emerson Sbardelotti – Observatório de Evangelização https://observatoriodaevangelizacao.com 32 32 232225030 Projeto “Músicas da Caminhada” já deu seus primeiros passos https://observatoriodaevangelizacao.com/projeto-musicas-da-caminhada-ja-deu-seus-primeiros-passos/ Tue, 17 Oct 2017 16:03:19 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=25604 [Leia mais...]]]> Você já ouviu falar e/ou acessou o canal do projeto “Músicas da Caminhada” no YouTube? O Observatório da Evangelização publica a seguir uma entrevista com Emerson Sbardelotti, coordenador de um significativo projeto de memória da caminhada, ou mais precisamente, de um canal que agrupa as músicas que animaram e continuam a animar a caminhada de fé da Igreja dos Pobres.

Surgido no ano de 2016, o Canal já conta com mais de 360 canções. Além de saborear e curtir, você também pode contribuir e participar. Basta acessa o canal Músicas da Caminhada no YouTube, deixar o seu recado, partilhar o seu testemunho de como determinada música marcou o seu seguimento de Jesus e a sua caminhada de fé. Você também pode sugerir outras canções para fazer parte do canal.

Entrevista

 

OE: Como surgiu o Projeto Músicas da Caminhada? A quem se destina?

R.: O projeto Músicas da Caminhada nasceu como resposta às necessidades surgidas na própria caminhada da fé. Vamos listar algumas delas:

Uma primeira necessidade: a de encontrar aquelas músicas bonitas das Comunidades Eclesiais de Base, lá dos primórdios, gravadas nos antigos discos de vinil pela COMEP/Paulinas, sobretudo, aquelas que não chegaram a sair em formato de CD, e que vez ou outra aparecem na set list de alguma pessoa no YouTube.

Uma segunda necessidade: manter viva a memória de tais canções que não estão mais sendo vinculadas nas rádios e TVs católicas e muito menos, cantadas nas nossas comunidades.

Uma terceira necessidade: apresentar tais canções às novas gerações; para que descubram a beleza poético-musical dos/as artistas da caminhada, que durante anos e anos, alimentaram nossas celebrações, encontros, reuniões, assembleias, retiros etc; com suas cantigas de amor, paz, luta, compromisso, missão e profecia.

Uma quarta necessidade: reunir estas músicas num único canal, onde as pessoas que participam das CEBs, e outras pessoas que já não participam de nada dentro da Igreja, mas que estão nos Movimentos Sociais ou em outros serviços, possam ouvi-las e baixá-las, com rapidez, segurança e qualidade.

Nas canções que já estão postadas no canal Músicas da Caminhada, tivemos a preocupação de saber quem é o compositor ou compositora da canção, o/a intérprete, em qual LP ou CD está gravada, o ano; além disso, colocamos uma breve resenha, dando os devidos créditos.

O objetivo do Canal é evangelizar através da música. Se destina a todas as pessoas de boa vontade que queiram relembrar ou conhecer toda uma proposta de Igreja através das músicas que eram cantadas e executadas no Brasil após o término do Concílio Ecumênico Vaticano II, Conferência de Medellín, Conferência de Puebla, chegando até os dias atuais.

 

OE: Observamos que estas músicas, geralmente, não são tocadas na programação das rádios e TVs católicas. Há algum motivo para isso acontecer?

R.: Nas últimas décadas testemunhamos uma mudança no cenário de Igreja, de uma vivência mais pastoral, mais pé no chão, para uma vivência mais espiritualista, com pouco interesse para as questões sociais.

Um outro fator: as gravadoras católicas não investem mais em artistas da caminhada; em sua maioria, e isto pode ser notado nas prateleiras das lojas católicas onde ficam expostos os CDs e DVDs de artistas católicos, há apenas um segmento. Perguntamo-nos: está em jogo a Evangelização ou a lei do mercado? Acreditamos que há espaço para vários segmentos, inclusive o das Músicas da Caminhada.

 

OE: Como podemos definir quais sejam as chamadas “Músicas da Caminhada”? Há critérios?

R.: O papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 176, nos diz: “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo”. As Músicas da Caminhada, fazem o que pede o papa Francisco.

É um título que temos utilizado para identificar as canções com mensagens sócio religiosas, com mensagens que estão de acordo com passagens do Primeiro e do Segundo Testamento, em especial, dos Evangelhos.

Veiculam mensagens que deixam evidentes o conteúdo do anúncio da fé, a denúncia contra tudo que ameaça à dignidade humana, ou seja, que explicita a dimensão profética da experiência judaico cristã do Deus da vida.

São músicas que o povo costuma chamar de “pé no chão”. Por causa da excelente qualidade, quando são tocadas, a assembleia reunida sabe cantar sem o auxílio das letras. São músicas que acompanham e acompanharam a caminhada do povo santo de Deus.

 

OE: Como fica a questão dos direitos autorais?

R.: Não tem somente a música, há também desenhos e fotos que ilustram cada canção, e são de autoria de outros/as artistas da caminhada. Sempre na descrição do vídeo nós temos o cuidado de dizer que “a postagem tem como objetivo divulgar a canção”. É claro que se os/as artistas se sentirem incomodados/as com a publicação, não há problema nenhum em retirá-la. Deixamos isso bem claro na apresentação do Canal. Até o presente momento, nenhum/a artista reclamou desta iniciativa; pelo contrário; elogiaram. O que nos deixa muito felizes. Queremos esclarecer que, não ganhamos nenhum centavo por qualquer canção no Canal. O Canal não tem fins lucrativos e sim educativos. Nosso trabalho é voluntário.

 

OE: Como participar do canal “Músicas da Caminhada”? 

R.: Toda pessoa de boa vontade pode participar do Canal, basta apenas se inscrever nele. Muita pessoas das Pastorais Sociais, das CEBs, dos Movimentos Sociais, estão procurando o Canal na busca por canções que embalaram suas vidas, e quando encontram, deixam recadinhos elogiando e muitas vezes sugerindo novas canções.

Trata-se de um trabalho árduo: a maioria das canções mais antigas ainda está nos discos de vinil e não é fácil encontrá-las. Aos poucos estamos construindo um lindo acervo, que servirá para pesquisadores e pesquisadoras da História da Igreja na América Latina, da Liturgia, da Teologia da Libertação. É a Rede Social ajudando na Evangelização!

Acessse o link do canal “Músicas da Caminhada“:

Sobre o entrevistado:

IMG_9128Emerson Sbardelotti é mestre em teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Agente de pastoral leigo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Cobilândia, Vila Velha, Espírito Santo. Catequista de crisma na CEB Nossa Senhora do Magnificat, em Jardim Marilândia, Vila Velha, Espírito Santo. Autor de Espiritualidade da Libertação Juvenil. São Leopoldo: CEBI, 2015. Autor de Poesia Pé no Chão. São Leopoldo: PUB Editorial, 2017.Correio eletrônico: sbardelottiemerson@gmail.com.

 

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Profetas do Reino, um relato apaixonado da Romaria dos Mártires https://observatoriodaevangelizacao.com/profetas-do-reino-um-relato-apaixonado-da-romaria-dos-martires/ Thu, 25 Aug 2016 19:16:29 +0000 https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/?p=9981 [Leia mais...]]]> 13781762_1071437372938815_5674023002416850792_n

 

Estive em Ribeirão Cascalheiras-MT para participar da Romaria dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, nos dias 16 e 17 de julho de 2016. Fui no ônibus das CEB’S da Arquidiocese de São Paulo. Uma galera divertidíssima. Foram 30 horas para ir e 30 horas para voltar, fomos tocando violão e cantando aquelas que ninguém toca e canta mais…mas… cheguei inteiro.

Pessoas de todos os cantos do Brasil, da América Latina e Caribe, do outro lado do Atlântico, estavam chegando à São Félix do Araguaia, para participarem pela primeira vez da grande Romaria dos Mártires. Outros já estavam repetindo a dose para retomar as forças. Já tinha gente hospedada próximo ao local desde a sexta-feira; outras pessoas já haviam se deslocado para o local a quase um mês para ajudarem a preparar, a organizar tudo para celebrarem juntos a bendita Romaria. E Deus viu que tudo era bom.

Eram 8 horas da manhã quando o ônibus parou na praça da Igreja São João Batista, onde todos os romeiros iriam chegar e se reunir.

 Foi muito legal rever amigos e amigas.

Depois de um café com pão e margarina, as pessoas foram enviadas para os hotéis, casas de família e escolas onde ficariam hospedadas. Foram descansar da viagem, outras visitaram o Santuário dos Mártires, outros, ficaram por ali, conversando e matando a saudade.

Foram dias de oração, de luta e troca de experiências. Que não caberiam neste breve relato que faço, e que tento ser muito fiel. Meus olhos viram, meu coração sentiu…muitas coisas…peço a Deus que me ajude enquanto escrevo algumas palavras daqueles dias naquela Terra Santa. Como explicar algo inexplicável?

Meus pés ficaram cobertos com a terra vermelha.

Em minha cabeça, as palavras de Deus para o profeta Moisés: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa”.

Conversei com muita gente que nestes 40 anos viveram uma espiritualidade pé no chão, que resistiram a muitas tempestades. Aqueles que vinham da grande tribulação. Em tempos primaveris de Francisco, muita coisa precisa mudar para a Igreja avançar para águas mais profundas.

Abracei muitas pessoas, e fui abraçado. Me emocionei com o carinho de tantas pessoas.

Abracei o índio Guarani Kaiowá, que traz em seu peito uma “bala” alojada do lado do seu coração, e que passa imensas necessidades com sua família…que não consegue andar direito, que não pode fazer operação para tirar a “bala”, que está ameaçado de morte por defender o seu povo, e que me ensinou que o importante da vida é lutar por ela, para viver com dignidade.

Conversei com os Xavantes, ouvi o clamor que brota do coração deste povo guerreiro. Me emocionei novamente pois reencontrei um dos índios que me recebeu na aldeia deles quando ali estive em 2003.

Revi os amigos e irmãos de caminhada Zeca Terra e o Chico Machado…profetas da esperança.

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Foto de Gildean Farias

Conheci jovens de todo o Brasil e também do exterior que foram visitar a barraquinha da Identidade Pejoteira que vendia seus produtos e também o meu mais novo livro. Que satisfação abraçar, autografar e tirar fotos com a galera ali presente. Que lindo ouvir de suas bocas: nossa…que camisas bonitas…

Depois participei da roda de conversa e também de um momento da Pastoral da Juventude onde pude rever muita gente querida…os abraços foram inúmeros.

Nem parecia que já havia se passado tanto tempo. Amizade sincera supera a distância e o silêncio. Fui apresentado a muita gente nova, que estavam ali pela primeira vez, cheios de alegrias e lágrimas de felicidade nos olhos, pareciam ter descoberto um tesouro escondido.

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À noite ao redor da fogueira e com as velas acesas, vi, emocionado, meu querido amigo e irmão Pedro Casaldáliga, em sua cadeira de rodas se aproximar para a oração.

Não tirei nenhuma foto, pois já o tinha visto na casa paroquial…nada falamos um para o outro…apenas nos olhamos…e segurei nas suas mãos…tudo o que precisava ser dito…foi dito e guardado no coração.

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Em caminhada cantei com Zé Vicente e outros camaradas que animavam a romaria: “Vidas pela Vida…Vidas pelo Reino…Todas as nossas vidas…”.

Dizem que tinha quase 15 mil pessoas…em meu coração eu sentia muito mais. E como cantaram bonitas aquelas vozes todas. Em sintonia com a causa dos pobres e do Reino.

Caminhamos pela estrada que leva ao Santuário dos Mártires, cruzes estavam no caminho, nos lembrando que com o sangue dos mártires não podemos brincar…chorei ao rever a capelinha da cruz do padre mártir João Bosco. E Deus viu que tudo era muito bom.

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Foto de Emerson Sbardelotti

No domingo, celebramos juntos a vida dos Profetas do Reino. Me lembrei de pessoas queridas que estão passando por momentos difíceis…essa celebração foi para vocês. O Pedro estava lá…sufocado pelos curiosos e fãs que não paravam de tirar fotos, apesar dos apelos do padre Mirim. Brasileiro sempre quer levar para casa uma lembrança. Quando ele passou por mim, me deu um tchau, me viu, sorriu, isso valeu…não precisei tirar foto nenhuma.

Marcante e em conexão com tudo que estava sendo vivido ali e que me recordo com imensa emoção a frase de D. Sebastião Gameleira – bispo anglicano: “Adorar a Deus fora da luta do povo, da defesa da vida do povo, é idolatria”.

As causas de Pedro Casaldáliga são maiores do que ele. Tenho muito orgulho de ser seu amigo e irmão de caminhada. Infelizmente há pessoas, que se dizem católicas, que não conhecem a sua vocação, não conhecem a sua vida, não conhecem as opções que Pedro assumiu e as viveu até as últimas consequências…são as mesmas que o próprio Jesus de Nazaré assumiu.

E TODO O RESTO ACONTECE…

Passados alguns dias da Romaria e olhando as fotos que tiraram de D. Pedro Casaldáliga, e que postam nas redes sociais, fiquei tocado, como estou agora, enquanto escrevo estas rápidas palavras, por causa de sua fragilidade teimosa e de sua estética evangélica (estar no meio daquele povo todo); porém, como já disse antes, eu não tirei nenhuma com ele, nem dele, mas guardo vivo na memória e no meu coração (que batia mais acelerado do que o normal) e para o resto da minha vida, o nosso encontro na casa paroquial, ele me reconheceu; em seu olhar me chamou pelo apelido carinhoso que me deu quando eu era ainda jovem militante da PJ: Divino Impaciente; Pedro é assim, quando ama alguém ele apelida. Em nosso aperto de mão, não falamos nada, apenas nos olhamos e tudo foi dito, tudo foi conversado, colegialmente combinado.

Há muito a se fazer pela defesa da vida!

Naquele aperto e naquele olhar amoroso de avô, pai, irmão, amigo e companheiro de caminhada, ouvi em meu coração ele dizer: “Ser amável com todos é mais fácil, mais cômodo, que ser honestamente profético com todos. Amar é também incomodar”. Ninguém ouviu, só eu e ele.

Me levantei, sorri e me retirei, com o coração cheio de nomes e os olhos cheios de lágrimas de alegria, teimosia e fiel esperança.

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Foto de Douglas Mansur

Ser Profeta do Reino, ser Poeta da Gente é gritar com os olhos…e todo o resto acontece…

E sozinho comecei a cantar um antigo poema que Pedro compôs e frei Mingos musicou:

“Somos um povo de gente, somos o povo de Deus. Queremos terra na terra, já temos terra nos céus…

Queremos plantar a roça onde plantamos o amor. Lavrador, a terra é nossa, de um afã e um só Senhor…

Retirantes, chega o dia de assentar o pé no chão: com fé em Deus e teimosia e na força da união…

Temos braços e esperança, somos gente, hoje, aqui! Se a pobreza é nossa herança, na justiça está o porvir…

Conhecemos a verdade e sabemos ver e amar. E exigimos liberdade pra viver e melhorar…

Conhecemos a verdade e o direito de ser mais. E exigimos igualdade, terra e casa, mesa e paz…

Lavradores, vida nova! Gente unida em mutirão! Gente unida a toda prova, de uma fé um coração…

Essas matas pra lavoura, água clara, puro o ar. Mão na enxada e pé na espora e um bom céu para esperar…”.

Retornei para São Paulo com a certeza que temos muito o que fazer pelas causas do Reino da Vida. Todos que ali estiveram, acredito, vivem esta mesma certeza e sabem que sem a fiel teimosia e a fiel esperança não vamos muito longe, juntos, somando forças vencemos o medo. “O perigo é ter medo do medo”.

 Em meu coração não esqueci de nenhum nome que amo.

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Emerson Sbardelotti

Mestre em Teologia pela PUC-SP

Agente de Pastoral Leigo

Colaborador do Observatório da Evangelização

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